Um marido fiel: Até aonde o amor pode chegar?

Sueli Cury (Acadêmica de Psicologia) – suelicury@gmail.com

O filme “um marido fiel”, classificado como sendo um drama e suspense, envolve a vida de uma família e um triângulo amoroso. Protagonizado pelos atores, como cônjuges,  Christian (Dar Salim) e Leonora (Sonja Richter), os quais vivem uma vida perfeita, especialmente porque o filho, o qual nascera com uma doença rara e grave, agora aos 17 anos, está curado.

 

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Em nome do amor, os nubentes juram amor e lealdade para toda a vida, cujo vínculo é pré-estabelecido, um contrato inconsciente. A partir desse vínculo, permite-se o pertencimento de um na vida do outro, a descontinuidade do “eu” para a construção e continuidade entre os “eus”, os cônjuges. São desejos distintos, os quais, se apropriam mutuamente para compartilhar os Egos, agora jungidos.  No estilo do velho jargão, “duas almas em um só corpo ”. O vínculo matrimonial funciona como um pacto, sendo ele quem estrutura e reforça os acordos.

Leonora, uma típica dona de casa, violonista de sucesso que abandonara sua carreira para cuidar do filho e, dedica-se à família, esposa e mãe dedicada. Seu ninho familiar estava perfeito, marido bem sucedido e o filho curado. Tudo em perfeita harmonia.

Christian, o cônjuge varão, um engenheiro, bem sucedido, dono/ sócio com um amigo de uma construtora, onde conhece a arquiteta Xênia (Sus Wilkins), e iniciam um relacionamento extraconjugal. A amante exige que o engenheiro separe da esposa para ficarem juntos. Eivado pelo sentimento sensual, ele confirma que executará o pedido.

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Leonora, sente seu castelo ameaçado, a ameaça da ruptura do pacto e o sentimento afeiçoado ao imaginário da pessoa amada, está sob ameaça de ruir.

Em uma madrugada o esposo recebe uma mensagem, ela pergunta-lhe quem está enviando-lhe mensagem àquela hora, o esposo disfarça e diz ser um amigo. Contudo, o recebimento das mensagens continua. Irritada, Leonora, pede para que ele mostre- lhe as mensagens, no que ele recusa.  A partir desse episódio, ela tem acesso ao celular do esposo e verifica as mensagens, descobrindo que estava mentido, e vivendo um pseudo romance e passa a investiga-lo.

 

As desconfianças e evidências tornam-se reais, o que eram olhares furtivos em busca de respostas, concretizam suas suspeitas. Durante uma festa da empresa de Christian, em comemoração por um contrato de grande valor, Leonara, segue- o, e flagra -o em conúbio carnal, com a arquiteta Xenia (Sus Wilkins), começa o seu pesadelo e sua obsessão em afastar a mulher que está ameaçando sua família.

Ser abandonada, trocada por outra mulher, não está nos planos de Leonora, principalmente depois de tanta dedicação. Inadmissível, uma vez que, ela desistiu de tudo que lhe era próprio, inclusive de sua carreira, por ele e para dedicar-se e cuidar do filho do casal.  Inicia-se uma pressão para a manutenção do esposo do seu lado, uma realidade experienciada, geralmente pelos casais, a necessidade do ser em estar em um vínculo para constituir-se sua própria identidade como sujeito, a necessidade de juntos para toda a vida.

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Contudo, existe uma linha tênue entre amor e ódio, não raro, esse último sobressai durante uma traição, quando o amor não é mais correspondido e/ou a ameaça de sua desconstrução, a pessoa traída entra em colapso psicológico.

Nesse diapasão, Leonora, eivada pelo sentimento de posse e no desespero da ruptura e o distanciamento de seu objeto de desejo, passa a nutrir pensamentos obsessivos de como destruir o romance extraconjugal, colocando em prática seu plano, para garantir a indissolubilidade do casamento. E, no emaranhado de sentimento de rejeição, abandono e ingratidão do marido, adentra no universo da dependência emocional, e transforma suas emoções em obsessão.

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Diante da materialidade comprovada da traição e a confissão do marido, Leonora, inicia um processo de pressão e ameaças ao esposo, manifestando a intenção em revelar segredos obscuros, uma fraude fiscal que alavancou a empresa. Para ela, é uma luta contra o tempo para preservação de sua família e, vale qualquer artimanha.

O esposo, de igual forma obsessiva e perdido em suas fantasias e, na eminencia em ter expostos seus segredos e a sua imagem arranhada perante à sociedade e à sua amante, bem como, a possibilidade em afastar-se dela, arquiteta a morte de sua esposa, sendo ele o executor do plano, assassinar a mulher em um atropelamento. Seu plano falhou e ele atropela outra mulher da vizinhança. O amor que no pretérito era gozo, passa a ser tormento, ultrapassando a linha da normalidade e razoabilidade.

O objeto de desejo de outrora, trona-se abjeto, indesejado. Agora a satisfação é pela liberdade de não estar, o distanciamento corporal e sentimental.

Leonora, descobre que o marido queria matá-la, e passam a viverem em um ambiente de insegurança psicológica, sem saber quem seria o vitorioso no processo em voga. Individualmente, cada um passa a buscar seus fins para estarem com seu amor.

O marido passa a investigar o passado da esposa e descobre que há suspeitas que ela assassinou o namorado que veio a traí-la. Diante dessa informação, passa também a chantagear a esposa.

As ameaças recíprocas entre os cônjuges, cada um em seu imaginário doentio, em virtude da possível perda de seu desiderato, passa a arquitetar os meios de eliminar os empecilhos que os impedem ou limitam seus gozos.

Partindo do princípio que a relação de objeto é o motor e a matriz do vínculo, melhor unir ao inimigo para sobreviver, e assim, a esposa, atrai, seduz e convence o marido, e expõe todo o plano para assassinar a amante, única forma dela viver livre de tal ameaça.

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O marido parecia indiferente, só ouvia. Há pressupostos que ele estava contemporizando, e no momento oportuno, sairia para não voltar.

Leonora, é a mentora intelectual do crime e, com traços de psicopatia, ordena ao marido que vá à casa da amante, na madrugada e mate-a, tendo o cuidado de  deixar evidências de um arrombamento da casa e morte da mulher.

Contudo o marido segue o plano, porém não consegue executa-lo, a esposa vai até à casa e os vê juntos, preserva seu objeto de desejo e assassina a amante, os dois tornam-se cumplices, talvez o esposo receoso que poderia ser a próxima vítima,  colocaram os restos mortais em uma fogueira, tradição dos dinamarqueses, simbolizando a queima de bruxas, preparada na casa do casal, assim,  nas investigações não encontrariam o corpo.

Nas investigações, a polícia depara com um roubo na casa de Xenia, e esta desapareceu.  Embora, sendo o suspeito principal pelo desaparecimento da amante, por sê-la, funcionária  de sua empresa e fora descoberto que eram amantes, Christian, consegue sair ileso, pelos modus operandi  engendrado por Leonora, livrando-o da condenação criminal.

Após as comemorações, Leonora  e Christian, viajam para um lugar distante com o intuito de desvencilharem dos últimos resquícios da amante e, jogam os ossos em um lago, onde, por certo, nunca serão encontrados. Agora, entrelaçados pelo amor obsessivo dela e pelos liames de um crime. Como contrariar Leonora  e não ser-lhe fiel?

Pode-se dizer , seja Leonora, a vilã do filme, entretanto, em uma análise perfunctória,  não há como defini-la como uma psicopata, possui traços compatíveis à psicopatia, tais, como falta de remorso, egocêntrica, manipuladora, sem empatia, a presença do pensamento binário, tudo ou nada, sem meio termo. Falta a evidência familiar de como fora educada, sua infância e vida conjugal de seus genitores para traçar seu perfil psicológico.

Corroborando neste sentido, Sigmund Freud, diz: “As emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem de piores formas mais tarde.”

FICHA TÉCNICA DO FILME

FILME: Um marido fiel  (Loving Adults)

PRODUTOR:  Marcella Linstad Dichmann

PRODUTOR EXECUTIVO: Lars Bjørn Hansen

ELENCO: Dar Salim, Sonja Richter, Sus Wilkins

 

REFERÊNCIAS

Artigo- Uma Leitura Psicanalítica do Laço Conjugal– Lídia Levy de Alvarenga.

Bate-papo/ “Psicanálise de Casal e Família“, de Rosely Pennacchi e Sonia Thorstensen.

Filme “Um marido fiel  (Loving Adults)– Drama suspense”. NETFLIX.

VARELA, Emílio- Curso de Psicanálise Integrada- Contribuição da Pedagogia e da Psiquiatria. 2016

YouTube- Albangela, C. Machado fala sobre a psicanálise no tratamento dos casais.