O ato de ensinar carrega singularidades e desafios que devem ser levantados, para assim ser possível entender o processo de aprendizagem e o contexto em que ocorre esse movimento. Levando em consideração o mundo volátil em que vivemos, faz-se necessário dar voz àqueles que fazem parte de ambientes escolares e acadêmicos, sendo essa uma forma de fomentar melhorias e constantes reflexões.
Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes professores da rede pública de diferentes níveis de ensino (maternal, fundamental, médio e superior) para falarem sobre os desafios de ensinar. Nestes espaços as professoras e os professores puderam relatar suas experiências pessoais e profissionais. As realidades narradas em cada entrevista são um convite para pensarmos sobre a educação, sua constituição, sua disseminação e em como ela pode ser aperfeiçoada para ser significativa a todos e todas: “O educador se eterniza em cada ser que ele educa” (Paulo Freire)
Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de ensinar livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, professores e professoras da educação pública e privada de nosso país.
O convidado de hoje é professor do ensino médio na rede pública e tem 46 anos. Possui um currículo extenso e vasta experiência profissional. Relata certas dificuldades em sua atuação, porém enxerga os pontos positivos de atuar em sua área, sendo esses pontos os reais que o motivam a prosseguir.
Segue a entrevista na íntegra abaixo:
(En)Cena: Como foi a sua trajetória até se tornar professor? Por que você escolheu a docência?
Resposta: No ensino fundamental eu já apreciava a docência. Decidi cursar Biologia para atuar tanto na área específica e na docência. Comecei a lecionar na cidade de Ouricuri – PE, com 17 anos quando consegui entrar na faculdade e obter um contrato temporário. Escolhi ser docente por achar uma profissão que desperta a essência da sabedoria. A transmissão do conhecimento e suas nuances foi o gatilho para esta minha jornada de 29 anos em sala de aula.
(En)Cena: Qual o seu principal objetivo como professor? Você diria que alcança tal objetivo a cada ano?
Resposta: O meu principal objetivo como professor é poder ajudar algumas pessoas a olharem o mundo de forma diferente e se adaptarem da melhor forma. A cada ano eu alcanço o objetivo, porém, com um número menor de pessoas.
(En)Cena: Levando em consideração que a escola/faculdade é um ambiente repleto de pessoas com características singulares, de que forma você lida com a diversidade subjetiva de cada estudante? Você percebe a escola como um ambiente inclusivo?
Resposta: O modelo de escola pública que trabalho não permite olhar a diversidade da forma adequada. A escola que trabalho possui algumas ações de inclusão, mas longe de um padrão desejado.
(En)Cena: Como é ser professor do ensino superior na rede privada atualmente?
Resposta: Decepcionante. Sem horizontes e pouco estímulo para seguir ou convencer outros a seguirem.
(En)Cena: Como você avalia a escola nesse processo de formação de indivíduos e de que maneira, dentro da sua profissão, você consegue perceber que está contribuindo com esse movimento?
Resposta: A escola atual adota postura quantitativa diante do processo ensino-aprendizagem. O objetivo agora é aprovar alunos sem avaliar a aptidão do mesmo para as séries seguintes.
(En)Cena: Como está a saúde mental dos professores na atualidade?
Resposta: Eu já consegui manter um modelo que permite ser paciente diante das adversidades.
(En)Cena: A educação é capaz de mudar vidas? De que forma? Como os professores podem influenciar esse processo?
Resposta: Claro. É por isso que continuo neste processo. Há jovens que buscam algo pela educação. É para este público que nos dobramos mais um pouco. Os professores sozinhos não conseguem mudar o modelo educacional atual. A saída seria uma reformulação principalmente no processo avaliativo.
(En)Cena: Na sua opinião, para onde a educação está caminhando? O que podemos esperar de nossos jovens no futuro enquanto sociedade e qual o papel da escola na formação dessas crianças/jovens/indivíduos?
Resposta: Está caminhando para se transformar em uma atividade dispensável para os jovens. Nesse modelo atual, não podemos esperar muita coisa vinda dos jovens. A sociedade está evoluindo de maneira assimétrica, tangencial e a deriva.
Autora: Maria Laura Máximo Martins