Maternidade: escolha ou obrigação?

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Tarsila de Níchile: tarsiladenichile@gmail.com 

Santina Rodrigues: santina.rodrigues.oliveira@gmail.com 

Na sociedade em que vivemos hoje ser ou não ser mãe ainda é um tabu quase proibido de se questionar. É claro que algumas mulheres e homens podem contestar, mas a realidade é que a maior parte da sociedade, ao menos a brasileira e não só, enaltece a maternidade como destino natural da vida de uma mulher, o que pode ser visto na mídia, em comerciais com mulheres carregando seus lindos bebês no colo; ou nos finais de novela que apresentam casais formados e as mulheres grávidas; por fim, em famílias e entre amigos que normalmente perguntam: Quando virá o primeiro filho? E o segundo? Ou ainda quando lançam comentários diante de uma mulher que tem uma leve barriguinha: Está grávida de quantos meses? Ainda que muitas vezes elas possam não estar grávidas ou sequer pensando nisso… 

Estamos envoltos por uma cultura patriarcal que, de forma geral, pressiona para que todas as mulheres sejam mães e ameaçam as que não são com mensagens diretas ou subliminares do tipo: “Você só saberá o que é ser mulher de verdade quando for mãe”; “Se você não for mãe será uma mulher incompleta”; “Se você não tiver filhos irá se arrepender”; “Sem filhos quem cuidará de você na velhice?”; Por fim, a ameaça final associada ao esgotamento biológico: “Daqui a pouco seu relógio biológico vai tocar e você vai querer ter filhos e, se demorar demais, não terá mais tempo de gerá-los”. E por aí se vão as pressões implícitas (ou explícitas?) do culto à maternidade que aliás, vêm com frequência das próprias mulheres, inconscientes que estão de uma identificação sombria com o primado patriarcal. 

É claro que a maternidade é algo de suma importância para a preservação da espécie humana, sem ela nenhum de nós estaríamos aqui e a sociedade fatalmente desapareceria. E é claro, também, que muitas das mulheres experimentam momentos de felicidade sendo, entre outras coisas, mães. Mas, podemos questionar se a maternidade deveria continuar sendo pensada como destino irrefutável para todas as mulheres, independentemente de sua subjetividade. E este é o objetivo do presente artigo, afinal, nem toda mulher deseja ser mãe. No Brasil, por exemplo, segundo o artigo online da revista Bem Estar, o IBGE levantou que o arranjo familiar de casais sem filhos correspondia em 2014 a 19,9%, ou seja, 5,2% maior do que em 2004. Além disso, nem todas as mulheres podem ser mães biologicamente, e assim vemos as clínicas de fertilização terem um aumento anual no mundo da ordem de 9% (FERNANDEZ, 2019). Por fim, nem todas as que se tornam mães se sentem realizadas com a sua experiência de maternidade, como é relatado no livro “Mães Arrependidas”, 

de Orna Donath (2017). De qualquer forma, as imposições culturais valem para todas as mulheres e cabe a cada uma perceber como são afetadas e como lidar com essas exigências sociais. 

A maternidade, enquanto tema arquetípico, faz parte, além da consciência coletiva, também do inconsciente coletivo. Esse, por sua vez, possui conteúdos e modos de comportamento similares em toda a parte e em todos os indivíduos e tem a forma de categorias herdadas, as quais Jung chamou de arquétipos. Ele referiu-se aos arquétipos, também, como imagens universais, que possuem uma infinidade de aspectos, dentre eles o fato de existirem desde os tempos mais remotos, ressurgindo espontaneamente, sem a influência de uma transmissão externa. Entretanto, Jung esclarece que uma imagem primordial tem o seu conteúdo definido mais conscientemente a partir da experiência vivida de cada um. 

A psique coletiva, em parte de forma inconsciente e em parte de forma consciente, definiu culturalmente o corpo da mulher pela capacidade de conceber filhos ou não, a qual é considerada a essência de sua vida e a justificativa para sua existência, conforme os cânones do primado patriarcal. (Cf. DONATH, 2017, p. 27). No livro “Mães Arrependidas” (2017, p. 28), essa autora diz: “presume-se que a transição para a maternidade se deve estritamente ao desejo da mulher de  experimentar seu corpo, seu ser e sua vida de uma nova maneira, preferível à  anterior”. Ela continua, refletindo sobre o que a psique coletiva promete para a  futura mãe: uma feminilidade madura, uma oportunidade de evolução, um  sentimento de pertencimento, uma visita a sua própria infância, a oportunidade de  corrigir os erros de sua criação e reforçar os aspectos positivos, a criação de  vínculos mais profundos com seu parceiro, a possibilidade de ela vivenciar o amor incondicional, o fim da solidão, um envelhecimento respeitoso e até uma forma de  escapar a um hipotético presente sem sentido. A autora também toca na sombra  da psique coletiva, no que não é abertamente falado, quando menciona sobre  como as mulheres que não são mães são julgadas de forma crítica, independentemente dos motivos que tiveram para não viverem a maternidade,  seja por viverem sozinhas e não escolherem ser mães solteiras; seja por terem  limitações econômicas, físicas ou psíquicas; ou mesmo por viverem com um  parceiro que não deseja ser pai. Enfim, seja lá por qual motivo for, há sempre um  olhar de soslaio, uma inquietação no ar, um questionamento retido ou declarado direcionado à mulher que não se tornou mãe. (Cf. DONATH, 2017, p. 29).

Naturalmente, as mulheres que são “mães de ninguém” também estão  imersas na psique coletiva, sendo levadas a sentir e a questionar não só a si  mesmas, como também as demais, sobre esse tema. O termo “mães de ninguém”  tem o intuito de alterar a linguagem relacionada às “mulheres que não são mães”,  que já traz uma carga negativa e depreciativa como se algo que fosse natural às  mulheres não fosse cumprido por elas. As “mães de ninguém” buscam a  adaptação ao meio social, tentando cumprir exigências e opiniões, internas e  externas e, para isso, buscam ativamente criar uma determinada personalidade dentro deste contexto, a qual tenta e pode vir a convencer aos outros e às vezes  até a si mesmas de que são mesmo daquela maneira socialmente pré-definida.

Essa criação que cada pessoa faz ao longo do seu desenvolvimento,  principalmente na primeira metade da vida, Jung chamou de persona: uma  máscara constituída conforme os ideais normativos da consciência coletiva, que  serve para nortear a relação de cada indivíduo, particularmente, com os objetos e  espaços sociais externos. Mas, como alerta Jung, a persona não condiz  integralmente com a essência da personalidade individual. Ou seja, ela raramente  abarca quem a pessoa realmente é como um ser mais integral (Cf. JUNG, 2013,  p. 426). 

Pois, conforme ele esclarece, a persona é uma máscara da psique  coletiva, que aparenta falsamente uma individualidade, construída com base no  que as pessoas acham que são e como elas gostariam de ser vistas pelos demais  para se sentirem seguras e amadas. Entretanto, a consciência egóica do  indivíduo pode se identificar com a persona, apesar de ela não ser a verdadeira  individualidade. Isso pode ser percebido de forma indireta nos conteúdos contrastantes e compensadores do inconsciente que aparecem nos sonhos e nas  falhas de linguagem, por exemplo (Cf. JUNG, 2015, p. 47). Jung aponta ainda que: 

O indivíduo não é apenas um ser singular e separado, mas também um ser social, a psique humana também não é algo isolado e totalmente individual, mas também um fenômeno coletivo. E assim como certas funções sociais ou instintos se  opõem aos interesses dos indivíduos particulares, do mesmo  modo a psique humana é dotada de certas funções ou tendências que, devido à sua natureza coletiva, se opõem às necessidades  individuais. (JUNG, 2015 p.35, grifos do autor) 

Tomando por base o argumento acima de Jung, podemos entender que  quando as pessoas se identificam com a psique coletiva, elas tentam impor aos  outros as exigências do seu inconsciente, pois assim ficam com o sentimento de  uma validez geral, em função da universalidade da psique coletiva, ignorando as  diferenças das psiques individuais (Cf. JUNG, 2015, p. 40). Nas palavras de Jung  (2015, p.40) “Tal desprezo pela individualidade significa a asfixia do ser individual,  em consequência da qual o elemento de diferenciação é suprimido na  comunidade… As mais altas realizações da virtude, assim como os maiores  crimes são individuais”. 

Portanto, segundo Jung, quando há a identificação da  pessoa com a psique coletiva só prospera no indivíduo o que é coletivo, e então, o que for individual torna-se reprimido, podendo se tornar algo destrutivo que  adquire força por ter sido depositado inconscientemente na sombra. Isso porque  a sombra é composta pelos aspectos que consideramos que não se encaixam na  nossa persona, na imagem que gostaríamos de ter para atender às demandas  coletivas. Ela abrange os aspectos que são considerados desagradáveis ou imorais pelo nosso ego, e que por isso mesmo, gostaríamos de fingir que não  existem, por se referirem a nossas inferioridades e impulsos inaceitáveis, atos e  desejos vergonhosos, ou talvez considerados assim, ao menos em parte, por não  estarem de acordo com o que a psique coletiva entende como socialmente  honroso e adequado (Cf. HOPCKE, 95-97) 

Assim, apesar da imagem mágica que a psique coletiva impõe sobre a  maternidade, e, embora uma grande parte das mulheres encontre realização no  papel maternal, há também muitas mulheres que confundem seus reais desejos  com os da persona que construíram, além de outras que preferem ser “mães de  ninguém”, e até as que se arrependem de terem tido filhos. As ameaças dessa  imagem idealizada às mulheres que não querem ou não podem ser mães biológicas, e o silêncio que ainda predomina entre nós sobre as ansiedades,  angústias e sofrimentos relacionados à experiencia de uma maternidade real  precisam ser trazidos à luz para que possamos refletir, não só como terapeutas,  mas também como homens e mulheres. 

Essa reflexão é feita para que nós, como seres individuais e coletivos  simultaneamente, possamos ter a chance de perceber como nos sentimos e como  nos colocamos no mundo a respeito desse tabu, assim como para que possamos  ter maior consciência de como tratamos a nós mesmas, sendo mães ou não.  Refletindo sobre esse tema, podemos elaborar algumas coisas: todos temos uma  individualidade, pois a Natureza nos fez tão múltiplos quanto seres humanos  existem e assim estamos abarcados pelo nosso inconsciente e consciente  pessoais; todos estamos inseridos num contexto social e coletivo, em uma cultura  e, por isso, estamos mergulhados no inconsciente e na consciência coletivos;  assim, somos seres individuais e coletivos ao mesmo tempo e teremos situações  em nossas vidas que o nosso ser individual entrará em conflito com o nosso ser coletivo. 

Quanto mais percebermos que somos indivíduos inseridos em uma  cultura, mais podemos trazer para a luz da consciência nossos aspectos que não  se encaixam nos padrões coletivos e assim menos nos sentiremos ameaçados  por eles. Dessa forma, trabalhamos no sentido da individuação, segundo Jung  (2015 p.63-64) “de tornar-se um ser único”, cuja meta é “despojar o si-mesmo dos  invólucros falsos da persona, assim como do poder sugestivo das imagens  primordiais”. 

Referências: 

DONATH, Orna. Mães Arrependidas Uma outra visão da maternidade. 1ª. Ed.  Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017. 

FERNANDEZ, Maria; SEVILLANO, Elena G. O custo de ser mãe aos 40 faz  prosperar uma bilionária indústria de reprodução assistida. El país, Madri, 22 jul  2019. Disponível em:  

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/19/actualidad/1563549009_803035.html#: ~:text=Aos%2040%20anos%2C%20cai%20para,o%20neg%C3%B3cio%20da% 20reprodu%C3%A7%C3%A3o%20assistida.  Acesso em: 26 dez 2020 

HOPCKE, Robert H. Guia para a obra completa de C.G. Jung. 3.ed. Petrópolis:  Vozes, 2012 

JUNG, Carl Gustav. Tipos Psicológicos. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

 ______Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 11.ed. Petrópolis: Vozes, 2014. ______O eu e o inconsciente. 27.ed. Petrópolis: Vozes, 2015.

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A aquisição de um novo hábito requer tempo, força de vontade e repetição

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Criar uma rotina mais saudável, alimentar-se melhor, ter sono de qualidade, cultivar laços sociais positivos, cuidar da mente, fazer uma atividade física, começar um curso novo sempre são metas colocadas no fim de ano para serem realizadas no ano novo que se inicia. As pessoas ficam mais propensas a mudanças de hábitos, o problema é que muitos objetivos ficam, somente, no papel, e o comportamento continua igual ao ano anterior.

O ato de mudar demanda uma quebra de paradigma para que reais transformações aconteçam na rotina do indivíduo. Ou seja, uma mudança de mentalidade que requer esforço para a inserção de novos costumes, para começar o dia com bons hábitos; mesmo encontrando na maioria das vezes dificuldades para a inserção desses novos hábitos, podendo ser vistos como comportamentos governados por regras, que sendo formuladas podem ser mais aceitáveis do que apenas seguidas.

Para muitos, a ideia de introduzir um novo hábito na rotina acaba sendo algo considerado difícil, e muitas das vezes, visto como praticamente impossível. No entanto, é importante lembrar que após o hábito existir, não é possível acabar com ele, e sim modificá-lo, e mudar um velho hábito, que, caso o estímulo para o mesmo volte como era a princípio, esse mesmo hábito ressurgirá imediatamente. Duhigg (2012) ao retratar as ideias de Claude Hopkins certifica que “para mudar um velho hábito, você precisa abordar um anseio antigo. Precisa manter as mesmas deixas e recompensas de antes, e alimentar o anseio inserindo uma nova rotina.”

Fonte: encurtador.com.br/hvwJK

Conforme Covery (2014), a mudança de hábito está relacionada a transformação do caráter, é preciso ser “de dentro para fora” para que realmente exista uma eficácia pessoal e interpessoal. “A abordagem de dentro para fora privilegia um processo contínuo de renovação baseada nas leis naturais que governam o crescimento e o progresso humanos”.

A força de vontade é um pontapé inicial para a formação de novos hábitos, mas para permanecer é preciso consistência e muito esforço diário. As histórias de pessoas bem-sucedidas, que servem de inspiração, ajudam até um certo ponto, pois quando a motivação acaba o que sobra é a disciplina.  Nesse contexto, que Goleman (2005) reforça a ideia de que a inteligência emocional ajuda traçar metas, desenvolver a inteligência intelectual, por meio do gerenciamento das emoções.  Ou seja, a administração das emoções pode ser um meio para a elaboração de novos hábitos, os quais não tenham uma memória volátil, mas sim duradoura.

Caso queira começar sua mudança hoje, segue algumas ideias para a construção de novos hábitos: Primeiramente, não tente mudar de uma só vez, um passo de cada vez, já que seu cérebro está recebendo novos estímulos. Anote tudo em um caderno, mas não o deixe guardado em uma gaveta, deixei- a vista para sempre lembrar de seu objetivo.

Fonte: encurtador.com.br/tCISZ

Uma dica de ouro para uma mudança real, comece a conviver com grupos sociais, os quais já possuem o hábito que deseja adquirir. Por exemplo, se deseja ser um corredor, procure um grupo de corrida. Por fim, mantenha um planejamento de metas, crie boas estratégias elaboradas, mantenha o foco e não desista, é possível mudar.

 

REFERÊNCIAS

Duhigg, Charles. O poder do hábito [recurso eletrônico]: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios / Charles Duhigg ; tradução Rafael Mantovani. – Rio de Janeiro : Objetiva, 2012.

COVEY, Stephen R. Os 7 Hábitos das pessoas altamente eficazes. Rio de Janeiro: Bestseller, 2014.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

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You – Quando a perversão é confundida com amor.

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É uma série de televisão americana de suspense psicológico, a primeira temporada é baseada no livro homônimo de 2014 escrito por Caroline Kepnes. Que descreve a história de Joe Goldberg (Penn Badgley) que é um gerente de livraria de Nova York, que se apaixona por uma cliente chamada Guinevere Beck (Elizabeth Lail).

Desde o inicio a série é narrada por Joe, o que dá a possibilidade das pessoas que assistem entenderem sua mente. Desde o momento que Beck entra na livraria em que Joe trabalha, o mesmo começa a descrevê-la. Ele gosta da forma como a observa e como busca maneiras de entender seus passos dentro da livraria, mesmo não a conhecendo. Joe antes mesmo de conhecê-la por um encontro ou algo típico de um início de relacionamento, o mesmo à procura nas redes sociais, busca o máximo de informações possíveis, obtendo assim, a sorte de encontrar o endereço de Beck. Joe passa a observá-la por vários dias, chegando a entrar na casa de Beck enquanto ela não estava e furta uma calcinha. Ele a observava até mesmo se relacionando com outros homens. Um desses homens é o Ben, no qual Beck demonstra interesse.

A verdadeira personalidade de Joe começa quando ele sequestra Ben e o deixa por vários dias no porão da livraria, sendo que depois o mata e queima o corpo em um bosque, tudo isso para que Ben ficasse fora de seus planos.  E os abusos de forma secreta continuam, Joe tem a sorte de furtar o celular de Beck sem que ela perceba, passando assim a ter acesso a todas as conversas dela.

Fonte: encurtador.com.br/lBLPU

Depois de alguns encontros, o casal começa a ter um relacionamento mais sério. O problema agora é com as amigas, Joe sempre afirma em suas narrações que as amigas não demonstravam nenhum companheirismo para com Beck, e a rivalidade maior era com Peach, a amiga mais próxima. Uma  grande hipocrisia na fala de Joe é quando ele afirma que Peach era perversa, porque sempre queria Beck por perto, guardava várias fotos da mesma, manipulava e a desejava. Peach também acaba sendo morta por Joe. O mesmo afirma que foi o  melhor para Beck.  O fim desta primeira temporada termina com Beck descobrindo a obsessão de Joe, ela encontra todos os objetos que ele furtou, mas, também encontra objetos da ex-namorada que também foi morta. Beck tenta fugir, mas acaba sendo assassinada por Joe.

Percebe-se que Joe tem um interminável desejo de satisfazer e proteger Beck, “Tudo para o Outro”. Esse é o objetivo dele. Joe até chegou a fazer terapia, mas no intuito de saber se Beck estava lhe traindo com esse psicólogo que ela fazia terapia. Fink, 2008 afirma que “A maioria dos clínicos não recebe muitos pacientes que possam ser classificados com exatidão como perversos, falando em termos psicanalíticos.” Joe jamais se acharia uma pessoa má, para ir à terapia, tudo que ele fazia era por amor a Beck.  Para a psicanálise a perversão é entendida como pessoas estruturalmente perversas, que não se relacionam com o outro como uma pessoa inteira. O perverso toma o outro como um objeto. A finalidade do perverso é sempre sua satisfação sem considerar o outro. Pode se dizer que o perverso não tortura necessariamente sua vítima de forma física, mas pode subjugar sua visão de mundo. O que de fato acontecia com Joe e Beck, ele não aceitava o mundo de Beck, em suas narrações afirmava que a vida dela seria diferente ao lado dele. De forma inconsciente, Joe não pensava em Beck, mas sim no desejo de tê-la somente para ele.

“É comum os perversos terem bastante certeza” (Fink 2008). Joe tinha certeza de que tudo que estava fazendo daria certo, ele transmite isso o tempo todo. Um homem confiante, onde tudo que fazia tinha um propósito, e esse propósito era de salva Beck de sua vida rodeadas de pessoas que não queriam o bem dela, pois apenas ele poderia dar o melhor para ela, exemplo de um relacionamento abusivo. Dessa forma, a psicanálise explica que “na perversão, o desejo parece como vontade de gozo, e o ato é praticado geralmente como vitorioso, isento de culpa. O perverso sabe o que quer.” (Ferreira, 2011)

Fonte: encurtador.com.br/eiyX7

Joe em sua grande perversão, não enxerga que está errado, sempre afirma que tudo isso era por amor, que ele a amou, mas não foi reciproco. O que ele faz nunca é sua culpa, faz porque tem um porque e a culpa é de Beck por ter pessoas ruins à sua volta. Dessa forma, a psicanálise explica que “na perversão, o desejo parece como vontade de gozo, e o ato é praticado geralmente como vitorioso, isento de culpa. O perverso sabe o que quer.” (Ferreira, 2011).  Pode se concluir que Joe é um exemplo clássico de psicopata, um perverso que não sente culpa ao mentir e principalmente ao matar.

REFERÊNCIAS

Fink, Bruce. Introdução clínica à psicanálise lacaniana. 1° edição. Zahar. 2008.

FERREIRA, Breno de Oliveira; MENESES, Hélem Soares de. Perversão à Luz da PsicanálisePsicologado[S.l.]. (2011). Disponível em: https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/perversao-a-luz-da-psicanalise.  Acesso em 29 de maio de 2020.

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San Junipero: a vontade de infinitude

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“O que sobra para quem vive nessa perpétua angustia

causada pelo temor de perder sempre o que não quer perder?”

Soren Kierkgaard

“Em 1987, em uma cidade litorânea, uma jovem tímida e uma garota extrovertida formam uma conexão que parece transcender o tempo e espaço”. Essa parece uma boa sinopse para uma história de amor, certo? Bem, essa é a primeira impressão para quem decide assistir a “San Junipero”, o quarto episódio da terceira temporada de Black Mirror. Pórem, se esse não foi seu primeiro episódio na série britânica, você certamente desconfiou de uma descrição tão radiante e aguardou pela surpresa.

O início da trama causa estranheza por começar no passado, na década de 80, algo incomum até então. Yorkie (a jovem tímida), caminha pelas ruas de San Junipero (a cidade litorânea), até decidir entrar em uma casa noturna. A personagem aparenta desconforto observando as pessoas dançando e se divertindo, quando senta em uma mesa bebendo refrigerante é abordada por Kelly (a garota extrovertida), se passando por sua amiga para se livrar de um acompanhante. Yorkie ajuda Kelly e as duas acabam tomando um drink.

Fonte: https://goo.gl/2Yjqkb

A personagem Kelly (Gugu Mbatha-Raw) é destemida, sorridente e sedutora, em contraste com Yorkie (Mackenzie Davis), retraída, desconfiada e insegura. Quando Yorkie sai correndo pelo desconforto causado pela pista de dança após o convite de Kelly, as duas acabam conversando do lado de fora.

Kelly: “Você foi criada com rédeas fortes.”

Yorkie: “Pois é. A minha família não me deixa fazer nada.”

Kelly toca Yorkie e a convida para dormirem juntas, que nega e fala que tem um noivo.

Após esse encontro, acontece um dos grandes passos para a compreensão da dinâmica do episódio. A ótica oitentista e a trilha sonora inconfundível dos anos 80 vão sendo trocadas por musicas dos 90, assim como as roupas de Yorkie que se troca consecutivas vezes em um quarto, e ao final de tudo escolhe um conjunto similar ao de costume.

Fonte: https://goo.gl/wHn3Zg

Ao voltar à casa noturna, Yorkie se vê obrigada a disputar a atenção de Kelly com outra pessoa, e quando finalmente se encontram no banheiro, a jovem pede a Kelly que facilite as coisas para ela, demonstrando que o desejo era mútuo. Ambas vão até a casa de Kelly.

Após a relação sexual, Yorkie revela ter sido a sua primeira vez e questiona Kelly sobre quando ela descobriu que gostava de mulheres. Kelly revela que sempre soube, porém era casada com um homem e relata com expressão severa:

“Tinha uma quedinha por elas. Mas nunca parti pra ação. Nunca fiz nada. Estava apaixonada por ele. Estava muito apaixonada por ele. Mas ele resolveu partir. Agora só sou eu e estou vivendo […] Só quero me divertir.”

A noite acaba e nas próximas semanas Yorkie passa a não encontrar Kelly em San Junipero, descobrindo que não foi a única desprezada pela sedutora garota. E então, finalmente pode-se descobrir o que estava subentendido desde o começo. A cada semana que se passa, Yorkie procura Kelly em anos diferentes, 1980, 1996, até finalmente encontrá-la em 2002. Kelly desdenha os sentimentos de Yorkie com seu discurso hedonista.

A essa altura o espectador se pergunta: se trata de viajem no tempo? Porém, Kelly cheia de fúria esmurra um espelho quebrando-o, e em segundos, lá está ele: intacto. Bem, esse não é o plano comum da realidade.

Fonte: Netflix

Sören Kierkegaard (1813 -1855), pioneiro do existencialismo, pontua que o homem precisa de liberdade para definir sua natureza. O sentido da vida para Kierkegaard estaria envolto aos conceitos de livre escolha e saída do tédio existencial. O filósofo dinamarquês definiu três estágios pelos quais o homem pode passar: estético, ético e religioso (HADAAD, 2016).

Kelly estaria vivenciando o primeiro estágio no caminho da existência humana: o estético. Segundo Hadaad (2016), nesse estágio primário, a pessoa é incapaz de ser aberta em um relacionamento com outra e o desejo é a tônica de sua vida. Tudo que o aborrece é negativo, como a insistência de Yorkie, por exemplo. Uma das analogias de Kierkegaard é ao arquetípico Don Juan, popularmente sinônimo de alguém sedutor.  Assim como Kelly, o próprio Kierkegaard passou por uma desilusão amorosa, que teria causado uma hiperatividade mental, que somada à melancolia do rompimento culminou em um profundo hedonismo (HADAAD, 2016).

Após a saída de Yorkie, Kelly a encontra e as duas fazem as pazes. Em uma conversa, ambas revelam um pouco da realidade de suas vidas fora dali. Yorkie diz que tem que se casar com seu noivo Greg, apesar de sua família desaprovar; e Kelly revela ter câncer em estado terminal, com aproximadamente três meses de vida, não pretendendo continuar naquela realidade após sua morte, pois seu marido também não havia decidido continuar, morrendo permanentemente.

As duas decidem se encontrar pessoalmente, então Kelly vai ao encontro de Yorkie, que está em um hospital. As duas são idosas na vida real, e Yorkie não consegue se comunicar fisicamente, somente ouvir. No hospital, Kelly conhece Greg, o noivo, que na verdade é o enfermeiro de Yorkie. Greg revela que Yorkie estava testando o sistema para ficar permanentemente em San Junipero após sua morte, e que havia ficado tetraplégica desde os 21 anos, quando se envolveu em um acidente após assumir sua orientação sexual para os pais.

Greg se casaria com Yorkie para que a eutanásia pudesse ser realizada, pois sua família não autorizaria, uma vez que eram muito religiosos. Kelly comove-se e entra no sistema para poder conversar com Yorkie, pedindo-a em casamento. Após um “sim”, a cerimônia acontece fisicamente e após algumas horas, a eutanásia é realizada. Yorkie está permanentemente em San Junipero.

Fonte: https://goo.gl/E8Rs9Q

 Yorkie, que agora é moradora do sistema, tenta convencer Kelly a ficar com ela para a eternidade após sua morte, que se aproxima.  As visitas de 5h semanais logo cessariam caso Kelly optasse pelo fim.   Quando sua atual esposa toca no nome de seu ex-marido, Kelly revela que eles passaram 49 anos juntos, que tiveram uma família, uma vida. Kelly dá significado à escolha de seu marido, que rejeitou o paraíso, pois quando a filha do casal morreu a tecnologia ainda não existia.

O maior dilema existencial do homem se prostra sobre nossas personagens: qual o sentido da vida? Ambas não acreditam que exista um lugar metafísico, além dos planos que habitam.

Kelly: “Eu gostaria de acreditar que ele está com ela, que eles estão juntos, mas não. Acho que não estão em lugar nenhum, bem como você disse. Sumiram.”

As personagens que já estiveram no que seria chamado de estágio ético criado por Kierkegaard, ou seja, vivendo um compromisso com seriedade e honestidade formando laços, são jogadas ao vazio, pois de acordo com a teoria do filósofo, o estágio final denominado “religioso” (Kiekegaard o relacionava com Deus) deve ser além do próprio eu e dos limites éticos (HADAAD, 2016).

Ao perceber que a aliança entre tempo e eternidade não dissiparia o sofrimento e as leis internalizadas, o sentido da vontade de eternidade passa a ser questionado. Segundo Bauman, a sociedade atual busca consumir toda a eternidade na vida terrena, comprimindo-a e ajustando-a a existência individual (BAUMAN, 2007). A história de San Junipero retrata o alcance desse objetivo contemporâneo, com a dinâmica da configuração identitária atual.

Com o final do episódio se aproximando, o espectador se percebe em uma contradição: acreditar que Yorkie e Kelly devem ficar juntas tentando ser felizes, ou que Kelly deve desistir de sua existência em um ato de doação à existência de seus entes. Após sua morte, Kelly decide ficar no sistema, ser armazenada em uma espécie de HD. As amantes estão finalmente juntas, imunes fisicamente, a mercê somente de seus próprios sentimentos.

Fonte: https://goo.gl/rtQutG

A sinopse citada anteriormente indicava um grande romance, mas você me diz, foi um final feliz?

Fonte: https://goo.gl/8nctjQ

REFERÊNCIAS:

HADAAD, R. Estético, ético e religioso, segundo Kierkegaard. Origami de Ideias, 2016. Acesso em: 01 set. 2017. Disponível em: < https://origamideideias.wordpress.com/2016/11/07/estetico-etico-e-religioso-segundo-kierkegaard/>.

BAUMAN, Zygmund; 1925- Vida Líquida, Zahar Ed., Rio de Janeiro, 2007.

BAUMAN, Zygmunt; Modernidade Líquida, Zahar Ed., Rio de Janeiro, 2001.

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Schopenhauer e a vontade como essência de todas as coisas

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O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), influenciado fortemente por Kant, desenvolveu uma filosofia pessoal, considerada pessimista e ascética. Seu pensamento sobre o amor é caracterizado por não se encaixar em nenhum dos grandes sistemas de sua época.

Combateu o hegelianismo, então dominante, e sua oposição ao meio acadêmico na Alemanha fez com que seu pensamento tivesse relativamente pouca repercussão, alcançando notoriedade apenas no final de sua vida.

Partindo essencialmente de Kant, mas também sob a influência de Platão e até mesmo do budismo, Schopenhauer considera o mundo de nossa experiência como simples representação. Ao procurar superar o nível da aparência, em direção à realidade verdadeira, o absoluto, o sujeito descobre sua vontade, chegando depois à vontade única como ser verdadeiro. Introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã.

Fonte:http://aaapucrio.com.br/wp-content/uploads/Schopenhauer.jpg

Schopenhauer nasceu em 22 de fevereiro de 1788 em Danzig no Reino da Prússia, faleceu em 21 de setembro de 1860 em Frankfurt. Teve ocupação como filósofo e professor universitário. Suas influências foram Buda, Platão, Kant, Hobber, Goethe, Hegel e filosofia oriental. Foram influenciados por ele Nietzsche, Kierkegaard, Beckett, Jorge Luis Borges, Mihai Eminescu, Freud, Hesse, Horkheimer, Jung, Mann, Gilbert Ryle, Tolstoy, Machado de Assis, Vivekananda, Maupassant, Wagner, Wittgenstein, Proust, Albert Einstein, Henri Bergson, Luitzen Egbertus, Jan Brouwer.

Até 1809, Schopenhauer era estudante de filosofia na Universidade de Göttingen. Em 1811, mudou-se para Berlim, para prosseguir seus estudos, e finalmente concluiu sua dissertação em 1813, em Iena. Intitulado Sobre a raiz quádrupla do princípio da razão suficiente, o trabalho desafiava a ideia de que o que é real é o que é racional – ou, em outras palavras, que o mundo é perceptível. Tornou-se professor da Universidade de Berlim em 1820. Introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã. Ele acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tivesse a ver com a felicidade.

Os pensamentos de Arthur Schopenhauer são uma coletânea de pensamentos ditos pessimistas que consistem em dizer que o ser humano não nasce condenado à morte, o homem nasce condenado à vida, pois viver é sofrer, daí a sua fama de extremo pessimista.

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A coisa-em-si

Segundo Schopenhauer, a essência de todas as coisas, a coisa-em-si, é a Vontade. Essa que é um impulso cego, um ímpeto, uma força vital, um esforço de vida, um querer viver incessante que seria o fundo íntimo e essencial de todo o universo. Schopenhauer, valendo-se de uma razão analógica, sente-se autorizado a estender a Vontade, a todos os demais seres, concebendo-a como essência não só do homem, mas do mundo, de tudo e do todo.

Metafísica do amor

De acordo com Schopenhauer, o amor é o impulso sexual baseado na vontade de vida da espécie, ou seja, é uma representação da vontade, no qual a metafísica do amor seja a essência compreendida nos seres humanos.

Segundo Alain de Botton os namoros de Schopenhauer eram um tanto frustrados, mas para ele nada na vida é mais importante que o amor, e que este não deve ser considerado um assunto banal. Conforme nos apaixonamos, Schopenhauer afirma que desejamos primeiramente as qualidades existentes no sexo oposto, pois o alvo de tal vontade é a necessidade de se reproduzir.

Ele acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tivesse a ver com a felicidade. Por esse motivo Schopenhauer aconselha que não devemos criar expectativas de durabilidade nos relacionamentos amorosos.

Portanto, o amor servia somente para criar o fruto, neste momento não haveria mais o amor somente uma consideração, ou seja, “o amor não é algo romântico mas sim uma ilusão” (BASEGGIO, 2009).

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Se baseando em escritos budistas e na filosofia oriental, Schopenhauer procura uma forma de libertação dessa vontade pois que diz que a única forma de se libertar dela é a total renúncia, alcançada no Nirvana. Ele também identifica esse mecanismo da libertação da vontade no cristianismo genuíno. De todo modo, a sabedoria religiosa tem por referência o budismo.

O pessimismo de Schopenhauer veio da sua metafísica, a metafísica da Vontade. A Vontade, ao contrário da razão, não tem limites, pois ela vai para qualquer lado: bom ou ruim. Tanto um quanto o outro gera um querer, o qual nos conduz ao caos. Schopenhauer chegou a propor maneiras de transcender as frustrações da condição humana, especialmente por meio da arte. Por esse motivo, suas idéias agradaram inúmeros escritores e músicos, como Thomas Mann, Proust, Tolstoi e Wagner, assim como outros filósofos, incluindo Nietzsche.

Em 1814, Schopenhauer foi para Dresden, onde começou a trabalhar em seu livro mais famoso, O mundo como vontade e representação, no qual foi lançado em 1819. No livro ele descreve que o mundo só é dado à percepção como representação: o mundo é puro fenômeno e a vontade é objetivada tornando-a perceptível. O centro e a essência do mundo não estão nele, mas naquilo que condiciona o seu aspecto exterior na coisa em si do mundo. Logo que o objeto imediato passa a ser visto por si mesmo e, mais ainda, por outro modo de conhecimento se distinguindo do que é comum à representação.

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O Homem toma os limites do próprio campo de visão como se fossem os limites do mundo

Ele explica que a visão do mundo é limitada por observações de um vasto universo, universo esse composto por experiências limitadas de uma ampla vontade universal, da qual a própria vontade é apenas parte da sua visão de mundo, não incluindo coisas já percebidas por ele e nem a vontade universal que ele não experimentou.

Principais Obras

As Dores do Mundo
Sobre a Raiz Quádrupla do Princípio da Razão Suficiente (1813)
Sobre a Visão e as Cores (1815)
O Mundo como Vontade e Representação (1819)
Sobre a Vontade da Natureza (1836)
Os Dois Problemas Fundamentais da Ética (1841)
Parerga e Paralipomena (1851)

 

Principais Frases
“Quem deseja sofre. Quem vive deseja. A vida é dor”.
“Os sábios de todos os tempos disseram certamente a mesma coisa, e os tolos, ou seja, as maiorias eternas sempre fizeram o contrário. E assim será sempre.”
“Os quarenta primeiros anos de vida ministram o texto: os outros trinta ministram o comentário.”

Da mesma forma como nos homens, a vontade seria o princípio fundamental da natureza. Para Schopenhauer, na queda de uma pedra, no crescimento de uma planta ou no puro comportamento instintivo de um animal afirmam-se tendências, em cuja objetivação se constitui os corpos.

Essas diversas tendências não passariam de disfarces sob os quais se oculta uma vontade única de caráter metafísico e presente igualmente na planta que nasce e cresce, e nas complexas ações humanas.

As formas racionais da consciência não passariam de ilusórias aparências e a essência de todas as coisas seria alheia à razão: “A consciência é a mera superfície de nossa mente, da qual, como da terra, não conhecemos o interior, mas apenas a crosta”. O inconsciente representa papel fundamental na filosofia de Schopenhauer.

 

Referências 

BURNHAM, Douglas; BUCKINHAM, Will. O livro da Filosofia. Editora Globo, São Paulo, SP, 2011.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5. Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

Zimmern, H.  Schopenhauer: his life and philosophy. G. Allen & Unwin ltd, 1932.

Schopenhauer, Arthur. Sobre a Filosofia e seu Método. São Paulo: Hedra, 2010.

BASEGGIO, Daniel. A Metafísica do Amor- Schopenhauer. 2009.

DEBONA, Vilmar. A vontade é o elemento fundamental a fim de trazer o sentido das coisas e do mundo. É essa união entre o corpo e o sentimento, segundo o filósofo, que proporciona a essência metafísica elementar: a vontade da vida. Revista Filosofia, São Paulo, Editora escala. 2014.

DEBONA, Vilmar.  Ideologia e sabedoria. Disponível em: < http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/17/artigo133464-1.asp>.  Acesso em 22 de abril de 2016.

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