No último dia 04 de novembro, nas dependências do Núcleo de Atendimento Integrado de Palmas (NAI), ocorreu o último encontro de capacitação promovido pelos alunos do curso de psicologia, da ULBRA – Palmas, como parte das atividades do Estágio Básico de Intervenção em Crise. O evento contou com a presença de trabalhadores das instituições de acolhimento da Casa de Acolhimento Raio de Sol e Casa Acolhida.
A capacitação foi estruturada em três encontros. No primeiro, ocorrido em 3 de outubro, foram abordados temas como saúde mental e os tipos de crise vivenciados nas casas. Em 21 de outubro, a professora Mariana Borges destacou a importância dos servidores compreenderem os conceitos de estressores, limiar e vulnerabilidade, para uma abordagem preventiva e eficiente em situações de crise.
O último encontro, em 4 de novembro, trouxe a matriz de responsabilidade para auxiliar os servidores a identificarem a responsabilidade de cada um em situações de crise. Para a professora Mariana Borges esta fase teve o objetivo de apresentar a matriz de saúde mental, um dispositivo criado para monitorar e acompanhar as ações de cuidado em saúde. Durante a atividade, buscou-se levantar junto aos profissionais, os princípios éticos que guiam o atendimento, os serviços de apoio que são acionados em situações de crise e as atividades desenvolvidas nesse contexto.
Após a capacitação, os alunos desenvolverão protocolos de intervenção personalizados para cada instituição. “Após essa etapa, construiremos juntos a matriz e o fluxograma, que será entregue às casas de acolhimento dentro de 15 dias. Na apresentação desses fluxogramas iremos até as casas e teremos um momento para explicar a estrutura proposta e, em seguida, realizaremos uma segunda visita para receber o feedback dos profissionais. Esse retorno será fundamental para identificar os pontos que refletem suas práticas diárias e ajustar o que for necessário antes da versão final dos protocolos”, informou Mariana Borges.
Para Joanete Barbosa, coordenadora da Casa Acolhida, o evento foi um espaço importante tanto no sentido da construção do protocolo, quando como espaço de fala dos servidores. “Esse protocolo vai ser crucial para direcionar as práticas nos momentos de crise dos meninos. Serviu também como um espaço de fala da equipe, que às vezes sente muita falta nesses momentos difíceis. Uma das coisas que mais chamou minha atenção é justamente essa proximidade com a nossa prática. Vai ser um documento que, diferente de muitos outros, vai ser construído em cima do nosso cotidiano”, relata Joanete.
De acordo com a discente do 8º período de psicologia, Glaucilene Santana, este tipo de capacitação é muito significativo, uma vez que está vendo um serviço funcionar na realidade. “A gente fez visitas e as capacitações, ouvindo as pessoas que trabalham nesses locais, assim relacionamos teoria com a prática, pois em sala de aula a gente leu artigos de situações de crise e aqui nós estamos vivenciando junto com os trabalhadores das casas de acolhida as situações que eles vivenciam nessas casas, para depois construir um protocolo de enfrentamento de situações de crise na realidade, com pessoas que estão no dia a dia com essa situação”.
As casas acolhem crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade por decisão judicial, como medida protetiva determinada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. A medida é adotada em casos de violação de direitos, como abandono, negligência ou violência, e busca proteger a integridade física e psicológica dos acolhidos.
Compartilhe este conteúdo:
Projeto Saúde Mental em Casa: acadêmicos de psicologia da Ulbra Palmas realizam capacitação de trabalhadores de casas de acolhimento institucional
Com objetivo de construir um protocolo de intervenção em crise para as casas de acolhimento institucional do município de Palmas, estudantes da disciplina de Estágio Básico de Intervenção em Situação de Crise, do curso de psicologia da ULBRA, organizam capacitação, no mês de outubro e novembro, para os servidores da Casa de Acolhimento Raio de Sol e Casa Acolhida, no Núcleo de Atendimento Integrado de Palmas (NAI).
Segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, as casas acolhem crianças e adolescentes como medida protetiva, por determinação judicial, em decorrência de violação de direitos (abandono, negligência, violência) ou pela impossibilidade de cuidado e proteção por sua família. Essa ação é uma medida excepcional, aplicada apenas nas situações de grave risco à sua integridade física e/ou psíquica.
Antes da capacitação ocorreu um momento em que os estudantes se reuniram com os servidores, em ambas as casas, para levantar as situações de crises de cada uma. A equipe observou que alguns gatilhos costumam precipitar as crises, como a chegada de um novo acolhido, pois altera a dinâmica do grupo; a sensação de rejeição quando o acolhido não recebe visita de um familiar e a rotatividade dos educadores, especialmente os de referência devido a perda do vínculo. Outro ponto levantado foi a percepção de que alguns adolescentes passam a reproduzir comportamentos de crise como estratégia de ganho secundário. Os educadores explicaram que, ao perceber o início de uma crise, tentam conversar com o adolescente buscando uma distração ou oferecendo medicação.
A capacitação foi dividida em três momentos, o primeiro encontro que aconteceu no dia 3 de outubro de 2024, propôs explicar: O que é saúde mental? O que é crise? E relatar os tipos de crise que foram identificadas nas casas. Na atividade realizada na última segunda-feira (21), segundo a professora Mariana Borges: “A ideia é conversar mais sobre esses tipos de crise e trazer um pouco também o que são os estressores, limiar e vulnerabilidade, que são algumas questões que podem auxiliar eles a identificarem de forma mais preventiva situações de crise para intervenção, como também se eles conseguem visualizar esses estressores nas casas de acolhimento”.
Para Mariana Cabral, psicóloga tanto na Casa Acolhida quanto na Raio de Sol é de extrema importância entender teoricamente os conceitos e a diferenciação de crise e surto, para que o servidor saiba manejar não só o outro, mas a si também e se autorregular. “Dessa forma, a gente pode unir forças, conhecimento com a prática e perpassar não só o fazer dos profissionais que estão aqui reunidos, mas também nessa formação dos acadêmicos entendendo um pouquinho dessa nossa realidade, que apesar de ter esse viés de amar o serviço, de estar ali para de fato ajudar e acolher as crianças e adolescentes, nós também enfrentamos muitos desafios, por falta às vezes de conhecimento e capacitação.”
De acordo com a professora Mariana Borges, o próximo encontro ocorrerá no dia 4 de novembro e abordará sobre a matriz de responsabilidade, o objetivo é identificar qual é a parte de cada um dos profissionais na situação de crise, em qual fase ela se encontra, em qual momento de uma situação de crise precisaria intervir e quem são as pessoas que precisariam intervir. Logo após os eventos os alunos irão criar protocolos de mediação de situação de crise para cada uma das casas de acolhimento.
Compartilhe este conteúdo:
SAVIS do Hospital e Maternidade Dona Regina disponibiliza novo canal de atendimento
A população conta agora com o acolhimento sigiloso e humanizado, também via WhatsApp, pelo número (63) 3218-7786
Atendimento personalizado com qualidade, segurança e humanização à população, são oferecidos também, pelo novo canal de atendimento virtual, do Serviço de Atenção Especializada às Pessoas em Situação de Violência Sexual (SAVIS), do Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos (HMDR). O serviço acolhe de forma sigilosa e é destinado para todas as pessoas, independente de sexo e idade.
A partir de agora, a população pode acionar o SAVIS via WhatsApp, pelo telefone (63) 3218-7786. Pelo canal podem ser realizados agendamentos, esclarecer dúvidas, receber orientações e encaminhamentos. “Esse contato já usamos como canal de atendimento, mas entendemos que muitas vítimas não têm condições de fazer essa ligação e acaba sendo mais fácil o acesso à internet e envio dessas mensagens, o nosso intuito é oferecer mais acesso aos nossos serviços e garantir atendimento a essas vítimas que já estão fragilizadas”, destacou a enfermeira, sexóloga e supervisora do SAVIS/HMDR, Sâmia Ponciano.
No SAVIS, é realizada a atenção integral, de forma humanizada e segura, evitando a revitimização de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde e do serviço. O atendimento é multiprofissional, composto por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos e técnicos de enfermagem. O sigilo profissional é garantido e existe o apoio com a equipe na parte ambulatorial de até seis meses. No local, são feitos exames, medicações, apoio psicológico, social, imunização e em casos de gravidez decorrente de estupro fazemos o Aborto Previsto em Lei/APL, até a vigésima semana.
Dados
Segundo os dados do Serviço de Atenção Especializada às Pessoas em Situação de Violência Sexual (SAVIS) do Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos (HMDR), em 2023 foram atendidos 346 novos casos. Referência no Tocantins, o serviço funciona desde 2012, é aberto todos os dias, 24 horas, sem necessidade de encaminhamento.
A música como meio de acolhimento, identificação e encorajamento
29 de maio de 2024 Gabriel Mascarenhas-Pereira
Insight
Compartilhe este conteúdo:
A música é uma forma poderosa de arte que vai além do entretenimento. Ela tem a capacidade de tocar profundamente o ser humano, influenciar o humor, promover o bem-estar psicológico e fortalecer os laços sociais (Marques, 2017). É uma expressão humana profunda, por meio dela, criam-se belas melodias, arranjos, combinações de sons, detalhes… uma construção que culmina num lindo produto. Mas, além de lindas melodias e belos arranjos, particularmente, o que mais me toca, é o cuidado e a intencionalidade presente nas letras, gosto de pensar que é a alma da música.
Nesse texto quero evidenciar letras de músicas, trilhando um caminho entre elas. Ambas são interpretadas pela mesma artista, que iniciou sua carreira muito jovem e até hoje possui esse viés social de música destinada ao público infanto-juvenil e adolescente. Porém, ao ouvir as canções de seus trabalhos solo, pude apreciar melodias e letras que trazem questões muito presentes no emocional do ser humano, desde conflitos à resiliência.
Letras como as que serão expostas, tem o poder de alcançar o íntimo, tocam em conflitos humanos que muitas vezes não podem ser ditos, assim, as canções dão a possibilidade de se instrumentalizar e contribuir para a elaboração de cada questão pessoal. Este recurso é utilizado em campos como da Musicoterapia, mais intencionalmente, com músicas que remetem a história de vida do paciente, ajudando também no aspecto de identificação e verbalização dos problemas (Brignol, 2009).
Nesse quarto escuro
Existe um menino assustado
Ele é sozinho
E teme que o mundo encontre o seu cantinho
Me entrega ele pra cuidar
Eu sei guardar segredo
Eu sei amar
Não conto pra ninguém
Que esse menino é alguém
De barba e gravata e que esse quarto escuro é sua alma
(Lima, 2010)
Em primeira instância, temos a música Esconderijo, inicialmente nos deparamos com a terminologia “menino”, que está num quarto escuro, sozinho, temeroso, depois surge alguém que traz a figura do acolhimento que assegura o amor, o cuidado, a discrição. Porém vemos ao final da canção, que esse menino, é alguém “de barba e gravata”, um adulto, que esconde na sua alma, todo esse medo, esse sentimento de solidão. Ao refletir num âmbito coletivo, muitos adultos escondem seus anseios, seus temores, e muitas vezes, precisam de alguém como a figura da música, alguém que acolha e exerça o ouvir e o legitimar.
Desacelera
Deita essa cabeça no meu peito
Que a gente encara até o que não tem jeito
Olha como eu faço
Um passo de cada vez
Desapega
Deixa aquela sombra no passado
Agora e sempre eu fico do teu lado
Respira, confia
Um dia de cada vez
Vem amor
Do mundo a gente não vai levar nada
Entre o amor e a alegria
Escolho um de cada
Amor, alegria, um passo, uma coisa, um dia
De cada vez
Recomeça
Tenta ser mais brisa do que vento
Encara o dia nesse movimento
Seja mais dança, mais alma
Mais vida, mais poesia
Vem amor
Do mundo a gente não vai levar nada
Entre o amor e a alegria
Escolho um de cada
Amor, alegria, um passo, uma coisa, um dia
O tempo cura, fica a cicatriz
Lembrar de uma tristeza
Te faz saber o quanto é lindo ser feliz
Vem amor
Do mundo a gente não vai levar nada
Entre o amor e a alegria
Escolho um de cada
Amor, alegria, um passo, uma coisa, um dia
De cada vez
(Tedeschi, 2022)
De cada vez é uma das canções mais lindas que já ouvi, seguindo o teor da primeira canção, vemos novamente a figura do acolhimento chamando à lidar com os medos e temores desacelerado, contando com o apoio, desapegando, respirando, confiando, lembrando que além dos pesares, podemos contar com coisas boas da vida, como o amor e a alegria. Vemos analogias como “Ser mais brisa do que vento”, novamente remetendo à diminuição do ritmo, e na atenção plena a cada instante. Em “Lembrar de uma tristeza te faz saber o quanto é lindo ser feliz” lembramos que podemos olhar para o passado e para cada pesar, e a partir disso, notar e valorizar cada momento de felicidade. E assim, viver um dia de cada vez.
Hoje eu acordei sem pressa
Deixei a janela aberta
Vi a vida tão repleta de amanhecer
Hoje eu pude ver de perto
Que um coração aberto
Torna tudo mais fácil de acontecer
Eu abro as asas e preparo a alma pra respirar, pra respirar
Eu abro as asas e preparo a alma pra respirar, pra respirar
Hoje eu me joguei das nuvens
Tirei o pó e a ferrugem
Vi que o sol brilha mais claro se a gente ‘tá bem
Voos podem ser mais altos
Frases podem ser mais belas
Hoje eu vou gritar mais forte a sorte que a gente tem
De ser feliz sem ser refém
Eu abro as asas e preparo a alma pra respirar, pra respirar
Eu abro as asas e preparo a alma pra respirar, pra respirar
(Lima, Lima e Lopes, 2017)
Respirar é uma canção com um teor de esperança, a partir do entendimento de que pode se viver a vida um dia de cada vez, o posicionamento agora é outro, durante toda a letra vemos uma permissão pessoal de sentir, de aproveitar cada acontecimento, fator evidenciado em “Hoje eu pude ver de perto que um coração aberto torna tudo mais fácil de acontecer”, “Vi que o sol brilha mais forte se a gente tá bem” e também no refrão “Eu abro as asas e preparo a alma, para respirar”.
Eu senti
O vento arrastar o medo pra longe de mim
Eu senti
O tempo se abrir e o sol tocar a pele
E eu vi que eu podia mais do que eu sabia
Eu vi a vida se abrir pra mim
Quando eu disse sim
Eu disse sim pro mundo
Eu disse sim pro sonhos
E pra tudo que eu não previa
Sim pro inexplicável
Eu disse sim, eu caso
Eu disse sim pra tudo que eu podia
E eu podia mais do que eu sabia
Eu vivi fugindo de arrependimentos
Sem me redimir
Me perdi, navegando em erros
Sem buscar o leme
E eu vi que eu podia mais
Do que eu sabia
Eu vi a vida se abrir pra mim
Quando eu disse sim
Eu disse sim pro mundo
Eu disse sim pro sonhos
E pra tudo que eu não previa
Sim pro inexplicável
Eu disse sim, eu caso
Eu disse sim pra tudo que eu podia
E eu podia mais do que eu sabia
(Lima Jr, Lima e Lima, 2013).
Quero findar esse caminho de intersecção com essa linda letra que pertence a canção com o nome: Sim. Nessa música, vemos o resultado da abertura pessoal às experiências e desafios da vida, a partir de um Sim. Temos afirmações como “eu disse sim pros sonhos, sim pro inexplicável, eu vi que eu podia mais do que eu sabia, eu vi a vida se abrir pra mim”, evidenciando como se permitir vivenciar é importante para até mesmo descobrir que se pode ir além do que sabia. Aquele menino assustado pode encontrar acalento, pode expressar seus medos, pode viver um dia de cada vez, pode abrir as asas e preparar a alma para respirar , e ver a vida se abrir, a partir de um Sim.
Como vimos durante a análise e ligações dessas letras, a música é uma ferramenta fantástica e democrática de expressão e identificação. Quando as emoções não são facilmente faladas, a música oferece uma forma simbólica de expressão, e assim muitos podem ouvir e se reconhecer (Brignol, 2019), além de encontrar também possibilidades de esperança frente a intensidade e complexidade que é viver.
Referências:
Brignol, R. Análise de canções num processo terapêutico grupal e interdisciplinar. URCAMP, 2009.
Lima, S. intérprete: Sandy Leah De Lima, Esconderijo, São Paulo, Universal Records, 2010.
Lima, S; Lima, L; Lima Jr, D. intérprete: Sandy Leah De Lima, Sim, São Paulo, Universal Records, 2013.
Lima, S; Lima, L; Lopes, D. intérprete: Sandy Leah De Lima, Respirar, São Paulo, Universal Records, 2017.
Marques, P. A influência da música na saúde mental e bem-estar: um estudo exploratório, Universidade Fernando Pessoa , 2017.
Tedeschi, E. intérpretes: Sandy Leah De Lima; Agnes Nunes, De Cada Vez, São Paulo, Universal Records, 2022.
Compartilhe este conteúdo:
Setembro Amarelo: acolhimento da indecifrável dor de quem fica
14 de setembro de 2022 Maria Laura Maximo Martins
Mural
Compartilhe este conteúdo:
O processo de luto se inicia depois de uma perda. Aquilo que perdemos e como perdemos, pode impactar na intensidade da nossa trajetória, nos impulsionando a vivenciar experiências únicas, que devem ser respeitadas e validadas. Em casos extremos, ao se perder uma pessoa fisicamente, inicia-se um processo repleto de emoções e reações intensas. É um processo difícil que pode ser passível de mais complexidade caso a morte aconteça por suicídio.
No que diz respeito ao suicídio concreto, este não pode ser entendido de maneira simplista, pois é algo profundo e multifatorial. Da mesma maneira devemos enxergar o sofrimento dos sujeitos abalados e enternecidos decorrentes de uma morte por suicídio: é preciso ver, de fato, sua total profundidade, para que desse modo a ação de acolher aconteça devidamente.
Levando em consideração que há uma alta taxa de incidência de morte consumada por suicídio, transportando-o à um patamar entendido como uma questão de saúde pública, isso implica paralelamente em um número elevado de pessoas impactadas por mortes de tal natureza. Para cada pessoa que se vai, ficam indivíduos extremamente abalados – conhecidos como os sobreviventes.
Fonte: Imagem de Arek Socha por Pixabay
Por essa razão, muitos estudos se debruça sobre a temática de enlutados que perderam pessoas por suicídio Trata-se de uma vivência repleta de sentimentos e sensações penosas, que podem oscilar e co-existir; como a raiva, tristeza, abandono, isolamento, solidão e culpa. Também é possível surgir a vergonha de se falar sobre o fato ocorrido, então muitas das pessoas ocultam como sucedeu a morte. Isso comprova a estigmatização ainda existente no meio social frente a um tema que requer atenção e cuidado, e que não deve ser tachado e julgado.
O mês de setembro já é reconhecido como um período de conscientização acerca da temática, é um convite para se falar e refletir sofre, em busca de mitigar os índices. Nas redes sociais, o movimento se dá ativamente através de publicações que abordam o assunto. É uma época onde profissionais se empenham em oferecer palestras que abordam o tema. Porém, essa reflexão deve ser levantada sempre, de forma constante, em todos os meses do ano e deve ir além, visto que é importante abraçar aqueles que perderam alguém de forma abrupta.
Torna-se imperativo que haja ações de prevenção e, igualmente, de posvenção – termo que significa o cuidado com aqueles que ficam submergidos na dor após a perda. Se constituem como um grupo de risco, podendo implicar em novos casos, em uma trajetória de luto complicado, caso não sejam amparados adequadamente.
Fonte: Imagem por Freepik
Como Irvin Yalom e Marily Yalom bem dizem: “O luto é o preço que pagamos por ter coragem de amar os outros”, então é inegável que a dor após a partida de um ente querido está inteiramente interligada com a relação que se tinha com a pessoa que se foi. Questionamentos aparecem, é normal que seja difícil encontrar um sentido dentro da nova realidade que reflete a ausência. Trilhar o caminho da vida sem a pessoa que se foi pode ser penoso, porém, possível.
O singelo ato de falar é uma maneira terapêutica de trazer à consciência e ordenar todas as emoções que fazem parte do luto. Desse modo, é essencial encontrar uma rede de apoio para lidar com a singularidade de cada caso, para que haja uma restauração adequada e um redescobrimento de razões para seguir em frente. O falar – abertamente, sem receio, sem julgamento –, pode amenizar a dor, auxiliar na cura de uma ferida que se abriu, pode impedir que transtornos mentais surjam e que novos casos se repitam. Evitar o isolamento, reconhecer o fenômeno do luto e suas particularidades, respeitando sempre o próprio tempo e limites, são pontos necessários para reaprender a viver na nova realidade.
Fontes que podem auxiliar os sobreviventes enlutados por suicídio:
CVV GASS – Centro de Valorização à vida / Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio
https://posvencaodosuicidio.com.br/
https://vitaalere.com.br/
Podcast Finitude
Cartilhas sobre o tema, filmes, séries etc.
Referências
FUKUMITSU, K. O.; KOVACS, M. J. Especificidades sobre processo de luto frente ao suicídio. Psico. Porto Alegre, 2016. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psico/v47n1/02.pdf>. Acesso em: 13 de set. de 2022.
RUCKERT, M. L. T.; FRIZZO, R. P.; RIGOLI, M. M. Suicídio: a importância de novos estudos de posvenção no Brasil. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 2019. Disponível em: <https://cdn.publisher.gn1.link/rbtc.org.br/pdf/v15n2a02.pdf>. Acesso em: 13 de set. de 2022.
SCAVACINI, K; et al. Posvenção: orientações para o cuidado ao luto por suicídio. São Paulo: Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, 2020.
YALOM, I. D.; YALOM, M. Uma questão de vida e morte. São Paulo: Planeta, 2021.
Compartilhe este conteúdo:
REIKI – energia e acolhida durante a pandemia
16 de fevereiro de 2021 Carolina Vieira de Paula
Mural
Compartilhe este conteúdo:
Você conhece o REIKI?
Trata-se de uma terapia integrativa, na qual o profissional estende suas mãos sob partes do corpo do paciente para canalizar energia vital universal, com a finalidade de reestabelecer o equilíbrio físico (orgânico), regularizar suas funções vitais e equilibrar o campo mental e emocional.
Segundo o site, www.minhavida.com.br, o REIKI é reconhecido como “técnica pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e também é aplicado no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, através do projeto de Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, que contempla outros tratamentos alternativos, como meditação, arteterapia, musicoterapia, tratamento naturopático e quiropraxia”.
Durante a pandemia da COVID 19, a clínica Espaço Acolher de Palmas-TO vem desenvolvendo um trabalho gratuito de REIKI presencial, por agendamento, ou à distância, toda terça feira, das 21 às 21:30. O trabalho apoia pessoas a reequilibrar seus chacras e a fortalecer sua energia vital nestes tempos adoecedores. Para participar da iniciativa, basta acessar o instagram da @espacoacolherto ou o whatsapp (98111 5373), colocar seu nome na lista disponível no feed e se preparar para relaxar e se reenergizar.
Compartilhe este conteúdo:
Psicologia hospitalar: acolhimento ao doente mental
O campo de atuação denominada saúde mental surgiu com o objetivo de oportunizar o trabalho de uma equipe multidisciplinar, com participações em ações sociais, com o intuito de tratar e respeitar o paciente de maneira singular
O tratamento para a loucura surgiu no século XIX através de uma proposta terapêutica do médico Philippe Pinel, colaborando para a eclosão da psiquiatria. Antes de Pinel, qualquer pessoa que representasse risco social era enclausurada sem assistência médica. Tais pessoas eram: loucos, mendigos, ladrões, leprosos, mães solteiras e órfãos. Isto por que a cura era buscada através do isolamento social, e caso não acontecesse, o destino era a exclusão (FOUCAULT, 1997).
Através da movimentação de Pinel e do cenário de castigo e exclusão, abre portas para diversos movimentos, com o intuito de denunciar as péssimas condições de trabalho, precariedade dos ambientes, condições insalubres, isolamento em celas e tratamento violento como forma de punição. Assim como a Reforma Psiquiátrica Brasileira (AMARANTE, 1995), que por influência da Reforma Democrática Italiana, foi instaurada no Brasil na década de 70.
Fonte: encurtador.com.br/mBHNY
O campo de atuação denominada saúde mental surgiu com o objetivo de oportunizar o trabalho de uma equipe multidisciplinar, com participações em ações sociais, com o intuito de tratar e respeitar o paciente de maneira singular (NETO, 2008). Logo, o paciente passou a ter voz. A partir da necessidade de dar a voz do saber ao paciente, para buscar melhor entendimento, e resultar em um tratamento mais eficaz, abrangendo o psicossocial e descentralizando o modelo biomédico, surge os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
[…] são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários, que oferecem atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dessas pessoas através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários (BRASIL, 2005, p. 27)
A participação do psicólogo na equipe multidisciplinar se torna fundamental, visto que o psicólogo promove escuta terapêutica individual e grupal, assim como trabalha na produção de informações de tratamento e redução de danos, direcionada ao doente, a família e a sociedade em que o doente está inserido.
Fonte: encurtador.com.br/tX179
É sabido que transtornos mentais, neurobiológicos e/ou problemas sociais decorrentes do uso e abuso de álcool e outras drogas é um problema social grave. Quando um indivíduo necessita de cuidados especializados, que não se enquadram aos serviços oferecidos no CAPS, o encaminhamento hospitalar é realizada. A internação é realizada em uma Unidade Psiquiátrica situada em Hospitais Gerais. A ala psiquiátrica é composta por profissionais de diferentes áreas, como psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistes sociais, entre outros (COLITO, 2016).
Por fim, é importante ressaltar que nem sempre existiu o termo Psicologia Hospitalar no Brasil. O surgimento ocorreu em 1970, com a primeira investigação biopsicossocial de um paciente da ala de ortopedia de um hospital de São Paulo. Segundo Castro e Bornholdt (2004) a terminologia é inexistente em outros países. É importante diferenciar a psicologia hospitalar e a psicologia da saúde. A primeira faz parte da segunda, no entanto tem um campo delimitado, o ambiente hospitalar. “Psicologia Hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento” – aquele que se “dá quando o sujeito humano, carregado de subjetividade, esbarra em um ‘real’, de natureza patológica, denominado doença…” (SIMONETTI, 2004, p. 15 apud MOSIMANN; LUSTOSA, 2011). Já a segunda tem uma maior amplitude, pois abarca desde escolas a hospitais. “A Psicologia da Saúde é a ciência que busca responder questões relativas à forma como o bem-estar das pessoas pode ser afetado pelo que se pensa, sente e faz” (STRAUB, 2005, apud MOSIMANN).
Acolhimento psicológico ao doente mental na ala psiquiátrica
O acolhimento deve estar presente em qualquer situação de humanização da saúde. No atendimento não tem um local específico de realização, visto que ele pode ser no corredor, no leito e/ou no consultório. O intuito é acolher e dar suporte ao paciente de acordo com suas queixas e necessidades físicas e psicológico.
[…] postura ética que implica na escuta do usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu protagonismo no processo de saúde e adoecimento, e na responsabilização pela resolução, com ativação de redes de compartilhamento de saberes. Acolher é um compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que procuram os serviços de saúde […]. (BRASIL, 2015, S/P)
A preparação do psicólogo é importante, pois o mesmo precisa planejar a intervenção considerando, além dos fatores psíquicos, os fatores sociais em que o paciente está inserido e que pode ser potenciador do adoecimento (SIMONETTI, 2016). Não é trabalhado a cura completa, visto que paciente internado, pode ter um longo histórico de internação e/ou de experiências de crises, que podem deixar sequelas, impossibilitando o alcance do reajuste psíquico anterior. Desta forma, novos reajustes são/podem ser feitos, com o intuito ter uma melhor qualidade de vida diante da limitação psicológica.
Fonte: encurtador.com.br/wyKS5
É importante que o psicólogo se mantenha calmo, para que possa passar tranquilidade e segurança ao paciente, visto que o acolhimento não é um ambiente de agitação. Isto por que um paciente em crise geralmente é agitado, e o psicólogo precisa saber o momento certo de fazer a contenção de ansiedade (SIMONETTI, 2016). O paciente em crise, geralmente, é inundado por um real simbólico, e a intensidade dos sintomas pode ser ´´assustadora“ para o profissional que está iniciando, o que aumenta a importância de uma preparação antes de se iniciar em tal campo.
Inicialmente, se faz necessário que o psicólogo faça um breve exame do estado mental, investigando informações do paciente para ter ideia do grau de adoecimento psíquico. O exame do estado mental é a pesquisa sistemática de sinais e sintomas de alterações do funcionamento mental, realizado durante a entrevista psicológica e psiquiátrica. É analisado: Consciência, Atenção, Orientação, Memória, Afetividade, Pensamento, Juízo Crítico, Linguagem, Cognição, entre outros. Comorbidades também são comuns, logo o psicólogo precisa analisar com cautela a queixa do paciente, e saber diferenciar sintomas do transtorno mental, do medicamento, de algum outro transtorno (não diagnosticado) e/ou de alguma doença orgânica.
Pode acontecer de alguns pacientes em crise não conseguirem se localizar no tempo e no espaço, assim como não ter juízo crítico da doença, e/ou retardo mental, etc. Tal cenário fomenta a importância do atendimento a família, a fim de obter informações que auxiliem no tratamento do paciente. Muitas vezes o acolhimento da família também se faz necessário como forma de promover escuta terapêutica e/ou de educar a família quanto aos sintomas e tratamento da doença. Pois pode ser o primeiro surto e/ou internação, e o parente não se enxergar capaz de passar pelo enfrentamento da situação, não entender a doença e/ou o tratamento, se culpar, negar e ter medo. Pode acontecer, também, de o parente já estar esgotado fisicamente e mentalmente, visto que cuidar de um doente mental não é uma tarefa fácil, e exige muita paciência e gasto de energia.
Fonte: encurtador.com.br/fmtH0
Por fim, o psicólogo precisa delimitar o foco, que é ajudar o paciente e/ou familiar a passar pelo processo de adoecimento, enquanto houver internação. Desta forma os atendimentos são breves, objetivos e informativos. A duração de internação do paciente cabe a necessidade de cada paciente, podendo durar dias ou semanas. É responsabilidade, também, do psicólogo de frisar a importância da continuação do tratamento após a alta, informando que existe uma rede de apoio, fora do ambiente hospitalar, que o doente e família pode recorrer.
Referências
AMARANTE, P. (1995). Loucos pela vida: A trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz.
BRASIL. Ministério da Saúde. Dicas em saúde: acolhimento, 2015.
CASTRO, E. K. & BORNHOLDT, E. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 3, p. 48-57, 2004. Acesso em: 22 mar. 2017.
COLITO, Eliana, A. Assistência à pacientes portadores de transtornos mentais em unidades de emergência e urgência: capacitação dos profissionais de saúde. 2016. 20 f. Monografia (Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Atenção Psicossocial) – Curso de Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
FOUCAULT, M. (1997). A história da loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva.
LUSTOSA, M. A. A difícil tarefa de falar sobre morte no hospital. Rev. Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 203-227, 2011.
MOSIMANN, Laila T.; LUSTOSA, Maria Alice. A Psicologia hospitalar e o hospital. Santa Casa da Misericórdia do RJ-CESANTA. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v.14, n.1, jun. 2011.
SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. PERES, Girlane Mayara e LOPES, Ana Maria Pereira. Acompanhamento de pacientes internados e processos de humanização em hospitais gerais. Psicol. Hosp. (São Paulo), v.10, n. 1, p. 17-41, 2012.
SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. 8. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2016.
Compartilhe este conteúdo:
O papel social da Casa de Apoio Vera Lúcia Pagani: (En)Cena entrevista Elisangela Cardoso
Considerando a necessidade em hospedar pacientes e seus acompanhantes que passam pelos hospitais públicos de Palmas/TO, houve a criação da Casa de Apoio Vera Lúcia Pagani. A casa recebe pessoas de todos os municípios de Tocantins, assim como de alguns estados vizinhos. Essas pessoas são encaminhadas pelos hospitais para a casa, que as acolhe, de forma gratuita, apoiando-as em um momento difícil, que envolve a própria saúde ou a saúde de alguém que ama.
Fonte: https://bit.ly/2xrq7Yk
Tendo em vista a importância da Casa de Apoio Vera Lúcia Pagani, o (En)Cena entrevistou Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso, gerente da casa, que fala do papel social e dos desafios desta.
(En)Cena –Como é formada a equipe aqui na casa de apoio?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – O administrativo, que são as pessoas que acolhem. Fazem a acolhida com os documentos que vem de fora, dos três hospitais públicos de Palmas. Nós só podemos receber o público do HGP, Dona Regina e do Infantil. Lá a assistência social faz uma triagem, dessa triagem eles veem todo o parecer social da família, se não tem alguém aqui dentro de Palmas, porque a casa é para os 139 munícipios e outros estados também que são atendidos pela casa de apoio. Então o administrativo são pessoas que vão fazer essa acolhida, vão olhar os documentos, vão ver a respeito dos leitos, das camas. Nós temos esse cuidado, o administrativo pega o documento e o encaminhamento (eles ligam antes para ver se tem vaga). Aqui nós temos 126 camas, então tem que ligar antes para ver se está superlotado. Tem vezes que temos que ligar para o HGP avisando que não tem mais vaga, para não encaminhar mais, porque pode ser uma pessoa que vem hoje e amanhã já vai embora ou pode ser uma pessoa que fica 3, 4 anos, como é o caso de mães que estão com o bebê no Cristo Rei, que é conveniado com o HGP. Então esse administrativo acolhe e tem que ser muito bem direcionado no trabalho de acolhimento com essas famílias, porque recebemos um pouco de cada coisa, como pessoas que recebem um diagnóstico de câncer e estão fazendo radioterapia, ou chega desesperado porque o filho está em uma UTI entre a vida e a morte. O administrativo então é a porta de entrada daqui da casa de apoio, por isso ele fica de plantão. A gente fala plantão porque tem a turma da manhã, a turma da tarde e o vigia que fica a noite.
(En)Cena – O vigia então também faz esse acolhimento?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Faz. A gente prepara todos que vem para cá. Tem uma preparação para fazer pelo menos uma acolhida, tratando as pessoas bem, então eles têm que ser qualificados. Hoje mesmo estamos com um momento de palestra multidisciplinar com fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, porque nós temos que estar bem para atender esse povo. Agora há pouco mesmo, nos deparamos com um senhor que está em estado terminal, vazando sangue pela boca, então temos que chamar logo o SAMU. Se eu não estivesse aqui, o administrativo já está experiente com isso, em fazer esse atendimento. Não só de fazer o acolhimento, de levar até os quartos, mas de explicar as normas. Nós temos uma normativa para eles conviverem bem dentro da casa, pois são pessoas de vários tipos que aqui entram. O administrativo, junto com a gerência e todos aqui, ficam de olho para que tudo ande bem, porque a casa não dorme. Tem pessoas aqui que a casa já virou moradia, devido a situação do familiar que está na UTI em estado permanente. Tem o assistente de serviços gerais também, que ele tem que olhar a casa, ter cuidado com as coisas dentro dos banheiros. A equipe tem que estar de olho e tudo o que acontece é relatado, para a segurança e o bom tratamento dessas famílias que aqui estão. A casa de apoio não foi feita para paciente. Ela é ligada a assistência social da Secretaria de Trabalho do Estado. Ela foi visada para os acompanhantes, pois eles precisam estar saudáveis para acompanhar quem está no hospital. Essa é a visão da casa de apoio. Entretanto, como o quadro oncológico está muito grande no HGP, que infelizmente essa doença, o câncer, está muito aglomerada, abriu-se quartos masculinos e femininos para esses pacientes. Crianças, jovens, idosos, precisam muito da casa de apoio. Uns vem fazer radioterapia e quimioterapia e leva um certo tempo e aqui ficam como se fosse da casa mesmo. Temos que prestar esse atendimento com qualidade.
(En)Cena –Então é um trabalho em equipe mesmo, de forma multidisciplinar?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Isso mesmo. Tem a gerência que cuida do que a casa necessita, questões dos servidores, que são do Estado. Então eu tenho mesmo que gerenciar a casa e levar toda a demanda para a assistência social. Tem o assistente de serviços gerais, que uma cadeira que fica ali jogada no banheiro e deveria estar no quarto, ele limpa, descontamina e coloca no lugar certo, questões de limpeza geral, também fica de olho para o caso de alguém passar mal e ele já pedir ajuda. Acaba que tem bem distribuída a função de cada um, mas todos temos que nos envolver em prol do atendimento geral. É uma equipe, temos que andar juntos pensando na proposta de fazer um bom atendimento para essas pessoas.
(En)Cena – A casa depende de donativos?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – O Estado entra com o prédio e a manutenção dele. E como a demanda é tão grande, precisa de apoio da comunidade. Tem a equipe, água, luz, necessidades como móveis, que são pagos pelo Estado. Agora, tem uma questão que é o café da manhã e o café da tarde, que não recebemos pelo Estado, dependemos de doações de parceiros e também o que chamamos de apoio extra, que é o apoio da comunidade. Às vezes tem situações em que as pessoas não têm nem mesmo os produtos de higiene, porque sai com o familiar em situação crítica e não lembra ou não tem tempo para isso. Às vezes vem só com a roupa do corpo, então chega aqui e nós temos que fazer esse papel social. Aí a gente passa para a comunidade, para pessoas que já conhecem o nosso trabalho. A casa em si tem o que precisa para a manutenção dela, mas o extra, os produtos para as pessoas aqui, a gente sempre conta com os parceiros e com os donativos.
(En)Cena –E recebe bem esses donativos?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Nós recebemos, é coisa de Deus. O social, na questão do donativo, tem muito que vem do bem, da humanidade, de Deus. Às vezes nós estamos precisando então a gente liga para algum parceiro, para algum grupo, que já estão acostumados, que sabem do nosso trabalho, que já fizeram algum trabalho na casa também, sabe que a gente tem transparência. Então eles podem fazer essa ajuda também, a gente recebe. A própria comunidade aqui da cidade de Palmas já sabe do trabalho da casa de apoio. Claro que tem períodos que passamos por situações complicadas, mas quando tem a necessidade, nós temos que pedir, ainda mais para as pessoas que nós recebemos, na questão de produtos extras, de higiene principalmente, porque às vezes eles não conhecem nada aqui ou não tem dinheiro para comprar o que precisa. Cerca de 120 pessoas passam por aqui.
(En)Cena – Por semana?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Nós estamos terminando o relatório das entradas e saídas desse ano, estamos com praticamente 13 mil pessoas que passaram pela casa de apoio desde dezembro até agora. Até junho tinha 9 mil. Nós temos tudo isso controlado, os encaminhamentos, entradas, o mapa de alimentação, que são muitas refeições diárias, sem contar com as doações para o café da manhã.
(En)Cena –Então é inquestionável a importância da casa para essas pessoas, na questão física, de ter um lugar para dormir e se alimentar. Na questão emocional dessas pessoas, tem alguma ação voltada para isso?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Temos segmentos religiosos, temos segmentos sociais, com dinâmicas. Estamos com o Projeto Ariana, de uma senhora que é funcionária pública e o grupo de pessoas é voltado para ajudar na questão social, temos o padre que vem dar um apoio espiritual, tem alguns grupos evangélicos que vem, mas eu sempre deixo aberto para quem queira fazer algo, alguma dinâmica. Temos também Canção Nova, que atua tanto no social quanto no espiritual. Então a gente tem um público bem voltado para a área social e também para a área espiritual.
(En)Cena –Tem algo que você sente que poderia melhorar ou acrescentar?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Estamos precisando muito de apoio na questão de artesanato, para as mulheres e para os homens terem alguma coisa para fazer, porque às vezes eles ficam muito ansiosos e às vezes ficam muito tempo aqui. Eu tenho pessoas que querem ser voluntárias, mas aí precisa de material para alguém vir fazer esses cursos, atender essa demanda.
Compartilhe este conteúdo:
Gravidez na Adolescência – (En)Cena entrevista Roberta Sales
A Casa de Marta, fundada em 2002, é uma Instituição Filantrópica, de iniciativa da Igreja Católica, pertencente à Arquidiocese de Palmas. Ainda, é um Centro de Apoio a gestantes menores de idade, de 12 a 17 anos, expostas à insegurança, fragilidade e em situação de risco.
Além disso, a Casa oferece oficinas (alguns trabalhos manuais e confecção do seu próprio enxoval); treinamento de cuidados com os bebês; atendimento psicológico; momento de reflexão e espiritualidade, além de visitas domiciliares. Vale ressaltar que a Casa não funciona sob regime de internato, porém suas atividades são realizadas três vezes por semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira das 8h30 às 16h30). No que tange à manutenção, a Casa conta com o voluntariado, além de doações externas (COMPROMISSO, 2014, p.1).
Roberta Sales (nome fictício) ingressou na Casa de Marta aos 15 anos de idade, enquanto ainda estava grávida de 6 meses. Hoje (10 de abril de 2018), Roberta tem 16 anos e sua filha está com 9 meses de idade.
Fonte: encurtador.com.br/gimvY
(En)Cena – Como você ficou sabendo da existência da Casa?
Roberta Sales – Foi pela madrinha do meu esposo, ela é do Conselho Tutelar. Ela falou sobre a Casa de Marta. Falou uma coisa que não é: que eles ensinavam a banhar a criança porque eu não sabia de nada, cuidar, essas coisas assim. Aí falou que davam as coisas, o enxoval, essas coisas assim.
(En)Cena – Quais sentimentos envolveram você durante o período em que estava grávida e hoje como mãe?
Roberta Sales – Antigamente, eu era muito fechada. Sempre fui na minha. Nunca fui de conversar com ninguém não. As meninas (outras adolescentes que também frequentam a Casa) vieram falar comigo, aí eu falei pra elas que não era de conversar com ninguém e aí eu falei que não queria falar com elas. Eu falei bem assim pra elas. Aí elas ficaram assim… Eu comecei a ficar na minha, mas mesmo assim elas puxavam assunto comigo e eu mesmo assim não queria conversar. Aí nós acabamos conversando porque eu era muito besta com o “negócio” do meu marido. Eu achava que as outras pessoas chegavam em mim só pra querer meu marido. Aí a gente começou a virar amigas.
(En)Cena – Você percebeu alguma mudança no seu corpo?
Roberta Sales – Demais. Muita estria. Eu fiquei muito feia depois que eu ganhei a neném. Agora que eu estou me ajeitando mesmo, mas assim, no começo eu ficava arrependida de ter filho porque eu estraguei muito o meu corpo, depois que eu ganhei.
(En)Cena – A sua rotina foi alterada?
Roberta Sales – Foi. Eu era muito de sair. Aí depois que eu ganhei, eu deixei de sair. Enquanto estava grávida também deixei de sair porque eu me achava muito feia. Aí depois que a minha autoestima foi levantando. As pessoas falando que eu estava bonita e eu achando. Eu sempre fui otimista. Sempre me acho bonita. Assim, quando estou arrumada. Quando não estou, não falo que sou bonita não.
(En)Cena – Qual a ideia que você tem sobre ser mãe?
Roberta Sales – Responsabilidade grande porque eu não tinha. Antes de eu vir pra cá, eu não gostava da minha mãe, não conversava com ela. E eu fui entender as coisas que a minha mãe falava pra mim depois que eu fui ser mãe. Aí eu fui entender as coisas direito. Assim, eu me sinto uma pessoa melhor, sabia? Minha vida mudou bastante, eu era muito “desandada” antigamente. Eu nunca amei ninguém de verdade e hoje eu amo ela bastante (filha). As pessoas falavam que a mãe dava a vida pelo filho. Eu não acreditava nessas coisas, mas hoje eu dou minha vida pela minha filha. Eu mudei demais.
(En)Cena – Teve algum momento de rejeição, que você pensou talvez em abortar…
Roberta Sales – Não. Foi no começo da gravidez que eu parei de falar com a minha mãe porque ela queria que eu abortasse. Ela não queria que eu tivesse filho. Aí ela me deu remédio. Eu tomei, mas assim eu não queria tomar. Meu pai já era o oposto, falava que não era pra eu tomar, mas eu tomei e não aconteceu nada. Aí eu briguei com a minha mãe porque ela estava insistindo muito nisso. A gente se afastou. Aí depois que eu ganhei, quando eu voltei a falar com ela.
(En)Cena –Você tomou o remédio por muito tempo?
Roberta Sales – Não, eu tomei uma vez só.
(En)Cena – Que tipo de apoio você mais precisa ou de quem?
Roberta Sales – Eu conto mais com a minha mãe e com aqui, a Casa de Marta mesmo porque eles me ajudam bastante. No dia que eu estava precisando, que eu não tinha nada pra comer lá em casa, eles me deram uma cesta básica, um monte de coisa. Quando eu estou precisando lá em casa, eu venho aqui e peço, que eles me dão.
(En)Cena –Que tipo de profissional você acha que poderia atuar ou auxiliar você?
Roberta Sales – Uma psicóloga e uma das irmãs, que não são mais daqui. Elas me falavam as coisas, fez eu ter menos ódio da minha mãe. É porque a minha mãe nunca gostou de mim. Hoje ela gosta de mim, mais por causa do neném. Minha mãe é preconceituosa. Ela não gostava de mim por causa da minha cor porque eu era “mais moreninha”. Minha irmã é branca e ela só me aceitou agora porque a mina filha é branca. Só por causa disso. Ela disse que se tivesse um filho “preto”, moreno, ela disse que não ia aceitar nem gostar.
(En)Cena –Ao deixar de frequentar a Casa, você iniciou alguma outra atividade?
Roberta Sales – Até comecei a trabalhar aí o lugar que eu estava trabalhando como recepcionista, não quis me pagar. Aí eu não fui mais.
(En)Cena –Você já percebeu alguma mudança em sua vida desde que ingressou na Casa?
Roberta Sales – Ajudou em relação à minha mãe. Ajudou com comida, no momento que eu realmente estava precisando, passando fome mesmo. Aí eu pedi para uma das irmãs e ela me deu uma cesta básica. Ela foi lá em casa e viu que eu realmente estava precisando e me deu.
(En)Cena – Você consegue planejar algo? Seja para amanhã, daqui a 2 anos, 5 anos…?
Roberta Sales – Eu tenho. Eu quero voltar a estudar. Já falei que vou voltar a estudar ano que vem. Aí vou entrar no exército também ano que vem.
Referências:
COMPROMISSO com a vida. Palmas, TO: Casa de Marta, 2014.
Nota: A entrevista foi realizada com autorização dos dirigentes da Casa de Marta no período do desenvolvimento do Estágio Específico em Saúde Mental, do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra, com a supervisão da Profa. Dra Irenides Teixeira.