Produtividade Inteligente: Produza de maneira assertiva e previna o adoecimento mental

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A produtividade muitas vezes é percebida de uma forma equivocada pela maioria das pessoas.
Fonte: pixabay

Atualmente, vivemos em um ritmo aceleradíssimo, com muito estresse, ansiedade e sem tempo para nada. E, infelizmente, as coisas que nos fazem bem ficam em segundo plano (saúde, família, amigos, hobbies, diversão, tempo livre!). Há uma relação complexa entre produtividade e adoecimento mental que pode levar a consequências negativas significativas. Muitas pessoas sentem que precisam trabalhar constantemente e produzir mais do que nunca para se manterem competitivas em um mundo cada vez mais acelerado e competitivo. No entanto, esse tipo de pressão pode ter um impacto negativo na saúde mental.

Camargo, Izabella (2020) menciona que, as pessoas quando são excessivamente produtivas muitas vezes se sentem sobrecarregadas, ansiosas e estressadas. Elas podem trabalhar longas horas, negligenciar sua vida pessoal e se sentir incapazes de desacelerar e relaxar. Além disso, as expectativas de produtividade podem levar a sentimento de culpa, vergonha e inadequação quando as metas não são atingidas. Esse tipo de pressão constante pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e síndrome de burnout.  No DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a síndrome de burnout é um estado de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional que pode levar a problemas graves de saúde mental.

Os problemas que mais acometem os docentes são transtornos psicoemocionais, tais como depressão e ansiedade, e afecções osteomusculares (Luz, 2008; Emiliano, 2008; Borsoi & Pereira, 2011). O burnout é apontado como uma síndrome singular que afeta professores em razão da natureza específica de seu trabalho. Para Carlotto (2002), trata-se de um “tipo de estresse profissional que acomete profissionais que trabalham com qualquer tipo de cuidado, havendo uma relação de atenção direta, contínua e altamente emocional com outras pessoas” (p. 190). Lacaz (2010) sintetiza essa síndrome da seguinte forma:

Está associada a sintomas relacionados à exaustão mental, emocional, fadiga e depressão. São sintomas comportamentais e mentais, e não apenas físicos, e relacionam-se ao trabalho. Tais sintomas acometem pessoas “normais” e associam-se à queda do desempenho no trabalho, causada por posturas e comportamentos negativos. As dimensões da Síndrome envolvem exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho. (Lacaz, 2010, p. 56)

Além disso, a cultura de produtividade pode levar a um ambiente de trabalho tóxico, onde as pessoas são constantemente comparadas umas às outras e incentivadas a competir. É importante lembrar que a produtividade não é o único indicador de sucesso e que a saúde mental deve ser uma prioridade. Equilibrar o trabalho e a vida pessoal, estabelecer limites saudáveis e praticar a autocuidado são fundamentais para garantir um ambiente de trabalho saudável e produtivo. 

Ser produtivo é uma qualidade muito desejável, pois está intimamente relacionada ao lucro e crescimento seja de pessoas ou empresas.
Fonte: pixabay

Camargo, Izabella (2020) enfatiza que muitas pessoas são muito extremistas e vivem de maneira insustentável. Muito se ouve: “estuda enquanto eles dormem”, e isso acaba levando muitas pessoas a se sentirem improdutivas e frustradas por não conseguirem acompanhar ou fazer o que os outros fazem.  Muito se fala de produtividade, mas poucos se explica que a produtividade precisa ser boa para os dois lados: para quem produz e para e para quem recebe o que é produtivo. Não adianta só aprender a fazer, fazer, fazer e não se cuidar.  Pois tanto o excesso, como a falta de produtividade pode gerar sentimentos de tristeza, incapacidade, improdutividade, incompetência e isso se resultar em psicopatologias.

Camargo, Izabella (2020) cita em seu livro que geralmente temos muita pressa para tudo, mas esse ritmo já provou que não é saudável. A autora nos conduz a refletir que não funcionamos como uma máquina. Somos um ser humano e justamente por não respeitar esses parâmetros saudáveis que podemos desenvolver doenças emocionais.  Inclusive a mesma autora relata em seu livro as consequência de ter vivido uma vida sem limite e fornece ainda em seu livro, algumas dicas de produtividade inteligente que poderá ajudá-lo a maximizar o seu desempenho sem comprometer a sua saúde mental:

  • Estabeleça metas realistas: defina metas realistas para si mesmo e divida-as em tarefas menores e gerenciáveis para evitar a sobrecarga e a sensação de ser dominado pelas tarefas.
  • Priorize tarefas: planeje suas tarefas com antecedência e priorize as mais importantes ou urgentes. Isso pode ajudá-lo a se concentrar no que é mais importante, e evitar se sentir sobrecarregado.
  • Faça pausas regulares: tire pequenas pausas regularmente, mesmo que seja por alguns minutos, para desacelerar, relaxar e recarregar suas energias. Isso pode ajudá-lo a manter o foco e evitar a fadiga mental.
  • Pratique a gestão do tempo: pratique a gestão do tempo, definindo horários específicos para concluir tarefas e evitando multitarefas. Isso pode ajudá-lo a manter o foco e aumentar a eficiência.
  • Tenha uma rotina saudável: certifique-se de ter uma rotina de sono adequada, alimentação saudável, exercícios e tempo para relaxar. Isso pode ajudar a reduzir o estresse e melhorar o seu desempenho geral.
  • Use ferramentas de produtividade: use ferramentas de produtividade, como aplicativos de gerenciamento de tempo, listas de tarefas e ferramentas de colaboração para ajudar a gerenciar tarefas e projetos de forma mais eficiente.
  • Comunique-se com colegas: comunicação aberta e efetiva com colegas de trabalho e líderes de equipe é fundamental para garantir que todos estejam alinhados em relação às prioridades e prazos.
A forma como você dá pausas e descansa, também faz diferença na sua produtividade.
Fonte: pixabay

Lembre-se de que a produtividade não deve ser um estressor, mas algo que ajude a gerenciar tarefas e atingir metas de saúde e bem-estar. Ser produtivo é um processo em constante mudança. Você precisa entender a si mesmo, porque assim entenderá como as dificuldades o afetam. Assim, superará as barreiras impostas à capacidade produtiva.

Referências:

American Psychiatric Association. DSMIV:  Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais.  Lisboa: Climepsi Editores; 1996.

CAMARGO, Izabella. Dá um tempo! Como encontrar limite em mundo sem limites. 1° ed. – Rio de Janeiro: Principium, 2020.

Carlotto, M. S. (2002). Síndrome de burnout e a satisfação no trabalho: um estudo com professores universitários. In A. M. T. Benevides-Pereira (Ed.), Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador (pp. 187-212). São Paulo: Casa do Psicólogo. Disponível em <: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S165792672013000400018 >.  Acessado em 28 fev. 2023.

Lacaz, F. A. C. (2010). Capitalismo organizacional e trabalho: a saúde do docente. Universidade e Sociedade, 19(45), 51-59. Disponível em <: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S165792672013000400018 >. Acessado em 28 fev. 2023.

Luz, M. T. (2008). Notas sobre a política de produtividade em pesquisa no Brasil: consequências para a vida académica, a ética no trabalho e a saúde dos trabalhadores. Política & Sociedade, 7(13), 205-228. Disponível em <:  http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1657-92672013000400018 >. Acessado em 28 fev. 2023.

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Violência e opressão – (En)Cena entrevista a psicóloga Ruth Cabral

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“Em tempos de pandemia, ser mulher, é ter escancarado que o risco de violência não se limita aos espaços públicos, mas é ter insegurança, medo ainda que no espaço privado este, que inicialmente foi determinado à mulher. Lugar de sobrecarga, de naturalização da incumbência das tarefas domésticas, dos cuidados com os filhos”.

O Portal (En)Cena conversa com a psicóloga Dra Ruth Cabral, professora do curso de psicologia do Ceulp/Ulbra, Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela PUC-Goiás, para entender sua perspectiva acerca do que significas ser mulher no Brasil durante a pandemia da COVID-19.

A Doutora Ruth Cabral aponta o paralelo entre as restrições sociais decorrentes da pandemia somada à permanência dos homens em casa, com o aumento nos índices de violência doméstica, sexual e de gravidez indesejada. Além disso, a entrevistada aponta o risco de adoecimentos mentais, como estresse e a ansiedade, causados pelo excesso de atividades. Por fim, a professora reconhece seu lugar de fala privilegiado ante a outras formas de experiência a mulheridade e indica como um dos caminhos para oportunizar melhoras no pós-pandemia, a articulação de mulheres em prol do fortalecimento do movimento social para garantir direitos e liberdades a todas.

Figura 1 – Arquivo Pessoal

(En)Cena –  Considerando o seu lugar de fala de: mulher, professora e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Dra Ruth Cabral – Começo a refletir a partir da pergunta em questão- em mim ressoa inicialmente o quesito “O que é ser mulher no Brasil?” para então, em uma complementariedade reflexiva discorrer sobre os tempos de Pandemia.  Reconhecer a priori, a existência da desigualdade de gênero e de suas causas, contextualizado à realidade brasileira desperta o resultante de um processo histórico que reafirma o lugar da mulher nesse espaço social frágil- lugar este, que ainda que o registro legal aponte para destituição de toda e qualquer forma de discriminação- não é suficiente para garantir equidade de gênero.

Refletir no ser mulher em tempos de pandemia remonta o pensar nos papéis instituídos desde a formação da sociedade. Em tempos de pandemia, ser mulher, é ter escancarado que o risco de violência não se limita aos espaços públicos- mas é ter insegurança, medo ainda que no espaço privado – este, que inicialmente foi determinado à mulher. Lugar de sobrecarga, de naturalização da incumbência das tarefas domésticas, dos cuidados com os filhos. Ressalto o mito do amor materno, descrito como instintivo demarca às mulheres um lugar de exclusividade do cuidado- com as crianças e  para o trabalho doméstico (modelo esse, calcado no patriarcalismo) que alcança a análise para os dias atuais de pandemia.

Como prova disso, pesquisas em tempos de pandemia (Souza et al, 2020; Macedo, 2020) apontam que paralelo às restrições sociais, os índices de violência doméstica, sexual e de gravidez indesejada aumentaram de forma significativa mediante o maior tempo de permanência dos homens em casa- o que parece responder em parte à questão provocada inicialmente. Sem me distanciar dos meus muitos privilégios, sigo tocada pelo grito daquelas que se encontram, explicitamente oprimidas, violentadas e sob as muitas vulnerabilidades. No contexto de crise econômica, social e política em que o Brasil se encontra, é importante discutir e considerar tais questões, considerando que pandemia da Covid-19 enfatiza ainda mais às narrativas e desigualdades sociais pré-existentes.

Fonte: encurtador.com.br/fjQ15

(En)Cena –  Para você, como a pandemia impacta a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres?  E qual é o efeito deste impacto em casa e no trabalho?

Dra Ruth Cabral – Embora haja uma naturalização da sobrecarga contínua das mulheres nos diferentes contextos e composições familiares, a circunstância  da Pandemia agrega outros fatores que podem intensificar a fragilização da saúde mental das mulheres: o medo do adoecimento, a necessidade de proteção dos filhos (para aquelas que exercem o papel da maternidade), a sobrecarga dos múltiplos cuidados e assistências- tarefas domésticas, intermediação do ensino-aprendizagem das/dos filhas/filhos, a dedicação às atividades ocupacionais. Tais fatores podem acentuar o estresse e a ansiedade, de modo que, a alteração da rotina, o excesso de atividades pode, na sequência, alterar o sono (parte importante na regulação emocional) formando assim um ciclo que intensifica o dano a saúde mental das mulheres, que já estão, naturalmente mais suscetíveis a alguns processos de adoecimentos.

Fonte: encurtador.com.br/ityHS

(En)Cena – Quais são os maiores desafios e quais são os maiores aprendizados da sua experiência como professora durante a pandemia? 

Dra Ruth Cabral – Acredito que a vivência do estresse, do medo, a sensação de incerteza, o reconhecimento das dificuldades vivenciadas ao longo desse período de distanciamento social propõe o agir com flexibilidade, na cuidadosa busca de se compreender as nuances das dificuldades das mulheres- despertando em mim uma atuação sobressaia a empatia, no reconhecimento das vulnerabilidades- como mulheres que são além de discentes, mães, profissionais, filhas…

Posso ver o esgotamento, o cansaço, o acúmulo de tarefas- na prática, como também percebo a  persistência e a luta.   A mim, como mulher, cabe ter uma postura de escuta, cuidado, e tomada de decisão pautada no reconhecimento dos fatores dificultadores a partir do pensar coletivo, sendo uma forma indireta de um exercício de sororidade.

(En)Cena –  Como você compreende o sofrimento emocional das alunas de psicologia afetadas pela quarentena durante a pandemia?

Dra Ruth Cabral – Vejo que essas alunas do curso de psicologia representam parte do universo que compõe a pluralidade das mulheres como um todo. Ainda que marcadas por alguns privilégios (dentre esses, o acesso à educação), há uma representação das angústias experimentadas pelas mulheres no período de pandemia. Mulheres em múltiplas funções, cansadas, mas empenhadas numa luta muito mais pesada por “uma vida que valha a pena ser vivida”, ou uma vida “com algum sentido”. São mulheres, filhas, mães, algumas distante das famílias, inseguras, com diferentes possibilidades de acessos. Diante disso, como não problematizar as questões de gênero? A sobrecarga é facilmente notada: mulheres que se engajam nas atividades acadêmicas alternando o cuidado com as filhas/ os filhos, com as tarefas domésticas, envolvidas no sustento e ainda respondendo a outros fatores externos- tais como pressão estética voltados ao cuidado com o corpo em uma hierarquização de prioridades impostas socialmente.

Fonte: encurtador.com.br/ahtZ9

(En)Cena –  Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Dra Ruth Cabral – Pessoalmente, acredito na articulação de mulheres em prol do fortalecimento do movimento- que possa gerar articulação, amparo, tomada de consciência e a não naturalização das violências vivenciadas, cotidianamente, por tantas. A formação de uma rede de apoio tecida por mulheres no reconhecimento das vulnerabilidades e privilégios, na práxis e não apenas em uma teoria sem alcance social, pautado no “fazer acontecer”. A luta por equidade, por acesso a trabalho, por andar sem medo, por ter segurança, esperança e escolhas que se façam sem o medo contínuo- tudo isso em um processo de ressignificação coletiva do que é ser mulher na luta por um protagonismo em um espaço em que nos foi dado o lugar de coadjuvantes.

Referências

MACÊDO, Shirley. (2020). Ser mulher trabalhadora e mãe no contexto da pandemia COVID-19: tecendo sentidos. Revista do NUFEN12(2), 187-204. https://dx.doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol12.nº02rex.33

SOUZA, Alex Sandro Rolland; SOUZA, Gustavo Fonseca de Albuquerque; & PRACIANO, Gabriella de Almeida Figueredo. (2020). A saúde mental das mulheres em tempos da COVID-19. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil20(3), 659-661. Epub 30 de outubro de 2020.https://dx.doi.org/10.1590/1806-93042020000300001

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