Jornada de superação e descoberta em “O Gênio Indomável”

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O filme O Gênio Indomável conta a história de Will Hunting, um jovem brilhante que trabalha como faxineiro em um instituto de tecnologia. Will é um gênio da matemática, dotado de memória fotográfica, mas leva uma vida marcada por dificuldades e traumas do passado.

Em determinado momento, o professor Gerald Lambeau, que leciona no instituto, propõe um desafio matemático aos seus alunos, mas ninguém consegue resolvê-lo. Enquanto limpava o corredor, Will resolve o problema com facilidade. Ao perceber o talento do jovem faxineiro, o professor Lambeau decide ajudar Will a desenvolver suas habilidades matemáticas e enfrentar suas dificuldades pessoais.

Após se envolver em uma briga, Will é preso. Para evitar a prisão, ele concorda em cumprir algumas condições, incluindo sessões de terapia. Embora inicialmente resistente ao processo, aos poucos, ele começa a se abrir e a superar barreiras emocionais que o impediam de avançar. Como parte do acordo, Will passa por diversos terapeutas, mas é apenas com Sean Maguire que ele realmente estabelece uma relação de confiança e se permite enfrentar seus traumas.

Enquanto lida com suas questões emocionais, Will conhece e se apaixona por Skylar, uma estudante de medicina em Harvard. Essa relação faz com que ele perceba ainda mais a necessidade de se desenvolver emocionalmente para alcançar uma vida plena e construir um relacionamento saudável. Apesar de Skylar também se apaixonar por ele, Will enfrenta dificuldades em aceitar esse sentimento, devido aos traumas que carrega.

Com o apoio dos amigos, especialmente de Chuckie, seu melhor amigo, Will passa a acreditar em seu potencial e a enxergar que pode ter uma vida melhor. Ele começa a aceitar seu passado traumático e percebe a importância de tomar decisões que definirão seu futuro. A jornada de amadurecimento e superação de Will o leva a buscar uma vida mais feliz e satisfatória. No fim, ele decide deixar Boston e seguir para a Califórnia, onde Skylar está estudando, em busca de seu grande amor. Will deixa uma carta para Sean Maguire, agradecendo pelo apoio e informando sua decisão de partir em busca de uma nova vida.

Gênio Indomável aborda de forma profunda questões psicológicas e emocionais, destacando o desenvolvimento pessoal e o impacto dos traumas do passado. Lançado em uma época em que o debate sobre equilíbrio emocional ganhava força na sociedade, o filme também explora a humildade de Will e a importância da educação e das oportunidades para todos, independentemente de sua origem social. Além de mostrar o talento matemático de Will, o filme enfatiza seu crescimento emocional e pessoal.

Premiações

O Gênio Indomável venceu o Oscar em 1998 nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante (Robin Williams). Foi indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor (Gus Van Sant), Melhor Ator (Matt Damon) e Melhor Atriz Coadjuvante (Minnie Driver). Com um orçamento modesto de 10 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 225 milhões nas bilheteiras mundiais. Algumas cenas foram gravadas em locações reais, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade de Harvard.

Ficha Técnica

Filme: O Gênio Indomável

Dirigido por Gus Van Sant

Produzido nos Estados Unidos (1997)

Duração de 126 minutos

Gênero: Drama

Classificação: 14 anos

Atores principais:

Matt Damon (Will Hunting),

Robin Williams (Sean Maguire),

Stellan Skarsgard (Gerald Lambeau) e

Minnie Driver (Skylar). 

Referências:

Encena. Disponível em: <link>

Entre Laços do Coração. Disponível em: <link>

Prime Vídeo. Disponível em: <link>

 

 

 

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“A Sociedade da Neve” – a resiliência como uma questão de políticas públicas

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O filme “A sociedade da Neve” foi lançado em dezembro de 2023 e chegou ao Brasil em janeiro de 2024. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, é inspirado em uma história real e baseado no livro de Pablo Vierci. Possui um enredo marcante, uma luta por sobrevivência que pode ser vista como uma “tragédia” e/ou como um “milagre”. Em 1972, um voo vindo do Uruguai, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, colide com uma geleira nos Andes e a partir de então os sobreviventes começam uma luta pela vida. 

Em meio a uma situação atípica, o filme enfatiza a forma como foi a luta pela superação da adversidade e sobrevivência após o desastre. O filme ilustra a resiliência como capacidade basilar, apoiada em um contexto de união grupal, onde os personagens trabalharam em equipe para conseguirem sobreviver e buscar resgate. 

Na trama, os sobreviventes decidem se alimentar da carne de pessoas que morreram para se manterem vivos. Assim, a sociedade recém formada passa por um momento de “crise”, aspectos relevantes se apresentam como, crenças, valores e identidade, gerando resistência e conflito de interesse.

No filme, os personagens Numa e Marcelo assumem papéis de liderança, tomam as iniciativas e buscam estratégias de enfrentamento. Em dado momento os personagens Nando e Roberto unem forças para irem atrás de ajuda, quando enfim conseguem. Assim, é perceptível a importância da rede de apoio e fica explícito que em um processo de enfrentamento de adversidades uma hora a pessoa ajuda outrora é ajudada, o que evidencia os benefícios da cooperação.

                                                                                                                                                                fonte: Netflix

Considerando o viés de que ao longo da vida podemos enfrentar crises humanitárias, desastres naturais e surtos de doenças, a resiliência se torna uma habilidade que precisa ser trabalhada pelas políticas públicas, é uma questão que deve ser desenvolvida dentro dos sistemas de saúde para as equipes que atuam nessa área.  As organizações de saúde podem desenvolver ações de educação permanente com enfoque na resolução de problemas, promoção da capacidade reflexiva, treinamentos comportamentais, melhoria da qualidade de vida no trabalho, entre outras (JATOBÁ & CARVALHO, 2022). 

Segundo Angst (2009) a resiliência não é adquirida, e sim aprendida de diversas formas, sendo uma delas a realização de programas voltados a diferentes populações. Assim, existem fatores de proteção e fatores de risco que estão diretamente relacionados ao desenvolvimento de comportamento resiliente que podem ser trabalhados principalmente na infância e adolescência. 

A importância da ênfase no desenvolvimento da estimulação da resiliência se dá pelo fato da maneira como cada pessoa lida com eventos adversos e traumas. Considera-se que quanto melhor a forma de enfrentamento, há mais possibilidades de minimização dos danos sofridos, o que pode corroborar para uma melhor qualidade de vida e saúde mental.  A resiliência se dá a partir da interação entre a vulnerabilidade e a proteção, determinada por atributos individuais, familiares e sociais, num processo dinâmico, que deve ser desenvolvido e estimulado (SANTOS et al. 2020). 

O autor enfatiza as dificuldades da sociedade, assim, podemos fazer alusão a complexidade que é para as políticas públicas e para  o SUS, se portar como um sistema resiliente frente a eventos extraordinários, onde precisa ser levado em consideração questões de diversidade cultural, vulnerabilidade social, determinantes sociais, papel do governo, poder estatal, entre outros. Um sistema com o nível de complexidade do SUS só terá seu potencial para a resiliência adequadamente representado se for por um arcabouço de indicadores capaz de agregar seus aspectos estruturais e funcionais (JATOBÁ & CARVALHO, 2022). 

Por fim, o filme é de relevância visto que aborda temas que dizem respeito a questões políticas e sociais. Às vezes pode ser algo que passa despercebido, mas em algum momento da vida precisaremos ser resilientes, e esta se mostra como uma habilidade desenvolvida não só em uma perspectiva individual, mas em sociedade. 

Referências

ANGST, R. PSICOLOGIA E RESILIÊNCIA: Uma revisão de literatura. Psicologia Argumento, [S. l.], v. 27, n. 58, p. 253–260, 2017. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/psicologiaargumento/article/view/20225. Acesso em: 19 abr. 2024.

JATOBÁ, A.; CARVALHO, P. V. R. de. Resiliência em saúde pública: preceitos, conceitos, desafios e perspectivas. Saúde em Debate, [S. l.], v. 46, n. especial 8 dez, p. 130–140, 2023. Disponível em: https://www.saudeemdebate.org.br/sed/article/view/7878. Acesso em: 17 abr. 2024.

Santos, LKP, Souza, MVO, Santana, CC. Ações para o fortalecimento da resiliência em adolescentes.. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2019/Mar). [Citado em 17/04/2024].  Disponível em:

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“Quarto de Guerra” – a oração é uma arma poderosa

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Ativar a espiritualidade na sua vida todos os dias lhe garante uma série de benefícios. Em meio aos enormes compromissos profissionais e pessoais que assumimos, alguns minutos de contato com Deus são fundamentais para construir uma vida plena em todos os aspectos – mental, físico e espiritual. De acordo com uma pesquisa realizada por cientistas da Duke University, praticar a fé pode reduzir o estresse psicológico e permitir que os crentes vivam em média 7 a 14 anos a mais do que outros que não têm esse hábito. Portanto, a oração é fundamental neste processo, pois traz um elemento de paz e tranquilidade para a vida das pessoas e o filmeQuarto de Guerranos mostrará que a oração é uma arma poderosa.

O filmeQuarto de Guerra” foi lançado no Brasil em dezembro de 2015, conquistando grande audiência no Brasil e no mundo, tornando-se um dos filmes cristãos produzidos fora de Hollywood de maior sucesso na história do cinema. Não é para menos, seu enredo dramático e divertido tem cativado a atenção de cristãos de diversas denominações e até mesmo de pessoas que dizem não professar a fé cristã.

Na trama, a jovem Elizabeth e Tony formam um casal em crise no casamento. A filha pequena percebe que os pais estão à beira do divórcio, mas ninguém conseguem chegar a um acordo. A corretora de imóveis Elizabeth se decepciona com o marido Tony Jordan, um vendedor de sucesso na indústria farmacêutica. Para se dedicar ao trabalho e aos próprios interesses, ele foi separado da esposa e da filha. A distância está aumentando dia a dia, mas tudo começa a mudar quando Elizabeth conhece uma mulher idosa que lhe apresenta o poder da oração. E a partir deste momento, a jovem mãe decide depositar a sua fé nas preces divinas.

                                                                                  Fonte: Cenas de Quarto de Guerra (Divulgação)

Seja marcante e significativo na vida de alguém

No filme, após Elizabeth conhecer essa espirituosa Sra. Clara Williams, a sua vida e da sua família começa entrar num processo de mudança para sempre. Clara, como preferia ser chamada, era uma anciã sábia e amorosa. Ela se dedica a ajudar Elizabeth, demonstrando seuquarto de guerra”. Este lugar era um cômodo de sua casa onde ela conduzia batalhas de oração e ensinava sua jovem esposa a usar estratégias e armas espirituais para vencer as batalhas e reconstruir seu lar.

O filme escolhe acertadamente o tema do relacionamento conjugal e a partir daí revela sua relação direta com o amor próprio, o perdão e, principalmente, o amor como testemunho de fé em Deus. Os personagens refletem os tipos de cristãos encontrados nas igrejas ao redor do mundo. Na trama, a personagem Elizabeth representa o cristão médio do nosso tempo. Para tanto, a diretora a expõe, enfatizando suas crenças nominais e conscientizando-a de suas próprias limitações. O tratamento do pecado no filme é muito claro.

O diretor do filme enfatiza durante o enredo, a importância de estamos conscientes em sermos honestos sobre as consequências das escolhas que fazemos. Em vez de encobrir a verdade ou oferecer soluções alternativas, o diretor atribui ao protagonista as consequências das ações passadas, mas também mostra o arrependimento, a renovação da mente no modo de pensar e a importância do exercício diário da fé.

                                                                             Fonte: Cenas de Quarto de Guerra (Divulgação)

Por meio da oração, permitimos que Deus batalhe por nós.

 

Segundo um trecho da Bíblia no livro de 2 Crônicas Cap.7 e Vers.14 cita assim: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra.” Ou seja, só depende de nós. Tudo o que precisamos fazer é correr para o quarto de Guerra e clamar ao Pai Celestial, e ele estará lá esperando por nós.

Ao assistir o filme é possível obter inúmeros aprendizados importantes para a nossa vida diária e segue abaixo alguns deles:

  • Prepare-se! A vida é uma constante de árduas batalhas – Acreditar que avida é um conto de fadas e que as batalhas são pontuais e passageiras pode ser um engano fatal. Cada fase do desenvolvimento humano, cada ação ou decisão tomada na vida possuem lutas inerentes, onde o preparo, a paciência e a resistência para lutar são fundamentais para obter a vitória.
  • Sem estratégia não há vitória – Se todos lutamos na vida é primordial que tenhamos uma estratégia adequada para cada embate que travamos. Elizabeth usava as estratégias erradas para tentar lutar a favor da sua família. A partir do momento que Elizabeth passou a usar a fé em Jesus por meio da oração e a mudança de conduta como estratégias de batalha, o jogo virou a seu favor e ela pode experimentar vitórias pontuais em áreas que vivia constantemente apanhando em sua vida.
  • Identifique corretamente o seu inimigo – Você pode estar lutando contra a pessoa errada.
  • Casamento não é como um buffet. É um combo completo – Quando dizemos sim no altar, o dizemos para tudo que se refere ao nosso cônjuge. Seus defeitos e qualidades, forças e fraquezas, o “bafo” pela manhã, o “chulé azedo”, o cunhado insuportável, etc. Por isso o tempo do namoro deve servir para que ambos se conheçam o máximo possível, a fim de minimizar as surpresas no matrimônio e substituir com facilidade o “meu” pelo “nosso” durante a vida a dois.
  • O sucesso profissional não deve existir a despeito da harmonia familiar
  • Seja marcante e significativo na vida de alguém – Não há ninguém tão débil que não possa contribuir de algum modo na vida de outra pessoa. Todas as pessoas são diferentes e as experiências vividas por cada uma delas às tornam melhores e mais capazes de enfrentar as angústias da vida.
  • Nossa comunhão com Deus não deve ser morna – A bíblia é o meio pelo qual todo cristão deve orientar o exercício da sua fé. Ela é entendida como o manual do e sobre o fabricante, numa visão de Deus como o criador da humanidade.
  • Não importa onde seja, tenha sempre um “quarto de guerra” – Sabendo que avida é uma constante de árduas batalhas, nada melhor do que praticar com fé a orientação bíblica de orar constantemente em nosso quarto para que, o Deus que nos vê em secreto nos conceda a vitória em tempo oportuno.
  • Todos temos um guerreiro em nós que precisa ser despertado – Dizem que são as dificuldades que forjam os verdadeiros campeões. Até que circunstâncias terríveis nos peguem de surpresa, vivemos “numa boa” sem empreender muitos esforços para avançarmos na escada da vida.
  • Não tente fazer o trabalho de Deus na vida do seu cônjuge – A missão de ambos os cônjuges é amar, respeitar e orar um pelo outro. Não importa o quão difícil é o temperamento ou o comportamento de seu cônjuge, deixe que Deus mostre o caminho da mudança a ele.

Enfim, o filme Quarto de Guerras, trás inúmeras reflexões e ensinamos, como também enfatiza a termos fé, confiar em Deus e fazer a nossa parte que no tempo adequado tudo será resolvido, afinal de contas, tudo muda quando nós mudados individualmente.

Referencias:

Jornal de Minas Gerais – Saúde e Bem Estar. Minas Gerais, 2023 – Os benefícios da oração diária para a saúde mental e física. Disponível em <:  https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-viver/2023/02/23/interna_bem_viver,1460921/7-beneficios-da-oracao-diaria-para-a-saude-mental-e-fisica.shtml >. Acessado em 08 de dezembro de 2023.

Bíblia Sagrada Online – Disponível em <:  https://www.bibliaon.com/versiculo/2_cronicas_7_14/ . >. Acessado em 08 de dezembro de 2023.

Centro Universitário Adventista de São Paulo. Entrevista – Professor de Psicologia fala sobre efeitos da oração. São Paulo, 2023. Disponível em <:    https://unasp.br/noticias/entrevista-professor-de-psicologia-fala-sobre-efeitos-da-oracao/  >. Acessado em 08 de dezembro de 2023.

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“Ele não está tão a fim de você” – expectativas sobre as relações e novas maneiras de viver

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À medida que as gerações vão passando novas maneiras de viver vão sendo estabelecidas, e as antigas percepções vão se transformando, mas ainda sim, quando se trata de relacionamentos amorosos, muitos de nós somos levados a acreditar que a nossa felicidade terá início quando encontrarmos alguém para passar o resto de nossas vidas, e isso pode nos levar a pensar que uma vez que encontramos esse alguém, nossa satisfação enfim será concretizada. Muitos de nós ainda somos levados pela ideia de que o sucesso, no âmbito relacional, está associado à formação daquilo que conhecemos como a família tradicional (pai, mãe e filhos), e tudo o que foge desse padrão acaba sendo taxado como um fracasso pessoal.

O Filme “Ele não está tão a fim de você” originalmente conhecido como “He’s just not That into you”, dirigido por Ken Kwapis e lançado nos cinemas no ano de 2009 veio para trazer uma reflexão de maneira leve e até certo ponto cômica sobre esses padrões estabelecidos sobre a vida amorosa. O filme vai contar quatro histórias diferentes que estão ao mesmo tempo interligadas, nelas encontramos Gigi, interpretada por Ginnifer Goodwin, que é uma romântica incurável buscando encontrar o grande amor da sua vida, nessa busca acaba se tornando amiga de Alex, interpretado por Justin Long, logo após não receber a ligação de Connor um cara que ela saiu na semana anterior, Alex apresenta a ela uma visão mais realista sobre relacionamentos amorosos e como eles funcionam. Também conhecemos a história de Beth e Neil, interpretados respectivamente por Jennifer Aniston e Ben Affleck que namoram há sete anos, Beth sempre demonstrava desejo pelo casamento, mas Neil nunca concordou com a ideia. As outras duas histórias que conhecemos são as de Connor (Kevin Connolly) que é apaixonado por sua amiga Anna (Scarlett Johansson), uma cantora que o vê apenas como um bom amigo, Anna por sua vez acaba se interessando por Ben (Bradley Cooper) que está casado com Janine (Jennifer Connelly).

Fonte: Divulgação HBO

Trazendo um enfoque na história da Gigi e da Janine, podemos refletir um pouco sobre os diferentes processos emocionais na vida de ambas as personagens. Vemos que a busca de Gigi desde sempre foi estabelecer uma relação amorosa algo que já havia se estabelecido na vida de Janine, que era casada com um homem dentro dos padrões de beleza e aparentemente bem sucedido financeiramente, ou seja, estava em uma relação que se encontrava dentro dos padrões construídos socialmente, mas mesmo assim não se via satisfeita devido vários problemas matrimoniais que possuíam.

Janine se coloca em um lugar de lutar pelo casamento, acreditando na melhoria da fase que se encontravam, isso é muito comum, pois uma vez que estamos em uma relação aquela realidade na maioria das vezes é considerada como nossa homeostase, ou seja, nosso equilíbrio e uma vez que isso precisa ser quebrado, nosso equilíbrio também precisará ser refeito, e nós naturalmente buscamos nos esquivar disso.

No final esperamos por vários desfechos, sendo que alguns personagens acabam conseguindo o que queriam, Gigi por exemplo encontra aquilo que ela tanto buscava, um grande amor, Beth é finalmente pedida em casamento por seu namorado Neil. Mas quando olhamos para o desfecho de Janine somos tentados a pensar que foi algo triste, pois o casamento que ela estava tentando “fazer dar certo” acaba chegando ao divórcio após a descoberta de uma traição.

Da mesma maneira, trazemos essas interpretações para a realidade que nos cerca ao impor que a satisfação e felicidade está em um relacionamento e acabamos perdendo a percepção de que muitas vezes há uma maior felicidade em fins do que em começos. Como por exemplo, alguém que há tempos se encontra sem saída dentro de algum relacionamento tóxico, o sentimento de realização ao conseguir sair dele pode vir a ser muito maior do que o de alguém que está prestes a se casar.

Fonte: Divulgação HBO

Não podemos nos encaixotar em ideias tão simplistas na construção da satisfação emocional e achar que apenas um modelo estático pode trazer essa felicidade, mas assim como apontado no filme devemos entender que cada pessoa vive um processo diferente, e buscar a cada dia mais nos afastar da ideia de que existe um modelo de relacionamento ideal e até mesmo de um momento ideal para entrar em um relacionamento, o que precisamos fazer é sempre levar em consideração que cada pessoa possui uma história de vida diferente, logo cada um terá processos diferentes.

Essa mudança de pensamento vem a partir das nossas reflexões sobre a realidade e a flexibilidade dos conceitos a nós apresentados ao decorrer da vida, por isso precisamos refletir sobre a rigidez dos padrões a nós apresentados e abrir portas para novos modelos de realidade.

 

 

 

 

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Awake: não durma no ponto

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Um jogo em que o sono deixa o sonho de 1 milhão de dólares mais longe.

 

Divulgação Netflix

Não Durma no Ponto (Awake: The Million Dollar Game) é um reality show apresentado por James Davis, lançado em 2019 pela a Netflix cuja a ideia do jogo  principal é fazer com  que os jogadores efetuem desafios relativamente simples, em extrema privação do sono. Os participantes são submetidos a ficarem mais de 24 horas acordados, passando por provas em que exige uma capacidade de atenção, equilíbrio, memória, coordenação motora e diversas outras condições a fim da tão desejada premiação de 1 milhão de dólares.

Inicialmente todos os jogadores são colocados em uma tarefa tediosa de contar moedas por 24h, e no final os participantes que tiveram uma quantidade maior de erros são eliminados e os demais seguem para o próximo desafio, que irá pôr em prova outro aspecto que podem ter sofrido com essa privação.  É interessante que todas as provas anteriormente são testadas por testadores descansados, e a partir dos resultados deles diante das mesmas provas, é possível notar a discrepância de desempenho em relação aos participantes em privação do sono.

É possível notar que os vencedores das provas, são aqueles que melhor conseguem lidar com essa privação. Entre as provas, diversos relatos de falta de atenção, dificuldade motora, de equilíbrio, memória e raciocínio são apresentados, com isso, podemos através deste divertido jogo enxergar os efeitos da privação do sono em tarefas simples que podem estar presentes no nosso dia a dia.

Em uma das provas, os jogadores tinham que passar uma linha por dentro de todas as agulhas fixadas em uma base, em um determinado período de tempo, nesse desafio é possível notar que após mais de 24 horas de privação do sono, os participantes tiveram uma grande dificuldade de exercer suas capacidades motoras, tendo um deles que relata ter dificuldade na visualização do furo. Cardoso (2020) apontou a associação entre a menor duração do sono com o rebaixamento de desempenho em tarefas manuais, podendo então associar com a demora na execução da tarefa.

Em um dado momento do jogo, os participantes têm os seus reflexos testados: um ovo é fixado próximo ao rosto, e quando um sinal de luz é acionado eles precisam quebrar o ovo o mais rápido possível. Os testadores descansados dessa prova tiveram um tempo de reação de em média 0.30 segundos, no entanto, um dos participantes teve a com média de 1.14 segundo, e nenhum deles se equipara a média dos indivíduos descansados, mostrando então o quanto o sono pode prejudicar o tempo de ação frente a uma atividade simples.

Divulgação Netflix

Trazendo aspectos das provas anteriormente citadas, essa extrema privação pode trazer prejuízos na concentração, na coordenação e no tempo de reação. De acordo com as informações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, pessoas com mais de 24 horas de privação do sono, podem sentir efeitos semelhantes a 0,10%  de concentração de álcool no sangue. Neste sentido, é possível evidenciar que a privação de sono se relaciona com aumento da exposição a riscos de acidentes de trânsito, por exemplo, bem como se associa com o envolvimento em outras atividades potencialmente perigosas, já que a área cerebral responsável pelo juízo crítico é afetada pelo sono insuficiente (CDC, 2020).

Na dinâmica seguinte, os participantes devem arremessar em uma base perfurante, balões com moedas no interior, o desafio consiste em pegar o maior número de moedas, antes que elas caiam no chão, em um determinado tempo. No decorrer do desafio, os participantes relatam a dificuldade visual em enxergar as moedas caindo, e alguns deles inclusive, confundem as moedas com um pedaço de balão. Gazzaniga, Ivry e Mangun, (2006) traz através de estudos de neuroimagem que essa privação pode afetar áreas do cérebro relacionadas ao processo visual, podendo prejudicar a localização de objetos em movimento.

A dinâmica a seguir consistia em desparafusar a tampa de um chimpanzé de brinquedo que emite um som, a fim de retirar as pilhas dos brinquedos. Os jogadores durante a realização dessa prova relataram uma enorme dificuldade motora em desparafusar o brinquedo, principalmente com a presença do som que o mesmo emitia, com isso, podemos entender o prejuízo da privação de sono nesse aspecto, pois se trata de um tipo de atividade que diariamente pessoas estão expostas, seja em casa ou no trabalho. Os testadores descasados tiveram uma média de oito brinquedos desparafusados, enquanto o participante em privação com o melhor rendimento, conseguiu retirar as pilhas de apenas 4 brinquedos.

                                                                                                         Divulgação Netflix

Isso ocorre devido ao período ativo do indivíduo e com a falta de sono, os participantes não conseguem restabelecer suas funções motoras e cognitivas, e por isso é comum identificar diversas dificuldades que os jogadores encontram no decorrer da dinâmica, considerando o decréscimo no desempenho. Jansen (2007) assinala que o sono é um um processo essencial para o equilíbrio do funcionamento humano, assim como outras necessidades básicas como alimento e água.

Assim, a falta de sono, seja ela decorrente de uma privação voluntária ou devido a condições específicas de saúde, pode causar alterações significativas nas dimensões físicas, emocionais, sociais, ocupacionais e cognitivas do indivíduo.

Em um dos episódios, os jogadores foram levados a ouvir os sons de animais, e em seguida, separar as cartas que representam cada animal, o participante com a maior quantidade de acertos, venceria a prova. Nesse desafio os participantes relataram a dificuldade de concentração e até mesmo alteração na audição.  Babkoff (2005) entende que a diminuição da percepção auditiva pode haver relação com a privação do sono, em um estudo apontam o rebaixamento de em média 28% na resolução de estímulos auditivos após uma noite mal dormida.

No decorrer do programa os desafios mostram aos espectadores a importância de manter uma boa noite de sono, pois os prejuízos dessa privação podem influenciar diretamente no desempenho dos indivíduos em exercer tarefas simples, prejuízos esses que podem inclusive expor as pessoas a uma condição de risco e ao desenvolvimento de doenças. O reality consegue de forma divertida gerar reflexão dos espectadores acerca das complicações cognitivas e fisiológicas em indivíduos com extrema privação do sono.

Referências

BABKOFF. Effect of the diurnal rhythm and 24 h of sleep deprivation on dichotic temporal order judgment. 2005.

CARDOSO, L. R. L. et al. Sleep Restriction Effects on a Robotic Guided Motor Task. In: 8th International Conference on Biomedical Robotics and Biomechatronics , Anais 2020.

CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. NIOSH Training for Nurses on Shift Work and Long Work Hours. 2020. Disponível em <: https://www.cdc.gov/niosh/work-hour-training-for-nurses/longhours/mod3/08.html#print >. Acessado em 14 mar. 2023.

JANSEN JM, et al. Medicina da noite: da cronobiologia à prática clínica. SciELO – Fiocruz: Rio de Janeiro. 2007

Gazzaniga, M.S., Ivry, R.B. & Mangun, G.R. (2006). Neurociência cognitiva:  a  biologia da  mente,  (2ª  ed.).  São  Paulo:  Artmed Editora.

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“Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo” – um convite para a falta

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Análise do filme sob uma perspectiva psicanalítica.

primevideo.com

Em uma cena do filme, os personagens se transformam em duas pedras à beira do penhasco.

“Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências”, afirmou certa vez o filósofo e escritor Jean-Paul Sartre. Mas e se pudéssemos ter acesso às infinitas possibilidades de escolha e às vidas que elas desencadeiam – da mais glamurosa à mais pacata, onde nos materializamos em uma pedra à beira do abismo? Parece uma ideia tentadora, e é a partir dessa premissa que se desenvolve a divertida – e maluca – história do filme que se consagrou o grande vencedor da última cerimônia do Oscar.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, vencedor de sete estatuetas (inclusive a de melhor filme), parece uma síntese interessante dos nossos tempos, apresentando uma linguagem vertiginosa e um tanto caótica. Trazendo consigo a ideia de multiverso, a história transita entre diferentes realidades, ligadas através de um núcleo de personagens que aprende a “viajar” entre os múltiplos universos que constituem o infinito. Apesar de soar complexo, o filme trabalha o conceito de uma forma leve, proporcionando ao espectador uma experiência agradável e interessante.

A história acompanha Evelyn Wang, uma imigrante chinesa nos Estados Unidos, dona de uma lavanderia à beira da falência. Enfrentando problemas no casamento e uma relação atribulada com a filha, Wang parece estar vivendo o lado obscuro do american dream – o famoso sonho de vida americano, repleto de oportunidades e prosperidade. Enquanto se debruça sobre uma pilha de papéis a fim de salvar seu negócio, a protagonista se depara com uma questão que parece desafiar todos nós em algum momento da vida – como seria sua vida se tivesse feito outras escolhas?

É a partir desse momento que a história sofre uma reviravolta, ingressando na alucinante dinâmica do universo multidimensional. A figura até então pacata de Waymond, seu marido, dá lugar a uma versão vigorosa do personagem, vindo de um universo distante para alertá-la sobre a necessidade de lutarem para conter a ameçaca de Jobu Tupaki, personagem empenhada em instaurar o caos e extirpar a existência humana. Relutante e incrédula, Wang vai cedendo ao passo em que o absurdo toma conta de sua realidade. Então embarcamos juntos com ela nessa aventura.

Para sua surpresa, a figura que precisa enfrentar junto à nova versão do marido é ninguém menos que sua filha Joy, que em outra dimensão adquire poderes capazes de colocar em xeque a existência e o equilíbrio dos universos que compõem a intrincada trama de suas vidas. Assim o conflito entre mãe e filha toma outra proporção, abarcando nuances que mesclam realidade e fantasia, drama e comédia. Wang, uma pessoa um tanto conservadora, tem dificuldade em aceitar a sexualidade da filha, que está se relacionando com outra garota. Como pano de fundo desse conflito emerge a figura do pai, Gong Gong, que renegara Wang quando esta decidiu se casar com Waymond e tentar a vida nos Estados Unidos. Velho e debilitado, Gong Gong passa a viver sob os cuidados de Wang – uma lembrança pungente da vida que outrora abriu mão para viver o seu sonho.

Sob o pretexto de não escandalizar o pai, Wang tenta esconder sua dificuldade em lidar com a natureza subversiva e libertária da filha, que confronta seus próprios valores e convicções.

primevideo.com

“Eu estava apenas à procura de alguem que pudesse ver o que eu vejo”

Enquanto se enfrentam nas mais diversas circunstâncias – até mesmo em um universo onde os indivíduos possuem salsichas no lugar de dedos -, os personagens que compõem o núcleo da história, Wang, Waymond e Joy, parecem nos mostrar que não importa o quão absurdo seja o cenário, é impossível que o indivíduo se furte ao impacto do contato com o Outro. Nesse caso, pai, mãe e filha buscam, através de uma jornada multidimensional, encontrar o equilíbrio necessário para não sucumbir ao caos da existência conjunta.

Envolvendo conflitos familiares, embates geracionais, crítica social e reflexões existenciais, o filme cumpre a ousada tarefa de ser tudo ao mesmo tempo, literalmente. Há momentos para rir, chorar, refletir – e tantos outros em que não se entende coisa alguma. Um tanto parecido com a vida, ousaria dizer. Afinal, se viver é algo mesmo muito perigoso, como diria Guimarães Rosa, é difícil que alguém saia ileso dessa aventura.

Diante de uma história tão engenhosa, há de se perguntar se Wang, ao percorrer inúmeras de suas vidas possíveis, não tenha encontrado alguma em que tenha se sentido completa. E o filme nos responde terminando onde tudo começou, com mãe e filha discutindo no estacionamento da lavanderia da família. Ao promover esse retorno, a dupla de diretores, Daniel Kwan e Daniel Scheinert, parece indicar, de forma tocante e com uma pitada de comicidade, que o ideal de liberdade (tão característico do sonho de vida americano) que tanto buscamos em nossas vidas implica invariavelmente em uma série de perdas, uma vez que ao realizarmos uma escolha, perde-se todas as outras possíveis, e a experiência de viver todas as possibilidades ao mesmo tempo emerge como um delírio enlouquecedor. Dessa forma, somos instados a reconhecer a necessidade de bancarmos as nossas escolhas – e as consequências que elas trazem consigo -, ao passo em que nos identificamos com a tentativa da protagonista de se acertar com a filha em seu universo original – o único possível.

A fantasia de que estamos somente a uma escolha da completa realização dá lugar à inexorável realidade de que somos seres faltantes, e portanto temos de nos haver com a falta, independente do universo em que estejamos. E que amar é, sobretudo, reconhecer no outro a falta que decidimos sustentar em nós mesmos. Tudo em todo lugar ao mesmo tempo pode sim ser um convite para olharmos para a falta, mas é também um chamado para o amor.

FICHA TÉCNICA

  • Título Original: Everything Everywhere All at Once
  • Duração: 139 minutos
  • Ano produção: 2020
  • Estreia: 11 de março de 2022
  • Distribuidora: Diamond Films
  • Dirigido por: Daniel Scheinert, Daniel Kwan
  • Orçamento: U$ 25 milhões
  • Classificação: 14 anos
  • Gênero: Ficção Científica, Ação, Comédia
  • Países de Origem: EUA
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“Red – Crescer é uma Fera” e importância das redes de afeto na adolescência

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Há muito tempo os filmes vêm sendo utilizados para análises psicológicas e neste contexto as animações estão entrando com uma expressiva força. A exemplo de Divertida Mente (Disney, 2015) que pode ser considerado um divisor de águas para as análises psicológicas, sobretudo na fase de passagem para a adolescência, a bola da vez é a animação Red: Crescer é uma Fera (Disney, 2022). O filme tem como plano central a puberdade da menina Meilin Lee, carinhosamente apelidada de Mei-Mei, de 13 anos, uma adolescente “praticamente uma adulta” como ela se coloca no início do filme e as intensas transformações da puberdade. O filme em si possui imensos campos de análises psicológicas e antropológicas: explora relações familiares (conflitos mães/filhas), bullying, papéis de gênero, movimentos imigratórios, bem como tradições orientais.

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Mei-Mei e sua representação das emoções da adolescência.

Mei-Mei é de origem chinesa e mora com sua família em Toronto, Canadá, é uma adolescente dedicada aos estudos e a família. Participa das tradições religiosas no templo de sua família, fonte de renda familiar, gosta de garotos e boybands, sofre bullying na escola por ser uma “nerd”, mesmo assim procura ser sucesso em todas as atividades escolares, afinal, deve sempre ser a melhor aluna, o que provoca intenso orgulho para sua mãe. Sua mãe é apresentada como a típica mãe superprotetora, invasiva e devoradora que não consegue enxergar sua filha como uma menina em fase de transição, é a eterna criança que deve ser protegida de qualquer ameaça mesmo que esta ameaça não exista. Ao vermos inicialmente o filme nos desperta certa antipatia por aquela mãe que submete a filha a situações vexatórias e ridículas em nome da proteção de quem ela se refere como um “bebê inocente”.

Mesmo com todas as situações que a mãe de Mei-Mei a faz passar ela não consegue se impor de modo algum para não decepcionar sua mãe. Aquela mãe que controlava tudo. Percebe-se que a figura da mãe foi construída daquela maneira justamente para sentirmos a antipatia inicial. Uma mulher sisuda, sóbria e fechada que dominava a casa e a família com mão de ferro e quer controlar todos os passos e atitudes da filha. Até descobrimos que ela própria foi também filha de uma mãe devoradora, reproduzindo o ciclo. Tema de uma futura análise.

Tudo ia indo de maneira normal na vida de Mei-Mei até o momento que um dia ela acorda transformada em um incrível panda gigante vermelho. Esta foi a alegoria escolhida para representar as mudanças da puberdade, a chegada da primeira menstruação e a descoberta da libido. Todas as emoções confusas e conturbadas desta fase da vida são demonstradas através da transmutação em panda. Mas mesmo com todas as conturbações e emoções desconhecidas, lidar com as cobranças familiares, e o bullying sofrido, Mei-Mei conseguia se remeter ao que mais a acalmava: seu grupo de amigas.

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Mei-Mei e sua rede de afeto.

Mei-mei conta com um inseparável grupo de três amigas que são sua rede de apoio e a ajudam a enfrentar as perturbações e emoções desconhecidas. Cada uma das meninas tem suas personalidades próprias e seus dramas pessoais, mas as paixões, os sentimentos, os gostos pela música e bandas típicas da fase da adolescência são compartilhados por elas. Segundo Assis e Avanci (2004) a convivência dos adolescentes com sua rede de apoio emocional é de fundamental importância para o seu desenvolvimento psicológico. Eles aprendem a conhecer o mundo além de sua rede familiar e podem perceber que o mundo é além do que apenas sua casa, aprendem sobre desejos, autoconfiança, decepções e podem estabelecer objetivos de vida.

Ao se deparar com emoções descontroladas, Mei-Mei se transforma naquele panda gigante e para voltar ao seu estado normal ela deve se ater a calmaria, conseguida apenas ao pensar em suas amigas, seu grupo de apoio, seu ninho de tranquilidade e segurança que encontra apenas naqueles abraços calorosos. Este também é um momento de lutas internas para a menina que sempre deseja a aprovação da mãe, pois para a mãe seu lugar de conforto e segurança deveria ser seu colo, não entendendo que o colo materno é sim importante, mas na fase da adolescência não é o suficiente.  Percebe-se com o filme como os amigos podem ajudar a fornecer um espaço seguro para experimentar novas ideias e comportamentos. Eles podem fornecer conselhos e perspectivas diferentes das dos pais e outros adultos significativos na vida do adolescente, permitindo uma maior compreensão do mundo ao seu redor. Além disso, os amigos podem desempenhar um papel importante na construção da autoestima e confiança oferecendo suporte em momentos difíceis ajudando a aliviar o estresse.

A adolescência é um período da vida marcado por mudanças físicas e psíquicas que ocorrem de modo abrupto, mudanças essas muito difíceis de lidar, mudanças que são vividas não só pelo adolescente, mas, por toda a família. O luto pela perda do corpo infantil, pela perda dos pais ideias: “Sabe quando você olha para as fotos antigas e fica feliz, mas também fica triste porque tudo mudou”. A fala da personagem simboliza bem a forma como passamos por estas transformações, nossa tristeza ao perceber que não somos mais crianças e que agora tudo será diferente em nossas vidas, a luta por aceitação pelos pares, as pressões familiares para ser “alguém na vida”, a descoberta da sexualidade. Sim, adolescentes também têm libido e este ponto fica claro no filme de forma simples e sutil. Fato totalmente impensado pelos seus pais. Para a mãe de Mei-Mei, que invade sua intimidade lendo seu diário e descobre que a menina tem um interesse amoroso, típico da adolescência, julga que “seu bebê” foi seduzida por aquele “marginal sedutor de crianças”.

 Interessante perceber que o panda sempre aparecia quando as emoções eram afloradas, emoções boas ou ruins. Deste modo vemos que emoções adolescentes são tão intensas quanto mutáveis e sim, é normal. O panda era um imenso desconforto para sua família, panda este que apenas sumia quando Mei-Mei se concentrava no que mais a fazia feliz e a reportava a tranquilidade e segurança, e qual seria este lugar? Certamente sua mãe julgava que seria em seus braços, afinal era sua mãe quem mais a amava e protegia, mas neste momento que nos deparamos com os longínquos pensamentos de Mei-Mei e seu lugar feliz repleto de segurança e conforto: o abraço de suas amigas. Era lá e apenas lá que ela conseguia o equilíbrio e a segurança para se concentrar e controlar aquelas emoções (panda) que tanto a afligiam.

 No decorrer do filme descobrimos que todas as mulheres da família de Mei-MEi sofriam com a mesma “maldição” do panda, inclusive sua mãe. A figura segura e controladora também fora a menina desprotegida que não conseguia controlar suas emoções e sensações. Em se tratando de uma animação infantil obviamente temos um final feliz com Mei-Mei aceitando suas emoções, seu panda interior, e fazendo as pazes com sua mãe e finalmente aceita que seu “bebê” está crescendo e também aceita lidar com as mudanças que são próprias da vida. A alegoria final foi a despedida de Mei-Mei para a mãe e os sorrisos para suas amigas para se divertiram em seus programas típicos da fase, como se finalmente conseguisse dizer adeus a sua infância e saudado sua nova fase de vida, mesmo que esta fase seja totalmente difícil e intensa.

Referências:

ASSIS, SG., and AVANCI, JQ. Os adolescentes, os amigos e a escola: caleidoscópio de imagens sobre o ‘eu’. In: Labirinto de espelhos: formação da autoestima na infância e na adolescência [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004. Criança, Mulher e Saúde collection, pp. 129-159. ISBN 978-85-7541-333-3. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://books.scielo.org/id/vdywc/pdf/assis-9788575413333-06.pdf. Acesso em: 05/03/2023

CARNIER, A. Análise psicológica do filme “Red: Crescer é uma Fera”. Saúde Interior. Disponível em: https://saudeinterior.org/analise-psicologica-do-filme-red-crescer-e-uma-fera/.  Acesso me: 06/03/2023.

CARVALHO, R. B. Et. Al. Relações de amizade e autoconceito na adolescência: um estudo exploratório em contexto escolar. Estudos de Psicologia I Campinas I 34(3) I 379-388 I junho – setembro/ 2017. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.scielo.br/j/estpsi/a/n5xVR6z3nMqY9NPTXZLwzJg/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 05/03/2023.

 FILIPINI, C. B. Et. Al. Transformações físicas e psíquicas: um olhar do adolescente. Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 22-29, jan/mar 2013. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://cdn.publisher.gn1.link/adolescenciaesaude.com/pdf/v10n1a04.pdf. Acesso em: 05/03/2023.

NOBRE, A. F. Resenha do filme Red: Crescer é uma Fera. Disponível em: https://labdicasjornalismo.com/noticia/10986/resenha-do-filme-red-crescer-e-uma-fera. Acesso em: 06/03/2023.

OLIVEIRA, A. Conflitos Familiares e Amigos e a Influencia na Construção na Identidade do Adolescente. Portal dos Psicólogos. ISSN: 1646-6977. 2015. Disponível em: efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0933.pdf. Acesso em: 05/03/3023.

ROSA, N. Crítica: Red, Crescer é uma Fera. Sobre Crescer e Abraçar quem você é. Disponível em: https://canaltech.com.br/entretenimento/critica-red-crescer-e-uma-fera-211678/. Acesso em: 06/03/2023.

VIEIRA, L. Feminilidade, amadurecimento e família – Resenha de Red: crescer é uma fera. Diponível em: https://wp.ufpel.edu.br/empauta/feminilidade-amadurecimento-e-familia-resenha-de-red-crescer-e-uma-fera/. Acesso em: 06/03/2023.

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Filme TOC TOC: Um alerta sobre os comportamentos repetitivos

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Imagem de ivabalk por Pixabay 

Lavar as mãos excessivamente pode ser uma compulsão.

O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações, obsessões e compulsões e essas obsessões ou compulsões recorrentes causam sofrimento ao indivíduo, pois consomem tempo, ficam voltando na consciência do indivíduo, sem que ele queira pensar nisso e interferem significativamente no funcionamento ocupacional das atividades do seu cotidiano.

O filme TOC TOC, apresenta de forma humorada, seis personagens, cada um com sintomas diferentes vivenciados por pessoas com TOC, e pode-se perceber que os sintomas trazem um desconforto, uma ansiedade muito grande e vão ser aliviados a partir da realização dos comportamentos repetitivos. E esses comportamentos repetitivos são as compulsões.

No decorrer do filme todos os personagens se encontram em uma clínica para uma consulta com um terapeuta, o Dr. Palomero, segundo a secretária ouve um erro no sistema e todos os pacientes compareceram no mesmo dia e horário, porém o Dr estava com o voo atrasado, todos os pacientes ficaram no mesmo ambiente e começaram a perceber que cada um deles apresentavam sintomas diferentes, eles tentam organizar a ordem que serão atendidos, mesmo sem saber o horário que o terapeuta chegaria.

Foi nesse momento que começaram a perceber e conviver com as singularidades de cada um, e em consenso foram relatando suas vivências no formato de uma terapia de grupo, porém sem o terapeuta, a história do filme mesmo de forma descontraída provocando risos, traz também uma reflexão do quanto aqueles pensamentos e rituais vivenciados por pessoas com TOC causam sofrimento, o comportamento obsessivo ex: “lavar as mãos” é uma maneira de aliviar a tensão causada pelos pensamentos compulsivos “evitar a contaminação”.

Uma compulsão, é um comportamento consciente que segue um padrão recorrente como contar, verificar ou evitar. Um indivíduo com esse transtorno percebe a irracionalidade da obsessão e sente que tanto a obsessão quanto a compulsão, são comportamentos indesejados, se após um surgimento de um pensamento intrusivo de conteúdo negativo ou até mesmo catastrófico, a pessoa obtém um alívio imediato realizando rituais ou adotando comportamento de esquiva, essa pessoa tenderá a repetir tais comportamentos no futuro e isso gera um reforço.

Cada personagem inicialmente buscava um acompanhamento individual, por N motivos, mas a cena que reúne todos os personagens em uma sala e transmite uma mensagem de solidariedade, empatia e inclusão, proporcionando ao espectador uma reflexão e compreensão dessa doença que atinge cerca de 2% da população ao longo da vida, estudos apontam que no sexo masculino é mais comum que se perceba na infância antes dos 10 anos e no sexo feminino, no final da adolescência e início da vida adulta esses sintomas são mais comuns.

A forma de apresentação das obsessões e compulsões é bem heterogênea, tais sintomas podem se sobrepor a outros e mudar com o tempo, dentre eles o mais comum está a obsessão por contaminação, na qual o indivíduo acredita estar infectado por microorganismos, rituais de limpeza de evitação compulsiva do objeto que se presume está contaminado são bem característicos nesses casos, mas não são os únicos sintomas.

O TOC faz com que o indivíduo acredite realizar de forma incompleta ou incorreta as suas ações, dessa forma os mesmos se pegam o tempo todo repetindo alguns comportamentos de forma que eles se tornam amenizadores, porém trazem prejuízo para o seu cotidiano.

O TOC representa um problema de saúde significativo, uma vez que na maior parte dos casos interferem no relacionamento social, embora devido ao seu curso crônico seja identificado com muito mais frequência na prática clínica, certas comorbidade neuropsiquiatria podem estar associadas como: distúrbio do humor, distúrbio ansiosos como; fobias e pânico, além de distúrbios de personalidade, esses são os distúrbios psiquiátricos mais encontrados em consonância com o TOC.

Segundo Torres e Smaira (2001) trata-se ainda de um transtorno muitas vezes secreto por várias pessoas, pois ocultam ao máximo seus sintomas e demoram procurar ajuda por vergonha, desinformação, ou até mesmo pela noção preservada da irracionalidade de pensamentos e comportamentos, isso se deve ás vezes pela incapacidade para modulá-los.

Foto de Amel Uzunovic

Acredita-se que pessoas com TOC apresentam um desequilíbrio na interação entre diferentes partes do cérebro

Anatomicamente acredita-se que os sintomas não necessariamente decorrem de disfunção em uma área específica cerebral, mas por um desequilíbrio na interação entre diferentes estruturas, dentre elas os circuitos que possivelmente estão associados são os circuitos pré-frontal dorso lateral, responsável pelo planejamento, execução de estratégias comportamentais, bem como pela memória operacional, cuja atribuição é a de manutenção atencional e supressão de comportamentos socialmente indesejáveis.

Em termos diagnósticos conforme a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V, 2014) as obsessões e compulsões apenas são consideradas patológicas quando consomem tempo, esse diagnóstico é fundamentalmente também baseado na entrevista Clínica.

O tratamento para o TOC em alguns casos, consiste em terapia medicamentosa com uso de inibidores seletivos da Recaptação de serotonina associado a psicoterapia, preferencialmente na abordagem comportamental, pois ela vai apoiar o cliente a encontrar estratégias como, exposição a objetos temidos, pensamentos, situações e desenvolvimento de tolerância, prevenção de rituais compulsivos, a corrigir crenças de interpretações irreais entre outras situações.

Referências

DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais [recurso eletrônico]: [American Psychiatric   Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento   … et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli …   [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre:   Artmed, 2014. <:https://www.academia.edu/51009051/DSM_5_Manual_Diagn%C3%B3stico_e_Estat%C3%ADstico_de_Transtornos_Mentais_2014_ >. Acessado em 12 março. 2023.

TOC TOC. Direção de Vicente Villanueva. Produção de Mercedes Gamero, Gonzalo Salazar-Simpson, Mikel Lejarza Ortiz. Intérpretes: Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Oscar Martínez, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Inma Cuevas, Ana Rujas. Roteiro: Vicente Villanueva, Laurent Baffie. Espanha: Lazona Films, 2017. (90 min.), son., color. Legendado.

TORRES, A.R.; SMAIRA, S.I. Quadro Clínico do Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Rev Bras Psiquiatria 23(supl II): 6-9, 2001.

 

 

 

 

 

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