A Solidão do “Criador” em Rick and Morty

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A série animada “Rick and Morty” é conhecida por sua capacidade de abordar uma vasta gama de temas, muitas vezes com uma abordagem filosófica e crítica. Foi criada por Justin Roiland e Dan Harmon, dois criadores com trajetórias distintas, mas complementares, que se uniram para desenvolver uma das séries de animação mais influentes e populares dos últimos tempos. A série combina a estrutura da ficção científica clássica com um humor sórdido, explorando questões profundas sobre a existência, a moralidade e a condição humana. Tudo isso,  envolta em enredos aparentemente absurdos e hilários.

Uma das principais características da série é a exploração do conceito de multiverso, em que inúmeras versões de realidades alternativas coexistem. Isso permite à série explorar questões sobre identidade, livre-arbítrio e o impacto de nossas escolhas. Em vários episódios, Rick e Morty encontram versões alternativas de si mesmos e lidam com as consequências de suas ações em diferentes realidades. A série frequentemente satiriza aspectos da sociedade moderna, incluindo consumismo, religião, política e o papel da ciência. Rick, com seu cinismo extremo, frequentemente faz críticas contundentes sobre o sentido da vida, questionando valores morais e instituições sociais. Essa abordagem filosófica lembra o niilismo, Rick demonstra uma visão de mundo onde nada tem importância intrínseca, o que contrasta com a tentativa de Morty de encontrar significado e propósito.

No centro de Rick and Morty está a dinâmica disfuncional da família Smith. As interações entre Rick, Morty, Summer (a irmã de Morty), Beth (a mãe) e Jerry (o pai) são uma fonte constante de conflito e drama. A série usa essas relações para explorar abandono, auto-estima, fracasso, e o impacto de traumas geracionais. Apesar do humor sombrio, a série frequentemente revela momentos de vulnerabilidade e afeição entre os personagens, no qual surpreende as expectativas do público sobre o que significa ser uma família.

A série também mergulha em questões de psicologia e existencialismo. Rick, em particular, é um personagem complexo que luta com depressão, alcoolismo e uma visão niilista da vida. Ele é uma representação do “herói trágico” moderno, cuja genialidade é também sua maldição. A série aborda como o intelecto superior: “O Criador”. Este fato o isola dos outros e o deixa preso em um ciclo de autodestruição e vazio existencial.

Embora trate de temas significantemente pesados, Rick and Morty é, acima de tudo, uma comédia. O humor da série é frequentemente absurdo, misturando elementos de cultura pop, ciência e paródias de outros gêneros. A série não tem medo de ser provocativa ou bizarra, utilizando desde piadas simples até referências intelectuais complexas, muitas vezes desafiando o espectador a refletir sobre o significado por trás da comédia.

O que indaga muitas vezes as pessoas se identificarem com essa série, com isso é perceptível que são personagens multifacetados. Dito isso, Rick é um gênio alcoólatra com uma visão cínica da vida, enquanto Morty é um adolescente inseguro lutando para encontrar seu lugar no mundo. Essa complexidade permite que os espectadores se vejam em diferentes aspectos de suas personalidades e lutas.

Apesar do cenário e do humor, a série explora temas universais como o propósito da vida, a busca por significado e a complexidade das relações familiares. Essas questões são abordadas de uma forma que, embora muitas vezes exagerada, compartilha com as experiências e sentimentos do público. Rick and Morty, frequentemente faz comentários sobre a sociedade e a cultura de forma crítica e irônica. Essa crítica, muitas vezes disfarçada de humor, pode fazer os espectadores refletirem sobre suas próprias vidas e o mundo ao seu redor.

Rick: Entre Amor e Controle

No episódio “Auto Erotic Assimilation” de Rick and Morty, a relação entre Rick Sanchez e Unity ilustra complexas dinâmicas de controle e poder dentro dos relacionamentos. Unity, uma entidade coletiva que inicialmente parece ser a solução perfeita para as necessidades emocionais e intelectuais de Rick, acaba se tornando uma metáfora poderosa para explorar o controle narcisista e os impactos sobre a identidade pessoal.

Rick, como uma figura narcisista, utiliza seu relacionamento com Unity para atender suas próprias necessidades de validação e controle. Ele manipula Unity para moldar um mundo ao seu redor que se ajuste às suas próprias expectativas e desejos. Essa dinâmica é analisada por Daniel Martins de Barros em seu livro “O Lado Bom do Lado Ruim”, onde ele explora como situações difíceis podem revelar aspectos de crescimento pessoal e autodeterminação. Barros destaca que “a capacidade de manter a autonomia, mesmo em cenários desafiadores, é essencial para o bem-estar emocional” (Barros, 2020, p.127). Essa afirmação ecoa a luta de Unity ao tentar manter sua própria identidade, enquanto Rick tenta controlá-la.

Unity, por outro lado, enfrenta um dilema emocional significativo. Inicialmente, a assimilação de outras consciências e a adaptação ao desejo de Rick parecem oferecer uma forma de felicidade e integração. No entanto, à medida que Unity começa a recuperar sua própria identidade e questionar o controle de Rick, ela se depara com um conflito interno sobre manter sua integridade ou se submeter novamente ao controle de Rick. Segundo Barros, “a preservação da identidade em contextos de pressão emocional é fundamental para a saúde mental e para a realização pessoal” (BARROS, 2020, p. 128). A decisão de Unity de se afastar de Rick é um reflexo direto dessa necessidade de preservar sua autonomia e evitar a manipulação emocional.

Fonte: br.pinterest.com

Esse episódio demonstra como o controle narcisista pode corromper a autenticidade e a saúde emocional dos relacionamentos, ilustrando a importância de manter a integridade pessoal e a autonomia, mesmo em face de uma conexão emocional intensa. A luta de Unity para manter sua identidade é um exemplo claro da necessidade de proteger a própria autonomia em qualquer relação que envolva controle e manipulação.

O episódio “Auto Erotic Assimilation” também ilustra o conceito de ciclo de abuso, conforme discutido pela psiquiatra brasileira Ana Beatriz Barbosa Silva em seu livro “Mentes Perigosas: O Psicopata Mora ao Lado”. Silva descreve como, em muitos relacionamentos abusivos, existe um padrão recorrente de tensão crescente, seguido por um incidente de abuso, e posteriormente uma fase de reconciliação ou “lua de mel”, onde o abusador promete mudar ou se arrepende (Silva, 2008).

No episódio, vemos uma variação desse ciclo. A presença de Rick inicialmente “liberta” Unity, levando-a a excessos que desestabilizam o equilíbrio da entidade. Enquanto Unity se entrega a festas e indulgências sob a influência de Rick, ela começa a perceber o impacto negativo que ele exerce sobre sua vida. Silva explica que “o ciclo de abuso é marcado por uma repetição de padrões que reforçam a dependência e a destruição emocional”. Ao perceber isso, Unity decide romper o relacionamento para preservar sua integridade, uma decisão difícil, mas necessária para interromper o ciclo de destruição.

Unity representa a vítima que reconhece o ciclo de abuso e, ao tomar a difícil decisão de sair do relacionamento, preserva sua própria saúde emocional e mental. Como Silva afirma, “o reconhecimento do ciclo é essencial para que a vítima possa tomar as rédeas de sua vida e interromper a sequência de abuso”. Ao decidir deixar Rick, Unity dá um passo crucial em direção à sua autonomia e bem-estar.

Rick Sanchez, o protagonista de Rick and Morty, frequentemente demonstra traços de narcisismo exacerbado. Ele é apresentado como uma pessoa que possui uma confiança inabalável em sua própria inteligência e habilidades, mas que simultaneamente exibe uma profunda falta de consideração pelos sentimentos e necessidades das outras pessoas. Este comportamento é típico de indivíduos com traços narcisistas, que frequentemente acreditam que são superiores aos outros e merecem tratamento especial.

César Souza, em seu livro “Você é o Líder da Sua Vida”, explora como o narcisismo pode influenciar negativamente tanto o próprio indivíduo quanto as pessoas ao seu redor. Souza discute como a busca incessante por validação e superioridade pode levar ao isolamento emocional e a relacionamentos destrutivos, características que são claramente observáveis em Rick. Segundo Souza, “um líder narcisista frequentemente aliena aqueles ao seu redor ao priorizar suas próprias necessidades e desejos acima dos outros” (Souza, 2016). Essa alienação é evidente na vida de Rick, onde sua incapacidade de se conectar emocionalmente com os outros o deixa profundamente isolado, apesar de suas realizações intelectuais.

No episódio “Auto Erotic Assimilation”, vemos como o narcisismo de Rick o leva a interações disfuncionais com Unity, uma entidade coletiva que, inicialmente, atende às suas necessidades emocionais e físicas. Contudo, quando Unity começa a recuperar sua autonomia e questiona o relacionamento, Rick tenta buscar novamente o controle, resultando em um colapso emocional. A tentativa de Rick de dominar Unity espelha o que Souza descreve como “a tendência dos narcisistas de manipular os outros para manter sua autoimagem e controle” (Souza, 2016).

Essa dinâmica ilustra como o narcisismo pode destruir relacionamentos, corroendo tanto o narcisista quanto as pessoas ao seu redor. Rick é incapaz de manter relações saudáveis porque sua necessidade de controle e validação supera sua capacidade de genuinamente se conectar com os outros. A decisão de Unity de deixar Rick, apesar de sua conexão, reflete a importância de preservar a autonomia emocional e evitar relações onde o narcisismo domina.

Unity, como uma entidade que controla mentalmente uma sociedade inteira, levanta questões profundas sobre identidade e livre-arbítrio. Rossandro Klinjey, em seu livro “Help: Me Eduque!”, aborda como a perda de identidade individual pode ser uma consequência de uma dependência excessiva em outra pessoa ou em uma entidade maior. Klinjey discute como, em relações onde há uma fusão excessiva de identidades, a individualidade de cada parceiro tende a se diluir, resultando em uma forma extrema de codependência.

No episódio, Unity representa essa perda de identidade ao assimilar outros seres e suprimir suas individualidades em favor de uma mente coletiva. Klinjey explica que, quando uma pessoa se anula em prol de outra, seja em uma relação amorosa ou em um contexto mais amplo, ela corre o risco de perder sua essência e, com isso, sua capacidade de tomar decisões autônomas (Klinjey, 2017).

Além disso, Unity enfrenta um dilema interno: continuar com Rick e arriscar perder sua estabilidade, ou se separar dele para preservar sua integridade. Esse dilema reflete a luta de muitas pessoas em relacionamentos tóxicos, que, apesar de reconhecerem o impacto negativo da relação, encontram dificuldade em sair dela devido à intensa conexão emocional. Klinjey afirma que a capacidade de preservar a própria identidade dentro de um relacionamento é essencial para a saúde emocional, e que o livre-arbítrio deve ser exercido para evitar que uma pessoa se perca completamente na outra (Klinjey, 2017).

Assim, a decisão de Unity de deixar Rick para manter sua integridade é um passo crucial para romper com a codependência e preservar sua individualidade. Essa narrativa ressoa com as reflexões de Klinjey sobre a importância de manter a autonomia e a identidade pessoal, mesmo dentro de relacionamentos íntimos, onde o equilíbrio entre conexão emocional e independência é fundamental para a saúde psicológica de ambos os parceiros.

As referências a autores brasileiros contemporâneos, como Daniel Martins de Barros, Ana Beatriz Barbosa Silva, César Souza e Rossandro Klinjey, acrescentam uma camada de profundidade à análise desses temas. Barros, explora como o controle emocional e a manipulação podem desestabilizar a saúde psicológica, um conceito que se aplica à relação entre Rick e Unity, Silva discute como o ciclo de abuso emocional pode prender indivíduos em padrões destrutivos, enquanto Souza ilustra os efeitos corrosivos do narcisismo de Rick sobre seus relacionamentos. Klinjey, por sua vez, destaca a importância de manter a autonomia emocional e a identidade pessoal em face de relações que ameaçam a individualidade.

Unity, ao reconhecer o impacto negativo de Rick sobre sua coesão e decidir se afastar, exemplifica a luta por preservação da identidade e exercício do livre-arbítrio em situações de codependência. A decisão de Unity de romper com Rick para manter sua integridade emocional reflete o que Klinjey descreve como essencial para a saúde emocional: a capacidade de preservar a própria identidade e exercer o livre-arbítrio em relacionamentos.

Essa narrativa reforça a mensagem de que, para alcançar relacionamentos saudáveis, é crucial reconhecer e interromper ciclos de abuso, resistir ao narcisismo que desumaniza o outro e preservar a autonomia emocional. Rick and Morty nos lembra que a verdadeira conexão, deve ser construída sobre a base do respeito mútuo e da independência, sem comprometer a integridade de nenhum dos parceiros envolvidos.

No final, o episódio serve como um poderoso lembrete dos altos custos emocionais associados a relacionamentos disfuncionais e da importância de proteger a própria integridade emocional. Rick and Morty demonstra, através da narrativa de Rick e Unity, que a busca por controle e poder nas relações não só prejudica os outros, mas também desintegra quem exerce esse controle. Por isso, preservar a própria identidade e autonomia é essencial para o bem-estar emocional em qualquer relacionamento.

Referências: 

BARROS, Daniel Martins. O Lado Bom do Lado Ruim. São Paulo: Planeta do Brasil, 2014.

KLINJEY, Rossandro. Help: Me Eduque! São Paulo: Academia, 2017.

RICK and Morty. Auto Erotic Assimilation. Direção de Bryan Newton. Roteiro de Dan Harmon e Justin Roiland. EUA: Adult Swim, 9 ago. 2015. Disponível em: <link>. Acesso em: 22 ago. 2024

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Perigosas: O Psicopata Mora ao Lado. 6. ed. Rio de Janeiro: Fontanar, 2018.

SOUZA, César. Você é o Líder da Sua Vida: E Se Você Não Lidar Bem Consigo, Como Vai Lidar com os Outros? Rio de Janeiro: Alta Books, 2016.

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The Midnight Gospel: uma reflexão sobre a morte e a busca pelo perdão

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The Midnight Gospel, uma série animada criada por Duncan Trussell e Pendleton Ward, destacou-se por seu formato inovador e temáticas profundas. Lançada na Netflix em 2020, a série combina uma estética psicodélica com diálogos filosóficos e espirituais que busca trazer ao espectador, reflexões sobre questões existenciais. A animação nos convida a uma jornada introspectiva pelos confins do multiverso. No episódio 4, “Ordenando um Corvo”, o protagonista Clancy, em mais uma de suas aventuras intergalácticas, encontra-se em um mundo medieval ao lado da Milady Trudy. Juntos, embarcam em uma jornada de vingança que, aos poucos, se transforma em uma profunda reflexão sobre o perdão. Milady Trudy, é uma figura complexa que encarna muitos dos temas centrais explorados na série. Ela é retratada como uma mulher medieval que vive isolada, contudo tendo alguns companheiros a qual busca quando necessário. Dominada por sentimentos de raiva, ressentimento e desejo de vingança, seu personagem serve como um símbolo da luta interna que muitas pessoas enfrentam ao lidar com emoções dolorosas e traumas do passado.

A temática do perdão, central neste episódio, é explorada de forma poética, psicológica e filosófica, utilizando analogias e metáforas que nos convidam a questionar nossas próprias crenças e valores. A Milady Trudy, com sua carga de ressentimento e desejo de vingança, personifica a dificuldade que muitos de nós enfrentamos em perdoar aqueles que nos feriram. A metáfora das “barras”, utilizadas por Clancy para representar as memórias dolorosas do passado, é particularmente reveladora. Ao carregarmos essas barras, carregamos também o peso emocional das experiências negativas, o que pode nos impedir de seguir em frente. Segundo Maraldi (2017), o perdão envolve um processo psicológico multifacetado, que inclui a tomada de decisão consciente de perdoar, a elaboração emocional das ofensas e o cultivo de sentimentos de compaixão e empatia. Ele enfatiza que o perdão é fundamental para a promoção do bem-estar psicológico e a recuperação de relacionamentos saudáveis”.

Fonte: Netflix – The Midnight Gospel

A jornada de Milady Trudy e Clancy nos mostra que o perdão é um processo gradual e complexo. A busca por vingança, muitas vezes, é uma forma de tentar recuperar o controle sobre uma situação que percebemos como injusta. No entanto, ao nos apegarmos à raiva e ao ressentimento, é nosso próprio bem-estar que colocamos em risco.

Além disso, o episódio aborda a importância do mindfulness e da aceitação, que são conceitos centrais na Psicologia contemporânea. A prática de mindfulness, que envolve estar presente no momento e aceitar a realidade como ela é, pode ser vista na maneira como o personagem aceita sua morte inevitável. Mindfulness ou Atenção Plena é o termo ocidental para denominar a prática de meditação praticada no Zen Budismo. Jon Kabat Zinn idealizou o programa “Redução de Estresse Baseado em Mindfulness (Mindfulness Based Stress Reduction – MBSR)”. O termo Mindfulness traduzido para o inglês é conhecido como “Atenção Plena” (GERMER, SIEGAL & FULTON, 2016). Contudo, a tradução não corresponde com a amplitude da prática Jon Kabat-Zin (2017, p.26), que inclui prestar atenção de maneira particular no propósito, no presente e o mais importante, sem haver julgamentos.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) explora a aceitação incondicional como uma maneira de lidar com o sofrimento, e essa filosofia está fortemente presente nas interações entre Clancy e Trudy que ele entrevista. Estudos empíricos sugerem que a aceitação é uma estratégia eficaz para lidar com o luto e a ansiedade relacionada à morte, o que reforça a relevância das ideias apresentadas no episódio. Socialmente estamos cada vez mais conectados, em contrapartida tendemos a nos desconectar de nós mesmos e dos nossos momentos (Kabat-Zinn 2017, p. 91).

A solidão, outro tema recorrente no episódio, está intimamente ligada à dificuldade de perdoar. A Milady Trudy, isolada em seu castelo, busca consolo na vingança, na tentativa de preencher o vazio interior causado pela perda de seu amado. A série nos mostra que a conexão com os outros é fundamental para nossa saúde mental e que o perdão pode ser um caminho para superar a solidão e encontrar um novo sentido para a vida. Essa solidão pode ser vista como um reflexo de uma sociedade individualista, onde as conexões humanas autênticas se tornam cada vez mais raras. A busca pela vingança, nesse contexto, pode ser interpretada como uma tentativa desesperada de se conectar com algo maior do que si mesma, a ausência de uma comunidade solidária e acolhedora dificulta a superação do trauma e a busca pelo perdão.

A estética visual de “Ordenando um Corvo” é um elemento fundamental para a construção do significado e da atmosfera do episódio. A animação psicodélica, as cores vibrantes e as formas orgânicas criam um universo onírico e surreal que reflete a complexidade dos temas abordados. A animação pode ser vista como uma representação visual do interior da mente de Milady Trudy. As cores vibrantes e as formas distorcidas refletem a turbulência emocional que ela experimenta.

Muitas das imagens utilizadas no episódio possuem um significado simbólico. Por exemplo, o corvo pode ser interpretado como um símbolo da morte ou da má sorte. A natureza é representada de forma exuberante e selvagem, contrastando com a artificialidade do castelo de Milady Trudy. Essa oposição pode ser interpretada como uma metáfora da luta entre a natureza humana e a civilização.

“Ordenando um Corvo”, nos convida a uma profunda reflexão sobre a natureza do perdão, e a importância de cultivar relacionamentos saudáveis. Ao explorar os conceitos de perdão, solidão e busca por sentido, o episódio nos mostra que a jornada de autoconhecimento é um processo contínuo. A série como um todo, nos presenteia com uma obra que transcende a ficção científica, oferecendo ferramentas para lidarmos com as complexidades da vida e encontrar paz interior.

Referências 

GERMER, Christopher K; SIEGEL, Ronald D.; FULTON, Paulo R. Mindfulness e psicoterapia. Tradução: Maria Cristina Gularte Monteiro; rev. Melanie Ogliari Pereira. -2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

KABAT-ZINN, J. Viver a catástrofe total: como utilizar a sabedoria do corpo e da mente para enfrentar o estresse, a dor e a doença; tradução de Márcia Epstein; prefácio de Thich Nhat Hann. – Ed. rev. e atual – São Paulo: Palas Athena, 2017.

MARALDI, Everton de Oliveira. Perdão e espiritualidade na psicologia: uma revisão de literatura e considerações para pesquisa no Brasil. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 22, p. 119-130, 2017.

WARD, Pendleton; TRUSSELL, Duncan. The Midnight Gospel. Los Angeles: Netflix, 2020. Disponível em: https://www.netflix.com. Acesso em: 16 ago. 2024.

 

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Isso é amor? canção looney tunes “estamos apaixonados”.

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Um pouco sobre amor patológico através da canção: ‘’estamos apaixonados’’ Looney Tunes Song.

Looney tunes show (2011) é uma série animada, produzida pela Warner Bros e reproduzida pela stream HBO. A série  mostra a vivência e interação dos clássicos personagens Patolino e Pernalonga, com seus  inúmeros vizinhos do mundo Looney que aparecem com uma nova cara e novas personalidades. Cada episódio nos traz um tema, e no meio desses episódios são reproduzidos um curta metragem intitulado como  ”Merrie Melodie’’ um clássico de curtas produzidos pela Warner entre 1931 a 1969. Que em 2011 ganharam uma versão mais atual e repaginada.

No episódio 11 intitulado ‘’o descascador’’ (PT, BR.) encontramos a ‘’merrie melodie’’ ‘’Estamos apaixonados’’, na qual a personagem Lola, resolve declarar todo o seu ’’amor’’ por Pernalonga. É uma canção interativa, que acaba por virar um diálogo entre os dois. 

Letra

(Lola)Eu quero te dizer uma coisa que eu tenho pensado

(Pernalonga) Ah tô meio ocupado

(lola) Que o nosso amor está cada mais forte em nós dois

(Pernalonga) Amor? Pera,aí

(Lola) É fácil ver que está se afirmando

(Pernalonga)Afasta um pouco

(Lola) E dentro do seus olhos vejo que você se sente igual

(Pernalonga)Tá me sufocando

 

(isso é amor)

(Lola)Hoje eu quero só você

(isso é amor)

(Pernalonga)Eu acho que é melhor correr

(isso é amor)

(Pernalonga) Congestionou a linha

(isso é amor )

 

(Lola) Sim isso é coisa minha

(Pernalonga) Tenho que dizer que você é muito linda

(Lola) Lindão!

(Pernalonga) Mais também e muito doida

E me faz querer mudar para a bolívia

(Lola) Vou com você

(Pernalonga) Eu penso em pedir um mandado de afastamento

(Lola) Isso é difícil conseguir

(Pernalonga) Pois seu carro eu vejo me minha porta toda a noite,sim

(Lola) Vizinho gentil

(Pernalonga) E por sua causa que eu fecho as cortinas

(Lola) Eu olho pela chaminé

(Pernalonga) Eu instalei alarmes com detectores de movimentos

(Lola) Eu sei o código

(isso é amor)

(Pernalonga) Vê se dá um tempo

(isso é amor)

(Lola) Tempo esgotado

(isso é amor)

(Pernalonga) Você se mudo pra cá

(isso é amor)

(Lola) Sim,eu vim morar aqui

(isso é amor)

Não é não!!!

Seria esse um relacionamento tóxico? ou o Pernalonga apenas deveria ser uma pessoa mais aberta  e falar sobre seus reais sentimentos? Antes de iniciarmos tais especulações, precisamos dimensionar; afinal o que é amor? No dicionário Oxford languages amor se define por uma forte afeição por outra pessoa. Na bíblia livro cristão, encontramos em coríntios (13:4-7) o amor como algo paciente, que tudo crê, tudo suporta, tudo espera, onde não há inveja, nem orgulho, um ato marcado pela bondade, pela paciência e pela verdade. Sendo considerado por muitos como o ideal de amor. Mas existe um ideal de amor, ou um amor ideal? Ao longo de sua obra platão hierarquiza diferentes discursos sobre amor, e a certeza que ele consegue ter é que sua origem vem de muito longe, e o que temos sobre o amor na verdade é uma sequência fragmentada de múltiplos e heterogêneos discursos, onde existem falhas, hiatos e silêncio, nunca um discurso inteiro e contínuo (PESSANHA,  2022). Então o fato que podemos reconhecer  é o amor como algo subjetivo, inerente a cada um, a forma de sentir, de expressar, ou até mesmo de guardar tais sentimentos. 

Como definido por platão amor e palavra estão intrínseca e definitivamente ligados, o amor é sobretudo um discurso. No diálogo com Lísis, Platão  mostra que o amor passional é escravizante, avassalador, e contrapõe-se a outro tipo de amor, o amor baseado no aprendizado, no saber um amor que liberta. Dando continuidade a essa ideia, no diálogo de o banquete (380 a.c) Platão reúne grande variedade de recursos e estilos literários para encerrar a selvageria do amor/paixão de Alcebíades. Enxergamos aqui o amor passional como algo negativo, que consome e leva o sujeito a inúmeras idealizações que se distanciam da realidade, tornando o sujeito alguém alienado às suas próprias ideias. Baseado nesse conhecimento podemos perceber  através da canção, esse amor passional, e obsessivo que Lola alimenta por Pernalonga.

Muitos são os motivos que levam uma pessoa a  desenvolver formas ‘’incorretas’’ de demonstrar carinho e  afeto, como aponta  a psicóloga Fernanda Brito (2021). Um deles pode ser o medo exagerado de perder a pessoa. O  problema é que esse mesmo medo não deixa o amor ser leve, e acaba criando quadros de amor obsessivo e de sufocamento, que só prejudicam o desenrolar da relação. Pernalonga até considera ter sentimentos por Lola:

            

              ‘’Tenho que dizer que você é muito linda

                            Mas também e muito doida

  E me faz querer mudar para a bolívia’’  (Pernalonga)

Mas essa obsessão que ela carrega por ele, acaba o afastando ainda mais, fazendo com que ele enxergue tudo isso como loucura, não permitindo que fluam sentimentos sinceros. Lola pode ser identificada  em um quadro de amor patológico, caracterizado  pelo comportamento de prestar cuidados e atenção ao parceiro, de maneira repetitiva e desprovida de controle. Pernalonga tenta várias vezes afastar ela, mas mesmo assim, Lola dá um jeito de conseguir burlar as barreiras que ele impõe, motivada por seu ‘’sentimento incodicional’’ e fora da realidade, mas que por muitas vezes a  mesma não consegue perceber.  

Um estudo feito em 2004 pela psicóloga Eglacy  Sophia publicado pela revista Synapsis identificou que entre o amor patológico e a dependência química coexistiam seis critérios em comum, um exemplo são os sinais de abstinência  que surgem quando o parceiro está distante, além de dedicação de tempo e energia exagerados para o parceiro, comprometendo as  atividades anteriores.A pessoa que sofre de amor patológico tem atitudes bem peculiares em relação ao parceiro, tais atitudes fogem do controle e muitas vezes invadem a liberdade do outro, trazendo desentendimentos entre ambos.

(Pernalonga) Eu penso em pedir um mandado de afastamento

(Lola) Isso é difícil conseguir

(Pernalonga) Pois seu carro eu vejo me minha porta toda a noite,sim

(Lola) Vizinho gentil

(Pernalonga) E por sua causa que eu fecho as cortinas

(Lola) Eu olho pela chaminé

 É Importante entender que a essência desta patologia não é o amor, mas sim o medo como aponta a psicóloga Thaiana Brotto (2014) logo as atitudes de espionagem e desconfiança apesar de trazer grande desconforto ao relacionamento, proporcionam um alívio destes temores. Também é importante destacar que atos de  stalking e perseguição podem ser caracterizados como crime apontados na  Lei 14.132/21, que entrou em vigor na data de sua publicação (1º/04/21).

De uma forma cômica vemos um comportamento problemático, que pode estar presente em muitas relações. Autores recentes identificam que a atitude de fixar atenção e cuidados em relação ao companheiro é esperada em qualquer relacionamento amoroso saudável. Porém quando ocorre a falta de controle e liberdade, de tal forma que um sujeito se anule e anule o outro, foge dos limites se tornando algo patológico. Podendo estar presente em outros transtornos, se associando a sintomas depressivos e ansiosos, ou ocorrendo de forma isolada em personalidades vulneráveis, com baixa autoestima, sentimentos passivos de raiva e rejeição (Sophia,Tavares e Zilberman, 2007)

 

(Pernalonga) Vê se dá um tempo

(isso é amor)

(Lola) Tempo esgotado

(isso é amor)

(Pernalonga) Você se mudo pra cá

(isso é amor)

(Lola) Sim,eu vim morar aqui

A ’’ solução’’ para esse problema não é se mudar invasivamente para o apartamento da pessoa desejada, como Lola fez, mas sim quem sabe dar o tempo maior  que Pernalonga pediu, e ir em busca de um profissional. Ao ponto de que o mesmo possa partir de uma avaliação, havendo um critério diagnóstico, poderá ser oferecido um melhor suporte para o controle de atitudes e pensamentos destrutivos ao relacionamento e ao próprio indivíduo.

  O amor patológico não é determinado apenas por fatores culturais como aponta a psicóloga Elgacy Cristina (2021) Lola precisa de ajuda tanto quanto Pernalonga precisa da sua liberdade, ela deve se responsabilizar por suas atitudes, mas antes é importante que ela possa criar consciência  de que isso não é um comportamento saudável.  

Outro ponto é que tudo que Lola expressa na canção, ela diz “isso é amor” mas sabemos que   NÃO É NÃO!  Como já deixou claro Pernalonga. É apenas uma visão distorcida daquilo que ela enxerga como amor.

Lola desrespeita os sentimentos de Pernalonga e os seus limites, a isso deve-se ter uma atenção e cuidado, pois existem diferentes tipos de relacionamentos não saudáveis, existindo emoções e comportamentos prejudiciais que precisam ser identificados e solucionados. Embora  esses comportamentos estejam partindo de Lola, não são exclusivos de um gênero, podendo acometer todos os diferentes tipos de relação, até mesmo relações não românticas. Por isso é bom estarmos atentos a entendermos aquilo que nos faz mal, sermos conhecedores de nossos limites e de nossos direitos, assim estaremos prontos para buscar  ajuda ou oferecer ajuda a alguém.

 

 

 

REFERÊNCIAS

BRITO, Fernanda. Amor obsessivo: quais os sinais e o que fazer? desenvolver 2021. Disponível 

em<https://desenvolviver.com/relacionamentos-amorosos/amor-obsessivo-quais-os-sinais-e-o-que-fazer/#:~:text=Relacionamentos%20amorosos%20traum%C3%A1ticos%20tamb%C3%A9m%20podem,para%20evitar%20uma%20nova%20perda.> acesso em 25 de abr de 2022.

BROTTO, Thaiana. Amor patológico: limites e características. Psicologia e terapia, 19 de outubro de 2014, Paraná. disponível em <

https://www.psicologoeterapia.com.br/blog/amor-patologico/.> Acesso em 25 de abr de 2022.

COSTA, Adriano. FONTES, Eduardo. HOFFMANN, Henrique. Stalking: o crime de perseguição ameaçadora. Consultório  jurídico, 6 de abril de 2021. Disponível em <

https://www.conjur.com.br/2021-abr-06/academia-policia-stalking-crime-perseguicao-ameacadora> acesso em 25 de abr de 2022

MEDEIROS, Roberta. O cérebro apaixonado e o transtorno do amor patológico.Synapsis. 21 de maio de 2021. Disponível em <https://sinapsys.news/o-cerebro-apaixonado-e-o-transtorno-do-amor-patologico/> acesso em 25 de abr de 2022.

PESSANHA, José. Platão: as várias faces do amor. Arteepensamento 1987 Disponível em <https://artepensamento.ims.com.br/item/platao-as-varias-faces-do-amor/> acesso em 25 de abr de 2022.

Sophia, Elgacy C, Tavares, Hermano e Zilberman, Monica LAmor patológico: um novo transtorno psiquiátrico?. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 2007, v. 29, n. 1 [Acessado 26 Abril 2022] , pp. 55-62. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44462006005000003>. Epub 04 Ago 2006. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44462006005000003.

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Luca: lições entre a razão e a amizade

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Luca é um filme produzido pela Pixar em parceria com a Disney, lançado em 18 de junho de 2021, disponível na plataforma de streaming Disney. Nesse filme acompanhamos a história de dois seres marinhos, Luca e Alberto, que resolvem se aventurar além do fundo do mar. Ao encontrarem uma riviera italiana (cidade costeira) passam a viver diversas aventuras, juntamente com sua nova amiga humana Guilia e seu pai Massimo. O filme além de encantar pelas cores, a ótima animação e uma imersão turística, também nos faz pensar o quanto as diferenças de personalidades podem ser potencializadoras, se unidas da melhor forma possível. Vemos isso através dos personagens principais, enquanto Luca é inteligente e cauteloso, Alberto é um espírito livre, que não mede as consequências de suas ações, à junção improvável desses dois amigos, nos leva a entender o poder das relações e como podemos aprender com isso.

A transformação começa de dentro para fora

Fonte: encurtador.com.br/jzGN0

Ao sair da água Luca assume uma forma humana e ao ser molhado suas escamas começam a aparecer se voltando novamente para sua forma marinha. Muito além de uma transformação física, podemos enxergar aqui um simbolismo sobre a transformação da mente. Quando Luca é apenas um monstro marinho ele se limita a vida com seus pais na fazenda, tendo pouco contato com pessoas da sua idade, se vê preso a uma rotina. Ao conhecer Alberto, passa a virar humano mais vezes, quebrando aos poucos as barreiras de seu inconsciente, começando então a vivenciar novas experiências.  O que nos leva a uma segunda lição:

É bom para o cérebro experimentar coisas novas

Fonte: encurtador.com.br/xAGM2

Luca sob a influência de Alberto resolve romper os limites impostos pelo país, indo até a cidade dos humanos, chegando lá se depara com um trânsito caótico, faz uma nova amizade e passa a experimentar diversas coisas como; macarrão, sorvete, melancia e andar de bicicleta. Passa a vivenciar uma cultura totalmente diferente da sua, e chega até mesmo a fazer comparações de como moedas são coisas inúteis e como os humanos nadam de um jeito constrangedor.  Mas é através dessas experiências que Luca vai se desvinculando dos seus medos e receios, e enxergando o mundo por uma nova perspectiva, vivenciando coisas que só existiam no mundo das ideias e das suas perguntas sem respostas.

“A cognição se constitui pelas experiências sociais, e a importância do ambiente nesse enfoque é fundamental”. À medida que aprende, a criança – e seu cérebro – se desenvolve’’ Vygotsky

O poder da amizade

Segundo a revista Perspectives on Psychological Science, manter uma rede de amizades proporciona a redução do estresse, aumenta as defesas do corpo e prolonga a vida, podendo proporcionar hábitos melhores, afugentando depressões e ajudando com doenças.  Lucas e Alberto, são como a metade de dois quebras cabeças que se encaixam, completando um ao outro com que tem em si, Lucas possui uma educação rigorosa dos pais, enquanto Alberto lida com a falta de paternidade. Luca possui uma inteligência culta, enquanto Alberto uma inteligência prática ao se considerar especialista no mundo dos humanos. Enquanto um é a emoção o outro é a razão, assim fazem da amizade uma força mantenedora para caminharem para frente, enfrentando os medos e vivenciado as dificuldades. Quando os dois encontram Giulia, se tornam ainda mais fortes, a mesma traz os ingredientes que faltavam, a delicadeza e a estratégia.

Fonte: encurtador.com.br/fkHOT

A partir daqui contém Spoilers.

Silêncio, Bruno!

Um ponto importante dessa amizade, é como Alberto incentiva Luca a superar seus medos, em uma cena do filme, vemos os dois juntos tentando montar uma vespa, logo depois de juntarem as peça decidem descer uma colina, Luca fica muito inseguro e com medo do resultado. Logo então Alberto grita pra ele ‘’silêncio bruno!’’ Quando Luca questiona quem é Bruno, Alberto diz que é aquela voz na cabeça que fica dizendo que as coisas não vão dar certo. ‘’Bruno’’ seria então a própria revelação do medo inconsciente a qual carregamos.  Embora não seja uma tarefa fácil, calar nossos medos requer um passo de ação e coragem, e muito além disso um autoconhecimento sobre nossos limites. Luca estava limitado a pensar que não chegaria tão longe, Alberto enxerga nele um potencial e o incentiva. Às vezes tudo que precisamos é de um incentivo, não só de terceiros mas de nós mesmos, e entender que no meio do caminho podemos cair porém sem deixar de tentar.

Aceitar as diferenças

O Filme nos mostra como a falta de conhecimento pode ocasionar coisas terríveis, a população da riviera é totalmente contra monstros marinhos, eles acreditam que são criaturas terríveis que causam destruição e que provocam medo, os moradores até mesmo chegam a caçar esses monstros e a terem isso como um troféu. Luca e Alberto têm que se esconder ao máximo para que ninguém descubra sua verdadeira face, pois correm risco de vida. Mas com o passar do filme, ambos vão vencendo os obstáculos e conquistando as pessoas, mostrando sua verdadeira identidade, indo além da aparência, fazendo com que as pessoas passem a compreender melhor que o verdadeiro monstro é a ignorância.

Ir em busca dos seus objetivos é como voar

Luca e Alberto, decidem participar de uma maratona local para concorrer a uma vespa, já que na cabeça de Luca quem tem uma vespa pode voar, ambos juntamente com Giulia se esforçam muito em busca desse objetivo, treinam sem parar, buscar manter o foco e vencer seus obstáculos. Obstáculos esses que se dão até mesmo entre os dois e suas diferenças. A vespa representa um simbolismo de liberdade, não só fisicamente, mas libertação da mente, dos propósitos e das amarras, nesse momento de clímax Luca expõem mais suas ideias tentando se desvincular apenas daquilo que aprendeu com Alberto, buscando experiências que passa a experimentar sozinho, descobrindo coisas por si só.  O que de início abala a amizade dos dois. Logo depois dos dois conseguirem fazer essa separação e se entenderem conseguem mostrar para a cidade sua real identidade.

Fonte: encurtador.com.br/xAGM2

O conhecimento abre portas

Fonte: encurtador.com.br/jwJ48

Luca sempre se mostra muito curioso, se vislumbrando a cada descoberta, ao se deparar com os livros de ciência de Giulia decide que precisa ir além, emergindo ainda mais no conhecimento sobre o mundo humano, e numa simbologia de que devemos sempre caminhar pra frente, Luca parte em um trem rumo a novos acontecimentos e novas descobertas.

“O conhecimento emerge apenas através da invenção e da reinvenção, através da inquietante, impaciente, contínua e esperançosa investigação que os seres humanos buscam no mundo, com o mundo e uns com os outros. O conhecimento é um processo que transforma tanto aquilo que se conhece, como também transforma o conhecedor’’ Paulo   freire

Assim como Luca devemos manter por perto boas amizades, fortalecer nossa identidade, sempre indo em busca do conhecimento, seja ele o conhecimento sobre si próprio ou sobre as diversas coisas do mundo. Devemos manter a curiosidade, vencer os obstáculos através da motivação e a coragem. SILÊNCIO BRUNO!

 

Ficha técnica

Data de lançamento: 18 de junho de 2021 Disney +

Duração: 1h 36min

Gênero: Animação, Família

Disponível em: Disney+

Direção: Enrico Casarosa

Roteiro Jesse Andrews, Mike Jones

Elenco: Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman

Referências

BOTELHO, Bruno. Luca filme 2021. AdoroCinema, 2021. Disponível em:https://www.adorocinema.com/filmes/filme-285584/ > acesso em 20 de fevereiro de 2022

COELHO, Andressa.5 lições de vida para aprender com Luca

turmundonerd, 2021  Disponível em: <https://turnmundonerd.com.br/licoes-para-aprender-com-luca/>. Acesso em 20 de fevereiro de 2022.

Luca  Direção: Enrico Casarosa Produção: Pixar . Disney+ 18 de junho de 2021 duração 1h35 Disponível em: <https://www.disneyplus.com/home>. Acesso em: 24 de junho de 2021.

LUCAS.  Monstros marinhos e terrestres: conheça os personagens de luca. ocamundongo 2021. Disponível em < https://www.ocamundongo.com.br/luca-personagens/> Acesso em 20 de fevereiro de 2022

SALLA, Fernanda. Neurociência: como ela ajuda na aprendizagem. novaescola 2012. Disponivel em <https://novaescola.org.br/conteudo/217/neurociencia-aprendizagem> aacesso em 20 de fevereiro de 2022.

VACCARI, Beatriz. crítica luca/uma Ode as amizades de infância. canaltech, 2021. Disponível em https://www.google.com/amp/s/canaltech.com.br/amp/entretenimento/luca-disney-plus-critica-187158/> acesso em 20 de fevereiro de 2022.

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FLOAT: Sobre celebrar o que seu filho tem de diferente

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“Float” é um curta-metragem de 7 minutos, produzido pela Pixar e lançado em novembro de 2019 para a plataforma de streaming da Disney. A animação conta a estória de um garoto que tem o poder de flutuar, dando nome ao título. O pai tenta por diversas vezes fazer com que o filho permaneça no chão, sem muito sucesso e através de olhares julgadores da vizinhança o mesmo decide isolar a criança, em uma tentativa frustrada de protegê-lo. 

 Como já esperado, um dia as crianças aprendem a voar sozinhas, logo então o garoto sai voando por aí, bem feliz e tranquilo, quando de repente resolve pairar em um playground onde outras crianças estão brincando no chão. Os pais ali presentes olham o garoto com olhar de desaprovação e julgamento, não permitindo que seus filhos se aproximem do menino. Diante um ato desesperado de descontrole em manter o menino no chão, temos a única fala do curta dita pelo pai “Por que você não pode simplesmente ser normal?!”. 

Fonte: Divulgação Disney+

O curta nos mostra a relação e o medo dos pais que cuidam de crianças neurotípicas, os mesmo vivenciam os próprios conflitos e lutam para proteger seus filhos do olhar maldoso e das dificuldades do mundo. Segundo Sassi (2013) Os pais que costumam ter um ideal para receber um filho, não se tornam capacitados para receber alguma “imperfeição” que este possa apresentar, juntamente com a falta de orientação profissional quanto às possibilidades de um transtorno. Logo, quando a criança nasce e se descobre algo assim, os pais passam por uma espécie de luto. 

 A criança só estava feliz em ser ela mesma, vivenciando da sua maneira as experiências e os prazeres da infância, a descoberta pelas coisas do mundo e o desejo de explorar. O final além de emocionar nos ensina (deixo aqui a curiosidade para você ir assistir) nos mostrando sobre aceitação, empatia e a importância de uma base de cuidadores sólida. 

Maia Filho (2016) nos ensina que a família é o primeiro grupo social do indivíduo, sendo então eles os principais responsáveis pelo desenvolvimento de sua criança. Tendo importante papel na formação dos sujeitos, sendo determinante na constituição da personalidade, e de grande influência no comportamento do indivíduo, isso se dá por meio de ensinamentos e ações (Pratta e Santos, 2007). Logo se faz necessário um ambiente acolhedor, de aceitação e cuidados, aliados à busca de tratamentos e informações.

O curta sensibiliza a olharmos com mais cuidado para os pais que estão passando por esse processo, ao mesmo tempo em que causa identificação daqueles que vivenciam essas questões no dia a dia. A informação e a compreensão são fortes aliados a qualquer diferença. No caso do TEA se unem também, um trabalho multidisciplinar entre pais, psicólogos, pedagogos, médicos, enfermeiros e afins.

 No fim temos uma dedicatória do criador para seu filho, De Bobby: “Para Alex. Obrigado por me tornar um pai melhor! Dedicado com amor e compreensão a todas as famílias que têm crianças consideradas diferentes”.

Fonte: Divulgação Disney+

FICHA TÉCNICA

Título Float (Original)
Ano produção 2019
Dirigido por Bobby Rubio (I)
Estreia 12 de Novembro de 2019 ( Mundial )
Duração 7 minutos
Classificação L – Livre para todos os públicos
Gênero Animação Drama Família Fantasia
Países de Origem

Estados Unidos da América

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Pica Pau: influência nos processos de desenvolvimento da criança

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Pica Pau é um personagem da série estadunidense produzido pelo estúdio Walter Lantz, distribuído pela Universal Pictures. Sua criação teve origem em novembro de 1940 pelas mãos dos produtores Walter Lantz e Ben Hardaway(desenhista). Sua primeira aparição foi de forma secundária em um desenho ( Andy Panda). Em 1957 ganhou seu próprio espaço com ” the woody woodpecker” de forma traduzida show do pica pau. Em um primeiro momento, pica pau aparece como um pássaro louco, de cores fortes e chamativas, porém com o passar do tempo, sofreu diversas modificações.

Fonte: encurtador.com.br/gsJ28

Um personagem de época marcante que ultrapassa gerações, embora alvo de críticas por muitos adultos, por ser considerado uma má influência nas crianças, graças a sua personalidade ambígua e teimosa. Muitas vezes taxado como louco, preguiçoso, inconsequente, agressivo, trapaceiro e desonesto, os adultos geralmente esperam que um desenho seja algo inocente com transmissão de alguma lição ou positividade. De acordo com a visão Bettelheim os contos de fada trazem, em suas versões originais, um conteúdo riquíssimo para a formação psicológica da criança. Porém, à medida em que estes contos vão sendo adaptados, com estranha finalidade de “agradar” a sociedade, eles perdem o que tem de mais precioso: sua essência.

É nessa essência que embora pareça um pouco conturbada, podemos notar as diferentes manifestações psíquicas que o desenho nos traz e sua importância no processo de desenvolvimento da criança.

Noção de identificação

O fato de que existem vários personagens que representam o “mal” reforçando a ideia de que, a criança precisa ter algo ou alguém para descarregar a raiva, principalmente a que sente dos pais quando eles a impedem de fazer alguma coisa que queira muito. Os diversos personagens a serem enfrentados, remete para a criança um sentimento de que, o medo ou raiva que sente não é apenas dos pais, e que as mesmas também experimentam esse sentimento com outras pessoas( tios, avós, coleguinhas..) Além do fato de que o Pica-Pau não é sempre o ‘’bonzinho’’ trazendo a ambiguidade que demonstra; pessoas são boas e más .

Fonte: encurtador.com.br/nIK29

Objetos transicionais

Segundo Winicott existem objetos transacionais, que são a representação do próprio ‘’eu’’. No caso do Pica Pau sem dúvidas é sua risada marcante, que além de contar um certo deboche traz à tona conteúdos caóticos. Em um de seus bordões temos a seguinte fala: “‘Siga aquela motoca, siga aquele cavalo, siga aquela carroça, siga aquele chinesinho, siga a flecha, siga o chefe siga-me, olha, eu sou um bombardeiro…” (Pica-Pau). Para a criança não existe o caos, quem controla o mundo é o adulto, por isso elas se identificam muito com as transgressões de ordem.

Aprendendo a lidar com as consequências

O pássaro de cabeça vermelha não mede forças para derrotar seus inimigos, para as crianças os inimigos são os “chatos” e “implicantes” que não deixam elas fazerem o que querem, quando querem, logo elas fazem uma projeção justificando que o ato feito por ele foi certo. Quando ele não se dá bem chegam a ficar um tanto quanto frustradas, porém ao se ”dá mal” mostra às crianças que as mesmas precisam arcar com seus atos.

Vivenciando as diferenças

Em alguns episódios quando se veste de mulher, pode trazer algo representativo para muitas crianças, principalmente aquelas que se encontram em conflitos sexuais. Cada criança aprende e absorve os conteúdos de diversas maneiras, tudo depende do sentimento que passam pela sua mente, de forma inconsciente. Dessa forma o fato do pica pau se vestir de mulher pode ser encarado naturalmente, promovendo uma diversidade e aceitação.

Fonte: encurtador.com.br/dmE39

Não devemos apenas enxergar o personagem com nossa ótica moralista, mas entender que os trajetos do mesmo podem ser um ideal do inconsciente de diversas crianças, embora cada criança seja afetada de formas diferentes, o efeito causado surge no inconsciente ou pré- consciente da criança, emergido de diferentes situações conflituosas. A reflexão que fazemos é que se por um momento mudássemos a ótica do desenho seu sucesso não seria o mesmo, Pica Pau carrega em si um significado passivo de apreensão, principalmente para aqueles que se identificam, mesmo não tendo a mínima intenção de trazer lição alguma.

REFERÊNCIAS

RIBEIRO, Natássia Thais; SANTOS, Márcio dos. Da fantasia à realidade: uma análise, à luz da psicanálise, do desenho animado pica-pau. Campina grande, p. 1-9, 7 out. 2021. Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conages/2014/Modalidade_1datahora_18_05_2014_11_08_50_idinscrito_311_8c139e981403facaf411691b7348b4d4.pdf

PACHECO. Elza. As metáforas do Pica pau. Pesquisa Fasep. 2000 disponível em:https://revistapesquisa.fapesp.br/as-metaforas-do-pica-pau/. Acesso em 07/10/2021.

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Rick Sanchez e o arquétipo do Sábio

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Sem sombra de dúvidas uma das séries de comédia mais promissoras da atualidade é Rick and Morty (2013). Concebida pelas mentes de Dan Harmon e Justin Roiland, a série trata de um cientista super inteligente de nome Rick Sanchez, que inventou uma tecnologia que o permite viajar entre as dimensões, a qualquer momento que desejar. Ele acaba arrastando seu neto, Morty Smith para as mais surpreendentes aventuras nos confins das dimensões e nos cantos mais surpreendentes de um universo muito rico em personagens e cenários variados.

Até o presente momento o seriado segue com cinco temporadas, a quinta ainda se encontra em processo de lançamento, e a produção trata de diversos temas que transcendem a comédia escrachada que aparenta ser na superfície, como niilismo e algumas vertentes filosóficas, ciência e religião se confrontando, além de aspectos pessoais profundos da psique dos protagonistas. 

 

Rick (à esquerda) e Morty (à direita) Fonte: https://img.ibxk.com.br/2021/03/30/30154331662236.jpg

 

Rick é um homem velho e que deseja viver sem consequências pois sua vida aparenta ser sem sentido e transitória, devido a sua capacidade de estar em qualquer lugar que desejar a qualquer momento; Morty por sua vez se encontra na adolescência e apesar de gostar da maioria das aventuras, passa por momentos de trauma extremos e se vê ao longo da jornada se questionando quanto de sua vida adolescente está perdendo por se dispor a estar sempre na jornada com seu avô.

O primeiro protagonista vive na dualidade entre dois aspectos de sua personalidade: um criador onipotente que pode alcançar qualquer objetivo através da ciência e sua inteligência e conhecimento quase que ilimitados no que diz respeito aos fatos que o seriado expõe ao espectador. Essas duas características de sua personalidade podem ser associadas a dois arquétipos propostos na teoria de Carl Gustav Jung: O Sábio e o Mago.

Fonte: https://img.ibxk.com.br/2021/06/18/18152819417245.jpg?w=704&h=264&mode=crop&scale=both

 

O Arquétipo da Sabedoria e da Inteligência

 

Em Carl Gustav Jung encontramos a definição para o Velho Sábio e sua função na simbologia e na psique humana. Em algumas literaturas também conhecido como Senex (termo latino para Homem Velho), Eremita, ou simplesmente sábio. Este como tantos outros é um dos arquétipos que acompanham a humanidade em seu desenvolvimento histórico e psicossocial, emergindo do Inconsciente Coletivo por meio de simbologia primeva e facilmente reconhecível, afinal, todos conhecem um velho sábio:

A figura do Velho Sábio pode evidenciar-se tanto em sonhos como também através das visões da meditação (ou da “imaginação ativa”) tão plasticamente a ponto de assumir o papel de um guru, como acontece na índia . O Velho Sábio aparece nos sonhos como mago, médico, sacerdote, professor, catedrático, avô ou como qualquer pessoa que possuía autoridade. (JUNG, 2018, p.213)

Representação clássica do Velho Sábio – Fonte: https://www.ednapinson.com.br/wp-content/uploads/2020/07/eremita-tarot.jpg

 

Ou seja, algum ser que representa sabedoria, inteligência e diligência, geralmente associado à imagem de um homem velho, um eremita, que vem auxiliar o herói de alguma jornada a trilhar seu caminho. No caso de Rick Sanchez, nos episódios que retratam seu passado é possível notar como isso já se encaixou melhor com sua persona; em “The Rickshank Rickdemption” (SE 03; EP 01), em um vislumbre de seu passado – mesmo que alegadamente inventado, mas as projeções da mente geralmente não enganam – Rick aprende da pior maneira possível os riscos de sua inteligência isso modifica sua maneira de ver o mundo e alterou essa representação de Sábio contida dentro de sí.

Ainda em Jung nota-se que:

O mago é sinônimo do velho sábio, que remonta diretamente à figura do xamã na sociedade primitiva. Como a anima, ele é um daimon imortal que penetra com a luz do sentido a obscuridade caótica da vida. Ele é o iluminador. o professor e mestre, um psicopompo (guia das almas) de cuja personificação nem NIETZSCHE, o “destruidor das tábuas da Lei”, pôde escapar. (JUNG, 2018, p.46)

Além de fisicamente ser um homem velho pois no seriado fica claro que sua idade ultrapassa os 70 anos, Sanchez é o mago que cria as coisas ao seu redor; é o professor que ensina tudo a seu neto; é o velho experiente com muito a contar sobre o mundo; mas também é o eremita bêbado que traz uma profecia de desgraça e destruição a tudo que o cerca; uma representação bem característica do desequilíbrio e desintegração do arquétipo com a psique.

A Síntese de Rick

 As narrativas dos episódios vão girar em torno dessa trajetória de aprendizagem dos dois sobre si mesmos e das consequências que as aventuras vividas por eles – ou a falta destas – geram na personalidade de cada um. Morty vai progredindo e se tornando cada vez mais perspicaz e parecido com seu avô, Rick por sua vez lida com sua inteligência absurda e a faca de dois gumes que esta se torna para ele. Em certa medida é ela que proporciona sua capacidade de viver tudo o que se dispõe a viver, mas é também ela que o tortura pois como ele mesmo alega algumas vezes, todo esse conhecimento soa irrelevante perante a grandeza do universo. O personagem oscila entre se ver como um deus que sabe e pode tudo e um refém de sua própria mente, que se ancora no alcoolismo e nas drogas para viver em fuga de um passado trágico de decisões e escolhas que o perseguem.

E é nesse ponto da vida de Rick que ela esbarra no arquétipo do Sábio. Sua quase onisciência de conceitos científicos o coloca em um pedestal intelectual perante os personagens ao seu redor, porém, ele mesmo faz questão de pôr abaixo qualquer expectativa erguida sobre ele e sobre o mundo à sua volta. Ele é capaz de criar o que quiser com sua inteligência. Mas tudo isso sucumbe a seus conflitos humanos.

 

Fonte: https://img.ibxk.com.br/2021/07/06/06185446319399.jpg

 

Em uma das temporadas mais sombrias, a quarta, Rick vive uma jornada de reencontro com sua Sombra. O fato de ter sido um pai ausente, um péssimo avô em determinadas ocasiões, até mesmo sua arrogância e incapacidade de fazer amizades o levam a experimentar os momentos mais tristes já exibidos no seriado (Se. 04 Ep. 02: The Old Man and the Seat).

Na terceira temporada no episódio Pickle Rick (SE 03, EP 03) ele tem um confronto com uma terapeuta familiar, que em uma cena magistral, demonstra toda a insegurança e soberba de Rick. Ali fica clara a necessidade de ajuste desses aspectos no personagem e a maneira nociva que isso atinge ele e as pessoas ao seu redor. 

 

O resultado das ações de Rick as vezes são desastrosos – Fonte: https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/05/rick-morty-vai-ganhar-mais-70-episc3b3dios.png

 

Rick Sanchez parece precisar integrar sua Sombra e também o Sábio que vive em sua psique com seus aspectos positivos e negativos, para que fique em paz consigo mesmo e possa com mais frequência não destruir universos inteiros apenas por conta de seus problemas pessoais e suas capacidades absurdas. Os seus vícios e comportamentos destrutivos, usando sua inteligência para ferir os que o cercam e mais o amam mostram esse desequilíbrio; o Velho não é mais tão sábio quando se encontra entorpecido em suas dores.

Referências

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo Vol. 9/1. Editora Vozes Limitada, 2018.

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O que a série Caverna do Dragão nos revela

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Caverna do Dragão (Dungeons & Dragons) foi uma série de animação produzida pela Marvel ProductionsTSR e Toei Animation, que tinha como inspiração o jogo de RPG de mesa. Foi exibido nos Estados Unidos entre 1983 e 1985, possuindo 27 episódios, divididos em três temporadas. Sendo somente em 1986 exibido no Brasil, inicialmente nas manhãs de sábado.

Como não se recordar, da grande aventura vivenciada por um grupo de amigos que ficaram presos em um mundo medieval de fantasia, passando a enfrentar diversas aventuras em forma de batalhas, que seriam teoricamente partes de um percurso que deveria ser atravessado para então retornarem ao seu mundo de origem, suas casas.

De imediato conseguimos acessar uma memória afetiva quando nos lembramos das manhãs em que essa série era exibida, no formato de animação em desenho. Sem dúvida, prendia nossa atenção para mais uma aventura desse grupo de amigos que, por muitas vezes chegava tão perto de retornar às suas casas e, por alguma situação permaneciam presos naquele mundo de fantasia. Conseguia deixar em alguns momentos um traço de frustração nos seus telespectadores, ao mesmo tempo que causava motivação para se continuar a assistir o próximo episódio, um misto de sensações que acompanhava as manhãs, tanto do público infantil como também de jovens e adultos.

Fonte: encurtador.com.br/pGKPT

A série trouxe para o seu público a oportunidade de refletir sobre o inesperado, o mistério que envolvia os personagens e os seus comportamentos, o lúdico que se manifestava no formato de super poderes e a busca pelo retorno ao lar. Algo que podemos trazer para o nosso cotidiano, quando de fato as telas nos fazem ampliar o olhar que chega através de uma simples animação.

Com certeza, a frustração do telespectador ao ver que o grupo sempre chegava tão próximo e algo os afastava do seu destino, nos faz compreender o quanto lidar com o inesperado é algo que está predisposto naturalmente em nossas vidas, mas ainda assim pode se constituir em algo desafiador. O mistério em torno dos seus personagens, que necessitava ser decodificado para a compreensão, e ainda como cada um se comportava frente aos obstáculos, com certeza pode ser comumente observado no campo das relações. E ainda os super poderes, que podem ser vistos, como talentos ou habilidades presentes em várias pessoas, como também a busca por estar em lugares ou situações que ofereçam proteção e conforto, podem ser aspectos que a série trouxe para que o seu público se sentisse atraído pelo enredo e ao mesmo tempo contemplado nas diversas situações em que por vezes, o mesmo se aproximava tanto da realidade dos fãs que acompanhavam o desenho.

Então não era uma simples série de animação, mas sim momentos que envolvia entretenimento e reflexões. Sua audiência e as repercussões, indicavam a grandiosidade do impacto causado quando a mesma deixou de ser exibida, ocasionando em vários comentários vindos do público em geral, que clamavam para que fosse dado um final a série acompanhada com apreço por tantos anos, pelos seus fãs. A sensação descrita por muitas pessoas foi de que algo faltava para um encaixe de toda uma trajetória vivida pelos personagens, mas principalmente por todos os momentos em que seu público se voltava para as várias possibilidades de imersão que provocava cada capítulo exibido.

Fonte: encurtador.com.br/arIJ3

Foi assim, que no ano passado, após 35 anos do final de sua conclusão, curiosamente o um grupo de pessoas fieis à série, que atravessa a infância de muitos adultos na atualidade, se reuniram para promover o final que já estava escrito pelo seu autor Michael Reaves, mas que não pôde ser exibido na época, por questões financeiras. Sem dúvida um grande presente a todos que acompanhavam esse desenho e que também sentiam a falta de um final que fosse a culminância dessa caminhada desses personagens que promoveram tantas reflexões e ensinamentos.

Nomeado como “Requiem” ou “capítulo perdido”, o final tão esperado, seria a grande oportunidade de oferecer aos fãs da série um desfecho para uma aventura tão envolvente, e ainda assim promover as últimas valiosas reflexões que o desenho se propunha desde o início. A versão escrita pelo o autor foi reproduzida pelo grupo de fãs, o mais próximo possível, respeitando a ideia do roteiro original elaborado.

No último capítulo, permanece a constante luta entre o bem e o mal presente na série e ainda, a importância de um olhar para as habilidades, que estão por trás de cada super poder de seus personagens, do quanto as relações de amizade podem trazer fortalecimento para se buscar algo desejado, e por fim, da necessidade de se ouvir além das palavras, mas também por diversas outras ações que demonstrem uma realidade.

Para alcançarem o objetivo de voltar para o seu mundo, o grupo de amigos no último capítulo precisaram de unir, sendo os laços de amizade decisivos na decisão de fazer o que deveria ser feito, a representação do mundo da fantasia como uma clausura em que todos estavam envolvidos e só poderiam se libertar, por meio da união, no oferece uma bagagem de reflexões sobre, como os super poderes são mais fortes quando agem em conjunto, e por fim, como as aparências podem nos enganar, quando julgamos e não aprofundamos, de forma a nos distanciar daquilo que reflete como o real, algo que merece ser visto com atenção, para assim ser integrado e até mesmo modificado em nós mesmos.

FICHA TÉCNICA

Formato: Série de desenho animado
Gênero: fantasia/aventura
Criador: Kevin Paul Coates, Mark Evanier, Dennis Marks
País de Origem: Estados Unidos
Temporadas: 3
Episódios: 27
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Steven Universo – uma contribuição midiática para a diversidade

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Steven Universo (ou Steven Universe, nos Estados Unidos) é uma série animada norte americana produzida por Rebecca Sugar para o canal televisivo por assinatura Cartoon Network. A série teve seu início em 4 de novembro de 2013 e teve sua conclusão em 27 de março de 2020.

O desenho animado retrata a história de um garoto de 13 anos (no início da série, porém que aparenta ter bem menos) que sai pelo mundo ajudando suas fortes amigas, e também cuidadoras, em várias aventuras. Steven não é humano, ao menos não totalmente, pois embora seu pai Greg seja humano, sua mãe, Rose Quartz, veio de uma raça alienígena muito distante chamada “Gems”, que são pedras capazes de fazer seu próprio corpo através de luz e que não envelhecem.

Ametista, Garnet e Pérola

Infelizmente, sua mãe precisou dar a própria vida para que Steven fosse capaz de nascer, o deixando aos cuidados de Greg, Pérola, Ametista e Garnet, amigas de Rose, que também são Gems.

Steven Universo aborda diversas temáticas como relacionamentos, amizades, família, amadurecimento, preservação do meio ambiente, resolução de problemas, diversidade, temáticas LGBT, emoções e configurações familiares, tudo isso de forma sutil e gradativa ao decorrer de toda a série.

A série é contemporânea, aborda temáticas atuais, como as citadas anteriormente, e também mostra personagens femininas como protagonistas muito fortes, levando em conta que além de Steven e seu pai, todas as personagens principais da animação são mulheres.

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Além disso, Steven faz parte de uma configuração familiar não-comum, pois Garnet, Ametista e Pérola são suas cuidadoras, e figuras maternas; quebrando a configuração de uma família nuclear, como citado em um de seus episódios.

O que os adultos tem a aprender com Steven Universe? |

Durante toda sua trajetória, Steven encontra diversos problemas, muitos dele os quais ele não consegue resolver inicialmente. Ele conta com ajuda, gradativamente amadurece e vai se tornando um personagem cada vez mais bem desenvolvido. Não só ele, mas as outras personagens também. O desenho aborda dificuldades típicas e outras mais complexas que crianças podem passar, desde se preocupar com animais ou até mesmo a preocupação de fazer novas amizades. A série também aborda a diversidade contemporânea em seus outros personagens, como a mãe de Connie (amiga e paixão de Steven), que é uma médica bem-sucedida e negra.

Ao longo dos episódios, a série retoma e aborda outros assuntos que não são muito falados, ou ainda considerados tabus, de forma bem delicada e bem desenvolvida, como: o relacionamento e casamento de pessoas do mesmo sexo, em que duas personagens femininas formam um casal que se ama e é capaz de se fundir através da magia para estarem sempre juntas.

HeyAlanys: Gif do dia de 14 dias atrás!

Personagens femininas resolvendo seus próprios problemas e sendo heroínas que não dependem de outro homem para isso;

E problemas psicológicos como trauma, ansiedade e baixa autoestima, que afeta tanto adultos quanto jovens e crianças.

Aos poucos, esses e muitos outros assuntos são abordados gradativamente de forma sutil e delicada para o espectador, cheio de fantasias, com um enfoque na naturalidade e capacidade de melhora que os personagens possuem para aceitar ou resolver esses problemas.

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FICHA TÉCNICA

Título Original: Steven Universe
Direção: Rebecca Sugar, Ian Jones-Quartey, Kat Morris, Joe Johnston, Kevin Dart, Elle Michalka, Jasmin Lai, Ricky Cometa, Liz Artinian
Duração: 11 minutos por episódio (5 Temporadas + epílogo)
Classificação: 10 anos
Ano: 2013 – 2020
Gênero: Ação, Animação, Aventura, Comédia, Drama, Fantasia, Ficção científica, Musical, Suspense, Mistério
País: Estados Unidos da América
Onde assistir: Netflix, Cartoon Network

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