Você sabe como sua filha se enxerga?

Compartilhe este conteúdo:

Entrevista para a revista Ana Maria com a psicóloga Fabíola Luciano

Transcrição de Fabíola Bocchi

Transtornos alimentares são mais comuns em meninas adolescentes. E a maneira como os pais se comportam faz toda a diferença no tratamento.

Comer exageradamente ou deixar o estômago vazio por tempo demais: se para uma mulher madura pode ser complicado estabelecer uma relação saudável com a comida, imagina então para uma adolescente.

Nessa fase de mudanças, por um lado existe a preocupação em ser aceita pelos colegas. E por outro, um bombardeio das redes sociais com fotos de atrizes, modelos e “musas” fitness da internet… Todas elas esbanjando um corpo magro e bem definido. Não à toa que estudiosos consideram que, nesta fase, o risco de desenvolver um transtorno alimentar aumenta muito. Leia mais sobre o assunto e saiba como proteger sua filha dessa cilada!

PARA COMEÇO DE CONVERSA:

“Transtornos alimentares são problemas de ordem psicológica”, esclarece Fabíola Luciano, psicóloga colaboradora do ambulatório de bulimia e transtornos alimentares da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Quem sofre com esses problemas tem uma alimentação “disfuncional”, e por isso pode acabar perdendo muito peso, engordando, ou prejudicando a saúde em função disso.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS TIPOS?

ANOREXIA:

Tem como característica a recusa alimentar (e, portanto, a perda de peso). Geralmente, a motivação é uma preocupação extrema com o corpo, um perfeccionismo com relação ao próprio peso. Muitas das pessoas que desenvolvem o distúrbio acabam sofrendo também uma distorção da própria imagem, enxergando seus corpos maiores do que eles realmente são.

BULIMIA:

Quem sofre com o problema come muito compulsivamente. Daí começa a se sentir mal, assume comportamentos compensatórios para eliminar as calorias. Isso pode se dar provocando o vômito ou usando laxantes e diuréticos.

COMPULSÃO ALIMENTAR:

Neste caso a pessoa também se alimenta de maneira exagerada durante alguns episódios. A sensação é de que se está perdendo o controle, pois o comer já não está vinculado à fome: ou seja, a ingestão de comida é muito maior do que a sua real necessidade. Em seguida, vem o sentimento de culpa e de frustração.

Para cada dez mulheres que desenvolvem um transtorno alimentar, apena um rapaz é afetado. “existem questões sociais envolvidas. Em geral são elas que sofrem mais pressão com relação ao corpo e à estética”, ressalta a psicóloga.

Fonte: Revista Ana Maria – Ed. 25

SINAIS DE ALERTA:

Se sua filha (ou seu filho) estiver apresentando comportamentos como estes, puxe uma conversa franca e procure ajuda psicológica:

  • Evita ir a restaurantes e se recusa a comer perto dos familiares;
  • Faz uso de inibidores de apetite, diuréticos ou laxantes;
  • Vai sempre ao banheiro depois de comer;
  • Toma banhos muito longos (e às vezes com música alta tocando);
  • Demonstra preocupação excessiva com o peso;
  • Come descontroladamente ou escondido dos demais.

PARTICIPAÇÃO DOS PAIS:

Quantas vezes, sem perceber, não reforçamos dentro de casa a ideia de que as mulheres devem estar sempre magras? “Fulana era tão bonita, agora está gordinha”, “Essa blusa marca demais a minha barriga…” e até com os próprios filhos dizendo: “Você precisa parar de comer besteiras se não quiser engordar”. Tudo isso impacta na relação que eles constroem com a comida, uma vez que “as crianças e jovens podem internalizar esses discursos, alerta Fabiola. Em compensação, se os responsáveis prestam atenção em como anda a autoestima dos filhos e conversam sobre esse assunto em casa, a tendência é que os adolescentes se sintam acolhidos, entendam que o seu valor não está relacionado ao peso e não apelem para as radicalidades.

Fonte: Revista Ana Maria – Ed. 25

REFERÊNCIAS:

PSICÓLOGA FABIOLA LUCIANO. Você sabe como sua filha se enxerga? Disponível em: https://psicologafabiola.com.br/participacao-da-psicologa-fabiola-na-revista-ana-maria-sobre-transtornos-alimentares/. Acesso em: 6 jun. 2022.

Compartilhe este conteúdo:

Interfaces da Anorexia no filme “O Mínimo para Viver”

Compartilhe este conteúdo:

Restringir a alimentação ou passar por períodos de compulsão e purgação podem ser sinais de um transtorno alimentar. Se não tratados, os distúrbios alimentares podem ter efeitos devastadores na saúde mental e física do indivíduo.

“O Mínimo para viver”, tradução do filme “To the Bone”, é um filme lançado na Netflix em 2017 que mostra a história de Ellen sobre a luta contra a anorexia e o sofrimento que surge com esse transtorno alimentar.

O filme conta que Ellen abandonou a faculdade e está lutando para concluir o tratamento hospitalar para seu diagnóstico e, como resultado, volta a morar com o pai e a madrasta. A história segue Ellen através de seu processo de tratamento, que é auxiliado por familiares próximos, amigos e terapeutas que querem ajudá-la a continuar progredindo nessa busca pela cura. Este filme captura o impacto psicológico que a anorexia pode ter na pessoa e também na sua rede de apoio. Ele fornece uma visão sob a ótica do paciente, e seus pensamentos e sentimentos experimentados durante o diagnóstico e o tratamento do transtorno.

Após diversas internações e tratamentos frustrados Ellen conhece o médico Dr. William Beckham (Keanu Reeves), famoso pelo seu método nada comum de tratar doenças como a dela. Depois de se convencer que o tipo de tratamento que ele oferece é sua melhor e talvez até sua última opção, Ellen começa a frequentar a clínica de Beckham, um lugar diferente, mais confortável e com ares de lar, onde ela divide o teto com outros seis pacientes.

A trama demonstra a complexidade da doença, e todas as nuances que a envolvem. Não se trata apenas de voltar a se alimentar normalmente. Como em uma relação de causa e efeito, outras enfermidades podem surgir em decorrência da anorexia, desde o mal funcionamento de órgãos à osteoporose.

A decepção consigo mesma é repetidamente vivida no corpo, entre comer e vomitar, controlando severamente e castigando seu corpo nos exercícios doloridos, para conseguir um pouco de alívio no seu sofrimento psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/finLP

A Anorexia Nervosa (AN) é um transtorno alimentar (TA) caracterizado pela auto-inanição, ou seja, é a própria pessoa provocar um estado de debilidade extrema por falta de alimentação que leva o corpo a consumir os seus próprios tecidos para obter as calorias necessárias para se manter vivo, degradando órgãos, músculos e gordura corporal. Se caracteriza também pela preocupação exacerbada da forma física e um medo extremo de comida.

A Anorexia Nervosa tem sido associada a vários fatores de risco e manutenção de transtornos. Os fatores de risco são quaisquer situações que aumentem a probabilidade de ocorrência de uma doença ou agravo à saúde. Os fatores de manutenção predizem persistência de sintomas versus remissão ao longo do tempo em indivíduos já sintomáticos para um transtorno.

Em algumas cenas durante o filme, Ellen contava as calorias presentes na comida que estava em seu prato além de mostrar ela fazendo abdominais e medindo o braço para verificar se ela conseguia fechar a mão ao redor do bíceps. A menção ao uso de laxantes também aparece, além de mostrar a rotina da instituição na qual ela estava fazendo tratamento, com altos e baixos, recaídas e a real dificuldade do tratamento.

Estas cenas demonstram como a anorexia não só reflete na saúde física de alguém, como impacta muito a saúde mental do indivíduo, e tal fator é determinante no curso da doença. Como citado anteriormente, além da alteração física, há o medo de ganhar peso e alteração da imagem corporal e da consciência sobre o transtorno. Os pensamentos a respeito do problema influenciam fortemente na manutenção do transtorno, pois a pessoa se olha no espelho e enxerga alguém gorda ou que não está suficientemente magra, e não há evidências externas que façam a pessoa se convencer do contrário.

Nesses casos a tendência de o sujeito com anorexia falar que está com tudo sob controle ou de negar a doença é alta. Geralmente a busca por tratamento acontece já em um estado avançado e os prejuízos já estão muito acentuados.

O filme também enfatiza como é essencial a participação da família na prevenção e no curso do tratamento. É importante que os familiares estejam alinhados sobre o transtorno para o sucesso neste processo.

No caso da família da personagem principal, o filme mostrou as dificuldades que eles tinham de lidar com o transtorno. A mãe não suportou o quadro da filha e fez com que Ellen se mudasse para a casa do pai o qual é ausente e aparentemente irritado, tenta constantemente se manter alheio de todas as situações, encontrando pretextos para não se encontrar com a filha e não comparecer à terapia familiar.

A madrasta e a irmã são as mais presentes e as que mais encorajam o tratamento de Ellen, porém ambas (assim como a mãe também), fazem menções inadequadas que atingem ela, como por exemplo falar constantemente sobre como sua aparência está, e falas que não contribuem como  “coma Ellen” e “se você morrer eu te mato”.

Fonte: encurtador.com.br/uwDGQ

A Terapia Cognitivo Comportamental tradicionalmente se concentra em relatos baseados em sintomas, sugerindo que tanto o controle quanto a supervalorização do peso e forma física mantêm a AN. A TCC se baseia em dois princípios: o primeiro diz que nossas cognições têm influência sobre o nosso comportamento; o segundo refere-se ao fato de que o modo como agimos afeta nossas emoções e pensamentos.

Algumas características em relação à AN podem incluir: perfeccionismo clínico, baixa autoestima, intolerância ao humor e dificuldades interpessoais como focos adicionais de tratamento.

O tratamento pode conter diversas complicações, com probabilidade de recaídas, já que o fator psicológico tem muita influência, como ilustrado no filme. Utilizando técnicas cognitivas e comportamentais, a TCC busca aumentar a motivação para a mudança, aumentar diretamente o ganho de peso ao mesmo tempo em que aborda preocupações com peso e forma e se prepara para contratempos para manter os ganhos obtidos a longo prazo. A TCC também é importante para o trabalho da imagem corporal e dos padrões estéticos que são muito elevados nas pessoas com AN.

Dentre alguns objetivos, levar o paciente a desenvolver um padrão regular e flexível de alimentação é um grande passo na recuperação da saúde e bem estar deste indivíduo. E este resultado está intimamente ligado ao surgimento de um indivíduo com capacidade de tomar consciência, dar sentido, regular, aceitar, expressar e transformar a experiência emocional, usando-a de forma flexível e adaptativa para se conhecer, buscar formas saudáveis de agir consigo mesmo, nos seus relacionamentos e no mundo.

FICHA TÉCNICA

Título: O Mínimo para Viver
Dirigido por: Marti Noxon
Data de Estreia: 22 de janeiro de 2017
Duração: 107 minutos
Classificação: 14 anos
Gênero: Comédia/Drama
País de Origem: EUA

REFERÊNCIAS

NARDI, Helena Beyer; MELERE, Cristiane. O papel da terapia cognivo-comportamental na anorexia nervosa. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 16, 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452014000100006. Acesso em: 31/05/2022.

VTM Neurodiagnóstico. Tratamento para anorexia e o filme “O Mínimo Para Viver”. Disponível em: https://vtmneurodiagnostico.com.br/cine_psiconeurologia/tratamento-para-anorexia-e-o-filme-o-minimo-para-viver/. Acesso em: 2/06/2022.

DESENVOLVIVER. O mínimo para viver: conscientizações e problematizações. Disponível em: https://desenvolviver.com/psicoterapia/o-minimo-para-viver-conscientizacoes-e-problematizacoes/#:~:text=%E2%80%9CO%20m%C3%ADnimo%20para%20viver%E2%80%9D%20%C3%A9,a%20realidade%20que%20este%20mostra.. Acesso em: 02/06/2022.

FRONTEIRAS PSICOLOGIA. Anorexia Nervosa e um Eu Emocional Perdido: Uma Formulação Psicológica do Desenvolvimento, Manutenção e Tratamento da Anorexia Nervosa. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2019.00219/full#F1. Acesso em: 31 mai. 2022.

Compartilhe este conteúdo:

A passividade perante os transtornos alimentares

Compartilhe este conteúdo:

Patologias que são caracterizadas essencialmente pelo medo sombrio de engordar, são os chamados transtornos alimentares. Existem fatores culturais, sociais e individuais que alimentam e mantém essas doenças. Há uma busca por um suposto padrão de beleza globalizado, que cultua a magreza e transpassa os meios midiáticos, socioeconômicos, raciais e de gênero, tendo forte impacto no aumento de número de casos.

O conceito do belo sofre inúmeras variações ao longo da história, o estético corporal padronizado é normalizado desde os princípios dos regimes patriarcais. Logo, não é de hoje que há uma glamourização desses transtornos, como a anorexia nervosa e a bulimia nervosa, principalmente na indústria de entretenimento (desde o mundo da moda até o meio musical, teatral, chegando inclusive dentro dos nossos vínculos mais íntimos, familiares).

Fonte: encurtador.com.br/qxKLP

Ocorre uma preocupação exagerada com o peso e a forma corporal, através da redução do consumo nutricional ou da ingestão nutricional exagerada seguida de medicamentos que induzam a eliminação dos alimentos. Baseado no sociocultural as práticas e hábitos alimentares se constituem, envolvendo também a economia. Uma vez que o corpo valorizado é contrário aos alimentos ofertados. Dessa forma, em contextos nos quais os alimentos são escassos, a imagem feminina robusta é indício de poder, enquanto em épocas de abundância de alimentos, a magreza vigora como símbolo de sucesso (Hercovici & Bay, 1997).

Encontra-se registros históricos dessas doenças datados de séculos atrás, contudo, diferentemente de antes em que essas eram explicadas com deduções sobrenaturais, hoje há todo um estudo científico que baseia as concepções que conhecemos. Essa padronização das formas e belezas, ainda é muito pouco questionada, indo além do bombardeamento de imagens com corpos perfeitos de silhuetas esbeltas, chegando aos significados simbólicos que essas imagens trazem de felicidade, sucesso e conquista. Na visão Junguiana, os símbolos orientam conteúdos que ainda não são conhecidos, sendo um indicativo para algo inconsciente, expressando-se por analogias que transcendem a consciência e dão sentido à vida.

Fonte: encurtador.com.br/qDFR0

No cenário do mundo da moda, deve-se lembrar da etimologia da palavra ‘modelo’- do latim vulgar, modellum: onde ‘mŏdus’ é a medida em geral, e ‘donde’ é a medida que não se deve ultrapassar. Com isso, busca-se um molde padrão, que diversas vezes é uma beleza inatingível, que desrespeita todo um processo de miscigenação, apagando a identidade de um povo. E desde muito cedo, crianças são alimentadas com essa cultura, com essa mídia, que passa por nossos olhos de forma tão natural.

Corpos esculturais em capas de revistas, filmes com atores impecáveis (cujo nas próprias histórias o objetivo de vida do personagem é estar bonito para atrair alguém fisicamente), clipes de músicas em que tudo é milimetricamente planejado para todos saírem belos, fotos em redes sociais nas quais não se encontra uma imperfeição se quer; nisso pergunta-se: qual o conceito de imperfeição? Cicatrizes? Estrias? Celulites? Marcas de nascença?

Fonte: encurtador.com.br/gjyL1

Ademais, foi constituída uma desconfiguração da linha divisória tênue, que por diversas vezes camufla os transtornos, entre o cuidado pela saúde do corpo e a sutil instalação dessas doenças. Com o avanço das mídias sociais, a indústria da magreza foi impulsionada, o consumo diário desses conteúdos pressiona as pessoas a se encaixarem no ideal corporal da cultura inserida. O corpo passa a ser visto como um objeto facilmente modelado, ou seja, é vendido o poder de transformar o corpo.

Bem como, ensina-se técnicas milagrosas para o emagrecimento com a fachada de ‘’saúde’’, sendo incentivado também o estado constante de insatisfação com a própria imagem, visto a perene mudança do padrão ideal (nocivo) de beleza. Do mesmo modo, origina-se uma má relação com a comida, essa passa a ser vista como vilã e obstáculo para o tão almejado objetivo do corpo dos sonhos; o adoecimento vai acontecendo de maneira tão gradual que passa despercebida pela sociedade que pareou a magreza à saúde.  Diante disso, apaga-se toda a subjetividade que há nos corpos, toda a história de vida que eles carregam, toda a variedade deles, em prol de um único molde.

Referência:

Hercovici, C. & Bay, L. (1997). Anorexia nervosa e bulimia nervosa: Ameaças à autonomia.

Compartilhe este conteúdo:

Anorexia: Corpos a venda, e o preço a ser pago

Compartilhe este conteúdo:

A ideia de perfeição é geradora de comércio, lucro, cujos corpos no mundo capitalista também “estão à venda”, e os modelos inadequados estão sujeitos a “rejeição e descarte”

Anorexia Nervosa é um transtorno psicológico pelo qual o indivíduo passa a ter uma obsessão por emagrecer, mesmo que esse já tenha o corpo magro, estando por vezes abaixo do parâmetro recomendado pelo IMC (Índice de Massa Corporal). Identifica-se a pessoa com Anorexia, quando esta apresenta o índice igual ou inferior a 17,5 kg/m 2

O termo Anorexia deriva do grego orexis = apetite, acrescido do prefixo an = privação, ausência. Nessa patologia há perda do apetite em decorrência de aspectos psicológicos. A negação do apetite e o controle obsessivo para com o corpo, fazem parte de suas características (CORDÁS, 2004).

Em 1970, o psiquiatra inglês Gerald Russell sugeriu três critérios para o diagnóstico da anorexia nervosa. Eles são válidos até hoje. Trata-se do comportamento dirigido a produzir perda de peso; medo mórbido de engordar e distúrbio endócrino (RUSSELL, 1970). Os critérios atualmente vigentes nos principais sistemas classificatórios estão fortemente embasados por Russell. 

Fonte: encurtador.com.br/ahjq5

Hodiernamente, pode-se compreender como comportamento que se enquadra no distúrbio a recusa de se manter no peso adequado a idade e altura, mantido geralmente 15% abaixo do esperado. No caso de pacientes pré-púberes, têm-se dificuldade de alcançar o peso esperado, existência de medo intenso em ganhar peso, perda de peso induzida pela evitação de “alimentos gordurosos”, as vezes seguidas da utilização de anorexígenos e diuréticos conjunto a exercícios físicos em excesso, indução de vômito, negação do baixo peso atual, discurso auto avaliativo fora da realidade e distorção da imagem corporal (CRISTINA, 2012). Nessa situação, qualquer ganho de peso gera grande angústia, e a cada “meta” do corpo almejado e mais magro, é motivo de comemoração, assim como motivador para a progressão da obsessão.

O possível gatilho para o início deste transtorno seria a passagem por momentos conturbados, geradores de sentimentos negativos e/ou pensamentos disfuncionais. Um fator importante na discussão é o meio social, que tem grande poder influenciador e que alicia os corpos, a fim de que haja a  padronização, causando angústia as pessoas que não contemplam o dito corpo “perfeito”, ou que desejam se adequar a estéticas inalcançáveis. Colocando-se em situações que põe em risco a saúde e a vida à mercê da idealização do corpo “bonito e ideal”. A ansiedade é presente, levando-se a busca imediata de formas de emagrecimento a qualquer custo.

A ideia de perfeição é geradora de comércio, lucro, cujos corpos no mundo capitalista também “estão à venda”, e os modelos inadequados estão sujeitos a “rejeição e descarte”. Os indivíduos compram este ideal mas, por vezes, o preço a ser pego é o aumento progressivo de transtornos mentais.

Fonte: encurtador.com.br/kERT5

Gordofobia 

A anorexia nervosa faz parte das consequências da gordofobia que permeiam a sociedade, causando medo da inadequação, ou fixação no desejo de ser ‘magra o suficiente’. No contexto anoréxico, há sempre uma busca de um padrão que foge da condição natural do corpo biológico, gerando uma negação psicológica de si, e de qualquer fator que leva a resultante do corpo gordo, ou simplesmente não magro; sendo a restrição de alimento, a resultante final, esta é a prática de um processo do transtorno psíquico sobre sua própria imagem. A causa exata da anorexia ainda é desconhecida, mas acredita-se que fatores biológicos, psicológicos e ambientais estejam envolvidos nas possíveis variantes de onde emergem a condição do ser.

Na questão biológica, os anoréxicos têm sempre o desejo de ser magros, entretanto essa doença pode atingir públicos de diferentes tipos corpóreos, inclusive os gordos, que sofrem a pressão social de serem o que são. Eles ingerem pouca ou nenhuma comida, tem uma perda de peso muito rápida e acentuada. Geralmente podem ficar sem três ou mais ciclos menstruais por conta da desnutrição, que também pode causar infertilidade. Esse distúrbio acomete em maior parte mulheres entre 12 a 18 anos. E pode matar o indivíduo rapidamente, pois a desnutrição pode levar a falência de órgãos, insuficiência renal, parada cardíaca, dentre outros (HIRATA, 2018).

As questões psicológicas são diversas e variam de acordo com a vida de cada pessoa. Relações sociais, o bullying na infância, eventos traumáticos, problemas que geraram conflitos internos, e a padronização vinculada aos corpos, podem ser o pontapé para o desenvolvimento da anorexia, entretanto, não existe respostas que aponte com exatidão o que causou tal problemática. É importante que haja a procura do acompanhamento psicológico, para que as raízes do problema possam ser encontradas antes de agravar ainda mais a saúde psicológica e biológica do indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/diknM

Pessoas com transtornos alimentares tendem a negar a doença, e consequentemente não procuram tratamento (HUDSON et al., 2007). A identificação precoce de sintomas sugestivos de transtornos alimentares, bem como a identificação de fatores de risco não tradicionais, certamente auxiliará na prevenção do aumento da incidência de transtornos alimentares.

Geralmente o início da patologia se dá durante a adolescência ou pré-adolescência, muitos dos sintomas podem não ser levados a sério pelas famílias, sendo subjugados como passageiros e pertencentes a faixa etária. Entretanto, os dados afirmam com exatidão que é um problema de extremo risco, já que 17% das anoréxicas acabam morrendo por conta de questões diretas e indiretas da doença (SOARES, 2013). Muitas famílias não compreendem o perigo e a complexidade para que se encontre uma solução; terapias em famílias se fazem muito necessárias, para deixar o contexto em que essas pessoas vivem menos letais às mentes que já se encontram em sofrimento.

A maior parte das mortes de mulheres anoréxicas se dá por suicídio. Segundo um artigo publicado em 1995 por Sullivan, a anorexia obtinha as maiores taxas de suicídio entre demais causas psiquiátricas. Embora possamos definir que a patologia seja, em síntese, um suicídio lento, pode-se concluir que é importante alertar, e compreender o desenvolvimento dos comportamentos anoréxicos e, principalmente, fazer com que a prevenção se estenda com cuidado e enfrentamento de discursos romantizados, para proteger aqueles que nos rodeiam dessa terrível guerra para o alcance do inalcançável corpo ideal.

Referências

CRISTINA; Mara. Associação entre transtornos alimentares fatores orexígenos, anorexígenos perinatais e neonatais em universitários. Recife, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/12045/4/Tese%20Mara%20Lofrano_final.pdf.txt Acesso em: 4 abril. 2019.

Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Anorexia nervosa: um transtorno psicológico.,2007.

Disponível: https://www.endocrino.org.br/anorexia-nervosa-um-transtorno-psicologico/ Acesso em: 4 abril. 2019.

SOARES, Gláucio. A mais letal das doenças  mentais.; São Paulo, IG, 2013. Disponível: https://saude.ig.com.br/minhasaude/2013-10-23/a-mais-letal-das-doencas-mentais.html Acesso em: 4 abril. 2019.

IG São Paulo. Anorexia é a doença que mais mata no mundo diz pesquisador., São Paulo, 2013. Disponível: https://saude.ig.com.br/minhasaude/2013-10-23/anorexia-e-a-doenca-mental-que-mais-mata-no-mundo-diz-pesquisador.html . Acesso em: 4 abril. 2019.

HIRATA, Giselle. Quais as diferenças entre anorexia e bulimia? Super Interessante, 2012. Disponível: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quais-sao-as-diferencas-entre-anorexia-e-bulimia/ . Acesso em: 4 abril. 2019.

Compartilhe este conteúdo:

Estar estacionado desejando Aquilo sem kilo que só ele faz

Compartilhe este conteúdo:

Compartilhe este conteúdo: