Padrão de beleza e a volta da moda dos anos 2000

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A ideia de padrão de beleza se encontra associada a um aglomerado de regras e características de como a aparência de uma pessoa pode ou não ser. Com um forte papel da mídia, o que deve ser considerado bonito é ditado e a pressão por se moldar nesse ideal de beleza pode ser um fator desencadeante de sofrimento psicológico, e estar conectado a padrões comportamentais que impactam negativamente a saúde.  

O padrão de beleza é estabelecido pela sociedade, mas principalmente pela classe hegemônica. Na era renascentista por exemplo, o ideal para a beleza feminina, era algo mais voluptuoso, as curvas avantajadas nos seios, quadris, pernas e barriga, isso pode ser observado nas retratações artísticas de figuras femininas da época. E essa era a norma para a época, pois não haviam meios de conservação de alimentos, assim quem tinha acesso a comida o ano inteiro eram as classes com maior poder aquisitivo. Vendo sob essa ótica, o que era considerado bonito, estava diretamente associado ao dinheiro (CARRETEIRO, 2005).

Atualmente a beleza ainda pode ser conectada ao dinheiro, sem curvas em excesso, corpos malhados, magros, a pele perfeita e bronzeada, e isso informa para o mundo que você tem tempo livre para ir a academia, ou a praia, dinheiro para ir a um dermatologista e esteticista, no final das contas o mundo não está tão diferente. 

Ainda que nos últimos anos a busca por uma beleza mais cheia de curvas, influenciada pelas Kardashians, influencers que tem ocupado a média nos últimos 10 anos, esse padrão curvilíneo era, no fim das contas, essencialmente magro. No entanto, nos últimos meses as irmãs Kardashians, também estão se adaptando ao novo padrão, realizando a reversão de suas cirurgias, em recentes aparições públicas, apresentaram um físico mais magro. Tal transformação se configura como um sinal da modificação do padrão de beleza, voltando a ideia de magreza experienciada nos anos 2000. 

Nos últimos 2 anos a moda dos anos 2000 voltou, a estética com cores vibrantes, brilho, correntes, bordados e a cintura baixa, pode ser vista com cada vez mais frequência, entretanto uma outra coisa retornou, a glamourização da extrema magreza. Essa época foi delimitada pelo aumento das mídias sociais, sendo assim, o padrão do que era considerado belo, se propagou de modo ainda mais intenso, a estética da magreza extrema como acessório, e relacionado a isso, a romantização de transtornos alimentares.

Com isso podemos observar que, a medida que mais pessoas se encaixam no padrão, ele tem tendência a mudar, assim novos problemas são criados, e as soluções “mágicas” são vendidas, e essa engrenagem se movimenta para o controle desses corpos, a indústria da magreza  promove o consumo de produtos e serviços que prometem a aparência perfeita por um custo adicional, priorizando o dinheiro, e desconsiderando os danos à saúde.

Fonte: encurtador.com.br/sAMP0

 

A indústria cultural ensina às mulheres que cuidar do binômio saúde-beleza é o caminho seguro para a felicidade individual.  […] O tal corpo adorado é um corpo de ‘classe’. Ele pertence a quem possui capital para frequentar determinadas academias, tem personal trainer, investe no body fitness, esse corpo é trabalhado e valorizado até adquirir as condições ideais de competitividade que lhe garanta assento na lógica capitalista. Quem não o modela, está fora, é excluído. (PRIORE, 2009, p.92)

Podemos facilmente idealizar épocas que não vivenciamos, a herança estética pode aparentar ser mais cativante do que a verdade sociocultural da época, com padrões de comportamentos nocivos para a saúde, que perpetuavam a busca incansável pela magreza, e criticava massivamente qualquer pessoa que não se encaixasse minimamente nesse padrão.

A magreza foi constantemente reforçada pelas mídias sociais, com a televisão desempenhando um papel fundamental para que esse padrão fosse estabelecido na maior parte do mundo, sendo assim, se deu início à procura pelo corpo ditado como o ideal (HESS, 2017).    

Nos dias atuais as pessoas ainda sofrem essa pressão estética, com corpos delimitados por dietas rigorosas e restritivas, e diversas vezes por cirurgia, sendo constantemente exposto nas redes sociais com filtros e edições, como naturais, aumentando a busca por um padrão de beleza cada vez mais inalcançável. 

É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado. […] Nesses esquemas de docilidade, em que o século XVIII teve tanto interesse, o que há de tão novo? Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é objeto de investimentos tão imperiosos e urgentes; em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. (FOUCAULT, 1986, p. 126).  

A ditadura da magreza se fortalece ainda mais na sociedade atual, relacionando-se a um sinônimo de beleza e status social, por intermédio da mídia, o corpo magro é vendido como atributo de saúde e felicidade, algo a ser almejado e alcançado não importa os custos. Já vivenciamos esse contexto antes na história, alguns anos depois, a volta da moda dos anos 2000, que valorizava um físico super magro, se encontra novamente em alta, porém esse momento nostálgico pode trazer de volta outras questões que vão além da cintura baixa. 

REFERÊNCIAS

CARRETEIRO, Teresa Cristina. Corpo e contemporaneidade. Belo Horizonte: Psicologia em Revista, v. 11, n. 17, p. 62-76, jun. 2005. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682005000100005. Acesso em: 03 de out. 2022.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir, histeria da violência nas prisões. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. 

HESS, F. A história da moda plus size e a evolução dos padrões de beleza. 2017. Disponível em: http://www.sindicatodaindustria.com.br/noticias/2017/08/72,115466/a-historia-da-moda-plus-size-e-a-evolucao-dos-padroes-de-beleza.html. Acesso em: 04 de out. 2022.

PRIORE, Mary Del. Corpo a corpo com a mulher: pequena história das transformações do corpo feminino no Brasil. 2° edição São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009.

Novo padrão, opressão antiga: o que o novo corpo de Kim Kardashian nos mostra, Valkirias, 2022. Disponível em: https://valkirias.com.br/novo-padrao-opressao-antiga/. Acesso em: 21 de out. 2022.

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“Por lugares incríveis”: uma proposta de intervenção com adolescentes

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“Por Lugares Incríveis” é um filme de drama romântico adolescente americano de 2020, dirigido por Brett Haley, a partir de um roteiro de Jennifer Niven e Liz Hannah. É apresentada a história de dois adolescentes, Violet Markey e Theodore Finch, ambos possuem transtornos mentais porém se diferenciam com a forma de lidar com os mesmos.

Sabe-se que a adolescência é um marco onde ocorrem mudanças biológicas e psicológicas. De acordo com Einsenstein (2005) a adolescência é a transição da infância para a vida adulta, onde o sujeito passa por desenvolvimentos físicos, mentais, emocionais, sexuais e sociais, nos quais o indivíduo se esforça para conseguir alcançar as expectativas culturais. Além de passar por todas essas mudanças que a adolescência exige, Violet precisa aprender a viver com o luto da morte de sua irmã e Theodore, que vive altos e baixos, possui traumas e episódios depressivos. Os dois, por fim, acabam se unindo para fazer um trabalho de escola, na qual vivem momentos bons e engatam um relacionamento.

O filme “Por lugares incríveis” vai além de um típico filme para adolescentes pois retrata uma dura realidade vivida entre os jovens do século XXI. “Aliás, por baixo da aparência de normalidade dos adolescentes de Indiana, há bulimia, automutilação e aqueles transtornos cheios de letrinhas (TDAH, TOC, TOD), ‘tratados’ com Ritalina e drogas tarja-preta”. (FARIA, 2020).

Fonte: encurtador.com.br/bjX23

Tudo isso implica muito na forma como os adolescentes reagem ao mundo e na formação de suas personalidades. É importante mencionar que nessa fase é onde o adolescente constrói encontros e relações, onde questiona valores e começa a construir seus projetos de vida. Nesse processo de desenvolvimento é onde o adolescente busca sua individualidade e autonomia, e é onde começa os conflitos, não é mais criança, e se ver a frente de uma série de descobertas, problemas e escolhas.

A Revista de Psicologia da UNESP (2013) levantou dados em que afirmam que um dos principais problemas enfrentados na fase da adolescência é “dificuldade no âmbito escolar decorrente de problemas da aprendizagem e/ou de comportamento, transtornos alimentares, mau comportamento, depressão, insegurança, retração, problemas de relacionamento familiar, falta de higiene pessoal, hetero e auto agressão, comportamentos antissociais, como furtos, mentiras, uso de drogas, comportamento sexual exacerbado.”

Sobre o filme, a narrativa gira em torno da adolescente Violet, que vive um momento de depressão, devido o trauma que sofreu sobre a morte de sua irmã em um acidente de carro. Enfrenta a depressão se isolando do mundo e de seus amigos da escola. Também conta a história de Finch, um garoto egocêntrico, problemático e inteligente. O mesmo também tem uma vida difícil e marcada por histórias que o perturbam até sua vida atual.

Fonte: encurtador.com.br/BHSZ5

Segundo Zimerman (2008), “o natural no adolescente é a existência de dúvidas existenciais e ideológicas…” . Nessa fase da vida, há muitas queixas e dúvidas sobre, por exemplo, se estão traçando um caminho correto. Isso se mostra muito presente na vida dos dois personagens. Várias queixas, dúvidas sobre o morrer e o viver assombram a vida desses dois adolescentes.

Diante desses desafios vividos na adolescência, os programas de atenção aos adolescentes são voltados para essas problemáticas vividas por eles. “As intervenções podem ter melhores resultados para os adolescentes quando os aspectos afetivos, cognitivos e sociais são inter-relacionados e as informações repassadas de maneira abrangente.”(Minto, Elaine; Pedro, Cristiane; col. 2006).

É importante trabalhar os problemas com os adolescentes, abrindo possibilidades para que eles possam ter condições e habilidades de trabalhar os desafios que lhe são impostos no decorrer da vida. “As habilidades de vida sugeridas pela OMS são: autoconhecimento, relacionamento interpessoal, empatia, lidar com os sentimentos, lidar com o estresse, comunicação eficaz, pensamento crítico, pensamento criativo, tomada de decisão e resolução de problemas” (WHO, 1997).

Fonte: encurtador.com.br/krA29

Segundo Minto e Col, 2006 essas habilidades permitem que:

“os adolescentes relatam aumento da capacidade de reflexão em situações de resolução de problemas, melhora dos relacionamentos interpessoais e da comunicação, da qualidade de vida física e mental… Acredita-se que a descrição detalhada das estratégias empregadas para a apresentação e discussão de cada uma das habilidades de vida poderá auxiliar os psicólogos ou profissionais que tenham interesse em implementar programas de saúde integral para os adolescentes, fornecendo-lhes um modelo bem-sucedido.”

Essas habilidades podem servir de base para que profissionais possam trabalhar com adolescentes, promovendo assim uma mudança de vida dos indivíduos que passam por momentos delicados no decorrer da vida e não sabem como lidar.

 FICHA TÉCNICA

Título Original: All the Bright Places
Direção: Brett Haley
Elenco:  Elle FanningJustice SmithAlexandra Shipp
Ano: 2020
País: Estados Unidos da América
Gênero: Drama, Romance

REFERÊNCIAS

EISENSTEIN, Evelyn. Adolescência: definições, conceitos e critérios. Adolescência e Saúde, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 1-1, jun./2005.

FARIA, Ângela. Filme ‘Por lugares incríveis’ faz um tocante retrato da adolescência. Estado de Minas. Cultura. 2020. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/cultura/2020/03/28/interna_cultura,1133274/filme-por-lugares-incriveis-faz-um-tocante-retrato-da-adolescencia.shtml. Acesso em 14 de julho de 2020.

ZIMERMAN, D. E. Manual de técnica psicanalítica. Porto Alegre : Artmed, 2008

VERCESE F. A; SEI M.B; BRAGA C. M. L; A demanda por psicoterapia na adolescência: a visão dos pais e dos filhos . Revista de Psicologia da UNESP 12(2), 2013.

MINTO, Elaine Cristina; PEDRO, Cristiane Pereira e col. Ensino de habilidades de vida na escola: uma experiência com adolescentes. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 3, p. 561-568, set./dez. 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a11. Acesso em 14 de julho de 2020.

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O reflexo atemporal e imoral da sociedade

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Via Leitura traz a obra de Oscar Wilde que revela o lado mais perverso das pessoas e uma busca insana pela beleza e juventude

A obsessão estética, a vida de aparências e a incansável busca pelo prazer são temas centrais de O retrato de Dorian Gray. Ao retratar uma questão humana que persiste por séculos, Wilde criou uma obra-prima da literatura que merece seu lugar entre os maiores clássicos da história.

Quando foi publicado pela primeira vez em 1890, na revista Lippincott’s Monthly Magazine, os críticos literários britânicos não sabiam que censuravam uma obra-prima. O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, foi o único romance do escritor, um clássico da literatura gótica, que apresenta uma crítica consistente social e cultural em relação à superficialidade da sociedade.

Na ocasião, sem avisar o autor, os editores optaram por suprimir mais de quinhentas palavras do romance, por considerá-lo indecente. Ofendido, Wilde republicou o texto em livro no ano seguinte, revisado e ampliado – versão esta agora publicada pela Via Leitura.

O personagem Dorian Gray é um homem encantado com a visão de mundo hedonista do aristocrata Henry Wotton, que considera a beleza e a satisfação sexual as únicas coisas importantes na vida. Extremamente egocêntrico, Dorian quer a vitalidade e beleza eterna, e foi capaz de vender a sua alma para obter um retrato pintado a óleo que envelhecesse em seu lugar. Com o desejo concedido, ele começa a viver uma vida de libertinagem e imoralidade sem restrições. Porém, além do passar dos anos, a pintura revela todas as coisas ruins que corrompem a alma do protagonista.

A busca pela juventude eterna ocasiona crimes, suicídios, traições, sem remorsos, culpa ou medo, pois Dorian era motivado apenas por seu objetivo, se manter belo.

A tradução desta ilustre obra é de Alexandre Barbosa de Souza. A edição traz ainda um posfácio do escritor James Joyce.

Ficha técnica:
Editora: Via Leitura
Gênero: Literatura
Preço: R$ 31,90
ISBN: 9788567097572
Edição: 1ª edição, 2018
Tamanho: 14×21
Número de páginas: 224

 

Sobre o autor: Oscar Wilde (1854-1900) nasceu na Irlanda em 1854. Ao longo de sua carreira como escritor, produziu poemas, contos, ensaios e um único romance: O retrato de Dorian Gray. As peças teatrais alçaram-no ao sucesso na última década do século XIX. O êxito literário também lhe rendeu uma situação financeira abastada, que lhe proporcionou, consequentemente, uma vida desregrada e extravagante. Em maio de 1895, acabou condenado a dois anos de trabalhos forçados por cometer sodomia – a homossexualidade era considerada crime na época. A prisão foi sua ruína. Em 1897, mudou-se para Paris e passou a usar o pseudônimo Sebastian Melmoth. Morreu em 1900, de meningite – agravada pelo alcoolismo e pela sífilis.

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A espetacularização e o culto ao corpo na contemporaneidade

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A época em que vivemos caracteriza-se por uma sociedade cujos integrantes, em parte, estão bastante preocupados com seus corpos. Para sentir-se bem, é necessário ter o padrão de beleza considerado bonito e ideal. Os valores que antes eram importantes para a construção da identidade do indivíduo, são agora substituídos por padrões estéticos. Não é preciso mais ter cultura, ideologias, crenças, se você tiver um rosto perfeito, um cabelo bonito e um corpo escultural, é possível observar o deslocamento da moral. Caracterizamos aqui a personalidade somática do nosso tempo.

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O documentário “Tabu: cirurgias Plásticas” apresenta-nos ações praticadas pelos indivíduos na busca desse ideal de beleza. Quando falamos em atingir uma identidade corporal, falamos em “Bioascese”. É grande o número de pessoas que não estão satisfeitas com seus corpos, e que, portanto, estão fazendo tudo para alcançar o “corpo ideal social”, aderindo a cirurgias plásticas, rotinas de academia intensas, dietas rigorosas, produtos de estéticas, enfim, estilos de vida que possam propiciar um padrão aceitável para a sociedade homogeneizada.

Ter uma boa aparência se tornou sinônimo de sucesso social. Aqueles indivíduos que não se enquadram nesse novo e “único” modelo de vida passam a ser e sentirem-se excluídos e inferiorizados pela “massa dominante”. É importante destacar que no decorrer desse processo de adequação social estético, o núcleo da identidade do indivíduo vai sendo atingido e deteriorado cada vez mais. A preocupação em ser aceito é tão grande, que todas as outras faces que poderiam ser desenvolvidas e melhoradas são deixadas de lado, desinvestidas literalmente.

As consequências do ideal de corpo perfeito sobre a autoestima e a autoimagem dos indivíduos

Entende-se por autoestima, a auto-aceitação ou auto-rejeição que o ser tem de sua própria imagem. A autoimagem pode ser descrita como a percepção que o indivíduo tem sobre ele mesmo, e sobre os retornos referentes aos seus sentimentos e ações nas relações interpessoais por ele estabelecidas. (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010).

A aparência pessoal está intimamente ligada com a satisfação ou insatisfação da pessoa. Quando existe a satisfação com a aparência, a pessoa se gosta, se aceita, e ela só quer manter a sua auto-estima e auto-imagem, consequentemente a sua qualidade de vida. Quando existe insatisfação, a pessoa busca incansavelmente recursos da estética e nunca está contente com ela mesma, quando deveria tratar o seu interior. Nos dois casos, tanto da satisfação quanto da insatisfação pessoal, a pessoa busca pelos recursos da estética. (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010, p.1)

Diante disso, nota-se a importância de se ter uma boa aparência na sociedade atual, já que além de estar interligada à uma boa auto-imagem e consequente auto-estima, também tem sido um dos fatores facilitadores no estabelecimento de novas relações sociais.Buscando então um corpo ideal e uma imagem satisfatória, muitos indivíduos se submetem a procedimentos cirúrgicos estéticos, à utilização de cosméticos e a prática de exercícios pesados em academias (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010).

É válido ressaltar ainda a relação existe entre a auto-estima e autoconfiança, já que quanto maior for a autoestima da pessoa, maior será também a confiança que ela vai ter ao tomar suas próprias decisões. (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010).  Depreende-se então que na contemporaneidade, há uma busca por um corpo mais embelezado, decorrente da supervalorização de determinados padrões de beleza, estabelecidos pela própria sociedade. (SAMPAIO, FERREIRA, 2009).

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Fonte: http://migre.me/vpQ6u

O capitulo “O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais” do livro Corpos Mutantes, apresenta informações sobre a potencialização e a grande expansão do uso da imagem como fenômeno de conquista de vários objetivos, dentre eles os esportes corporais como o boxe, o MMA e esportes fisiculturistas. É evidente que atletas precisam e utilizam do seu corpo como objeto para conquistas de competições e de campeonato, consequentemente eles utilizam de varias técnicas para o aperfeiçoamento da condição física, estética e funcional do corpo. No texto escrito por Claudio Ricardo e Silvana Vilodre “O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficiente corporais” é retratado um pouco da história, bem como o desenrolar desse processo de potencialização corporal.

Há diferença na potencialização do corpo entre os atletas e pessoas amadoras. Os atletas buscam solidificação e resistência corporal, a fim de ter maior capacidade física, por exemplo, de levantar pesos, correr, saltar, entre outras modalidades, eles buscam apresentar maior condição física para executar os esportes com maior eficiência e qualidade. Já as pessoas amadoras buscam a prática de esporte como a musculação, apenas para um fim estético, raramente com exceções objetivando a saúde e o bem-estar. Portanto o desempenho e os ganhos entre as duas características são diferentes.

Dentro dessas performances afirma-se que “ainda que apanhar, bater e resistir, sejam atitudes vinculadas ao aprendizado pessoal do lutador e ao seu repertorio corporal, a preparação de seu corpo passa, também pela apropriação de conhecimentos tecnológicos e do nível de cientificização do seu treino” (NUNES, GOELLNER, 2007). Há portanto, um aprendizado corporal e significativo para a conduta do atleta, tanto dentro do ringue como fora dele. Esta preparação é capaz de mostrar ao atleta a capacidade de conseguir sofrer lesões; maior capacidade de suportar dores recorrentes de lesões devido ao grande esforço nos treinamentos; capacidade de adquirir maior resistência física, corporal e também psicológica; capacidade lhe dar com a pressão do esporte, do treinador, das dores constantes, do campeonato, do seu adversário.

Na construção muscular é apresentado diversas técnicas de aprimoramento no ganho de força e resistência física, objetivando a construção corporal do atleta lhe dando uma “identidade” como é o atleta dentro do esporte, se é forte o bastante para vencer uma possível lutar, a genialidade de utilização de técnicas, golpes, se seu corpo é tão esteticamente perfeito afim de intimidação, que se certa forma ele consiga “ostentar” com sua capacidade física, motora, técnica e corporal de atleta. Afirmam também que o confronto visual dos atletas antes da luta gera e expressam nos atletas atributos como força, concentração, fibra, coragem e destemor, sentimentos que na realidade eles precisam para conseguir derrotar o oponente e vencer a luta.

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Fonte: http://migre.me/vpPLQ

 O consumismo vem sendo uma marca registrada em todo o mundo, onde para ter o corpo desejado é preciso gastar com academias, suplementos, esteróides anabolizantes, personal trainner entre outros. O capítulo “o espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais”, tem como ponto de partida a forma como as pessoas se percebem em meio às outras:

A potencialização do corpo está na forma como percebemos nossas eficiências e deficiências mensuradas na contemporaneidade, através de nossa anatomia e contornos corporais. Julgamos a nós mesmos a partir de um referente corporal cuja  expressão primeira aproxima – se da potência, da jovialidade, da produtividade […] que marca os corpos a partir das performances cada vez mais aproximadas, demarcando sua aparição como um espetáculo a atrair e prender sobre si o olhar do outro. (NUNES, GOELLNER, 2007) 

Observa–se atualmente uma grande espetacularização do corpo, em prol da saúde, beleza ou por uma questão social. A mídia é um dos fatores sociais que vem exercendo grande influência na vida das pessoas, propagando um corpo a ser seguido e a ideia de que “somos o que aparentamos ser”.

Nota-se que na atualidade boa parte da juventude e adultos estão preocupados com a aparência física. Muitos passam a aderir a uma vida de alimentação saudável, frequentam academias e alguns usam o discurso que o faz em prol da saúde, mas na verdade seu objetivo real é o espetáculo do seu corpo. Esta espetacularização está presente em várias instâncias da vida das pessoas, como por exemplo nas redes sociais, como uma forma de propagação de seu desempenho.

Pensar, portanto, o esporte e a cultura física como instância sociais a produzir novas eficiências corporais significa analisar o quanto representações idealizadas de saúde, de beleza estética e de performance estão colaborando para designar, na atualidade, os corpos que não se ajustam a essas eficiências construídas por nossas culturas como sendo deficientes e, por consequência, hierarquicamente inferiorizados ante a expressão de tamanha perfectibilidade(NUNES, GOELLNER, 2007)

Diante de uma análise geral sobre o capítulo, sintetiza-se o seguinte: dois corpos que foram bastantes treinados, entram em uma disputa pelo espetáculo, espetáculo esse experimentado em forma de glória, que é proporcionado pela plateia.

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Fonte: http://migre.me/vpPYU

Os sujeitos fora do padrão de beleza dominante, são tachados como “doentes” mesmo que estejam em ótimas condições de saúde, apenas por terem outros tipos de beleza. A partir daí surgem os preconceitos, os desprezos, a falência da empatia, pelo outro que é diferente do resto. Toda essa compulsão por beleza traz sofrimento e frustração a todos nós. É triste perceber que de fato somos por “dentro” invisíveis, sendo o externo o que temos de mais importante e valorizado pelos outros.

REFERÊNCIAS:

Beleza, identidade e mercado. Psicol. rev. (Belo Horizonte) [online]. 2009, vol.15, n.1, pp. 120-140. ISSN 1677-1168. Acesso em: 08 set. 2016.

DANTAS, Jurema Barros. Um ensaio sobre o culto ao corpo na contemporaneidade. 2011. Disponível em: <http://www.revispsi.uerj.br/v11n3/artigos/pdf/v11n3a10.pdf>. Acesso em: 08 set. 2016.

FLORIANI, Flávia Monique; MARCANTE, Márgara Dayana da Silva; BRAGGIO, Laércio Antônio. Auto estima e auto imagem: A relação com a estética. 2010. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/FlaviaMoniqueFloriani,MárgaraDayanadaSilvaMarcante.pdf>. Acesso em: 08 set. 2016.

NUNES, Cláudia Ricardo Freitas; GOELLNER, Silvana Vilodre. O espetáculo do ringue: O esporte e a potencialização de eficiente corporais. In: SOUZA, Edvaldo. GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpos mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais. Porto Alegre: UFRGS, 2007. p. 55-71.

SANTOS, Verônica Moura; MEZZAROBA, Cristiano. A percepção da imagem corporal: algumas representações de corpo na juventude. 2013. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd182/a-percepcao-da-imagem-corporal-na-juventude.htm>. Acesso em: 08 set. 2016.

Tabu Brasil: Cirurgias Plásticas. Direção: Eduardo Rajabally. Coordenação de Produção: Luana Binta. National Geographic, 2013. 47’35. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7N9wVtONEMY>. Acesso em: 24 mar. 2016.

Fontes da imagem: <http://migre.me/vpP8K>, <http://migre.me/vpP9Q>, <http://migre.me/vpPam>.

 

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Corpos esportistas: contemporaneidade e potencialização do corpo

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Atualmente, com o avanço da ciência, da tecnologia e também da formação do processo cultural do esporte de luta em todo o mundo, a espetacularização dos corpos por parte dos atletas têm se tornado cada vez mais frequente e simbólico nos momentos dos treinos e lutas realizados pelos mesmos.  Essa “espetacularização” é vista como a potencialização dos corpos, seja ela por meio de substâncias químicas como anabolizantes e esteróides ou por forma puramente psicológica durante os treinos nas academias de luta e/ou dentro dos ringues.

Os atletas – para se sentirem mais fortes, tanto fisicamente quanto psicologicamente – acabam por ingerir certas substâncias que causam efeitos de anestesia (sensação de menor dor e impacto dos socos que são dados pelos seus adversários nas lutas de M.M.A.) e maior força física, proporcionando uma maior segurança e intimidação para seu adversário durante a exibição do seu corpo para a plateia e para o seu próprio oponente. Nota-se que a preparação e constituição de um lutador requer mais do que grandes preparações físicas desgastantes e domínios de técnicas durante os treinos e os espetáculos vistos nos ringues. É algo que, muitas vezes, é realizado nos “bastidores” antes das lutas, e como consequência, torna-se invisível aos olhos dos espectadores que apreciam as performances dos atletas.

Toda a musculatura e desempenho que é adquirida no esporte de luta concedem uma formação de identidade nos atletas, proporcionando-lhes uma “personalidade” e linguagem corporal que lhes são atribuídos como sinônimo de virilidade e bom estado físico, sendo capaz de demonstrar para os espectadores que o mesmo se encontra apto para poder ter uma boa luta e vencer os mais diversos oponentes durante a sua carreira como lutador. O estado psicológico desses atletas também é afetado por sofrerem muita pressão, fazendo com que esses treinem ao seu limite para conseguirem superar o adversário, muitas vezes sem se preocupar com as consequências, só focando na vitória, deste modo se desgastando, trazendo prejuízos para sua saúde, recorrendo a remédios que muitas vezes acabam piorando a sua situação em vez de ajudar.

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Fonte: http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/2013/05/dados-cientificos-apontam-para-os-problemas-do-uso-de-anabolizantes.html

Há na sociedade atual uma intensa valorização do corpo. Os corpos desejados são os sarados, musculosos, em boa forma. São conquistados através de longas e cansativas séries de exercícios em academias, uma dieta rígida, suplementos alimentares que fornecem os nutrientes que não foram adquiridos na alimentação e, às vezes, através também de anabolizantes. A mídia e a indústria de cosméticos são fatores que contribuem para a valorização do corpo na sociedade atual.

O corpo que se vê está na moda. Ele é exibido em cartazes, novelas, filmes, etc. A nudez vem emergindo cada vez mais limpa. Se somarmos o número de produtos cosméticos que existem no mundo, de academias para se modelar o corpo, de empresas que produzem roupas para se mostrar o corpo, veremos que talvez um décimo da economia mundial gira em torno da produção para tomar o corpo que se vê bonito, atraente, vistoso, moreno, atlético. É a indústria do “olhe para mim”, forma oficial de exibicionismo e de chamar a atenção. (GAIRSA, 2005, p. 295)

O Brasil se tornou o segundo país do mundo com mais academias por habitante, segundo o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Os motivos que levam as pessoas a frequentar a academia podem ser para melhorar a estética corporal, diminuição do peso, melhorar a saúde, entre outros.

As práticas desportivas estão ganhando cada vez mais espaço na sociedade atual. Anteriormente, a prática de esportes era considerada um hobby. No entanto, com a valorização das competições mundiais, os esportes tornaram-se profissões. Os atletas buscam maior eficiência em sua performance esportiva e ela pode estar diretamente ligada ao seu corpo. Desta forma, o esporte passou a ser um mecanismo de criação de eficientes corporais e contribuiu para a valorização do corpo.

Nas práticas desportivas, o corpo do atleta é visto para além do ponto de vista estético, diferentemente do que é buscado pelas outras pessoas que praticam exercícios. Segundo Nunes e Goellner:

O corpo de um atleta olímpico, por exemplo, produz-se de forma diferenciada do corpo de uma pessoa que busca melhorar a forma física e a aparência. Resguardadas as devidas proporções, o que é necessário enfatizar é que, ambos, utilizam recursos que potencializam sua aparição e os dois personificam a hibridização natureza/cultura, bem como a transformação de si em um eficiente corporal, onde as fronteiras entre pessoa e tecnologia encontram-se absolutamente atravessadas (NUNES; GOELLNER, 2007, p. 56).

Apesar de a competição ser uma das mais importantes etapas da prática desportiva, um longo caminho de preparação física vem antes e ela é a principal responsável pelo desempenho do atleta na competição. Atualmente, os atletas utilizam diversos recursos na preparação física que podem potencializar sua técnica e melhorar o condicionamento física; esses recursos podem ser dietas e suplementos, preparação psicológica e até o uso de anabolizantes.

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Fonte: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2011/04/o-corpo-perfeito-de-um-atleta-olimpico.html

Vaz (1999)  apresenta uma ideia de como pode ser entendido o treinamento nas práticas desportivas:

O treinamento pode ser entendido, de forma geral, como um conjunto de diversas e complexas ações no sentido da melhoria do rendimento. Este é orientado por um fim específico, e deve seguir um planejamento que leve em conta os objetivos, os métodos, o conteúdo, a estrutura e a organização geral, sempre tendo como referência o conhecimento científico e a experiência prática (VAZ, 1999, p. 102).

O planejamento alimentar dos atletas também é um fator muito importante. Permite que eles reponham as energias gastas no treino, adéqua sua carga nutricional e é essencial para a saúde e performance desses indivíduos. Quando a quantidade de alimento consumida não supre as necessidades nutricionais, os suplementos alimentares entram em ação. Eles estão disponíveis no mercado em diversos tipos e é importante que os atletas utilizem a dosagem correta dessas substâncias.

Alguns atletas, quando acham que a dieta rígida e os suplementos não são suficientes para garantir o corpo necessário a suas performances, recorrem aos anabolizantes. “Os atletas usam a droga para ficar altamente musculosos, aumentar o peso e adquirir força” (Nunes e Goellner, 2007, p. 64). A maioria desses medicamentos são “tarja preta” e outros são produtos de uso veterinário. Infelizmente, ao fazerem isso, os atletas não percebem que estão prejudicando enormemente seus corpos.

A preparação psicológica dos atletas também é de extrema importância. Seu estado emocional e psicológico ficam fragilizados diante das situações e dos recursos que eles utilizam para potencializar seus corpos, melhorar suas performances. Outro fator que pode afetar negativamente é o estresse causado pela intensa rotina de treinamentos. A ansiedade e o medo de perder a competição também podem afetá-los. Cada modalidade desportiva apresenta alguns produtos que estão ligados a ela e que também fazem parte da performance de seus participantes. No M.M.A. (Mixed Martial Arts), esporte apresentado por Nunes e Goellner (2007) em seu artigo “O espetáculo do ringue: O esporte e a potencialização dos eficientes corporais”, esses produtos são “as gírias, as modificações corporais (orelhas deformadas e cicatrizes), as revistas, vídeos, etc.”

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Fonte: http://veja.abril.com.br/esporte/ufc-da-um-carro-de-930-000-reais-de-presente-a-anderson/

É recorrente que o ser humano chegue em uma fase da vida onde o seu corpo não lhe satisfaz, pois não sente se a vontade com o que está vendo na frente do espelho todo dia que acorda, nem mesmo quando esta tomando banho ou com seus pares, isso por que o que vemos nas mídias sociais é a busca do corpo perfeito onde imperfeições não são aceitas. Deste modo pessoas buscam produtos que não fazem bem a saúde ou que podem acarretar a problemas sérios no futuro, muitos podem pensar que só querem ficar mais bonitos, mas há uma busca incessante pela juventude muitas vezes burlando as limitações que o corpo possui.

Corpos que víamos em desenhos, em quadrinhos, como corpos enormes e cheios de músculos, ou corpos que acoplam em si máquinas (como os ciborgues dos desenhos animados), hoje em dia é algo totalmente real e possível de se conseguir. Vivemos numa sociedade em que somos também o que aparentamos ser, logo se vê muito investimento em nosso corpo no dia a dia, tanto na saúde, quanto também na beleza, na juventude, entre outros.

Mesmo com a tecnologia que temos em nossas mãos e produtos que são desenvolvidos diariamente tentam ao máximo chegar ao corpo ideal, os sacrifícios para manter aquele corpo sarado são desgastantes devido ao treinamento diário. Muitas vezes, a alimentação não é suficiente, pois não fornece energia o bastante para executar algo tão cansativo e repetitivo. Alguns atletas são incentivados a sempre ganhar e quando perdem acabam frustrados, culpando a si próprios pelo resultado abaixo do esperado, querendo sempre ser melhor que o concorrente e, mesmo eles estando em primeiro, o processo de superação ainda não foi alcançado, para eles aquilo não e suficiente querem estar numa classificação que somente ele pode alcançar.

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Fonte: http://olimpiadas.ig.com.br/2012-08-02/atletas-choram-e-se-desesperam-nas-olimpiadas-veja-fotos.html

Cláudio Nunes e Silvana Goellner (2007) afirmam que a potencialização e exposição do corpo produzem efeitos  na construção da subjetividade do indivíduo, manifestando-se na forma como nos tornamos sujeitos de nossas práticas e das práticas alheias, e na maneira como percebemos nossas eficiências e deficiências mensuradas na contemporaneidade, por meio de nossas anatomias e contornos corporais.

Durante todo o texto “O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais”, Nunes e Goellner falam sobre performances, o quão importante é para mostrar e satisfazer a pessoa que trabalhou para ter um corpo assim e o quanto isso a leva a ir cada vez mais fundo na sua busca de um “corpo perfeito”, de mostrar sua virilidade por suas cicatrizes e sua força, de querer ser um ser humano excepcional, muito bom em algo e dar o seu melhor sem desgastar-se para que as outras pessoas o vejam, admirem, elogiem, entre outras coisas que o faça sentir bem.

Mediante o exposto no desenrolar deste texto, percebe-se o esforço focado na aparência que encontramos no nosso meio e o quão é importante na formação social e na construção da nossa subjetividade. É feito um grande investimento em algo específico para motivar outras pessoas com seus dotes físicos naturais ou conquistados. Nota-se todo um processo para chegar a um estado sem que comprometa sua saúde, sem desgastar-se.

REFERÊNCIAS:

CASSIMIRO, Erica Silva; COSTA, Shirley Barbosa da. Padrões sociais com a imagem corporal: a insatisfação das pessoas com o corpoDisponível em: <http://congressos.cbce.org.br/index.php/3conceno/3conceno/paper/viewFile/3950/2218> Acesso em  23 ago. 2016.

EUFIC. Suplementos Alimentares: quem precisa deles e em que situações? Disponível em: <http://www.eufic.org/article/pt/artid/Food_supplements_ who_ needs _them _and_when/> Acesso em 23 ago. 2016.

GAIRSA, José Angelo. O corpo que se vê é o corpo que se sente. In: DANTAS, Estélio H. M. (Org). Pensando no corpo em movimento. Rio de janeiro: Shape, 2005.

NUNES, C. R. F.; GOELLNER, S. V. O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais. In: COUTO, E.; GOELLNER, S. V. (Org.). Corpos mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais. Porto Alegre: UFRGS, 2007. v. 1. p. 55-72.

SEBRAE. Brasil caminha para assumir liderança mundial em número de academiasDisponível em: <http://www.agenciasebrae.com.br/sites/asn/uf/NA/brasil-caminha-para-assumir-lideranca-mundial-em-numero-de-academias> Acesso em 21 ago. 2016.

VAZ, Alexandre Fernandes. Treinar o corpo, dominar a natureza: Notas para uma análise do esporte com base no treinamento corporalDisponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v19n48/v1948a06.pdf> Acesso em 23 ago. 2016.

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O Homem Elefante

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“De fato, a minha aparência é algo medonha,
mas censurar-me é censurar a Deus.
Pudesse eu recriar-me novamente,
não te decepcionaria.”

Poema de Isaac Watts com que Joseph Merrick terminava as suas cartas.

Joseph Merrick fotografado em 1889

Na literatura, na música, nos negócios e na ciência constantemente é apontado que a aparência física agrega valor ao indivíduo, seja na empatia natural que a beleza provoca, ou na facilidade em ser notado (em um mundo que prima pelo espetáculo). Há diversos estudos na área da Psicologia, mais especificamente em um ramo denominado Psicologia Evolutiva, que buscam explicar como algumas características humanas foram moldadas desde a evolução. Essas características tanto podem advir de elementos mais diretos, como a visão ou a audição, quanto de situações mais complexas, como estratégias para escolha de parceiros, percepção espacial etc.

Psicologia Evolutiva tenta examinar a base de determinados comportamentos, por exemplo, o porque consideramos algo belo ou tenebroso, nojento ou agradável. Por que há rostos e corpos que são mais desejáveis? Por que em dadas épocas determinados tipos físicos exerceram mais poder no que tange à atração sexual?

Em meio a essas perguntas, deparo-me com a história real de Joseph Merrick, que viveu na Inglaterra vitoriana do século XIX. Nasceu em 1862 e, por volta dos dois anos, tumores imensos começaram a crescer em seu corpo, a ponto de deixar um de seus braços imóvel, de prejudicar sua respiração, impossibilitar que dormisse deitado ou que andasse normalmente.  Joseph causava horror em quem o via, algumas pessoas tinham ânsia de vômito ao se deparar com a sua figura, outras desmaiavam. Foi considerado um monstro, uma aberração, uma abominação da natureza.

Joseph Merrick fotografado em 1888

Somente na década de 70 do século XX que a medicina entendeu (em parte) a doença que o deformou: a Síndrome de Proteus, “uma doença congênita que causa crescimento exagerado e patológico da pele com tumores subcutâneos, desenvolvimento atípico com macrodactilia e hemi-hipertrofia”.  Por ser uma doença que ocorre raramente (foram descritos cerca de 100 casos no mundo), há poucos investimentos para estudos na área.

No século XIX, participar de espetáculos em “circo de horror” sendo uma aberração usada para aguçar a curiosidade do público era tudo que restava a pessoas que sofriam, por exemplo, da síndrome de hipertricose (excesso de pelos), que fossem siameses ou tivessem qualquer outro mal que deformava sua aparência e tirava-lhe do ciclo estabelecido aos humanos. Nesse contexto, ser humano implicava parecer humano. E parecer humano não tinha relação com caráter ou consciência, mas com a aparência física determinada a partir de um padrão. Esse tipo de circo foi proibido no final do século XIX na Inglaterra, mas, de certa forma, ainda existe, só que agora novos artifícios são usados para mascarar o lucro que advém da exposição da dor e do medo.

Imagem do filme O Homem Elefante de David Lynch

Mais do que sua aparência, o caso de Joseph causou repercussão na sociedade da época porque vinha acompanhado de uma sombria revelação: a “aberração” era sensível e inteligente. Sua vida assombrada pelo preconceito, pelo medo e pelo horror não obscureceu sua humanidade. Entender que por detrás daquele aspecto assustador podia haver um ser consciente era o que mais provocava o desconforto das pessoas.

O filme de David Lynch sobre a vida de Joseph Merrick (baseado em manuscritos do Dr. Frederick Treves – “O Homem-Elefante e outras reminiscências” e, em parte, no “Estudo da Dignidade Humana”, de Ashley Montagu) traz alguns questionamentos sobre os motivos que tornam muitos de nós tão avessos ao diferente, especialmente quando essa diferença tem relação a aspectos físicos.  É possível olhar para além das deformidades físicas? Ou Joseph Merrick estaria fadado a morar no circo de horror no qual passou parte de sua vida?

Há pesquisas como a de Schaller e Duncan (2007) que levantam hipóteses sobre um “sistema imunológico comportamental”, que tenta explicar porque as pessoas tendem a sentir desconforto perante “anormalidades” profundas. Outros acreditam que existem pessoas merecedoras da maldição divina, daí o castigo de ter uma aparência abominável. No entanto, o que é mais evidente na história de Merrick, especialmente na forma como foi contada no filme do Lynch, é que a sensibilidade independe da aparência. A inteligência e a consciência que nos tornam humanos vão além daquilo que o outro vê ou daquilo que o espelho nos mostra.



Imagem do filme O Homem Elefante de David Lynch (John Hurt e Anne Bancroft)

“Não saio tanto quanto gostaria porque as pessoas naturalmente se perturbam com a minha aparência.
As pessoas ficam assustadas com o que elas não podem entender.” (Joseph Merrick)

Merrick começou a ter uma certa dignidade em vida quando conseguiu se livrar do agente circense que o escravizava e obteve ajuda do médico Frederick Treves, do Hospital de Londres. A princípio, aqueles que o conheciam imaginavam se tratar de uma criatura com extremas deformidades físicas e com uma óbvia deficiência mental. Somente quando ele falou pela primeira vez e mostrou sua capacidade de entendimento do mundo, das pessoas, da arte e dele mesmo é que, enfim, perceberam que estavam diante de um ser humano inteligente e sensível.

Imagem do filme O Homem Elefante de David Lynch (Anthony Hopkins e John Hurt)

O médico, ainda que tenha tido sentimentos nobres e uma genuína comoção perante o sofrimento de Joseph, também estava fascinado pelas descobertas que podia obter na área da medicina a partir do entendimento das causas de sua deformidade. Essa dualidade de sentimentos do médico é apresentada no filme: a angústia em entender se mesmo ele, que conhece Merrick tão bem e sabe da extensão de sua sensibilidade, é capaz de enxergá-lo além de sua aparência. Para o médico, era necessário descobrir o motivo da deformidade, pois entender a doença tira-lhe o aspecto de maldição, ainda que para a pessoa que está presa a ela, esse entendimento não muda a limitação que lhe é imposta. Joseph sonhava em um dia sair do hospital de Londres e morar em um hospital de cegos, onde pudesse encontrar uma mulher que viesse a gostar dele, apesar de sua aparência.

“Eu não sou um elefante. Eu não sou um animal. Eu sou um ser humano. Eu sou um homem.” (Joseph Merrick)

Joseph morreu aos 27 anos, em 1890. Em uma tentativa de dormir como uma pessoa normal causou um deslocamento acidental do pescoço, que não suportou o peso da cabeça durante o sono. Assim, a causa oficial da morte foi asfixia.

Em 2012, após 122 anos de sua morte, voltou a ser notícia em vários meios porque foi anunciada a realização de uma análise do DNA de seus ossos com o objetivo de encontrar o diagnóstico final das causas que resultaram em sua deformação. Isso será feito a partir da verificação da existência de alterações genéticas em alguma sequência do seu genoma. Seu esqueleto é mantido preservado no Royal London Hospital, em Whitechapel. Joseph foi estudado em vida, continua sendo estudado após a morte. Descansar em paz não é um direito de todos.

A sequência final do filme de David Lynch é um daqueles momentos que silencia não apenas a voz, mas a alma. Joseph Merrick, ao final, parecia querer ao menos adormecer como um ser humano, já que acordado tinha que suportar a dualidade de duas existências, aquela que existia em sua mente, e a outra, que ele via através da face de horror de quem se deparava com a sua imagem.

Boa noite, Joseph Merrick!

http://youtu.be/z75wcxf6ZVk

Nunca, nunca! Nada morrerá.
O rio corre, o vento sopra,
as nuvens movem-se,
o coração bate.
Nada morrerá.

(Alfred Lord Tennyson)

Referências:

Filme:
Ficha Técnica
Título: O Homem Elefante / The Elephant Man
Direção: David Lynch
Elenco: Anthony Hopkins, John Hurt, Anne Bancroft, John Gielgud, Freddie Jones…
Roteiro: Christopher De Vore, Eric Bergren, David Lynch, Frederick Treves (história original)
Ano: 1980.

Artigo:
SCHALLER, Mark; DUNCAN, Lesley A. The Behavioral Immune System – Its Evolution and Social Psychological Implications. In J. P. Forgas, M. G. Haselton, & W. von Hippel (Eds.), Evolution and the social mind: Evolutionary psychology and social cognition (pp. 293-307). New York: Psychology Press, 2007.

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