Doze anos sem Amy Winehouse

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Ela só queria cantar

Sônia Cecília Rocha – soniacecirocha@gmail.com.

Imagem de depexel por Pixabay

De volta para a escuridão

“Nós apenas dissemos adeus com palavras.     Eu morri umas cem vezes. Você volta pra ela. E eu volto para… eu volto pra nós. Te amo tanto. Mas isso não é suficiente. E a vida é como um cano.  Eu sou uma moeda insignificante rolando sem rumo lá dentro.” (Amy Winehouse, 2006)

Brigas, traições, inverdades, e o divórcio dos pais, marcaram o início de vida de Amy Winehouse, e este cenário desafiador pode ter afetado severamente o aspecto psicológico da cantora, já que sua família não lhe gerava conforto e nem segurança. Ela sonhava em ser garçonete de patins, mas a voz diferente e única a impelia para algo a mais. Sua influência com a música era grande, pois sua família era quase toda formada de músicos profissionais do jazz. Cantava muito com o pai, o que a tornou uma amante da música. Aos dez anos já tinha uma banda de rock, era irreverente para sua idade, porém era tímida e achava que não teria talento para alcançar público. Aos treze anos ganha sua primeira guitarra. Tudo era só um hobby para Amy. Aos olhos de alguns bem próximos e de uma forma desconcertante, tilintavam cifrões. Ela não percebeu, porque ela só queria cantar.

Começou a se apresentar em pubs, gravou uma fita e a enviou a um produtor, ele viu ali um grande talento, foi o início de seu calvário, ela estourou em todas as paradas musicais, as turnês começaram, os assédios, a vida era louca, precisava de algo que a ajudasse neste intenso burburinho. Teria sido tudo um acaso, ou a predestinação estaria ali presente? Segundo Schopenhauer, o acaso é um poder maligno, no qual se deve confiar o menos possível. Dizem que o acaso não se importa em nada com nossos destinos.

Pouco tempo depois começava ali sua dependência ao álcool e outras substâncias, posteriormente uso de drogas muito pesadas.  Entre enfisema pulmonar, transtornos alimentares, Amy foi se perdendo, apaixonou-se perdidamente, isso também contribuiu e muito para sua derrocada, e nunca um autor esteve tão próximo às verdades de Amy quando diz que “Estar apaixonado é estar mais próximo da insanidade do que da razão.” (Sigmund Freud). E com este amor a insanidade se instalou na vida desta garota, de deusa da música, passou a ser vaiada, não se lembrava das letras das músicas e sua presença já não tinha mais tanto glamour. E ela despretensiosamente só queria cantar.

Pois bem, todos sabem destes percalços e por todos os outros pelos quais Amy passou, a contextualização se fez necessária para que possamos através de um olhar psicológico e de alguma forma tentar percorrer os mundos que nos fazem sucumbir dentro de nossas sombras, dos nossos medos, nos tornando frágeis e sem forças para lutar. O que aconteceu com Amy, onde morava sua fragilidade, o que a fez desistir de viver, o que a fez desistir de um talento tão sublime e raro, o que a fez desistir de si mesma, o que a desassociou, onde morava este fantasma de destruição? A pressão social a esmagou, os deslumbramentos da fama sobrepujaram os cuidados que deveriam ter tido com sua trajetória, as estruturas emocionais foram frágeis? Este é um texto de perguntas, embora saibamos que suas respostas se foram, basta a nós a triste suposição do que teria ocorrido em seu mundo interno.

Imagem de Shrooomy por Pixabay 

Amy perdeu-se, e seu coração também.

Se formos adentrar no conceito de Sombra de Jung, poderíamos supor que pelo lado obscuro da mente de Amy haveria sentimentos que ela reprimia e dos quais ela ao amadurecer não os enfrentou e esta mesma repressão sugere um mergulho nos mais fundos abismos, um lugar onde ela talvez não desse conta de acessar e por isso teria sucumbido na escuridão?  Quem era esta menina na verdade, era um duplo, misto de estrela e de criança ferida? Segundo Stevenson, 2008 o que escondemos nos faz duplos. “escondi meus prazeres e “já estou comprometido com uma profunda duplicidade de vida” (Stevenson, 2008, s.p.) Poderíamos supor que calando o duplo ele poderia ter maior alcance sobre nós, talvez até mesmo pela ordem do ego, tornar-se nosso maior inimigo?

Amy certa vez disse que “não era uma garota tentando ser uma estrela, que era apenas uma garota que cantava”, ou seja, para ela não havia duplicidade, ou ela não a enxergava, seu mundo ainda era só o canto pelo canto. Mas tanto sucesso num tempo recorde a levou a consequências tais, que a garota que apenas queria cantar se viu consumida e enquanto era consumida pelas drogas, Amy vivia lidando com as estranhezas do mundo adulto , construindo ficções, perdendo aos poucos os sentidos que a norteava, a sensibilidade de perceber-se, deixou-se consumir pela perversão dos momentos que a engoliram, dando a ela a figura da decadência, do descaso consigo mesma. Dizem que a arte em si é uma força tão suprema que às vezes destrói as coisas que toca e rompe com quem não é capaz de entendê-la.

Imagem de Hasty Words por Pixabay 

Seus vícios, seu mundo.

Sabemos que por trás do mundo das artes e dos holofotes existe uma grande pressão por performance, a exposição é extrema, não se tem mais vida privada, rotina é um luxo que muitas vezes o dinheiro não pode comprar. A ansiedade e as tensões fazem parte corriqueira deste contexto, o que a longo prazo ocasionam mudanças de comportamento, transtornos. Nestes momentos podem surgir busca de uma válvula de escape que os faça suportar tanta sobrecarga de tensões: Os problemas começaram ali? A pergunta é, as demandas da fama por si só acarretam tantas privações de felicidade, ou as sombras ocultas, as que Amy não resolveu antes ofuscaram seu discernimento para viver o que tanto queria?

A necessidade de fuga de uma vida aflitiva e desgastante podem ser decorrentes de depressões e irrealizações afetivas internas, e são muitas vezes causadoras de quedas vertiginosas em paraísos sem sol. Nas aparições de Amy, podíamos notar pelos seus gestos o encolhimento do seu eu, por fim era um descompasso de “não sei onde estou, não sei o que estou fazendo, nem sentindo, não sei mais quem eu sou”. Seria a causa disso uma incapacidade de resistir ao vício, e isso a tolhia a ponto de limitar seu verdadeiro eu?

Teria sido ela impelida por esta força estranha que move os artistas em direção ao caos, porque essa conduta persistente rumo ao nada? São tantas perguntas sem respostas, e tantos lágrimas sem lenços à mão; talvez, só talvez ela não tenha tido a capacidade de lidar com a sua realidade concreta, buscando refúgio no que lhe parecia seguro, o abster-se de sua consciência, o que podia lhe trazer certo alívio para as disfuncionalidades e o caos que se tornou seu mundo.

Imagem de Piyapong Saydaung por Pixabay

Ela só queria cantar.

Nunca saberemos o que Amy pensava, sentia ou temia, ela não está aqui para nos contar, ela se foi junto às suas verdades ocultas, junto às suas sombras. Segundo Jung sobre a sombra, “quanto mais escondida ela está da vida consciente do indivíduo, mais escura e densa ela se tornará. De qualquer forma, é um dos nossos piores obstáculos, já que frustra as nossas ações bem intencionadas.” (Carl Jung). No documentário da vida da cantora, percebe-se o quanto ela foi engolida, arrastada, para onde visivelmente ela não queria estar, era notório o desconforto de Amy nos palcos, embora ela fosse uma estrela de grandeza suprema, notava-se em seu olhar o vazio de quem precisa de algo mais, de algo que não lhe deram, ou que ela própria se negou.

Diziam de Amy que sua carência afetiva era muito grande, e isso transparece em suas músicas, em sua voz, em seus vícios. Sua dor infantil cresceu junto a ela e não mais soltou suas mãos, nem tão pouco sua alma que incessantemente buscou abrigo, sem jamais encontra-lo. Seu pai e seu marido foram figuras bastante pernósticas, colocando várias pás de cal nos buracos do mundo de Amy, ela foi usada por eles, pela voracidade dos fãs e por sua total falta de ânimo para lutar contra os demônios deles e os seus próprios. E assim se foi Amy, em meio aos flashs, sucesso, aplausos, ganância, ela se foi de um mundo que não a compreendia, num mundo onde ela não cabia. A realidade crua e nua se tornou insuportável ou até mesmo intolerável, até que ela criou um mundo só dela, desejando ardentemente que este novo mundo se tornasse um refúgio para seus pesares?

Imagem de Dieterich01 por Pixabay

Calou-se a voz…

Calou-se a voz. Calou-se a voz, calou-se o canto, deixando-nos órfãos da beleza de seus acordes, da sinceridade de suas letras, do sofrer sem entender, do pesar de não poder ajudar. Não deu tempo de trabalhar suas sombras, eram muitas e elas venceram, estavam nela, estavam nos seus pares, elas a invadiram, a engoliram. Seus demônios eram ferozes demais para sua parca luta, ela não soube, ela não pôde, ela calou-se. Junto a ela calamos todos e ficou aquele vazio de tudo um pouco, ficou a mudez de quem pouco entende dos que sofrem do mal de não saber dar limite ao outro, de não saber dizer não, ela foi um pouco mais, um pouco mais, se esticou demais, se partiu, se fragmentou, se dissolveu. E ela só queria, cantar. Fica em nós o dever de buscar o que cala o outro, que fio tênue é este que devora a vida, como resgata-lo, como fazer as perguntas certas nas horas incertas, como ouvir o silêncio de um grito?

Referências

BARROS, Karin. 2015. Documentário sobre a vida de Amy Winehouse tem última exibição em Florianópolis nesta terça. Disponível em: https://ndmais.com.br/cinema/documentario-sobre-a-vida-de-amy-winehouse-tem-ultima-exibicao-em-florianopolis-nesta-terca/. Acesso em 06/03/2023

Quem é Amy Winehouse? Disponível em:https://www.mensagenscomamor.com/mensagem/111551. Acesso em 22/02/2023

RAMOS, F. Karin. 2014. O CONCEITO DE SOMBRA E O AVESSO DA REALIDADE: UMA ANÁLISE HISTÓRICA E LITERARIA DE SUAS REPRESENTATIVIDADES. Disponível em: https://anais.unicentro.br/proic/pdf/xixv2n1/255.pdf. Acesso em 22/02/2023.

ROZA, Thais. 2015. Freud Explica. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4501572. Acesso em 07/03/2023

SABATER, Valéria. 2022. Arquétipo da sombra: o lado escuro da nossa psique. Disponível em: https://amenteemaravilhosa.com.br/arquetipo-da-sombra/. Acesso em 22/02/2023

Tradução Back to black de Amy Winehouse. Disponível em: https://www.vagalume.com.br/amy-winehouse/back-to-black-traducao.html. Acesso em 06/03/2023

TRINDADE, Rafael. 2023. Schopenhauer – Nossa conduta para com o destino do mundo. Dsponível em: https://razaoinadequada.com/2020/03/15/schopenhauer-nossa-conduta-para-com-o-destino-do-mundo/. Acesso em 06/03/2023.

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Uma analise simbólica do mundo de Aladdin e Jasmine

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Canção: Um mundo ideal ( Aladdin)

Um mundo ideal é uma canção classica e romântica do famoso desenho da Disney Aladdin (1992) com o título original :“A Whole New World” foi composta por  Alan Menken, juntamente com letras escritas por Tim Rice. Regravada recentemente na versão brasileira pela banda Melim para o live action do filme (2019). A canção casa muito com a teoria do mundo das ideias de plantão, que saber como? Vem comigo!

fonte:http://encurtador.com.br/akruH

 

Antes de começar a canção Alladin convida sua amada Jasmine a um passeio de tapete e no primeiro verso canta:

                                                      ‘’Olha, eu vou lhe mostrar

                                                        Como é belo este mundo

                                                        Já que nunca deixaram

                                                        O seu coração mandar’’

Nessa cena os dois estão em um tapete mágico voador, o que torna esse ato muito simbólico, de liberdade, como a letra já sugere ‘’ nunca deixaram seu coração mandar’’ dando um  sentido de que Jasmine estava presa às regras, agindo apenas de forma racional e não mandando com o coração; se permitindo viver de acordo com suas emoções.

 

                                                         Eu lhe ensino a ver

                                                         Todo encanto e beleza

                                                         Que há na natureza

                                                         Num tapete a voar

Aladdin resolve demonstrar o encanto que existe na liberdade se reconectando com a natureza. Para schopenhauer o conceito de  liberdade, em seu sentido físico, implica o reconhecimento de que homens e animais são considerados livres quando não existem obstáculos em suas ações, isto é, quando eles podem agir sem que laços, prisões ou paralisias os detenham.(PAVÃO,2019) No caso das prisões são as coisas do dia a dia que não permitem Jasmine enxergar os encantos da natureza,  pois a mesma vive presa em um castelo. ‘’num tapete a voar’’ significa ter um olhar mais amplo sobre todas as coisas.

                                                           Um mundo ideal

                                                           É um privilégio ver daqui

                                                           Ninguém pra nos dizer o que fazer

                                                           Até parece um sonho

Esse ‘’ mundo ideal’’ pode ser definido para  platão como Inteligível (das Idéias). Onde as ideias habitam na própria esfera, mantendo suas características de unidade, pureza e imobilidade.  Esse mundo ideal de fato é um sonho, segundo Kant (1074) a liberdade mesmo sendo uma propriedade da vontade, não  é desprovida de lei, mas antes uma causalidade segundo leis imutáveis, ainda que de uma espécie particular, pois de outro modo uma vontade livre, seria absurda.

fonte:http://encurtador.com.br/yMRV0

 

                                                            Um mundo ideal

                                                            Um mundo que eu nunca vi

                                                            E agora eu posso ver e lhe dizer

                                                            Estou num mundo novo com você

                                                            (Eu num mundo novo com você)

 

                                                             Uma incrível visão

                                                             Neste voo tão lindo

                                                             Vou planando e subindo

                                                             Para o imenso azul do céu

 Esses ideais podem se manifestar em um plano diferente, das coisas sensíveis (das representações) o que seria o nosso mundo. Sendo esse mundo uma espécie de imitação do inteligível. Ou seja, Aladdin e Jasmine enxergam através do tapete um mundo real, se percebiam planando e subindo um céu azul, porque enxergavam, algo legível a visão, porém em suas cabeças fazem desse mundo, um mundo perfeito, incrível, desconsiderando toda a realidade. Um mundo ao qual os dois podem ficar juntos, onde um ladrão e uma princesa, não são apenas os seus rótulos, mas apenas duas pessoas apaixonadas.

 

                                                            Um mundo ideal (feito só pra você)

                                                             Nunca senti tanta emoção (pois então aproveite)

                                                             Mas como é bom voar, viver no ar

                                                             Eu nunca mais vou desejar voltar

No mundo ideal encontra-se a ideia máxima de bem, identificada em alguns diálogos de Platão com Parmênides, um ideia, que representa a busca do filósofo rumo ao conhecimento absoluto. Observando então a matéria por essência como algo imperfeito, onde não se pode manter a identidade das coisas,  pois ela está sempre mudando, Platão passou a  acreditar que Parmênides estava certo, quando dizia que devemos abandonar o mundo sensível e se ocupar ao mundo verdadeiro, invisível aos sentidos mas  visível ao puro pensamento (CHAUÍ, 1995). 

Entendemos então que Jasmine faz um caminho contrário, ‘’nunca senti tanta emoção’’, ou seja ela está  deixando a racionalidade dos pensamentos de lado, buscando a emoção em sua forma mais pura, nos mostrando outra teoria de platão a Reminiscência, que diz; todo nosso conhecimento não é um processo de construção mas de recordação de algo já antes vivenciado. O aprendizado então se torna uma recordação de tudo o que a alma anteriormente contemplou. ‘’Como é bom voar, viver no ar’’, ou seja viver em um mundo onde as regras naturais e sociais não se aplicam. ‘’ Eu nunca mais vou desejar voltar’’ segundo Platão, a alma tem um conhecimento inteligível, no qual se tem por completo o saber de todas as coisas,  é o plano da pura permanência, neste as ideias são “Protótipos, Formas, modelos únicos e perfeitos de todas as coisas que existem” (RIBEIRO, 1988, p.43). Não querer mais voltar pode se tornar perigoso, pois viver apenas num mundo ‘’perfeito’’, pode se tornar algo delirante, ocasionado comportamentos que  fogem de uma  normalidade social. 

fonte:http://encurtador.com.br/bvxO9

                                                             Um mundo ideal (com tão lindas surpresas)

                                                             Com novos rumos pra seguir (tanta coisa empolgante)

                                                             Aqui é bom viver, só tem prazer

                                                             Com você, não saio mais daqui

O mundo ideal seria uma cópia do mundo inteligível, construída a partir daquilo que platão denomina de ‘’demiurgo’’: o princípio organizador do universo que, sem criar de fato a realidade, modela e organiza a matéria caótica preexistente através da imitação de modelos eternos e perfeitos (Platão 428-348 a.C.). 

Um mundo onde só tem prazer, se distancia da realidade, para Freud (1920) São nossos atos que são determinados pelo prazer ou pelo desprazer e essa motivação pode não ser percebida conscientemente.O desejo inconsciente tende a realizar-se restabelecendo os sinais ligados às primeiras vivências. Na teoria de platão essas primeiras vivências seriam a busca pela reminiscência, a ”alma humana antes de encarnar o corpo’’ já para Freud os desejos primários de infância.

 

                                                              Um mundo ideal (um mundo ideal)

                                                              Que alguém nos deu (que alguém nos deu)

                                                              Feito pra nós (somente nós)

                                                               Só seu e meu

Um mundo que ‘’alguém nos deu’’ esse alguém pode ser o próprio inconsciente buscando as satisfações dos desejos em uma inalcançável busca. Para Lacan (1964) o desejo é um processo que passa por momentos de alienação. Ele está projetado no outro. ‘’feito para nós, somente nós’’. Ou seja: ‘’ o desejo humano é o desejo do outro (LACAN, 1964 p.223) Esses desejos são sobretudo aquilo que não se pode ter: Um mundo ideal. 

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Barbara.Uma Reflexão acerca do Crátilo, de Platão. Universidade Federal do Tocantins. Palmas-Tocantins, p.(1-19) novembro, 2017. Disponível em: file:///C:/Users/Diana/Downloads/2770-Texto%20do%20artigo-16706-1-10-20170228%20(2).pdf. Acesso em 18 de abr de 2022.

MAIRINIQUI, Igor. KARL POPPER E A TEORIA DOS MUNDOS DE PLATÃO.iniciação Científica-Piic-UFSJ), São jordan do rei p. (1-11), julho, 2003. Disponível em:https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/lable/revistametanoia_material_revisto/revista05/texto01_teoriadosmundos_platao_popper.pdf. Acesso em: 15 de abr de 2022

Melim. Um mundo ideal . BRASIL: Disney: 2019. Suporte (2:57). Disponível em: https://www.letras.mus.br/aladdin/um-mundo-ideal-2019/ . Acesso 15 de abr de 2022.

NASCIMENTEO, Rosemberg.A compreensão de liberdade na perspectiva Kantiana: princípio supremo da moralidade.Pensamento extemporâneo, 2012. Disponível em: <https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2273>. Acesso em: 15 de abr de 2002.

REDAÇÃO, equipe de psicanálise. Prazer e o significado em psicanalise. Psicanálise clínica 2020. Disponivel em: https://www.psicanaliseclinica.com/prazer-significado/#:~:text=Freud%20postula%20a%20tese%20que,al%C3%A9m%20do%20princ%C3%ADpio%20do%20prazer%E2%80%9D.. Acesso em 15 de abr de 2022.

REDAÇÃO, equipe de psicanálise.Principio do prazer e da realidade para freud. Psicanalise clinica 2017. Disponível em:https://www.psicanaliseclinica.com/principio-do-prazer-realidade/. Acesso em 15 de abr de 2022.

TAFFAREL, Marisa. O desejo segundo Lacan. Blog psicanalise, 2019. Disponivel em: https://www.sbpsp.org.br/blog/o-desejo-segundo-jacques-lacan/. Acesso em: 15 de abr de 2022.

 

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Schopenhauer e a vontade como essência de todas as coisas

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O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), influenciado fortemente por Kant, desenvolveu uma filosofia pessoal, considerada pessimista e ascética. Seu pensamento sobre o amor é caracterizado por não se encaixar em nenhum dos grandes sistemas de sua época.

Combateu o hegelianismo, então dominante, e sua oposição ao meio acadêmico na Alemanha fez com que seu pensamento tivesse relativamente pouca repercussão, alcançando notoriedade apenas no final de sua vida.

Partindo essencialmente de Kant, mas também sob a influência de Platão e até mesmo do budismo, Schopenhauer considera o mundo de nossa experiência como simples representação. Ao procurar superar o nível da aparência, em direção à realidade verdadeira, o absoluto, o sujeito descobre sua vontade, chegando depois à vontade única como ser verdadeiro. Introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã.

Fonte:http://aaapucrio.com.br/wp-content/uploads/Schopenhauer.jpg

Schopenhauer nasceu em 22 de fevereiro de 1788 em Danzig no Reino da Prússia, faleceu em 21 de setembro de 1860 em Frankfurt. Teve ocupação como filósofo e professor universitário. Suas influências foram Buda, Platão, Kant, Hobber, Goethe, Hegel e filosofia oriental. Foram influenciados por ele Nietzsche, Kierkegaard, Beckett, Jorge Luis Borges, Mihai Eminescu, Freud, Hesse, Horkheimer, Jung, Mann, Gilbert Ryle, Tolstoy, Machado de Assis, Vivekananda, Maupassant, Wagner, Wittgenstein, Proust, Albert Einstein, Henri Bergson, Luitzen Egbertus, Jan Brouwer.

Até 1809, Schopenhauer era estudante de filosofia na Universidade de Göttingen. Em 1811, mudou-se para Berlim, para prosseguir seus estudos, e finalmente concluiu sua dissertação em 1813, em Iena. Intitulado Sobre a raiz quádrupla do princípio da razão suficiente, o trabalho desafiava a ideia de que o que é real é o que é racional – ou, em outras palavras, que o mundo é perceptível. Tornou-se professor da Universidade de Berlim em 1820. Introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã. Ele acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tivesse a ver com a felicidade.

Os pensamentos de Arthur Schopenhauer são uma coletânea de pensamentos ditos pessimistas que consistem em dizer que o ser humano não nasce condenado à morte, o homem nasce condenado à vida, pois viver é sofrer, daí a sua fama de extremo pessimista.

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A coisa-em-si

Segundo Schopenhauer, a essência de todas as coisas, a coisa-em-si, é a Vontade. Essa que é um impulso cego, um ímpeto, uma força vital, um esforço de vida, um querer viver incessante que seria o fundo íntimo e essencial de todo o universo. Schopenhauer, valendo-se de uma razão analógica, sente-se autorizado a estender a Vontade, a todos os demais seres, concebendo-a como essência não só do homem, mas do mundo, de tudo e do todo.

Metafísica do amor

De acordo com Schopenhauer, o amor é o impulso sexual baseado na vontade de vida da espécie, ou seja, é uma representação da vontade, no qual a metafísica do amor seja a essência compreendida nos seres humanos.

Segundo Alain de Botton os namoros de Schopenhauer eram um tanto frustrados, mas para ele nada na vida é mais importante que o amor, e que este não deve ser considerado um assunto banal. Conforme nos apaixonamos, Schopenhauer afirma que desejamos primeiramente as qualidades existentes no sexo oposto, pois o alvo de tal vontade é a necessidade de se reproduzir.

Ele acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tivesse a ver com a felicidade. Por esse motivo Schopenhauer aconselha que não devemos criar expectativas de durabilidade nos relacionamentos amorosos.

Portanto, o amor servia somente para criar o fruto, neste momento não haveria mais o amor somente uma consideração, ou seja, “o amor não é algo romântico mas sim uma ilusão” (BASEGGIO, 2009).

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Se baseando em escritos budistas e na filosofia oriental, Schopenhauer procura uma forma de libertação dessa vontade pois que diz que a única forma de se libertar dela é a total renúncia, alcançada no Nirvana. Ele também identifica esse mecanismo da libertação da vontade no cristianismo genuíno. De todo modo, a sabedoria religiosa tem por referência o budismo.

O pessimismo de Schopenhauer veio da sua metafísica, a metafísica da Vontade. A Vontade, ao contrário da razão, não tem limites, pois ela vai para qualquer lado: bom ou ruim. Tanto um quanto o outro gera um querer, o qual nos conduz ao caos. Schopenhauer chegou a propor maneiras de transcender as frustrações da condição humana, especialmente por meio da arte. Por esse motivo, suas idéias agradaram inúmeros escritores e músicos, como Thomas Mann, Proust, Tolstoi e Wagner, assim como outros filósofos, incluindo Nietzsche.

Em 1814, Schopenhauer foi para Dresden, onde começou a trabalhar em seu livro mais famoso, O mundo como vontade e representação, no qual foi lançado em 1819. No livro ele descreve que o mundo só é dado à percepção como representação: o mundo é puro fenômeno e a vontade é objetivada tornando-a perceptível. O centro e a essência do mundo não estão nele, mas naquilo que condiciona o seu aspecto exterior na coisa em si do mundo. Logo que o objeto imediato passa a ser visto por si mesmo e, mais ainda, por outro modo de conhecimento se distinguindo do que é comum à representação.

Fonte:http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/imagens/representacao4.jpg

O Homem toma os limites do próprio campo de visão como se fossem os limites do mundo

Ele explica que a visão do mundo é limitada por observações de um vasto universo, universo esse composto por experiências limitadas de uma ampla vontade universal, da qual a própria vontade é apenas parte da sua visão de mundo, não incluindo coisas já percebidas por ele e nem a vontade universal que ele não experimentou.

Principais Obras

As Dores do Mundo
Sobre a Raiz Quádrupla do Princípio da Razão Suficiente (1813)
Sobre a Visão e as Cores (1815)
O Mundo como Vontade e Representação (1819)
Sobre a Vontade da Natureza (1836)
Os Dois Problemas Fundamentais da Ética (1841)
Parerga e Paralipomena (1851)

 

Principais Frases
“Quem deseja sofre. Quem vive deseja. A vida é dor”.
“Os sábios de todos os tempos disseram certamente a mesma coisa, e os tolos, ou seja, as maiorias eternas sempre fizeram o contrário. E assim será sempre.”
“Os quarenta primeiros anos de vida ministram o texto: os outros trinta ministram o comentário.”

Da mesma forma como nos homens, a vontade seria o princípio fundamental da natureza. Para Schopenhauer, na queda de uma pedra, no crescimento de uma planta ou no puro comportamento instintivo de um animal afirmam-se tendências, em cuja objetivação se constitui os corpos.

Essas diversas tendências não passariam de disfarces sob os quais se oculta uma vontade única de caráter metafísico e presente igualmente na planta que nasce e cresce, e nas complexas ações humanas.

As formas racionais da consciência não passariam de ilusórias aparências e a essência de todas as coisas seria alheia à razão: “A consciência é a mera superfície de nossa mente, da qual, como da terra, não conhecemos o interior, mas apenas a crosta”. O inconsciente representa papel fundamental na filosofia de Schopenhauer.

 

Referências 

BURNHAM, Douglas; BUCKINHAM, Will. O livro da Filosofia. Editora Globo, São Paulo, SP, 2011.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5. Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

Zimmern, H.  Schopenhauer: his life and philosophy. G. Allen & Unwin ltd, 1932.

Schopenhauer, Arthur. Sobre a Filosofia e seu Método. São Paulo: Hedra, 2010.

BASEGGIO, Daniel. A Metafísica do Amor- Schopenhauer. 2009.

DEBONA, Vilmar. A vontade é o elemento fundamental a fim de trazer o sentido das coisas e do mundo. É essa união entre o corpo e o sentimento, segundo o filósofo, que proporciona a essência metafísica elementar: a vontade da vida. Revista Filosofia, São Paulo, Editora escala. 2014.

DEBONA, Vilmar.  Ideologia e sabedoria. Disponível em: < http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/17/artigo133464-1.asp>.  Acesso em 22 de abril de 2016.

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Água na pedra: sonhos líquidos que inundam a sociedade construída de asfalto e calor

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” Dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos.

Ele fala conosco através dos sonhos “
Carl Jung

Arte: Salvador Dali

Uma máxima que reverbera e transcende o tempo afirma que “Os sonhos impulsionam a vida”. Essa leitura suscita o pensamento que desencadeia o ato de escrever. Por isso, esclareço que o objetivo deste texto reside na reflexão. E, convenhamos que o ato de refletir se torna mais salutar quando embalado pela poesia de Mário Quintana que eternizou os sonhos ao divagar

“Sonhar é acordar-se para dentro”

Mas, em uma sociedade contemporaneamente tão consumista, competitiva e excludente, ainda há espaço para sonhos?

Alfred Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão, defendia que o sonho constituiria o elo da corrente que liga a consciência do estado sonambúlico à consciência do estado de vigília. Logo, sonhos são reflexos do nosso consciente.

Sigmund Freud (1858-1939) no seu Traumdeutung (Interpretação dos Sonhos), publicado em 1900, afirma que o conteúdo dos sonhos é a via real para o acesso ao inconsciente. Dessa forma, os sonhos seriam a tentativa de realização de um desejo reprimido inconscientemente.

Diante destas postulações, cumpre-nos entender que sonhar é inerente à essência humana. Constituindo-se, assim, uma inevitável, deliciosa e desafiadora ação da enigmática mente humana, segundo minha visão particular.

Contudo, comporto-me neste texto como o “sapo tanoeiro” de Manoel Bandeira ao insistir na pergunta “Ainda há espaço para nossos sonhos?”

Na tentativa de elucidar este questionamento, aproprio-me da experiência do engenheiro Francis Alÿs  (estudante das Artes) que percorreu as ruas de Copenhague empurrando uma pedra de gelo até que ela derretesse completamente. E para quem está se questionando qual o objetivo desta experiência, surpreendi-me com a resposta que consiste na constatação de que “há ações que não nos levam a lugar algum”.

Foto: Francis Alÿs, Paradox of Praxis I (Sometimes doing something leads to nothing), 1997. Cortesia do artista e David Zwirner Gallery, Nova Iorque. © 2011 Francis Alÿs.

Pautada na experiência e constatação de Alÿs, reflito que sonhos realmente alimentam a vida. Literariamente conceituando, Sonhar é colorir o sentido da existência. Mas, sonhar por sonhar significa querer colorir a vida sem pincéis e sem tinta. Por isso, para concretizá-los, exige-se ação, planejamento e iniciativa. Precisamos gerenciar nossos sonhos, por meio de estratégias e metas, para alcançarmos suas realizações.

Logo, sempre haverá espaço para os sonhos. Então, sugiro que sonhemos com mais intensidade, mas também com mais ação. Exemplifico com o relato de que sempre sonhei em caminhar sobre as nuvens. Por isso, passei anos da minha vida, construindo tijolos imaginários. Mas, lutei para transformar esse sonho em realidade.

Para que isso acontecesse, um dia, guardei todos os meus tijolos imaginários dentro de uma mala e fiz minha primeira viagem de avião. O sonho se tornava realidade, eu andava sobre as nuvens….

Perceberam a diferença? Se eu continuasse com meus tijolinhos imaginários que construiriam uma escada para caminhar sobre as nuvens, eu, talvez, jamais sentisse o céu. Eu continuaria empurrando minha pedra de gelo pelas ruas da minha vida. Estaria me esforçando, sim, para alcançar um sonho, contudo, seria um esforço inútil.

Ratifico que “Sonhos são reais necessidades”, como poetizou Fernando Pessoa

Dever de Sonhar

Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.

Defendo que os sonhos transformam nossa existência. Acredito que funcionem como água vivificadora que umedece essa sociedade inospitamente em processo de petrificação. Assim, sonhar embebe as durezas e o calor da vida permitindo com que, em meio às pedras do cotidiano, nasçam as rosas, como a rosa no asfalto de Carlos Drummond de Andrade

A Flor e a Náusea

“…Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”.

Finalizo aludindo Fernando Pessoa que sentenciou “Navegar é preciso. Viver não é preciso”. Acrescento que “Sonhar é preciso e inevitável”.

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