A Psicologia inserida no contexto prisional como aspecto relevante na transformação social
14 de abril de 2022 Josélia Martins Araújo da Silva Santos
Mural
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A leitura do livro está diretamente associada a temática abordada, visto que a Lei de Execução Penal trata especificamente sobre os direitos relativos aos presos, respeitando os princípios constitucionais apresentados, possuindo o intuito de assegurar à interna saúde, educação, assistência e a remição. Então Avena (2014, p. 21) define a Lei de Execução Penal.
Buscando uma denominação para o ramo do direito destinado a regular a execução penal, a doutrina internacional consagrou a expressão Direito Penitenciário. No direito brasileiro, porém, essa designação revela-se em descompasso com os termos da L. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal – LEP), que, já em seu art. 1º, estabelece como objetivo da execução penal “efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”.
Sabe-se que os princípios penais inerentes as mulheres mães e gestantes presentes na Lei de Execução Penal (LEP), atenta-se a necessidade do acompanhamento médico, principalmente relativo pré-natal e ao período pós-parto, estendendo-se ao recém-nascido, então as penitenciárias femininas devem possuir espaço para gestante e parturiente e também creche para crianças maiores de seis meses e menores de sete anos conforme definido na Lei de Execução Penal.
Fonte: encurtador.com.br/cjEQU
Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico.
3o Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido.
Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana; b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).
Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenciária de mulheres será dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável estiver presa
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de: IV – condenada gestante.
Fonte: encurtador.com.br/wBF69
Então tratando-se da Lei de Execução Penal (LEP), deve atentar a permissão de prisão cautelar, mesmo que inexista sentença penal condenatória transitada em julgado. Por este motivo, vez que ainda não foi comprovada sua culpa ou dolo, é realizada a restrição de sua liberdade, objetivando a defesa social e processual. As prisões cautelares no ordenamento jurídico brasileiro atualmente são a prisão preventiva, prisão em flagrante e a prisão temporária.
Segundo Avena (2014, p. 56), “Fazer executar a sanção penal judicialmente imposta, sem descuidar da imprescindível socialização ou ressocialização, com vistas à reinserção social, constitui, em síntese, os objetivos visados pela lei de execução penal.”
O livro nos leva à discussão acerca de que no Brasil, o fator de ressocialização destacado no art. 10 da Lei de Execução Penal (LEP) encontra-se distante de ser cumprido na realidade dos cárceres brasileiros, na maioria dos casos observados as localidade definidas para o cumprimento das detenções são arcaicas, como também não atendem aos pré-requisitos das penas privativas de liberdade para que ocorra a ressocialização dos indivíduos ao seu término, devendo atentar-se para a falta de estrutura em relação ao atendimento familiar, principalmente entre mães encarceradas e seus filhos, tanto recém nascidos quanto em sua infância e adolescência, podendo gerar um sentimento de revolta em ambos e agravando ainda mais a situação à médio e longo prazo tanto para a mãe encarcerada quanto para o filho em formação.
FICHA TÉCNICA
Editora: Saraiva Jur; 5ª edição (3 de dezembro)
Autores: Carla Pinheiro (Autor), José Fabio Rodrigues Maciel (Coeditor)
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Regras de Bangkok: regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras. Brasília: CNJ, 2016.
INFOPEN – Sistema de Informações Penitenciárias do Departamento Penitenciário Nacional. Disponível: http://www.justica.gov.br/news/mj-divulgara-novo-relatorio-do-infopen-nesta-terca-feira/relatorio-depen-versao-web.pdf . Acesso em: 12/04/2022 às 01:45.
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Estagiando no SUS: relato de experiência
8 de janeiro de 2022 Brenda Karelly Silva de Souza
Relato
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A psicologia me proporcionou um estágio em uma UBS (Unidade Básica de Saúde), que é considerada a principal porta de entrada no SUS, onde se encontram as equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) que são compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde, conforme as necessidades regionais também poderão ser incorporadas outros profissionais. Segundo o Ministério da Saúde (1997):
Os profissionais das equipes de saúde serão responsáveis por sua população adscrita, devendo residir no município onde atuam, trabalhando em regime de dedicação integral. Para garantir a vinculação e identidade cultural com as famílias sob sua responsabilidade, os Agentes Comunitários de Saúde devem, igualmente, residir nas suas respectivas áreas de atuação.
Nesse estágio pude acompanhar o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde em uma região de Palmas, Tocantins. Durante a experiência visitei as casas de moradores da região junto aos ACS, que são responsabilizados por micro áreas onde recolhem informações a respeito de cada indivíduo daquela região. E tive a oportunidade de observar os conceitos doutrinários sendo colocados em prática. Porém também pude perceber as dificuldades encontradas na realização dos serviços.
Fonte: encr.pw/VLKFx
A partir do trabalho dos ACS percebi como são realizados a promoção e a manutenção da saúde, onde cada agente realiza seu trabalho de forma a atender os indivíduos em seu todo, analisando suas necessidades levando em conta a equidade, atendendo pessoas que também não poderiam ir até a UBS, se preocupando com o mínimo como aspectos sociais, culturais, biológicos e psicológicos.
Porém, apesar de o SUS ter obtido grandes avanços, é necessário a participação da população cobrando seus direitos, fato que foi reforçado sempre pelos agentes em seu trabalho. Os mesmos encontram dificuldades diárias como a falta de material para realização do seu trabalho, e pontuaram que sem a cobrança da comunidade para com o governo, participando das reuniões que ocorriam nas UBS uma vez por mês não seria possível a melhora desses aspectos.
Segundo os relatos dos ACS apesar de realizarem campanhas com a população como outubro rosa, faltavam materiais básicos como luvas para realização dos exames de prevenção, o que acarretava em agentes desmotivados com o trabalho, pois apesar de realizarem sua parte é necessário a presença do controle social seja pela participação da população cobrando por seus direitos, ou pela participação da mesma em Conselhos e Conferências de saúde, não eximindo o governo dos seus deveres com a saúde.
Fonte: encr.pw/XhDcP
A falta de materiais perfaz por influenciar também na saúde dos ACS que se sentiam desmotivados e preocupados com o trabalho, relatando sintomas como estresse, desânimo, e algumas vezes insônia. Os ACS também sofriam com cobranças da população devido morarem na região onde trabalham, e falta de melhores recursos de trabalho como mais computadores.
Por fim, os ACS relataram não se sentirem sem esperanças de melhora devido a falta de responsabilidade do governo com seu dever, e também falta de motivação pela falta de reconhecimento de seus trabalhos que é crucial para o funcionamento da Atenção Básica de Saúde. E ressaltaram ainda a parcela de responsabilidade da população na melhora do Sistema Único de Saúde, que existe para atender as necessidades da mesma, porém tem de começar a ter participação social mais ativa.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministérios da saúde. Saúde da Família: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial, publicada em Brasília, 1997.
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Caos 2021: A negligência na assistência psicossocial primária como fonte de psicopatologia
O Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA informa que irá de forma online promover o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia- CAOS, que ocorrerá entre os dias 03 e 06 de Novembro de 2021, com o tema: A Psicologia e Atuação Psicossocial em situação de emergência. Inscrições pelo site. O evento irá ocorrer via Google Meet e também pelo Youtube.
Dentre as programações do congresso, haverá a mesa redonda com subtema: A negligência na assistência psicossocial primária como fonte de psicopatologia. A ocorrer dia 05/11 às 9h via Youtube.
Contará com a participação da Psicóloga Thays Stephanie Costa de Sousa, graduada pela Universidade Positivo direcionada à Psicologia Hospitalar e atualmente Residente em Urgências e Emergência em São José dos Pinhais-PR.
Fonte: encurtador.com.br/afiCF
Outra convidada a compor a mesa será a Psicóloga Dhieine Caminski, graduada pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Especialista em Atenção Básica/Saúde da família, tendo sido responsável pela Gerência de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Palmas/TO.
Fechando a composição da mesa; a psicóloga Marilena Ribeiro, graduada pelo Ceulp/Ulbra, egressa, com atuação no Centro de Referência da Assistência Social, no Centro de Atendimento Sócio Educativo do Governo do Estado/TO, psicóloga Redutora de Danos no Projeto Palmas Que Te Acolhe, atualmente psicóloga clínica.
Na mesa redonda será explorada a Atenção Primária em Saúde e a Assistência Psicossocial, considerando como parte indivisível da Instituição Saúde as demandas sociais; reconhecendo que o surgimento da Rede de Atenção Psicossocial se deu após a Reforma Psiquiátrica, onde adoecimento mental ganhou outro viés, reconhecendo variáveis sociais, e que psicopatologias não são isoladas em sinais e sintomas, destacando que quando saúde psicossocial é negligenciada vira situação de intervenção em urgência e emergência.
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Médicos Sem Fronteiras e a ajuda humanitária ao redor do mundo
O projeto de atuação internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização com ações de auxílio direcionado à populações vítimas de crises humanitárias.
Tudo começou na França em 1971, quando um grupo de médicos e jornalistas se voluntariaram sem serviços nos anos anteriores em Biafra- Nigéria. A assistência profissional para vítimas da guerra civil naquela região fez com que eles percebessem a necessidade de maiores cuidados e acompanhamento dessa causa. Após 29 anos da criação deste grupo, recebe a premiação do Nobel da paz pela contribuição à população e a visibilidade de inúmeras causas que ajudam de prevenção a pessoas com baixos auxílios.
Além de ações médicas assistenciais às populações vulneráveis, como na maioria da atuação do projeto em diversos países, quando há necessidade a ajuda do MSF se dá através de fornecimento de alimentação, abrigos temporários, água e saneamento básico. Isso costuma acontecer em locais que estão no auge da crise econômica, política e conflitos civis, onde as pessoas correm, constantemente, risco de vida ou agravamento da saúde por falta de assistência e socorro.
Fonte: www.msf.org.br/
O projeto Médicos Sem Fronteiras é gerenciado de forma não governamental sem fins lucrativos. A política interna direciona cerca de 80% de toda a arrecadação para atividades humanitárias de campo, os outros 20% são revertidos para despesas administrativas e na aplicação de captação de recursos. Anualmente disponibiliza relatórios auditados da prestação de contas à população e para acesso de todos, sendo detalhada informações de seus 21 escritórios.
A equipe profissional é constituída de oncologistas, enfermeiros neonatal, enfermeiro chefe, cirurgiões plásticos, anestesistas, ginecologistas, médicos, pediatras, epidemiologistas, obstetras, enfermeiro obstetra, farmacêuticos, psicólogos, psiquiatras, administrador financeiro, fisioterapeutas, administradores, especialistas em água e saneamento, logística de suprimentos, logística, promoção a saúde, coordenador de projetos, coordenador financeiro, coordenador de recursos humanos.
Os princípios básicos da organização devem ser cumpridos por toda a equipe profissional vinculada ao Médicos Sem Fronteiras, são eles:
“Independência, não está atrelada a poderes políticos, militares, econômicos ou religiosos e tem liberdade de ação, decidindo onde, como e quando atuar com base em sua própria avaliação do contexto e das necessidades. Essa independência de ação é garantida por sua independência financeira, já que, de todo o financiamento de MSF, 96% é proveniente de doações de indivíduos e da iniciativa privada.
Imparcialidade, Médicos Sem Fronteiras oferece ajuda humanitária e cuidados de saúde àqueles que mais precisam, sem discriminação de raça, religião, nacionalidade ou convicção política […] A possibilidade de aliviar o sofrimento de indivíduos por meio da ação médica é o que determina a norteia as atividades de Médicos Sem Fronteiras.
Fonte: www.msf.org.br/
Neutralidade, a neutralidade é crucial para as equipes conseguirem chegar a qualquer pessoa afetada, independentemente do lado do conflito em que esteja. A neutralidade de MSF é possibilitada pela sua total independência financeira de governos ou partes envolvidas em conflitos.
Transparência, MSF avalia constantemente os projetos que implementa e presta contas à sociedade e aos doadores sobre a gestão dos recursos captados e resultados de suas ações […] Para reforçar esse compromisso, os relatórios financeiros são auditados por empresas independentes e redigidos em conformidade com os padrões da International Financial Reporting Standards (IFRS). São também publicados relatórios anuais, que trazem o resumo das atividades desenvolvidas em campo e análise crítica dos progressos, obstáculos e aprendizados. MSF também preza pela transparência na relação com seus pacientes e, coerente com essa transparência, informa-os sobre as escolhas que faz e sobre as decisões que toma no que se refere à sua atuação médica.
Ética médica, o trabalho da organização é norteado pelas regras da ética médica universal. Em primeiro lugar, vem o dever de prestar assistência a quem precisa, sem prejudicar indivíduos ou grupos. A ética médica fala de respeito à autonomia e à confidencialidade dos pacientes, e também de seu direito a acessar todas as informações necessárias para que possam consentir procedimentos e tomar decisões com respaldo. Cada indivíduo é tratado com dignidade e respeito e recebe cuidados médicos de qualidade”.
Fonte: www.msf.org.br/
A psicologia é uma área de extrema importância na ajuda humanitária às pessoas em situação de vulnerabilidade extrema. A atuação dos (as) psicólogos (as) está relacionada ao auxílio emergencial à população, redução e controle de danos, resolução e formulação de estratégias de acordo com a realidade do local onde é prestado seus serviços. Sua realidade, na maioria das vezes, está ligada a conflitos armados, guerras civis, surtos de doenças, precariedade, catástrofes naturais, e diversas situações que não estão sendo esperadas.
E o principal cuidado que os profissionais de psicologia têm a partir desse cenário é cuidado com a saúde mental de cada paciente. A fragilidade psicológica diante de tantas experiências traumáticas, muitas vezes potencializam fatores de adoecimento, não só psíquico mas também físico. Aliados a uma vasta equipe multiprofissional, buscam então, a melhoria da qualidade de vida e recursos práticos para a manutenção da saúde física, psicológica e emocional onde quer que vão prestar seus serviços.
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Mesa redonda discute a assistência em situações de crise
Participaram da mesa Alex Matos Fernandes (profissional da Defesa Civil); Karlla de Souza Luz e Claudete Nascimento (profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU); e Andreya Bueno, (Tenente Coronel do Corpo de Bombeiros Militar).
Ocorreu na manhã da última quarta-feira, dia 02 de outubro, nas dependências do CEULP/ULBRA, a mesa redonda “Intervenção em Situações de Crise”, organizada pela professora Izabela Querido e os acadêmicos de Psicologia da disciplina de Intervenção em Situações de Crise. A mesa redonda teve o objetivo de abordar a assistência prestada por profissionais nas mais diversas situações de crise, como suicídio, surtos psicóticos, desastre e violências.
Participaram da mesa Alex Matos Fernandes (profissional da Defesa Civil); Karlla de Souza Luz e Claudete Nascimento (profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU); e Andreya Bueno, (Tenente Coronel do Corpo de Bombeiros Militar). Como mediadora, a professora Izabela Querido iniciou com a apresentação do evento, abrindo para as apresentações dos profissionais convidados.
A tenente Coronel Andreya Bueno, do Corpo de Bombeiros, atualmente no cargo de diretora do Departamento de Ensino e Pesquisa, abriu a fala dos convidados da mesa. Inicialmente abordou sobre a sua experiência pessoal com a Psicologia, reconhecendo a importância das intervenções do profissional psicólogo. Durante a sua fala explicou sobre o trabalho de capacitação para situações de emergência que realiza nas instituições de ensino, o qual envolve crianças do primário até universitários, focando na prevenção como também no manejo em caso de incidentes.
(Da esquerda para a direita: Karlla de Souza, Claudete, professora Izabela Querido, Andreya Bueno e Alex Matos Fernandes )
Dando continuidade às falas da composição da mesa redonda, a enfermeira Karlla de Souza Luz, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), relatou como ocorre a assistência e os procedimentos em casos de emergências, em que os profissionais do SAMU são acionados para prestar assistência direta ao paciente ajudando e fornecendo o atendimento pré-hospitalar às vítimas em situações de urgência. Karlla relatou sobre algumas experiências que foram marcantes em sua vida profissional, demandas relacionadas aos atendimentos direto com os pacientes em situações de urgência. Compondo também a mesa, a profissional do SAMU, Claudete Nascimento, explicou sobre a simulação de acidente com múltiplas vítimas ocorrido na Teotônio Segurado, que teve o objetivo de preparar os profissionais de salvamento e segurança.
Alex Matos foi o responsável por descrever a atuação da Defesa Civil na cidade de Palmas-TO. Esta representa um conjunto de ações preventivas de socorro, assistenciais e reconstrutivas visando preservar a integridade física e moral das pessoas em situação de vulnerabilidade. Alex explicou que o papel da Defesa Civil vai além de apenas salvar uma vida em situação de perigo, sua atuação também envolve oferecer suporte para que as vítimas se sintam acolhidas. Um exemplo citado foi o de oferecer brinquedos para crianças que estão em abrigos temporários depois de desastres, sejam estes causados por eventos naturais ou decorrentes de incidentes tecnológicos. Na pauta do evento, também foi discutida a questão de cadastros de profissionais para auxiliarem em situações de desastre.
Na ocasião da mesa redonda os profissionais aproveitaram para reforçar a necessidade de desenvolver ações que promovam saúde mental para as pessoas que intervêm nas situações de crise. Andreya apontou que cresce o número de mortes por suicídio em profissionais da segurança pública enquanto Karlla e Claudete citaram o adoecimento físico e mental de profissionais da saúde. De acordo com os depoimentos, o suicídio é uma experiência vivenciada com colegas próximos tanto da corporação do Corpo de Bombeiros quanto em áreas da saúde.
O encontro foi encerrado com a reflexão da importância de discutir e abrir espaço para abordar cada vez mais sobre a atuação desses profissionais, construindo juntamente com acadêmicos um trabalho intersetorial em que diferentes áreas poderão articular para atender as necessidades vigentes.
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Redução de danos como uma prática de cuidado às pessoas que usam drogas
Quando suportamos a função de cuidador, navegamos por águas escuras e operamos manobras de alta complexidade.
Antonio Lancetti, 2006
O debate sobre RD remonta a meados da década de 1920, na Inglaterra, com a utilização da heroína no tratamento de usuários desta droga, que mantinham relação prejudicial, de modo a minimizar os efeitos prejudiciais da substância injetável e garantir o acesso a direitos básicos. Desta ação, foi produzido e publicado o Relatório Rolleston, em 1926, tornando-se um marco no tratamento do uso prejudicial de álcool e outras drogas (FONSECA, 2005).
Anos mais tarde, em 1980 na Holanda, a RD abriu possibilidade para novos diálogos sobre drogas, após uma ação comunitária perpetrada por um grupo de usuários de substâncias injetáveis (SOUSA; CARVALHO, 2015). À época, havia um número expressivo de usuários de drogas contaminados com Hepatite B, o que desencadeou a mobilização, tensionando o poder público a criar Programas de Trocas de Seringas, que consistia na troca de seringas usadas, por estéreis (FONSECA, 2005). Ainda segundo a autora, além da troca de seringas, o Programa passou a dispor de uma diversidade de insumos (algodão, água potável, bicarbonato de sódio), não somente nos centros de saúde, como também nas cenas de uso (FONSECA, 2005).
Na mesma época, nos Estados Unidos, os primeiros casos de HIV/AIDS começaram a ser detectados. “Com o desenvolvimento dos testes para detectar o HIV, a situação se revelou bastante mais grave: cerca de metade dos UDI (usuários de drogas injetáveis) de Nova Iorque estavam infectados pelo vírus da AIDS” (FONSECA, 2005). Na Europa, chegavam a 30% de pessoas infectadas entre usuários de substâncias injetáveis (TELLES, 2004 apud FONSECA, 2005), e as estratégias de RD foram ganhando força, agora não mais como foco na dependência de drogas, mas como prevenção de doenças infecciosas, como Hepatite B e HIV/AIDS.
Fonte: encurtador.com.br/fnyJL
No Brasil, a primeira tentativa de utilizar estratégias de RD se deu em Santos, em 1989 (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). No entanto, fazer redução de danos na época era tido como crime equivalente ao de traficar drogas, pois os operadores do direito compreendiam como “apologia ao uso”, baseados no argumento legal da Lei nº 6368/76 (FONSECA, 2005).
Em 1995, deu-se início o primeiro Programa de Redução de Danos no Brasil, na cidade de Salvador/BA, como projeto de extensão da faculdade de Medicina na Universidade Federal da Bahia (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). Em 1997, foi criada a ABORDA, constituída por profissionais redutores de danos de diversas áreas, usuários de drogas e pessoas comprometidas com a pauta (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005).
Somente em 2005, as ações de RD foram regulamentadas, por meio da Portaria nº 1028, e mais tarde, foram incorporadas à Atenção Primária, com a Portaria nº 2488/2011, com as equipes de Consultório na Rua (TEIXEIRA et. al., 2017), e compreende enquanto eixos norteadores de atenção integral à saúde: a educação e informação, a assistência e a disponibilização de insumos de proteção à saúde (BRASIL, 2005).
Fonte: encurtador.com.br/elnB6
Desse modo, o artigo 9º da referida Portaria vem “Estabelecer que as ações de redução de danos devem ser desenvolvidas em consonância com a promoção dos direitos humanos, tendo especialmente em conta o respeito à diversidade dos usuários ou dependentes de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência” (BRASIL, 2005).
Contrapondo a Portaria que versa sobre a Política de Redução de Danos, as práticas de recolhimento, vide exemplo da megaoperação policial realizada na cracolândia em São Paulo em junho de 2017, possuem intrinsecamente o propósito de higienismo social, internando involuntariamente usuários de drogas nas comunidades terapêuticas nas quais são submetidos a tortura, trabalho compulsório e punições severas. Os mecanismos de assujeitamento do “novo sujeito manicomial”, o usuário de droga, vincula o tratamento a noção de castigo, com bases em uma moral cristã fundante do Estado brasileiro.
A lógica da abstinência, e a consequente postura de negação do diálogo sobre o uso de drogas, está tão arraigada no discurso e postura dos serviços direcionados para usuários de drogas, que mesmo estes são capturados por esse discurso.
Fonte: encurtador.com.br/hnuE5
A Resolução N 01/2018 do Conselho Nacional de Política sobre Drogas (CONAD), implica em uma mudança significativa no que tange a política sobre drogas no Brasil, enfatizando a abstinência como única estratégia de intervenção e a internação como instrumento para atingir esse fim. Além disso, reforça o financiamento das comunidades terapêuticas, ao passo que propõe o sucateamento dos serviços substitutivos, como os CAPS AD e demais dispositivos de reintegração social sob a ótica da redução de danos.
Na atual configuração dos equipamentos de saúde, embora ultrapassada, em sua maioria agenciada pela lógica da abstinência, a RD busca ativar um movimento de afirmação política, uma vez que inaugura um dispositivo, que opera na prática novas formas de ver, pensar, agir e sentir sobre as drogas (SOUZA, CARVALHO, 2015). Nesse ínterim, a RD não se limita ao binarismo “sim às drogas” versus “não às drogas”, tal qual a abstinência, mas emerge como possibilidade de acolher os indivíduos em suas singularidades, aproximando-se do princípio da Universalidade preconizado pela Lei nº 8080, que institui o Sistema Único de Saúde (SUS).
Fonte: encurtador.com.br/qCK29
Em contrapartida, a lógica da abstinência entra em desacordo com a lei supracitada, uma vez que condiciona o acesso ao tratamento em saúde somente àqueles que desejam parar de usar drogas. Segundo Petuco (2014), a abstinência pode ser eventualmente alcançada no processo de tratamento, no entanto, não deve ser posta como objetivo final.
Para Souza e Carvalho (2015), a RD pressupõe três conclusões: nem todas as experiências com drogas são danosas; nem todos os indivíduos que têm experiências danosas com drogas desejam parar de usá-las; e os danos podem ser de diversas ordens, devendo as ações de saúde abarcá-las em sua integralidade.
Os trabalhadores que militam pela RD enquanto “trabalhadores afetivos”, tomando emprestado o conceito de Toni Negri e Michael Hardt (2000) são aqueles que fazem parte do território existencial e geográfico, promovem saúde onde a clínica (trans)borda, entram em sintonia com as pessoas e seus processos para, então, tornarem-se alternativa de autonomia e cuidado.
Fonte: encurtador.com.br/fpsEQ
Pensar a RD não é pensar uma prática fechada, reproduzida em estratégias fabris e em série, mas pensar um ethos de cuidado que valoriza a experiência particular dos sujeitos e é construída singularmente. É, portanto, um paradigma ético de experimentação e um dispositivo que opera uma nova prática.
Como se encontra a política sobre drogas atualmente?
Recentemente o Ministério da Saúde lançou uma nota técnica reafirmando a resolução número 01/2018. Nesta, instaura-se que as estratégias de tratamento deverão ser baseada na lógica da abstinência, excluindo qualquer ação voltada para a política de redução de danos.
Diante disso, retoma-se ou porque não dizer, intensifica-se, a conhecida guerra às drogas, que se apresenta como uma guerra desigual e ineficaz. Primeiro, por ter como alvo de seus principais ataques às populações pobres, negras e que “sujam” a sociedade. Segundo, por não levar em consideração a baixa eficiência dos tratamentos que objetivam a abstinência, visto que é alta a reincidência do uso após o período de reclusão em abstinência (SANTOS e COSTA-ROSA, 2007).
Fonte: encurtador.com.br/dwAQV
Outras decisões da nota técnica que não estão diretamente ligadas a política de drogas, mas estão ligadas a política de saúde mental como um todo, adotam a volta dos hospitais psiquiátricos, a volta do uso da Eletroconvulsoterapia, e ainda usa de termos como ´´manicômio“ e ´´superlotação de Serviços de Emergência com pacientes aguardando por vagas para internação psiquiátrica“,deixando claro o quanto a segregação das pessoas que possuem algum transtorno mental se mostra como uma possibilidade.
Tais mudanças representam um enorme retrocesso a todas as correntes quebradas e as que vinham se quebrando desde a Reforma Psiquiátrica, em relação ao oferecimento de tratamentos que enxergassem os sujeitos com um olhar biopsicossocial. Ainda, perde-se aos poucos a liberdade concedida aos pacientes que antes eram “limpados” da sociedade e depositados em instituições de reclusão com a justificativa de um bom tratamento, quando na realidade desejavam excluí-los dos ambientes sociais tradicionais.
Fonte: encurtador.com.br/ivBC9
Diante disso o Conselho Federal de Psicologia (CFP), entende que tal nota técnica representa um regresso às práticas de cuidados punitivas e segregacionistas e que estas vão de encontro ao princípio de respeito à liberdade, dignidade e integridade do indivíduo defendida pelo Código de ética da profissão. Portanto, no dia 8 de fevereiro foi lançada uma nota de repúdio dizendo que “O Conselho Federal de Psicologia (CFP) vem a público manifestar repúdio à Nota Técnica Nº 11/2019 intitulada “Nova Saúde Mental”, publicada pela Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, na última segunda-feira (4). O teor do documento aponta um grande retrocesso nas conquistas estabelecidas com a Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216 de 2001), marco na luta antimanicomial ao estabelecer a importância do respeito à dignidade humana das pessoas com transtornos mentais no Brasil. (CFP, 2019)”
REFERÊNCIAS:
MANGUEIRA, Suzana de Oliveira et al. PROMOÇÃO DA SAÚDE E POLÍTICAS PÚBLICAS DO ÁLCOOL NO BRASIL: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA. Psicologia & Sociedade, Pernambuco, v. 27, n. 1, p.157-168, set. 2014. Disponível em: <http://submission.scielo.br/index.php/psoc/article/view/124187/9061>. Acesso em: 07 maio 2019.
PETUCO, D. R. da S.; MEDEIROS, R. G. Redução de danos: dispositivo da reforma? Boletim Drogas e Violência no Campo, [s.l.], [s.n.], mar. 2009.
SANTOS, Clayton Ezequiel dos; COSTA-ROSA, Abílio da. A experiência da toxicomania e da reincidência a partir da fala dos toxicômanos. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 24, n. 4, p.487-502, dez. 2007. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/29064/S0103-166X2007000400008.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 07 maio 2019.