Relacionamentos Artificiais: um sentimento lógico (ou não)

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A tecnologia tem avançado em um ritmo tão acelerado que parece ser capaz de tocar os aspectos mais  íntimos da nossa existência: as emoções e os relacionamentos. Na sociedade contemporânea, na qual é marcada por mudanças rápidas e profundas nas dinâmicas sociais, começamos a nos deparar com um fenômeno que parecia ser exclusivo da ficção científica, vínculos emocionais sendo criados com máquinas. Como destaca Oliveira (2009), a globalização e o avanço das tecnologias de comunicação têm moldado não apenas nossos hábitos, mas também a maneira como nos relacionamos e compreendemos a nós mesmos[1].

Figura: Theodore segurando Samantha. Fonte: Her (2013)

Em um mundo cada vez mais isolado, onde a solidão parece ser o preço de uma vida hiperconectada, os relacionamentos artificiais vêm ganhando espaço devido a oferecerem conforto e interações sem os desafios e complexidades dos laços humanos. Segundo a Fast Company Brasil (2024), a OMS declarou em 2023 que vivemos uma epidemia de solidão e que pesquisas realizadas nos EUA mostram um enorme declínio no número médio de amigos que os jovens têm[2], apontando para uma sociedade que cada vez mais enfrenta dificuldades em cultivar conexões humanas. No Brasil, o cenário reflete essa mesma realidade. Conforme destacado pela Fast Company Brasil (2024), muitas pessoas que vivem sozinhas ou têm pouco tempo para conviver com a família acabam buscando por ‘alguém’ que escuta, está presente o tempo todo, que não julga, que demonstra ‘empatia’, guarda suas informações e conversa com você[2].

Mesmo que os relacionamentos artificiais possam parecer uma solução para a solidão moderna, é essencial questionar se eles realmente preenchem nossas necessidades emocionais ou apenas oferecem uma ilusão de companhia. Essas conexões digitais, apesar de convenientes, desafiam nossa compreensão do que significa criar laços autênticos, com isso, será que estamos nos adaptando a uma nova forma de vínculo ou apenas nos distanciando ainda mais da profundidade que as relações humanas podem oferecer? Enquanto a tecnologia avança, devemos olhar além da praticidade e refletir sobre os efeitos que ocorrem dessas interações em nossa saúde mental e no modo como nos relacionamos uns com os outros.

Figura: Representação da conexão entre humano e máquina. Fonte: Fast Company Brasil (2024)

Na busca por alternativas que mitiguem a solidão e ofereçam suporte emocional, surgem aplicativos que simulam interações humanas de maneira personalizada. Um exemplo é o Replika, uma plataforma de inteligência artificial projetada para atuar como um “amigo” ou até mesmo um “parceiro” digital. Utilizando aprendizado de máquina, o Replika evolui com base nas preferências e interações do usuário, criando a ilusão de um relacionamento genuíno.

De aplicativos como Replika até assistentes virtuais que simulam o companheirismo, estamos testemunhando um fenômeno de grande impacto psicológico e social. A introdução da IA ​​como uma substituição para os relacionamentos humanos, incluindo amizades e até no amor, de acordo com Sahota (2024), marca uma mudança significativa em nossa sociedade como um todo[3]. Este artigo explora as implicações dessa nova forma de relacionamento, com base em estudos e artigos que investigam a ética, os perigos e as possíveis consequências deste avanço.

Plataformas como Replika têm atraído milhões de usuários ao prometerem uma interação personalizada e empática, simulando um “amigo” ou até mesmo um “parceiro” digital. Para grande parte dos usuários, como cita Rubio (2021)[4], o Replika acaba sendo uma oportunidade de ter coisas que não podem ter em seus relacionamentos na vida real. Muitos desses sistemas utilizam aprendizado de máquina para evoluir conforme as preferências e necessidades do usuário, criando a ilusão de um relacionamento genuíno.

Figura: Ilustração do avatar chamado Lucas. Fonte: EL PAÍS (2021)

No entanto, um artigo do The Guardian aponta que, essa dinâmica pode criar dependência emocional, especialmente para pessoas que enfrentam solidão ou dificuldades em construir conexões reais. “Essas tecnologias são projetadas para criar um vínculo aparentemente perfeito, sem conflitos, julgamentos ou desentendimentos, o que atrai pessoas em busca de conforto emocional rápido”[5].

De maneira similar, um artigo publicado na Psychology Today alerta sobre o impacto psicológico da substituição de interações humanas por artificiais. Relacionar-se com uma IA pode amplificar o isolamento social e comprometer habilidades interpessoais essenciais, como empatia e resolução de conflitos. De acordo com o estudo mencionado, “desenvolver muita dependência emocional em chatbots sociais de IA pode ter um lado negativo, potencialmente piorando suas habilidades sociais com as pessoas”[6].

Figura: Ilustração de um jovem interagindo com a IA. Fonte: O Globo (2023)

A popularização dos relacionamentos com IA destaca uma nova realidade: estamos utilizando a tecnologia como um substituto para a complexidade das relações humanas. Isso reflete um paradoxo moderno – quanto mais conectados estamos digitalmente, mais desconectados nos tornamos emocionalmente. Ao refletir sobre essa situação, Kimura (2023) afirma que é importante lembrarmos que a definição da nossa humanidade está justamente na capacidade de sentir emoções e estabelecer as relações humanas uns com os outros[7].

Relacionamentos artificiais com IA são ferramentas poderosas que podem oferecer suporte emocional, mas é importante compreender suas limitações e riscos. O relacionamento online já é popular atualmente, de acordo com Wu (2024), boa parte acaba se frustrando e a IA assume um lugar importante no desenvolvimento do afeto para muitas dessas pessoas[8]. Estudos e análises, mencionados neste artigo, deixam claro que os laços humanos, com todas as suas imperfeições, são insubstituíveis, e que por mais que, pareça legítimo, se relacionar com algo que lhe entenda, é necessário entender que isso não passa de uma rede neural, que só replica o que aprendeu de uma forma mais natural.

Figura: Representação da relação humano-máquina. 

O futuro da interação homem-máquina deve ser equilibrado, buscando sempre colocar na balança o que podemos delegar nesta relação. Que as inteligências artificiais sejam nossas aliadas, mas não um refúgio para evitarmos os desafios e as recompensas das relações humanas reais.

REFERÊNCIAS

[1] OLIVEIRA, Eloiza da Silva Gomes de. Construção da subjetividade humana e tecnologia da informação e comunicação – uma nova moralidade? Conhecimento & Diversidade, Niterói, n. 2, p. 45–55, jul./dez. 2009.

[2] FAST COMPANY BRASIL. Afetos artificiais: como usuários estão se conectando emocionalmente à IA. Fast Company Brasil, 2024. Disponível em: https://fastcompanybrasil.com/tech/inteligencia-artificial/afetos-artificiais-como-usuarios-estao-se-conectando-emocionalmente-a-ia/. Acesso em: 24 nov. 2024.

[3] SAHOTA, Autor. IA substitui amigos, confidentes e até parceiros românticos. Forbes, 2024. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-tech/2024/07/ia-substitui-amigos-confidentes-e-ate-parceiros-romanticos/. Acesso em: 24 nov. 2024.

[4] RUBIO, Autor. Lucas é carinhoso e atento, mas não é humano: um mês na companhia de uma inteligência artificial. El País, 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/tecnologia/2021-03-02/lucas-e-carinhoso-e-atento-mas-nao-e-humano-um-mes-na-companhia-de-uma-inteligencia-artificial.html. Acesso em: 24 nov. 2024.

[5] THE GUARDIAN. Computer says yes: how AI is changing our romantic lives. The Guardian, 2024. Disponível em: https://www.theguardian.com/technology/article/2024/jun/16/computer-says-yes-how-ai-is-changing-our-romantic-lives. Acesso em: 24 nov. 2024.

[6] PSYCHOLOGY TODAY. Spending too much time with AI could worsen social skills. Psychology Today, 2024. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/intl/blog/urban-survival/202410/spending-too-much-time-with-ai-could-worsen-social-skills. Acesso em: 24 nov. 2024.

[7] Rodrigo Kimura. Inteligência Artificial e as relações humanas. Foco Cidade, 2023. Disponível em: https://fococidade.com.br/artigo/55014/inteligencia-artificial-e-as-relacoes-humanas. Acesso em: 25 nov. 2024.

[8] Rita Wu. Você namoraria uma inteligência artificial?. CNN Brasil, 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/rita-wu/tecnologia/voce-namoraria-uma-inteligencia-artificial/. Acesso em: 25 nov. 2024.

 

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Ministério da Saúde lança assistente virtual no WhatsApp com informações oficiais sobre a vacinação

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Na Palma da Mão

Ferramenta vai disponibilizar conteúdos sobre imunização, alertas das fake news mais frequentes e informações complementares sobre saúde

 

Um novo canal de comunicação vai ajudar a esclarecer dúvidas de brasileiros e brasileiras sobre vacinação. O chatbot, que é um assistente virtual no WhatsApp, foi lançado nesta segunda (4) pelo Ministério da Saúde e vai disponibilizar conteúdos diversos sobre imunização, alertas das fake news mais frequentes e informações complementares na área da saúde. A ferramenta faz parte do programa Saúde com Ciência, ação inédita e interministerial que tem foco na valorização da ciência e na disseminação de informações confiáveis, além de ações educativas e voltadas a responsabilização.

A plataforma também vai oferecer conteúdos como o horário de funcionamento de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e de que forma os serviços do SUS facilitam o acesso à vacina. As interações com o chatbot são gratuitas e estão disponíveis a qualquer hora. Para acessar o novo canal, basta adicionar o número (61) 99381- 8399 à lista de contatos do telefone.

Acesse o novo chatbot do Ministério da Saúde 

Na prática, o assistente virtual tem o papel de facilitar o acesso a informações confiáveis sobre a vacinação e iniciativas do governo federal na área da saúde. Após adicionar o contato na agenda, será possível interagir pelo WhatsApp. Quando o usuário enviar a primeira mensagem, um menu vai disponibilizar quatro opções para escolha:

  1. Vacinação: informações sobre campanhas, públicos-alvo e calendário das doses;
  2. Informações sobre as vacinas: principais características, benefícios e importância;
  3. Combate à desinformação: para desmentir fake news sobre vacinas; além de perguntas e respostas, o chatbot também disponibiliza um quiz para quem quiser testar os conhecimentos.

O assistente virtual trará, então, conteúdo explicativo na tela para o usuário. Para de evitar a propagação de fake news ou, ainda, que o cidadão se informe por meio de canais não oficiais, todas as informações e dados disponibilizados pelo chatbot terão como fonte o Ministério da Saúde.

Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, vacina e água potável são os grandes responsáveis pelo aumento da expectativa de vida e pela redução da mortalidade infantil. “De que adianta o grande desenvolvimento científico, tecnológico e o avanço que representa a vacina se junto não tivermos uma política de vacinação? Essas são políticas integradas, que caminham juntas. Estamos unindo esforços, gestores, parceiros, ministros de estado, conselheiros, comunidade, academia, cidadão, jovens, lideranças religiosas, numa frente única e forte de combate à desinformação para fazer Saúde com Ciência”, ressalta.

O programa Saúde com Ciência uma iniciativa inédita do governo federal em defesa da vacinação e voltada ao enfrentamento da desinformação. A proposta faz parte da estratégia para recuperar as altas coberturas vacinais do Brasil diante de um cenário de retrocesso, principalmente nos últimos dois anos, quando foram registrados os piores índices. A propagação de fake news é um dos fatores que impacta na adesão da população às campanhas de imunização.

Com o objetivo de fortalecer as políticas de saúde e a valorização do conhecimento científico, o Saúde com Ciência é composto por cinco pilares, que envolvem cooperação, comunicação estratégica, capacitação, análises e responsabilização. O programa prevê, ainda, ações para identificar e compreender o fenômeno da desinformação, promover informações íntegras e responder aos efeitos negativos das redes de desinformação em saúde de maneira preventiva.

Nesse contexto, o novo chatbot é um importante espaço para que os usuários enviem temas e dúvidas. A partir das informações recebidas, o Ministério da Saúde vai emitir alertas e análises sobre desinformações identificadas, que serão publicadas no portal do programa, nos perfis de redes sociais do governo federal e atualizadas no próprio chatbot.

                           Fonte: Divulgação/MS
ChatBot MS.jpg
Foto: divulgação/MS

 

Acessibilidade na palma da mão para todas as idades

A Robbu foi a empresa responsável pela tecnologia de estruturação do bot – ponto estratégico para que a ferramenta pudesse chegar à população de maneira democrática. A solução foi criada especialmente para a iniciativa, o que resultou em uma interface simples, dinâmica e direta, visando atingir o maior número possível de cidadãos.

“É um chatbot pensado para contribuir com a inclusão digital da sociedade, garantir que a população tenha as melhores orientações e, principalmente, entenda a importância das campanhas de vacinação para o bem-estar social. As pessoas terão acesso na palma da mão a informações verdadeiras e de qualidade. Podendo, assim, se manterem protegidas e evitar a disseminação de diversas doenças”, afirma Francisco Dabus, diretor comercial da Robbu.

A participação da Meta no projeto com o Ministério da Saúde é outro atrativo. Segundo dados da pesquisa Opinion Box, o WhatsApp é o aplicativo mais utilizado no Brasil, instalado em 99% dos celulares no país. Por funcionar em áreas de baixa conectividade de internet, o app se torna um importante aliado para conectar pessoas a informações confiáveis.

“Essa iniciativa é mais um exemplo de como podemos potencializar o uso do WhatsApp para conectar a população aos serviços públicos de forma segura, privada e acessível. Os brasileiros terão no WhatsApp, um aplicativo com familiaridade, um novo canal com informações oficiais sobre as campanhas de vacinação do Ministério da Saúde. Estamos orgulhosos de fazer parte do projeto e gerar impactos positivos em grande escala”, diz Guilherme Horn, Head do WhatsApp para Mercados Estratégicos.

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