Efeitos Pessoais Laborais no Novo Capitalismo

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No último dia 3 (três) de maio aconteceu o “Psicologia em debate”, que foi apresentado pelos acadêmicos Erismar Araújo e Fabrício Veríssimo. O tema faz uma crítica às consequências que o capitalismo traz à vida do trabalhador. Os estudantes relataram que no início do trabalho houve um impasse entre os valores pessoais e aquilo que o autor aborda.

O debate teve início com uma breve apresentação da biografia do autor. Richard Sennett é professor de sociologia da Universidade de Nova Iorque, é considerado um dos maiores intelectuais em sociologia urbana na atualidade. Teve influências da filósofa alemã Hannah Arendt e do filósofo francês Michel Foucault. Sua obra mais conhecida é “O declínio do homem público”, na qual aborda a relação entre a vida pública e o culto ao indivíduo e ao individualismo.

Fonte: http://zip.net/bvtKjd

O livro “A Corrosão do Caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” é baseado na história de trabalhadores e um dos pontos que o autor aborda é sobre os vínculos duráveis ou não duráveis no ambiente do trabalho e a importância das relações nesse espaço.

Seguindo com o conteúdo explanou-se a respeito de alguns conceitos, como: Corrosão: ato de corroer, destruição. Caráter: formação moral; honestidade: homem de caráter. O autor, também, argumenta que o capitalismo está em um momento caracterizado como natureza flexível em que o trabalhador deve estar sempre pronto para se adaptar às diversas situações impostas pela empresa.

Fonte: http://zip.net/bhtJZ7

Com isso, o autor acredita que o trabalho flexível tem efeito negativo no caráter da pessoa. No trabalho flexível também entra a questão do trabalhador disciplinado que é aquele que busca sempre dar o seu melhor. No entanto, tanto no trabalho disciplinado quanto no flexível, o trabalho ocupa o centro da vida.

A rotina parte da ideia de reestruturação do tempo; criação de formas e de poder; a mudança do ‘controle face-a-face’ pelo controle eletrônico. Ou seja, com as novas tecnologias, há uma nova rotina em que o trabalhador pode organizar seu próprio tempo, tendo seus aspectos positivos e também negativos, pois com isso enfraquece as relações interpessoais. Dessa forma, a ética do trabalho contribui para a degradação humana, pois não há mais experiências compartilhadas.

Fonte: http://zip.net/bbtJLb

Por fim, foi possível compreender, por meio do relato/apresentação, que o autor expõe a problemática do trabalho flexível, quais seus principais impactos para o trabalhador e, consequentemente, à sociedade em geral, pois uma vez que tais consequências atingem o caráter pessoal de um indivíduo impacta, também, toda a população.

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Diálogos (Contemporâneos) – Entre Pai e Filho

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CAPÍTULO I

– Filho, que tal um cinema amanhã?

– Ah pai, não vai dar, meu ritmo tá uma loucura. Escola de manhã, educação física à tarde, aula de inglês, academia, personal trainer; e à noite, estudar para o ENEM três vezes por semana…

– Pô filho, que e isso? Você tem 15 anos! Pega leve!

– Leve, pai, pirou? Tô estressadíssimo! Você já viu a concorrência? Não tenho tempo para vacilar. Se piscar, fico pra trás! Aliás, queria te pedir pra me arrumar consulta com uma nutricionista, pode ser?

– Estressadíssimo? Ficar pra trás? Nutricionista, pra que?

– Preciso regular minha alimentação e saber certinho quais os nutrientes adequados para ganhar massa magra no treino.

– Mas do que você tá falando, moleque? Que nutrientes? Que massa magra?

Ah, só me faltava essa! Filho, nutriente é pra vaca! Ser humano come comida, pois come também pelo prazer, pela fantasia, desejo, aparência da  comida… Para com essa frescura de massa disso e daquilo e vive rapaz!

– Vai entender, pai! Canso de ouvir que é pra evitar fritura, açúcar,  que devemos ingerir ômega 3, 6; malhar, não beber, não fumar, não engordar, estudar muito… Fui na psicóloga, fono, fisio, no muaythai, no judô; tomo  ritalina, complemento alimentar; não fumo cigarro, um ‘beck’ de vez em quando, muito menos; transar, só de camisinha…E agora você vem e me fala tudo isso?? Pois eu não sou da geração saúde como vocês queriam?

– Pior que é filho! Mas, não precisa exagerar, entende? Você tá parecendo o menino robotizado em1984 de George Orwell que denuncia o pai para o Partido, ou da juventude maoísta que o acusa de gostar de música  clássica… Que horror, que coisa mais pasteurizada e sem gosto que vocês  se tornaram!

– O que você tá falando PAI????

– Nada filho, esquece, tô ficando deprimido com nossa conversa.

– Mas, eu tô fazendo algo de errado?

– Não, nada! Esse é o problema! Queria que você transgredisse um pouco,  ficasse de bobeira sem fazer nada…sabe, sentar na praça com seus amigos, jogar conversa fora, falar de mulher, comer um espetinho na esquina, sei lá, deixar o tempo passar sem compromisso algum.

– Sem chance pai, vou perder tempo, além do que, a praça é ponto de droga e um menino foi esfaqueado outro dia lá. Prefiro ficar jogando no meu iphone  em casa mesmo. E não esquece que comer porcaria é só um dia na semana. Não sabe mais o que é colesterol e gordura trans?

– Deus meu! Temos que parar o mundo. Estamos produzindo imbecis! Escuta  filho, deixa tudo isso pra lá, faz o seguinte, no último fim de semana  deste mês, vamos à praia relaxar e não fazer absolutamente nada, que tal?

– Xi véio, tenho grupo de estudo. Não dá pra faltar.

– Mas que droga moleque! Tem prova de que agora?

– Não é prova, é o grupo que se reúne para estudar pra faculdade.

– Que faculdade, filho? Você tem 15 anos ainda!!

– Véio, 3 anos passam voando!!

– Que merda, depois o véio sou eu! Chega de conversa. Quer saber? Vou tomar uma pinga e dormir. Boa noite filho.

– Toma vinho, pai, tem Polifenol que é bom para o coração.

– Eu mereço…

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A militância que arrasa: Bruna La Close e a livre orientação sexual no Amazonas

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Respeito à livre orientação sexual e reconhecimento ao nome social. Duas grandes bandeiras do movimento LGBT do Amazonas, reunidos no Seminário Norte de Humanização em Manaus. O evento foi realizado pelo Coletivo Norte de Humanização, apoiado pelo Ministério da Saúde. Apesar do nome oficial, anotado em registro de nascimento e em outros documentos oficiais, o movimento pela livre orientação sexual em Manaus quer reverter os casos de constantes constrangimentos, vividos, sobretudo, nas instituições públicas.

O Portal (En)Cena entrevistou Bruna La Close, presidente da Associação Amazonense de Lésbicas e Travestis, que destacou o trabalho na Capital.

Bruna La Close em entrevista ao portal (En)Cena

(En)Cena – Na primeira roda do Seminário Macro Norte de Humanização em Saúde você pautou a importância do nome social para o movimento LGBT. Quais as implicações que a não observação desse direito traz para o usuário do SUS?

Bruna La Close – A Humanização em Saúde faz parte de todos os direitos humanos, não somente dos direitos de gênero. O não respeito ao nome social acontece somente na esfera da saúde, na educação e em várias outras políticas públicas onde o travesti é usuário. Existe, a prática de você chegar no local de atendimento e irem sempre pelo nome do RG [Carteira de Identidade]. Essa é uma luta que o travesti traz: o nome social, como eu me identifico naquele momento, esse é o principal empecilho que a gente encontra. O constrangimento, onde eu estou e como vou ser chamada e é isso que acontece. É o nome social o principal, porque representa o respeito: Como ela deve ser chamada? Como ela gosta de ser chamada? Como ela deveria ser chamada?

Bruna La Close – Foto: Divulgação

(En)Cena – Você acredita que os profissionais na hora dos atendimentos, em todas as esferas do serviço público, são maus orientados para o trato com as pessoas representadas pelo movimento GLBT, por exemplo?

Bruna La Close – Quando a gente fala em movimento, tem que tratar movimento com todas suas especificidades, ou seja, colocar um hétero para falar com um gay, evidentemente, ele vai ter empecilhos tanto da parte dele, quanto da parte do gay. Porque ele não tem uma capacitação por questões de linguajar diferenciado. Inicia desde o tratamento. O travesti gosta de ser tratado como ela, e não como ele. Por aí já inicia a falta de respeito e, às vezes, o diretor, gestor da pessoa que está atendendo, já discrimina sem saber. É onde entra a falta de humanização, de conhecimento e capacitação dessas pessoas para atender a comunidade LGBT.

(En)Cena – Sobre essas demandas, quais os impactos que a mobilização social já produziu nas políticas públicas aqui no Amazonas?

Bruna La Close – A gente já tem aqui no estado do Amazonas, através da Secretaria de Assistência Social – SEAS, e da SEMARG, um pequeno projeto que busca a inclusão do nome social dos travestis. Ele foi concretizado através do governo do Estado, foi sancionado, só que não tem prática. Aliás, o setor público municipal não reconhece, por mais que você exija, mas não reconhece, ou seja, foi publicado, mas não foi trabalhada essa questão dentro das próprias esferas para que seja resolvida, colocada em prática.

(En)Cena – Qual o tipo de ação quando há um tratamento que vocês não aceitam?

Bruna La Close – A gente denuncia, porque às vezes, através dessa situação de constrangimento, gera uma discriminação, gera uma fobia. Qual é o nosso principal parceiro de denúncia? É a imprensa, quando a gente denuncia na imprensa, rapidamente tem uma resposta, mas daquela situação localizada.

(En)Cena – É algo pontual, momentâneo?

Bruna La Close – Cito um exemplo: Universidade do Estado do Amazonas – UEA, uma universidade muito forte dentro do estado, que discriminou barbaramente um homossexual, foi resolvido e o professor se retratou, mas através do movimento. Mas como? O “Movimento La Close” chegou à Universidade e informou a denúncia.

(En)Cena – São conquistas no dia-a-dia?

Bruna La Close – Então, não são conquistas que se diga que o governo, a prefeitura e demais esferas estejam com o movimento, mas o movimento lutando paralelamente que conseguiu a conquista tal, no momento tal.

Bruna La Close em entrevista para a Rede Bandeirantes durante a Parada do Orgulho LGBT 2012 – Foto: Divulgação

(En)Cena – Teria mais alguma coisa que você gostaria dizer sobre a humanização em saúde? Como essa política pode ser fortalecida?

Bruna La Close – Política de humanização, como eu disse anteriormente, é chamar! Você não vai tratar de uma política de humanização sem chamar o usuário, a população, a pessoa que sofre na pele. É o usuário que vai saber discutir o que ele passa, a situação do posto de saúde, do hospital. O usuário tem que estar presente, por que discussão de gestor para gestor, diretor para diretor, vai ser só discussão, um apoiando o outro e não se tem resultado de nada. O caminho é trazer a população para discussão.

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Tempos difíceis para os direitos humanos no Brasil

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Irá para votação na Câmara o Projeto de Decreto Legislativo 234/11, de autoria deputado João Campos (PSDB-GO), também conhecido como projeto da “Cura Gay”, pois visa a retirada de dois artigos do código de ética do psicólogo.

A saber:

“Art. 3° – os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.
Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.

Art. 4° – Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.”

Aqueles que defendem o projeto o fazem segundo duas bases argumentativas: 1) Homossexuais devem ter o direito de querer mudar de orientação sexual; 2) o projeto não versa sobre a “cura gay”, mas, ao invés disso, garante que psicólogos possam atender homossexuais.

Neste texto versarei sobre a primeira base argumentativa, pois acredito que ela tem uma relação maior com a discussão sobre saúde mental. Sobre a segunda base argumentativa recomendo uma das postagens  do meu recém-criado blog e um vídeo que encontrei na internet:

“SER GAY É UMA ESCOLHA!”

SERÁ?

Caro leitor, antes de prosseguir, convido-o a fazer uma reflexão. Por favor, responda a si mesmo, independente de ser hétero, bi, homo ou trans: Quando foi que você escolheu a sua orientação sexual? O que você pensou na hora que escolheu? Que tipo de raciocínio você seguiu na ocasião?

Você conseguiu lembrar? Acredito que não, acredito que você provavelmente simplesmente se deu conta dos desejos que você possuía ao invés de optar pelo quê sentir atração e tesão.

Comigo foi assim: eu nunca escolhi, simplesmente percebi que era diferente dos demais. Na segunda série me apaixonei perdidamente pelo rapazinho que sentava na minha frente. Não compreendia direito o que eu sentia, mas compreendia apenas que eu queria casar com ele. Nunca comuniquei a ninguém, porque seria embaraçoso.

E isto causava sofrimento psíquico, já quando criança. Sentia-me diferente e deslocado. Rejeitado em parte, e atacado a cada piadinha sobre ser gay. Acompanhava-me a solidão, pois sentia que era o único gay do mundo. Sim, sequer sabia que haviam outros gays no mundo, logo, descarte aí a ideia de que eu fui influenciado por algum homossexual.

Sentia-me tão sozinho e fragilizado que minha primeira infância foi reclusa. Era um pouco vulnerável. Se houvesse algum pedófilo que tivesse percebido a minha fragilidade, talvez ele tivesse se aproveitado disto e me molestado. Tive sorte, eu acho.

Sabe aquela máxima “crianças molestadas acabam gays”, que é um dos jargões para a defesa de que a homoafetividade é uma perversão, distúrbio ou trauma? Pois bem, acredito que este jargão está errado, o correto é que “crianças gays acabam molestadas”.

Crianças gays ficam fragilizadas por causa da solidão, do medo, da desinformação e do ataque disfarçado em forma de chacota que lhes cercam. Fragilizadas de tal forma que tornam-se fácil alvo para molestadores e abusadores de plantão.

Tive sorte, creio eu. Mas a questão é que eu nunca escolhi, eu simplesmente sinto meu desejo. Assim como você muito provavelmente também não escolheu, apenas segue o seu desejo. Ou você realmente acha que qualquer ser humano durante sua infância iria escolher entre fazer parte do grupo que é alvo de piadas ao invés de ser parte do grupo que lhe é imposto como normal?

Ainda sobre saúde mental, um último adendo: a confusão entre orientação sexual e opção sexual ainda trás outro problema para os jovens gays: o sentimento de culpa por não conseguirem ser diferentes do que a sociedade lhes impõe ou do que seus pais heteronormativos desejam deles. Muitos tentam ser heterossexuais, escolhem racionalmente a heterossexualidade, mas o desejo não pode ser mudado. Este conflito entre vontade de atender as expectativas dos outros e o desejo que sentem é um fator desencadeador de uma potencial grande melancolia ou depressão. Ansiedade crônica, insegurança, falta de autoestima e até baixo desenvolvimento das habilidades sociais.

“ENTÃO SER HOMOSSEXUAL NA NOSSA SOCIEDADE É DOENÇA!”

NÃO! A NOSSA SOCIEDADE É QUE É ADOECEDORA PARA OS HOMO/TRANS

A exclusão social, o preconceito, a estigmatização, a solidão, a falta de compreensão e excesso de julgamento; todos estes fatores são potencializadores de transtornos mentais e estados negativos. Um sujeito que é o tempo todo atacado com piadas, chacotas e é rejeitado constantemente tem uma grande chance de desenvolver um transtorno de ansiedade, podendo se desenvolver em tendências suicidas. Uma pessoa que não encontra compreensão e aceitação possui grande potencial para desenvolver uma depressão.

Ser homo/bi/trans não é doença. É algo natural.

“A HOMOSSEXUALIDADE NÃO É NATURAL”

Falar que algo é natural é falar que ela está presente na natureza, seja na natureza de uma maneira geral, seja na natureza de uma espécie específica.

Na natureza de maneira geral o comportamento homossexual é observado em cerca de 1.500 espécies animais, variando de primatas até insetos e vermes intestinais. Na espécie de primatas mais próxima dos seres humanos, os Bonobo – em que o sexo está dissociado da reprodução, assim como nos seres humanos – relações sexuais são a chave da vida social, e a espécie não segue a heteronormatividade em suas relações. Bonobos possuem diversos parceiros sexuais durante a sua vida, inclusive com membros do mesmo sexo. Não obstante, as fêmeas Bonobo de classe baixa fazem questão de comunicar ao resto do grupo com vocalizações quando estão em uma relação sexual com uma fêmea alfa, para aumentar a própria posição do grupo. E são a espécie mais próxima dos seres humanos.

Além disto, alguns estudos apontam a existência uma base genética no desenvolvimento da orientação sexual, embora não seja um determinismo. Existe, ainda, uma diferenciação ou adaptação biológica que ocorre em homens homossexuais: homens gays produzem mais androstenona, uma substância que produz o odor masculino; e também são mais sensíveis ao odor masculino provocado pela androstenona. Ou seja, gays produzem um odor masculino mais forte e, ao mesmo tempo, são mais sensíveis a este odor.

“E O QUE A POLÍTICA TEM A VER COM ISTO?”

Por fim, é importante questionar porque a política partidária está se preocupando com esta questão. Dentro das minhas leituras, atualmente a política se encontra mais voltada a concretizar os seus próprios interesses e os interesses da manutenção do sistema (capitalista) em que nos encontramos imersos. Os movimentos nas ruas são uma conjuntura interessante para tentar modificar algo (o Estado ou a estrutura estatal ou talvez apenas as pautas, só o tempo dirá), porém ainda não chegaram a sua força máxima.

Se a atual organização política está voltada para satisfazer os interesses da classe política (partidária e de gabinete), qual o interesse na questão de sustar os dois artigos do código de ética do psicólogo? O que os pastores de gabinete ganham com isto (nos sentidos econômicos e de poder)?

Segundo o Pastor Adélio, personagem fictício que critica os pastores das igrejas evangélicas mercantis, a “cura gay” é mais um produto para os templos venderem aos seus fiéis, e seu mercado consumidor são os adolescentes em conflito com a própria orientação sexual. As igrejas faturariam com a promessa de uma reversão sexual (falsa) para atender as necessidades machistas da família e tentar aliviar os conflitos dos jovens cujos desejos não correspondem as imposições sociais.

Eu, na minha paranóia sadia (ou assim a julgo), vou um pouco mais longe: fico com o pé atrás que no futuro haja um projeto de financiamento para entidades religiosas que sejam voltadas para a “cura gay”, assim como já existe financiamento para entidades religiosas que prestam serviço de tirar os drogados das ruas. Ou seja, mais dinheiro público investido nas igrejas, segundo minha profecia que espero que nunca se cumpra.

Por fim, fica o meu convite: vamos tentar enxergar a homossexualidade não como uma doença mental e começarmos a compreender que o preconceito, a ignorância, o machismo e a homofobia podem ser fatores desencadeadores de transtornos.

E compartilho meu humilde pensamento: Se temos doentes mentais, é porque, em grande parte, o mundo em que vivemos é adoecedor.

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homem de plástico

Almas de Plástico

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Diagnósticos psiquiátricos estão cada vez mais banalizados e empobrecedores. Mais do que termos usados para definir doenças, são a força de uma cultura massificadora e globalizada empurrada goela abaixo de quem busca identidade e sentido para sua dor. Basta de análise e enfrentamentos, pois ao receber o rótulo de um transtorno, categorizado dentro dos modernos pré-supostos neurobiológicos, a pessoa passa a não ter mais qualquer responsabilidade sobre o que sente ou faz. Fica aliviada, ergue o troféu do nome que melhor explica seu comportamento, além, claro, de exibir inúmeros medicamentos que prometem maravilhas. É a ciência médica que se declara gerente geral de todos os infortúnios e verdades da alma, é o capitalismo voraz que transforma afetos, pensamentos críticos e a subjetividade em neurotransmissores desequilibrados, excluindo o simbólico como estruturante do SER.

Tudo é químico e neurológico: depressão, transtorno bipolar, déficit de atenção, pânico, entre outros. E como não seriam? A capacidade de amar, de odiar, o ciúme, a tristeza; poder admirar uma música ou o por do sol; urinar, defecar, fazer amor, também são pura química e biologia, pois é disso que somos feitos, ora! A questão não é essa. Nós nos tornamos humanos não pela biologia, mas pela capacidade de simbolizar e criar através do pensamento, da linguagem, dos afetos, da ética… Repreendemos instintos primitivos de diversas formas para nos inserirmos na cultura, do contrário, ela seria inviável. Com isso, produzimos guerras, arte, ciência, religião e também sintomas… Damos bom dia até a quem detestamos e somos capazes de cumprimentarmos a pessoa com um largo sorriso estampado no rosto; desejamos tanto a mulher do outro que criamos mandamentos e leis para não nos apoderarmos à força dessa mulher; tomamos, por fim, nossos pais como seres sagrados e livres de qualquer desejo incestuoso ou de ódio…

A criatura humana se faz para muito além da biologia, embora dependa dela para manifestar-se. É constrangedor, entretanto, ver progressivamente mais gente buscando diagnósticos com a intenção de reencontrar uma identidade perdida. Pessoas se apresentando através dos sintomas que têm: “Bom dia, eu sou bipolar…”. Não é mais o José ou a Maria. Aquilo que tem, no lugar do próprio nome, logo, ele é o que disseram que ele tem (o indivíduo passa a ser o transtorno). Uma imensa pasteurização da humanidade que perde a capacidade de se reconhecer humana. São pseudo-verdades enlatadas e vendidas nos inúmeros sites onde os objetos comprados não são mais símbolos de algum desejo, mas o desejo em si. Exemplo disso é a histeria absurda quando a Apple lança um novo ipad. Uma euforia não pelo uso e utilidade do aparelho, mas por um endeusamento do próprio aparelho: se reto, curvo, arredondado, dessa ou daquela cor. Ao ver um filme nele, o filme mesmo é o que menos importa, o que vale é o novo design, os botões, a definição da imagem, os efeitos e os recursos poderosos. A maquininha sagrada passa a ser tudo na vida por algum tempo, porém, como é descartável, espera-se avidamente que um novo modelo saia em breve para aquietar a angústia que sempre ronda incansável.

Vivemos em um mundo onde governos e pessoas se rendem a grandes corporações e estas ditam normas, padrões, formando mentes empobrecidas que se imaginam, não obstante, livres. Na realidade, mentes aprisionadas naquilo que estas corporações desejam, isto é, domesticar para o consumo e banir os questionamentos. A moda das comunidades virtuais é um exemplo da força do markenting em torno dos nomes. Milhares de pessoas se agregam e se reconhecem nessas comunidades pelos diagnósticos recebidos: desatentos, anoréxicos (alimentares e sexuais), bipolares, panicados… Ali se relacionam, não por afinidades ligadas à subjetividade ou preferências, mas pelos sintomas que têm. Sinceramente, é triste, mas um fato. Esse é o nosso arranjo existencial que, pelo andar da carruagem, parece não ter mais volta…

Bem, para quem ainda tem o privilégio de ter seu próprio nome, evoé! Guarde-o, defenda-o como um guerreiro da condição humana mais bela… Todavia, se a dor for insuportável demais, paciência, o jeito é entregar-se à ditadura sedutora da imbecilização globalizada. Seguramente você terá mais lugar neste mundo e se sentirá bem mais adaptado a ele; claro, desde que não se incomode em transformar sua alma num plástico colorido, carimbado com código de barras e data de validade a expirar sempre que um novo modelo de alma chegar agitando o mercado.

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