Marildes Andrade: é preciso investir em nosso autodesenvolvimento

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O (En)Cena entrevista a acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Marildes Martins da Silva Rocha Andrade, Piauiense, 52 anos, casada, mãe de três filhos. Marildes é servidora da Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins há 27 anos, formada em Fisioterapia pela UEPB, Mestre em Saúde Coletiva pela UFBA. Na entrevista a seguir a entrevistada compartilha sobre a motivação que a levou a cursar psicologia, pontua seu interesse por literaturas relacionadas a essa área mesmo antes de ingressar no curso e quais são as suas expectativas futuras após a formação.

Confira este e outros detalhes na entrevista abaixo.

EnCena – O que te motiva a fazer psicologia já em uma fase mais amadurecida da vida?

A trajetória como fisioterapeuta me possibilitou trabalhar durante muito tempo em uma equipe multidisciplinar. Percebi o quanto era importante o paciente que estava em reabilitação também estar em psicoterapia, e como isso influenciava na evolução do tratamento fisioterapêutico. Também sempre gostei de leituras na área da psicologia. Paralelo a isso, a aposentadoria que se aproxima me fez refletir: o que farei quando me aposentar? Primeiro veio à aflição: não consigo me enxergar sem uma atividade, e por ocasião da pandemia em que fiquei um ano trabalhando em home-office veio a decisão de cursar psicologia.

Qual a área de atuação você pretende focar depois da formação?

Penso na clínica e na abordagem da psicologia analítica junguiana.

Qual dica você deixa para quem pretende cursar psicologia?

Primeiro, estudar psicologia exige muita dedicação e o aluno deve buscar leituras complementares, além das leituras acadêmicas. Segundo, estudar psicologia não é o mesmo que fazer psicoterapia, mas que fazer psicoterapia fará toda a diferença na vida profissional do aluno. Outra dica é que você pode fazer psicologia e escolher outras áreas que não seja a clínica, e para finalizar, a psicologia é uma ciência e isso é muito mais do que “ajudar os outros”.

Que aspectos internos foram mobilizados em sua vida a partir do curso?

Por meio de algumas aulas, gatilhos foram mobilizados e iniciei psicoterapia. Ainda em processo, percebo o quanto nos negligenciamos em prol de uma rotina estressante. E outro aspecto mobilizador, a importância de parar um pouco e nos voltarmos  para dentro de nós e o prazer de nos reencontrar.

Como é a experiência de conviver no curso com pessoas de diferentes idades e perspectivas?

Estou tendo uma ótima experiência. Aprendo muito observando seus comportamentos, seus posicionamentos e não me sinto diferente, nem inibida. Ali somos todos alunos.

Quais os maiores desafios enfrentados na pandemia relacionado à formação acadêmica?

Iniciei o curso durante a pandemia, então para mim foi uma forma de não me sentir “presa” em casa, pois durante a semana eu tinha aula e encontrava os colegas, mesmo virtualmente.

Qual mensagem você deixa para os nossos leitores?

Cuidem de vocês, se priorizem, pois quando a gente vê o tempo passou e se não cuidarmos de nós, da nossa saúde mental, chegaremos à velhice como a sensação de termos deixado de fazer o mais importante: nos amar.

 

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Entre todas as escolhas, prefiro ser feliz

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Recentemente fui indagada por uma conhecida sobre o que eu estava esperando para o futuro, muitos me apresentaram padrões e metas como condições de suas realizações. Percebi naquele momento que estava muito distante da realidade dos meus colegas.

Disseram-me que precisava escolher o que eu queria fazer, que eu deveria sacrificar boa parte da minha vida em prol do meu sucesso profissional. Disseram-me ainda que eu deveria escolher muito bem a pessoa que seria minha parceira, de modo que escolhesse alguém com riquezas que pudessem me sustentar.

Fonte: encurtador.com.br/cwTU1

Em boa parte do tempo não entendia a obsessão das pessoas em querer controlar minhas escolhas, me sentia diante de um cerco de opiniões alheias que ansiavam ditar as regras do meu comportamento. Muitas das vezes a pressão vinha de casa, meus pais me dando sugestões autoritárias e cada uma mais infeliz que a outra.

Em uma epifania percebi que seguiria um caminho triste e sem engajamento caso seguisse os desígnios de terceiros e, caso algumas de suas “ideias” dessem errado, somente eu arcaria com as consequências dos erros experimentados. Pus um ponto final em tudo, decidi que eu gostaria mesmo era ser feliz, feliz amorosamente, profissionalmente.

Por isso, busquei encontrar um verdadeiro amor, que estive disposto em se tornar um único ser comigo, busquei ainda trabalhar com aquilo que tinha como meu hobbie preferido, assim, além de fazer algo prazeroso pude receber por isso. A vida não precisa ser arduamente negativa para alcançar objetivos que sequer pretendem ser alcançados, podemos escolher a felicidade, mesmo que esta não esteja aparente no cotidiano de nossas vidas.

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Autoconhecimento e inconsciente: uma perspectiva junguiana

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A psique naturalmente já tem sua dinâmica homeostática. Porém, vivemos comprimidos entre a primitividade e a massificação. De um lado, temos o ser primitivo, que, reinante há não muito tempo, configura a maior parte da história humana, com sua identificação com a psique coletiva e a inebriante participação mística (JUNG, 2015a). Do outro, a cultura, que massifica o sujeito, o condiciona a ser mera peça do estado, com o desenvolvimento unilateral de suas capacidades para desempenhar estritamente uma única função (Id., 2013c, 2015b)

Devido a isso, o indivíduo pena para desenvolver e manter seu senso de individualidade, e é exatamente isso que ele deve fazer para ter uma boa convivência com sua psique. Para tanto, ele necessita de “uma valorização psicológica objetiva das diferenças individuais ou qualquer objetificação científica dos processos psicológicos individuais” (Id., 2015b, § 9), ou seja, autoconhecimento. Este não se refere apenas à personalidade consciente do eu, e sim também tudo aquilo que necessariamente passa despercebido de sua atenção, ou seja, é inconsciente (Id., 2013c).

Um bom grau de reflexão autocrítica já ajuda nesse processo, bem como a observância do que os outros podem pensar sobre você. De forma saudável, este último pode, além de nos fazer enxergar aquilo que não vemos, também oferecer atenção às nossas próprias projeções sombrias – aquilo que, não suportando manter conosco, delegamos inadvertidamente ao outro.

“[…] não se deve esquecer a seguinte regra: o inconsciente de uma pessoa se projeta sobre outra pessoa, isto é, aquilo que alguém não vê em si mesmo, passa a censurar no outro. Este princípio tem uma validade geral tão impressionante que seria bom se todos, antes de criticar os outros, se sentassem e ponderassem cuidadosamente se a carapuça que querem enfiar na cabeça do outro não é aquela que se ajusta perfeitamente a eles” (Id., 2013b, § 39).

Outra forma saudável é observar os próprios padrões de repetição, que tendem a se perpetuar enquanto o indivíduo não toma consciência deles. Jung, em sua célebre frase diz: “Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamar isso de destino” (Id., 1948/1970, § 126). A consciência é uma instituição de adaptação e orientação, e, portanto, necessita permanecer nos ditames do previsivelmente conhecido o quanto for possível. O inconsciente, clamando por uma vivência mais ampla que abarque a totalidade da existência da psique, produz um movimento de compensação da atitude consciente.

Fonte: encurtador.com.br/hxNQR

“A compensação inconsciente de um estado neurótico da consciência contém todos os elementos que, quando conscientes, isto é, quando compreendidos e integrados como realidades na consciência, são capazes de corrigir eficaz e salutarmente a unilateralidade da consciência” (Id., 2014, § 187).

Em geral, como continua a dizer o autor, a consciência ignora tais efeitos, e com isso o fenômeno da compensação se passa inconsciente, sem efeito imediato. Porém, ao longo do tempo, à medida que não se dá atenção à compensação, o inconsciente produz um efeito indireto: “a oposição inconsciente, numa constante infração, vai arranjando sintomas e situações, que finalmente se contrapõem sem cessar às intenções conscientes” (Ibid., § 187).

A via régia de informações para o inconsciente, é quando a consciência se desliga. Aqui o sujeito por alguns momentos interage com figuras fantásticas, revive cenas traumáticas, realiza seus desejos mais profundos. Enfim, ele entra em contato com o processo de homeostase mais natural da psique: o sonho. Aqui, ele irá se manifestar, em sua maioria, como uma compensação da atitude consciente (Id., 2011). Dando atenção às vivencias oníricas, o sujeito pode experimentar processos de desenvolvimento satisfatórios.

Outra forma, que é justamente a pedra angular de todo desenvolvimento teórico junguiano, é a análise. Na presença de um profissional, o sujeito conta toda sua vivência e expõe sua subjetividade, criando uma relação dialética com o terapeuta (Id., 2013a). Este, se esforça para entender e interpretar todo o conteúdo falado, na tentativa de ajudar o cliente a perceber a influência do inconsciente em sua vida, de forma que, futuramente, ele possa se auto monitorar.

Dessa forma, se desenvolve um contato com a própria subjetividade, de modo a diminuir as barreiras que se interpõem entre consciência e inconsciente. Nesse constante contato, o indivíduo começa se relacionar, através de sonhos e percepções visuais, com figuras imagéticas do inconsciente, sua linguagem por excelência (Id., 2015b).

REFERÊNCIAS

JUNG, Carl G.. A prática da psicoterapia. 16. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 156 p. (Obras Completas).

JUNG, Carl Gustav. Civilização em transição. 6. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. (OC 10/3). Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth; revisão técnica de Jette Bonaventure.

JUNG, Carl Gustav. O eu e o inconsciente. 27. ed. Petropolis, Rj: Vozes, 2015. (OC 7/2). Tradução de Dora Ferreira da Silva.

JUNG, Carl Gustav. Presente e futuro. 8. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. (OC 10/1). Tradução de Maria Sá Cavalcante.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia do inconsciente. 24. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2014. 168 p. (OC 7/1). Tradução de Maria Luiza Appy.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia. Petrópolis, Rj: Vozes, 2011. (OC 12). Tradução Maria Luiza Appy, Margaret Makray, Dora Mariana Ribeiro Ferreira da Silva; revisão literária Dora Mariana Ribeiro Ferreira da Silva, Maria Luiza Appy; revisão Técnica, Jette Bonaventure.

JUNG, Carl Gustav. Tipos psicológicos. Petrópolis, Rj: Vozes, 2015. (OC 6). Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth.

JUNG, Carl Gustav. AION: Researches into the Phenomenology of the Self. CW 9. Princeton: Princeton University Press, 1948/1970

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O quanto você se conhece? – Não é satisfatório conviver com uma dúvida em que a resposta está em você mesmo

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“Quem é você?”, uma pergunta aparentemente simples que deixa muitas pessoas sem respostas. Geralmente esse questionamento é feito em entrevista de emprego ou em uma consulta com o psicólogo.  Mas afinal, por que essa pergunta curta merece tanta atenção? A verdade, é que essa indagação permite a identificação sobre o autoconhecimento. Ou seja, se realmente a pessoa conhece a si mesma, bem como tem a capacidade de explicar sobre o que acontece em seu interior quando algo a desabona. 

Em tempos de redes sociais, discutir sobre esse assunto é bem pertinente, ainda mais quando padrões de comportamento e estética são impostos diariamente no universo da internet. O mundo virtual virou a nova esfera pública tão discutida por Habermas (1981).  Ademais, implica-se que definição de autoconhecimento reflete o conhecimento que o indivíduo tem sobre si mesmo. Conforme, Brandenburg e Weber o autoconhecimento trata-se da eficiência da pessoa em representar e identificar seu próprio comportamento, ou, com mais dificuldade, suas várias nuances. Para as pesquisadoras, ter consciência de si é desenvolver uma ação proferida tanto de sua autodescrição como de suas variáveis. 

Fonte: Free pick

“Nem sempre as pessoas estão atentas às condições que antecedem seu comportamento ou as consequências que ocorrem no ambiente”, reforçam. Elas ainda destacam em seus estudos que, quando o indivíduo se torna consciente de seus comportamentos, além dos fatores determinantes, surgem muitas vantagens, como ser verdadeiramente livre e obter o autocontrole.

Segundo Skinner (1957) o comportamento é uma interação entre indivíduo e ambiente.  Isto é, para desenvolver o autoconhecimento é preciso levar em consideração o meio social em que o indivíduo está inserido, bem como entender os sentimentos que muitas das vezes são aprendidos. Por isso, faz-se necessário a descrição dos sentimentos para realmente entender o que verdadeiramente se senti.

Carvalho (1999), em uma mesma abordagem, defende que é preciso detectar por si mesmo os pensamentos e os sentimentos como um primeiro passo para também “aprender a manejá-los e compreender como se relacionam mutuamente para produzir um determinado comportamento.” Para ele, entender as emoções, de uma forma profunda, é uma forma de aliviar o sofrimento.  Em seu ponto de vista, a busca pelo autoconhecimento das emoções ajuda a pessoa a lidar com as frustrações do cotidiano, por isso a necessidade de compreender os sentimentos.

Fonte: free pick

A busca pelo autoconhecimento é um trabalho diário que requer esforço e persistência. Por isso, segue algumas dicas para quem deseja entender a si próprio, além de suas emoções. É necessário que, tire um tempo para si, e questione sobre seus sentimentos daquele dia. É sempre bom escrever sobre o que está sentido, por isso sempre tenha em mãos papel e caneta. Procurar ajuda com um profissional de saúde mental é indispensável para que seus pensamentos disfuncionais se tornem alinhados com a realidade. Conversar com alguém próximo sobre suas emoções é muito importante, mas o acompanhamento profissional irá dar clareza sobre o seu comportamento.

Referências

Brandenburg, O. J. & Weber, L. N. D. Autoconhecimento e Liberdade no Behaviorismo Radical. Psicologia-USF, 2005.

Carvalho, G. S. O Lugar dos Sentimentos na Ciência do Comportamento e na psicoterapia Comportamental. Psicologia: Teoria E Prática. 1, 2, 33-36, 1999.

Habermas, Jürgen. Theorie des kommunikativen Handelns Frankfurt: Suhrkamp, 1981.

Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New Jersey: Prentice-Hall.

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Autoestima da mulher: como fica o autocuidado de quem cuida

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A autoestima está ligada ao valor que uma pessoa dá a si mesmo, aos seus sentimentos, em diferentes situações e eventos da vida (SCHULTHEISZ; APRILE, 2013). Enquanto, de acordo com Bub (et al, 2006), o autocuidado é a atitude de cuidar de si mesmo, ligado ao ato de se preocupar ou ocupar-se com seu próprio cuidado com a finalidade de obter uma melhor qualidade de vida. Porém, ao se pensar que a autoestima e o autocuidado são tarefas fáceis de se pôr em prática, verificamos o contexto das mães.

A mulher nos dias atuais, busca cada vez mais exercer seu papel social no contexto em que está inserida e a repartição das tarefas domésticas que por muito tempo foram consideradas como de sua responsabilidade. Apesar disso, ainda se encontra como principal responsável pelo cuidado e zelo da casa e dos filhos. O cuidado, acaba por se encontrar no dia a dia da mulher sempre ligado ao cuidar do outro, dos filhos, do marido, dos pais e das pessoas ao seu redor.

O autocuidado da figura feminina quando ocorre, é caracterizado pela influência das mídias sociais e a crença de que o cuidado da mulher consigo mesmo deve sempre estar voltado a questões estéticas, reforçando a objetificação do corpo da mulher como sendo produto a ser conquistado pelos homens (CHAVES, 2015). O foco da mulher no cuidado do próximo, e a culpa por sentir que não está fazendo o suficiente pelos outros ou por si própria pode reverberar em impactos em sua autoestima.

Fonte: encurtador.com.br/ahsw4

Durante uma roda de conversa intitulada “Autoestima: autocuidado e autoconhecimento” realizada por acadêmicas de Psicologia do Ceulp Ulbra via online com mulheres, o autocuidado foi conceituado pelas participantes ao ato de deliberar tempo para cuidar de si, fazer algo que lhe dê prazer e ter zelo consigo mesmo, cuidando do físico, emocional e espiritual. O que pode reverberar na autoestima e no autoconhecimento de cada pessoa. Porém, foram percebidas as crenças de autocuidado apenas ligadas ao cuidado com o corpo.

Em um pesquisa aplicada também por acadêmicas do curso de Psicologia do Ceulp Ulbra com 200 mulheres sobre os pontos que as afetam durante o processo da pandemia da COVID-19, foi constatado que grande parte das mulheres se sente sobrecarregada com as tarefas domésticas (46%), e em alguns casos sentem falta de uma rede de apoio (17,5%). Foi verificado também que como meio de melhorar a qualidade de vida, atividades como reinventar as tarefas domésticas cozinhando algo diferente (36%) ou procurar assistir/ouvir coisas que que tragam esperança (49,5%), foram praticadas.

Após uma discussão sobre possibilidades de autocuidado não ligados a cuidados estéticos, mas sim a atividades prazerosas do dia a dia ou ao ato de permissão de sentir sentimentos, se auto perdoar ou se permitir experimentar coisas novas. Foram relatadas como autocuidado também em atividades como jardinagem, descanso, cuidado com a casa e com o corpo ligadas a promoção de relaxamento e até mesmo sentir prazer em ter a possibilidade de acordar mais tarde que seus companheiros.

 

REFERÊNCIAS

BUB, M.B.C. et al. A noção de cuidado de si mesmo e o conceito de autocuidado na enfermagem. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 15, p. 152-157, 2006. Disponível em:<https://www.scielo.br/j/tce/a/LP6Z97VFMXBTRKkHqwyJQBj/?lang=pt&format=pdf>. Acesso em 15 julho de 2021.

CHAVES, F.N. A mídia, a naturalização do machismo e a necessidade da educação em direitos humanos para comunicadores. In: XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte–Intercom. 2015. Disponível em:<https://www.portalintercom.org.br/anais/norte2015/resumos/R44-0606-1.pdf>. Acesso em 15 julho de 2021.

SCHULTHEISZ, T.S.V.; APRILE, M.R. Autoestima, conceitos correlatos e avaliação. Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, v. 5, n. 1, 2013. Disponível em:<https://revista.pgsskroton.com/index.php/reces/article/view/22>. Acesso em 15 julho de 2021.

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Parte de mim que se perdeu…

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Aquela noite estava particularmente escura… Permitir-me ser levada para um lugar distante, através da sintonia que se formou entre as notas musicais no meu ouvido e as intensas batidas do meu coração. As lágrimas, por sua vez, dançavam conforme o ritmo sobre meu rosto levemente inchado.

Uma bela árvore estava a minha frente, possuía um tronco grosso e com uma estatura gigantesca, ela estava rodeada por uma multidão de flores. Era particularmente linda. Ao seu lado direito havia um estreito caminho, que tinha como destino um belo banco rústico, caminhei em sua direção, mas a cada novo passo o caminho ficava cada vez mais estreito até desaparecer por completo. As flores foram substituídas por um vasto pasto de capim seco, o sol batia levemente em meu rosto, fechei os olhos e me permiti sentir aquela sensação, rodopiei, rodopiei e sorri, rodopiei, rodopiei… Parei ao não sentir mais os capins tocarem minhas pernas, mas sim um formigamento nos pés, declarando a boa sensação da área, juntamente com o relaxante sons das ondas se quebrando, abri os olhos e lá estava o belo mar. Fascinantemente lindo.

Eu queria ficar ali, simplesmente vivenciar a calmaria daquele ambiente, mas não foi possível, num piscar de olhos, se tornou noite… Uma noite de lua cheia, as ondas se apresentavam mais velozes. Aquele cenário estava tão melancólico e chamativo, a maré estava alta, bastou apenas um passo, para contemplar a água molhar meus pés descalços, o vento batia em minha pele, fazendo-me arrepiar, estava frio, muito frio…

fonte: encurtador.com.br/jABE3

Adentrei ao mar, ele me chamava para ir mais e mais fundo, e eu fui… As lágrimas voltaram a escorrer levemente pelo rosto, caindo e se misturando com as águas salgadas. E então eu mergulhei, porém não nadei, não pude nadar, eu nem queria nadar, somente me deixei ser levada cada vez mais longe e fundo… A lua já estava tão distante, eu realmente me encontrava muito distante e fundo para conseguir voltar sozinha, algo me levava mais e mais ao fundo… Chorei e lentamente minha boca se abriu, a água adentrava meus pulmões, não senti dor física, somente um profundo silêncio e vazio…

Uma forte tristeza se apoderou do meu ser ao sentir que uma parte de mim estava partindo, e nunca mais voltaria, me questionei o porquê de tudo ter acontecido daquela forma, resultando naquele momento. Uma parte de mim estava indo embora… E eu não sabia o que fazer, somente pude chorar pela perda dela.

Então fui levada a olhar para mim mesma, como se olhasse uma mini boneca em um quarto de brinquedo, só que a boneca não estava nos padrões e nem mesmo feliz… Localizava-se deitada com os braços abertos, pernas cruzadas, com os pés tocando a cabeceira da cama, com um olhar sem direção. Paralisada naquela situação eu fiquei, por muito tempo, talvez horas… não me lembro. Só sei que eu precisava sentir toda aquela dor, para conseguir continuar…

Afinal de contas foi uma parte de mim que se foi, e eu me encontrava no direito de viver o luto pela partida dela.

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Autoconhecimento: uma regra de ouro da vida

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Há quem os critique, há quem os ame; eles já me resgataram do fundo poço e lhes sou grata: os livros de autoajuda. Acredito no “querer é poder” junto com o “querer é agir para poder”. Tem de ter um equilíbrio entre capacidade, ação, oportunidade e conhecimento do que ignoramos. Quanto mais investimos no autoconhecimento, mais descobrimos nossos talentos e limitações, defeitos e qualidades. Os livros são um dos caminhos para a autodescoberta. É difícil alguém se contentar só com o peixe, conhecendo sua capacidade de ter uma peixaria.

O universo capta as vibrações negativas e nos devolve. Então, não adianta o rosto sorrir se o âmago está repleto de rancor. Redes sociais hoje são fontes de provocações. É preciso vigiar nossa mente e nos vigiar.

Os livros me ajudaram a não me iludir que a felicidade estará na formatura, na casa própria, no casamento, em outro emprego, cidade etc. A verdadeira jornada do bem-estar é a mente. Conciliar rosto e alma é difícil quando o mundo cai à nossa volta, mas é um ingrediente de êxito. Pratiquei o poder do autoconhecimento e do pensamento positivo com ações nos desempregos. Para alguns, o desemprego era cortar gastos. Para mim, significava não ter aonde morar e como comer. Mesmo assim, agi otimista. Como?

Fonte: encurtador.com.br/nuG05

Encarando todos os dias como úteis, incluindo Natal e Carnaval. Consegui um emprego às vésperas do Natal. Aceitei trabalho temporário porque não encontrava efetivo e fui efetivada. Cargo pouco me importava, o importante era garantir o pão; manteiga era dispensável. Se não aparecia oportunidades, eu as criava. Enviava mais de 500 currículos por mês pelo correio. Talvez hoje eu cadastraria meu currículo em 500 sites por semana. Rezar, orar e fazer promessas também valem, mas tem de trabalhar todos os dias pelo trabalho. As chances de um milagre são maiores.

Leitura não abastece a despensa, mas abastece o cérebro. No autoconhecimento, descobri uma atividade que dependia só de mim, tornando-me independente do mercado de trabalho. Não existe “antigamente era melhor”. Qualquer época que se viva sem emprego e sem dinheiro é insuportável. Basta ler as biografias de vencedores de todos os séculos.

Quem se autoconhece, não se esmorece com críticas nem se deslumbra com elogios. Numa época de cancelamentos, provocações e polarizações virtuais, é mais importante ainda porque quem se autoconhece se fortalece, e sabe que revidar é sempre a pior escolha. A filosofia de Sócrates do “Conheça-te a ti mesmo” de mais de 2.300 anos é uma regra de ouro para olhar a vida como ela é: bela, breve e sagrada. Estime-a.

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São as nossas doenças que nos curam?

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Diante da dor, o indivíduo pode se rebelar e finalmente “acordar” para a vida. A dor faz o homem sentir-se vivo.

Quem quer ficar doente? Eu acredito que ninguém. É comum em nossa cultura sempre felicitarmos o outro com saúde em abundância. Mas qual o significado de saúde e qual o significado de doença? É melhor viver uma vida monótona de 100 anos ou viver uma vida de emoção de 50 anos? Quais vantagens pode-se tirar ao ser acometido por uma doença?

Um dos primeiros benefícios da doença pode ser a ruptura, seja de hábitos, crenças, cultura, quotidiano ou modo de pensar. Nietzsche (2008), em seu livro Ecce homo, relata que a doença o libertou lentamente. Pois através da doença o filósofo declara que passou por uma transformação, já que mudou todos os seus hábitos, pois lhe ordenou o esquecimento, lhe presenteou com a obrigação de sossego, lazer, espera e paciência.

Definitivamente a doença muda a realidade do homem, pois tudo é visto com mais objetividade, precisão e clareza. A partir disto, muda-se então as prioridades, já que o homem analisa o que funcionava, o que funciona e o que pode funcionar. Um exemplo é Nietzsche (2008) que, devido a doença, se mudou de local, para respirar novos ares e apreciar novas paisagens, com o objetivo de ter uma melhor qualidade de vida (THOMASS, 2010).

Fonte: encurtador.com.br/bems2

Diante da dor, o indivíduo pode se rebelar e finalmente “acordar” para a vida. A dor faz o homem sentir-se vivo. Com a correria do cotidiano não paramos para apreciar as coisas simples. Às vezes o respirar passa despercebido, mas o indivíduo acometido por uma asma encontra felicidade e gratidão em cada movimento de inspirar e expirar. Thomas (2010, p. 21) declara que “somos forçados a provar os mínimos detalhes para não sucumbir ao fatalismo”.

A doença também pode ser a cura contra o pessimismo. Nietzsche (2008) declara que por meio da sua doença pôde experimentar coisas boas, e com facilidade conseguiu formular sua filosofia de vida através da sua vontade de viver e ter saúde. O filósofo afirma: não é porque sofremos que temos direito ao pessimismo.

Um homem que já passou pelo pior, tem maior chance de aprender a apreciar o melhor. É como um regenerar-se, com sensibilidade na alegria, cuidado nas palavras e leveza nos atos. Thomass (2010, p. 22) afirma que “somente quando adoecemos descobrimos nossa saúde”. Pois, de acordo com sua linha de pensamento, somente através do adoecimento temos razão para mobilizar nossos instintos de defesa e de cura.

Fonte: encurtador.com.br/fikns

Ainda de acordo com o autor, a saúde não é um estado estático e universal. Não há diferença de natureza entre saúde e doença, mas há diferença de grau. A saúde não é a ausência da doença, mas sim a capacidade de defesa instintiva contra a doença.  Logo, há diversos tipos de saúde, e é desafio de cada um descobrir a sua “própria saúde”.

É importante frisar que o indivíduo é subjetivo. Diante disto, Nietzsche formulou o conceito “grande saúde”, que se refere a particularidade de cada pessoa diante de iguais ou diferentes tipos de doenças.

Desse modo a apresenta, pois entende ser a maior mobilização de impulsos na luta, o ensaio de diferentes perspectivas, o que fomenta a exploração e a descoberta de diferentes ópticas e pontos de vista. A seu ver, é esse dinamismo, assemelhado a uma dança de impulsos, o que promove a experimentação de pensamentos e valores, sentimentos e quereres outros. Por esse viés, mesmo a doença, como mobilização do corpo, pode dar oportunidade para experimentações de muitos e opostos modos de pensar (MOREIRA, 2016, P. 44).

A doença gera autoconhecimento, pois temos a oportunidade entender o funcionamento do nosso corpo e capacidade de se reciclar, de modo biopsicossocial. Na literatura existe casos conhecidos de grandes mentes pensantes que fizeram uso de sua doença para potencializar suas habilidades. Francisco Goya, após adoecer, passou a deixar suas obras mais escuras e sombrias. Ludwig van Beethoven sofria de depressão e transtorno bipolar, o que pode ter dado intensidade as suas notas musicais. Machado de Assis sofreu de depressão, e passou a abordar o assunto em suas obras. Edvard Munch  sofria de depressão e agorafobia, e a partir de seus delírios supõe que ele criou a obra  “O Grito”, em 1893.

No entanto, Nietzsche frisa: “A doença é um poderoso estimulante. Mas é preciso ser suficientemente saudável para este estimulante”. E para isto precisamos estar dispostos a sair da zona de conforto do adoecimento. Como você tem lidado com a sua doença? Como forma de se potencializar para florescer ou como forma de se exaurir?

Referências

DENCK, D. 9 gênios que sofreram com doenças mentais. Acessado em https://www.megacurioso.com.br/medicina-e-psicologia/75260-9-genios-que-sofreram-com-doencas-mentais.htm > no dia 06/07/9.

MOREIRA, A. Nietzsche e a grande saúde: O uso do diagnóstico tipológico contra a metafísica. Estudos Nietzsche, Espírito Santo, v. 7, n. 1, p. 31-55, jan./jun. 2016.

NIETZSCHE, Friedrich. Ecce homo: como alguém se torna o que é. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

THOMASS. B. Afirmar-se com Nietzsche. Vozes Nobilis; Edição: 1 (22 de julho de 2019)

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Não temos direito a preguiça

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O trabalho, desde o início de suas configurações foi utilizado como forma de incitar o sentimento de pertencimento dos indivíduos. Tanto que diversas vezes as pessoas carregavam em seus próprios sobrenomes a profissão seguida por uma mesma família.  

O indivíduo acabou por se tornar resultante de uma relação indissociável entre o ser humano e o trabalho. Hoje em dia, ainda se carrega essa liga entre os termos; de forma que inconscientemente ao conhecer alguém, pergunta-se, “Qual seu nome? O que você faz? na busca de tentar classificar o indivíduo no meio social, associando-o de alguma maneira em uma hierarquia de acordo com suas respostas.  

Deduz-se e analisa-se todos que os cercam a partir do que é mostrado. Sabendo que o ser confere outros, também necessidade de ser conferido. E apesar de todo narcisismo voltado ao trabalho, com o objetivo do ter para que se possa ser, que as ações acabam por se verticalizarem. Sendo a necessidade do ter, uma criação conjunta, afinal, os indivíduos são sociais. Movimentação essa, que só faz sentido pois há alguém para ‘espetaculariza-la’.

 

Link: http://twixar.me/CnZ3

 

A dinâmica trabalhista acontece por conta da necessidade do outro, já que normalmente alguém se especializa, em suma, as relações interpessoais fazem dele algo possível e em eterna construção. Sabe-se também que é a partir da incapacidade alheia que há a exaltação de alguma área. É nesse contexto que nascem os competentes e vitoriosos, sobre as custas de outros não tão capacitados aos olhos de um todo. Mas esse, não existiria caso não houvesse uma base onde pudesse pousar tais privilegiados pés. 

 A ambiguidade pertinente no ato do trabalho ainda se insere na contemporaneidade, já que ao mesmo tempo que constrói o indivíduo e o dá a sensação de duo, também é visto como algo demasiadamente massivo.  

De forma sucinta e significativa, o termo trabalho é originário do latim tripalium: instrumento de tortura romano (no qual eram suplicados os escravos). Não se pode dizer que a era de exploração foi anulada, já que na formulação atual, não se tem senhores que prendem, mas vende-se a falsa ideia de liberdade.

 

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Um exemplo disso são as jornadas exaustivas, que roubam mais que às 8 horas de trabalho por dia, com auxílio da flexibilidade (que leva o trabalho até o lar). Ao passo que se tem o trabalho intensivo, no qual o ‘eu’ torna-se o próprio senhor, que se chicoteia sucessivamente para uma produção adoecera a custo de metas e uma felicidade futura que mal poderá ser vivida, pois todo o vigor está sendo gasto nessa corrida para o seu próprio abismo. A custa de que?

A terceirização do trabalho é uma nova forma de escravizar. O fato é demonstrado a partir das pessoas que tornaram-se descartáveis, sendo facilmente manipuladas pela recompensa da “liberdade” e o poder de suas próprias escolhas a partir da remuneração aquisitiva. Há uma grande demanda de pessoas capacitadas no mercado de trabalho, dessa forma, apenas o curso superior tornou-se supérfluo. A medida que a venda das capacitações dos indivíduos são compradas (por um valor mínimo) as custas de pessoas adoecidas, apáticas, desmotivadas, dentro da realidade vigente no mercado de trabalho, vemos que de fato: tornaram-se meras mercadorias substituíveis, onde sinais de fragilidade as torna dispensáveis sobre alguma medida. 

 

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As crianças desde o início da escolarização, são de alguma forma excitadas para a competitividade, pois é esta a realidade que as espera. Pequenas máquinas de trabalho que são aquecidas desde muito cedo para não questionarem esse formato de vida, tornando o ciclo vicioso entre os indivíduos. Afinal, ninguém quer o título de fracassado, é o poder que manda. Não é incitado o autoconhecimento. Se soubéssemos quem somos, qualquer resultante que fosse imposta não seria o suficiente, pois se traçaria um caminho alternativo a se seguir. 

 

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A consequência do indivíduo pouco crítico, diante dessa realidade, poderá causar uma culpabilização, pelo fato de não atingir o êxtase em alguma área da sua vida, pondo-se em comparação ao outro. Junto ao discurso da meritocracia vigente, que não analisa o ser e suas circunstâncias pouco favoráveis ao crescimento pessoal. Igualando todos, quando na verdade não existem circunstâncias igualitárias. 

 

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As pessoas estão cansadas e não podem dizer-se cansadas. Seria esse ato como assinar a própria incompetência, ou o momento oportuno para serem substituídas. Essa repressão de sentimentos, a falta de tempo para si, para as relações afetivas, o desequilíbrio, desregulam o psicológico, biológico e dificultam as relações sociais, tornando-as cada vez mais rasas, acompanhado do corpo cada dia mais adoecido.  

Estão todos prestes a infartos psíquicos.  “Ficou doido”, “muita frescura”, “preguiçoso demais”, “fracassado, levante-se”, são estes, indivíduos comuns que simplesmente adoeceram, ou permitiram-se enxergar, pois, a sociedade é doentia, e os sensatos são aqueles que não respondem bem a essa escravidão em massa. Tiram um tempo para falar de suas dores, para cuidar de algo palpável, para serem humanos e verem no outro tamanha desumanidade. Objetificaram seres, por notas. Mas fica o questionamento; quanto custa sua saúde? Será se coisas reais têm preço? Talvez, a preguiça não seja a vilã da história (…) 

 

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