Estudo de Caso: a fenomenologia-existencial e o silêncio em adolescentes

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O presente trabalho objetiva apresentar as formas com as quais o psicoterapeuta que atua na abordagem fenomenológico-existencial pode lidar com a dificuldade de expressão verbal do adolescente em processo terapêutico, ou seja, o silêncio, onde nem mesmo contato visual é estabelecido. Compreendendo assim, por meio dos pressupostos teóricos fenomenológico-existenciais humanistas, no que consiste a utilização da empatia, congruência, a aceitação positiva incondicional, de como podemos acolher a maneira de ser-existir, que o adolescente encontrou de se mostrar para o mundo, compreendendo seu embotamento e retraimento como uma forma de expressar seus conflitos e experiências existenciais.

A fenomenologia-existencial surge como a terceira força dentro da psicologia é basicamente influenciada pelos pensamentos filosóficos visando, portanto, abordar o fenômeno como ele se apresenta, ou seja, o sujeito em sua atual experiência vivencial, diante de suas dificuldades e conflitos (ARAÚJO, 2010).

A fenomenologia é a ciência que procura abordar o fenômeno, aquilo que se manifesta por si mesmo. Ela tem a intenção de abordá-lo, interrogá-lo, procurando descrevê-lo e tentando captar sua essência. Ela estuda o fenômeno tal qual ele se apresenta a consciência. O método fenomenológico consiste numa descrição sistemática dos fenômenos até chegar a sua essência, ao ponto final e irredutível da percepção” (ARAÚJO, 2010, p. 2).

Torna-se necessário para o psicoterapeuta existencial, saber reconhecer que cada ciclo da vida acarreta suas dificuldades, para que assim a psicoterapia possa atender com total competência não apenas as queixas explícitas do seu cliente, mas sim acolhê-lo em sua completude existencial. Ou seja, o foco da psicoterapia existencial seja que o cliente experimente sua existência como real, tornando-se apto para suas potencialidades e assim saber agir sobre elas (GOMES; CASTRO, 2010).

Fonte: http://zip.net/bntL4V

Partindo dessa breve introdução nos atentaremos a descrever sobre o caso clínico de adolescente de 14 (quatorze) anos com dificuldades em verbalizar tanto em processo terapêutico como fora dele, tendo características estabelecidas de dificuldades de locomoção, rigidez, embotamento afetivo. Também descrevemos sobre o papel do terapeuta em sua abordagem fenomenológico-existencial, a postura clínica diante do silêncio em psicoterapia, considerando a adolescência como um período de crises e que muitas vezes podem se tornar patológico.

Método

O trabalho se desenvolveu em uma clínica-escola de Psicologia em uma universidade na cidade de Palmas – TO, iniciando no mês de agosto e se prolongando até o mês de outubro, no ano de 2016. Foram realizadas seis sessões de psicoterapia individual com duração de 50 (cinquenta) minutos cada, onde seguem a abordagem teórica embasada na técnica não diretiva das correntes fenomenológico-existenciais, que por sua vez são supervisionadas semanalmente.

Fonte: http://zip.net/bftNsz

A não diretividade utilizada nessa corrente teórica psicológica baseia-se no sentido de que o cliente tem direito sobre suas escolhas, sejam elas compatíveis ou não com a do profissional que lhe acompanha (AGUIAR, 2005). Para dar melhores condições ao atendimento foram utilizados de recursos lúdicos como jogos, papeis, canetas, lápis de cor, alguns tipos de brinquedos (família terapêutica, carrinhos), como meio de estabelecer contato/comunicação com o adolescente.

Apresentação do Caso

Adolescente, P.V (nome fictício), do sexo masculino, 14 anos e estudante, reside com os pais e mais três irmãos, configurando-se como uma família humilde e de baixa escolaridade. A mãe e a avó do adolescente procuraram o serviço psicológico na clínica-escola, pois segundo relato de acolhimento de ambas há cerca de oito meses o garoto apresenta comportamentos inadequados. Segundo a mãe, desde pequeno P.V sempre foi quieto e calado, porém nos últimos meses seu silêncio e apatia vêm deixando a família preocupada.

Ainda segundo relato da mãe, antes de se instaurar o quadro de queixas atuais, o adolescente era muito irritadiço, agressivo e ansioso, demonstrando-se desta forma sendo agressivo com os familiares, a partir desses comportamentos que a mãe resolve procurar ajuda profissional.

No ambiente escolar também existe queixas quanto ao seu comportamento, professoras relatam a pouca interação com o restante da classe, só verbaliza quando lhe é questionado algo, poucas vezes faz as atividades espontaneamente, porém não apresenta nenhum déficit de aprendizagem que seja relevante, considerando a situação em que o adolescente se encontra.

Atualmente o adolescente poucas vezes verbaliza em ambiente familiar, sempre se mantém de cabeça baixa, não manifesta nenhum contato visual, físico e afetivo com qualquer outra pessoa, em alguns momentos ocorre a diminuição do apetite, preferindo manter-se isolado de todos.

Anteriormente a ida ao psicólogo, P.V foi levado ao médico, devido às manifestações físicas de quadros prolongados de constipação intestinal, recusa a alimentação e dores no corpo. Diante do grau apresentado de abatimento físico e psíquico do adolescente, logo foi encaminhado ao atendimento psiquiátrico para averiguar outras demandas, como o quadro severo de embotamento, retraimento e não verbalização. Atualmente está utilizando o medicamento rispiridona prescrito pelo psiquiatra com o intuito de auxiliar em seu tratamento e que segundo a mãe, a medicação traz uma melhora no seu estado de ânimo, deixando um pouco mais acessível.

Já em acompanhamento psicológico, P.V está sendo trazido pela mãe, uma vez por semana para a psicoterapia individual. O adolescente comportou-se de maneira rígida, apática, com dificuldades de locomoção, sem verbalização e sem contato visual. As poucas vezes que se obteve algum contato com o garoto, foi por meio de perguntas diretas, onde ele respondia apenas gesticulando a cabeça com “sim” ou “não”. O tratamento tem como objetivo inicial, a compreensão de tal silêncio e embotamento como forma de se apresentar ao mundo e como isso pode está sendo visto como forma de enfrentar vida, e assim auxiliar por meio dos recursos não diretivos a sua melhoria, tanto psíquica como física.

Fonte: http://zip.net/bntNCY

Após alguns atendimentos com P.V sem muitas evoluções significativas, a mãe foi chamada novamente para uma sessão, tendo como objetivo conhecer o ambiente familiar e o atual contexto que o adolescente se encontra. A mãe relatou brevemente sobre o desenvolvimento do filho fazendo sempre uma comparação com os demais filhos, que se segundo ela se desenvolveram normalmente.

A responsável narrou também sobre a sua própria história de vida, contanto sobre episódios de violência doméstica por parte de seu padrasto quando ela – a mãe – ainda era adolescente. Conta ainda sobre seu casamento com o pai de P.V e o período que ele ficou fora de casa, relatando como um período complicado de sua vida. Ao falar sobre o marido, o pai de P.V, a mãe não se delonga muito em ressaltar sua participação na vida do filho adolescente, narrando com certo desconforto sobre a relação dos dois, e descreve que desde que P.V tem demonstrado tais comportamentos o pai se afastou bastante do filho.

Após o atendimento com a mãe ter sido enfatizado nos aspectos familiares, P.V teve duas faltas consecutivas, a primeira justificada pela mãe, devido problemas no trabalho, a segunda sem nenhuma satisfação. A estagiária retornou as ligações em busca de compreender tais faltas, porém não conseguiu contato com os responsáveis. Diante dos fatos e seguindo regras da clínica-escola, o cliente foi desligado do serviço psicológico tendo alcançado apenas seis encontros com a psicóloga estagiária.

A clínica fenomenológica-existencial e o atendimento com adolescentes

A formação em Psicologia Clínica perpassa por muitas inseguranças e modificações para lançarmos o nosso olhar sobre o outro, sabemos que muitas vezes o senso comum vê a atuação clínica como algo curativo, que pode proporcionar a diminuição total do sofrimento do sujeito e que coloca o terapeuta em uma posição onipotente. Sabe-se que não é bem assim, e para evitar tais pensamentos enquanto profissionais, especificamente da perspectiva existencial, deve-se dedicar a compreender o adoecimento e o sofrimento de cada sujeito, não lhes assegurando uma cura, mas uma tomada de consciência sobre sua real existência.

A clínica psicológica dentro dessa abordagem existencial propõe a respeitar todas as experiências do cliente e a sua autonomia para dar novo sentido a sua história de vida, sendo que para isso, o terapeuta deve ir além do ouvir as palavras ditas, utilizando-se da escuta ativa e empática para chegar ao significado contextual e simbólico do que está sendo dito pelo cliente. Para tornar mais sintetizado, o terapeuta se coloca em uma postura de facilitador das expressões de seu cliente, para isso não se utilizando da interpretação, mas sim, da compreensão existencial imediata do cliente (GOMES; CASTRO, 2010).

Sabe-se que em psicoterapia a maior ferramenta de trabalho é a fala, porém quando não possuímos essa atitude do cliente deve-se notar que a comunicação não é apenas verbal, podendo ser expressa também de um modo não-verbal onde o “falar” pode se ter um sentido mais amplo, em apenas “comportar-se”.

Mesmo se terapeuta e paciente iniciam a terapia pela fala, muitas mensagens são transmitidas de forma não verbal ao longo do processo, e cada um, paciente como terapeuta, aprende a “ler” e interpretar a linguagem silenciosa do outro no diálogo terapêutico. (FIGUEIREDO, 2005, p.32).

Miranda e Freire (2012), em seu artigo sobre comunicação terapêutica, nos traz um pensamento do próprio Rogers, que em seu livro “Tornar-se Pessoa” (1961-1997), relata seu entendimento sobre as maneiras de se comunicar, nos dizendo que, normalmente uma pessoa desajustada possui muitas dificuldades em falar, pois rompeu a comunicação consigo mesmo sendo, portanto o resultado disso o prejuízo com a comunicação com os outros.

Com base nos fundamentos teóricos sobre fenomenologia-existencial, considera-se que existencialmente a fase da adolescência e puberdade se configura em um modo de existe totalmente desconfortável. As cobranças familiares, sociais dentro desse processo acarretam diversas formas de sofrimento ao sujeito em transição, tanto no que se refere ao corpo físico, sua maneira de comportar e pensar, ou seja, percebe-se um verdadeiro conflito existencial (FERREIRA; ANASTÁCIO, 2012).

Fonte: http://zip.net/bltM22

É importante ressaltar antes de tudo que a adolescência por si só já se caracteriza como uma fase crítica e complexa no desenvolvimento humano, pois exige do sujeito que não é mais criança e ainda também não se reconhece como adulto, algumas atitudes, decisões, escolhas muito severas e até mesmo definitivas. Por isso torna-se necessário um contato mais sensível, sem cobranças e imposições para que o tratamento seja bem aceito pelo cliente (MIRANDA, 2012).

A falta de compreensão dessa fase do ciclo vital pode deixar as condições existenciais ainda mais densas e insuportáveis, fazendo com o jovem se feche completamente para o mundo exterior, silenciando seu sofrimento de maneira patológica. Tomamos uma definição de Silva et.al (2011), onde a autora considera as teorias de Piaget sobre o desenvolvimento humano, nos relatando que a adolescência é uma fase que se manifesta logo após a infância e antecede a juventude, momento de total insegurança, instabilidade e questionamentos. Caracterizando-se por uma intensa busca de si mesmo, encontrando-se constantemente com crises e contradições, além disso, os familiares, amigos e até mesmo a sociedade se prejudica com tal situação.

De alguma maneira a palavra adolescência nos remete a uma forma de adoecer e de sofrer, podemos confirmar tal pensamento tomando as ideias de Jerusalinsky (2004) quando ele fala sobre adolescência e contemporaneidade, relatando que o sofrimento pela falta da proteção da infância passa a se tornar uma exposição, exposição essa que por sua vez causa sofrimento e sentimentos de desamparo e angústia.

Diante de tais sentimentos nessa fase, é que de alguma forma o sofrimento psíquico vai se instalando de forma gradual, em nosso estudo de caso especificamente observamos uma maneira de se mostrar para um mundo em que o silêncio foi única saída para tais sensações de exposição.

O quadro de embotamento e o silêncio pode ser um comportamento apresentado por muitas pessoas com o intuito de fugirem do mundo externo e de suas experiências. Sabemos que o ser humano é afetivo e que precisa dessas manifestações para conviver de maneira saudável. Partindo-se da conceituação de afetividade descrita por Ballone (2005), para compreender melhor a sua importância. Portanto afetividade é como uma energia capaz de impulsionar o indivíduo para a vida, como uma energia psíquica dirigida ao relacionamento do ser com sua vida, como o humor necessário para valoração das vivências.

Quando essa energia já não é mais suficiente, nos deparamos muitas vezes com quadros graves de doenças psicológicas como a depressão, ou seja, a falta de vontade de enfrentar a vida é maior do que vontade de expressar seus conflitos e problemáticas a serem melhoradas. É por meio do se manter calado que sujeito, neste caso o adolescente, vai “enfrentando” as vicissitudes do seu processo de desenvolvimento (JERUSALINSKY, 2004).

O silêncio psicoterapêutico como manifestação do sofrimento

É recorrente ouvir-se falar sobre como o silêncio em psicoterapia se torna um momento angustiante, principalmente para o terapeuta em formação, que está em processo de estágio e que diante disso muitas vezes acredita não estar fazendo um bom trabalho. Como terapeutas existenciais entende-se o quão importante é a fala no processo de trabalho terapêutico, porém em alguns casos deparamos com a ausência dessa manifestação verbal e a partir daí temos uma nova forma de entrar em contato com o fenômeno, ou seja, por meio da compreensão empática dos comportamentos não verbais.

É preciso salientar que o terapeuta deve examinar e apreender a linguagem verbal e não verbal do cliente, sempre baseado no contexto. Nas palavras de Erthal (1995), o silêncio, a imobilidade ou qualquer outra forma de renúncia já em si uma comunicação” (ALMEIDA; NETO, 2012). De frente a tal dificuldade é necessário um olhar mais compreensivo do que interpretativo, e dar consciência ao cliente sobre essa experiência de se calar. Fazemos isso por meio de intervenções mais assertivas, ou seja, fazer com o que o cliente perceba os seus comportamentos, sinalizando para ele suas condutas e a sua forma de comunicação não verbal.

No caso clínico descrito nesse trabalho, o adolescente se recusa não apenas a se expressar, a sua recusa esta estabelecida também diante dos contatos afetivos e sociais, na sua alimentação, no seu modo de andar. Torna-se complexo para esse sujeito, colocar para fora, de modo literal, todas suas manifestações, a sua forma de existir consiste em está totalmente voltado para dentro, onde o mundo exterior não é aceito.

Fonte: http://zip.net/bjtNsS

Em busca dessa compreensão utilizamos do conceito da redução fenomenológica, ou seja, entrar em contato com o que é observado no fenômeno de maneira limpa, sem se utilizar de qualquer juízo de valor (époche), para dar significado às experiências do cliente (HOLANDA, 1997). Nesse sentindo a redução é observar o fenômeno do silêncio e apreender para além do não é dito, é considerar que sua totalidade existencial que vai além de uma hipótese diagnóstica e interpretativa e sim lançando um olhar para o sujeito integral que está em terapia.

Outra característica expressa por esse adolescente está em estabelecida por meio de um embotamento severo, onde o contato afetivo e social está sendo negado pelo sujeito, suas experiências estão se voltando para um mundo interno, impossibilitando o acesso do terapeuta por meio da fala. Tornando-se apenas possível estabelecer o contato e possível vínculo, por meio de perguntas diretas e objetivas, sendo correspondidas com “sim” ou “não” expresso por movimentos com a cabeça. Mediante isso, o papel do terapeuta é assinalar para o cliente que essa foi a maneira encontrada para lidar com o vazio.

Enquanto psicólogos clínicos existenciais, devemos compreender que cada sujeito vê grandes obstáculos em sua existência, cabendo a nós auxiliá-los a enxergar a vida como algo possível e real, fazendo isso por meio da tomada de consciência. E que em alguns momentos o calar-se não é um ato de covardia, mas sim de luta, muitas vezes contra si mesmo. Portanto, cabe a nós como profissionais aprendermos a lidar com o nosso próprio silêncio para que o processo terapêutico se torne um espaço em que possamos ouvir para além do que é dito, um espaço de acolhida, mesmo que a princípio não seja manifestado nenhuma fala.

Considerações Finais

Partindo das considerações expostas sobre o caso clínico, do papel do terapeuta que utiliza da abordagem fenomenológica-existencial diante do silêncio manifestado em psicoterapia, nos resta compreender que em qualquer problemática encontrada dentro da terapia existencial, torna-se necessário a aceitação do sujeito como ele se apresenta no momento imediato, ou seja, no aqui-e-agora, acolhendo o seu modo de se expressar pelo silêncio.

Fonte: http://zip.net/bttPcL

Com relação ao desligamento do caso torna-se importante pensar que não se trata de uma falha ou incapacidade do terapeuta em se vincular ao cliente ou vise e versa, em muitos casos a não adesão ao tratamento – principalmente em caso de menores de idade – a dificuldade de aceitar uma intervenção profissional parte dos pais ou responsáveis. Diante disso cabe ao terapeuta considerar as circunstâncias e entender que a percepção fundamental sobre o tratamento cabe ao cliente e não ao profissional, a escolha e responsabilidade sobre a terapia e dele e não nossa (AGUIAR, 2005).

O psicólogo tomando o seu papel de facilitador tem como função dar luz à consciência do cliente, dando meios para que a sua existência tome forma e sentindo, possibilitando uma nova perspectiva de ser e principalmente exaltando as suas potencialidades diante dos conflitos existenciais. Para que isso seja efetivado se torna necessário uma postura ativa e empática, compreendendo o contexto simbólico do que esta sendo expresso pelos comportamentos e pela forma que o cliente encontrou de ser no mundo.

REFERÊNCIAS:

AGUIAR, Luciana. Gestalt- Terapia com crianças: teoria e prática. São Paulo: Summus. 2005.

ALMEIDA, Elce Queiroz; NETO, Raquel. A clínica fenomenológica-existencial. Blog da Newton Paiva: Revista de Psicologia. Belo Horizonte, p. 1-2, 2012. Disponível em: < http://blog.newtonpaiva.br/psicologia/wp-content/uploads/2012/08/pdf-e2-13.pdf>. Acesso em: 20 setembro 2016.

ARAÚJO, Ariana Maria Leite. O diagnóstico na abordagem fenomenológica-existencial. Revista IGT na Rede. v.7, n.13,p. 316-323, 2010. Disponível em: <www.igt.psc.br/ojs/include/getdoc.php?id=1678&article=289&mode=pdf>. Acesso em: 19 setembro 2016.

BALLONE, José Geraldo. Alterações da Afetividade. In: Psiqweb. 2005. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=128>. Acesso em: 20 setembro 2016.

FERREIRA, Luciana Neves; ANASTÁCIO, Fernando Dório. Adolescência e algumas questões existenciais. Revista de Psicologia. Belo Horizonte. p. 39-41, 2012. Disponível em: http://blog.newtonpaiva.br/psicologia/wp-content/uploads/2012/06/pdf-e3-10.pdf. Acesso em 30 nov 2016.

FIGUEIREDO, Evelyne Fauguet. Vínculos e Psicoterapia: a linguagem silenciosa. 2005. 55f. (Monografia em Psicologia) – Centro Universitário de Brasília, Brasília.2005.

GOMES, Willian Barbosa; CASTRO, Thiago Gomes. Clínica Fenomenológica: Do método de pesquisa para a prática psicoterapêutica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Porto Alegre, v.26, n. especial, p. 81-93, 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a07v26ns.pdf>. Acesso em: 19 setembro 2016.

HOLANDA, Adriano. Fenomenologia, psicoterapia e psicologia humanista. Estudos de Psicologia. São Paulo, v.14, n.2, p. 33-46, 1997. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v14n2/04.pdf>. Acesso em: 21 setembro 2016.

JERUSALINSKY, Alfredo. Adolescência e Contemporaneidade. In: Conversando sobre adolescência e contemporaneidade. Porto Alegre: Libertos, 2004.p. 54-65.

MIRANDA, Carmen Silvia Nunes; FREIRE, José Célio. A comunicação terapêutica na abordagem centrada na pessoa. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro. p. 78-94,2012. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672012000100007>. Acesso em: 20 setembro 2016.

SILVA, Paulo Sérgio Modesto; VIANA, Meire Nunes; CARNEIRO, Stania Nágila Vasconcelos. O desenvolvimento da adolescência na teoria de Piaget. O Portal dos Psicólogos. p.1-13 2011. Disponível em: < http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0250.pdf>. Acesso em: 20 setembro 2016.

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Carl Gustav Jung – a história de uma vida

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Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho de 1875 em Kesswil, aldeia pertencente ao cantão da Turgovia, Suiça. Formou-se em psiquiatra e desenvolveu a Psicologia Analítica se tornando um dos maiores psicoterapeutas do mundo.

Carl Jung propôs e desenvolveu os conceitos dos tipos psicológicos: extrovertidos e introvertidos; deu-nos os conceitos de arquétipos e do inconsciente coletivo e do processo de individuação – a base e o conceito central de toda sua teoria.

Criou conceitos famosos como o: complexos e sincronicidade.

Para Jung a psique humana tem uma “natureza religiosa”, sendo o estudo das imagens religiosas um dos focos de suas explorações. E isso o diferiu de Freud.

Ele também dedicou sua vida ao estudo da filosofia oriental e ocidental, da alquimia, astrologia, mitologia e sociologia, literatura e artes. Seu interesse pelo oculto e transcendente levaram muitos a vê-lo erroneamente como um místico.

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Retirado de: lounge.obviousmag.org

Jung tinha muitas visões e sonhos mitológicos e religiosos, que estão relatadas em Memórias, Sonhos e Reflexões. Tudo isso despertou seu interesse no estudo dos mitos e religiões; transformando Jung em um grande estudioso dos símbolos.

Para ele os símbolos são fonte de transformação psicológica. Eles estão aquém da racionalidade do ego e faz a união entre a consciência e o inconsciente. No começo de sua carreira estudou alguns fenômenos parapsicológicos o que o auxiliou em suas descobertas psicológicas.

Jung dizia sentir que possuía duas personalidades: uma publica e outra interna e secreta muito próxima a Deus.

Seu pai era um pastor protestante, que tinha uma cega e isso incomodava Jung que buscou responder com uma fé renovada, buscando justamente o conhecimento mais profundo do simbolismo. Ele via no pai o homem estagnado em uma condição medíocre: o homem que não enfrentava as dúvidas religiosas que o atormentavam. Agarrava-se à fé, amparava-se na Bíblia e nos dogmas. Com sua mãe sentia mais afinidade.

Conforme Silveira (xx):

“Menino ainda, descobriu que existiam nela duas.personalidades. Uma convencional, correspondente à esposa de um pastor, que exigia do filho boas maneiras e fazia-1he recomendações impertinentes sobre o modo de usar o lenço ou coisas semelhantes. E outra, investida de estranha autoridade, misteriosa, dotada de algo que às vezes lhe infundia medo. Quando esta segunda personalidade emergia, o menino Carl Gustav percebia a voz de sua mãe que soava mais grave e mais profunda.”

Ao longo de sua carreira, estudou filosofia, em especial as obras de Pitágoras, Empédocles, Heráclito, Platão, Kant e Goethe. Mas sua maior influencia foi a obra de Schopenhauer.

Jung lamentava que a religião não buscasse o empirismo, para assim compensar a fé cega. Ele assim foi duramente criticado tanto pela igreja, quanto pela ciência, por essa tentativa de juntar ambas. Mas foi essa ânsia em unir esses opostos que levou Jung a psiquiatria.

Quando se preparava para o exame de psiquiatria do currículo médico, leu no prefácio- do tratado de Krafft- Ebing conceitos que o atingiram em cheio, abrindo-lhe a inesperada perspectiva de que, na psiquiatria, seus interesses pela filosofia, pelas ciências naturais e médicas, poderiam encontrar um foco vivo de convergência. Imediatamente e para surpresa geral. Escolheu a psiquiatria (SILVEIRA, XX).

Em 1900, Jung torna-se estagiário na Clínica Psiquiátrica Burgholzli, em Zurique, então dirigida pelo psiquiatra Eugen Bleuler, famoso pela sua concepção de esquizofrenia. É nessa época que ele inicia seus estudos com a associação de palavras e começa a perceber a força dos complexos.

Em 1902 foi a Paris estudar com Pierre Janet. A carreira de Jung, no Burgholzli, foi das mais brilhantes, no ano seguinte assumiu um cargo de chefia no hospital e em 1904, montou um laboratório experimental em que implementou o seu teste de associação de palavras para o diagnóstico psiquiátrico.

Essas experiências, iniciadas com o intento de trazer esclarecimentos concernentes à estrutura psicológica da esquizofrenia, conduziram – no à descoberta dos complexos afetivos. A conceituação de complexo, juntamente à técnica para detectá-lo, foi a primeira contribuição de Jung à psicologia moderna.

No ano de 1906, Jung publicou os ESTUDOS SOBRE ASSOCIAÇÕES; em 1907 A PSICOLOGIA DA DEMÊNCIA PRECOCE, e, a seguir, 1908, O CONTEÚDO DAS PISCOSES. Os dois últimos trabalhos demonstram que nas psicoses todos os sintomas ainda os mais absurdos, encerram significações, descrevem as frustrações, desejos e esperanças dos doentes.

Ainda em 1904, Jung entra em contato com a obra de Freud, A Interpretação dos Sonhos. Jung enviou ao pai da Psicanálise, cópias de seus trabalhos sobre a existência do inconsciente. E com isso ambos encantaram-se um com o outro, porque os dois desenvolviam trabalhos pioneiros em psiquiatria.

Freud e Jung passaram a se corresponder. Foram cerca de 359 cartas que posteriormente foram publicadas entre 1906 a 1913. O primeiro encontro entre eles, em 27 de fevereiro de 1907, transformou-se em uma conversa que durou treze horas ininterruptas. Os dois estabeleceram uma amizade de aproximadamente sete anos, durante a qual trocavam informações sobre seus sonhos, análises, trocavam também confidências e discutiam casos clínicos.

Freud logo reconheceu o alto valor de Jung e viu no suíço, e não judeu, o homem adequado para conduzir a psicanálise fora do circulo de judeus. Mas Freud também viu nele “um filho mais velho”, um “sucessor e príncipe coroado” (carta de Freud à Jung, datada de 16.4.1909).

Em 1909 viajaram juntos aos Estados Unidos, por ocasião das comemorações do vigésimo aniversário da Clark University. Freud ali pronunciou as célebres cinco conferências sobre psicanálise e Jung apresentou seus trabalhos relativos às associações verbais. Jung e Freud ainda possuíam admiração mutua.

Em 1910 foi fundada a Associação Psicanalítica Internacional. Freud usou toda sua influência para que Jung fosse eleito presidente da Associação e assim aconteceu. No entanto, já existiam entre eles diferenças conceituais e Jung questionava a falácia da teoria sexual.

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Retirado de: www.famouspsychologists.org

Em 1912, Jung lança o livro METAMORFOSES E SÍMBOLOS DA LIBIDO, hoje conhecido como SÍMBOLOS DA TRANSFORMAÇÃO, que marcou  divergências doutrinárias profundas, levando ao rompimento definitivo dos dois. Apesar da nítida admiração mutua, existiam entre os dois, grandes diferenças fundamentais em seus conceitos sobre a psique.

Jung nunca conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de natureza sexual, e via no incesto do Complexo de Édipo um simbolismo. Para Jung, o incesto é uma regressão ao inconsciente, representado como útero materno e não algo concreto como o desejo sexual literal pelo genitor.

Para Jung isso tratava de uma projeção dos desejos dos adultos nas crianças, uma vez que a libido nelas não está ainda disponível para a atividade sexual literal.

Sobre a personalidade e jeito de ser de Jung, Silveira (xx) descreve:

“Jung era um homem alto, bem construído, robusto. Tinha um vivo sentimento da natureza. Amava todos os animais de sangue quente e sentia-se com eles “estreitamente afim”. Amava as escaladas das montanhas, porém preferia velejar sobre o lago de Zurique. Possuía seu barco próprio. Na mocidade passava às vezes vários dias velejando em companhia de amigos, que se revezavam no leme e na leitura em alta voz da Odisséia. Igualmente velejava sozinho e o fez até idade bastante avançada.”

Após a separação com Freud, Jung sentiu o chão desmoronar-se sob os pés. Ele entrou em um período de depressão, solidão e de confronto com o inconsciente.

Até então Jung havia cumprido todas as tarefas da primeira metade da vida, Constituiu família; afirmara-se no campo profissional, sendo procurado por enorme clientela que vinha de toda a Europa e da América; conquistando renome científico mundial. Com o rompimento, abriu-se uma nova fase na sua vida.

Jung decidiu-se a aceitar que as imagens do inconsciente emergissem. E através de sonhos impressionantes e mesmo de visões que Jung chegou à descoberta de um centro profundo provindo do inconsciente, centro ordenador da vida psíquica e fonte de energia.

Segundo ele os anos durante os quais se deteve nessas imagens interiores constituíram a época mais importante de sua vida e toda a atividade posterior de seu trabalho se consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente nesses anos.

Essas experiências com o inconsciente duraram experiências 6 anos (de 1912 a fins de 1918).

Durante esse tempo, Jung não publicou nenhum livro, escreveu, entretanto, vários ensaios da mais lúcida construção cientifica. Destacam-se duas conferências pronunciadas em Londres, julho de 1914, Sobre a compreensão psicológica e sobre s importância do inconsciente em psicopatologia; A estrutura do inconsciente. 1916, posteriormente ampliado em um livro fundamental, As relações entre o ego e o inconsciente; A psicologia do inconsciente, 1917; Sobre o inconsciente. 1918.

Em 1920, Jung nos dá a obra TIPOS PSICOLÓGICOS. Essa obra pode ser compreendida como uma forte compensação o ao período de excessiva introversão e contato com o inconsciente. Após várias viagens para a Africa do Norte, na América com os índios Pueblos, no Monte Elgon, na África Oriental Inglesa observou o inconsciente coletivo e seus arquétipos.

Os conceitos de inconsciente coletivo e arquétipos foram, na maioria, primeiro apresentados em forma de conferências (nas reuniões cientificas internacionais denominadas Eranos, realizadas em Ascona) e só publicados em livros anos mais tarde, depois de revistos e amplamente documentados.

Retirado de: todasasfacesdeeva.blogspot.com

Carl Jung também se debruçou sobre a Alquimia. Ele percebeu que a “arte” alquímica tratava de projeção sobre a matéria de processos em desdobramento no inconsciente do próprio alquimista. Com isso, em 1944 publicou PSICOLOGIA E ALQUIMIA.

Ele então publicou PSICOLOGIA DA TRANSFERÊNCIA em 1946. A obra MISTERIUM CONIUNCTIONIS, que muitos julgam sua obra máxima, no qual trabalhou durante dez anos e que foi dado à publicidade em 1955, quando o autor atingia os 80 anos.

Simultaneamente, escreveu inúmeras obras, como: RESPOSTA A JÓ em 1952, um de seus livros mais belos e mais polêmicos. PRESENTE E FUTURO, em 1957 e UM MITO MODERNO VISTO DO CÉU em 1958. Quando se poderia talvez pensar que os assuntos da pratica médica não mais o seu último livro é um livro de memórias, chamado MEMÓRIAS, SONHOS E REFLEXÕES. Nessa obra, acompanha-se a realização de uma vida e de uma obra inextrincáveis uma da outra.

O conjunto das obras completas de Jung consta, na edição inglesa, de 18 volumes afora numerosos seminários mimeografados, pertencentes ao Instituto C. G,Jung de Zurique.

A partir de 1933 correram boatos de que Jung teria simpatizado com o nazismo. O argumento contra essas acusações é, porém, a atitude dos nazistas em relação a Jung. Com a publicação do livro PSICOLOGIA e RELIGIÃO em 1940, as autoridades decidiram que toda a sua obra fosse interditada e queimada na Alemanha, bem como nos países ocupados por Hitler

Ele também foi acusado de anti-semita. Seria também extravagante e estranho que um anti-semita contasse entre seus discípulos mais próximos precisamente pessoas de origem semita. Alguns dos seus mais devotados pupilos – Erich Neumann, Gerhard Adler, James Kirsch e Aniela Jaffe – eram todos judeus

Carl Gustav Jung morreu em 6 de junho de 1961, aos 86 anos, em sua casa, nas margens do lago de Zurique, após uma longa vida produtiva. Encontra-se sepultado na Protestant Church Graveyard, Küsnacht, Zurique na Suíça.

 

Referência:

SILVEIRA, N. Jung: vida e obra – 7- ed.– Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981.

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