CAOS: Violência sexual e dor crônica sob a perspectiva analítico-comportamental

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No dia 21 de agosto de 2017, ocorreu no auditório central do Ceulp/Ulbra, a apresentação Violência sexual e dor crônica: um estudo de caso sob a perspectiva analítico-comportamental, durante os Seminários Clínicos do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (Caos). A apresentação foi realizada pela acadêmica de psicologia Mayelle Batista da Silva, sob supervisão da Profª Dra. Ana Beatriz Dupré Silva.

Inicialmente, Mayelle fez uma pequena introdução sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), a qual entende que as emoções fazem parte da existência e que não podem ser excluídas das contingências. É um modelo de terapia que propõe ao indivíduo aceitar o que está fora do controle pessoal e comprometer-se a agir de modo que melhore a própria vida.

Sob esta perspectiva, Mayelle apresentou um estudo de caso envolvendo quatro mulheres, que tinham como principais queixas dor, sentimentos de baixa autoestima, histórico de depressão, ansiedade e violência sexual. Em seguida, mostrou algumas estratégias, instrumentos e intervenções utilizados no processo terapêutico com essas mulheres. Esses se dão por sessões grupais e individuais de follow up, alguns testes voltados para depressão, ansiedade e estresse, relaxamentos progressivos e por imagem induzida, linha da vida, miniaula sobre a relação entre dor e estresse, mindfulness, role-play e feedback, respectivamente.

Mayelle mostrou, ainda,  alguns resultados alcançados por esse grupo até o momento, dado que o processo ainda não está finalizado. Esses resultados mostram maior autoconhecimento, mudanças de hábitos, aumento do autocuidado e diminuição da frequência e intensidade dos episódios de dor. Mayelle finalizou dizendo que, como estagiária, atuar nesse grupo lhe proporcionou uma visão mais ampla do ser humano, conseguindo vê-lo como um ser biopsicossocial.

O Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS) acontecerá dos dias 21 a 25 de agosto.

O Congresso

A edição de 2017 do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS, tem como tema “As Faces da Violência – Psicologia, Mídia e Sociedade”. Será uma semana para refletir sobre o exercício da psicologia nos mais diversos campos de atuação, frente as mais diversas formas de expressão da violência, para além das fronteiras da saúde, da segurança pública e das ciências humanas. O tema se configura como objeto perene de investigação científica e profissional, sobretudo na Psicologia, com foco na emancipação das subjetividades.

Serviço:

O que: Palestra e mesas-redondas

Quando: 21 a 25 de agosto de 2017
Onde: Auditório Central do Ceulp/Ulbra
Realização: Curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra
Apoio: Conselho Regional de Psicologia – CRP-23, Prefeitura de Palmas, Jornal O Girassol, Psicotestes, GM Turismo, Coordenação de Extensão do Ceulp/Ulbra, Coordenação de Pesquisa do Ceulp/Ulbra.

Mais informações:

Coordenação de Psicologia: Irenides Teixeira (63) 999943446
Assessoria do Ceulp/Ulbra: 3219 8029/ 3219 8100
Programação e Inscrições: http://ulbra-to.br/caos/
Notícias do Evento: http://encenasaudemental.com/mural

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Depressão: perspectiva biológica e psicológica

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Ainda desconhecida e em determinados aspectos controversa, a etiologia da depressão tem, para efeito de estudos, seus fatores divididos em: causas biológicas e psicossociais. Áreas estas que interagem intensamente entre si na expressão patoplástica da doença (BAHIS, 1999).

Bahls (1999) expõe possíveis causas biológicas da depressão, sendo uma destas a deficiência de neurotransmissores, tendo as monoaminas como principais responsáveis, entretanto, estudos com algumas substâncias que provocam o aumento ou a diminuição imediata destes neurotransmissores não produzem os efeitos esperados, o que coloca em cheque esta hipótese. Alguns estudos também mostraram um aumento no número de receptores destes mesmos neurotransmissores em autópsia de suicidas, o que levou a crer que teriam alguma influência na depressão, embora o aumento de tais receptores se dê como medida compensatória dado a redução da substância nas sinapses.

Fonte: http://zip.net/bctGRJ

Outro fator que vem sendo observado diz respeito à morfofisiologia do cérebro. Notou-se que, em pessoas depressivas, algumas áreas cerebrais encontravam-se alteradas tanto em sua forma como em seu funcionamento. Soma se a isto, o fator hormonal que, também, age sobre os neurotransmissores de diferentes formas resultando em influências diversas em homens e mulheres quanto à tendência depressiva e à fases biológicas mais propícias para ocorrência da depressão.

Entretanto, há controvérsias sobre as causas biológicas. Caponi (2011) faz uma crítica no sentido de que as explicações para as enfermidades psiquiátricas não podem ser determinadas da mesma forma que outras patologias que contam com um marcador biológico a partir do qual se desenvolve a explicação dos sintomas e se define a terapêutica mais eficaz. Na depressão, ao contrário,

é a partir do antidepressivo que se inicia a busca de causas biológicas. Ele permite identificar quais são os mecanismos biológicos, os receptores neuronais afetados, e então se poderá postular a causa orgânica, cerebral, dos padecimentos (CAPONI, 2011).

Sabendo que o humano é considerado um ser biopsicossocial e espiritual [1], é preciso considerar esta complexidade no estabelecimento de causas para as patologias psiquiátricas, esquivando-se dos possíveis reducionismos biológicos que, apesar de esclarecer alguns aspectos do adoecimento não podem ser tomados como explicações satisfatórias para a depressão.

Fonte: http://zip.net/brtGXp

O modelo cognitivo pressupõe que a cognição é fator determinante da doença, e o primeiro sintoma que se segue a isto são as construções negativistas do pensamento. A depressão é, portanto, oriunda do modo como a pessoa vê e interpreta o mundo e como se posiciona frente a ele. Uma característica dos depressivos é a alta expectativa sobre si mesmo, que geralmente gera frustração e leva a um ciclo vicioso, pois a não aceitação de si leva ao pessimismo e afasta os outros, que por sua vez reforçam a experiência de rejeição e aumentam o sofrimento da pessoa.

Com base na análise do comportamento, “Muitos teóricos (por ex., Hersen, Eisler, Alford, & Agras, 1973) argumentaram que uma falta de reforço social é particularmente importante para o surgimento e a manutenção da depressão” (DOUGHER e HACKBERT, 2003), junte-se a isto um repertório social inadequado e possivelmente a pessoa estará se comportando de maneira aversiva e provocando reações de evitação nos outros. Os autores destacam diversos fatores de influência como histórias de punição prolongadas, reforço de comportamento de angústia, comportamentos verbais negativos, influências culturais, dentre outros provocadores e mantenedores de estados depressivos.

Fonte: http://zip.net/bttHCC

Por parte da psicanálise temos ainda toda uma construção da subjetividade baseada em uma organização psíquica que considera o inconsciente, as pulsões, o ego, o superego, falhas na integridade narcísica, dentre outros aspectos que influenciam sobre a personalidade e o adoecimento. Não obstante, seja em que abordagem for, há que se considerar os fatores sócio culturais e as exigências da sociedade de consumo, que atuam como um peso sobre as concepções de ser e sobre a própria identidade da pessoa. Considerando essas perspectivas os fatores psicológicos podem desencadear alterações químicas e físicas sobre o corpo humano provocando a depressão orgânica.

REFERÊNCIAS:

[1] Parte da psicologia considera a dimensão da espiritualidade humana como aquilo que transcende e é constituinte de sua totalidade.

BAHLS, Saint-Clair. Depressão: uma breve revisão dos fundamentos biológicos e cognitivos. Interação em Psicologia, v. 3, n. 1, 1999.

CAPONI, Sandra. Uma análise epistemológica do diagnóstico de depressão.Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian Journal of Mental Health, v. 1, n. 1, p. 100-108, 2011.

DANIEL, Cristiane; SOUZA, Mériti de. Modos de subjetivar e de configurar o sofrimento: depressão e modernidade. Psicologia em revista, v. 12, n. 20, p. 117-130, 2006.

DOUGHER, Michael J.; HACKBERT, Lucianne. Uma explicação analítico-comportamental da depressão e o relato de um caso utilizando procedimentos baseados na aceitação. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 5, n. 2, p. 167-184, 2003.

JUSTO, Luís Pereira; CALIL, Helena Maria. Depressão: o mesmo acometimento para homens e mulheres. Rev Psiq Clín, v. 33, n. 2, p. 74-9, 2006.

 

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Contra-evolução da autonomia: notas sobre um Estado tão Desejado Democrático

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O/a famigerado/a homem/mulher bio-psicossocial&oescambau brasileiro/a
Hordienamente residente em um Estado tão Desejado Democrático de Direito
Continua respirando o ar carbonizado do refugo totalitário de “outrora”

Apesar dos vinte anos da Constituição
Apesar dos ventos que sopram novas leituras sobre a brutal “Revolução”
Apesar dos pesares de famílias que ainda vivem os horrores de Antígona

Somos arrematados por estratégias que anulam nossa condição de cidadão
Infinitas propagandas técnico-higieno-urbanistas são pregadas
Por línguas e dentes valentes de arautos teólogo-economicos da Vingança & do Ódio

Somente um ultra fundamentalista contemporâneo
Tem a ilusão de que cidadania se constrói com o sequestro da autonomia

Dezoito de maio abriga o grito sufocado de duas frentes de libertárias:
O urro do louco aprisionado & o choro contido da criança explorada
Luta Antimanicomial & Combate ao Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes

Dezoito de maio vomita em nossa Imaculada Civilização Ocidental
As máculas de pessoas tratadas como coisas, abjetos do consumismo

Apesar dos gritos, urros e choros
Nossas ruas estão sendo lavadas,
estamos varrendo para debaixo da prisão
Seres descartáveis que não necessitam de cárcere
Mas fomento a autonomia, de solidariedade

Apesar dos gritos, urros e choros
Nossas telas de retina estão recheadas
de corpos jovens frescos
que se contorcem e gemem
ao serem devorados com cartões de crédito

Dezoito de maio vomita em nossa Imaculada Civilização Ocidental
As máculas de um povo que não cansa de ser violentado

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“Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”

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BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano-compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

No livro Saber cuidar: ética do humano-compaixão pela terra, o autor Leonardo Boff que é professor de teologia, filosofia, espiritualidade e de ecologia e autor de inúmeras obras, busca detalhar o cuidado em suas várias concretizações: cuidado com a Terra, com a sociedade sustentável com o corpo, com o espírito, com a grande travessia da morte. A ótica do cuidado funda uma nova ética, compreensível a todos e capaz de inspirar valores e atitudes fundamentais para a fase planetária da humanidade.

Boff inicia o livro retratando a relação de cuidado que remontamos a um chaveirinho eletrônico chamado tamagochi, uma invenção japonesa de 1997, de um bichinho virtual que precisava de cuidado (ser alimentado, de carinho, de dormir, entre outras necessidades) para que não morresse. A partir daí o autor começa a analisar que tipos de relações se constroem na atualidade, nas quais investimos tempo e cuidado a seres virtuais para superar a solidão.

Dentre os 11 capítulos que compõem o livro, retrata-se o descuido com o ser humano e de que forma ocorre em nossa civilização atual, descreve sobre a historicidade dos mitos e fábulas na sociedade, discorre sobre as dimensões, natureza, concretizações e patologias do cuidado, e por último exemplifica modelos de vivências acerca deste ato de cuidar.

A fábula-mito do cuidado faz uso de várias figuras mitológicas (Júpiter, Terra, Saturno), para nos mostrar que o cuidado é antes de tudo uma atitude, como nos fala o autor:

“Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. […] Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e envolvimento afetivo com o outro.” (BOFF, 1999, p.33)

Enfim, o ser humano como ser social e histórico, é fruto de suas relações entre seus pares e também com a natureza em geral, essa troca de afeto, de experiências de vida, é fundamental para o movimento de construção e desconstrução de nossa identidade.

Para você leitor que se preocupa com a construção de suas relações afetivo-sociais, e os efeitos que elas acarretam não somente para sua vida, mas para todo o Universo, recomenda-se a leitura deste livro que propõe uma nova visão, acerca do cuidado com o sujeito homem e seu meio ambiente.

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Entre o social e o biológico ou da miséria à doença

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O Brasil caminha definitivamente pela estrada gloriosa do crescimento, rumo a um ideal norte-americano de grande país. Não faltam pistas que nos indiquem isso: o crescimento do PIB, o número de vagas no mercado de trabalho, o volume das exportações, a tão falada estabilidade da economia (apesar do velho fantasma da inflação) e etc. etc.

De todos os fatos que aproximam o Brasil das nações do – agora não tão distante – primeiro mundo, o mais inglório foi o que ocorreu recentemente em Realengo, bairro da periferia da cidade do Rio de Janeiro.

Como foi ampla e espetacularmente divulgado pela mídia, Wellington Menezes, de 23 anos, entrou armado em uma escola pública carioca e disparou contra crianças e adolescentes, matando uns quantos, ferindo outros e inaugurando em terras tupiniquins uma forma de assassinato antes só vista pelos brasileiros, através de vagas notícias oriundas de distantes paragens.

Muito se poderia falar a respeito de fato tão triste, trágico e lamentável. Contudo, mesmo arriscando ser tragado pela corrente do caudaloso rio da maioria, gostaria de me concentrar em um outro conjunto de fatos, ocorrido após o tiroteio e decorrente dele, protagonizado por “especialistas do comportamento humano”, que vieram acudir a sociedade,  perplexa diante do horror e do inominável, com opiniões abalizadas, seguras, centradas, enfim, científicas.

Como é reconfortante que, diante do inexplicável, mesmo quando a humanidade em nós se manifesta da forma mais grotesca e idiossincrática, haja a ciência e seus paladinos para fazerem o mundo voltar a ser aquele velho mundo acolhedor de todo dia.

Chamados a opinar, diversos profissionais de saúde mental, oriundos das mais variadas áreas, referiram-se alternadamente ao bullying (novo produto, recém lançado no dinâmico mercado das doenças), à psicopatia (velho produto desse mesmo mercado, agora apresentado na embalagem nova do transtorno de personalidade anti-social), à esquizofrenia, ao transtorno bipolar e a outros mais, a depender tanto da formação de quem opinava, quanto da demanda – também mercadológica – daqueles que ouviam.

É interessante a forma com que profissionais da saúde, alguns deles em claro gozo de seu furtivo momento televisivo, debruçam-se sobre os mais variados e complexos temas, mesmo que tais temas sejam de teor eminentemente social.Claro está que não há nada de novo nesse fenômeno, já que o interesse dos saberes médicos (aqui incluídos: medicina, psicologia, nutrição, terapia ocupacional, fisioterapia etc.) por temas sociais é coisa de algumas centenas de anos.

A partir dos séculos XVII e XVIII, quando do acelerado processo de urbanização ocorrido na Europa, os profissionais de saúde (na época, representados quase que exclusivamente pelos médicos) passaram a ser chamados a intervir na organização do espaço da cidade, para gáudio e glória do capitalismo, ainda em seus vacilantes primeiros passos de bebê. Tal processo – conhecido como medicalização – cada dia mais vigoroso e presente, fez dos saberes médicos disciplinas eminentemente sociais.

Diversas e profundas são as implicações desse processo no nosso dia-a-dia. Uma delas é o imenso prestígio que a medicina alcançou nos últimos duzentos anos. De funcionário subalterno, o médico alcançou, hoje, o estatuto de detentor absoluto da verdade sobre os mistérios da existência humana, e não apenas no que toca a dimensão biológica do homem. A reboque, ganharam importância todas as disciplinas que à medicina se relacionam e que acima foram mencionadas.

Tal prestígio não explica apenas aquelas duas horas de espera que temos de tolerar antes de cada consulta médica. Hoje, os saberes médicos opinam e normatizam cada momento de nossas vidas, por mais banais que tais momentos possam parecer, digerindo-os a partir de uma lógica que divide a vida entre o que seria normal e aquilo tido como doença.

Segundo tais saberes, há uma forma correta de nascer, uma maneira adequada de morrer, uma idade certa para ter filhos, uma forma adequada de educá-los, um jeito saudável de se alimentar, de dormir, de acordar, de se exercitar, de fazer sexo, de se banhar, de sofrer; enfim, há um conjunto de prescrições, fora das quais estaríamos condenados a uma vida de doenças físicas, mazelas psíquicas e males sociais.

Negar os aspectos biológicos do homem, mesmo quando visto a partir de sua dimensão social, seria tão temerário e reducionista quanto negar os aspectos sociais do homem, ainda que tomado em sua dimensão biológica. A questão não se rende a uma análise dualista, mas multilógica e não excludente. Contudo, é importante que se faça notar que o processo de medicalização, intenso como ele tem se configurado nos últimos anos, nos traz em relação ao homem – um objeto complexo, por definição -a falsa impressão de simplicidade. É exatamente isso o que ocorre quando se tenta explicar a ação de Wellington Menezes, na escola de Realengo.

Explicar o que ocorreu naquela triste manhã de 7 de abril a partir de um diagnóstico médico ou psicológico – seja de esquizofrenia, de psicopatia, bullying ou algo que os valha – é ficarmos cegos para diversos outros aspectos de cunho social, econômico, cultural e etc. que, no geral, não são jamais abordados pelos profissionais da saúde que, chamados a expressar suas opiniões sobre fatos de teor semelhante, o fazem aos quatros ventos e nos mais variados meios de comunicação.

Desse fato, duas hipóteses podem ser formuladas. A primeira é a de que estamos diante de uma epidemia de profissionais acríticos, chinfrins e formados na lógica cega do superespecialista (aquele que sabe quase tudo a respeito de quase nada); a segunda hipótese seria a de que à mídia só interessa aquelas explicações mais fáceis, superficiais e que acenam – para alívio de todos e felicidade geral – com a solução rápida e eficaz de um tratamento médico ou psicológico adequados. Afinal, estão aí os profissionais a oferecerem seus serviços e a indústria farmacêutica a oferecer seus remédios. É provável que as duas hipóteses sejam válidas.

Explicar o que ocorreu em Realengo a partir da lógica da doença é desconsiderar o fato de que Wellington vivia em um estado violento, de um país violento; é não levar em conta que ele morava nas cercanias da Baixada Fluminense, uma das regiões do mundo de maior índice de homicídios; é esquecer que a Baixada Fluminense abriga hospitais cujos cirurgiões são mundialmente reconhecidos por sua experiência no tratamento de traumas por armas de fogo; é estar cego para a falha dos órgãos públicos que, por inércia e ineficiência, permitiram que, com facilidade, Wellington comprasse as armas usadas na ocasião; é desconsiderar a possibilidade de que aquele rapaz, caso tenha realmente surtado e caso vivesse em outra realidade, ao invés de balas, viesse a atirar flores.

Explicar ato tão dramático a partir pura e simplesmente de um diagnóstico é reduzir perigosamente o ser humano a um aglomerado de células ou a um conjunto de esquemas psicológicos e comportamentais. Diagnosticar Wellington é, enfim, esquecer-se de Wellington.

Pelo menos até que apareça outro…

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