Os efeitos da Pandemia na saúde mental das famílias brasileiras

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A crise sanitária mundial ocasionada pela pandemia da Covid 19, iniciada em Wuhan, na China, no ano anterior, trouxe várias consequências negativas à saúde mental da humanidade, nos quatros cantos do mundo. No Brasil, não foi diferente. Conhecido por ser um povo alegre e festeiro, o brasileiro viu-se obrigado a ficar mais tempo, em casa, bem como foi preciso manter um distanciamento social, para evitar a disseminação do vírus.  Apesar da vacina ter sido elaborada, em tempo recorde, e distribuída para imunização em massa, os efeitos do coronavírus à saúde mental das pessoas não passaram. Haja vista que durante a pandemia, muitos indivíduos perderam familiares, vítimas do vírus, outros o emprego. Situações que contribuíram para o desequilíbrio emocional de muita gente.

Outro fator que levou muitos brasileiros ao desespero, foi o consumo desenfreado de fakes sobre a doença. Torales, O’Higgin, Castaldelli, Ventriglio (2020) apontam que a falta de uma fonte confiável aumentaram a incerteza e o medo do indivíduo, em face ao desconhecido.  Efeito agravado no Brasil, pela crise institucional entre o Governo Federal e os Estados da federação, informou a revista científica Lancet (2020), bem como os veículos brasileiros de comunicação. “Conforme editorial escrito na Lancet” (2020), o Brasil atravessou a pandemia em meio a uma crise político-institucional de grandes proporções, pelo fato dos governantes terem um posicionamento diferente ao enfrentamento da doença, que vitimou mais de 600 mil brasileiros, informou a Organização Mundial de Saúde (OMS).

A Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde (CNDS, 2008) observa que a equidade ganha cada vez mais destaque no debate brasileiro e mundial a respeito da organização dos sistemas de saúde, para responder à questão de como melhorar o acesso e resolubilidade do sistema, para diminuir as imensas disparidades no estado de saúde entre indivíduos, grupos da população e países. Nesse sentindo, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi determinante para o recebimento de diversos pacientes com Covid, 19, haja vista que a rede particular de saúde não conseguiria atender a demanda de pessoas, bem como nem todo mundo tem condições de arcar com um plano de saúde. 

As ondas da pandemia foram um verdadeiro cenário de guerra, a humanidade não estava preparada emocionalmente para viver um cenário pandêmico que vitimou muitas famílias.  As cenas de filas de carros de funerária em cemitérios de todo o país, para enterrarem os mortos pela Covid 19, ficou eternizado na memória de cada brasileiro.  A saúde mental de quem perdeu alguém precisa ser levada em consideração, muitos perderam todo uma família, os relatos podem ser assistidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. 

Fonte: Freepick

 

Outro ponto é a crise econômica, no Brasil, tem tirado o sono de muitos brasileiros, que são arrimos de família, ou seja, provedores dos lares. Situação que provoca um quadro de ansiedade e até mesmo de depressão, em muitas pessoas, por não saberem, como lidar com as dívidas, e não deixar faltar o alimento aos entes.  Esse cenário pode ser explicado pela alta da inflação, a qual influencia diretamente no aumento dos preços. Somente este ano, o gás de cozinha e a gasolina aumentaram mais de uma vez, fora o aumento da cesta básica. Sobre o assunto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disse que a economia brasileira encolheu 4,1%, no ano de 2020.  Segundo o órgão os problemas de ordem econômica foram piorados com a pandemia, que deixou muitas pessoas desempregadas.

Os últimos dois anos não têm sido fáceis para o povo brasileiro, o qual vivencia uma crise econômica e de saúde, oriundas da pandemia. Fatores que interferem na saúde emocional de uma forma direta.  Por isso, é necessário cuidar da mente, por meio do SUS, que oferece tratamento gratuito. É preciso falar sobre saúde mental, em especial, em momentos de crise.  Além de buscar ajuda profissional evite ficar ligado muito tempo no noticiário, concentra-se em soluções.

Fonte: Freepick

Referência

Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde (CNDS,2008) “As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. 

Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE)(2020). Disponível em < https://www.ibge.gov.br/> Acesso: 27, de out de 2021.

Organização Mundial de Saúde (OMS)

Revista Eletrônica BBC. PIB: Pandemia agrava o que seria pior década de crescimento do Brasil em mais de um século. Publicação 3 de março, de 2021. Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56257245> Acesso. 27, de out de 2021.

Brasil, Senado Federal. Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Covid 19.

Torales J, O’Higgins M, Castaldelli-Maia JM, Ventriglio A. The outbreak of COVID-19 coronavirus and its impact on global mental health. Int J Soc Psychiatry. 2020.

The Lancet. COVID-19 in Brazil: “So what ?” (Editorial). Lancet. 2020.

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8 em cada 10 brasileiros não pretendem ter filhos nos próximos anos

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Adoção é desejo de apenas 2% da população

São Paulo, abril de 2018 – Nos próximos dois anos, 79% dos brasileiros em idade fértil não pretendem ter filhos, sobretudo os moradores dos estados do Sul (87%). É o que mostra uma pesquisa IBOPE Inteligência realizada em março deste ano. Até 2020, apenas 17% dos entrevistados declaram a intenção de ter um filho por meio de gravidez e somente 2% tem a intenção de adotar uma criança.

Foram entrevistadas 1491 pessoas em idade fértil, sendo homens com idade entre 16 e 60 anos e mulheres com idade entre 16 e 45 anos, em 140 municípios do país, entre os dias 15 e 19 de março de 2018. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total das amostras.

Essas informações foram coletadas utilizando o BUS, pesquisa do IBOPE Inteligência representativa da população brasileira realizada todos os meses a partir de perguntas de diferentes clientes.

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A história de mais uma Maria

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Maria, Maria
É um dom, uma certa magia,
Uma força que nos alerta.
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta.
Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta.
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
(Maria, Maria)
Mistura a dor e a alegria
(…)
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida….

(Milton Nascimento e Fernando Brant)

Certamente pouquíssimas pessoas ouviram falar dessa mulher de nome comum, tão comum que quase caiu no esquecimento não fossem seus legados – concretos e simbólicos – como os escapes de uma vivência fervilhada de intensidades.

Legado é tudo aquilo deixado oficialmente (ou não) aos que sucedem quem o deixou. A Maria da qual tratarei neste texto deixou frases e pinturas que dizem de algo maior, ou dizem esse algo maior que foi sua vida.

Retirante nordestina, só de isso ser, ou assim ser rotulada, sofreu as primeiras durezas que alguém que sai de seu torrão natal (e bota torrão nisso!) em busca de melhores condições de vida sofre. Nessa empreitada, que vale quase tudo, alguns desfazem até de sua dignidade, o que não é o caso dessa Maria, adianto.


Maria do Socorro Santos retirou-se para o Rio de Janeiro muito nova, para ser doméstica. Teve uma filha de 4 anos atropelada e morta nas ruas da cidade maravilhosa. A Hora da Estrela (deClarice Lispector) serviria muito bem de roteiro pra dizer dessa vida que só durou quatro aninhos ou da vida dessa mãe que durou 52 anos. De qualquer forma, diria desse anonimato que a maioria de nós está fadada a viver… (nesses momentos me alegro com a possibilidade que a virtualidade nos dá de partilhar certas histórias).

E nisso de procurar jeito para vida ou se ajeitar do jeito que ela nos permite, Maria do Socorro Santos se ajeitou com a bebida como companheira fiel (porém não eterna) com quem dividia todos anseios, prazeres, medos, covardias, fraquezas, indignação e coragem. Mas há quem não veja (ou via) assim. Talvez ela pudesse ser uma vagabunda preguiçosa que não queria nada com a vida. De quê importa? Antes de tudo, a vida parecia não querer nada com ela… Ou quase nada. Preta, pobre, retirante, sem família e com pouco estudo. Parecia difícil, mas nunca esqueçamos que entre a impotência e a onipotência, há (e sempre haverá) a potência! Continuemos.

Maria foi internada 20 vezes em hospitais psiquiátricos e sofreu todos aqueles tratos (prefiro não colocar um prefixo numa palavra que, nesse caso, já designa como os tratos sucederam) que estamos carecas de saber e tentar combater com o nome de Luta Antimanicomial. Mas embora ela tenha passado por essas experiências, ou justamente por tê-las vivido, Maria do Socorro (mais conhecida como Socorro, mas preferi me referir aqui como Maria) aprendeu olhar a vida de outras formas. Em minha mera opinião, ela se descobriu e essa é, certamente, a maior fortuna que alguém pode ganhar na vida.

Maria começou o tratamento para suas crises psíquicas num Centro de Atenção Psicossocial. Acompanhou de perto o nascimento da proposta da Atenção Psicossocial e foi acolhida por esta proposta não mais do que ela à proposta acolheu. Só para constar, hoje o CAPS III da Rocinha, no Rio de Janeiro, recebe seu nome.

Em seu tratamento, Maria teve o primeiro encontro com aquilo que mudaria (e mudou) a sua vida: a pintura. Quando eu disse no início do texto sobre sua vivência fervilhada de intensidades, queria de fato chegar a esse ponto em que contaria do seu encontro com a pintura e de sua descoberta na vida, através da arte. Extrapolando o que comumente conceituamos como arteterapia, as palavras de Maria dizem melhor sobre esse encontro:

“Não devemos abrir mão daquilo que mais gostamos de fazer, seja o que for. Ao passar pelos sonhos mais difíceis, não devemos desistir de nada. Pois acredito muito no que cada um de nós escolheu para fazer e ter prazer, sem que nada nos impeça, não importa a idade. Não sei se posso chamar de terapia, mas uma coisa eu garanto: fazer um trabalho que a gente gosta é como se estivesse realizando cada minuto dos seus momentos mais felizes. Pois é assim que me sinto em cada uma das pinturas que faço.” (Maria do Socorro Santos)

Maria projetava-se em sua arte e, embora pintasse num quadro a sua dor, o ato de pintar lhe aprazia além da dor que estava pintando. É a coexistência dos afetos e as formas de lidar e con-viver com eles.

Nem tanto por sorte, mas sim por merecimento, Maria do Socorro Santos pôde ter, em vida, algum reconhecimento por aquilo que fez. Mas ela não só pintava. Quase me esquecia de dizer sobre como ela acolheu a proposta da Atenção Psicossocial (como disse acima). Maria promovia oficinas, palestras e conversas a respeito da inclusão social. O viés de sua militância foi o de dizer da riqueza que há em incluir o outro ao invés de excluí-lo. Maria dizia da riqueza que chega à uma pessoa quando esta está disposta a ver as coisas, como aconteceu com ela quando ela viu e sentiu o papel das cores em sua vida. Pintou sua vida da cor que quis, quando quis, porque quis…

Adotada pelo Instituto Franco Basaglia, Maria pôde desfrutar dos recursos afetivos e, por vezes, materiais para a sua militância. Acreditava que se pudesse despertar nas pessoas o sentimento de que elas também podiam se descobrir na vida, o sofrimento lacerante e cego que tanto rondava seus colegas usuários, podia ceder espaço à processos criativos vitalizantes. Maria teve algumas obras expostas, recebeu críticas e foi comparada à pintores renomados. Em vida empenhou-se à sua descoberta através da arte, ao seu prazer e à sua vocação. Aprimorou-se. Esforçou-se. Lutou. Por ela e pelos outros. Faleceu aos 52 anos, de enfarte. Mas disso tudo ficou um legado muito bonito e interessante. Hoje existe o projeto Maria do Socorro Santos, que a partir da venda de cópias das suas obras, angaria recursos para incentivar oficinas artísticas às pessoas portadoras de sofrimento psíquico, usuários de serviços de Saúde Mental. Além disso (ou inclusive), o projeto divulga a vida e obra dessa artista e lutadora que não só por ser Maria, e louca, nunca perdeu sua estranha mania de ter fé na vida.

Aos interessados no Projeto Maria do Socorro Santos, acessar:http://www.rubedo.psc.br/socorro.htm

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