O primeiro natal da criança Melinda

Compartilhe este conteúdo:

Melinda tinha apenas cinco anos quando vivenciou seu primeiro natal conscientemente. Ela, como uma criança típica, acreditava em fadas, princesas, mundo encantado, monstros etc., incluindo o Papai Noel e sua carruagem com presentes. Na véspera do natal, Melinda pediu aos seus pais um pedido inusitado. O pedido dela foi viajar com o Papai Noel entregando os presentes para as crianças.

Esse pedido comoveu seus pais, pois não estavam prontos para revelar a verdade e muito menos destruir sua inocência, como acreditariam que seria. Decidiram em conjunto tentar realizar esse pedido da filha. Pediram ajuda dos familiares e começaram a organizar o trenó com os alces e as vestimentas, mas tudo escondido da pequena Melinda.

Ao passar dos dias, quanto mais perto ficava da data, mais ansiosa Melinda se mostrava, pois temia que seu pedido pudesse não se realizar. Falou aos seus pais que poderia sumir mas que voltaria para a cama antes do dia 25 chegar, pois queria muito viajar com o Papai Noel e entregar os presentes às crianças.

Fonte: Imagem de Jill Wellington por Pixabay

Na escola, Melinda aprendeu que o Natal é um momento no qual se deve fazer ações de caridade, solidariedade e amor, como Jesus fazia. Logo, Melinda raciocinou que seu pedido fazia mais sentido ainda, pois não desejou ter nenhum brinquedo, presente caro ou jogos especiais, e percebeu que sua atitude era caridosa. Quando chegou em casa, disse isso aos seus pais e eles o elogiaram.

Quando finalmente chegou a véspera do natal, os pais de Melinda se fantasiaram, alugaram algumas carretas com enfeites de alces e compraram, com ajuda de seus familiares, vários presentes para distribuir em bairros carentes. Eles a despertaram tarde da noite e ela, feliz por ter seu pedido atendido, ficou eufórica. Seus pais, disfarçadamente, pediram a ela para entrar no carro que seus pais já sabiam do pedido.

Ela entrou muito entusiasmada e se encantou com cada detalhe do trenó, com os alces, com os brilhos em volta, com os presentes, e com a fantasia de seus pais. Depois, se direcionaram a um bairro carente e lá, eles desciam do trenó automatizado, e deixava um presente na porta ou no portão de cada casa. Depois, apertaram a campainha ou batiam forte no portão e falavam em alto e bom tom: PRESENTE DO PAPAI NOEL NA PORTA. FAVOR RETIRAR AGORA!  e saiam em disparada para o carro.

Fonte: Imagem de Jill Wellington por Pixabay

Melinda, que conhecia apenas o papai Noel tradicional, que voava pelo céu com seu trenó e alces, e que chegava à casa das crianças pela chaminé das casas, perguntou ao casal por que não era como os que mostravam na tv e nos livros. Eles responderam que esta é a última versão da fábrica da terra do papai Noel e que no Brasil era mais legal, porque tinha portão e poderia deixar na caixa de correios, do que ir pela chaminé e se machucar. Ela concordou e achou divertida a resposta.

Depois de distribuir tudo pelo bairro inteiro, voltaram exaustos para casa. Depois, Melinda dormiu a noite toda pesadamente. No dia seguinte, quando despertou, foi diretamente aos seus pais e relatou tudo a eles. Eles a ouviram atentamente e a acolheu. Depois, viu na TV, a alegria das crianças e suas reações ao receber os presentes. Quando as viu, disse aos seus pais que foi o melhor natal de todos, e foi o mais marcante, por ser o primeiro.

Compartilhe este conteúdo:

Dia das Crianças: data para refletir sobre o valor e importância da infância

Compartilhe este conteúdo:

Comemorado no dia 12 de outubro, o Dia das Crianças celebra a importância da garotada, na vida dos adultos, além de valorizar a fase da infância, responsável pela construção de sua identidade. Doce, pipoca, diversão e muita risada não podem faltar, nessa data tão especial aos pequenos. No entanto, é preciso relembrar que a criação de uma criança precisa acontecer na saúde, educação e condições sociais favoráveis ao seu desenvolvimento físico e psicológico.

Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a criança e o adolescente devem usufruir de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, mas na prática difere-se bastante. Diariamente a mídia notícia os disparates das desigualdades entre as classes sociais, no Brasil. Todas as crianças têm direito a frequentar uma escola, mas nem todas estão matriculadas. Nesse contexto, Ana Maria Frota aponta que nem todas as crianças vivem no país da infância, e destaca que alguma são nascidas em bolsões de misérias.

Fonte: Freepik

Sua análise faz alusão as diferenças sociais nos quatro cantos do país, que não oferecem as mesmas condições de desenvolvimento na infância.  Fator preocupante, porque a construção de um adulto confiante e seguro começa na fase da infância. Mukhina (1996) considera que o desenvolvimento máximo das qualidades das crianças, no que diz ao aprendizado são alçados quando se consideram suas peculiaridades, em diferentes idades. Por isso, a necessidade de a criança crescer em um ambiente familiar seguro e saudável.

De acordo com Cardoso (2012) a promoção do brincar é um grande facilitador para seu aprendizado, em especial, quando a criança toma a iniciativa. Para ele, essa atitude cria um ludicidade inerente ao saber infantil junto com a participação do adulto nessa descoberta, no caso é a brincadeira. Cardoso conceitua esta ideia como um desempenho assistido. Esse apoio ofertado à criança faz com ela sinta-se segura e confiante para novos aprendizados.  Nesse sentido, faz-se ser indispensável a presença do adulto.

Fonte: Freepik

Rossana Coelho e Barbara Tadeu observam que o brincar da criança deve ser levado para sala de aula, no artigo “A importância do Brincar na Educação da Criança”. Segundo a publicação, cabe aos educadores orientar os espaços em que as crianças devem ficar para o desenvolvimento de atividades lúdicas focados no ensino aprendizagem, além de um bom material pedagógico.  A relação positiva entre pais e professores contribuem para o crescimento das crianças no que diz ao aprendizado, enquanto futuros adultos também.

Para proteger as crianças e adolescente vítimas de violência doméstica o Governo Federal, por meio do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disponibiliza o disque 100, forma gratuita denunciar. Essa informação é pertinente porque, conforme dados ministério 81% das violências contra esse público acontecem dentro de casa.  Vamos brincar, celebrar e salvar vidas.

REFERÊNCIAS

Brasil. Lei n. 8069, 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso 07, de out. 2021.

Brasil. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disponível em https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2021/julho/81-dos-casos-de-violencia-contra-criancas-e-adolescentes-ocorrem-dentro-de-casa. Acesso 07 De out 2021.

Cardoso, G. B. (2010). Pedagogias participativas em creche. Cadernos da Educação de Infância.

Cardoso, M. G. (2012). Criando contextos de qualidade em creche: ludicidade e aprendizagem. Minho: Universidade do Minho, Instituto de Educação.

Compartilhe este conteúdo:

O brincar na vida da criança

Compartilhe este conteúdo:

Brincar é parte primordial na vida da criança, tão importante a ponto de a Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos reconhecê-lo como direito de toda criança (GINSBURG, 2017). Sendo um fenômeno tão comum, o brincar desperta interesse da Psicologia devido à influência que exerce na infância e à motivação interna por trás desse fenômeno. A versão online do dicionário Michaelis explica o termo brincar como “entreter-se com objetos ou atividades lúdicas e simular situações da vida real”. Pearson (s. d.) diz haver dificuldade na conceituação de brincar, mas revela um modelo que identifica cinco características que atestam uma provável brincadeira, são elas: não-literalidade; simulação de emoção real; motivação interna e livre escolha.

Embora o senso comum deduze não acontecer nada enquanto as crianças gastam tanto tempo “só jogando”, como se o brincar fosse apenas uma indulgência concedida aos pequenos (CALDWELL s.d.), Vázquez (2015) escreve que a brincadeira não é apenas entretenimento como também fator por trás do desenvolvimento infantil, através da qual são ativadas a afetividade, a motricidade, inteligência, criatividade e sociabilidade; assim sendo, o brincar, de certo modo, é a razão de ser da infância.  Valério (2016) confirma ao frisar que isso não compreende apenas diversão prazerosa, mas também um meio através do qual a criança expressa seus sentimentos e aprende. Há quem diga que os pequenos conhecem a vida jogando, pode-se parafrasear tal afirmação por uma frase mais abarcadora, “os pequenos conhecem a vida brincando”.

Em virtude disso, a brincadeira deve ser vista como algo sério, pois a criança investe toda sua afetividade nisso (ROLIM; GUERRA; TASSIGNY, 2008).  Utilizam o brinquedo para externar suas emoções, construindo um mundo a seu modo e, dessa forma, questionam o universo dos adultos. Elas já nascem em um meio pautado por regras sociais e o seu Eu deve adaptar-se a essas normas. Na brincadeira, ocorre o processo contrário: são as normas que se encaixam em seu mundo. Não é uma tentativa de fuga da realidade, mas, sim, uma busca por conhecê-la cada vez mais. No brincar, a criança constrói e recria um mundo onde seu espaço esteja garantido. As pressões sofridas no cotidiano de uma criança são compensadas por sua capacidade de imaginar; assim, fantasias de super-heróis, por exemplo, são construídas (MELO & VALLE, 2005 apud ROLIM; GUERRA; TASSIGNY, 2008). 

Fonte: encurtador.com.br/pEQW5

Aberastury enfatiza a brincadeira infantil como externalização dos medos, angústias e problemas que a criança enfrentou; assim, ela revive ativamente tudo o que sofreu passivamente, por fim modificando um final que lhe foi penoso, consentindo relações que seriam proibidas na vida real. Melo e Valle (2005 apud ROLIM; GUERRA; TASSIGNY, 2008) escrevem que, através do brinquedo e sua ação lúdica, a criança expressa sua realidade, ordenando e desordenando, construindo e desconstruindo um mundo que lhe seja significativo e corresponda às suas necessidades intrínsecas para seu desenvolvimento global. Ginsburg (2007) segue linha semelhante ao ressaltar que, durante uma brincadeira, a criança está navegando em um mundo perfeitamente criado somente para suprir suas necessidades; além disso, por mais que seja pouco verbal, o infante pode ser hábil a expressar suas visões, experiências e mesmo frustrações através do brincar.

À medida em que a criança cresce, suas necessidades mudam ou são acrescidas outras, assim sendo, é inevitável que a forma de brincar se transforme e os próprios brinquedos sejam substituídos por outros. “[…] Assim, como as necessidades das crianças vão mudando, é fundamental conhecê-las para compreender a singularidade do brinquedo como uma forma de atividade” (ROLIM; GUERRA; TASSIGNY, 2008).

“[…] Uma criança muito pequena sempre deseja algo de imediato. Ninguém jamais encontrou uma criança com menos de 3 anos de idade que planejasse fazer algo específico em um futuro próximo. O intervalo entre o desejo e a satisfação é muito curto. Entretanto crianças um pouco maiores, em idade pré-escolar, já estão sujeitas a desejar algo impossível de ser realizado imediatamente. Vygotsky (1998) conclui que o brinquedo surge dessas necessidades não realizáveis de imediato. Eles são construídos quando a criança começa a experimentar tendências não realizáveis: para resolver a tensão gerada pela não realização de seu desejo, a criança envolve-se em um mundo ilusório e imaginário onde seus anseios podem ser realizados no momento em que quiser. Esse mundo é o brincar” (ROLIM; GUERRA; TASSIGNY, 2008).  

Vê-se a aquisição da capacidade de imaginar e o desenvolvimento desse processo através da brincadeira; a criança já não está limitada ao mundo físico, aos fenômenos captados por seus olhos, mas ao seu pensamento concreto une-se o pensamento abstrato, permitindo ao infante a diferenciação entre o brinquedo e a ideia que este representa. Vygotsky (1998 apud ROLIM; GUERRA; TASSIGNY, 2008) diz que, através do brinquedo, a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual exterior, tornando-se dependente das motivações e tendências interiores, estando imune aos incentivos dos objetos externos.

Fonte: encurtador.com.br/xGRU6

Poder imaginar é uma capacidade sinalizadora de amadurecimento e evolução cognitiva da criança, e um importante passo gradual na sua autonomia em relação aos pais e ao mundo em geral. Vygotsky (1998 apud ROLIM; GUERRA; TASSIGNY, 2008) escreve que o criar uma situação imaginária não é algo acidental na vida da criança, mas a primeira manifestação da independência da criança em relação às restrições situacionais.

O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. […] essa zona de desenvolvimento proximal é um domínio psicológico em constante transformação, refere-se ao caminho de amadurecimento de suas funções, ou seja, ações que, hoje, a criança desempenha com a ajuda de alguém conseguirá, amanhã, fazer sozinha. Ao brincar ela se solta e se permite mais, vai além do comportamento habitual para sua idade e de suas atitudes diárias. Ela se torna maior do que realmente é na realidade. Assim, o brincar vai despertar aprendizagens que se desenvolverão e se tornarão parte das funções psicológicas consolidadas do indivíduo (OLIVEIRA, 1995 apud ROLIM; GUERRA; TASSIGNY, 2008).

Assim sendo, fica evidente a importância da brincadeira na vida criança, uma atividade que não somente beneficia o infante no presente como também retumbará em benefícios no seu futuro. Como escreve Santamaría (sem data), brincar significa indagar, conhecer, descobrir tudo o que é necessário para tornar-se adulto. Como certa vez disse o pedagogo Fred Rogers, a brincadeira é realmente o trabalho da infância.

Fonte: encurtador.com.br/EHL23

Referências:

Dicionário Michaelis. Disponível em <http://www.michaelis.uol.com.br>. Acesso em: 16 set. 2017. 

CALDWELL, Bettye M. Importance of Play in Early Childhood Education. Fisher-Price. Disponível em <http://www.fisher-price.com>. Acesso em: 14 set. 2017. 

GINSBURG, Kenneth R. The importance of play in Promoting Healthy Child Development and Maintaining Strong Parent-Child Bonds. AAP Gateway. Disponível em <http://www.aappublications.org>. Acesso em 17 set. 2017.  

PEARSON, Charese. Importance of Play in the Early Childhood Classroom. Miami University. Disponível em <http://www.miami.edu/>. Acesso em 15 set. 2017.  

ROLIM, Amanda Alencar Machado; GUERRA, Siena Sales Freitas; TASSIGNY, Mônica Mota.  Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Humanidades. Fortaleza, v. 23, n. 2, p. 176-180, jul./dez. 2008.  

SANTAMARÍA, Marisa Alonso. La importancia del juego para el aprendizaje del niño. Disponível em <http://www.guiainfantil.com/>. Guía Infantil. Acesso em 17 set. 2017.

VÁZQUEZ, Cristian. ¿Por qué el juego es tan importante para los niños? Eroski Consumer.  Disponível em <http://www.consumer.es/>. Acesso em 14 set. 2017. 

VALÉRIO, Joana Simão. A importância do brincar no desenvolvimento da criança. Psicologia.pt. Disponível em <http://www.psicologia.pt/>. Acesso em 14 set. 2017.  

Artigo originalmente publicado no site: <https://comunidadepsi.com/>.

Compartilhe este conteúdo:

Evento com Ghandy Piorski tem participação de Professora e Aluna de Psicologia

Compartilhe este conteúdo:

A palestra ocorreu na última quinta-feira (02/08/2018) na Casa Fava de Bolota

Aconteceu na última quinta-feira, dia 02 de agosto, o evento “A vida imaginária da criança: uma prosa com Ghandy Piorski”, no Centro de Estudos e Pesquisas e Promoção da Cultura Brincante, mais conhecido como Casa Fava de Bolota. A profª Drª Ana Beatriz Dupré e a acadêmica Hannah Silva, ambas do curso de psicologia do Ceulp, prestigiaram esse momento com Piorski, que é autor do livro Brinquedos do Chão – a natureza, o imaginário e o brincar.

Através da prosa o evento objetivava uma apresentação e discussão sobre a autoexploração/autopedagogia, ressaltando que esta não se restringe apenas às crianças, mas podem ser amplia para os adultos. Além disso, Piorski abordou temáticas como a autoexploração, que é a exploração por si só, e a importância do fogo, do cheiro e das diversas formas de brincar para o desenvolvimento da criança no mundo, até mesmo aquelas que por vezes são proibidas, como brincar de guerra e/ou com armas. ‘Se Hitler tivesse brincado de guerra na infância, não teria feito o que fez’, disse Piorski.

Ana Beatriz Dupré e Ghandy Piorski. Foto: Guilherme Oliveira.

Sobre seu interesse no evento, Ana Beatriz Dupré relata que “o interesse no assunto iniciou entre 2016 e 2017, depois que li A última criança na natureza. A partir disso fiz a proposta de um Estágio Básico no qual os alunos utilizaram conceitos propostos pelo Movimento Slow e inspiradas em projetos do Instituto Alana, voltadas para uma vida mais tranquila, com menos consumo, sem propagandas voltadas para crianças”. Já a acadêmica Hannah Silva relata que a autoexploração foi o que mais lhe chamou atenção, devido ao fato de que propõe a autonomia do sujeito, sem necessidade de que o mediador abuse no acréscimo de elementos para a exploração.

Fonte: https://goo.gl/fti6KE

Quem é Ghandy Piorski?

Artista plástico, teólogo e mestre em Ciências da Religião, pesquisador nas áreas de cultura e produção simbólica, antropologia do imaginário e filosofias da imaginação. No campo das visualidades, discute as narrativas da infância e seus artefatos, brinquedos e linguagens, a partir dos quais realiza exposições e intervenções. É curador e consultor de diversos projetos relacionados com a criança nas áreas de cinema, dança, teatro, literatura, arquitetura e educação. Atualmente, é consultor do Instituto Alana.

Fonte: arquivo pessoal.

Quem é Ana Beatriz Dupré Silva?

Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Católica de Brasília (1988), Licenciada em Psicologia e Psicóloga pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília (1997 e 1998), Mestre em Psicologia pela Universidade de Brasília (2002) e Doutora em Ciências do Comportamento pelo Departamento de Processos Psicológicos Básicos do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (2012). Atualmente é professora titular do Centro Universitário Luterano de Palmas/ ULBRA, trabalhando com Análise do Comportamento em vários contextos. E também é coordenadora do Alteridade – Núcleo de Atendimento Educacional Especializado aos Discentes do CEULP.

Fonte: https://goo.gl/hN2fRb

O que é Casa Fava de Bolota?

O Centro de Estudos e Pesquisas e Promoção da Cultura Brincante – Fava de Bolota, é uma empresa de caráter privado, com finalidade educativa e cultural, que se propõe a investigar, produzir e disseminar práticas educativas formais, não formais e informais, que cooperem para a formação de sujeitos brincantes, autores de suas próprias histórias, a partir da intimidade com a sua singularidade cultural e a experiência do pensamento, conscientes e ativos frente a construção de uma sociedade sustentável, baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na cultura lúdica e da paz.

Fonte: https://goo.gl/n1NFi8

Compartilhe este conteúdo:

A descoberta do brincar como ferramenta terapêutica

Compartilhe este conteúdo:

Atualmente, a separação entre o ser adulto e o ser criança parece tão normal para todos nós, mas nem sempre foi assim. As transformações da sociedade, cultura e economia foram fundamentais para esta divisão. Segundo Ariès (1981), o sentimento de infância que se aproxima mais da modernidade se deu a partir do século XVIII, onde houve uma segmentação do mundo adulto com o da criança. Até então, na família medieval, a infância não tinha um foco significativo. As crianças eram consideradas como miniadultos, o que é possível ver na forma de representá-las nas artes da época. Na sociedade medieval, o público e o privado fundiam-se nas relações familiares, no trabalho, nas relações sociais. As brincadeiras não eram distintas, mas comum aos dois mundos. Não havia espaços destinados às crianças, assim, logo que desmamadas, eram inseridas nos afazeres do dia a dia dos adultos, ou seja, não havia clareza quanto aos espaços e papeis de cada um.

Fonte: https://reproarte.com/images/stories/virtuemart/product/bruegel_pieter_d_a/0233-0114_bauerntanz.jpg

Partimos de um mundo de representações onde a infância é desconhecida: os historiadores da literatura (Mgr. Calvé) fizeram a mesma observação a propósito da epopeia, em que crianças-prodígio se conduziam com bravura e a força física dos guerreiros adultos. Isso sem dúvida significa que os homens dos séculos X-XI não se detinham diante da imagem da infância, que esta não tinha interesse, nem mesmo realidade (Ariès, 1981, p.52).

 Já na família nuclear, a preocupação com a criança era mais de cunho econômico. Mesmo com o surgimento do “sentimento de infância”, este era direcionado para a qualidade de mão de obra que emergiria desta família.

Paralelamente, a criança adquire um novo valor e importância; percebe-se que ela é, potencialmente, riqueza econômica – o trabalhador do futuro. A partir daí, surge a necessidade de cuidar mais dessa criança e principalmente, de educá-la. Assim, precisa ser alvo de todo cuidado e atenção na medida em que ela é vista como tesouro das nações em formação. (Aguiar, 2005,p.27).

Neste momento, com aquisição deste novo olhar, agora seria possível ver a diferença entre ser adulto e o ser criança. E esta pode ser vista mais frágil, dependente e inocente e com uma afetividade peculiar, típico da infância. Com isso, surge a educação formal, o sentimento materno, maiores cuidados com a higiene e a separação dos espaços, que antes eram comuns aos dois universos. Nascem então, a Pediatria, a Pedagogia e a Psicologia, ciências que auxiliariam no zelo deste ser, agora em foco.

Em 1990, no Brasil, se consolida os direitos das crianças através da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), concedendo direitos a estas à educação, segurança, lazer e saúde.

A Diversidade de Olhares Sob o Ato do Brincar

Quando se pensa em crianças, logo vem à lembrança momentos da infância e, consequentemente, a diversidade de brincadeiras que circundam tal mundo. Porém, o brincar nem sempre foi visto como algo pedagógico e muito menos terapêutico. O olhar para as atividades infantis foi encarado com maior relevância, ou seja, como algo benéfico a partir de uma experiência de Freud ao observar uma criança.

Freud, em busca da etiologia para as neuroses, descobre que a origem dos adoecimentos psíquicos era gerada na infância. Segundo Aguiar (2005), Freud evidencia a importância da infância para a construção da personalidade e identificação das patologias. Foi com o caso Hans, onde ele aconselhava um pai em relação aos cuidados com o filho, que Freud pode observar a influência do adulto no comportamento da criança. Mesmo sabendo da influência de seu discurso no agir desta, esse pai não mudou completamente suas atitudes, porém esta observação possibilitou Freud a visualizar que havia benefício terapêutico em tal prática, como pode ser constatado na visão de Aguiar

descobrir que elas eram afetadas pelo que os adultos diziam ou faziam não fez que estes mudassem totalmente seu comportamento com relação à criança, porém legitimou a possibilidade de determinado adulto, o psicoterapeuta, agir e falar de modo específico com ela afim de que isso trouxesse algum benefício terapêutico. A forma que esse agir e falar adquiriu ao longo do desenvolvimento da psicoterapia infantil é congruente com as perspectivas de ser humano e de funcionamento não saudável, próprias de cada abordagem (AGUIAR, 2005, p.29 ).

Em outra observação de Freud, em uma brincadeira de carretel com uma criança, ele viu, segundo Luciana Aguiar (2005), o brincar como representação e elaboração de frustrações e conflitos. Para Anna Freud (1971) apud Aguiar (2005) o ato de brincar tinha como função apenas a criação de um forte vínculo entre a criança e o psicoterapeuta, ou seja, era apenas estabelecer o rapport- que significa relação de harmonia em um processo comunicativo, no qual a pessoa fica mais receptiva à interação.

Melanie Klein (1981) foi a primeira a sistematizar o trabalho clínico com criança e viu no brincar uma linguagem não verbal que possibilitaria esta a se expressar desde muito pequena. Ao utilizar o brincar como um substituto da verbalização, visto que as crianças podiam se beneficiar da interpretação, percebeu que não era possível conduzir a sessão terapêutica como a de um adulto deitando-as no divã e conduzindo-as à associação livre , Klein concluiu que a linguagem predominante da criança é a linguagem do brinquedo e era sobre essa perspectiva que a interpretação deveria acontecer (AGUIAR, 2005).

Partindo dos pressupostos da psicanálise infantil kleiniana, Donald Winnicott estudando tal relação terapêutica desenvolveu a importante teoria do brincar, expandindo a compreensão da função do brinquedo no desenvolvimento infantil e introduziu a noção de espaço transicional, termo essencial para a compreensão do processo de diferenciação da criança com o adulto bem como dos recursos que ela utiliza para tal, ele distingue o espaço terapêutico como sendo unicamente do brincar e sugere que o terapeuta deve ir ao encontro do brincar da criança, tornando-se ativo e engajado não só na análise, mas também na relação paciente-analista, valorizando o contato entre ambos. (AGUIAR, 2005).

[…] Winnicott propõe uma vivência da experiência clínica ao lado da criança e critica os terapeutas que nunca sentaram no chão para acompanhá-la no atendimento, por exemplo, (OUTEIRAL, 2010; NEWMAN, 2003a). Para ele, o brincar possibilita a construção e vivência do espaço transicional, ou seja, intersubjetivo. Além de ser um meio de comunicação, tal gesto estaria inserido no contexto psicoterapêutico, pois auxilia a constituição e fortalecimento do self, caracterizando o viver criativo (LEHMAN, 2012; FRANCHIN et al, 2006).  (CARNEIRO, SILVA, 2013, p.343)

Fonte: http://www.cuiaba.mt.gov.br/upload/imagens/20121011173656.jpg

Já Para Virginia Axline (1972), a ludoterapia pode ser guiada de forma diretiva, ou seja, pelo psicoterapeuta, e não diretiva. No caso, não diretivo a terapia é conduzida pela criança, por meio do brincar, oportunizando a esta a expressão de seus sentimentos e suas angústias. A autora define ainda que o jogo é o ambiente espontâneo de auto expressão da criança, onde se torna possível que esta cresça em melhores condições, pois nesse ambiente ela tem a possibilidade de manifestar seus sentimentos mais comuns, frustração, insegurança, agressividade, medo entre outros, e o fato de ela poder se expressar proporciona a tomada de consciência, o esclarecimento e enfrentamento da situação conflitiva.

Demonstrando a importância do brincar para elaboração dos conflitos e promoção de saúde, (SOUZA, MITRE, 2009, p.4, apud CARNEIRO, SILVA, 2013, p.345), relata a experiência hospitalar com crianças

certa tarde, atendemos outro menino de 5 anos. Ele estava restrito ao leito por conta de um acesso profundo na virilha. Tendo que usar luvas de gaze para impedir que tirasse o acesso, estava, portanto, com a movimentação ainda mais limitada. Além disso, estava em dieta zero há cerca de dois dias. Quando nos aproximamos dele, começou a chorar sinalizando que estava com fome, e que não queria brincar com nenhum dos brinquedos que tínhamos levado. Propusemos, então, brincar de comidinha de faz-de-conta. Ele aceitou. Preparávamos a comida, perguntávamos se ele gostava, se ele queria provar, e a levávamos até a sua boca. Depois de um tempo, ele sinalizou que já tinha comido muito e queria dormir. Com a brincadeira ele conseguiu expressar sua necessidade, elaborar de alguma forma aquela situação desprazerosa e relaxar.

Fonte:http://www.nossagente.net/wordpress/wp-content/uploads/2015/02/sua_saude_sandra3.jpg

Segundo Luciana Aguiar (2005), a inserção do psicoterapeuta no espaço lúdico da criança é de fundamental importância para a realização das possíveis intervenções. Muitas vezes, ele precisará mediar algo durante a brincadeira, utilizando a linguagem lúdica da criança. Isso nos remete a outro ponto importante: a disponibilidade para brincar. Embora algumas crianças prefiram não envolvê-lo em suas brincadeiras, fazendo com que ele seja um mero observador, verificou-se que a maior parte delas precisa da interação do psicoterapeuta.

brincar com a criança não é tornar-se criança no espaço terapêutico. Brincar com a criança não é reagir como se fosse uma criança. Brincar com a criança é poder compartilhar da importância e da magia daquela linguagem sem perder de vista a tarefa terapêutica. ( AGUIAR, 2005, p.198.)

Melanie Klein (1964) apresenta o brincar como a personificação da criança não apenas de seu ego, mas também de conteúdos do Id e do Superego, distribuídos pelos diversos personagens pertencentes ao enredo de uma brincadeira. Esta personificação pode ocorrer de diversas maneiras com o uso de objetos inanimados como carrinhos, animais e bonecos entre outros, oportunizando assim a expressão dos conflitos e fantasias do mundo infantil.

É possível constatar que o ato de brincar acompanha o ser humano em todas as fases do seu desenvolvimento, inclusive na fase adulta, onde se abandona os brinquedos infantis e projetam-se as suas angústias e anseios por meio das artes visuais, do cinema, da literatura. Segundo o escritor Nelson Rodrigues (1986), se não fosse o seu oficio de escrever, teria enlouquecido, pois com sua obra exorcizava seus demônios, seus fantasmas, já que sua vida foi uma sucessão de tragédias.

Fonte: http://imagem.vermelho.org.br/biblioteca/nelson-rodrigues59771.jpg

Conclui-se, então, que o ato de brincar como benefício terapêutico é fundamental em todas as etapas da evolução humana. Para Oklander (s\a) apud Goiânia-itgt, (2012), o organismo se desenvolve através de um processo de auto regulação organísmica, ou seja, ele fará o que tiver que fazer para alcançar a tão desejada homeostase – que é o processo pelo qual o organismo satisfaz as suas necessidades e interage com o seu meio buscando o equilíbrio, a fim de adquirir saúde física, mental e espiritual. E o brincar como recurso terapêutico se torna uma via eficaz para esta estabilidade.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, L. Gestalt-terapia com crianças: teoria e prática. Livro Pleno. Campinas, 2005.

ARIÈS, P. História Social da Criança e da família. LTC-Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. Rio de Janeiro-RJ, 1981.

CARNEIRO, P. V. M. S; SILVA, M. P. Quando brincar é viver criativamente: o encontro da abordagem gestáltica com a winnicottiana. Rev. IGT na Rede, v. 10, nº 19, 2013, p. 335 – 350. Disponível em:< http://www.igt.psc.br/ojs > ISSN: 1807-2526. Acesso em: 27 abr de 2016.

GOIÂNIA-ITGT, Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt Terapia de. GESTALT-TERAPIA COM CRIANÇAS: Violet Oaklander, Ph. D. – Fita 01. 2012. Disponível em: <http://itgt.com.br/wp-content/uploads/2012/08/Gestalt-terapia-com-crianças-Violet-Fita-1.pdf>. Acesso em: 12 maio 2016.

MONTEIRO, N. M. O (Ser) Terapeuta Humanista-Existencial e sua Postura na Psicoterapia Infantil. S/A.

PINTO, E. R. Conceitos fundamentais dos métodos projetivos. Ágora (Rio J.) [online]. 2014, vol.17, n.1, pp.135-153. ISSN 1516-1498. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-14982014000100009.

Compartilhe este conteúdo: