Caos 2021: A importância de grupos de orientação familiar para usuários de álcool e outras drogas

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O minicurso “A importância de grupos de orientação familiar para usuários de álcool e outras drogas” acontecerá no dia 04 de novembro, será online via Google Meet no horário de 9h às 12h, na sala poderá ter até 100 participantes onde a convidada Maísa Carvalho Moreira irá compartilhar com os telespectadores a sua experiência com as famílias e os usuários de álcool e outras drogas, irá comentar também como funciona a mediação entre sujeito e a família e qual o objetivo e a importância da família no tratamento.

Existem fatores que contribuem para o uso de álcool e outras drogas, os gatilhos acionam comportamentos que levam o usuário a recair e ir em busca da substância de sua preferência. A dependência é uma patologia, não muito bem esclarecida para a sociedade que ainda fortalece o discurso onde o usuário pode sim escolher e manter a escolha de não usar. Ao ser marginalizado pela família e pela sociedade, o sujeito se afasta cada vez mais do tratamento.

Fonte: encurtador.com.br/jvAOQ

O CAPS – AD é uma instituição que acolhe todos os usuários que recorrem ao serviço. Por ser um local onde é de acesso a toda comunidade, além de atender os profissionais desenvolvem meios que informam a comunidade sobre o tema drogas e o que acarreta, fornecem novos meios e ferramentas para que o sujeito resgate sua autonomia. Tanto a comunidade quanto a família são catalisadores para que exista qualidade de vida para o usuário de álcool e outras drogas.

A rede de apoio é fundamental para que sejam percebidos os gatilhos que levam ao consumo maléfico de drogas em geral. A família também está adoecida e a ausência de conhecimento das formas que engatilham o usuário acaba mantendo todos os membros envolvidos adoecidos, vivendo em um sistema onde a melhora se torna ainda mais difícil. A interação desses membros promove qualidade de vida para o usuário.

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Entrevista Motivacional: Psicólogo Sergio Baggio discorre sobre os desafios no CAPS AD III

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Sergio Baggio é psicólogo e atua desde 2014 no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III em Palmas-TO, atualmente como Técnico de Saúde mental da unidade

A Entrevista Motivacional consiste em uma modalidade de conversa baseada na cooperação que busca a fortificação da motivação do cliente/paciente em processos de saúde, bem como o comprometimento com a mudança. Essa técnica é amplamente utilizada desde a década de 80 no tratamento de dependência química, por visar a redução de comportamentos de risco. Nesta entrevista, o psicólogo Sergio Baggio discorre sobre os principais desafios que estão implicados no uso desse recurso terapêutico, e apresenta sua visão referente ao conceito de motivação.

Sergio Baggio é psicólogo e atua desde 2014 no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III em Palmas-TO, atualmente como Técnico de Saúde mental da unidade, desenvolvendo atividades referentes à área da Psicologia, bem como atividades transversais em diversos contextos e com diferentes públicos. Tem experiência com atuação clínica, organizacional e docência. Atualmente realiza especialização na área Comportamental.

(En)Cena – Desde que se desenvolveu até o presente momento, houve alguma mudança na metodologia e aplicação da Entrevista Motivacional?

Sérgio: O que eu entendo por motivação é ideia de desejo, motivação, engajamento, acho que é isso. Não vejo que as pessoas se motivam apenas com ideias ou com propostas circunstanciais. A motivação é um processo intrínseco, é o movimento que acontece a partir de um projeto que tem a solidez, consistência, tem o projeto de ser. É dali que nasce a consistência da motivação, não é uma ideia, não é uma moda, não é um encantamento, isso não é motivação. Acho que a ideia de motivação que se trabalha por “ai”, é uma ideia fugaz, não é uma ideia consistente.

(En)Cena – Em sua opinião, como a Entrevista Motivacional tem ajudado os pacientes em relação a ambivalência relacionada às mudanças?

Sérgio: Primeiro todo e qualquer ser humano precisa conhecer quem ele é, para onde ele vai, precisa ter um projeto de vida, conhecer a sua história e ter uma relação legal com ele. Se ele não consegue fazer este movimento, ele não consegue se engajar em lugar nenhum, ele está solto, não tem rumo, não sabe o quer e não se conhece, não sabe lidar com o futuro, frustações, não sabe lidar com as oportunidades que a vida dá pra ele. Enfim, tudo nasce da Anima, aquela que dá a vida. Eu me sinto numa posição de poder, quando falo isso. A psicologia tem esta leitura de como acessar a consciência e isso nos dá poder.

(En)Cena – Por quê?

Sérgio: Porque é uma ciência que realmente dá conta da consciência. A ciência consegue se apropriar do fenômeno e a gente consegue operar de forma eficaz, conseguimos ter resultados.

(En)Cena – É necessário   ter formação específica para o engajamento profissional do profissional na Entrevista Motivacional?

Sérgio: O profissional deve estudar muito, precisa conhecer, ser um estudioso constante, precisa gostar do que faz, precisa se encantar pelo fenômeno, ser um profundo conhecedor, profundo curioso. Ele nunca está pronto, ele não pode se desencantar.

(En)Cena – Você acha que esta prática é restrita somente aos Psicólogos?
Sérgio:
Não, a gente está precisando dialogar interdisciplinarmente, até porque a medicina precisa se apropriar destes cursos pois em primeiro plano o paciente procura a medicina. As pessoas associam a medicina também a saúde mental. Saúde mental não tem que dialogar somente com uma profissão, tem que dialogar com todas as áreas, porque o fenômeno pode ser identificado em toda a rede. O enfermeiro pode identificar os aspectos psicológicos, a escuta de enfermagem, o terapeuta organizacional, o assistente social que trabalha na rede, pode e deve identificar fenômenos psicológicos e sociais no contexto da realidade, o médico teria que ter muito preparo de como identificar os fenômenos psicológicos. Na escuta clínica que ela é tão eficiente, tão técnica em relação patológica, então a medicina também precisa dialogar sobre isso, porque muitas vezes tem uma demanda física, mas que provavelmente a raiz não é física, ela é emocional, estrutural. Então ter uma escuta qualificada da equipe multidisciplinar que atua na rede é fundamental, os médicos da família, as equipes que atuam nos NASF, CRAS, na saúde da família, precisam identificar esses fenômenos. O fenômeno não é só da psicologia e nem só da psiquiatria, talvez nós tenhamos preparo técnico pela nossa especificidade, mas precisamos dialogar com outros pontos das redes e que também são saúde.

(En)Cena – Como você ajudaria esta escuta, ajudar o paciente a uma adesão de tratamento de álcool e drogas, por exemplo?

Sérgio: Interessante! Isso acontece muito, às vezes o paciente chega sem saber o que quer, conduzido pela família, não tem consciência. Então ele pode se convencer através de um acolhimento, de uma escuta qualificada, ele pode se perceber nas consequências, nas aplicações da vida dele. Muitas vezes ele chega carregado de preconceito em relação ao tratamento, a saúde mental, a lógica de que o tratamento não funciona, acessar o serviço sem antes conhecer o serviço, muitos preconceitos em relação ao tratamento, a si próprio ele não se percebe como dependente, ele não quer se perceber, ele não se considera doente, então este processo de empoeiramento é uma construção que a gente vai fazer com o paciente. Ela não se dá muitas vezes no primeiro encontro, as vezes vai precisar de tempo para se vincular, fazer construção desta vinculação. Construir este conhecimento de que precisa de ajuda, estabelecida. Muitas vezes eles chegam e a gente considera um conceito, ele fica muito na flutuação. A flutuação é muito a característica de quem está chegando na fase da unidade, ele não tem um empoderamento que ele quer, que ele precisa e a medida que ele vai conhecendo a metodologia, ele vai se afetando pelo trabalho, pelo serviço e consegue se organizar melhor.

(En)Cena – Dentro da esfera do CAPS AD III acha a Entrevista motivacional útil para adesão ao tratamento com os pacientes?

Sergio: É fundamental. Utilizando o conceito motivacional dentro da minha percepção não em outro conceito. A gente construir esse empoderamento é fundamental. Esse é nosso papel aqui, de mostrar pra ele que ele pode ter qualidade de vida, que isso é uma dificuldade transitória, que ele pode se organizar melhor, construir com qualidade o roteiro da vida dele. Esse é o serviço que a gente faz constantemente. Muitas vezes tem pacientes que estão muitos anos no processo de flutuação e não se empoderam, pois não tem adesão, porque não permite a seguir o seu “CPTS”. Vir e se afetar e mergulhar profundamente em suas questões. Então são esses limites que temos, mas quando eles conseguem fazer essa vinculação, eles mergulham mais profundamente e conseguem ter reflexões, insight, bem interessantes sobre esses processos e aí que se desenvolve a motivação. A motivação, o querer estar, se implicar é um trabalho difícil. Requer escuta, empenho, vinculação com a família. É um trabalho difícil, mas a gente consegue.

*Entrevista realizada como requisito da disciplina de Psicologia da Saúde.

 

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Estagiárias de Psicologia promovem atividades de Mindfulness em grupo no CAPS AD III de Palmas

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A partir destas atividades é possível trabalhar a autorregulação, a atenção no processo de respiração e promover atividade que valorizem o “aqui e agora”. 

Estagiárias de Psicologia em Processos de Prevenção e Promoção da Saúde alocadas no CAPS AD III – Centro De Atenção Psicossocial Para Usuários de Álcool e Outras Drogas do Sistema Único de Saúde De Palmas/To, promovem grupo de relaxamento “De boa na lagoa” que tem como objetivo desenvolver técnicas para diminuir comportamentos ansiogênicos que possam causar danos na vida dos usuários de álcool ou outras drogas, com queixas de estresse e ansiedade. A ação foi conduzida pelas acadêmicas Bruna Medeiros Freitas, Giseli Gonçalves e Ana Flávia Drumond, que se utilizaram de protocolos de Mindfulness.

É proposta do grupo que ao final da intervenção sejam desenvolvidas as habilidades de conhecimento acerca de atividades e comportamentos ansiosos que o usuário possa estar emitindo. Resgate das funções físicas, motoras, sociais e relacionais. Compreensão dos gatilhos que possam desencadear comportamentos ansiosos causadores de prejuízos a níveis corporais, comportamentais e sociais, podendo até resultar no uso abusivo de álcool e outras drogas. Levando em consideração os valores: protagonismo, colaboração, participação social, independência, autonomia, autoconhecimento, auto regulação.

Fonte: Arquivo Pessoal

Como parte da metodologia são utilizadas técnicas de Mindfulness, estado mental que se caracteriza pela autorregulação da atenção para a experiência presente. A partir destas atividades é possível trabalhar a autorregulação, a atenção no processo de respiração e promover atividade que valorizem o “aqui e agora”, onde os indivíduos possam levar essas práticas para seu cotidiano e reduzir danos em seu processo de auto cuidado.

A psicóloga supervisora de campo Ana Carolina Peixoto do Nascimento relata que “o trabalho que desenvolvemos no campo da saúde mental busca olhar o indivíduo como um ser constituído por múltiplos aspectos: biológico, social, psicológico, familiar, espiritual, econômico, político. Nesse sentido, no CAPS AD III, propomos estratégias que vão além dos efeitos biológicos das substâncias psicoativas no corpo, mas também a relação que esse sujeito estabelece consigo, com os outros e com o mundo.

Fonte: Arquivo Pessoal

Essa relação, muitas vezes, é perpassada por sintomas de ansiedade, estresse, nervosismo, depressão, dificuldade para lidar com as frustrações. A proposta de trabalhar com estratégias de relaxamento, Mindfulness e práticas alternativas à medicalização vêm a somar no cuidado pautado na redução de danos, uma vez que é construído para e com o sujeito, dentro das suas possibilidades e objetivos. O grupo de boa na lagoa traz a potência de trabalhar com seus participantes o autoconhecimento de si e seus fatores ansiogênicos, e práticas concretas de intervenção”.

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Valdenir dos Santos Dias fala de experiência como usuário do CAPS AD III

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No dia 18 de maio ocorreu no Parque Cesamar, em Palmas/TO a comemoração pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial. O evento contou com piquenique, rodas de conversa, sarau musical, testagem rápida e aconselhamento e estava na programação entre outros eventos que ocorreram durante o mês de maio em celebração a data. Essa programação foi elaborada por um coletivo de usuários, trabalhadores e gestores de Palmas.

Entre eles está Valdenir dos Santos Dias, que foi usuário do CAPS AD III por seis anos e hoje participa do serviço compartilhando sua experiência com os usuários, dando depoimentos e também orientação para eles acerca do serviço oferecido. O (En)Cena entrevistou Valdenir, que fala de sua experiência e sua mudança de vida.

 (En)Cena: Por quanto tempo você usou o serviço e como ele te ajudou?

Valdenir: Usei o CAPS AD III durante seis anos e medicação, rodas, grupos de apoio. Hoje eu uso o CAPS para levar uma palavra e incentivar o pessoal de que existe sim a cura para cada um. Quando a gente fala em cura se torna para muitos dos profissionais da saúde, principalmente os médicos, algo muito pesado a gente falar cura da dependência química, mas eu falo cura porque hoje eu não estou em cima do muro, não tomo mais nenhum tipo de medicação. Eu tomava nove tipos de medicação pesada. Tinha muitas que eram piores que droga, porque eu tomava e não podia sair de tão dopado que eu ficava. Então hoje eu falo assim porque depois de vinte anos de dependência você passar um dia sem o uso da droga, um ano, você pode passar o resto da vida. Então isso para mim é cura. O CAPS me ajudou tendo as portas abertas. Os psicólogos, os médicos me deram uma injeção de esperança, de mudança de vida. E eu peguei aquilo. Se existe realmente um controle como eles falavam, fazer a redução de danos, algo que te ajude a voltar para a sociedade, porque uma pessoa que vivia nas drogas, passou por psiquiatria, era tratado como uma pessoa louca por muitos, para essa pessoa voltar ao seu convívio natural e família acreditar que houve uma mudança, é complicado. Então o CAPS realmente foi uma porta aberta, o incentivo que eles me deram é muito válido, muito rico e eu agradeço a todos. Estou aí para ajudar, mas você tem que fazer por você, não adianta você querer se esconder achando que aquilo vai fazer com que você venha a se sentir bem. Hoje eu vou no CAPS para orientar as pessoas, não que eu me sinta melhor que ninguém, mas hoje eu me sinto uma pessoa bem.

(En)Cena: Qual o significado que esse evento tem para você?

Valdenir: Quando fala em dependência química eu gosto de participar porque tem muita gente que perdeu esperança, muitas famílias que perderam esperança nos filhos, no marido. A minha mulher esperou durante vinte anos e tem muita gente que perguntou como ela aguentou. Eu digo para perguntar para ela. Mas o que eu dei para a minha mulher de loucura, de perca, hoje eu dou de vida. Hoje eu tento abraçar ela da melhor forma, não fisicamente, mas da melhor forma que eu posso e dar o carinho, a atenção que eu não dei esse tempo todo. Uma pessoa que me ajudou o tempo todo. Eu me emociono porque ela realmente me ajudou. Ela nunca falou não adianta mais para ti. Ela sempre me deu uma palavra de apoio. E graças a Deus me sinto uma pessoa bem hoje. Tenho sentimentos no meu coração. Isso aqui é vida, resumindo. Talvez você não veja assim, mas eu vejo, isso aqui é vida, uma palavra de esperança para quem está realmente buscando. Tem muitos que querem ficar nessa vida, da dependência. Mas tem muita gente que está cansada de sofrer. Desce numa ponte dessa aí que você vai ver. Tem pessoas lá que estão desesperadas, estão gritando pedindo socorro e a voz não sai mais. Só no olhar você vê que a pessoa está buscando ajuda e não sabe onde. Então isso aqui é uma família. Um depoimento, uma palavra, ela vem mudar realmente o conceito da dependência química.

(En)Cena: O que o serviço de saúde mental representa para você?

Valdenir: O serviço de saúde mental está aí para tentar ajudar quem realmente quer. E é o que eu falei, o trabalho vem para trazer uma esperança de mudança de caráter, de vida. E tem muita coisa, talvez no momento assim a gente não saiba expressar. Mas esse trabalho é uma esperança de mudança de vida. Acabou o hospital psiquiátrico onde o pessoal recebia choque, ninguém tinha uma conversa que nem tem agora. Então eu acho que a saúde mental vem trazer uma mudança de pensamento para cada um, para as pessoas entenderem que o dependente é uma pessoa como qualquer outra, que tem solução para ele. Para mim deu certo esse trabalho da saúde mental e creio que dá para muita gente. O serviço está aí de portas abertas.

(En)Cena: O que os profissionais envolvidos nesses dispositivos significam para você?

Valdenir: Quando fala de funcionários a gente sabe que cada um corre atrás do que quer. Então as pessoas que estão trabalhando com a saúde mental, tem muita gente que realmente vestiram a camisa, muita gente que pensa no financeiro, mas muitos buscam realmente ajudar as pessoas, trabalha realmente com essa intenção. Muita gente que eu conheci, como a doutora Camila, a Natasha, que eu conheci o trabalho e realmente me ajudaram muito. Sei que a doutora Camila é alguém que realmente veste a camisa. Quando ela saiu do CAPS AD III ela fez muita falta. Hoje acho que ela está fazendo um trabalho no CAPS II, mas ela é uma pessoa que realmente abraça, ela dá esperança para a pessoa e todas as vezes que eu chegava no CAPS, as vezes de madrugada, batia lá desesperado e o pessoal atendia, eu entrava, alguém me dava medicação. Ela me ajudou muito e ajuda muita gente. Então a doutora Camila é uma pessoa que merece parabéns. Talvez ela não saiba como estou, nunca mais me viu, mas sempre estou orando por ela e por muitos profissionais que realmente vestem a camisa e ajudam as pessoas. Eu falo do CAPS de coração aberto e também não posso deixar de falar de Deus. Foi ele que me deu forças para trilhar esse caminho. O CAPS me ajudou, me incentivou nessa caminhada, mas Deus foi o protagonista que me deu esperança de mudança.

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