Sarau como instrumento de saúde mental

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 “Esta arte que os criadores produzem, eu nomeio “crua” (…).
O cru na arte é o movimento da alma que nada entrava.
Um gesto pelo qual o sano e o insano se reconciliam;
o amor e o ódio se conjugam; a alegria e a angústia se confundem.
O cru na arte é esta pulsão primeira que possibilita
o poder da vida sobre a morte
e que não é outra coisa que a humana definição de arte”

Henri Barras, 2007  (Traduçao ARUCI-SMC – não oficial)

O que música e arte têm em comum com a temática da saúde mental?

Esse foi o disparador que nós motivou a utilizar um Sarau como instrumento para trabalhar a temática da Saúde Mental como ação na Semana da Acessibilidade no CEULP/ULBRA.

A semana é uma das ações da instituição para trabalhar a inclusão das diversidades no meio acadêmico.

O CEULP/ULBRA conta com o Núcleo de Atendimento Educacional Especializado aos Discentes (ALTERIDADE), um espaço criado com o objetivo dar suporte aos acadêmicos da instituição, no que tange à acessibilidade; processos de ensino e aprendizagem; saúde mental; e desenvolvimento de habilidades profissionais no contexto universitário (Site CEULP/ULBRA, 2014).

O termo Alteridade expressa à qualidade de se colocar ou se construir respeitando o espaço, ou a diferença, do que é outro (ABBAGNANO, 1998, p.34). Isto porque a alteridade implica que um indivíduo seja capaz de se colocar no lugar do outro, em uma relação baseada no diálogo e valorização das diferenças existentes

Um dos princípios fundamentais da alteridade é que o homem na sua vertente social tem uma relação de interação e dependência com o outro. Por esse motivo, o “eu” na sua forma individual só pode existir através de um contato com o “outro”. Quando é possível verificar a alteridade, uma cultura não tem como objetivo a extinção de uma outra, do contrário, em cultura que tem algo em comum.

Alteridade é, portanto, uma relação intersubjetiva “e seus indicadores são a consideração, a valorização, a identificação e o diálogo entre os sujeitos do mesmo grupo” (DA SILVA, 2011).

Tendo como demanda da Semana da Acessibilidade trabalhar-se o tema da Saúde Mental dentro da instituição, o grupo de estagiários de psicologia que atuam dentro do Alteridade buscou na arte, um instrumento agregador de linguagem universal, suporte para trabalhar essa aceitação do outro a partir de sua diferença.

A literatura mostra que a utilização de atividades de cunho artístico para trabalhar a temática da saúde mental não é algo novo, e faz parte do movimento precursor da Reforma Psiquiátrica que apostava na arte como recurso terapêutico.

Hoje, sabe-se que o uso da arte nestes espaços trabalha habilidades motoras e vísuo-espaçiais, aumento da auto-estima, trabalha habilidades sociais; e ainda possui efeito tranquilizante.

Por meio da dança, música, poesia, os acadêmicos puderam expressar o que pensavam e o que sentiam. Em momentos específicos eram feitas intervenções com falas pontuais com o objetivo de desmistificar mitos a respeito do tema da loucura.

O resultado final foi um ambiente cercado por música, poesia e muito entusiasmo, com a participação de acadêmicos, professores e funcionários da instituição, integrados e abertos a repensar o tema da inclusão no espaço acadêmico.

Referências:

ABBAGNANO, Nicola.Dicionário de Filosofia. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DA SILVA, M. T. C. Um estudo sobre as representações de alteridade e seus indicadores. Dissertação de Mestrado do Centro Universitário Ritter dos Reis-UniRitter, 2011. Disponível em: http://www.uniritter.edu.br/pos/mestrado_letras/defesas_2011/MIRIAM_TERESINHA_PINHEIRO_DA_SILVA.pdf. Acesso em junho de 2014.

Portal CEULP/ULBRA <http://ulbra-to.br/2011/04/28/ALTERIDADE-Nucleo-de-Atendimento-Educacional-Especializado-aos-Discentese> Acesso em setembro de 2014.

 

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Minha experiência como “Anjo da Enfermagem”

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Participar dos anjos da enfermagem foi uma escola da vida pra mim. Um ano muito emocionante, onde eu aprendi que o amor é capaz de curar. No início, ao nos explicar a nossa função como anjo, o coordenador tentava nos mostrar a grandeza do projeto, mas deixava claro que só saberíamos vivendo esse momento.

Nas primeiras visitas eu tive bastante dificuldade em me apresentar para as crianças. Muitas vezes a emoção falava mais alto e eu não conseguia permanecer por muito tempo no local. Com o passar dos dias fui me habituando às várias situações difíceis com que eu me deparava.

Cada dia uma surpresa, uma demonstração de carinho, o esforço ao se levantar da cama só para nos dar um abraço, a gratidão nos olhos daquelas mães e a satisfação de arrancar sorrisos e proporcionar um minuto que seja de diversão.

A publicação da imagem foi autorizada pelos familiares cfe. a resolução CNE num. 196/96.

Para nós, “adultos”, é muito difícil lidar com o câncer. É revoltante pensar que teremos que abrir mão de tudo o que nos faz sentir útil, mas é muito mais doloroso ver uma criança que teve sua infância boicotada por uma doença que ela não compreende. Toda criança tem direito de viver sua infância. Nós estávamos ali para mostrá-las que aquele tratamento apesar de “chato” era necessário, eque com força de vontade poderia se tornar um momento alegre também.

Um dia quando visitávamos a UTI, conhecemos um garoto de 13 anos que estava ali há alguns dias aguardando uma transferência.  Ele tinha um carinho excepcional conosco, falava com muita dificuldade pelo fato de estar intubado. Nesse dia ele fez um esforço e conversou conosco, disse que a fé dele o fazia ter certeza que tudo isso era passageiro e que ele venceria essa batalha, pois o problema dele era muito pequeno diante de sua fé.  Então com muito esforço cantou um hino de sua igreja que ele escutava sempre que tinha dúvidas de sua melhora. Tomadas por uma forte emoção terminamos nossa apresentação, fizemo-lo sorrir um pouco e fomos embora. Foi aí que entendemos a nossa função.

É incrível a sensação de vestir aquela fantasia, colocar a maquiagem. É como se outra pessoa surgisse. A timidez dá espaço para uma alegria contagiante, capaz de arrancar sorrisos de quem há muito tempo não sorria.

Foi um ano de alegrias, boas notícias, mas também de despedidas dolorosas. Conheci “pessoinhas” que já nascem lutando pela vida, e mesmo com tão pouca idade nos ensinavam que nada faz sentido se não existir vontade de vencer.

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