A arte imita a vida?!

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Existem diversos relatos de atrizes e atores que nunca mais foram os mesmos após desempenhar determinados personagens, mostrando que a ficção afeta de várias formas a realidade de quem está ligado ao personagem

Seja no teatro ou no cinema, o desempenho do papel de um personagem é algo que não se encaixa com qualquer pessoa que o queira interpretar, nos levando assim a questionar o que torna uma atriz/ator boa/bom em determinado papel. Com os filmes de herói em alta, as críticas sobre papéis já desempenhados e que poderiam ter tido melhor performance, são um assunto presente no cotidiano de quem acompanha esse universo.

Em muitos casos os papeis desempenhados por essas atrizes e atores – em paralelo aos seus próprios estilos de vida pessoal – são motivos para as pessoas considerarem eles aptos ou não para vivenciarem certos papeis no cinema. Então, a experiência prévia, real ou fictícia pode ser algo que colabore para que um papel seja bem desempenhado.

Freud (1977 a) em sua obra “Personagens psicopáticos no palco” fornece análises de danças, poesia lírica, poesia épica, drama psicológico, comédia, tragédia em suas variações, e colocando que essas produções advém de conflitos dos seres humanos. Dessa forma, pode-se afirmar que os papéis desempenhados contém parte da vida pessoal de quem interpreta, ou seja, a atriz/ator revive uma experiencia anterior quando atua em algo novo.

Fonte: encurtador.com.br/BLNZ3

Existem diversos relatos de atrizes e atores que nunca mais foram os mesmos após desempenhar determinados personagens, mostrando que a ficção afeta de várias formas a realidade de quem está ligado ao personagem ou a obra completa. Winnicott (1975) defende que a fantasia ajuda no desenvolvimento e na construção da própria identidade, e nesse sentido quem atua levará consigo parte do que interpretou ou viveu na obra.

Desta maneira se analisar um personagem, encontrará traços da personalidade de quem o interpretou. Pondé (2015) afirma que a produção artística carrega a marca do subjetivo e é fonte de informação sobre o âmago do autor, e logo apresenta de quem interpreta a mesma. Por mais que se siga um roteiro, quem executa o papel tem certa autonomia para encaixar o que se pede com a personalidade que o papel exige, e é aqui que entra a subjetividade.

Por outro lado podemos nos perguntar o porque gostamos de tal pessoa em determinado papel ou como ficamos impactados com determinada cena. Ao mesmo tempo em que assistimos um filme, memórias que nem imaginávamos ter, cruzam com essas novas informações que Kaufmann (1996) afirma estar no psiquismo dos espectadores.

Fonte: encurtador.com.br/aly19

Parte do sucesso de filmes pode vir de uma ligação que ocorre entre o personagem e o espectador e que Freud (1974) chama de projeção, que é uma atribuição de conteúdo da pessoa para o objeto externo. Isso proporciona uma expansão do imaginário facilitando um encontro entre o drama representado no papel com a vida real. Freud (1977) diz que a arte é uma realidade onde os símbolos são capazes de provocar sentimentos reais. Dessa forma, quando assistimos a um filme, é como se estivéssemos conhecendo uma parte nova de nós mesmos que nos é apresentada.

 

REFERÊNCIAS

FREUD, Sigmund. Personagens psicopáticos no palco. Vol. VII, Rio de Janeiro: Editora Imago, (Escrito em [1905 ou 1906]) (Trabalho original publicado em 1945), 1977 a.

FREUD, Sigmund. Interesse científico da psicanálise. Vol. XIII Rio de Janeiro: Editora Imago. (Trabalho original publicado em 1913), 1977 b.

FREUD, Sigmund. Totem e tabu. In S. Freud. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1913), 1974.

KAUFMANN, P. Dicionário enciclopédico de psicanálise – o legado de Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.

PONDÉ, Danit Falbel. Cinema no divã. São Paulo: LeYa, 2015.

WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. Trad. José Octavio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago 1975.

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Detainment: a história real de duas crianças acusadas de um crime brutal

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Concorreu com  1 indicação ao OSCAR:

Melhor Curta-metragem

O curta-metragem indicado ao Oscar, “Detainment”, apresenta a história real de um dos mais perturbadores assassinatos do século XX. O curta de 30 minutos revive o assassinato de uma criança de 2 anos de idade, em 1993, tendo como base as transcrições das entrevistas que ocorreram entre a polícia e os meninos Robert Thompson e Jon Venables, ambos com 10 anos, logo após às suas prisões. Os meninos, ao final, foram condenados pela justiça inglesa pelo sequestro, tortura e assassinato de James Bulger. Os dois garotos atraíram a criança em um shopping center próximo a Liverpool, depois o torturaram, violaram e mataram.

O filme do diretor Vicent Lambe provocou a indignação de várias pessoas na Grã-Bretanha, inclusive foi feita uma petição, iniciada por Denise Fergus, a mãe do bebê assassinado, que contou com mais de cem mil assinaturas solicitando que o curta fosse retirado da lista do Oscar, o que não aconteceu. O diretor do filme disse à BBC , antes da indicação ao Oscar, que “o motivo pelo qual o filme foi feito foi uma tentativa de buscar uma compreensão sobre como esses dois garotos de 10 anos puderam cometer um crime tão horrível, pois acho que, se não entendermos a causa disso, é provável que algo similar aconteça novamente no futuro” [1].

Para o diretor, ao adaptar quase 15 horas de entrevistas em um drama de 30 minutos, tem-se um breve vislumbre do que aconteceu durante o procedimento da entrevista. Segundo ele, tudo no filme é inteiramente factual, sem nenhum embelezamento. E acrescentou que “há certos eventos na história que são deixados intocados por um longo tempo e este é um deles. É um assunto extremamente sensível – de medo, desespero e tão horrível que muitas pessoas evitam absorver mais fatos sobre isso” [2].

Fonte: https://goo.gl/WKrYiR

Segundo artigo publicado em [3], casos de crianças (12 anos de idade ou ainda mais novas) que mataram outras crianças são extremamente raros.

David Finkelhor e Richard Ormrod, professores da Universidade de New Hampshire, em um estudo realizado para o Departamento de Justiça Juvenil e Prevenção da Delinquência (OJJDP), descobriram que os assassinatos de crianças cometidas por menores de 11 anos representam menos de 2% de todos assassinatos de crianças nos EUA Os casos também tendem a diferir significativamente, por isso as conclusões podem ser difíceis de serem feitas. Mas há algumas semelhanças que surgiram, esclarecendo um pouco mais sobre o perfil de quem, ainda bem jovem, comete esse tipo de crime. [3]

Algumas conclusões apresentadas nesses estudos mostram que as crianças que cometem o crime de assassinato, geralmente, foram severamente maltratadas ou negligenciadas, além de terem tido uma vida doméstica tumultuada. Para o psicólogo Terry M. Levy [3],

as crianças que têm sérios problemas de apego (que geralmente resultam de cuidados ineficazes) e uma história de abuso podem desenvolver comportamentos muito agressivos, assim como também podem ter dificuldades em controlar as emoções, o que pode levar a explosões impulsivas e violentas dirigidas a si ou aos outros.[3]

Segundo pesquisa realizada pelo cineasta em relação às origens das famílias dos dois meninos, suas personalidades e como funcionava a dinâmica em suas casas, ele relatou em entrevista que [2]: Jon veio de uma família de classe média, respeitável, seus pais estavam separados, mas conduziam juntos a educação do filho. Jon passava parte da semana com a mãe e a outra parte com o pai. Nessas pesquisas, foi apresentado que Jon era hiperativo e fazia brincadeiras um tanto violentas na escola. Ele conheceu Robert quando foi transferido de escola. Ambos haviam repetido de ano e começaram a estudar juntos. Já Robert fazia parte de uma família terrivelmente disfuncional. Seu pai era um homem abusivo, que bateu em sua mãe durante o tempo que ficou em casa e deixou a família quando Robert tinha 5 anos. Sua mãe tentou se suicidar com overdose de comprimidos, mas acabou recorrendo à bebida como meio de fuga. Em síntese, a família Thompson era um caos completo, seis filhos, uma mãe alcoólatra e um pai ausente. Enquanto Robert era agredido e espancado por seus irmãos mais velhos, seu comportamento refletia também na forma que tratava seus irmãos mais novos e vulneráveis, ou seja, espancando-os como era espancado.

Fonte: https://goo.gl/DLfT41

Enquanto Robert tem um tipo de contexto familiar que se assemelha aos perfis traçados de assassinos muito jovens, Jon aparentemente não tinha um ambiente que suscitasse tal falta de controle e violência. Em parte do tempo do interrogatório, conforme toda a documentação disponibilizada para domínio público, e como foi apresentado no filme, Jon se mostrava extremamente emotivo, angustiado. Enquanto foi possível, negou com toda veemência que havia cometido o crime, e fazia isso entre lágrimas, abraçando a mãe e até o investigador. Mas na medida em que sua culpa se tornava mais evidente, ele tentava mostrar que a ação de Robert tinha sido maior na consecução do crime. Robert, por sua vez, agia de forma mais fria, dura, tentava não demonstrar emoções, argumentava com mais facilidade e, também, insistiu em sua inocência. Quando as provas tornaram-se mais contundentes para a resolução do assassinato, um menino tentou responsabilizar o outro em relação às partes mais violentas do crime.

Fonte: https://goo.gl/BzcU8Y

É aterrador tentar entender como duas crianças espancaram de forma tão brutal e sem piedade um bebê e o deixou jogado em um trilho de trem para morrer. O corpo de James foi encontrado dois dias depois. “Um legista disse mais tarde que seus ferimentos eram tão intensos, que não tinha como dizer qual ‘golpe’ o matou, pois havia cerca de 42 ferimentos em seu corpo, além de ter sido atropelado por um trem” [4].

Esse caso provocou atenção internacional e desencadeou intensos debates sobre quais motivos eram capazes de gerar tamanha violência. Para alguns, não haviam motivos, os meninos tinham simplesmente nascido maus, só precisaram de um gatilho para despertar tais instintos maléficos. No entanto, não vimos de forma frequente crianças com impulso de matar ou mutilar, isso é raro, conforme pesquisas apresentadas em [3]. Então, quando ocorre a exceção, de quem é a culpa? Somente da criança? Ou da família, do contexto? Essa é a pergunta mais perturbadora, pois isso retira os impulsos ocultos do foco e traz à tona comportamentos violentos, abusivos, ausentes ou inadequados capazes de modificar ou extinguir a noção de empatia.

Para Katie Woodland, psicóloga do desenvolvimento com ênfase em criminologia, “nós nunca olhamos para trás e perguntamos ‘por que isso aconteceu?’ Há uma percepção criada há 25 anos de que esses garotos eram apenas maus. Nós, como sociedade, temos dificuldade em examinar esse caso horrível porque temos medo” [5]. E ainda acrescentou que:

“Sim, existe uma interação genética, sim, há muitos fatores, mas durante a infância, a responsabilidade da sociedade é garantir que as crianças cresçam bem. É mais seguro pensar em mim como mãe: não há como meus filhos crescerem dessa maneira, eles não são maus. Mas quando você recua e trabalha todas as pequenas coisas que aconteceram para levar a algo, como ofensas violentas ou falta de cuidados, você começa a se questionar.”[5]

Fonte: https://goo.gl/HKfLAA

Em 2016, a APA (American Psychological Association) publicou um estudo abrangente sobre a violência juvenil (disponível em [5]). Atos de violência são frequentemente influenciados por múltiplos fatores, assim análises em relação ao comportamento violento possuem grande complexidade. Uma síntese desse estudo foi realizada em [4] e é apresentada a seguir:

Pesquisadores descobriram que a influência da família desempenha um papel descomunal em crianças que cometem atos potencialmente violentos. Os pais que são autoritários, rejeitam seus filhos, cometem atos de violência doméstica, negligenciam seus filhos ou não monitoram seu comportamento, muitas vezes têm filhos que mostram sinais anteriores de comportamento violento. Crianças sem vidas familiares estáveis ​​podem ser violentas e têm maior probabilidade de ter abuso de substâncias e problemas de saúde mental. Além disso, a violência na mídia popular, o abuso de drogas, a rejeição social e a doença mental diagnosticada também podem desempenhar um papel na determinação do motivo pelo qual um ato violento foi cometido.

Quando o crime ocorreu, segundo Vicent Lambe, a mídia em geral, buscando refletir a indignação das pessoas, rotulou os meninos como “monstros “, “cria de Satanás” e “aberrações da natureza”. Para ele, o curta metragem mostra Jon e Robert, pela primeira vez, “não como os monstros malignos da imaginação popular, mas simplesmente como eles eram – dois garotos de dez anos que cometeram um crime horrendo e não sabem explicar o porquê”. E acrescentou que “o filme não teve a intenção de ser simpático aos meninos ou de dar desculpas de qualquer forma, mas ao dramatizar autenticamente as transcrições das entrevistas, talvez nos força a reconhecer o pior do potencial humano e ainda ver a humanidade” [2]. Para a psicóloga Katie Woodland, ao mostrar Jon e Robert como seres humanos e, portanto, complexos, o filme “abre um diálogo necessário para entender esse tipo de ofensa violenta e abominável”, e acrescenta “e isso nunca teve como propósito diminuir o dano em relação ao que eles causaram e como tais atos terríveis afetaram a família do bebê James, mas sim sobre o fato de que se não entendermos o porquê, não podemos melhorar” [5].

Robert Thompson e Jon Venables – imagens reais

Robert Thompson e Jon Venables foram os mais jovens assassinos condenados na Inglaterra, mas devido à sua idade, eles foram libertados da prisão quando completaram dezoito anos, em 2001. A partir desse ano, ficaram em liberdade condicional vitalícia e adotaram novas identidades. Jon quebrou sua liberdade condicional duas vezes (em 2010 e em 2017), em ambos os momentos porque a polícia encontrou fotos de pornografia infantil em seu computador [6]. Os últimos acontecimentos parecem indicar que Jon Venables terá problemas em relação ao seu comportamento inadequado e criminoso pelo resto de sua vida, e continuará preso pelos próximos 3 anos. Já Robert Thompson, que no interrogatório se mostrou mais frio e maduro para sua idade, vive no anonimato e nunca violou a condicional.

Duas crianças tomam uma decisão aos 10 anos de idade e modificam por completo suas vidas, a vida de suas famílias e, em especial, da família da vítima, pois todos os sonhos que os pais haviam tido em relação ao seu bebê foram brutalmente interrompidos. Para [4], a questão não é “se devem ou não ser perdoados, mas o que levou esses dois garotos a se transformarem em monstros”.

Crimes como esse tendem a desencadear pensamentos binários sobre a natureza do ser humano. É mais fácil acreditar que alguns já nasceram maus, pois isso nos liberta da reflexão sobre os corriqueiros atos que nos torna mais e mais insensíveis a dor do outro. Se o mal vem de uma conjunção genética, então não há o que discutir, o que refletir, o que mudar, apenas há o isolamento e o castigo para quem nasce assim, sem remorsos ou culpa. Humanizar alguém não é torná-lo bom, é entender, sobretudo, que o ser humano não está situado entre dois polos (bom ou mau), mas está em trânsito entre uma série de complexos fatores.

FICHA TÉCNICA DO FILME

DETAINMMENT

Título Original: Detainment 
Direção:
Vicent Lambe
Elenco: Ely Solan, Leon Hughes
Ano: 2018
Reino Unido
Drama, História

Referências:

[1] https://www.mercatornet.com/features/view/detainment-should-a-film-about-two-boy-murderers-have-been-made/22139

[2] https://www.thefourohfive.com/film/article/meet-vincent-lambe-director-of-detainment-the-award-winning-short-film-based-on-the-interrogations-in-the-1993-murder-of-james-bulger-154

[3] https://www.psychologytoday.com/intl/blog/talking-about-trauma/201502/children-who-kill-are-often-victims-too

[4] https://www.fatherly.com/love-money/detainment-oscars-parents-controversy/

[5] Bushman, B. J., Newman, K., Calvert, S. L., Downey, G., Dredze, M., Gottfredson, M., . . . Webster, D. W. (2016). Youth violence: What we know and what we need to know. American Psychologist, 71(1), 17-39. http://dx.doi.org/10.1037/a0039687 Disponível em: https://www.apa.org/pubs/journals/releases/amp-a0039687.pdf

[6] https://www.themarysue.com/short-film-james-bulger-criticism/

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A.I. Inteligência Artificial: o que nos torna humanos?

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Amplamente transmitido na TV aberta, o filme “A.I. Inteligência Artificial” produzido no ano de 2001 narra a trajetória de David, o primeiro andróide projetado para amar. David, construído com a forma um menino, é adotado por um casal que teve seu filho biológico criogenizado até que a medicina avançasse o suficiente para curá-lo. Mas quando isso acontece, os conflitos entre David e seu irmão mudam completamente seu destino. A maneira como David é tratado por seus pais a partir do momento em que “descumpre” seu propósito como substituto possibilita o seguinte questionamento: o que nos torna humanos?

Alerta de spoiler!

Fonte: https://bit.ly/2ERxqfZ

Bondade

Basta citar alguns dos acontecimentos mais cruéis da história da humanidade para descobrir que bondade não é o que define com precisão os seres humanos. Eventos em situações de guerra como o Holocausto ou as bombas em Hiroshima e Nagasaki são um bom exemplo do quanto o ser humano tem a capacidade de não apresentar nenhum tipo de empatia sobre outras vidas humanas. Essas ações se estendem também para os animais e o meio ambiente, algo que é retratado com clareza no filme.

Após as brigas com seu irmão, David é abandonado em uma floresta por sua mãe. A narrativa cria um ambiente de desconforto desde as primeiras cenas e impacta drasticamente o espectador ao despertar o senso de justiça, uma vez que David tem sentimentos como qualquer humano teria.

As hipóteses de o ser humano ser essencialmente bom ou mau dividiram pensadores e filósofos ao longo da história. Para John Locke e Thomas Hobbes, por exemplo, o comportamento humano em seu estado de natureza humana é algo insatisfatório e violento. Desse modo o estabelecimento de uma sociedade civil seria positivo por garantir ordem, liberdade, segurança e respeito (LEOPOLDI, 2002). Para esses teóricos, o ser humano é essencialmente mau, e a sociedade possibilita a bondade.

Jean Jacques Rousseau, por outro lado, percebia qualidades no estado selvagem do ser humano, chegando a ser considerado o filósofo do “bom selvagem”. Para ele, o desequilíbrio no sistema entre seres humanos e a natureza é rompido a partir do momento em que a sociedade e a civilização dominam essa relação, desse modo, nossos males seriam de nossa própria autoria (LEOPOLDI, 2002). Portanto, para Rousseau, o ser humano é essencialmente bom, mas a sociedade o corrompe.

No filme, através da jornada de David após ser abandonado, percebe-se que em um futuro próximo a lógica da descartabilidade e da produção excessiva de lixo se perpetua. Ele também não foi o único a ser abandonado: inúmeros outros andróides e robôs compõe uma “subsociedade” constituída em meio ao lixo. David, após ouvir de seus pais adotivos uma história da Fada Azul, se encontra determinado a encontrá-la, e assim como o clássico Pinóquio, sonha em se tornar humano.

Fonte: https://glo.bo/2tV1zF0

Percebe-se na trama, que o egoísmo e a falta de empatia podem estar presentes desde a infância, como se pode ver no filho biológico do casal. Isso se estende para a vida adulta, e associada à lógica de descarte do que não é mais útil, promove o abandono de pessoas e objetos. Para Bauman (2009) a fluidez das relações na contemporaneidade pode gerar uma espécie de corrida, e quem eventualmente não conseguir acompanhá-la, corre o risco de ser descartado, como lixo.

DNA

O Ser Humano, possui cerca de 25 mil genes estruturais, e cerca de metade desses são exatamente iguais à composição do arroz, por exemplo (PESSINI, 2009). Seriam então, os nossos componentes genéticos os determinantes do que é ser humano?

Entre os maiores desafios da bioética no século XXI, está sem dúvidas o transumanismo. Esse termo se refere à busca pelo melhoramento biotecnológico das capacidades humanas geneticamente.  Alguns exemplos são tecnologias de prolongamento do tempo de vida, a possibilidade de reprogramação do DNA e da mente humana, bem como a futura existência de uma consciência livre do corpo mortal (PESSINI, 2009), como apresentado no filme.

Para os transumanistas, o estado biológico humano é apenas transitório, sendo os corpos, uma espécie de prótese, um substrato biológico. O pensamento pós-humano esbarra, portanto em questões éticas. Os bioconservadores, contrários a tais intervenções, sugerem que a dignidade humana não deve se estender ao pós-humano, e se apegam ao status moral da condição humana (PESSINI, 2009). No filme, podemos ver um exemplo em que a dignidade pós-humana se estende apenas para seres geneticamente humanos. E mesmo que David se comporte, sinta e aparente como um ser humano, ele é descartado como um objeto, demonstrando uma contradição ética daquela sociedade. Tais dilemas também podem ser enfrentados pela nossa sociedade nos próximos anos.

Fonte: https://bit.ly/2EBSCFx

Comportamento                            

O comportamento é, talvez, o que defina o que é humano com mais precisão. Os comportamentos são atividades do organismo que mantém relação com o ambiente, seja de maneira respondente através de reflexos inatos ou de maneira operante, quando agimos esperando determinadas consequências (DE ROSE, 1997).  A maneira como o ser humano se comporta, seja pela influência genética (como os reflexos) ou da maneira como isso é aprendido através das relações sociais, compreende a essência das diversas manifestações do que é humanidade, seja ela para o bem, ou para o mal.

As diversas influências e contingências que atuam sobre a formação e desenvolvimento de um indivíduo estão sujeitas antes, a um macrocontexto sócio-histórico, e cada época, por sua vez, compreende as características humanas aceitáveis ou não. Dessa maneira, conceitos como a ética, presente no filme, estão sujeitos a mudanças de acordo com as novas decorrências da atividade humana sobre a tecnologia. Percebe-se que a mãe de David sentiu remorso abandoná-lo, porém ainda assim o descartou, assim como várias outras pessoas abandonaram seus andróides e robôs. Desse modo, se compreendermos o adjetivo “humanidade” como sinônimo de bondade e empatia, David pode ser considerado o personagem mais humano do filme.

Fonte: https://bit.ly/2H0L16Z

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Fonte: https://bit.ly/2VC8tdW

A.I. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Título original: A.I. Artificial Intelligence
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Haley Joel Osment, Jude Law, Frances O’Connor, Sam Robards;
País: EUA
Ano: 2001
Gênero: Drama

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Zahar, p. 7-55, 2009.

DE ROSE, Julio César Coelho. O que é comportamento. Sobre comportamento e cognição, v. 1, p. 79-81, 1997.

LEOPOLDI, José Sávio. Rousseau-estado de natureza, o “bom selvagem” e as sociedades indígenas. Revista Alceu, São Paulo, nº4, p. 158-172, 2002.

PESSINI, Leocir. Bioética e o desafio do transumanismo: ideologia ou utopia, ameaça ou esperança?. Revista Bioética, v. 14, n. 2, 2009.

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Laranja Mecânica: com quantos condicionamentos se faz um homem?

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O filme faz um uso espetacular de cenários e figurinos que provocam horror e repulsa ao telespectador, que se vê imerso em uma espécie de freekshow/horrorshow o tempo inteiro

Laranja Mecânica, filme baseado na obra homônima de Antony Burguess, é estrelado por Malcolm MacDowell que interpreta o personagem Alex, um jovem inclinado à violência que acompanhado de seu grupo de amigos Pete, Georgie e Dim, usa de agressões físicas, sexuais e psicológicas para satisfazer seus impulsos mais intensos.

Se você se deparasse com Alex e seus companheiros de grupo no meio da rua, já notaria uma caracterização de figurinos bastante peculiar. Trajados com macacões brancos, portando porretes nas mãos e manchas de sangue espalhadas por toda vestimenta, compõem um grupo que trabalha objetivando praticar a violência com qualquer pessoa que apareça em sua frente.

O filme faz um uso espetacular de cenários e figurinos que provocam horror e repulsa ao telespectador, que se vê imerso em uma espécie de freekshow/horrorshow o tempo inteiro. Um desses artifícios é um clube chamado Leiteria Korova, que tem por cenário vários manequins de mulheres em posições de sexo, que ora são usadas como mesa ora são usadas como garçonetes, uma vez que ao pressionar uma alavanca abaixo delas, as mesmas expelem leite pelos seios.

Fonte: encurtador.com.br/gtFPZ

A apelação sexual é intensa através desses cenários, que a todo instante fazem alusão aos sucessivos estupros que Alex e seu bando cometem às mulheres da sua cidade. Tal ato de violência é denominado por eles como “o velho entra e sai”, o que traz uma concepção de simplicidade a uma prática tão horrível, intensificando assim um sentimento de horror experimentado nas cenas de estupro.

Além dos comportamentos de estupros, o grupo de freekshow agride pessoas de forma brutal e irônica. Uma cena do filme que retrata bem isso se dá quando eles encontram um senhor de idade bêbado no meio da rua que lhes pede dinheiro. O pobre idoso se vê caçoado pelo grupo e principalmente pelo próprio Alex que diz “não suporto bêbados jogados a rua. Mas principalmente velhos bêbados”, sendo então agredido a socos, pontapés e cassetetes, salvo apenas devido ao surgimento da polícia.

O arsenal de violências corria muito bem, até que um dia Alex trata seus companheiros de forma opressora jogando-os dentro de um lago e cortando a mão de um deles. Esse fato se deu pelo desejo de um dos seus amigos de propor as atividades do grupo, o que para o nosso personagem principal era inaceitável, já que existia apenas um líder, e esse líder era ele.

Fonte: encurtador.com.br/lpsvI

Essa falta de compreensão e companheirismo renderia a Alex a traição de seu bando, que consequentemente acarretaria na sua prisão pelo assassinato de uma senhora dona do SPA que eles haviam invadido.

A análise do comportamento aplicada à vida de Alex

Ao ser pego, Alex foi enviado para uma prisão e lá ficou sabendo de um projeto piloto de procedimento experimental, que prometia “curar” os detentos de seus impulsos violentos. Animado com a ideia pediu ajuda ao reverendo da instituição para que ele fosse indicado ao tratamento. E assim foi feito, sendo o protagonista enviado como cobaia ao projeto piloto.

O procedimento consistia em dar a Alex um remédio no início do dia e em seguida expô-lo a situações de violência em um grande telão. Nesse momento, seu corpo estava imobilizado por uma camisa de força e seus olhos presos com certo tipo de arame, para que em hipótese alguma ele conseguisse se livrar de ver as cenas.

Após algumas sessões do experimento, o resultado apareceu. Todas as vezes que Alex experienciava situações de violência ou sentia desejo de praticar comportamentos violentos, ele sentia um enorme enjoo e desconforto, que lhe provocavam ânsia de vômito e muita tontura. Mas o que aconteceu com Alex? Ele teve seu comportamento condicionado!

Fonte: encurtador.com.br/GOWZ4

A Análise do Comportamento, ciência que estuda o comportamento humano, acredita que o homem é fruto do meio em que está inserido. E que comportamentos podem ser ensinados e aprendidos através da união dos estímulos e consequências corretos.

Quando dizemos que Alex teve seu comportamento condicionado, queremos dizer que a consequência do experimento foi a responsável por manter essa sua nova reação às situações de violência. Explicando melhor temos que um comportamento opera na lógica da contingência tríplice de acordo com a Análise do Comportamento (MOREIRA e MEDEIROS, 2019).

A contingência tríplice pode ser representada pela fórmula S – R –> S, que traduzida traz S (estímulo antecedente) – R (comportamento) à S (consequência) (TODOROV, 2012).

No caso de Alex a situação se configura da seguinte forma: S (remédio que provoca enjoo) – R (assistir cenas de violência) –> S (vômitos e tontura). Mas por que toda vez que Alex presencia cenas de violência ele se sente mal? Por que para ele as consequências de ver cenas de violência são aversivas ou punitivas.

Fonte: encurtador.com.br/ajxEV

A Análise do Comportamento traz que existem consequências de comportamentos consideradas aversivas ou positivas, e que estas são responsáveis pelo aumento ou diminuição de determinado comportamento. Quando uma consequência aumenta uma determinada prática chamamos de reforço, e quando ela diminui chamamos de punição (MOREIRA E MEDEIROS, 2019).

Para Alex experienciar situações de violência se tornou uma punição, já que todas as vezes que ele passava por essas situações, as sensações de enjoo e tontura vinham juntas. Sendo assim, a frequência do comportamento de violência diminuiu devido à consequência aversiva (TODOROV, 2012).

O “sucesso” do experimento é posto à prova, já que a trama do filme vem trazer também uma pegada de sarcasmo e vingança, fazendo com que o personagem sofra nas mãos de todas as pessoas que ele já havia feito algo de ruim. Portanto, uma sucessão de eventos ruins, desde o abandono dos seus pais à surra de seus ex- amigos colaboram para que Alex entre em um colapso e tente se suicidar.

 

Ao final cabe uma reflexão sobre as práticas de experimentos com seres humanos e como essas práticas devem ser aplicadas. Levando em consideração não só os desejos do cientista, mas, sobretudo, o desejo do indivíduo que se sujeita a essas situações. É sempre válido lembrar que a ética em experimentos com seres vivos sempre deve estar presente!

FICHA TÉCNICA

LARANJA MECÂNICA

Título original: A Clockwork Orange
Direção: Stanley Kubrick
Elenco: 
Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates
Ano: 1972
País: EUA

Gênero: 
Ficção científica,Drama

 

REFERÊNCIAS:

MOREIRA, Márcio Borges; MEDEIROS, Carlos Augusto de. Princípios Básicos da Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2019. 320 p. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=0LdwDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT261&dq=principiso+basicos+da+analise+do+comportamento&ots=WAZQkCc6wF&sig=R0df4BxtqPx5MJS1aCCQiak9bl0#v=onepage&q=principiso%20basicos%20da%20analise%20do%20comportamento&f=false>. Acesso em: 27 fev. 2019.

TODOROV, João Claudio. O conceito de contingência tríplice na análise do comportamento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 4, n. 18, p.123-130, 05 nov. 2012. Disponível em: <https://www.revistaptp.unb.br/index.php/ptp/article/view/1116>. Acesso em: 27 fev. 2019.

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Ligas Acadêmicas de Psicologia: aberta as inscrições!

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As inscrições vão até o dia 30 de setembro de 2018.

Nesta quarta-feira, dia 19 de setembro de 2018, teve a abertura das inscrições das Ligas Acadêmicas do curso de Psicologia (2018/2), o encerramento está previsto para o dia 30 do mesmo mês. As ligas são uma iniciativa do Centro Acadêmico (C.A.) de Psicologia com parceira com a coordenação do curso de Psicologia e professores orientadores de cada abordagem.

Profª Me. e coordenadora adjunta Cristina D’Ornella Filipakis. Foto: Laryssa Araújo.

Lanusse Guimarães, diretora de pesquisa e extensão do C.A. de Psicologia, diz que as ligas têm como objetivo o fortalecimento dos saberes científicos, bem como o desenvolvimento das atividades de extensão voltadas as suas respectivas abordagens. Assim, os encontros acontecerão semanalmente nos meses de outubro e novembro, com direito à certificação com as horas extracurriculares concernentes às atividades realizadas de cada liga.

Profº Me. Sonielson Luciano. Foto: Laryssa Araújo.

Neste semestre, na inscrição, serão oferecidas ligas nas seguintes abordagens: Psicanálise, Análise do Comportamento, Fenomenologia Existencial, Sistêmica e Cognitivo-Comportamental. É válido lembrar que para abertura de cada liga é necessário que haja no mínimo 10 inscritos.

Acadêmicas de psicologia, Evelly Silva e Isaura Rossatto. Foto: Laryssa Araújo.

Link para inscrições:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd5ibmAUoqz3r6O-l8jiAgkVgTBrD5jIzOFPuG9TS0HdyrBcQ/viewform

Nota:

Também é possível acessar o formulário de inscrição através da arte de divulgação abaixo, pela leitura do qwerty code feita na câmera ou aplicativo de celulares:

Arte: Laryssa Araújo

 

 

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Vingadores: O Altruísmo patológico de Thanos

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Antes da ação altruísta, o indivíduo deve primeiro perceber a necessidade do outro, para isso se faz necessário habilidades cognitivas que englobam tais percepções.

Avengers: Inifinity War (2018) é, antes de um filme de super heróis, um longa que retrata “a jornada do herói” de Thanos, em busca de um objetivo extremamente altruísta: salvar o universo. Como antagonista do filme e uma ameaça presente desde The Avengers (2012), Thanos tem uma identidade própria, que teve espaço protagônico ao ser apresentado durante todo o quarto filme da saga.

Thanos utilizando a jóia da realidade para mostrar como era Titan antes de ser destruída

Thanos, enquanto ainda estava em Titan, seu então próspero mundo natal, o viu eventualmente perecer ao perceber a velocidade com que os recursos naturais estavam sendo consumidos. Para resolver o problema, sugeriu aos governantes o genocídio de metade da população, sem distinção de classe social, riqueza, gênero ou raça. Após a recusa de sua proposta, Thanos abandonou seu planeta e foi em busca de respostas. Sua profecia sobre sua terra natal foi concretizada, vendo ao retornar de seu exílio, um mundo morto e colapsado. Tal visão apenas concretizou sua crença, de que ele estava certo em exterminar metade da população. Para que tal triste fim não ocorresse de novo em outros cantos da galáxia, Thanos decidiu buscar as jóias do infinito, para remover metade da população inteligente de todos os mundos, e assim salvar o universo.

O protagonista se justifica em vários momentos do filme, explicando suas motivações e provando o preço disposto a pagar por seus fins.

Thanos explicando para Gamora o motivo de suas ações

Portanto, mesmo que a ideia de fazer com que metade dos seres inteligentes do universo “deixem de existir” pareça absurda para nós, para Thanos isso é um ato de bondade para com todo o universo.

Conversa de Thanos com Dr. Estranho sobre o que ele fará depois de concluir seu objetivo

Mas isso ainda é altruísmo?

Altruísmo é uma definição próxima da empatia, cunhada por Comte, é a inclinação humana a dedicar-se aos outros (Wikipédia, 2019). Para ser configurado como altruísmo, o comportamento não deve visar recompensas externas, podendo incorrer inclusive risco ou custo para o altruísta. Nessa ação, o bem-estar do próximo é a principal motivação, sendo as consequências imprevistas ou indesejadas, sejam elas positivas ou negativas, parte subjacente do processo.

O custo ou risco que o altruísmo carrega é deveras subjetivo. Pode-se dizer que, independente do tipo de ajuda oferecida, há sempre alguma forma de custo (de tempo, físico ou financeiro), isso não acarreta, necessariamente, um sofrimento. A infelicidade pouco aparece como consequência do comportamento altruísta, pelo contrário, quem ajudou comumente se sente satisfeito por isso, e ainda assim não deixa de ser altruísmo, contanto que satisfazer-se não tenha sido o objetivo inicial.

Thanos, ferido, porém satisfeito, depois de ter concluído sua ação altruísta

Antes da ação altruísta, o indivíduo deve primeiro perceber a necessidade do outro, para isso se faz necessário habilidades cognitivas que englobam tais percepções. A empatia, portanto, é essencial para uma prática saudável do altruísmo, visto que perceber o outro e ler suas emoções de forma coerente se faz necessário para reconhecer a necessidade de um comportamento altruísta.

Então Thanos é um Altruísta?

Pode-se dizer que sim, a diferença entre um altruísmo não-patológico e o apresentado por Thanos é a percepção cognitiva que o titã fez ao assimilar a dificuldade do universo de sobreviver, acreditando também ser o único capaz de resolver tal problema. Sem levar em conta qualquer lógica contrária a isso, inclusive a de que em poucos anos a população do universo voltaria à mesma quantidade que teria caso Thanos não tivesse feito nada.

Outro aspecto do altruísmo patológico é o prejuízo para quem recebe a ação altruísta. Thanos e sua avaliação cognitiva da situação completamente distorcida, fez com que o universo todo sofresse com sua tirania, fazendo inclusive ele mesmo perder pessoas próximas por esse “bem maior”.

Thanos, depois de ter matado o que mais amava em troca da jóia da alma

Mesmo assim, o Altruísmo é uma ação pró-social com grande impacto positivo nas relações sociais do indivíduo, podendo melhorar vínculos e quase sempre causando efeitos positivos tanto físicos quanto emocionais para o altruísta. Mas é um comportamento complexo que envolve várias partes da nossa cognição, portanto se faz necessário que a percepção de sinais e a habilidade de interpretá-los esteja acurada.

FICHA TÉCNICA DO FILME

VINGADORES: GUERRA INFINITA

Título original: Avengers: Infinity War
Direção: Joe Russo, Anthony Russo
Elenco: Robert Downey Jr.Chris HemsworthMark Ruffalo
Ano: 2018
País: EUA
Gêneros: Ação, Ficção científica

 

Referências:

KRIEGER, Stèphanie e FALCONE, Eliane Mary de Oliveira. A Influência das distorções cognitivas no comportamento altruísta. Rev. bras.ter. cogn. [online]. 2017, vol.13, n.2, pp. 76-83. ISSN 1982-3746. http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20170012.
ALTRUÍSMO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2018. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Altru%C3%ADsmo&oldid=53364202>. Acesso em: 13 out. 2018.

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Profa. Dra Ana Beatriz é qualificada pela ABPMC

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A qualificação ocorreu porque Ana Beatriz apresentou os diplomas de mestrado e doutorado na área de Análise do Comportamento e uma série de outros documentos

A Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental – ABPMC – deu parecer pela Acreditação como Analista do Comportamento para a professora do curso de Psicologia do Ceulp, Dra. Ana Beatriz Dupré Silva.

A qualificação ocorreu porque Ana Beatriz apresentou os diplomas de mestrado e doutorado na área de Análise do Comportamento atendendo ao item 9 do artigo 24. Ana Beatriz também enviou seis trabalhos de conclusão de curso nos quais ela foi orientadora, sendo todos na área da Análise do Comportamento atendendo ao item 6 Artigo 24. A professora enviou também sua tese de mestrado e a tese de doutorado, ambas foram desenvolvidas na área da Análise do Comportamento atendendo a um trabalho do item 11 Artigo 24.

Profa. Dra. Ana Beatriz Dupré

De acordo com a ABPMC, Dra. Ana Beatriz demonstrou sua capacidade enquanto pesquisadora de Análise do Comportamento. E apresentou a documentação necessária, comprovando trabalhar com a Análise do Comportamento estando apta a receber a Acreditação pela Associação.

O que é Acreditação?

O processo de acreditação tem por objetivo certificar como acreditados pela Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental – ABPMC – os profissionais com qualificação de nível superior que trabalhem com o conhecimento científico e filosófico da Análise do Comportamento e do Behaviorismo Radical, de acordo com os critérios derivados do conhecimento reunido sob esses nomes e os procedimentos de trabalho coerentes com tal conhecimento.

Tal processo visa colaborar para o desenvolvimento da Análise do Comportamento no Brasil, por meio das exigências de aprimoramento contínuo de sua comunidade, da validação social de intervenções orientadas pelos pressupostos teóricos e filosóficos da área, ressaltando a excelência das tecnologias de intervenção originárias da Análise do Comportamento na solução de problemas humanos diversos. – Com informações da ABPMC.

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BF Skinner: para além do mentalismo

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“Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez, são modificados pelas consequências de sua ação” (SKINNER, 1978, p.15)

A Psicologia passou a adquirir o status de ciência a partir dos estudos sobre a consciência, com Wilhelm Wundt e William James, no início do século XIX. Para ambos, a Psicologia deveria ser afastada de doutrinas e temas metafísicos, para que de fato pudesse ser considerada ciência (ABI, 2009).  Um século depois, nasce aquele que compactuando dessas premissas propõe a Psicologia da Análise do Comportamento.

Skinner nasceu nos EUA, no estado da Pensilvânia, no dia 20 de março de 1904. Quando criança costumava criar invenções das mais variadas, como: limpador de sapatos, lançador de cenouras, instrumentos musicais confeccionados de pentes e cordas velhas de violino. Fazia parte de uma família protestante, na qual o clima de afeto sempre estava presente (CAUPER et al, 2016).

Após concluir o Ensino Médio, Skinner iniciou a graduação, formando-se em letras românticas e literatura, no ano de 1926. Cogitou a carreira de escritor, porém não seguiu adiante. Sua caminhada no universo da Psicologia inicia-se com a pós-graduação em psicologia experimental na Universidade de Harvard, em 1928, onde após 3 anos angariou os títulos de máster e PHD (CAUPER et al, 2016).

Fonte: encurtador.com.br/lAK56

Durante sua estadia em Harvard, Skinner desenvolveu a chamada Caixa de Operante Livre (comumente chamada de Caixa de Skinner). Tal mecanismo caracterizava-se por um aparelho em forma de caixa, contendo uma alavanca, um distribuidor de comida, luzes, auto-falante e uma grade eletrificada (sua função será descrita mais adiante, em complementaridade a teoria desenvolvida pelo personagem em questão) (CAUPER et al, 2016).

Skinner casou-se com Ivone Blue, tornando-se pai de duas meninas, Deborah e Julie.

Skinner e a Análise do Comportamento

A Análise do Comportamento caracteriza-se como a ciência que tem como objeto de estudo o comportamento do organismo que se encontra inserido em um meio. Skinner (2003) diz que a interação organismo-ambiente dá-se em três níveis: filogênico, ontogênico e cultural.

Fonte: encurtador.com.br/qwEI7

A filogenia está relacionada à constituição genética da espécie, responsável pela evolução natural, sobrevivência e reprodução. A ontogenia refere-se à seleção de comportamentos indicados para determinado ambiente, caracterizando um condicionamento operante (onde o comportamento corresponde à interação: contexto (estímulo antecedente), ação (resposta) e consequência da ação (estímulo consequente). E a cultura diz respeito às características históricas, sociais, econômicas e todos os processos envolvidos na vida em sociedade (SKINNER, 2003).

Skinner (2003) postulou que os comportamentos dos organismos podem ocorrer novamente ou não, devido às consequências que provocam para o mesmo. Quando o comportamento ocorre novamente diz-se que ele foi mantido por uma consequência reforçadora. O Reforço Positivo dá-se quando um estímulo/consequência é apresentado de forma apetitiva ao indivíduo, acarretando no aumento do comportamento praticado. O Reforço Negativo dá-se quando o estímulo/consequência apresentado se mostra aversivo, dessa vez fazendo com que o organismo aumente a frequência do comportamento, para evitar o surgimento desse estímulo ruim outra vez.

Fonte: encurtador.com.br/abfQZ

Quando o comportamento diminui de frequência diz-se que ele foi diminuído por uma consequência punitiva. A Punição Positiva é quando um comportamento (R) diminui de frequência, devido a obtenção de uma consequência (S) negativa. A Punição Negativa é quando se diminui a frequência de um comportamento, devido a retirada de um estímulo/consequência apetitivo, no intuito de não perder esse estímulo bom.

Os postulados básicos da teoria da análise do comportamento, explicitados anteriormente, foram obtidos através dos experimentos realizados com pombos e ratos. A Caixa de Operante Livre é o mais clássico exemplo de condicionamento operante, e funciona da seguinte forma: o rato em privação de alimento era colocado em uma caixa, que possuía um comedouro. Para que ele recebesse um grão de comida, ele precisaria pressionar uma alavanca, que se encontrava na parede da caixa. Cada vez que seu comportamento se aproximava da ação de pressionar a alavanca, ele recebia um grão de comida. No final do experimento, o rato conseguia pressionar a alavanca e era recompensado com o grão de comida todas as vezes que o fazia (SKINNER, 2003).

Com esse experimento,Skinner  propôs o condicionamento operante, bem como as ideias de reforço e punição presentes em sua teoria.

Fonte: encurtador.com.br/mptEY

Críticas à Análise do Comportamento

Por ser uma ciência que se preocupa em estudar o comportamento dos organismos por meio de observações, e não de introspecção, o Behaviorismo Radical), tem sido alvo de críticas do tipo “O behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais”, “A Psicologia de Skinner é a psicologia do organismo-vazio”, “o comportamentismo não se ocupa do organismo do sujeito, pois a crença básica é que certo estímulo provocará certa resposta, independente do sujeito” (MOROZ et al., 2005).

No entanto, tais críticas são infundadas, e demonstram a falta de conhecimento aprofundado nos estudos de Burrhus Frederic Skinner.

Explicita-se que:

O Behaviorismo Radical, todavia, adota uma linha diferente. Não nega a possiblidade da auto-observação ou do auto-conhecimento ou sua possível utilidade, mas questiona a natureza daquilo que  é sentido ou observado e, portanto, conhecido. Restaura a introspecção, mas não aquilo que os filósofos e os psicólogos introspectivos acreditavam “esperar”, e suscita o problema de quanto do nosso corpo podemos realmente observar. (SKINNER, 1974/1982, p.18 apud MOROZ et al., 2005)

Então, Skinner dividiu os comportamentos em públicos e privados, sendo os comportamentos privados acessados apenas pelo organismo. Ele não desconsidera a existência de eventos privados/internos, porém diz que eles não são causa de comportamentos, mas sim consequência de interações com o meio e seus estímulos. Ainda acrescenta que tais comportamentos só poderão ser observados a partir do momento em que forem externalizados pelo organismo.

Fonte: encurtador.com.br/cxAM7

Portanto, dizer que a Análise do Comportamento é reducionista e superficial, e considera o organismo como uma máquina, não condiz com o que é explicitado pela teoria:

Desde o início, Skinner enfatiza estar lidando com organismo como um todo (…) é a totalidade do organismo ou pessoa que está sendo alterada na interação com o ambiente, e esta sua posição aparece em vários textos e na abordagem a diferentes temas, por exemplo: ao discutir o perceber (1974/1976, p. 93), ao discutir o pensar (1974/1976, p. 121), ao discutir o modelo de seleção por consequências (1981/1987, p. 59) (MICHELETTO;SÉRIO, 1993, p.14 apud MOROZ et al, 2005)

Contudo, percebe-se que a Análise do Comportamento possui um olhar científico amplo sobre o indivíduo. O ato de comportar-se perpassa todos os âmbitos da vida do sujeito. Então, quando você leitor chora, pensa, corre, dorme, estuda, come, ama, odeia, você está se comportando. E esse comportar-se não é obra do acaso, mas sim um modelo de seleção de comportamentos funcionais e úteis, para cada situação da sua existência como espécie humana.

REFERÊNCIAS:

ABIB, José Antônio Damásio. Epistemologia pluralizada e história da psicologia. Scientia studia, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 195-208, 2009.

CAUPER et al, Daisy. SKINNER: das engenhocas infantis à câmara de condicionamento operante- avanços na teoria behaviorista e contribuições para a educação. Anais da V Semana de Integração, Goiás, 2016.

MOREIRA, Márcio Borges; DE MEDEIROS, Carlos Augusto. Princípios básicos de análise do comportamento. Artmed Editora, p. 29-43, 2007.

MOROZ et al, Melania . Subjetividade: a interpretação do behaviorismo radical. Psicologia da Educação, São Paulo, 2005.

SKINNER, Buhrrus Frederic. Ciência e Comportamento Humano. Editora Martins, 11ª ed, 2003.

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Ligas Acadêmicas complementam estudos

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As ligas acontecem de 15 em 15 dias, nas quintas-feiras no Ceulp/Ulbra de 17h às 18h

Recentemente aconteceu a abertura oficial das Ligas Acadêmicas do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra. No evento houve apresentação dos professores supervisores, do material e cronograma de cada uma das LIGAS ofertadas neste semestre de 2018.1. São elas: Fenomenologia, Análise do Comportamento e Psicanálise.

Inscritos na Liga de Análise do Comportamento. Foto: CA de Psicologia

Gisele Cerezoli – diretora do Centro Acadêmico de Psicologia – explica que “as Ligas Acadêmicas são um projeto promovido pelo Centro Acadêmico com a finalidade de oferecer um espaço para o acadêmico poder se aprofundar na teoria pretendida”.

Inscritos na Liga de Psicanálise. Foto: CA de Psicologia

A Liga de Análise do comportamento contará com a supervisão da professora Dra. Ana Beatriz Dupré, enquanto que a de Fenomenologia será supervisionada pela professora MsC. Carolina Cótica e a de Psicanálise pela professora Me. Muriel Correa.

Inscritos na Liga de Fenomenologia Existencial. Foto: CA de Psicologia

Os encontros acontecerão de 15 em 15 dias, nas quintas-feiras, de 17h às 18h. Além disso, os trabalhos serão finalizados dentro da programação da 2ª edição do CAOS (Congresso Acadêmico dos Saberes da Psicologia) no dia 24 de maiode 2018. E cada liga tem como carga horária 20 horas de atividade de extensão, com direito a certificação. (Com informações da Liga Acadêmica)

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