Os tipos de apego e as relações na vida adulta

Este artigo propõe uma releitura dos estilos de alguns conceitos da Teoria do Apego e modelos de funcionamento internos, à luz da concepção de Bowlby e autores contemporâneos. Discute-se o quanto os tipos de apego influenciam nas relações de vida do indivíduo adulto.

Para Bowlby (1988-1989) a teoria do apego desenvolveu-se com variações pela teoria das relações objetais. Seu ponto de partida foi a observação de comportamentos.

 

John Bowlby – Fonte: https://www.thescienceofpsychotherapy.com/wp-content/uploads/2020/01/John-Bowlby.jpg

 

O sistema de apego é o sistema comportamental que regula o comportamento de aproximação e contato, tendo como função original a proteção contra predadores. Quando há sinal de desconforto e quebra de equilíbrio no ambiente o bebê sente-se ameaçado, como fome, frio, calor, barulho alto, ruídos graves, ativando assim o sistema de apego. A aproximação da figura de apego, geralmente a mãe, ou outro cuidador central, sendo ativado a regulação fisiológica da criança, sendo assim a natureza selecionou não apenas a amamentação, mas o olhar, o toque, receber limites, o cuidado com a exploração em lugares de perigo, como fontes fundamentais de apego e desenvolvimento saudável. (MENDES, MAIA, 2019).

Entende-se que muitas das escolhas nos relacionamentos sofrem interferências da dinâmica esquemática de cada pessoa envolvida, tanto que a base da Terapia de Esquema parte de que seu tratamento se dá nas relações paciente-terapeuta como potencial reparador. Acredita-se fortemente que as relações são cruciais tanto na origem dos esquemas como na manutenção destes (YOUNG, 2008).

 

Fonte: https://www.vittude.com/blog/wp-content/uploads/teoria_do_Apego-1200×798.jpg

 

O conceito de modelos internos de funcionamento (MIFs) é considerado o componente central de toda teoria de apego e Ainswort (1985) descreveu três estilos de apego básicos na infância: seguro, inseguro resistente (também chamado de ansioso-ambivalente) e inseguro evitativo (ou apenas evitativo) (Bowlby, 1984). Main e Solom (1986) propuseram uma quarta categoria, hoje amplamente aceita para descrever o comportamento de crianças que não se enquadram nas categorias anteriores chamado por eles de estilo de apego desorganizado. A tabela a seguir nos mostra a relação do tipo de apego e comportamento observados em bebês, para entendermos a influência de cada tipo com os comportamentos nas relações pela vida. 

Tabela 1. Estilos de apego na Infância

Estilo de ApegoDescrição do Comportamento
Apego seguroBebes bastante ativos que utilizam a figura de apego como base segura para explorar o ambiente. Interagem mais com a figura de apego do que com estranhos. Protestam ativamente a separação e buscam contato prontamente quando a figura de apego retorna ao ambiente, sendo logo regulados afetivamente em sua presença.
Apego inseguro ou evitativoNão usam a figura de apego como base segura, como se não dessem importância a ela, em uma espécie de autossuficiência. Demonstram pouca ativação emocional ao serem deixadas sozinhas e também não recorrem à mãe quando esta retorna ao estar ausente do ambiente, não parecendo ter preferência por esta. Podem interagir mais com um estranho do que com a figura de apego. 
Apego inseguro resistenteExploram pouco o ambiente, com bastante temor a pessoas estranhas. A maior parte dos bebês protestam bastante a mãe de ausenta. Quando a mãe retorna reagem com birra, raiva, choro. A figura de apego tem dificuldades para regular emocionalmente a criança, como se esta apresentasse uma necessidade infinita de contato.

Fonte: Ainsworth (1985), Bowlby (1984ª), Main e Soloman (1986)

Uma vez estabelecidos os apegos, os Modos internos de funcionamento filtram a realidade de acordo com as expectativas preexistentes. Betherton e Munholland (2016) descrevem que os componentes afetivos, cognitivos e comportamentais dos Modos de Funcionamento Internos.

Para Young os tipos de apego desenvolvimento na infância nos permitem perceber como o adulto tende a agir em suas relações afetivas com pares, podendo ser pares amorosos, amizades, sociedades, etc. Na figura 1 observa-se o Tipo de Apego e como tende a ser a relação do adulto.

Conhecer como foi nosso apego, nosso forma de vincular nos ajuda no caminho de escolha e de empatia, pois produzem dinâmicas de infelicidade e sofrimento emocional diante de muitas relações. Existem padrões de comportamentos, estilos, e respostas de enfrentamento, que são respostas aprendidas emocionalmente nas relações primárias e acontecem de forma automática muitas vezes (SIMONE-DIFRANCESCO, ROEDIGER, STEVENS, 2015; YOUNG et al. 2008).

Para Bradbury e Fincham(1990), os modelos de apego são esquemas cognitivos relativamente duradouros que influenciam e são influenciados pelas interações, os Modos Internos de Funcionamento trazem expectativas de um parceiros com o outro, acionando gatilhos e emoções que precisam ser validadas e entendidas, significadas e algumas ressignificadas, formando assim por ambas as partes uma conexão desses tipos de apego, podendo agregar ou trazer disfuncionalidade nas relações.

A motivação individual da escolha de parceiros ao longo da história, evolução, conceito, conteúdos/elementos, foi mudando, o que se percebe é que o apego ainda é evidenciado e muito nas relações, sejam elas liquidas ou tradicionais românticas. A escolha como liberdade, traz em si uma imensa responsabilidade sobre os aspectos individuais, pode-se entender que a motivação, os desejos sempre existirão, sempre estrão lá, mas a força da escolha pode gerir por muitas questões racionais (PAIM e CARDOSO, org., 2016)

 

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O ser humano como ser social que é, apresenta, como uma de suas necessidades básicas, unir-se a outro. Segundo Zimerman (1997) todo ser humano é gregário por natureza, existindo em função dos seus relacionamentos. Myers (2014, p.309) cita que somos animais sociais e “precisamos pertencer”, o que seria denominado pelos psicólogos sociais contemporâneos como uma necessidade de pertencimento. Tudo isso decorre da dependência que os seres humanos têm uns dos outros, a qual dura a vida toda, colocando as relações no centro da existência humana.

A partir da concepção de Maturana (1998), o amor é uma das maiores fontes de socialização do ser humano, já que está relacionado às relações de proximidade, cooperação, respeito e colaboração. Ele aponta, ainda, que é o modo de vida hominídeo que tornou possível a linguagem,  o amor foi a emoção central na história evolutiva, que deu origem à espécie.

Embora multifacetado e complexo quanto às suas formas de expressão, o amor foi sumamente importante para o desenvolvimento da espécie humana. Segundo Edgar Morin (1979) muitos fatores que corroboraram para que a espécie Homos alcançasse a condição Sapiens. Dentre eles, indica a verticalização da sua postura, como sendo essencial para a transformação das relações humanas, já que propiciou a copulação frontal, mudança qualitativa extremamente importante para o desenvolvimentismo das espécies, com repercussão na anatomia humana (alterando o corpo para ser mais atrativo e chamar atenção dos pares), além de favorecer a confiança entre os pares (já que a posição possibilitou o contato direto entre partes vulneráveis do corpo). Portanto, as relações amorosas tal como se desenvolviam naquela época, foram importantes nesse processo evolutivo.

 

Fonte: https://psiconlinews.com/wp-content/uploads/2015/09/teoria-do-apego.jpg

 

No início de onde se tem registros, a escolha dos pares na sua maioria, nada tinha de romântico, nem de longe ocorriam por conta de algum sentimento amoroso ou conexão emocional, com raras exceções. Na trajetória de evolução da humanidade a união entre duas pessoas ocorria pelo desejo instintivo, essas uniões se pautavam na sobrevivência e prevalência da espécie. A percepção de que andando em bandos havia mais segurança para a sua proteção e as suas chances de sobrevivência aumentariam (HARARI, 2017). Os psicólogos sociais Roy Baumeister e Mark Leary (1995 apud Myer, 2014, p. 303) ilustram bem o poder dos vínculos tais como citado: “para os nossos antepassados, os vínculos mútuos permitiram a sobrevivência do grupo. Ao caçar ou construir abrigos, 10 mãos eram melhores do que duas”.

Assim podemos concluir que a infância é um solo fértil para nossos apegos e vínculos se construírem através das figuras de apego e referência, que modelam nosso cognitivo e cadastram emoções em nosso sistema límbico, trazendo esta ponte para as relações ao longo da vida.

REFERÊNCIAS 

BOWLBY, John, APEGO, A natureza do Vínvulo, Martins Fontes, São Martins, volume 1 da trilogia, Apego e Perda.2002

PAIM, K; CARDOSO, B. C. (Org.) Terapia do esquema para casais: base teórica e intervenção. Porto Alegre: Artmed, 2019.

RAMIRES, Vera Regina Rohnel, SCHNEIDER, Michele Scheffel. REVISITANDO ALGUNS CONCEITOS DA TEORIA DO APEGO: COMPORTAMENTO VERSUS REPRESENTAÇÃO. Unisinos, 2010.

ZIMERMAN, D. E. Os quatro vínculos – Amor, Ódio, Conhecimento, Reconhecimento na Psicanálise e em nossas vidas. Porto Alegre: Artmed, 2010.

YOUNG, J. E.; KLOSKO, J. S.; WEISHAAR, M. E. Terapia do Esquema. Trad. COSTA, Roberto C Porto Alegre: Artmed, 2008.

Administradora. Master Coach e Mentora de Mulheres, Executivos e Casais. Analista Comportamental e Competências. Especialista em Gestão e Saúde. Formação em Terapia do Esquema. Formanda em Psicologia pelo Ceulpl/Ulbra. Colunista na Revista Cenarium TO, no Universo Feminino.