A compulsão à repetição

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fonte: encurtador.com.br/quIQR

Te convido a imaginar a seguinte situação: sabe aquela pessoa que tem o ‘’dedo podre’’ e não importa a relação que ela esteja, ela sempre acaba se dando mal? é traída, nunca dá certo com ninguém, sofre pelas mesmas coisas, mesmo estando em relacionamentos com pessoas diferentes, o resultado é o mesmo. Você e muitas outras pessoas, podem até pensar que seria melhor ela ficar sozinha, evitando se relacionar com alguém, afinal, já se sabe  onde isso vai dar. Quanta falta de sorte! Como o destino dessa pessoa pode parecer cruel, fadado ao mesmo resultado, uma coisa que não parece ter fim. Mas seria isso o destino? será mesmo que por muitas vezes  estamos fadados ao fracasso? ou os nossos impulsos primitivos nos levam a tais situações? Em Freud encontramos uma explicação: somos impelidos a repetir.

Para Freud (1920) o jogo do prazer e do desprazer tal como em um jogo de criança, brincando com um carretel,  que quando jogado, se vai juntamente com um simbolismo de ausência da mãe, gerando um sofrimento (desprazer) mas na volta do objeto é também como a volta da mãe, gerando um novo sentimento; o de prazer.  O então jogo do fort (embora) dá (voltou) traz a objeção de que essa criança cause o sofrimento para  obter o prazer. A partir desse exemplo Freud começa a assinalar a possibilidade da compulsão à repetição, percebendo que as manifestações desse jogo não são o suficiente para confirmar tais formulações, pois a compulsão a repetição vai além do que um mero prazer ou da evitação de um desprazer, são experiências de fato desagradáveis, parecendo que nenhuma instância psíquica seja capaz de satisfazê-la.

Somente em 1914 Freud define a compulsão à repetição como um fenômeno clínico, ao evidenciar os pacientes em análise percebe que os mesmo não se portam de forma calma, se expressam por  acts it out, ou seja eles o repetem não como uma lembrança, mas como uma ação repetindo sem saber que o fazem, já que o conteúdo está recalcado. Como sabemos na teoria de Freud, o aparelho psíquico é regulado pelo princípio do prazer,  fazendo com que os eventos psíquicos tenham o foco em diminuir a tensão ocasionada pelo acúmulo de excitação.  “ (…) um prazer momentâneo e incerto acerca de suas consequências só é abandonado para assegurar que mais tarde, por novas vias, se obtenha um prazer garantido” (FREUD, 2004/1911, p.68). Ou seja, só é possível obter prazer se antes houver desprazer.

No início a compulsão à repetição era compreendida como o retorno do recalcado, pois era entendido que a repetição vinha como um sintoma. Conforme o decorrer dos estudos, a mesma foi compreendida com aspecto estrutural, insuperável e insistente, por esse último fator é que tem-se grandes impactos e acaba requerendo mais energia do aparelho psíquico (MIRANDA; FAVERET, 2011).

É compreendido quando Freud traz a sua teoria sobre “Recordar, repetir e elaborar”, que é posto em perspectiva o impulso à recordação e pode-se notar que é um impulso que atua em oposição à compulsão à repetição, isso tendo em vista que a compulsão à repetição atua quando a recordação falha (GREEN; 2007).

De acordo com Pereira e Migliavacca (2014), pode-se compreender então, que a compulsão à repetição pautada em três dimensões, a primeira como meio de propiciar o movimento de ligação  do excesso traumático, em segundo ponto como uma forma de expressar a qualidade da insistência da repetição das pulsões e em terceiro ponto como uma forma de resistência do ID, uma resistência que seria inseparável das próprias pulsões.

Seguindo o pensamento de Green (2007), a ligação da compulsão com o prazer vem quando se compreende que o prazer só será experienciado após um desprazer para o ego, ou seja, desprazer para um sistema e satisfação para o outro sistema. Ainda sim a compulsão à repetição se apresenta de forma mais primitiva e instintiva que o próprio princípio do prazer.  

  A repetição então vem disfarçada como uma mera coincidência, voltando do passado como algo novo recriado. ‘’ Há algo que retorna do Real, que volta sempre ao mesmo lugar em termos de um encontro falho, abalando o estatuto subjetivo e abrindo a hiância por onde irrompe a interrogação: por que justamente comigo passa essa fatalidade?’’ (HARARI, 1990, p. 89).  O que é repetido ou o que é recordado, varia de acordo com cada caso, pois a compulsão à repetição está associada à resistência do ego.

 A transferência é um instrumento importante para a manifestação dessa repetição, possibilitando  a transformação da neurose comum em neurose de transferência. logo o analista deve se apresentar na relação formas que possibilitam a possíveis atuações, fazendo o analisando perceber que suas vivências atuais são fruto de um passado recalcado. Freud (1914). 

’Significar é sempre recordar sem perceber (e sem poder perceber) que se recorda: é associar, num átimo, consciente e inconsciente. Daí a expressão freudiana ambígua, fluida, misteriosa, mas reveladora: lembrança inconsciente – indicando-nos que a conexão mnemônica entre tempos e eventos, por um significado, pode ser recalcada de imediato e produzir efeitos psíquicos sem que o sujeito tenha racionalmente atinado com esse processo de si sobre si mesmo’’ (CASTILHO, 2013 p.248)

Notamos que essas repetições podem estar ligadas a eventos traumáticos, que nos causam uma neurose traumática.  Mas afinal o que seria essa  neurose? Ela ocorre após uma carga de energia gasta, seja em graves acidentes, amputações ou desastres de uma forma geral.  Ao se instalar na vida de alguém  pode causar danos a todos em volta, pois ela tem total controle sobre a vida da pessoa, que acaba fazendo suas escolhas segundo os desejos que a encobrem, depois de ser registrada no psiquismo, a neurose começa a se manifestar em forma de sintomas. Logo o Traumatizante se associa ao rompimento de uma estrutura de defesa do ego.

O ser humano traumatiza-se porque nele acontece algo inesperado, o desejo (inconsciente) e a angústia (consciente).  ‘’Qualquer experiência que possa evocar afetos aflitivos, tais como susto, angústia, vergonha ou dor física, pode atuar como um trauma dessa natureza; e o fato de isso acontecer, de verdade, depende naturalmente da suscetibilidade da pessoa afetada” (FREUD, 1987 [1893a], p. 43) 

Freud fala ainda das nossas percepções sensoriais, do que é visto e ouvido, pontos de partida para  a construção de um trauma. Podemos então compreender que os comportamentos que integram a repetição não são movidos por um simples destino, mas em decorrência de uma compulsão, que são percebidos de uma forma estranha, advindos de um sentimento familiar, que foi esquecido. 


fonte:encurtador.com.br/dzC78

REFERÊNCIAS 

Campos, Douglas Oliveira de A compulsão à repetição e o sentimento de culpa / Douglas Oliveira de Campos. – Maringá : |S.I|, 2009. – 84 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Maringá, 2009 1. Teoria Psicanalítica. 2. Compulsão à repetição. 3.Sentimento de culpa. 4. Compulsão à repetição na teoria de Freud. Maringá 2009. Disponivel em <http://old.ppi.uem.br/Dissert/PPI-UEM_2009_Campos.pdf> acesso em 05 de maio de 2022

GREEN, André. Compulsão à repetição e o princípio de prazer. Rev. bras. psicanál,  São Paulo ,  v. 41, n. 4, p. 133-141, dez.  2007 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-641X2007000400013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  03  maio  2022.

MIRANDA, Olivia Barbosa; FAVERET, Bianca Maria Sanches. Compulsão à repetição e adicção. Psicanálise & Barroco em revista , [S. l.], v. 09, n. 02, p. 147-160, 1 dez. 2011. Disponível em: http://seer.unirio.br/psicanalise-barroco/article/view/8733/7429. Acesso em: 2 maio 2022.

PEREIRA, Douglas. Aspectos da compulsão à repetição na clínica psicanalítica: Resistências e toxicomania. Orientadora: Eva Maria Migliavacca.2013. 126 f. Dissertação (mestrado programa de pós graduação em Psicologia. Área de concentração: Psicologia Clínica). Instituto de psicologia da universidade de São Paulo. São Paulo 2013. Disponivel em <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-09012014-095422/publico/pereira_corrigida.pdf>  Acesso em 05 de maio de 2022.

 

 

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Compulsão alimentar: “Overcoming Binge Eating”

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O Dr. Christopher G. Fairburn, psiquiatra e pesquisador da Universidade de Oxford, é uma das maiores autoridades do mundo em problemas alimentares. Seu livro, que ainda não possui tradução para o português, Overcoming Binge Eating (“Vencendo a Compulsão Alimentar”) apresenta os fatos sobre a compulsão alimentar e inclui um programa detalhado para a superação da compulsão alimentar na bulimia nervosa e na obesidade.

A compulsão alimentar é provavelmente o transtorno alimentar mais comum, mas seu ciclo de vergonha e sentimentos de impotência podem dificultar a busca por ajuda. Trago aqui alguns pontos principais da entrevista dele para o canal  de saúde Medicine Net para fins de informação de como proceder após identificado um problema alimentar.

No quesito quão prevalente é a compulsão alimentar, ele aponta para as definições técnicas usadas por pesquisadores clínicos, e que essas definições são usadas para definir a compulsão alimentar clinicamente significativa.

Há duas características que precisam estar presentes para que um episódio de alimentação seja classificado como “compulsão”: a quantidade ingerida deve ter sido realmente grande para as circunstâncias da época; em outras palavras, o contexto é levado em consideração, por exemplo, é preciso comer mais no Natal para que um episódio alimentar seja classificado como compulsão, porque todo mundo come mais no Natal, e deve haver uma sensação de perda de controle sobre a alimentação no momento. Em outras palavras, a pessoa deve sentir que sua alimentação está fora de seu controle.

Fonte: encurtador.com.br/jswKW

Ele salienta o quanto é importante que haja esta perda de controle durante o episódio. Pois é essa característica que distingue a compulsão alimentar dos simples excessos que todos nós praticamos às vezes.

Algumas perguntas podem ajudar a identificar:

– Seus episódios compulsivos envolvem comer grandes quantidades de comida?

– Você se sente descontrolado na hora?

– Entre esses episódios de exagero, você faz muita dieta?

– Você fica doente ou vomita depois desses momentos?

Outro ponto importante a ser observado, é se a pessoa se preocupa constantemente com o que vai comer, como vai me sentir depois de comer, tem pensamentos como: “Hoje, não vou comer muito; vou comer isso e isso no café da manhã”, etc.

Muitas vezes a pessoa sente que está prestes a cometer um grande erro e está ciente de que não quer fazê-lo, mas se sente impotente. É uma experiência muito desagradável.

Outro ponto que ele descreve é a dificuldade das pessoas em conseguir lidar com emoções desagradáveis. Como forma de lidar com sentimentos ruins, elas usam a comida para suporte emocional e para ajustar seu humor.

Outro ponto é sobre fazer dietas e como isso facilita o quadro de compulsão alimentar, visto que logicamente o paciente sente mais fome do que o normal. Depois dos excessos, chega a culpa, a vergonha e outras emoções negativas, levando ao vômito induzido. Depois de um tempo, essa liberação de emoções negativas a curto prazo predisporia a voltar à dieta e a recomeçar.

“Fazer dieta cria desejo pelos alimentos que se está evitando e é por isso que as pessoas costumam comer compulsivamente os mesmos alimentos que estão evitando”.

Trago aqui uma figura que exemplifica como funciona este ciclo de compensação, onde a pessoa pode até ter a ideia de que compensar te a deixaria mais livre para comer o que quiser, mas a compensação é uma prisão que dá início a um ciclo que muitas vezes pode ser vicioso.

  1. Comer demais: a restrição leva a comer em excesso ou compulsivamente.
  2. Sentir culpa: arrependimento por não ter conseguido seguir a dieta e ter comido muito mais do que o recomendado.
  3. Compensar excessos: tentativa de corrigir o erro cometido ao comer demais
  4. Repete.

Durante a entrevista, ele faz uma distinção entre o que leva a pessoa a começar a compulsão alimentar e o que mantém sua compulsão alimentar. Sobre encontrar a causa da compulsão alimentar de uma pessoa, ele diz que este é um problema complexo e interessante. Se o objetivo é ajudar alguém a superar seu problema de compulsão alimentar, então a questão principal é por que eles estão comendo compulsivamente agora. Em outras palavras, a questão importante é: o que está mantendo o problema alimentar deles? O que é mantê-lo? Uma questão separada é: o que começou a compulsão alimentar da pessoa em primeiro lugar?

Muitas vezes as pessoas procuram ajuda para problemas de compulsão alimentar muitos anos depois de terem começado a comer compulsivamente. Nesse caso, o que os levou a comer compulsivamente – digamos, quando tinham 15 anos – pode não ser relevante para eles agora, quando têm 25 anos. Então, do ponto de vista da superação de um problema de compulsão alimentar, a questão é o que está mantendo a pessoa comendo compulsivamente agora, e não por que ela começou a comer compulsivamente há muitos anos.

Fonte: encurtador.com.br/mBGLX

Os tipos típicos de coisas que mantêm os problemas de compulsão alimentar são os seguintes:

– Ter regras rígidas sobre o que se deve e o que não se deve comer. Isso torna algumas pessoas propensas a comer compulsivamente.

– Não comer o suficiente em geral. Isso torna um fisiologicamente propenso a comer demais às vezes.

– Ter dificuldade em lidar com estados de humor desagradáveis. Isso, como discutimos anteriormente, torna algumas pessoas propensas à compulsão sempre que se sentem mal consigo mesmas.

Também traz na entrevista quais as principais consequências da compulsão alimentar a longo prazo para a saúde. Diz que não há efeitos adversos da compulsão alimentar em si, mas se alguém comer demais regularmente, corre o risco de desenvolver obesidade. Isso tem muitas consequências adversas para a saúde, como todos sabemos. O outro problema associado é se alguém purgar – isto é, vomitar ou tomar laxantes – após a compulsão alimentar, então a purga tem efeitos adversos na saúde.

Há boas evidências pesquisadas de que certos tipos específicos de terapia têm um efeito marcante nos problemas de compulsão alimentar. Da mesma forma, há certas evidências de que certos tipos de outras terapias são menos eficazes. Portanto, é importante obter o tipo certo de terapia.

Existem duas principais terapias baseadas em evidências. A primeira é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a segunda é chamada de Terapia Interpessoal. Ambas as terapias são bem conhecidas e bem testadas.

Em relação à tratamento medicamentoso, comenta que para pacientes com bulimia nervosa os medicamentos antidepressivos podem ser benéficos. Foi demonstrado que essas drogas reduzem a frequência de compulsão alimentar (e purgação), embora muitas pessoas não parem completamente. Os efeitos benéficos das drogas antidepressivas na bulimia acontecem quer a pessoa esteja ou não deprimida no humor – em outras palavras, não é necessário se sentir deprimido para necessariamente se beneficiar.

Deve-se acrescentar que não se sabe muito sobre quanto tempo dura o efeito benéfico das drogas antidepressivas em termos de seu efeito na compulsão alimentar. Em contraste, está bem estabelecido que os efeitos das duas psicoterapias que mencionadas anteriormente são, na maioria dos casos, duradouras.

Os objetivos prioritários do tratamento são que o paciente ganhe controle sobre a sua dieta, que as cognições sobre peso, silhueta e imagem corporal sejam modificadas e que as mudanças sejam mantidas a longo prazo.

A responsabilidade pela mudança é sempre do paciente, por isso lhe é atribuído um papel ativo. O terapeuta tem o papel de motivar, apoiar e fornecer informações e orientações.

A compulsão alimentar é um grande desafio, mas não é impossível vencê-lo. O primeiro passo é reconhecer o problema e buscar o tratamento adequado.

Fonte: encurtador.com.br/jBJP5

Referências:

MEDICINE NET. Compulsão Alimentar – Um bate Papo com Dr.Christopher Fairburn. Disponível em: https://www.medicinenet.com/script/main/art.asp?articlekey=56553. Acesso em: 12/05/2022.

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Interfaces da Anorexia no filme “O Mínimo para Viver”

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Restringir a alimentação ou passar por períodos de compulsão e purgação podem ser sinais de um transtorno alimentar. Se não tratados, os distúrbios alimentares podem ter efeitos devastadores na saúde mental e física do indivíduo.

“O Mínimo para viver”, tradução do filme “To the Bone”, é um filme lançado na Netflix em 2017 que mostra a história de Ellen sobre a luta contra a anorexia e o sofrimento que surge com esse transtorno alimentar.

O filme conta que Ellen abandonou a faculdade e está lutando para concluir o tratamento hospitalar para seu diagnóstico e, como resultado, volta a morar com o pai e a madrasta. A história segue Ellen através de seu processo de tratamento, que é auxiliado por familiares próximos, amigos e terapeutas que querem ajudá-la a continuar progredindo nessa busca pela cura. Este filme captura o impacto psicológico que a anorexia pode ter na pessoa e também na sua rede de apoio. Ele fornece uma visão sob a ótica do paciente, e seus pensamentos e sentimentos experimentados durante o diagnóstico e o tratamento do transtorno.

Após diversas internações e tratamentos frustrados Ellen conhece o médico Dr. William Beckham (Keanu Reeves), famoso pelo seu método nada comum de tratar doenças como a dela. Depois de se convencer que o tipo de tratamento que ele oferece é sua melhor e talvez até sua última opção, Ellen começa a frequentar a clínica de Beckham, um lugar diferente, mais confortável e com ares de lar, onde ela divide o teto com outros seis pacientes.

A trama demonstra a complexidade da doença, e todas as nuances que a envolvem. Não se trata apenas de voltar a se alimentar normalmente. Como em uma relação de causa e efeito, outras enfermidades podem surgir em decorrência da anorexia, desde o mal funcionamento de órgãos à osteoporose.

A decepção consigo mesma é repetidamente vivida no corpo, entre comer e vomitar, controlando severamente e castigando seu corpo nos exercícios doloridos, para conseguir um pouco de alívio no seu sofrimento psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/finLP

A Anorexia Nervosa (AN) é um transtorno alimentar (TA) caracterizado pela auto-inanição, ou seja, é a própria pessoa provocar um estado de debilidade extrema por falta de alimentação que leva o corpo a consumir os seus próprios tecidos para obter as calorias necessárias para se manter vivo, degradando órgãos, músculos e gordura corporal. Se caracteriza também pela preocupação exacerbada da forma física e um medo extremo de comida.

A Anorexia Nervosa tem sido associada a vários fatores de risco e manutenção de transtornos. Os fatores de risco são quaisquer situações que aumentem a probabilidade de ocorrência de uma doença ou agravo à saúde. Os fatores de manutenção predizem persistência de sintomas versus remissão ao longo do tempo em indivíduos já sintomáticos para um transtorno.

Em algumas cenas durante o filme, Ellen contava as calorias presentes na comida que estava em seu prato além de mostrar ela fazendo abdominais e medindo o braço para verificar se ela conseguia fechar a mão ao redor do bíceps. A menção ao uso de laxantes também aparece, além de mostrar a rotina da instituição na qual ela estava fazendo tratamento, com altos e baixos, recaídas e a real dificuldade do tratamento.

Estas cenas demonstram como a anorexia não só reflete na saúde física de alguém, como impacta muito a saúde mental do indivíduo, e tal fator é determinante no curso da doença. Como citado anteriormente, além da alteração física, há o medo de ganhar peso e alteração da imagem corporal e da consciência sobre o transtorno. Os pensamentos a respeito do problema influenciam fortemente na manutenção do transtorno, pois a pessoa se olha no espelho e enxerga alguém gorda ou que não está suficientemente magra, e não há evidências externas que façam a pessoa se convencer do contrário.

Nesses casos a tendência de o sujeito com anorexia falar que está com tudo sob controle ou de negar a doença é alta. Geralmente a busca por tratamento acontece já em um estado avançado e os prejuízos já estão muito acentuados.

O filme também enfatiza como é essencial a participação da família na prevenção e no curso do tratamento. É importante que os familiares estejam alinhados sobre o transtorno para o sucesso neste processo.

No caso da família da personagem principal, o filme mostrou as dificuldades que eles tinham de lidar com o transtorno. A mãe não suportou o quadro da filha e fez com que Ellen se mudasse para a casa do pai o qual é ausente e aparentemente irritado, tenta constantemente se manter alheio de todas as situações, encontrando pretextos para não se encontrar com a filha e não comparecer à terapia familiar.

A madrasta e a irmã são as mais presentes e as que mais encorajam o tratamento de Ellen, porém ambas (assim como a mãe também), fazem menções inadequadas que atingem ela, como por exemplo falar constantemente sobre como sua aparência está, e falas que não contribuem como  “coma Ellen” e “se você morrer eu te mato”.

Fonte: encurtador.com.br/uwDGQ

A Terapia Cognitivo Comportamental tradicionalmente se concentra em relatos baseados em sintomas, sugerindo que tanto o controle quanto a supervalorização do peso e forma física mantêm a AN. A TCC se baseia em dois princípios: o primeiro diz que nossas cognições têm influência sobre o nosso comportamento; o segundo refere-se ao fato de que o modo como agimos afeta nossas emoções e pensamentos.

Algumas características em relação à AN podem incluir: perfeccionismo clínico, baixa autoestima, intolerância ao humor e dificuldades interpessoais como focos adicionais de tratamento.

O tratamento pode conter diversas complicações, com probabilidade de recaídas, já que o fator psicológico tem muita influência, como ilustrado no filme. Utilizando técnicas cognitivas e comportamentais, a TCC busca aumentar a motivação para a mudança, aumentar diretamente o ganho de peso ao mesmo tempo em que aborda preocupações com peso e forma e se prepara para contratempos para manter os ganhos obtidos a longo prazo. A TCC também é importante para o trabalho da imagem corporal e dos padrões estéticos que são muito elevados nas pessoas com AN.

Dentre alguns objetivos, levar o paciente a desenvolver um padrão regular e flexível de alimentação é um grande passo na recuperação da saúde e bem estar deste indivíduo. E este resultado está intimamente ligado ao surgimento de um indivíduo com capacidade de tomar consciência, dar sentido, regular, aceitar, expressar e transformar a experiência emocional, usando-a de forma flexível e adaptativa para se conhecer, buscar formas saudáveis de agir consigo mesmo, nos seus relacionamentos e no mundo.

FICHA TÉCNICA

Título: O Mínimo para Viver
Dirigido por: Marti Noxon
Data de Estreia: 22 de janeiro de 2017
Duração: 107 minutos
Classificação: 14 anos
Gênero: Comédia/Drama
País de Origem: EUA

REFERÊNCIAS

NARDI, Helena Beyer; MELERE, Cristiane. O papel da terapia cognivo-comportamental na anorexia nervosa. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 16, 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452014000100006. Acesso em: 31/05/2022.

VTM Neurodiagnóstico. Tratamento para anorexia e o filme “O Mínimo Para Viver”. Disponível em: https://vtmneurodiagnostico.com.br/cine_psiconeurologia/tratamento-para-anorexia-e-o-filme-o-minimo-para-viver/. Acesso em: 2/06/2022.

DESENVOLVIVER. O mínimo para viver: conscientizações e problematizações. Disponível em: https://desenvolviver.com/psicoterapia/o-minimo-para-viver-conscientizacoes-e-problematizacoes/#:~:text=%E2%80%9CO%20m%C3%ADnimo%20para%20viver%E2%80%9D%20%C3%A9,a%20realidade%20que%20este%20mostra.. Acesso em: 02/06/2022.

FRONTEIRAS PSICOLOGIA. Anorexia Nervosa e um Eu Emocional Perdido: Uma Formulação Psicológica do Desenvolvimento, Manutenção e Tratamento da Anorexia Nervosa. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2019.00219/full#F1. Acesso em: 31 mai. 2022.

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Tratamento padrão ouro nos transtornos alimentares

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É uma ilusão achar que os Transtornos Alimentares estão limitados a pessoas obesas ou pessoas muito magras. Os distúrbios alimentares podem ocorrer em pessoas com um peso adequado, e alguns sinais e sintomas apresentados podem incluir comer escondido, sentir-se culpado após as refeições, possuir sensação de inadequação social e apresentar várias tentativas fracassadas de dieta.

Os transtornos alimentares podem ser definidos como um padrão ou hábitos alimentares inconsistentes ou distúrbios contínuos no padrão alimentar que muitas vezes levam a consequências perigosas, tanto em termos de bem-estar físico quanto mental de uma pessoa, e seus efeitos podem ser catastróficos.

Um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento dos TA´s são dietas restritivas que podem piorar o quadro de obesidade pelo chamado efeito rebote, onde o indivíduo adquire uma obsessão por comida, passando grande parte do seu tempo pensando nisso.

Os transtornos alimentares geralmente apresentam as suas primeiras manifestações na infância e na adolescência. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4,7% dos brasileiros sofre de distúrbios alimentares, mas na adolescência esse índice chega até a 10%.

Em tempos da cultura do espetáculo, através das redes sociais, o apelo social dos padrões de beleza, as dietas e as fórmulas milagrosas podem deixar as pessoas mais vulneráveis a desenvolver problemas nesta área. Em muitos casos, a pessoa não imagina que tem um problema.

Fonte: encurtador.com.br/prCT0

Resumidamente, os principais transtornos alimentares presentes são:

Anorexia: Ou anorexia nervosa, é um distúrbio no qual a pessoa vê seu corpo sempre com excesso de peso, mesmo que ela esteja claramente com baixo peso ou desnutrida. Existe um medo intenso de ganhar peso e uma obsessão para emagrecer, sendo a sua principal característica a rejeição a qualquer tipo de comida.

Bulimia: É caracterizada por episódios frequentes de compulsão alimentar, nos quais há um consumo de grandes quantidades de comida, seguido de comportamentos compensatórios como forçar o vômito, usar laxantes ou diuréticos, ficar sem comer e praticar exercícios em excesso para tentar controlar o peso.

Compulsão Alimentar: Um dos indicativos são episódios frequentes de comer exageradamente, mesmo quando não se tem fome. Existe uma perda do controle sobre o que se comer, mas não existem comportamentos compensatórios como vômitos ou uso de laxantes.

Ortorexia: É a preocupação exagerada com o que se come, levando a uma obsessão para sempre comer de forma certa, com alimentos saudáveis e extremo controle de calorias e qualidade.

Pica: É a ingestão persistente de substâncias não nutritivas, que não são alimentos e não têm valor nutricional, como terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro e fezes de animais.

Transtorno de Ruminação: A pessoa com esse transtorno regurgita repetidamente os alimentos tê-los ingerido, normalmente todo dia. Ela não tem nenhuma sensação de náusea nem ânsia de vômito involuntária. É possível que a pessoa mastigue novamente o alimento regurgitado e, depois o cuspa ou o engula novamente.

Fonte: encurtador.com.br/xHQR6

A utilização da terapia cognitivo-comportamental (TCC) em transtornos alimentares foi apresentado pela primeira vez por Fairburn em 1981. Seu foco era utilizar técnicas para ajudar os pacientes a terem maior controle comportamental sobre a alimentação, para auxiliar a mudança de atitudes em relação aos hábitos alimentares, ao peso e à imagem corporal (NUNES; ABUCHAIM, 2008).

Atualmente a TCC é reconhecida como a psicoterapia mais eficiente (padrão ouro) no tratamento dos transtornos alimentares. Ela trabalha com intervenção semi estruturada, objetiva e orientada para metas que aborda fatores cognitivos, emocionais e comportamentais.

De maneira geral o objetivo da TCC nos transtornos alimentares é diminuir os pensamentos negativos sobre a autoimagem corporal e a sua relação com a comida, e aumentar a capacidade dos pacientes de tolerar os mesmos, buscando possíveis alterações comportamentais e reduzindo os episódios compulsivos e outros sintomas associados.

Fonte: encurtador.com.br/hFS14

A TCC parte do princípio que o sistema de crenças de um indivíduo exerce um papel importante no desenvolvimento de seus sentimentos e comportamentos. Assim sendo, os pacientes com TA apresentam crenças distorcidas e disfuncionais acerca do seu peso, formato corporal, alimentação e valor pessoal, e estas crenças são significativas para a manutenção dos transtornos.

Uma das crenças nucleares distorcidas mais presentes nos pacientes é a que o seu valor como pessoa está inteiramente ligado a seu peso e formato corporal, deixando de lado ou não valorizando outros indicadores. Para pacientes com TA a magreza estaria associada à competência, superioridade e sucesso, estando intimamente ligado com a autoestima e autoconceito.

O sistema distorcido de crenças pode ser perpetuado em consequência de várias formas disfuncionais de raciocínio. Uma das tendências frequentemente encontradas é a de prestar atenção somente nas informações que confirmam suas crenças, ignorando ou distorcendo os dados que poderiam coloca-las à prova.

Fonte: encurtador.com.br/qILTW

Para modificar o sistema de crenças a TCC se utiliza de diversas técnicas. Uma delas consiste em ensinar o paciente a identificar pensamentos que possam ter alguma distorção. Em seguida ele é incentivado a analisar todas as evidências possíveis disponíveis que possam confirmar ou refutar o pensamento distorcido, fazendo com que ele se torne mais funcional. Uma variabilidade de estratégias pode ser usada para facilitar a modificação das crenças, por exemplo, o desenho da imagem corporal e a exposição gradual do corpo permitem que o paciente modifique suas crenças de que está gordo e de que será rejeitado em função disto.

Nesta abordagem são realizados trabalhos de flexibilização das crenças disfuncionais dos pacientes, através da reestruturação cognitiva e resolução de problemas. São utilizadas atividades com aplicações práticas, como metas pontuais e recompensas, dentro do contexto do tratamento.

É importante que os pacientes com transtornos alimentares tenham claro que o peso real não é o problema, mas, sim, questões importantes de crenças e estratégias que estão mantendo o transtorno alimentar. Um dos principais pontos para a eficiência do tratamento é a participação e o compromisso do paciente com a terapia, enfatizando as expectativas positivas do processo terapêutico e seus resultados.

REFERÊNCIAS

ALMEIDAB, M. D. E. P. E. D. M. Terapia cognitivo-comportamental dos transtornos alimentares. Rev Bras Psiquiatr 2002;SP, v. 24,p. 49-53, dez./2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/CJKXBkfr6wBxGV4t7zL4w9J/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 27 abr. 2022.

KERBER, A. B. M. D. L. F. I. A INFLUÊNCIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA: Unisul, Florianópolis, 2005. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/20195/1/TCC%20finalizado%20Anna%20e%20Isa.pdf. Acesso em: 27/04/2022.

MÜLLER, Lilian. CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA ANOREXIA NERVOSA. Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, dez./2005. Disponível em https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/4971/TCC%20Lilian%20Muller.pdf?sequence=1. Acesso em: 21/04/2022.

VEJA. De ruminação a compulsão: os transtornos alimentares que afetam os jovens. Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/de-ruminacao-a-compulsao-os-transtornos-alimentares-que-afetam-os-jovens/. Acesso em: 27 abr. 2022.

R7. OMS alerta que cerca de 10% dos jovens brasileiros sofrem de distúrbios alimentares. Disponível em: https://www.folhavitoria.com.br/saude/noticia/08/2020/oms-alerta-que-cerca-de-10-dos-jovens-brasileiros-sofrem-de-disturbios-alimentares. Acesso em: 3 mai. 2022.

CLAUDINO, J. C. A. A. M. Trantornos Alimentares. Braz. J. Psychiatry, SP, v. 22, dez./2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/P6XZkzr5nTjmdVBTYyJVZPD/. Acesso em: 27/04/2022.

TUA SAÚDE. 7 Principais Trantornos Alimentares. Disponível em:  https://www.tuasaude.com/principais-transtornos-alimentares/. Acesso em: 21/04/2022.

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Um panorama geral sobre transtornos alimentares

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Quando a comida faz o papel de vilão na vida de uma pessoa, e ela tem uma relação disfuncional com o ato de se alimentar, algo pode estar muito errado. Não sejamos ingênuos de achar que os transtornos alimentares são somente preocupações com comida e peso.  Na maioria das vezes é um panorama muito mais amplo do que isso.

Os transtornos alimentares (TA) fazem parte da categoria dos transtornos psicológicos que são caracterizados por distúrbios graves e persistentes nos comportamentos alimentares e pensamentos e emoções angustiantes associados ao comportamento de comer. São frequentemente associados a preocupações com comida, peso ou forma, ou com ansiedade sobre comer e as consequências de comer certos alimentos. Mas além disso, são condições complexas que começam a partir de uma combinação de fatores comportamentais, emocionais, psicológicos, interpessoais e sociais de longa data.

Os tipos de transtornos alimentares incluem compulsão alimentar periódica, anorexia nervosa, bulimia nervosa, e patologias ligadas como ingestão alimentar restritiva e uso de métodos inadequados para manutenção e perda de peso, além da prática de exercícios físicos de forma compulsiva. Esses comportamentos podem ser conduzidos de maneiras que se assemelham a um vício.

Fonte: encurtador.com.br/myCHW

O comer transtornado (CT) abarca todo tipo de comportamento alimentar disfuncional ou que possa ser conceituado como não saudável, tendo grandes chances de desenvolver um TA, como por exemplo dietas restritivas, uso de medicamentos para o controle de peso, jejum prolongado, utilização de substitutos para refeições como shakes ou suplementos, ingestão muito baixa de alimentos ou outros tipos de comportamentos que têm como objetivo reduzir a quantidade de alimento consumido e o controle de peso de forma problemática. O comer transtornado (disordered eating) pode aumentar a probabilidade de desenvolvimento de TA, visto que ele apresenta particularidades parecidas dos transtornos alimentares, o que muda é a frequência e gravidade dos sintomas, que são diminuídos.

Os transtornos alimentares são condições muito graves que afetam a função física, psicológica e social, e abrangem até 5% da população, na maioria das vezes se desenvolvem na adolescência e na idade adulta jovem (de 12 a 35 anos). Normalmente estão mais relacionados às mulheres, mas todos estes comportamentos podem ocorrer em qualquer idade e afetar qualquer gênero.  Nos últimos anos, tem-se observado o aumento do número de homens acometidos, embora a proporção estimada seja de um para cada 10 casos.

Fonte: encurtador.com.br/jmJQX

Geralmente ocorrem em conjunto com outros transtornos, como transtornos de humor e ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e problemas de abuso de álcool e drogas. As evidências sugerem que os genes e a hereditariedade desempenham um papel importante, motivo pelo qual algumas pessoas correm maior risco de apresentar em algum momento da vida um transtorno alimentar, mas esses distúrbios também podem afetar aqueles sem histórico familiar da doença. Pessoas que sofrem de uma dessas condições costumam usar a comida na tentativa de compensar sentimentos e emoções que, de outra forma, podem parecer esmagadores. Para alguns, fazer dieta, compulsão e purgação podem começar como uma maneira de lidar com emoções dolorosas e se sentir no controle de suas vidas. Mas, ao passar do tempo, esses comportamentos prejudicarão a saúde física e emocional deste indivíduo, sua autoestima e o senso de competência e controle.

A literatura traz algumas características de personalidade que podem ser percebidas nas pessoas que possuem algum TA. Estudos apontam que eles podem vir em forma de uma preocupação em excesso com a aprovação social, alterações na sua percepção corporal, tentativa de se encaixar nas expectativas dos pais, sentimento de vazio e sintomas depressivos. A hipervalorizarão da magreza na atualidade pode contribuir para sentimentos de depressão, culpa, raiva, estresse e insegurança nas pessoas menos confiantes que se percebem longe de um padrão socialmente valorizado do corpo ideal.

O DSM-5 traz como sinais e sintomas da anorexia nervosa por exemplo alguns critérios como a recusa em manter o peso corporal saudável, medo intenso do ganho de peso ou de se tornar obeso, ainda que esteja abaixo do peso, distorção na forma de perceber o corpo e o peso, ou negação da seriedade da atual perda de peso. Em mulheres, consideram-se como critério diagnóstico a ausência de menstruação e restrições alimentares com um padrão alimentar atípico e extrema perda de peso, induzida e mantida a todo custo, além de um medo intenso de engordar. Já para a Bulimia Nervosa incluem episódio de compulsão alimentar seguido de comportamentos compensatórios (episódio bulímico). Desse modo, a preocupação excessiva com relação ao controle do peso corporal conduz a uma alternância entre uma ingestão excessiva de alimentos e vômitos autoinduzidos, ou até uso de métodos purgativos, como estratégias compensatórias para o grande volume de alimentos ingeridos (Associação Americana de Psiquiatria, 2003).

Fonte: encurtador.com.br/fxIMX

Como os transtornos alimentares têm causas multifatoriais, e levando em consideração a complexidade dos transtornos, tanto no início dos sintomas como na manutenção do quadro como um todo, o tratamento dos TA deve envolver uma abordagem multidisciplinar, envolvendo nutricionista, endocrinologista, psicólogo e psiquiatra. O tratamento deve abordar complicações psicológicas, comportamentais, nutricionais e outras complicações médicas. A ambivalência em relação ao tratamento, a negação de um problema com a alimentação e o peso ou a ansiedade sobre a mudança dos padrões alimentares não são incomuns, mas com técnicas comportamentais o paciente pode começar a perceber algumas mudanças, como maior controle da ansiedade, diminuição dos sintomas, maior auto controle, diminuição do sentimento de culpa, desenvolvimento de estratégias para lidar com as crises, melhora da autoestima, equilíbrio do peso e a mudança na relação com o ato de comer e com o corpo, deixando de enxergar a alimentação como vilã e fazendo as pazes com o comportamento de comer.

O tratamento deve ter como objetivo restaurar a nutrição adequada do paciente, e a compulsão e o exagero devem ser reduzidos de forma que o hábito alimentar do paciente se torne algo prazeroso, sem culpa e, principalmente, saudável.

REFERÊNCIAS

Comer transtornado e o transtorno de compulsão alimentar e as abordagens da nutrição comportamental. Revista Interciência, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/Cxfh6QpdC9cM57xLsQZjFfv/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 04/04/2022.

Aconselhamento em saúde: fatores terapêuticos em grupo de apoio psicológico para transtornos alimentares. Estudos de Psicologia, 2014. Disponível em: file:///C:/Users/Usuario/Downloads/302-Texto%20do%20artigo-1229-1-10-20210713.pdf. Acesso em 05/04/2022.

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O Corpo Fala: sinais físicos de problemas mentais

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A sociedade contemporânea está habituada a identificar sinais grotescos e agressivos de distúrbios mentais e problemas psicológicos. Automutilação, ingestão demasiada de remédios, desânimo excessivo são as “condições” mais comumente associadas a presença de problemas mentais.

Porém, existem sinais sutis – ou não – de que o indivíduo vem enfrentando fortes batalhas internas e que, muitas vezes, sequer possuem conhecimento de sua existência.

 Obviamente estes sinais não são exclusivos de uma peculiaridade psicológica. Por exemplo, a obesidade que possui grandes fatores genéticos que, acompanhados de uma mente cheia de traumas, pode agravar a condição física do indivíduo.

A compulsividade alimentícia é sempre associada há algum distúrbio, mas também pode ter conexão com algum trauma, uma experiência agonizante que levou o sujeito a buscar refúgio e compensação no alimento.

Fonte: encurtador.com.br/etxz9

Além da obesidade, a calvície é uma outra condição sutil que pode trazer mais que uma condição genética no seu desenvolvimento. Uma pessoa depressiva, que ignora os cuidados básicos de higiene, por nítida ausência de interesse com o autocuidado, agrava a perda de cabelos.

Mas, não são somente condições genéticas que escondem a presença de problemas psicológicos, muitas vezes estados emocionais intensos passam desapercebidos pelos olhos desatentos da grande massa, porém, em alguns casos, os ombros caídos e rosto maltratado vão além de um dia intenso e exaustivo de trabalho.

As marcas de choro copioso, nem sempre estão ligadas ao luto, término, perda. O sorriso também tem se tornado um grande “ofuscador” de problemas, posto que algumas pessoas desenvolveram a capacidade de utilizá-lo com maestria para esconder a dor que carrega consigo.

Tem se tornado cada vez mais crescente aquelas pessoas que não pertencem a nenhum grupo social, comumente denominados de “excluídos”, estes, de tanto sofrerem, criaram mecanismos de defesa psicológica, onde entendem que a ausência de relacionamentos resulta na ausência de sofrimento. A indiferença é sua arma principal.

Os traumas muitas vezes dão sinais sutis e pouco perceptíveis, mas estão todos lá, alguns em grande escala, outros impossíveis de serem “identificados a olho nu”, mas é sempre importante ter em mente que o corpo fala.

Nosso corpo é dotado de mecanismos orgânicos e extremamente avançados que nos apresentam os indícios de perturbação física e psicológica.

Infelizmente, alguns desses sinais foram ignorados, outros tidos como fraqueza e tantos outros como virtudes, o que, ao logo dos anos se tornou difícil não só para desconstituição de sua imagem, mas também o tratamento coletivo.

Comportamentos destoantes da vida em sociedade, que remontam a selvageria de outrora dos instintos indomados, atreladas à instabilidade psicológica resulta em estados mentais peculiares e perigosos. A criação de mecanismos agressivos de defesa, por exemplo, é, muitas vezes, uma resposta comportamental a algum abuso psicológico sofrido pelo agressor.

Fonte: Google Imagens

Isto posto, deve sempre se buscar uma conexão entre corpo e mente, sempre para que possa ser possível compreender os sinais e buscar, o quanto antes, o tratamento adequado, seja físico ou psicológico.

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A pandemia aumentou a compulsão por doces?

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Quem não gosta de um doce? Para a maioria das pessoas, é algo que proporciona prazer. Porém, o exagero pode indicar um transtorno alimentar. Infelizmente, muita gente tem passado dos limites, como foi apontado pela pesquisa da Fiocruz feita em parceria com a UFMG e a Unicamp.

Entre outros indicadores, o estudo mostrou que, entre abril e maio de 2020, quase metade das mulheres está consumindo chocolates e doces em dois dias ou mais por semana. Esse aumento representa 7% a mais do que antes da pandemia.

Inserido no Código Internacional de Doenças (CID), a compulsão alimentar é um transtorno caracterizado por uma perturbação persistente na alimentação e no comportamento que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete a saúde física, social ou emocional.

A pandemia foi um gatilho para quem já possuía um transtorno alimentar e viu o agravamento da doença. Mas outras pessoas desenvolveram o transtorno devido aos fatores emocionais relacionados à crise sanitária.

Fonte: encurtador.com.br/pqsBX

Os doces provocam a sensação de bem-estar decorrente da liberação de serotonina presente no alimento, o que explica a compulsão. É compreensível nesse momento, já que a imposição do isolamento social trouxe severas crises de ansiedade, estresse e depressão.

No entanto, não é saudável pensar que o chocolate serve apenas como um alento, trazendo bem-estar. O excesso prejudica o corpo de maneiras físicas e psicológicas. Vale lembrar que os brasileiros já consomem três vezes mais doce do que o recomendado, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Médicos e nutricionistas apontam que o açúcar, mesmo em pequena quantidade, ativa mecanismos dentro do seu corpo que não se restringem apenas à obesidade ou alergias alimentares, mas podem também alterar o sistema imunológico e prejudicar nossas defesas. Psicologicamente, a compulsão pode afetar a qualidade de vida.

Alguns sinais da compulsão alimentar envolvem comer mais rápido que o usual ou até se sentir desconfortavelmente cheio, comer grandes quantidades na ausência da sensação física de fome e até sentir desgostoso de si mesmo depois de comer.

O recomendado é procurar um psiquiatra e iniciar sessões de psicoterapia. O tratamento deve ser feito por uma equipe de assistência multidisciplinar composta por nutricionista, psicóloga e educador físico. É importante ainda trabalhar o autoconhecimento e buscar entender como a ansiedade, decorrente da compulsão, está afetando sua qualidade de vida.

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O Pequeno Príncipe e as bases da Gestalt-Terapia

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Com uma trilha sonora à base de composições do aclamado Hans Zimmer, O Pequeno Príncipe (versão de 2015) repagina a clássica obra do francês Antoine de Saint-Exupéry, ao narrar a estória de uma garota (Mackenzie Foy) que se muda com sua mãe (Rachel McAdams) para um dado setor da cidade – cujo traçado, do alto, provavelmente de forma proposital, lembra os circuitos de um computador -, e acabam por ter como vizinho um piloto idoso (Jeff Bridges) que tenta a todo custo fazer decolar um velho avião estacionado no quintal.

O filme é marcado inicialmente por três traços que saltam aos olhos: a tendência da mãe obsessiva-compulsiva em hiper-racionalizar a vida da filha, criando uma rotina exaustiva e com pouco contato afetivo; uma criança com a infância negligenciada, que vive as projeções da mãe; e um idoso com fantasias que pululam a imaginação – que poderia ser rapidamente associadas a traços de psicose.

A trama começa de fato a se delinear a partir de um acidente provocado por uma das muitas tentativas de o piloto idoso decolar o avião. A hélice se desprende do mesmo e acaba atingindo a casa das novas vizinhas. A criança é tomada de profunda curiosidade e, então, inicia um lento e frutífero contato com o vizinho. Aos poucos, a garota vai entrando no universo de fantasias do piloto, num cenário que recria a trajetória do Pequeno príncipe. Neste ínterim, a mãe insiste em manter a rotina da garota, que aos poucos se distancia do agendamento cotidiano e começa a experimentar uma vida minimamente parecida com um ideal infantil.

O filme aborda algumas das teses centrais da Gestal-Terapia. Como mãe e filha compunham um núcleo narcísico – isoladas do mundo –, aos poucos a garota foi arrastada pela necessidade de relacionar-se com o mundo, com o outro, a partir do conceito de contato. Isso ocorre porque, na visão de Perls, o ato de relacionar-se é algo inerente à condição humana, sob pena de sua ausência criar sérias restrições psicológicas ao sujeito. No entanto, como bem explicita o filme, este contato nem sempre ocorre de maneira fluída e rápida. Cada pessoa possui uma “fronteira de contato” que delimita a interação entre a dimensão interna (subjetividade) e a dimensão externa (meio). Uma coisa é certa, e fica clara no filme: o contato, quando ocorre de modo autêntico, provoca mudanças profundas nos sujeitos. É deste contato que surge a possibilidade de ajustar-se criativamente. Configura-se mesmo como elemento de cura para eventuais desajustes.

Há, portanto, um paradoxo: ao mesmo tempo em que o ser humano necessita de contato para suprir necessidades psicológicas e também biológicas, ele é contingenciado por uma separação visceral. Em Gestalt-Terapia, este fato é comumente associado às células do corpo, que estão em constante processo de troca de moléculas com o meio, em que pese a sua individualidade. Essa troca, no entanto, para que supra as necessidades básicas, deve ocorrer de modo satisfatório. Psicologicamente falando, sem o contato não se obtém as condições necessárias para viver como ser humano.

Na fronteira de contato há o aprendizado que lança o sujeito para a vida. A interação sob a forma do Eu-Tu, onde de fato dois sujeitos se permitem ser “tocados”, afastando a tendência à coisificação da relação, é base para que se possa haver um encontro profundo. No filme, a relação com ausência de afeto e excesso de racionalidade entre mãe e filha é marcada por Eu-Isso, numa troca em que, sobretudo, a mãe objetifica a filha, que claramente é representada como uma projeção de seus desejos. A relação Eu-Tu só começa a ser estabelecida quando a criança se permite (por estar propensa a julgar menos que um adulto) a se aproximar do piloto idoso e, à sua maneira, entender o seu mundo. Nasce então uma amizade balizada pelo coração, com uma linguagem marcadamente afetiva.

O ápice do filme ocorre quando, já transformada pelo contato com o idoso, a criança acaba por influenciar a mãe, que reavalia suas estratégias de atuação e, por fim, também é impactada pela dinâmica.

Por fim, o filme tem forte pegada humanista e existencial (duas das bases da Gestalt-Terapia) ao enfocar questões como medo, alienação, amor, amizade, esperança e projetos de vida. Desta forma, toda a obra mostra uma virada rumo à tomada de consciência, num percurso marcado por incertezas, fantasias, curiosidade e abertura para o novo, cujo processo revela uma das facetas mais belas da condição humana: a capacidade de reinventar-se e lançar-se para o futuro.

Referências

FRAZÃO, Lilian Meyer. Gestalt-terapia. Fundamentos Epistemológicos e Influências Filosóficas. São Paulo: Summus, 2013 (versão e-Pub Amazon).

Resenha do filme O Pequeno Príncipe (2015). Disponível em <: http://www.redecanais.com/o-pequeno-principe-dublado-2015-1080p_0687893a2.html >. Acesso em 05 de dez. 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

O PEQUENO PRÍNCIPE

Diretor: Mark Osborne
Elenco: Rachel McAdams, Jeff Bridges, Marion Cotillard, Riley Osborne;
País: Canadá; França
Ano: 2015
Classificação: Livre

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Ninfomaníaca I e a Terapia de Sentido

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Ninfomaníaca (2013), de Lars Von Trier, é sem dúvidas um filme perturbador. Uma característica marcante é a sexualidade explícita: nudez, masturbação, orgasmo, excitação, penetração, sexo oral, etc. O filme se inicia com Joe (Charlotte Gainsbourg) abandonada em um beco escuro, inconsciente, cheia de hematomas. Ao vê-la, um homem chamado Seligman (Stellan Skarsgard) a conduz para sua casa, onde presta assistência e, assim, começam a dialogar.

Joe então narra, repleta de culpa, a relação que desenvolveu com o sexo. Sua primeira experiência de descoberta com seu corpo foi aos 2 anos, quando conheceu sua vagina; depois, esfregou sua genitália no chão do banheiro; aos 15 anos, tinha um só objetivo: perder a virgindade. E o fez, com um mecânico, Jerônimo. Depois da experiência considerada por ela humilhante, jurou a si que nunca mais transaria com ninguém – o que durou pouco tempo. Numa viagem de metrô, competiu com sua amiga para ver quem faria sexo com o maior número de homens. O prêmio seria uma caixa de chocolate. Joe perdeu. Todavia, a partir dali, percebeu o poder de atração e/ou sedução que, como mulher, possuía.

Fonte: http://zip.net/bltCjL
Fonte: http://zip.net/bltCjL

Não tinha habilidades nem experiência profissional (trabalhou, inadequadamente, como secretária), a relação com a mãe era conflitante e, aparentemente, seu pai era a sua fonte de vínculo afetivo com a família. Passou a fazer parte de um grupo feminino, regido por regras claras: “não transe com um cara por mais de uma vez”. O lema era a luta contra o amor, que para elas, não passava de nada além da luxúria. Só que um ideal como esse era difícil de ser seguido para sempre.

Algumas se apegaram aos parceiros sexuais, chegaram a dizer que “o ingrediente secreto para o sexo é o amor”. Todo esse contexto de desconfiança amorosa e de afastamento familiar favoreceu seu investimento libidinal na única origem de satisfação/prazer por ela conhecida: o sexo. E não somente. Passou a ser uma via de fuga, escape, novidade, desespero, exploração. O que pode ser corroborado no fato de Joe ter relações com vários homens num só dia, chegando a 10 (dez) ou 15 (quinze).

Diferentes termos têm sido usados para designar o impulso sexual aumentado, e os mais frequentes são: compulsão sexual, comportamento sexual compulsivo ou impulsivo, adição sexual, transtorno hipersexual e impulso sexual excessivo (SPIZZIRRI, 2015, p. 78).

Muitos estudiosos objetivam determinar os atributos que podem ser considerados para caracterizar o transtorno hipersexual e a maior parte dos teóricos testifica que há a possibilidade de a compulsão sexual ser detalhada pela complicação na regulagem dos pensamentos, ímpetos e ações sexuais que direcionam a uma dor individual relevante e, ainda, efeitos prejudiciais ao indivíduo e a outros (SPIZZIRRI, 2015).

Fonte: http://zip.net/bstC6P
Fonte: http://zip.net/bstC6P

Descrição que se encaixa com a realidade de Joe. Pois, apesar de ter desejado e ter sido desejada por diversas pessoas, sua vida continuava vazia e monótona, como testificado por ela. Ajudou a desfazer casamento, trouxe dor, mas permanecia indiferente. A busca por sensações ainda não experimentadas continuava. Por diversas vezes resumiu: “talvez meu único pecado tenha sido querer mais do pôr do sol”.

Sob a ótica da logoterapia, uma possível explicação para a experiência supracitada seria o fenômeno do vazio existencial que pode ser compreendido a partir da sensação de tédio (FRANKL, 1984) e pela “’neurose dominical’, aquela espécie de depressão que acomete pessoas que se dão conta da falta de conteúdo de suas vidas quando passa o corre-corre da semana atarefada e o vazio dentro delas se torna manifesto” (FRANKL, 1984, p. 132). Neste caso, o corre-corre pode ser substituído pelo fim da relação sexual.

Para Viktor Frankl, fundador da terapia de sentido, (p. 124, 1984): “a busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida“, ou seja, “cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida (…) Nisso a pessoa não pode ser substituída, nem sua vida ser repetida. ” (1984, p.133). Quando essa vontade de sentido não é satisfeita, consequências passam a existir. Um exemplo é a relação direta entre a falta de sentido e a energia direcionada a atividades prazerosas, visando a equivalência.

Fonte: http://zip.net/bktCWr
Fonte: http://zip.net/bktCWr

Existem ainda diversas máscaras e disfarces sob os quais transparece o vazio existencial. Às vezes, a vontade de sentido frustrada é vicariamente compensada por uma vontade de poder, incluindo sua mais primitiva forma, que é a vontade de dinheiro. Em outros casos, o lugar da vontade de sentido frustrada é tomado pela vontade de prazer. É por isso que, muitas vezes, a frustração existencial acaba em compensação sexual. Podemos observar nesses casos que a libido sexual assume proporções descabidas no vazio existencial (FRANKL, p. 132, 1984).

Num de seus empregos, Joe trabalhou com Jerônimo (sim, o mesmo da primeira vez), alguém que quando reconheceu, desprezou-o. Porém, com o decorrer do tempo, passou a nutrir sentimentos por ele – ela considerava amor. Quando foi se declarar, descobriu que o mesmo havia ido embora. Ficou em estado de choque. Passou um tempo sem conseguir fazer sexo com mais ninguém. No final, ela o encontra no jardim que gostava de ir durante as tardes. Ali, eles se encontram e vão para a casa de Joe. Apesar do desejo satisfeito, no meio da transa, ela começa a chorar: “eu não sinto nada!”. O vazio continuou.

Fonte: http://zip.net/bbtCK7
Fonte: http://zip.net/bbtCK7

Cabe ressaltar que não ficou claro qual situação gerou nela tanto arrependimento. O anfitrião fica, na maior parte do tempo, tentando mostrar à ninfomaníaca que ela não é tão ruim assim, que não é uma pessoa má. A mulher se acusa. Não aceita o rumo que sua vida tomou. No entanto, apesar de Joe apresentar a Seligman um pedaço da sua história, sua expressão facial ainda assim transmite uma impenetrabilidade desconcertante. Trata-se, portanto, de um filme instigante e que vale cada minuto dispensado.

.REFERÊNCIAS:

FRANKL, Viktor Emil. Em busca de sentido. 37° ed. Petrópolis: Vozes, 1984.

SPIZZIRRI, Giancarlo. Compulsão sexual: O impulso sexual aumentado pode acarretar como consequência comportamentos e/ou práticas sexuais excessivas, tanto em homens como mulheres. Psique Ciência e Vida, São Paulo, ed. 127, p. 78, 2015.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Ninfomaníaca-filme-

NINFOMANÍACA

Direção e Roteiro: Lars von Trier
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Stacy Martin, Shia LaBeouf, Stellan Skarsgård, Uma Thurman
 Ano: 2013
Países: Dinamarca, Suécia, França, Alemanha e Reino Unido
Classificação: 18
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