Evento do CAOS 2021 aborda acidente com Césio 137 em Goiânia

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Dentro da programação do Caos 2021 – Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (inscrições pelo site https://www.ulbra-to.br/caos), que ocorre entre os dias 3 e 6 de novembro próximo, haverá várias edições do Psicologia em debate, que será transmitido entre 14h e 17h do dia 03 de novembro de 2021, primeiro dia de programação.

Durante o evento serão exibidos vários documentários e curtas metragens sobre o tema do congresso, as exibições ocorrerão de forma simultânea em diferentes salas online via Google Meet, cada uma com capacidade para 100 pessoas e serão conduzidas por profissionais convidados que farão pontuações sobre o filme exibido além de proporcionar uma discussão sobre o tema.

Um desses documentários se chama O brilho da morte: 30 anos do césio 137, que será conduzido pela psicóloga Dra. Karine Wlasenko Nicolau e aborda o acidente com césio 137 que aconteceu em Goiânia em 1987. Além de trazer relatos das vítimas, e de várias pessoas que trabalharam no caso na época, o documentário mostra como eles sofrem até hoje, não só com as sequelas da radiação, mas também com o preconceito e descaso dos órgãos públicos.

Fonte: encurtador.com.br/lqtKX

O acidente com césio 137 aconteceu em setembro de 1987 em Goiânia, capital do estado de Goiás, Brasil. Um aparelho de radioterapia estava abandonado onde funcionava o Instituto Goiano de Radioterapia, e foi violado por pessoas que pensavam conseguir lucro com esse material e por falta de informação, seu conteúdo foi manuseado de forma indevida. O aparelho foi vendido para um ferro velho, e foi o dono desse ferro velho, Devair, quem começou a sentir os primeiros sintomas. Ao abrir a máquina ele encontrou a cápsula que continha césio em forma de pó, e ficou encantado com esse material pois o mesmo tinha uma cor azul forte que brilhava no escuro, daí veio a frase “eu me apaixonei pelo brilho da morte”. Por causa disso, fragmentos desse material foram repassados a parentes e amigos, e só depois de muitos dias e muitos deles se sentirem mal, o material foi levado a vigilância sanitária. O local onde funcionava a vigilância sanitária, hoje funciona o Centro de Assistência aos Radioacidentados.

O material foi levado em um saco de estopa, e todo o trajeto de 2km foi feito pelo transporte público. No mesmo dia foi confirmado que se tratava de material radioativo, mas os policiais mandados para interdição dos locais afetados tinham informações sobre um vazamento de gás apenas, muitos deles passaram mal assim que chegaram ao local. Jornalistas e algumas pessoas curiosas foram ao local sem nenhuma proteção, isso fez com que a contaminação fosse muito grande, e as autoridades tiveram que separar as pessoas contaminadas não só no hospital, mas no estádio olímpico da cidade, onde foram armadas tendas para abrigar a população, algumas pessoas em estado mais grave foram levadas para o estado do Rio de Janeiro. Além dessa providência de atendimento médico e quarentena, era preciso retirar todo o material radioativo e todo o material contaminado pela radiação, foram toneladas de material e para fazer isso empresas foram contratadas para ajudar os bombeiros locais. O problema é que os trabalhadores foram não foram avidados que se tratava de radiação, a informação que receberam foi a mesma dos policiais, que era apenas um vazamento de gás.

A falta de informação era um jeito de manter a imprensa longe, mas isso não durou muito, assim que um jornalista ouviu sobre o césio, jornais do muito todo foram a Goiânia noticiar o acidente. Além das mortes que acorreram na época, muitos dos bombeiros, policiais, mecânicos, médicos e enfermeiros que trabalharam no caso, começaram a apresentar sintomas apenas 10 anos depois, alguns morreram, outros ficaram deficientes físicos e muitos precisam de assistência até os dias atuais. Os custos com medicação ultrapassam um salário mínimo, apesar de que deveriam ser distribuídos gratuitamente, não é o que acontece na realidade. Os medicamentos são de cunho psiquiátrico muitas vezes, muitas pessoas afetadas pela radiação também sofrem com depressão, ansiedade e muitas outros transtornos psicológicos, muitos deles são excluídos até hoje por preconceito da população que os enxerga como transmissores de radiação. As pessoas precisam de atenção médica, psicológica e social, qual é o papel da psicologia nesse caso? Essa discussão será feita no psicologia em debate e será muito rica não só para os alunos, mas para os profissionais de psicologia que já atuam no sistema público.

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Maisa Carvalho: os impactos da Pandemia do Covid-19 e a atuação do Consultório na Rua de Palmas-TO

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“É preciso dar visibilidade ao nosso trabalho, porque isso é importante, não só o fazer, mas também é necessário visibilidade” – Maisa Carvalho Moreira

A pandemia do novo Coronavírus gerou impacto em todos os contextos vivenciados pelos brasileiros, inclusive os que estão em situação de rua, alguns órgãos públicos de alguns municípios levantaram medidas para evitar uma possível infecção nas pessoas que permaneceram nas ruas, sem uma forma eficaz de isolamento.

Nesta entrevista para o (En)Cena, a Assistente Social Maisa Carvalho nos traz um conteúdo muito enriquecedor acerca do trabalho com as pessoas em situação de rua e os desafios para atuar nesse contexto na pandemia. Ela é graduada pela Universidade Federal do Tocantins – UFT (2016), especialista em Gestão de Redes de Atenção à Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ (2018), especialista em Saúde Mental pelo Centro Universitário Luterano de Palmas e Fundação Escola de Saúde Pública, através do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental – ULBRA/FESP (2020), Responsável Técnica do Programa Piloto de Justiça Terapêutica do Tribunal de Justiça do Tocantins, atualmente atua na equipe de saúde Consultório na Rua e é pesquisadora nas temáticas voltadas para Saúde e Direitos Humanos: saúde mental, população em situação de rua e feminização de substâncias psicoativas.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena: Durante a pandemia como está sendo trabalhar com essas pessoas? Houve um isolamento inicial no Brasil inteiro, alguns municípios adotaram algumas estratégias para também evitar essa contaminação na população em situação de rua, como está sendo isso em Palmas?

A equipe faz orientações quanto as formas de prevenção além de articular com a rede quando surgem casos positivos para acompanhamento, além de haver propostas de um local de acolhimento que não sei exatamente como está o andamento.

Atualmente o atendimento continua in loco, com administração de medicação via oral ou intravenosa, avaliações clinicas pelo enfermeiro, atividades de promoção e prevenção em saúde, discussões de casos, articulações, visitas, acompanhamento em consultas, pedido de exames, etc. A mudança, porém é que não conseguimos estar transportando todos os pacientes devido ao risco mesmo, tanto para a gente como para eles. Não deixamos de transportar, no entanto se o paciente tem uma certa autonomia, se tiver passe livre, a gente prioriza encontrar no local do atendimento, mas sempre tem aqueles necessitam de um apoio maior.

Fazemos distribuição de máscaras de tecido seguido de orientações a respeito da transmissão e os serviços que devem buscar.

Basicamente o nosso trabalho em si ele não muda muito, muda nos serviços que são da saúde ou por serviços da rede intersetorial que atendem por agendamento, pois estão trabalhando com o número reduzido de profissionais em decorrência da Covid19, o que automaticamente também os números de pessoas atendidas reduzem. Aí dentro desse contexto a gente se adapta, liga, discute o caso, faz agendamento. Mas, não parou o funcionamento, não teve nenhum momento que esse atendimento parou devido a pandemia.

Fonte: encurtador.com.br/hwQ16

(En)Cena: Uma questão na qual muito tem se falado é sobre as pessoas em situação de rua que são imigrantes, como os venezuelanos; tem se visto muito nos sinais de trânsito da cidade, eles ficam com placas, geralmente levam crianças etc. Como funciona o atendimento a essas pessoas? O que se sabe sobre essas pessoas nesse momento em Palmas?

Os venezuelanos a princípio eram um público bem flutuante, eles iam e vinham. Não só em Palmas, mas no Brasil inteiro teve essa onda de imigração, e várias cidades receberam, vários estados receberam um número muito grande de pessoas da Venezuela. Aqui em Palmas agora tem um grupo fixo que já está morando, possivelmente vão continuar, próximo de 30 pessoas mais ou menos. Elas são assistidas também, pelo Consultório na Rua, pelos serviços de atenção básica, unidade de saúde… de que forma? Vacinação, consultas, disponibilização de insumos de higiene, máscara, álcool, sabonetes, pasta de dente. O acompanhamento depende da demanda, por exemplo, quando realizamos as visitas, a enfermagem observa as demandas de saúde e a partir daí nós articulamos com as unidades de saúde mais próximas. Uma vez, tinha uma criança com um furúnculo e nós levamos o caso para a unidade de saúde para realizarem uma visita com médico e/ou agendar consulta.

Eles estão ficando numa residência com propostas de ir para um outro local ofertado pelo município. Eles estão sendo assistidos pela saúde. Já foi realizado cadastramento de todos eles na unidade de saúde, todos têm cartão SUS. Todos eles têm CPF que foi um apoio do CREAS. Quanto as ações assistências não estou por dentro, mas quanto a saúde, não estão desassistidos.

 Quanto a questão de eles estarem nos semáforos com as crianças, pensa comigo, se você tivesse um filho e tivesse na situação deles, e fosse para a rua pedir algum dinheiro ou qualquer ajuda, sem ter onde deixá-los, o que você faria? Levaria com você né? Embora seja chocante ver essas pessoas com criança na rua, em pontos às vezes até em risco de atropelamento, que é uma realidade, é uma situação complicada. Inclusive, já discutimos isso em equipe sobre possíveis intervenções. A oferta de atendimento em saúde está acontecendo, quando eles precisam de qualquer demanda de saúde a gente pergunta, articula, fazemos o que está ao nosso alcance.

Fonte: encurtador.com.br/ryAVY

(En)Cena: Na equipe que trabalha com o consultório na rua não tem um Psicólogo.  Como é feito se eles precisam de um atendimento psicológico? A equipe já tem um preparo maior para as situações ali na hora e depois é feito encaminhamento? Como funciona?

Atendimento psicológico acontece nos demais serviços da rede, se for um caso mais leve o encaminhamento é para o NASF-AB, caso seja um caso mais complexo articulamos com os CAPS, visto que a equipe não dispõe de psicólogo. Há um acompanhamento mais de perto, quando os residentes passam pelo consultório na rua, pois consegue dar continuidade, visto que geralmente eles passam em torno de 4 à 8 meses, depende de como está a organização do Programa no momento. Mas é um profissional, que somaria muito se tivesse compondo a equipe, é uma categoria, que faz falta no nosso serviço.

(En) Cena: É um trabalho difícil nesse sentido, de articular muito, há um gasto de muita energia e tempo?

É desafiador, além de competência, o profissional precisa ter perfil

 (En) Cena: Poderia nos relatar alguma experiência, ou mais de uma, que tenha gerado um grande impacto em você, durante a atuação nesse campo?

Teve uma situação em que eu abordei um paciente que ele tem formação superior e ele está em situação de rua há muitos anos, e aí a gente o conheceu. Observei que ele tinha a escrita muito boa, conversava bem, muito esclarecido, um discurso muito bem organizado. Daí, conversando com ele em um acolhimento, tentando entender um pouco do histórico dele, perguntei porque que ele não voltava para casa, qual que era o motivo dele não retornar, talvez tentar reestabelecer essa vida que ele tinha. Ele olhou para mim e falou que ele tinha perdido a dignidade, se eu sabia o que que era perder a dignidade. Quando você perde a dignidade é algo que você não consegue acabar como se fosse a fome, “eu estou com fome, comi e voltou” e isso me marcou muito porque eu nunca tinha parado para pensar nisso. Às vezes, tem um problema você olha e você resolve, tipo, se eu estou desempregada eu vou trabalhar, é como se meu problema tivesse resolvido, eu estou doente eu vou cuidar da saúde, vou resolver. Mas quando eu me olho enquanto ser humano e vejo que eu perdi minha dignidade, por isso eu não consigo alçar voos maiores, isso é muito impactante. Esse paciente está em situação de rua por uma questão familiar. Ele não conseguiu se reestabelecer, está na rua e faz uso abusivo de álcool. Mesmo tendo formação, mesmo tendo todo um contexto, poderia estar em uma situação melhor do que está hoje. Mas que por diversos fatores, e segundo ele a da perda da dignidade, não se enxergava mais como um ser humano, isso é uma coisa que me marcou e eu segurei para não chorar, de verdade!

Fonte: encurtador.com.br/jvzN7

(En) Cena: Se você pudesse deixar algum recado, para profissionais e futuros profissionais, ou para a população em si qual seria?

Primeiramente eu convido os estudantes e acadêmicos, quem estiver finalizando para fazer a residência, em saúde mental especificamente, para passar pela gente, pelo Consultório na Rua, porquê é somente esse programa que permite viver essa experiência. A residência me abriu muito a mente, me permitiu me despir de muitos conceitos e muitos pré-conceitos. Quando você lida com outro em sofrimento psíquico, porque o uso de álcool e outras drogas traz também sofrimento psíquico… foi quando eu me tornei uma pessoa melhor de verdade. Não existe uma regra, mas para mim foi uma experiência muito positiva. Então, a primeira coisa é isso, faça uma residência, façam para saúde mental, conheçam os CAPS, conheçam o Consultório na Rua que vocês vão ter experiências ótimas, acredito que vão crescer muito profissionalmente e humanamente também.

Para os profissionais eu diria que a gente tem que ter muita empatia para trabalhar com os públicos vulneráveis. Eu trabalho com os moradores de rua, mas tem vários públicos vulneráveis. Acredito que quando a gente trabalha com eles precisamos nos despir, para entrar no mundo do outro. A saúde é isso, é tentar não medir a vida do outro com a minha régua, essa régua eu utilizo para medir a minha vida, nunca a do outro. Isso é a primeira coisa que a gente tem que pensar e colocar em prática, falar isso me emociona.

É preciso ter força, ter garra, porque não é fácil, o trabalho no SUS é lindo, mas ele é muito desafiador. A gente tem que ter muita força de vontade, precisa ter muita garra pra poder enfrentar e tentar desvendar e superar os desafios e os obstáculos que nos apresentam. Eu procuro sempre fazer isso em todos os locais que eu passo, tentar superar esses obstáculos. Não utilizar deles para estacionar, “não tem como, eu não vou fazer isso porque é muito burocrático”. Vamos superar, vamos tentar dar acesso. Porque se eu burocratizo aqui o meu trabalho, eu vou estar dificultando a vida de alguém, estar dificultando para que essa pessoa tenha uma qualidade de vida, tenha mais saúde, tenha mais acesso. É algo que é simples para a gente mas o pouco que fazemos faz muita diferença na vida do outro que a gente está atendendo ali.

Em relação à população e os serviços é preciso dar visibilidade ao nosso trabalho, porque isso é importante, não só o fazer, mas também é necessária visibilidade. Isso é importante tanto para as articulações em rede, quanto para o conhecimento do público que necessita do nosso trabalho.

REFERÊNCIA

SILVA, Tatiana Dias; NATALINO, Marco Antonio Carvalho; PINHEIRO, Marina Brito. População em situação de rua em tempos de pandemia: um levantamento de medidas municipais emergenciais. 2020.

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O câncer nunca espera

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A pandemia de Covid-19 mostrou de maneira clara e sem filtro as inúmeras mazelas da sociedade. No Brasil, muitos morreram, milhares ficaram doentes e tantos outros perderam seus empregos. Além disso, aqueles que já estavam doentes, ficaram sem poder se tratar adequadamente ou não puderam fazer exames de rotina.

Por exemplo, segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Patologia e de Cirurgia Oncológica, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer. Outros tantos pacientes, já com o tumor detectado, precisaram ter seus tratamentos suspensos. Cerca de 70% das cirurgias desse tipo de paciente, tiveram de ser adiadas.

Esses dados são resultantes dos cancelamentos ou remarcações de procedimentos considerados não urgentes, como, por exemplo, consultas e exames. Além disso, muitas pessoas ficaram com medo de consultar um médio ou buscar um hospital pelo receio da contaminação. Instituições importantes viram a queda de atendimentos durante o período, como o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

Fonte: encurtador.com.br/pEGJ9

Mas será que haverá outras remarcações? Dará tempo de resistir até lá? São questões que quem está com câncer se pergunta o tempo todo. Por exemplo, tive uma consulta que seria em dezembro, mas que foi remarcada. Ela seria importante, pois determinaria a mudança da hormoterapia, que funciona como uma quimioterapia oral que realizo todo dia, mas que tem tido baixa eficácia. Até quando vou precisar esperar? E outros pacientes na mesma situação, como ficam?

Para piorar a situação de inúmeros pacientes, devido ao medo do contágio do novo coronavírus, há médicos que preferem não tocar em pacientes quando fazem exames nesse período. Porém, isso é fundamental, já que precisam tocar na mama, na axila e outros pontos para identificar possíveis linfonodos (são gânglios linfáticos, que permitem a possível identificação ou piora da doença).

Fonte: encurtador.com.br/huDPR

É preciso ressaltar a séria preocupação com o Covid-19, no entanto, o câncer nunca estará em quarentena. Pelo contrário, a doença nunca espera. Quem está em acompanhamento, necessitando de exames de rotina para o rastreamento do câncer, que precisa fazer consulta de seis em seis meses, acaba entrando nessa estatística, ora pelas consultas remarcadas ora pelo próprio medo do coronavírus.

Não podemos reclamar o tempo todo da pandemia. Vale ressaltar que muitos problemas do sistema de saúde não são de agora. O que era deficiente só ficou pior com o aumento do contágio do novo coronavírus. Os pacientes não podem ficar de lado. Como já disse e reforço, o câncer não espera.

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