A espetacularização e o culto ao corpo na contemporaneidade

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A época em que vivemos caracteriza-se por uma sociedade cujos integrantes, em parte, estão bastante preocupados com seus corpos. Para sentir-se bem, é necessário ter o padrão de beleza considerado bonito e ideal. Os valores que antes eram importantes para a construção da identidade do indivíduo, são agora substituídos por padrões estéticos. Não é preciso mais ter cultura, ideologias, crenças, se você tiver um rosto perfeito, um cabelo bonito e um corpo escultural, é possível observar o deslocamento da moral. Caracterizamos aqui a personalidade somática do nosso tempo.

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O documentário “Tabu: cirurgias Plásticas” apresenta-nos ações praticadas pelos indivíduos na busca desse ideal de beleza. Quando falamos em atingir uma identidade corporal, falamos em “Bioascese”. É grande o número de pessoas que não estão satisfeitas com seus corpos, e que, portanto, estão fazendo tudo para alcançar o “corpo ideal social”, aderindo a cirurgias plásticas, rotinas de academia intensas, dietas rigorosas, produtos de estéticas, enfim, estilos de vida que possam propiciar um padrão aceitável para a sociedade homogeneizada.

Ter uma boa aparência se tornou sinônimo de sucesso social. Aqueles indivíduos que não se enquadram nesse novo e “único” modelo de vida passam a ser e sentirem-se excluídos e inferiorizados pela “massa dominante”. É importante destacar que no decorrer desse processo de adequação social estético, o núcleo da identidade do indivíduo vai sendo atingido e deteriorado cada vez mais. A preocupação em ser aceito é tão grande, que todas as outras faces que poderiam ser desenvolvidas e melhoradas são deixadas de lado, desinvestidas literalmente.

As consequências do ideal de corpo perfeito sobre a autoestima e a autoimagem dos indivíduos

Entende-se por autoestima, a auto-aceitação ou auto-rejeição que o ser tem de sua própria imagem. A autoimagem pode ser descrita como a percepção que o indivíduo tem sobre ele mesmo, e sobre os retornos referentes aos seus sentimentos e ações nas relações interpessoais por ele estabelecidas. (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010).

A aparência pessoal está intimamente ligada com a satisfação ou insatisfação da pessoa. Quando existe a satisfação com a aparência, a pessoa se gosta, se aceita, e ela só quer manter a sua auto-estima e auto-imagem, consequentemente a sua qualidade de vida. Quando existe insatisfação, a pessoa busca incansavelmente recursos da estética e nunca está contente com ela mesma, quando deveria tratar o seu interior. Nos dois casos, tanto da satisfação quanto da insatisfação pessoal, a pessoa busca pelos recursos da estética. (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010, p.1)

Diante disso, nota-se a importância de se ter uma boa aparência na sociedade atual, já que além de estar interligada à uma boa auto-imagem e consequente auto-estima, também tem sido um dos fatores facilitadores no estabelecimento de novas relações sociais.Buscando então um corpo ideal e uma imagem satisfatória, muitos indivíduos se submetem a procedimentos cirúrgicos estéticos, à utilização de cosméticos e a prática de exercícios pesados em academias (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010).

É válido ressaltar ainda a relação existe entre a auto-estima e autoconfiança, já que quanto maior for a autoestima da pessoa, maior será também a confiança que ela vai ter ao tomar suas próprias decisões. (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010).  Depreende-se então que na contemporaneidade, há uma busca por um corpo mais embelezado, decorrente da supervalorização de determinados padrões de beleza, estabelecidos pela própria sociedade. (SAMPAIO, FERREIRA, 2009).

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Fonte: http://migre.me/vpQ6u

O capitulo “O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais” do livro Corpos Mutantes, apresenta informações sobre a potencialização e a grande expansão do uso da imagem como fenômeno de conquista de vários objetivos, dentre eles os esportes corporais como o boxe, o MMA e esportes fisiculturistas. É evidente que atletas precisam e utilizam do seu corpo como objeto para conquistas de competições e de campeonato, consequentemente eles utilizam de varias técnicas para o aperfeiçoamento da condição física, estética e funcional do corpo. No texto escrito por Claudio Ricardo e Silvana Vilodre “O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficiente corporais” é retratado um pouco da história, bem como o desenrolar desse processo de potencialização corporal.

Há diferença na potencialização do corpo entre os atletas e pessoas amadoras. Os atletas buscam solidificação e resistência corporal, a fim de ter maior capacidade física, por exemplo, de levantar pesos, correr, saltar, entre outras modalidades, eles buscam apresentar maior condição física para executar os esportes com maior eficiência e qualidade. Já as pessoas amadoras buscam a prática de esporte como a musculação, apenas para um fim estético, raramente com exceções objetivando a saúde e o bem-estar. Portanto o desempenho e os ganhos entre as duas características são diferentes.

Dentro dessas performances afirma-se que “ainda que apanhar, bater e resistir, sejam atitudes vinculadas ao aprendizado pessoal do lutador e ao seu repertorio corporal, a preparação de seu corpo passa, também pela apropriação de conhecimentos tecnológicos e do nível de cientificização do seu treino” (NUNES, GOELLNER, 2007). Há portanto, um aprendizado corporal e significativo para a conduta do atleta, tanto dentro do ringue como fora dele. Esta preparação é capaz de mostrar ao atleta a capacidade de conseguir sofrer lesões; maior capacidade de suportar dores recorrentes de lesões devido ao grande esforço nos treinamentos; capacidade de adquirir maior resistência física, corporal e também psicológica; capacidade lhe dar com a pressão do esporte, do treinador, das dores constantes, do campeonato, do seu adversário.

Na construção muscular é apresentado diversas técnicas de aprimoramento no ganho de força e resistência física, objetivando a construção corporal do atleta lhe dando uma “identidade” como é o atleta dentro do esporte, se é forte o bastante para vencer uma possível lutar, a genialidade de utilização de técnicas, golpes, se seu corpo é tão esteticamente perfeito afim de intimidação, que se certa forma ele consiga “ostentar” com sua capacidade física, motora, técnica e corporal de atleta. Afirmam também que o confronto visual dos atletas antes da luta gera e expressam nos atletas atributos como força, concentração, fibra, coragem e destemor, sentimentos que na realidade eles precisam para conseguir derrotar o oponente e vencer a luta.

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Fonte: http://migre.me/vpPLQ

 O consumismo vem sendo uma marca registrada em todo o mundo, onde para ter o corpo desejado é preciso gastar com academias, suplementos, esteróides anabolizantes, personal trainner entre outros. O capítulo “o espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais”, tem como ponto de partida a forma como as pessoas se percebem em meio às outras:

A potencialização do corpo está na forma como percebemos nossas eficiências e deficiências mensuradas na contemporaneidade, através de nossa anatomia e contornos corporais. Julgamos a nós mesmos a partir de um referente corporal cuja  expressão primeira aproxima – se da potência, da jovialidade, da produtividade […] que marca os corpos a partir das performances cada vez mais aproximadas, demarcando sua aparição como um espetáculo a atrair e prender sobre si o olhar do outro. (NUNES, GOELLNER, 2007) 

Observa–se atualmente uma grande espetacularização do corpo, em prol da saúde, beleza ou por uma questão social. A mídia é um dos fatores sociais que vem exercendo grande influência na vida das pessoas, propagando um corpo a ser seguido e a ideia de que “somos o que aparentamos ser”.

Nota-se que na atualidade boa parte da juventude e adultos estão preocupados com a aparência física. Muitos passam a aderir a uma vida de alimentação saudável, frequentam academias e alguns usam o discurso que o faz em prol da saúde, mas na verdade seu objetivo real é o espetáculo do seu corpo. Esta espetacularização está presente em várias instâncias da vida das pessoas, como por exemplo nas redes sociais, como uma forma de propagação de seu desempenho.

Pensar, portanto, o esporte e a cultura física como instância sociais a produzir novas eficiências corporais significa analisar o quanto representações idealizadas de saúde, de beleza estética e de performance estão colaborando para designar, na atualidade, os corpos que não se ajustam a essas eficiências construídas por nossas culturas como sendo deficientes e, por consequência, hierarquicamente inferiorizados ante a expressão de tamanha perfectibilidade(NUNES, GOELLNER, 2007)

Diante de uma análise geral sobre o capítulo, sintetiza-se o seguinte: dois corpos que foram bastantes treinados, entram em uma disputa pelo espetáculo, espetáculo esse experimentado em forma de glória, que é proporcionado pela plateia.

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Fonte: http://migre.me/vpPYU

Os sujeitos fora do padrão de beleza dominante, são tachados como “doentes” mesmo que estejam em ótimas condições de saúde, apenas por terem outros tipos de beleza. A partir daí surgem os preconceitos, os desprezos, a falência da empatia, pelo outro que é diferente do resto. Toda essa compulsão por beleza traz sofrimento e frustração a todos nós. É triste perceber que de fato somos por “dentro” invisíveis, sendo o externo o que temos de mais importante e valorizado pelos outros.

REFERÊNCIAS:

Beleza, identidade e mercado. Psicol. rev. (Belo Horizonte) [online]. 2009, vol.15, n.1, pp. 120-140. ISSN 1677-1168. Acesso em: 08 set. 2016.

DANTAS, Jurema Barros. Um ensaio sobre o culto ao corpo na contemporaneidade. 2011. Disponível em: <http://www.revispsi.uerj.br/v11n3/artigos/pdf/v11n3a10.pdf>. Acesso em: 08 set. 2016.

FLORIANI, Flávia Monique; MARCANTE, Márgara Dayana da Silva; BRAGGIO, Laércio Antônio. Auto estima e auto imagem: A relação com a estética. 2010. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/FlaviaMoniqueFloriani,MárgaraDayanadaSilvaMarcante.pdf>. Acesso em: 08 set. 2016.

NUNES, Cláudia Ricardo Freitas; GOELLNER, Silvana Vilodre. O espetáculo do ringue: O esporte e a potencialização de eficiente corporais. In: SOUZA, Edvaldo. GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpos mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais. Porto Alegre: UFRGS, 2007. p. 55-71.

SANTOS, Verônica Moura; MEZZAROBA, Cristiano. A percepção da imagem corporal: algumas representações de corpo na juventude. 2013. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd182/a-percepcao-da-imagem-corporal-na-juventude.htm>. Acesso em: 08 set. 2016.

Tabu Brasil: Cirurgias Plásticas. Direção: Eduardo Rajabally. Coordenação de Produção: Luana Binta. National Geographic, 2013. 47’35. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7N9wVtONEMY>. Acesso em: 24 mar. 2016.

Fontes da imagem: <http://migre.me/vpP8K>, <http://migre.me/vpP9Q>, <http://migre.me/vpPam>.

 

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Uma estética para corpos mutantes: a produção artificial do homem

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O presente trabalho tem por objetivo discorrer sobre o tema “Uma Estética para Corpos Mutantes”, trazendo as concepções de Zygmunt Bauman e Guy Debord para tecer as reflexões acerca do tema. Cabe destacar, o enfoque para novas subjetividades construídas na contemporaneidade que supervaloriza o corpo, haja vista este ter se tornado o principal objeto de consumo. Observa-se, então, uma sociedade cujo satisfação dos impulsos são cada vez mais acelerada e qualquer descontentamento com o corpo, torna-se urgente a necessidade de correção, reelaborando e transformando em modelos idealizados, subjugando-os, ao espaço do espetacular.

A sociedade de consumo tem promovido na contemporaneidade o culto a beleza, cada vez mais observa-se pessoas em uma corrida desesperada atrás de corpos perfeitos, buscando a correção numa verdadeira metamorfose física do padrão ideal. Interpeladas por esses discursos, tem se buscado cada vez mais atingir esse ideal, através de cirurgias e implantes, utilizando a evolução das tecnologias médica como recursos que viabilizam essa forma de ser, na qual, segundo Couto (2007, p. 44) tem se fabricado o homem biônico, ou seja, verdadeiros robôs turbinados. Para Debord (1997), o espetacular define as características da sociedade atual, no qual tem se construído indivíduos impotentes, consumidos pelo ideal de consumo correndo atrás de garantir a satisfação da felicidade plena, no então, são frustrados pela impossibilidade de realizar seus desejos.

De acordo com Couto (2007), todos os aspectos da vida, na contemporaneidade, têm passado por uma “metamorfose”, a regra passa a ser tudo aquilo que é instantâneo e pronto para o uso imediato. A mídia, tem se mostrado o principal meio de propagação para a produzir esse estilo de vida, influenciando as pessoas a se render aos seus impulsos a qualquer custo e beneficiar dessas tecnologias que estão disponíveis para satisfazer os desejos de todos. Dessa forma, tem se fabricado hoje, uma sociedade que superestima tudo aquilo que é passageiro e instantâneo, haja vista a rapidez em que esses padrões são elaborados.

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Fonte: http://migre.me/voVHo

Em contrapartida, o corpo, não se limita apenas na aparência e a espetacularização, como esclarece Couto (2007), mas no desejo de aperfeiçoar e aumentar a potência de cada indivíduo por meio dessas tecnologias, promovendo dessa forma, “intensas confusões corporais entre orgânico e inorgânico, o natural e o artificio” (COUTO, 2007, p.45). O belo como condição para ser aceito e feliz vem a cada dia se reforçando na sociedade contemporânea. Tudo que é feio, frágil e deficiente é relegado ao campo da rejeição, haja vista a idealização ser um dos sintoma da atual sociedade que cultua a imagem corporal acima de qualquer outro valor, como citado nos poemas de Vinicius de Moraes, quando escreveu: “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental” (VINICIUS DE MORAES, 1959 p. 21).

Nas últimas décadas, as novas descobertas científicas tem reforçado a ideia do sonho da perfeição com promessas de correções cirúrgicas, cura de muitas doenças e a manutenção do vigor jovem. Em meio a tantas promessas e recursos, constrói-se então um imaginário que segundo Couto (2007), assegura de que só é feio e fora de forma quem quiser. Nesse sentido, tem se formado um novo modelo hegemônico para o estilo de vida contemporâneo que segundo Couto (2007, p. 42), é a “vida tecnocientífica”.

O autor afirma que através desse modelo no qual a saúde, juventude e beleza são os únicos meios para que o indivíduo conquiste o padrão adequado de ser, vem produzindo uma insatisfação no cotidiano das pessoas. As redes sociais e a mídia transmitem esses discursos que são incorporados pela massa, transformando a subjetividade e percepção das pessoas em um ideal nunca alcançado. Esses corpos inacabados sempre disponíveis a reforma, tendem a aumentar seus níveis de performance e padrões de eficiência, o corpo deve ser turbinado para acompanhar e atender as novas demandas de prazer e liberdade própria da atualidade, então, dessa forma, não cessa de crescer o investimento numa vida supostamente mais saudável, cada pessoa se torna vigilante em tempo integral do seu próprio corpo (COUTO, 2007).

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Fonte: http://migre.me/voWy5

Há portanto, um superinvestimento nos cuidados com o corpo e estilo de vida saudável e em contrapartida, não se calcula os riscos para atingir esse alvo, desejando-o a qualquer preço, colocando dessa forma, a vida em risco pelo sacrifício do ideal de beleza. Relacionando as ideias de Couto (2007) com os pressupostos de Bauman (2001), percebe-se que esse ideal preconizado pela sociedade de consumo contribui para o surgimento de sujeitos individualistas em busca de uma suposta liberdade e autonomia como característica central dessas novas subjetividades que vem sendo formadas.

Dantas (2005), também contribui com essa ideia, enfatizando que atualmente, as reações com o corpo são influenciadas por fatores socioculturais. Esses fatores, segundo Dantas (2005), na medida em que a mídia determina o modelo de corpo perfeito como a magreza para mulheres e para os homens um corpo forte e volumoso, conduzem as pessoas a apresentarem preocupações e insatisfação com a imagem corporal. Couto (2007), traz outra reflexão acerca dessa temática destacando que a integração entre tecnologia e o humano além de criar modelos idealizados proporciona a fabricação não mais do “homem artificial, mas a produção artificial do homem” (COUTO 2007, p. 47).

Dessa maneira, a fabricação artificial do homem, saiu da ficção literária e cinematográfica para ser popularizada com os laboratórios de Engenharia de Tecidos a partir do final de 1980, período que compreende fundamentalmente a engenharia de materiais e ciências biomédicas na produção de órgãos para substituição daqueles danificados. Acredita-se que em um futuro próximo, órgãos como fígado, rins, pulmão e coração, seja possível serem adquiridos com certificado de garantia – em perfeito estado de funcionamento (COUTO, 2007).

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Fonte: http://migre.me/voXp9

De acordo com Matos (2014), atualmente, a preocupação não é somente com a revitalização da aparência física e do processo de envelhecimento natural, Couto (2007), enfatiza que os cuidados com os órgãos internos, protegidos pela pele estão no rol de preocupação do sujeito contemporâneo, visto que “não adianta ter uma pele lisa e bem hidratada se por dentro os órgãos não funcionam como se gostaria […]” (COUTO, 2007, p.47).

Com o avanço biotecnológico, segundo Couto (2007), a medicina vai se dispor de várias alternativas, utilizando-se de tecidos e órgãos do próprio corpo do paciente, para reconstruir uma parte perdida ou sem funcionalidade, sem a apreensão da escassez de doadores e ainda sem riscos de rejeição de acordo com o experimento realizado no Brasil e com resultados satisfatórios.

[…] com o objetivo de ajudar um auxiliar de escritório de 37 anos, a recuperar os movimentos e a sensibilidade da mão direita comprometidos depois de um acidente doméstico. Com a ruptura dos nervos, o envio de estímulos nervosos para o cérebro foi bloqueado. A técnica utilizada consistiu na extração de células tronco da medula óssea do paciente, especialmente da bacia, que depois foram separadas em laboratório. Em seguida, com um tubo de silicone, os médicos ligaram as duas extremidades do nervo dividido. E injetaram as células tronco nesse tubo. O objetivo é que as células-tronco, em contato cm o nervo cortado, transformem-se em células nervosas e regenerem o nervo. (REIS, 2005 apud  COUTO, 2007, p. 49)

Nesse sentido, percebe-se que essas novas conquistas por um lado permitem a sobrevivência de muitas pessoas, por outro produz subjetividades que segundo Couto (2007, p. 49) “tornou o lugar ideal para todo tipo de experimento”, o corpo visto não apenas como objeto do consumismo, mas o lugar da autorrealização onde o sujeito exterioriza seus desejos e direciona seus investimentos.

A relação do corpo com a construção da identidade traz em seu bojo uma concepção que historicamente vem sendo entendido conforme a cultura, época e lugar em que os sujeitos se inserem. Influenciados pela arte, costume, crenças e valores o corpo tem mudado as formas de expressão e de valor por toda a humanidade durante muito tempo. Há um forte comercio por trás de todo esse trabalho que existe em torno da beleza e saúde corporal pregado pelas redes de comunicação de massa e que dão suporte a esse status do corpo ideal. “De um lado industrias, empresas, clínicas, laboratórios profissionais de diversas áreas, publicidade e muita mídia não cessam de exaltar a mutabilidade corporal como característica primordial na cibercultura” (COUTO, 2007, p. 49).

Manter o corpo em forma e a aparência jovem são características primordiais para o fortalecimento do eu nos dias atuais, mesmo que para alcançar esse desejo a carne seja remodelada com próteses naturais ou artificiais que permitem mudanças imediatas para correção das partes indesejadas ou defeituosas. Cabe, dessa forma, refletir quais são os principais beneficiadores desse tipo de subjetividade e indagar as imbricações desses aspectos da contemporaneidade trazendo questionamentos como, a quem estão atendendo as necessidades por manter um corpo perfeito? Entender que assim como qualquer outro tipo de mercadoria, o corpo também foi condicionado ao consumo baseado no paradigma do capitalismo.

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Fonte: http://migre.me/voYyT

Compreender que o corpo além de uma mercadoria de consumo, tornou uma obsessão que atinge cada vez mais pessoas em buscas desses padrões veiculados pela mídia que desperta o anseio pelo perfeito. Sendo, dessa forma, o corpo mais que o meio para alcançar a felicidade, ter um bom relacionamento, mas através dele permitir o sentimento de contentamento e afirmação de sua identidade.

Bauman (2001), destaca o surgimento de patologias como a depressão, solidão e sentimento de desamparo próprios do estilo de vida contemporâneo, haja vista a desumanização e o individualismo em que as pessoas vivem na atualidade. Bauman (2001), aponta ainda caminhos para que não apenas os modelos sejam descritos e constatados, mas através do pensar sociológico sejam criadas melhores alternativas que atendam às necessidades do indivíduo contemporâneo.

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

COUTO, Evaldo Sousa, Silvana Vilodre Goellner. Corpos Mutantes: Ensaios sobre novas(D) eficiências corporais. 1ª ed Rio Grande do Sul: Editora UFRGS, 2007.

DANTAS, Estélio H. M. Dantas. Pensando o Corpo e o movimento: 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora SHAPE, 2005.

DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro:Contraponto, 1997.

MATOS, C. L. A. A juvenilização do idoso na cultura de consumo: construção de identidades e culto ao corpo. 18º REDOR. Univ. Fed. Rural de Pernambuco: Recife, 2014.http://www.ufpb.br/evento/lti/ocs/index.php Acessado em 24/08/2016.

MORAES, Vinícios. Novos Poemas II 1949 – 1956. Livraria São José. Rio de Janeiro:1959. Disponível em: ftp://ftp.arcoiris-web.com. Acessado em: 09/09/2016.

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Corpus Ex-Machina: qual o limiar entre o humano e tecnológico?

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Com o advento da Globalização, os instrumentos criados pelo homem para realização de trabalhos manuais tornaram-se cada vez mais sofisticados, facilitando o distanciamento corporal no que diz respeito aos relacionamentos interpessoais. A discussão a ser feita, neste ensaio, é relacionada a mudança de comportamento dos seres humanos em decorrência da agilidade e do fascínio que as tecnologias nos proporcionam. O capítulo “CORPUS EX-MACHINA: Contatos imediatos porque mediados” de Vargas e Meyer retirado do livro “Corpos mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais”, organizado por Couto e Goellner, salienta um cenário onde as máquinas são uma extensão do homem para execução de atividades laborais.

O capítulo do livro utilizado como referencial para elaboração deste ensaio discorre a mutação constante do corpo através da utilização dos recursos tecnológicos. Explana, ainda, sobre transformações na vida social e nas experiências individuais que contribuem para a construção de subjetividade dos sujeitos. A comparação e correlação do homem com as máquinas vai além da facilitação de atividades e expansão privilegiada de soluções. A precisão maquinaria e tecnológica, leva o homem à uma busca similar de avanços de capacidade, a citada “ciborguização”. Isso leva o homem não só a interação tecnológica, mas a uma mudança de comportamento.

Desta forma, visamos comparar estes fatos à referências teóricas que relatem a problematização dessa fusão do homem com as máquinas e a mudança de significação do mesmo, além de detectar e pontuar questões importantes que ocorrem além do cenário hospitalar, mas como também em vários outros settings da vida do homem. Neste ínterim, apresentamos este ensaio com o objetivo de complementar e relacionar conhecimentos e discutir assuntos pertinentes ao capitulo “CORPUS EX-MACHINA: Contatos imediatos porque mediados”.

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Fonte: http://migre.me/vmhbx

O que é um ciborgue?

O texto de Vargas e Meyer, no livro Corpos mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais de Couto e Goellner (2007), apresenta o caso de uma “ciborguização” de uma enfermeira, integrante da equipe de atendimento da Unidade de Tratamento Intensiva. Primeiramente, é necessário definir o termo ciborgue (cyborg). Em termos gerais seria uma fusão do humano com a tecnologia, e, especificando, trata-se de um organismo que incorpora/incorporou uma estrutura cibernética a si mesmo. No que se refere a sua criação:

[…] o termo cyborg nasceu da contração de cybernetics organism e foi apresentado, também em 1960, por Manfred E. Clynes e Nathan S. Kline em um simpósio sobre os aspectos psico-fisiológicos do vôo espacial. Inspirados por uma experiência realizada nos anos 1950 em um rato, no qual foi acoplada uma bomba osmótica que injetava doses controladas de substâncias químicas, eles apresentaram a idéia de se ligar ao ser humano um sistema de monitoramento e regulagem das funções físico-químicas a fim de deixá-lo dedicado apenas às atividades relacionadas com a exploração espacial. (KIM, 2014)

Assim como um rato, os cientistas da época viram que o ciborgue seria um organismo mais aprimorado. Nisto, o ser humano com o seu corpo orgânico tão frágil frente às possibilidades e incertezas da natureza, poderia ser potencializado na tentativa de sair dessa perspectiva de submissão. Assim, Haraway (2000, p. 94) afirma que o ser humano híbrido tem suas funções supridas ou melhoradas através de mecanismos tecnológicos.

A partir desta premissa, é possível visualizar os avanços da medicina e bioengenharia a “favor” da saúde e da estética, pois propõe o uso de medicamentos, próteses, estudo do DNA, como formas de concretizar essa ciborguização do ser humano, de forma discreta e aceitável. Outro ponto de vista, ainda do termo referido, é a que foi exposta pelas autoras. No contexto hospitalar de UTI, tanto a enfermeira quanto os outros integrantes da equipe de atendimento se tornam cyborgs. São, não por possuírem uma parte física cibernética incorporada aos seus corpos, mas por utilizarem dos mecanismos tecnológicos e cibernéticos para sua atuação profissional, de forma que vão se mecanizando e não conseguem se dissociar destes.

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Fonte: http://migre.me/vmhK2

Além disso, a mesma tecnologia permite uma visualização high-tech (tecnológica avançada; de ponta) do corpo humano como também uma máquina, que possui estruturas decifráveis. E, portanto, pode ser investigado sem, necessariamente, ser de forma invasiva e sim simulada por um sistema informacional (cibernético). Como por exemplo:

Scanners, sistemas de ressonância magnética funcional, tomografia computadorizada dão acesso a imagens do interior do corpo. A partir de membranas virtuais, pode-se reconstruir modelos digitais do corpo em três dimensões, o que poderá ajudar os médicos em cirurgias. (Lima, 2005, p.05)

Vargas e Meyer sugerem “uma visão que concebe esse corpo, entre outras coisas, como um condutor ampliado de informação conectado a um complexo sistema computacional”, que se encontra dentro do contexto daqueles profissionais, cuja enfermeira faz parte: Reanimação de pacientes com Parada Cardiorrespitatória (PCR), precisam ser habilitados e rápidos, além desta visão.

Como ocorre a “ciborguização” dos profissionais de saúde

Dentro dessa mesma equipe os profissionais têm à sua disposição algorítimos, que de acordo com o Dictionary of Epidemiology de John Last (1983, apud Vargas e Meyer) significa: “qualquer processo sistemático que consiste em ordenar uma sequência de passos”, que também é sinônimo a protocolos clínicos. Estes direcionam o que os profissionais precisam realizar durante o atendimento de acordo com as situações peculiares de cada paciente. Ademais, os protocolos clínicos se utilizam de linguagem e siglas exclusivas dos profissionais habilitados. Desta forma, os profissionais da UTI precisam estar sempre bem treinados, à prontidão e corresponder aos protocolos indicados.

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Fonte: http://migre.me/vmgYJ

Por meio da tríade: informação – ser humano – máquina, aperfeiçoada no texto como “computador – profissional – equipamento”, há outra forma de enxergar o tema do texto “contatos imediatos porque mediados”. As autoras propõem que os termos: imediatos refere-se à rapidez do atendimento da equipe profissional, enquanto que mediados implica no serviço computacional (tecnológico) como mediador do atendimento entre o profissional e o paciente. Exemplificando no texto com o seguinte trecho:

[…] pela composição e treinamento de uma equipe preparada para agir com rapidez, os quais podem ser entendidos, nesse contexto, como sendo contatos imediatos. Já a programação de um sistema de monitoração que detecta e classifica precocemente o tipo de PCR, […] para oferecer todas as modalidades de atendimento possíveis a um/a paciente em PCR exemplificam, a priori, os denominados contatos mediatos. (VARGAS & MEYER, 2007)

O que propomos é repensar os contatos imediatos porque mediados, de modo que ao vocábulo “imediatos” pode ser pensada como a rapidez da informação, de como o sistema computacional proporciona agilidade no feedback para os profissionais (e pessoas). E em “mediados” como a mediação do ser humano entre a máquina (computador) e a informação. Fazendo, desse modo, jus à tríade citada anteriormente: “computador – profissional – equipamento”. É um panorama para acrescentar, como mais uma possibilidade de entendimento do texto. Foi formulada com base em alguns trechos, como:

Imediatos – “os humanos sempre tiveram associações íntimas com os dispositivos e tecnologias que eles/as construíram, mas nunca, antes, com tecnologias que operam à velocidade das novas tecnologias da informação” (GREEN & BIGUM, 1995, p. 230). E os mediados: “[…] a ciborguização da enfermeira intensivista, então, diz respeito menos ao conteúdo e à informação e mais ao estabelecimento ou à produção de novas relações entre conteúdo e informação” (VARGAS & MEYER, 2007, p.133). Esclarecendo, que se entendeu relações como um tipo de mediação elaborada pela enfermeira.

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Fonte: http://migre.me/vmgyt

E, a partir desses dois parâmetros ainda chegamos ao mesmo ponto: Qual o limiar entre o humano e tecnológico? Esta relação imediata e mediata faz cada vez mais o ser humano híbrido a máquina, a corporifica. De modo que não se consegue identificar a separação (se houver) do que é vivo com o não vivo. E, o sujeito se escandaliza ao perceber isto que lhe acontece. Nessa perspectiva, atentamos sobre a necessidade de refletir sobre o conceito de humano na contemporaneidade, no que ele é e pode deixar de ser (através da ciborguização). De acordo com o conceito de Heidegger (1973, p. 350 appud Lima, 2005), é preciso “meditar e cuidar para que o homem seja humano e não desumano, inumano, isto é, situado fora de sua essência” (p. 07).

Mudanças comportamentais decorrentes da mediação tecnológica

Os comportamentos e costumes dos sujeitos da sociedade pós-moderna sofrem imensas influências das descobertas tecnológicas que visam facilitar a vida destas pessoas. No ensaio “Corpus ex-machina: contatos imediatos porque mediados” a autora deixa claro ao narrar história de um acontecimento em um hospital médico cujas manifestações das ações dos sujeitos foram intensamente influenciadas e mediadas por tecnologias. Esta apropriação das tecnologias visando viabilizar uma maneira de realização de objetivos mais rápidos possuem diversas consequências, tendo como principal a desumanização das relações interpessoais.

Segundo Brocanelli (2011 p.2) o homem vive “em meio à multidão sem que lhe seja possível uma experiência autêntica”. Isto é, o ser humano, atualmente, tem a possibilidade de manter contato com diversas pessoas do planeta, de forma precisa e bastante rápida, todavia, deixando de lado as experiências que poderiam adquirir de forma empírica, mas agora obtendo-as ao conectar-se em rede.

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Fonte: http://migre.me/vmgtR

Esta escassez de experiências autênticas contribui para uma sociedade relativamente mecanizada, onde os seus habitantes estão atentos apenas àquilo que lhes é apropriado. Os momentos que foram perdidos, experiências que não chegaram a concretizar-se podem ser adquiridas sem gasto excessivo de tempo, apenas acessando redes computadorizadas que possuem todas as informações que necessitam. Benjamin traz uma reflexão sobre a perda destas experiências que

sempre fora contada aos jovens. De forma concisa, na autoridade da velhice, em provérbios; de forma prolixa, com a sua loquacidade, em histórias; muitas vezes como narrativas de países longínquos, diante da lareira, contadas a pais e netos; que foi feito de tudo isso? Quem encontra ainda pessoas que saibam contar histórias como elas devem ser contadas? Que moribundos dizem hoje palavras tão duráveis que possam ser transmitidas como um anel, de geração em geração? Quem é ajudado hoje, por um provérbio oportuno? Quem tentará, sequer, lidar com a juventude invocando sua experiência?. (BENJAMIN 1994, APUD, BROCANELLI, 2011 p. 6)

Do ensaio “Corpus ex-machina: contatos imediatos porque mediados”, pode-se trazer a interpretação não apenas contribuições negativas para essa mediação tecnológica, se for levado apenas em consideração da facilidade do tratamento biológico, porém a autora intensifica a crítica implícita da ciborguização da enfermeira como forma de enaltecer a pobreza de experiências dos valores humanos, resultado da apropriação dos mecanismos que agora, fazem parte do cotidiano dos sujeitos pós-modernos.

O cerne da ética estudada por Gadamer (1997), contribui para entendermos sobre a mediação dos comportamentos definindo que o homem não produz a si mesmo da mesma forma que produz as coisas úteis para sua vida. Baseando-se nessa ética, a tarefa mais importante na existência humana é a decisão ética, ao buscar respostas frente as diversas situações concretas. Frente a essas situações inesperadas o homem deve ter e manter uma atitude ética ao responder e, essa atitude não pode ser aprendida e nem pré-determinada pois depende da disposição humana.

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Fonte: http://migre.me/vmi3S

Do título “Corpus ex-machina: contatos imediatos porque mediados” também pode-se interpretar de outra forma: A mediação tecnológica dos contatos humanos. Isto é, as relações interpessoais foram “cristalizadas” e moldadas a partir da inserção do mundo tecnológico em nosso ambiente, assim como afirmado por Brocanelli (2011, p. 6-7)

se existe um objetivo nesse desenvolvimento, é formar e acomodar as pessoas em suas tarefas, uniformemente, sobrecarregando-as com atividades e sugando suas energias até que se acostumem em um ritmo que não provoque mudanças, mas as envolva na performance acelerada, reinando o tempo administrado sobre o tempo da alma, aprisionando-a.

Portanto, Gadamer (1997) ao defender que a experiência é um acontecimento que não se permite ser apossado por ninguém, não pode ser determinado quaisquer observações, pois na verdade nela tudo se ordena de forma incompreensível, destaca a importância da abertura à experiência e demonstra que a dialética desta se executa em tal abertura, sendo posta em funcionamento pelo próprio processo de experiência.

Conclusão

No texto de Vargas & Meyer é enfatizado sobre o desenvolvimento tecnológico que está inserido no ambiente hospitalar, sendo assim, os contatos imediatos de serviços realizados pelos profissionais da saúde aos pacientes são mediados por um sistema que necessita de uma tecnologia computadorizada. Para este contato ser bem-sucedido, é necessário que toda a equipe hospitalar seja capacitada para assim lidar com pacientes com PRC (parada cardiorrespiratória) sabendo desenvolver técnicas de RCR (reanimação cardiorrespiratória) em pouco tempo.

As enfermeiras são comparadas a ciborgues, pois estão cercadas de aparelhos tecnológicos. As enfermeiras intensivistas, são tidas como ciborgues de UTI, por utilizarem programas computacionais. Essas enfermeiras citadas no texto estão interligadas ao conteúdo e informações da tríade do sistema computadorizado. Se integram a máquinas por terem que corporificar tecnologia. Dessa forma, o corpo transmite mensagem ao monitor sendo a enfermeira intensivista uma condutora de um sistema computadorizado. O serviço que as enfermeiras se inserem, torna-as robotizadas, visto que os seus sentidos como a escuta, o olhar e suas formas de se deslocarem funcionam através dos comandos de máquina.

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Fonte: http://migre.me/vmipp

A questão da mediação do serviço utilizando os avanços tecnológicos nos faz pensar que outras formas de atuação no ambiente trabalho que não visem esse sistema computadorizado, seria uma quebra de paradigma muito grande, visto que o sujeito tornou-se totalmente dependente de uma máquina que orienta como desenvolver melhor o serviço. Conclui-se que é importante uma reflexão sobre se os nossos atos como seres humanos está nos tornando parecidos com máquinas, pois há outras formas de ser e viver que não depende somente de máquinas desenvolvidas tecnologicamente para prestar os comandos de serviço.

REFERÊNCIAS:

BROCANELLI, Cláudio Roberto. Experiência, formação humana e educação: reflexão a partir dos pensamentos de Walter Benjamin e Hans-George Gadamer. In: 3° CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇAO, 3., 2011, Parana: Uepg, 2011.

GADAMER, Hans-George. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

HARAWAY, Donna. Manifesto Ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do Séc. XX. In SILVA, Tomaz Tadeu (org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

KIM, Joon Ho. Cibernética, ciborgues e ciberespaço: Notas sobre como origens da cibernética é Sua Reinvenção cultural. Horiz. antropol. , Porto Alegre, v. 10, n. 21, p. 199-219, junho de 2004. Disponível em: < “http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832004000100009&lng=en&nrm=iso”>. Acessado em 07 de setembro de 2016

LIMA, R. L. A. Do corpo-máquina ao corpo-informação: o pós-humano como horizonte biotecnológico. Encontro anual da ANPOCS, 2005. Disponível em: < “http://www.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=3848&Itemid=318>. Acessado em 24 de agosto de 2016.

TEXEIRA, Ivana dos Santos; FRAGA, Alex Branco. Mutatis mutandis in corporae. Movimento, Porto Alegre, v. 14, n. 02, p. 233-238, maio/agosto de 2008. . Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/viewFile/5757/3366>. Acessado em 26 de agosto de 2016.

Vargas, M. A. Meyer, D. E. Corpus Ex-Machina: contatos imediatos porque mediados. In: COUTO, Edvaldo Souza; GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpos mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais. Porto Alegre, Ed. da UFRGS, 2007, p. 123-142.

 

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Videoinstalação como uma estratégia de narrativa corporal

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Atualmente, com base no que pode ser notado, percebe-se o quanto os meios de comunicações alcançam milhares de pessoas em um pequeno espaço de tempo, e como uma de suas consequências, induz o público a ser, pensar e agir a partir de um padrão que eles julgam o mais adequado. São pessoas que lutam contra a balança e o espelho constantemente, arriscam-se em dietas perigosas – disponibilizadas, intensa e qualitativamente, pela internet – vivem praticando exercícios físicos, buscam algumas vezes profissionais voltados a saúde física, e em casos mais extremos chegam a realizar cirurgias estéticas, mesmo sabendo que não precisam ou não podem no momento, mas sentem sede de poder, o mais rápido possível, alcançar o peso e o corpo ideal.

A influência midiática sob o corpo visual humano está cada vez mais forte e arraigada na nossa cultura, uma vez que pouco se têm consciência acerca dos males que isso traz e sobre a sua real finalidade, compra-se e usa-se sem um por quê individual. Isso é completamente notório em crianças, por exemplo, que desde cedo já acreditam que o padrão da boneca Barbie é o bonito, que falar em beleza é fazer referência a ela, e isso acaba por refletir em si quando os próprios pais inferem brutalmente no vestir-se de seus filhos, quando as meninas usam maquiagem e anseiam pelas roupas que são vendidas pela mídia.

Quando não se tem consciência dos males causados pelos padrões sociais a tendência é existir uma sociedade cada vez mais doentia e frustrada, que não conhece seus próprios limites e quer sempre mais, várias patologias então passam a se desenvolver de acordo com que o magro e o objeto vendido se tornam belo, e o que passa disso é anormal, automaticamente rejeitado; têm-se adoecimentos pelas duas esferas: no excesso e na falta.

O destaque que está sendo dado ao corpo humano em nossa sociedade atual tem gerado diversas discussões e reflexões de diversos autores, a apresentação do corpo na arte videográfica é o tema abordado em um dos capítulos do livro de Danillo Barata “Corpos Mutantes”, que em suma fala da fusão entre a arte e a tecnologia que por sua vez proporcionou o surgimento da videoarte que em seus primórdios foi o pontencializador das performances. Nos anos 60 e 70 a inquietação dos artistas tomados pela chamada antiarte, despertou novas maneiras de redefinir a estética e a instituição da arte através do corpo.

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Fonte: http://migre.me/vkoZs

Para fazer uma análise mais detalhada sobre o corpo é preciso entendê-lo como um corpo histórico, que segundo Barata (2009, p. 107) é o corpo que assume um lugar de acontecimentos e é fruto das transformações culturais, sociais, econômicas e estéticas. Na contemporaneidade podemos observar claramente as influências e destaques que o corpo vem recebendo principalmente no universo da moda e da publicidade. Os padrões estéticos ditados ao homem ocidental vão muito além do que somente o modo de se vestir mais também interferem na construção social do corpo. Em tempo algum se viu tanta banalização com o corpo, tantas dietas, exercícios físicos, tratamentos cirúrgicos e outras formas de se alcançar o corpo ideal que muitas vezes é inalcançável.

Dantas (2011, p. 4) afirma que este é um tema de fundamental importância para a Psicologia, pois o corpo se tornou centro de preocupação e investimentos no contexto atual. Barata (2009, p. 106) complementa esta ideia afirmando em seu trabalho que esta preocupação em atingir os padrões que a moda e a publicidade imporam geram um vazio que pode aumentar a insatisfação do homem moderno. Sendo assim este tema gera um possível campo de intervenção da psicologia.

Dentro das esferas públicas as regras e metas a serem alcançadas para um bom convívio social, e para alcançar a aceitação e admiração de todos tem se tornado cada vez mais cruéis. Barata (2009, p. 108) em sua obra relata um exemplo de totens midiáticos que exibiam modelos vigorosos de homens e mulheres em televisores na entrada de uma loja de roupas. As pessoas que ali entravam buscavam a aceitação através dos expositores daquela loja.

Os meios para conseguir o “corpo perfeito” vão desde academias com diversas atividades físicas, cosméticos “milagrosos”, dietas “infalíveis” a modificações corporais advindas de cirurgias plásticas. Sendo o homem contemporâneo mais imediatista, a segunda opção ganha mais destaque. No início do século XX as mudanças corporais partiam do externo, o uso de espartilho por exemplo, porém, nos anos 90 as cirurgias plásticas se popularizaram, dando inicio as modificações internas de forma desenfreada. Ter um corpo “jovial”, seios “siliconados”, uma pele “perfeita” se tornou mais simples e acessível, sendo essa prática não só restrita aos adultos, “…a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica apresenta uma estimativa de que cerca de 130 mil crianças e adolescentes submeteram-se no ano de 2009 a operações plásticas” (CAMARGO, 2012).

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Fonte: http://migre.me/vkqzV

Segundo a ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery) o Brasil no ano de 2013, foi o numero 1 em cirurgias plásticas, totalizando 23 milhões de operações realizadas. Logo, o que se têm atualmente, é uma busca incessante para ter um corpo segundo os padrões videográficos, recorrendo a diversos recursos estéticos e assim, “os desfiles parecem não se resumir apenas às passarelas dos grandes eventos de moda, mas invadem também as ruas e avenidas…” (BARATA, 2009, p. 110).

Danilo Barata traz em seu ensaio, algumas imagens de corpos nus, masculino e feminino. Através das imagens que foram mostradas do seu trabalho, foram formados discursos sobre conceitos morais e o que realmente poderia ser designado como o corpo perfeito. A promessa atraente de um corpo ideal e as possibilidades de adiar a velhice, ter o corpo esbelto, vêm cada vez mais conquistando milhares de pessoas. A mídia, os cientistas, em todos os meios, traz essa possível realização da tal juventude deseja.

Esse corpo inacabado considerado como um objeto sempre disponível a reformas devem aumentar os seus níveis performáticos. Para vencer os perigos crescentes de tornar-se obsoleto, o corpo deve ser continuadamente turbinado para acompanhar a sofisticação das máquinas, atender as novas demandas de prazer e liberdade próprios da atualidade (SANT´ANNA, 2001).

O propósito de ter um corpo nomeado como perfeito, vem acompanhando a modernidade, o vicio de mudar o corpo em movimento, a busca incansável e cada vez mais precoce, requer uma conduta de disciplina rigorosa, envolvendo alimentação e disposição física.

Em diversas ocasiões passa de um processo sadio para um ato de doença. O atual momento é o que glorifica o emagrecer, e em contrapartida existe uma sociedade que se torna cada vez mais obesa. Uma sociedade que exalta a beleza física, e considera-se saudável apenas pela aparência. Conforme assegurou Barata, “podemos disfarçar as inscrições dos acontecimentos na superfície da pele. Mas por trás do aparente, dentro de nós, estão todas as marcas, sofrimentos e alegrias perdidas, imperfeições e incompletudes que traduzem o que somos” (Couto, 2003, p.133 a 148).

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Fonte: http://migre.me/vkrMP

Para Bauman (2011), a preocupação com o corpo não está relacionada com saúde, mas com a forma física.

Diferentemente da saúde, que pode ser identificada como normal ou anormal, a boa forma não pode ser mensurada e quantificada; é pertencente à individualidade do sujeito, o qual está fadado a jamais atingir o nível desejado de perfeição em relação ao seu corpo. Sempre é possível receber novas sensações, e o Mercado está empenhado para oferecer o maior número e as mais variadas possibilidades de prazeres e sensações corporais (BAUMAN, 2011, p. 157).

A forma física “não conhece limite superior; na verdade, ela é definida pela ausência de limites – mais especificamente, por sua inadmissibilidade” (BAUMAN, 2009, p. 122). Não há meios em que possa separar o estético da saúde, mas a sociedade está vinculada a essa necessidade constante de mudanças, que abusa dos limites do próprio corpo. Danillo Barata, em sua amostra, conseguiu demonstrar através de fotografias e vídeos, o corpo real. A mudança constante do corpo, causando impacto a todos os participantes do evento.

É possível perceber que durante a pesquisa do autor Danillo Barata, que a ênfase dada ao corpo humano na atual sociedade, principalmente quando se trata do universo da moda e publicidade, onde o corpo é o principal instrumento de trabalho e é necessário ser “perfeito”, constitui-se um objetivo de frequente reflexão e pesquisa artística. Esses padrões ditados por esse universo da moda e publicidade vão além do que a pessoa deve ou não vestir, comer ou não comer e interfere na construção social do corpo, fazendo com que o homem se torne escravo da sociedade de consumo desenfreado onde é possibilitado às pessoas a construção de uma imagem ideal onde se encaixe nos padrões atuais.

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Fonte: http://migre.me/vku88

Dentro da esfera pública do mundo moderno, é possível observar que ser uma pessoa notada e consequentemente admirada, tem se virado um alvo a ser alcançado e quem não se adéqua a esses padrões e exigências desse universo de beleza, não alcançam aceitação e admiração sendo seguidamente excluídos. Beleza, vigor, juventude. Em torno desses vetores são elaborados os discursos e os modelos do corpo considerado perfeito. Para atingir os padrões de perfeição, cada vez mais o corpo vital se alimenta com técnicas estimulantes capazes de construir e acentuar os traços tidos como graciosos, a resistência e a aparência sempre jovem e saudável. De diversas maneiras, é necessário acelerar o organismo, extrair dele mais movimento e prazer. É preciso testá-lo, perseguir o máximo de rendimento, superar obstáculos, romper limites, quebrar recordes (Couto 2002).

O uso do corpo como meio de expressão artística tende hoje a retomar as pesquisas das artes no caminho das necessidades humanas básicas. A forma de se expressar através da mídia e fotografias, que permitiu o rompimento de valores pictóricos, revelaram a dinâmica moderna e suas mudanças. Buscou-se entender e dialogar e compreender através das imagens, os medos e revelações do universo moderno. Segundo Milton Santos (2002, p.21): “Esse momento no qual vivemos, para repetir Chesnaux, é de uma sociedade sincrônica, integral, na qual o homem vive sob a obsessão do tempo, sociedade essa que é, ao mesmo tempo cronofágica.”

A abordagem do corpo no decorrer da pesquisa de Danillo Barata, direcionou sempre ao desejo, e à busca de sua identidade. Por fim, foi constatado que o corpo é uma fonte inquietante e transversal de comunicação, sendo palco de apresentações e de celebrações na cultura ocidental, ampliando o sentido do fazer artístico e trabalhando as potencialidades dos novos meios.

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, Z. Vida em Fragmentos: sobre a ética pós-moderna. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, pag. 157. 

 

BAUMAN, Z. Vida Líquida. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, pag. 122.

 

COUTO, Edvaldo Souza. Corpos interditados: notas sobre anatomias depreciadas. Em STREY, Marlene Neves e CABEDA, Sonia T. Lisboa. Corpos e Subjetividades em Exercício Interdisciplinar. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2004, pp. 133-148.

 

DANTAS, Jurema Barros. Um Ensaio Sobre o Culto ao Corpo na Contemporaneidade. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/8342/6136/>

 

SANT´ANNA, Denise. Corpos de passagem: ensaios sobre a subjetividade contemporânea. São Paulo, Estação Liberdade, 2001.

 

CAMARGO, Orson. “Mídia e o culto à beleza do corpo”; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/a-influencia-midia-sobre-os-padroes-beleza.htm>. Acesso em 06 de setembro de 2016.

 

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O corpo e a expressão videográfica: Mídia, mídia minha, como faço para ter uma barriguinha?

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O livro Corpos Mutantes mostra como a partir do culto pelo corpo, o homem busca modificá-lo. As tecnologias surgem então como um meio para satisfazer esta necessidade, de forma cada vez mais radical, através de cirurgias, como meio para atingir uma melhor saúde ou mesmo na busca pela beleza (Oliveira, 2011). Dito isso, o presente ensaio focará no capítulo “O corpo e a expressão videográfica: a videoinstalação como estratégia de uma narrativa corporal”, por Danillo Barata.

Raramente, nota-se o real significado do corpo, tanto nos dias atuais como em décadas passadas. O corpo vai muito além de uma estrutura óssea e muscular. Através dele é possível identificar traços de personalidade, sentimentos referentes à alegria, tristeza, ansiedade e assim por diante. A representação do corpo possui múltiplos significados. Significados esses profundos e complexos que constantemente são encobertos para que o seu mecanicismo seja evidenciado. Para tanto, a mídia, principalmente, impõe padrões de beleza e formatos de corpo, induzindo as pessoas a procurarem por transformações corpóreas, fortalecendo os modismos da atualidade.

Padrões de beleza que vivem em constante mutação se apoderam do homem, sendo que o mesmo vive em busca da adequação estética da atualidade, causando até mesmo mutilações em sua estrutura, como nos casos das mulheres que aderiam aos espartilhos para modificar a cintura no século XX. Esse exemplo não se diferencia da rotina das musas fitness do século presente, que passam horas exaustivas na academia e aderem a dietas milaborosas, tudo para ganhar a tão sonhada forma.

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Fonte: https://br.pinterest.com/wadilie/kleding-zw-wit/

Todos esses parâmetros de beleza impostos e reforçados pela mídia, consideram que o belo é sempre jovem e esbelto. Segundo Barata, a vídeoarte em seus primórdios surge como agente potencializador das performances. Ou seja, ao se deparar com propagandas lançadas pela mídia, as pessoas ficam incumbidas pelo desejo de serem exatamente como os modelos apresentados, desejos esses vivenciados tanto pelo sexo masculino como pelo feminino. Essa manipulação ocorrente não é privilégio do século XXI. Ela já vem sendo utilizada desde o princípio do cinema, em que se recrutavam atores adolescentes para interpretarem adultos, passando a ideia de que o envelhecido já não possui mais utilidade e valor. Talvez, tais circunstâncias sejam algumas das causalidades do medo constante que a sociedade atual vive de envelhecer.

Envelhecer, engordar e/ou emagrecer demais, não ter o cabelo, as roupas, os calçados, o carro, o celular, etc. da moda, entre outros aspectos considerados inadmissíveis pela mídia, geram a busca pelo corpo perfeito através de cirurgias plásticas, implantes de próteses de silicone, cirurgias bariátricas, mudanças no visual a todo instante, sendo isso também uma perfeita contribuição para a dinâmica do consumismo. E se, mesmo com todos os esforços, a pessoa que deseja entrar nesses padrões não o conseguir (muito provavelmente por questões financeiras), certamente encontrará saída para seu desespero nas “amiguinhas bia e ana”, no intuito de melhorar sua forma física e/ou se atolar em dívidas (quando não praticar furtos) para adquirir os produtos in (termo retirado da saga Desventuras em série).

Tais métodos que são de fato uma mutilação (física e emocional) são considerados normais pela frequência que ocorrem e por serem divulgados como normais e necessários para o individuo, como se fosse crucial ele se encaixar no padrão das modelagens de programas televisivos, filmes e passarelas da moda.  O corpo ganha destaque sobre todos os outros aspectos do ser humano, sendo considerado a razão da felicidade ou infelicidade, tornando-se algo totalmente maquinário e modificável.

Segundo Georges Canguilhem (1943), normal e patológico são duas instâncias opostas. O primeiro denota aquisição a um padrão estabelecido na sociedade de acordo com o que as estatísticas dizem a respeito dos comportamentos dos indivíduos. Já o segundo implica em um distúrbio emocional (pode ou não haver distúrbio físico) que apresenta sofrimento constante no indivíduo e esse não enxerga saída para esse sofrimento.

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Fonte: http://munich2011com.livejournal.com/65295.html

Dessa forma, nota-se que há um paradoxo nesse padrão de corpo e de consumo. Isso por quê, justamente por ser um padrão, ele entra nos parâmetros de normalidade, algo já estabelecido para ser seguido. Porém, ao mesmo tempo, torna-se algo que gera constante sofrimento, principalmente por aqueles que não suportam não se encaixar no padrão, mas encontram muita dificuldade em fazê-lo, encontrando-se assim em uma “sinuca de bico”, ou seja, algo sem saída visível.

E para acentuar ainda mais a gravidade da situação, ela torna-se pior quando o indivíduo adota a ideia do dever de se transformar completamente como verdade absoluta, sem aceitar desvios ou contestações e ainda tentando, de certa maneira, obrigar as outras pessoas ao seu redor a fazer o mesmo. Isso foi cunhado por Canguilhem (1943) como norma inferior.

De acordo com Mariuzzo (2016)

(…) assim como as calças jeans, os carros e outros objetos de consumo são ‘customizados’, o corpo também é encaixado numa individualização em série, ou seja, cada vez mais atende ao interesse do dono que compra seu kit de personalização numa linha de montagem pré-determinada pelo mercado. É por isso que mesmo movimentos culturais que tentam burlar a busca pela beleza e eterna juventude são rapidamente cooptados, tornando-se, eles mesmos, novos objetos de consumo.

Mariuzzo vai ao encontro de Adam Curtis, que explana sobre a falácia do protagonismo. Com esse termo, ele explica que, na atualidade, as pessoas vivem sobre a égide de um falso destaque na sociedade. Ou seja, acreditam na sua existência como a mais importante de todas, sendo os outros ao seu redor apenas meros coadjuvantes. Curtis caracteriza tal situação como falácia, pois não há protagonismo único. Ora se é o principal, ora se é coadjuvante, a depender das camadas sociais ou pessoais em que o indivíduo está inserido. A relação entre os autores está no fato dos dois destacarem que as pessoas buscam se diferenciar do restante e dos padrões impostos, no intuito de alcançar o protagonismo, de serem únicos. Porém, nessa busca incessante, essas pessoas também acabam se enquadrando em um padrão, em um grupo, aquele dos que buscam serem diferentes.

Na tentativa de mostrar para os padrões normativos que as desigualdades existentes na cultura do magro, loiro, alto, olhos claros, roupas e acessórios da moda que intitula o corpo como um objeto para consumir e ser consumido pelas massas dominantes de produção e consumo os diferentes procuram o seu lugar ao pódio. Buscando evidenciar a arte como um processo além do estereótipo de corpo belo, promove-se uma reflexão sobre tais padrões. Vários artistas dos anos 60 e 70 se engajaram nesse movimento denominado por alguns como antiarte onde o objetivo era compreender os processos artísticos numa visão geral que engloba o inicio, os procedimentos, as causas, os problemas e não somente o objeto final como na arte conhecida até então. Tais acontecimentos fazem referência ao movimento Dadaísta que tinha como propósito protestar contra os conceitos vigentes chocando e provocando a sociedade da época.

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Fonte: https://br.pinterest.com/pin/256564509994537865/

Contestando uma maioria de elementos videográficos expostos na mídia existem aqueles que possuem um olhar atento à verdade vivida pela sociedade. Apesar dos modelos impostos por revistas, filmes e passarelas uma menor porcentagem condiz com a realidade. Basta caminhar alguns minutos pelas ruas ou até mesmo ao entrar em shoppings centers que promovem menção da cultura do consumismo e corpo perfeito constata-se que a realidade dos corpos da população não se adequa as normas vigentes, os corpos possuem medidas métricas bem maiores, os cabelos não são tão sedosos e brilhantes, as unhas não possuem formatos perfeitos e a pele não faz referência ao pêssego, mas mesmo assim ao passarem por outdoors que estampam modelos lindas de estruturas perfeitas não há estranhamento.

O estranhamento ocorre quando visualizam uma campanha de moda com pessoas de medidas e proporções mais fartas que atendem pela nomenclatura Plus Size. Tais modelos não aderem aos padrões da mídia, porém se encaixam perfeitamente nas medidas convivida constantemente no dia a dia, e mesmo apesar de tais configurações serem rotineiras são esses outdoors que causam estranhamento e são alvos de preconceitos.

 Os padrões ditados pelo mundo fashion das celebridades apesar de não serem reais na vida da população causam uma espécie de culto ao que não se vive. Porém, é importante ressaltar que essa cultura de venerar o que é distante da realidade vem se modificando no século XXI, principalmente nos últimos anos, a partir do lançamento e sucesso do youtube, facebook, instagram e twitter as redes sociais mais comentadas e discutidas da atualidade, promove uma mudança no comportamento dos internautas.

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Fonte: http://virgula.uol.com.br/modaebeleza/nova-campanha-pede-que-disney-crie-princesas-plus-size/

O foco que antes era apenas voltado para atores famosos de desempenho inigualável e insuperável vem sendo dividido com personalidades da internet nomeadas como youturbes. Essas personalidades são pessoas normais, com rotinas comuns, trabalham, estudam, vão ao supermercado, frequentam lugares públicos e por isso vem despertando tanto interesse. A visão de incrível que antes era tida como algo muito distante da realidade acaba caindo desse pedestal.

Essa nova modalidade de sucesso aproxima o comum da fama, da visibilidade, dos aplausos e da admiração que antes era voltada para um público selecionado. Tais fatores acabam gerando uma comoção a adesão de todos serem celebridades instantâneas da internet, pois se determinada pessoa que é exerce funções comuns conseguem fazer sucesso os demais que visualizam tais vídeos, assistem vlogs, se inscrevem em canais, curtem e compartilham fotos também acabam aderindo ao pensamento que podem desempenhar tais funções com eficácia e se tornarem famosos e admirados, tanto pelo novo público que irá surgir como também pelas figuras midiáticas que acompanham.  Desenvolvendo assim o famoso processo vigente nas redes sociais de troca de likes, que em outros termos seria uma troca, eu acompanho o seu sucesso, porém em troca você terá que acompanhar o meu.

Os assuntos enfatizados em tais redes sociais são variados, existem opções para todos os gostos, desde assuntos sobre jogos, séries, músicas, comidas, filmes entre diversos outros. Porém os assuntos mais discutidos, que possuem uma maior gama de seguidores são relacionados à moda e ao corpo. Onde a pauta é sempre sobre a nova tendência de look ou de como manter um corpo sarado e definido com tutorias que prometem ajudar a conquistar o corpo dos sonhos. Mas afinal, não se sabe o que é realmente sonho ou o que é imposto.

Com a chegada das redes sociais, principalmente com o youtube mudou-se a forma de divulgar os padrões de beleza, porém não mudou o conteúdo, a beleza tanto nos telões de cinema como nas redes vigentes são caracterizadas pela perfeição ou pela tentativa de reproduzi-la já que a maioria dos canais do youtube tenta ensinar como adotar uma rotina de exercícios, como arrumar o cabelo e as unhas, como escolher roupas e acessórios. Enfim como se transformar em algo que você não é. Utilizando assim mais uma vez o corpo como uma finalidade de recursos estéticos e de consumo, pois se engana quem achou que as indústrias iria perder com isso, as mesmas apenas remanejou suas estratégias de marketing antes divulgadas nos telões e programas televisivos agora fazem parte dos anúncios de sites, vídeos e fotos.  O corpo continua sendo apenas um cabide que necessita possuir medidas de simetria perfeita.

REFERÊNCIAS

BARATA, Danillo. O corpo e a expressão videográfica: a videoinstalação como estratégia de uma narrativa corpo. In: GOELLNER, Silvana V.; COUTO, Edvaldo S. Corpos Mutantes: ensaios sobre novas deficiências corporais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007. p. 105-120.

 

OLIVEIRA, Fernanda. Resenha do livro Corpos Mutantes. Versão Beta, 2011. Disponível em: http://umaversaobeta.blogspot.com.br/2011/03/resenha-do-livro-os-corpos-mutantes.html. Acesso em:  02 set 2016.

 

MARIUZZO, Patrícia. Saúde: crescimento de cirurgias plásticas demonstra fusão dos conceitos de saúde e beleza. Cienc. Cult. vol.64 no.3 São Paulo  2012. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252012000300006&script=sci_arttext. Acesso em: 01 set  2016.

 

LISBOA, Victor. As 7 doenças que estão matando nossa humanidade. Ano Zero, 2015. Disponível em: http://ano-zero.com/7doencas/.  Acesso em: 01 set 2016.

 

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