Gregos e romanos continuam a influenciar nossas vidas até hoje

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Ao analisar o livro “Amor, Sexo e Tragédia” é possível conhecer que na atualidade existem muitas semelhanças com a Grécia Antiga. Trata-se de um olhar da sociedade, que dita, como devemos ser ou agir. Mas, ao mesmo tempo, sofre grandes conflitos e divisão de pensamentos. Dito isso, o presente documento focará nos capítulos “O Corpo Perfeito”, “Coisa de Homem” e “O corpo feminino-macio e esponjoso, depilado e recatado”, por Simon Goldhill.

A civilização grega vai muito além da sua mitologia. Nossa sociedade sofre grande influencia por parte dos gregos da antiguidade e a herança que recebemos ainda é facilmente encontrada no nosso cotidiano. Os jogos olímpicos, possivelmente são um dos legados mais óbvio. Esse evento, que acompanha as mais diversas modalidades e que é acompanhado pelo mundo todo, teve origem na Grécia Antiga e era considerado um ato religioso. Os jogos aconteciam em ginásios, local este de grande importância para os gregos. Lá os homens ficavam nus e recebiam todos os tipos de educação. Praticavam exercícios físicos para fortalecer o corpo para os jogos olímpicos, e, até mesmo para a guerra. Além disso, também estudavam música e poesia.

A cultura Grega Antiga é frequentemente associada à nudez. Para especialistas há uma diferença entre estar nu e a nudez. Estar nu para os gregos é algo acidental, é como ficar sem roupa de forma não intencional ou então se trata de uma parte de encenação de nobreza, mas a nudez é uma atitude intencional. É como um uniforme que se veste e quando se tira a roupa: “nudez é o uniforme dos justos”. Também questiona os costumes sociais, amorosos e percepções acerca da sexualidade. Traz reflexões gerais acerca do corpo feminino e aborda algumas polêmicas, referindo-se com insulto ao corpo feminino, pois a história sempre falou bastante do corpo masculino, e até o capítulo 2 do livro “Amor, Sexo e Tragédia”, o autor trata apenas deste assunto. O capítulo 3, “O corpo feminino – macio e esponjoso, depilado e recatado” traz a narrativa a ser contada sobre a exibição do corpo feminino (Goldhill, 2007).

Fonte: goo.gl/sXukR6

Pode-se dizer que o corpo feminino seja considerado ainda objeto particular para o discurso médico, legal, religioso, midiático, cotidiano, artístico e literário, de acordo com Goldhill.

 O Corpo Perfeito

Desde sempre é possível ver as pessoas buscando diversas formas de alcançar o corpo perfeito, mas o que é ele, afinal? Levando em conta que, desde a antiguidade não é tão fácil se ter o tal sonhado corpo perfeito. Na Grécia Clássica exigia-se muita dedicação e isso significava praticar exercícios físicos no ginásio.  Segundo Goldhill o ginásio testava a masculinidade, e não apenas atividades físicas. Era também um lugar de encontros eróticos. Homens se exibiam e comparavam uns aos outros e a si mesmo em referência do que era um corpo perfeito. Mas, entretanto, houve uma época em que os gregos tiveram como inspiração nas suas obras de arte: estátuas que representavam um modelo de corpo ideal. As estátuas são figuras de homens nus e fortes, mas ao mesmo tempo, magros e nem exageradamente musculosos, como vemos nos dias atuais.

Considerava o homem como o centro do universo, mas, sobretudo existia uma grande ameaça, pois se quisesse deixar um grego furioso, era comparar o seu corpo ao corpo de uma mulher.
Embora na Grécia Antiga lançasse um novo olhar sobre a representação do corpo humano, tal cultura do corpo estava ligada a quase todos os aspectos e era visto como uma representação da lua, das estrelas, do sol, das ondas ou das ideias de justiça, de vingança e da persuasão.

Coisa de Homem

Para cada um, os símbolos do corpo têm um significado, e em cada época vê-se e interpreta-se de diferentes formas; as leituras do corpo vão mudando de tempos em tempos. O “belo corpo” ou “modelo de corpo” é uma herança clássica que sobrevive em dias atuais. “Todas essas imagens corporais nos ditam como ser, como pensar sobre nós mesmos, como nos enxergarmos”. No entanto, a diferença entre o mundo antigo e atual dificulta a obtenção de uma visão clara do porque fazemos exatamente o que fazemos com as imagens do corpo, e o que esta imagem diz sobre quem somos.

Fonte: goo.gl/PwKQvw

A forma como se via esse corpo era muito complexa. Exibiam-se estátuas com pênis eretos, que era a simbologia de fertilidade e virilidade. Porém, a tradição cristã cobria com folhas o falo, que era sempre representado com o pênis ereto. A alguns eram arrancados e guardados em gavetas de museus.  Entretanto, o falo era uma arma para proteger jardins e pomares contra ladrões, representando assim uma ameaça e um símbolo de poder.

O homem grego dava grande importância ao corpo forte e sadio, as estátuas exibiam corpos esculturais, mostrando músculos bem definidos. Na Roma antiga isto também era valorizado, e além de estátuas, também tinham campainhas de portas na forma de pênis, e lamparinas na forma de genitais grotescos e exagerados, que foram encontrados por escavadores.

Goldhill, diz que é difícil saber quão normal, quão cafajeste ou quão divertido, algumas peças pareceriam aos olhos romanos. E surge a dúvida de como elas exatamente eram usadas.
A beleza masculina era vista como uma dádiva, um presente dos deuses para dizer o mínimo. “Até tinham uma palavra para isso – Kaloskgathos – o que significa ser bonito de se ver e, além disso, uma boa pessoa”.

Fonte: goo.gl/ZToxqN

Com o tempo estes símbolos foram modificados e atualizados conforme a época e normas vigentes. Os curadores e os guardiões da moral têm a lei ao seu lado, pelo menos na Inglaterra moderna e na maioria dos países ocidentais. Há muitos anos a lei inglesa define pornografia a exibição de pênis ereto. É a única coisa que você não pode mostrar na televisão ou jornais. Na televisão britânica, pode-se mostrar a simulação do ato sexual, violência sádica de mulheres nuas (depois das 21h), mas mesmo em um programa médico a ereção de um homem não é permitida. (Goldhill, 2007)

O corpo feminino – macio e esponjoso, depilado e delicado

Até agora o livro falou muito sobre o corpo masculino, o que não é de surpreender. Mas também existe uma narrativa sobre o corpo da mulher, o que nos leva automaticamente a fazer um paralelo entre histórias do sexo feminino e masculino. O belo foi, por séculos ou milênios, um qualificativo associado ao homem e aos artistas ditos masculinos, e não a mulher. Daí entender que, uma história da beleza é, em princípio e por muito tempo, uma história masculina. As mulheres não representavam a si mesmas, mas eram representadas por homens e, portanto, as imagens de mulher e da beleza feminina foram construções do imaginário masculino. Uma idealização. É um véu que cobre algumas coisas e deixa outras a mostra, uma forma de censura.

Para censurar o homem era fácil. Pênis flácido “ok”, pênis ereto “jamais”. Mas para reconhecer os sinais de desejo em uma mulher é mais difícil, então não se sabe exatamente o que proibir. Se o problema é a excitação sexual, qual é o sinal físico no corpo de uma mulher? E o que, no corpo de uma mulher, não poderia excitar um espectador masculino? Desde a Segunda Guerra Mundial os limites do aceitável vêm mudando radicalmente, durante muito tempo uma linha divisória ferozmente mantida era o pelo púbico, qualquer visão dele era eliminada de filmes e revistas. As estátuas masculinas sempre tiveram pelos púbicos, porém nada de pelos púbicos para as mulheres. No texto temos uma história engraçada para ilustrar, mesmo talvez ela sendo apenas uma invenção. Dizem que o crítico de arte vitoriano Ruskin, que cresceu acostumado com essas imagens, chocou-se tanto ao ver os pelos púbicos de sua mulher na noite de núpcias que o casamento nunca chegou a ser consumado.

Fonte: goo.gl/EuqKW5

Junto às formas gregas de representação, herdamos alguns dos antigos preconceitos de gênero. Enquanto estátuas de homens nus sempre povoaram as cidades, a primeira estátua de uma mulher nua chocou os cidadãos e foi desprezada e vendida para uma ilha vizinha. Nessa Ilha de Cnidos ela foi exposta em um templo ao ar livre. Esta ilha se tornou um dos mais famosos locais de turismo do mediterrâneo antigo, ela era famosa por sua beleza erótica. Os homens babavam e até se apaixonavam, e de acordo com uma história engenhosa, um rapaz teria tentado mesmo copular com ela deixando as marcas de sêmen na coxa da estátua, o que faz com que os ouvintes olhem fixamente entre as pernas de Afrodite.

Enquanto nas estátuas masculinas o homem está disponível ao olhar do público, a estátua feminina faz um jogo de esconder e revelar, o observador sempre procura ver o quanto do corpo está a mostra. Como é exatamente que a observação de imagens corrompe o observador? Quando é que o prazer de observação se torna um impulso perverso? A verdade é que ser um homem bonito era fundamental, mas ser uma mulher bonita era um problema, a beleza feminina leva os homens a loucura e os submetem a elas, inaceitável.

Uma mulher pode ser sensual e bela, mas seu corpo é subjugado à regulamentação e ao controle dos homens. Não se pode olhar para uma mulher da mesma forma que se olha para um homem. A medicina é uma das maneiras como o lugar da mulher na sociedade é demarcado, é a disciplina dominante na percepção da carne e dos ossos humanos, e a medicina grega persistiu como modelo para a ciência ocidental por muito tempo, formulando a nossa compreensão do corpo, e modificando a nossa visão sobre o corpo da mulher. O cânone perfeito é masculino. O sistema grego de representação dos corpos femininos e masculinos nos faz sentir o corpo como fundamento da existência, o ser humano é uma coisa física. Mas quem realmente quer ser amado somente pelo corpo? Há uma história grega dentro de todos nós ao olharmos no espelho, mas histórias podem ser mudadas.

Dele e dela – uma história de amor?

A história do desejo moderno, como a do corpo moderno, tem uma base que remonta à Grécia e que, da mesma maneira que o corpo, ressalta de forma chocante, tanto a nossa diferença do mundo clássico como o que dele herdamos. Muitos românticos dizem que o amor é igual no mundo inteiro, mas não é. A sociedade ocidental moderna privilegia uma mutualidade de vínculos ao longo do tempo e as pessoas que rejeitam o ideal de reciprocidade – até que a morte nos separe – são estigmatizadas como sedutor, mulherengo, prostituta, etc.

Mas não existe norma moral ou ideal parecido na Atenas antiga. Isso não significa que os homens clássicos não eram afetuosos, a relação entre homens e mulheres era expressa muitas vezes como um laço de responsabilidades, obrigações e respeito. A família deve continuar, assegurada através de gerações. Mas sentir desejo pela esposa só pode constituir um erro trágico ou cômico, como Sêneca diz: “Deitar-se com a esposa como se fosse ela uma amante é tão odioso como cometer suicídio”.

Fonte: goo.gl/uUr47p

Como marido, o eros de um homem poderia ser dirigido a uma amante, um menino, uma prostituta e embora fosse muito arriscado, à esposa de alguém. Declarações de paixão públicas e explícitas deveriam excluir a própria esposa. Na obra de Homero, o desejo sexual, para um homem, representava sempre um perigo, e para a mulher, um sinal de corrupção da norma adequada. Naquele universo, quando um homem sentia desejo ele deveria se precaver. Os malvados pretendentes de Penélope sentem desejo quando estão sendo burlados em direção à morte. A mesma configuração é feita nos dramas da clássica cidade de Atenas. Qualquer mulher que articule seu desejo sexual torna-se monstruosa, como Medéia, que assassina os próprios filhos, e Clitemnestra que assassina o marido.

Apesar do grande objetivo em comum de manter um lar por meio do vínculo do casamento, o vínculo hierárquico entre homem e mulher não deixa espaço para o desejo sexual recíproco e compartilhado. O homem adulto quer ser tratado com respeito, humor e deferência, mas não quer ser submetido ao controle do outro. Autocontrole significa controlar seus desejos, sua mulher e seu lar, se isso toma conta dele, corre-se o risco de ser alvo do ridículo, humilhação e destruição. Uma piada sobre isso, conta Plutarco, descreve um homem que era zombado pelos amigos pois a garota com quem se relacionava não gostava dele de verdade, então ele responde: “Quando vou ao restaurante como peixe, e não me importo com o que o peixe pensa de mim”. Brutal, mas capta como era a reciprocidade, “Você me ama?” não era uma pergunta grega.

Considerações Finais

Considerando que a beleza e o asseio eram para os gregos antigos dois requisitos importantes, tanto em esculturas como em vasos, podemos admirar homens e mulheres vestindo túnicas de pregas suaves e em poses graciosas. Proponhamos que os corpos eram usados como linguagem, status, beleza nu ou coberta, identificando raça, religião e expressando a cultura de cada povo. A diferença é o que faz cada um tão especial. Não fomos feitos padronizados, somos únicos. Corpos culturalmente transformados para a convivência e aceitação pacifica com o meio e, sem essa de diferença de homens e mulheres, por exemplo.

O conhecimento sobre o corpo e vivência no corpo é o que nos possibilita compreender a nossa existência no mundo, pois é por meio dele que construímos significados e assim ocupamos espaços, comunicamos, interagimos e nos constituímos como identidades individuais e coletivas.

 Partindo deste pressuposto, somos todos iguais, porém com diferenças e formas de visualizar o mundo. Tudo se define através de sua cultura. A cultura americana, por sua vez, os corpos cultivados e aceitos são esbeltos, definidos e com músculos trabalhados, porém sempre existe o outro lado, onde os padrões são diferentes para diversos povos e épocas; muitas vezes o que é considerado algo bizarro e feio, para alguns povos, é algo com significado especial, e para outros busca pela aceitação social.

Fonte: goo.gl/6PQHsH

Contudo, a filosofia grega juntamente com o pensamento e a ética cristã e o direito romano, são o tripé da sociedade ocidental. Levando em conta todo esse legado, percebemos a enorme influência dos gregos em nossa cultura e o seu papel decisivo para nos definir ocidentais.

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo & tragédia: como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Tradução: Claúdia Barbela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2007.

A beleza na Grécia Antiga e Hoje. Disponível em < http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/a-beleza-na-grecia-antiga-e-hoje/ >. Acesso 02 mar. 2018.

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O Psicopata Americano: A horda primeva de uma sociedade consumista

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Em 1991, Bret Easton Ellis publica seu polêmico, violento e confuso best seller, intitulado O Psicopata Americano. O livro conta a história de Patrick Bateman, um yuppie – expressão inglesa que significa “Young Urban Professional” – Jovem Profissional Urbano – (Significados, 2012), que durante o dia mantém uma imagem de “bom samaritano” e durante a noite satisfaz sua sede de sangue. Não, não é uma história sobre vampiros, mas sobre um homem adoecido que necessita assassinar pessoas.

Fonte: http://zip.net/bxtN89

Vice-presidente da Pierce & Pierce, notável empresa situada na Wall Street, Bateman é um jovem adulto de apenas 27 anos de idade e com um poder desejado por muitos. Com uma rotina incansável de culto ao próprio corpo (o segundo capítulo é destinado apenas para descrever seu ritual de exercícios, banho, cremes, loções e afins) e de conversas acerca dos melhores restaurantes e melhores marcas com seus colegas de trabalho (fúteis como ele), o protagonista do livro representa muito bem o american way of life (estilo de vida americano)

(…) desenvolvido na década de 20, amparado pelo bem-estar econômico que desfrutavam os Estados Unidos. O sinal mais significativo deste way of life é o consumismo, materializado na compra exagerada de eletrodomésticos e veículos (Klick Educação, 2009).

O livro traz uma reflexão acerca da hipocrisia existente em uma sociedade onde as pessoas se preocupam com o bem universal da mesma maneira que se preocupam com uma pedra. Os diálogos entre Bateman e seus colegas nos restaurantes são sobre problemas mundiais, como a fome na África – cuja eles não moveriam um dedo para tentar modificar – mas, no escritório, acontece uma disputa camuflada entre eles sobre qual cartão de visita é o melhor.

Fonte: http://zip.net/bqtPhQ

Esse capitalismo selvagem beneficia poucos e exclui muitos. Entrando na dinâmica de criar um bode expiatório, os detentores desse poder econômico acreditam não possuírem responsabilidade sobre as mazelas do mundo e acabam por culpabilizar as vítimas desse sistema. Adotam o discurso de que tais problemas são de ordem individual e não social. Eis que Patrick Bateman, mestre em colocar a culpa em suas vítimas, age de modo (perturbador) a tentar excluir do mundo quem ele acredita ser culpado por tantos problemas, assassinando tais pessoas à sangue frio.

– Perdi o emprego… – Por quê? – pergunto, interessado de verdade. – Você andava bebendo? É por isso que foi despedido? Tráfico de informações confidenciais de mercado? Estou só brincando. Não, realmente, você andou bebendo no trabalho? (…) – Estou com fome – repete – Ouça. Você acha justo tirar dinheiro de pessoas que têm emprego? Que trabalham mesmo? (Ellis, 1991, p. 161-162) [diálogo de Bateman com um morador de rua antes de esfaqueá-lo].

No mundo interno de Bateman, as pessoas não são reconhecidas por nome, personalidade ou características pessoais, mas por marcas. Ele observa tudo (aparência externa) nos mínimos detalhes, o que rende ao livro longas narrativas sobre roupas, calçados, perfumes, maquiagens, joias, penteados e o que mais for de adereço ao ser humano.

Sendo muito crítico nesse aspecto, Bateman não admite que alguém seja mais sofisticado do que ele. Infelizmente para Paul Allen, um de seus colegas de trabalho, o seu cartão de visitas era mais sofisticado do que o de Bateman. E, é claro, esse último não poderia deixar tal situação perdurar por muito tempo. Tomado de fúria por alguém possuir mais poder que ele, Bateman assassina seu colega sem titubear. Durante a narrativa, feita pelo próprio Patrick Bateman, no decorrer do livro, muitas outras mortes surgirão, por motivos um tanto quanto questionáveis, mas que, para ele, faziam todo sentido. Era algo necessário para ele, uma forma de se sentir poderoso.

Fonte: http://zip.net/bntNsB

Essa atitude muito se assemelha à horda primeva, descrita por Freud em seu livro Totem e Tabu. Mais precisamente, aos filhos dessa horda, que assassinaram seu pai tirano, despojando-o do poder, no intuito de tomá-lo para si. Entretanto, esse pai se torna mais forte, seja pelo respeito ou pelo remorso (ambivalência) sentido pelos filhos ao matarem-no (Freud, 1913).

Assim como esses filhos, Bateman se encontra em uma sociedade (horda) com leis e proibições, onde, por vezes, as ambivalências de escolhas e sentimentos podem se tornar adoecedoras. À primeira vista, a saída está em matar quem lhe causa repulsa, descobrindo-se, depois do ato, que isso só agrava o problema (Bateman nunca fica satisfeito com o poder tomado do outro).

E essa é a sociedade descrita na obra de Ellis, onde a “corrida atrás do ouro” se torna algo essencial para muitos, sobrepujando até mesmo a vida, que é tirada daqueles que atrapalham o alcance do poder. Entretanto, torna-se um ciclo vicioso, uma vez que esse poder nunca é alcançado de fato, como o pai tirano da horda primeva, que não morre, apenas torna-se mais forte nas ações de quem buscou pará-lo.

Ficha Técnica
O Psicopata Americano

Fonte: http://zip.net/bftNjC

Título: O Psicopata Americano (American Psycho)
Autor: Bret Easton Ellis
Publicação: 1991
Gênero: Ficção Transgressiva, Literatura pós-moderna, Sátira

REFERÊNCIAS:
ELLIS, B. E. O Psicopata Americano. Tradução de Luís Fernando Gonçalves Pereira. Editora Rocco. Rio de Janeiro — 1992. 330 p.
FREUD, S. Totem e Tabu e outros trabalhos. Vol. 13 (1913-1914). 147 p.
Klick Educação. American Way of Life. 2009. Disponível em: https://goo.gl/Ls4Kw7. Acesso em: 22 mar. 17.
Significados.
O que são Yuppies. 2012. Disponível em: https://www.significados.com.br/yuppies/. Acesso em: 22 mar. 17.

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A espetacularização e o culto ao corpo na contemporaneidade

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A época em que vivemos caracteriza-se por uma sociedade cujos integrantes, em parte, estão bastante preocupados com seus corpos. Para sentir-se bem, é necessário ter o padrão de beleza considerado bonito e ideal. Os valores que antes eram importantes para a construção da identidade do indivíduo, são agora substituídos por padrões estéticos. Não é preciso mais ter cultura, ideologias, crenças, se você tiver um rosto perfeito, um cabelo bonito e um corpo escultural, é possível observar o deslocamento da moral. Caracterizamos aqui a personalidade somática do nosso tempo.

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O documentário “Tabu: cirurgias Plásticas” apresenta-nos ações praticadas pelos indivíduos na busca desse ideal de beleza. Quando falamos em atingir uma identidade corporal, falamos em “Bioascese”. É grande o número de pessoas que não estão satisfeitas com seus corpos, e que, portanto, estão fazendo tudo para alcançar o “corpo ideal social”, aderindo a cirurgias plásticas, rotinas de academia intensas, dietas rigorosas, produtos de estéticas, enfim, estilos de vida que possam propiciar um padrão aceitável para a sociedade homogeneizada.

Ter uma boa aparência se tornou sinônimo de sucesso social. Aqueles indivíduos que não se enquadram nesse novo e “único” modelo de vida passam a ser e sentirem-se excluídos e inferiorizados pela “massa dominante”. É importante destacar que no decorrer desse processo de adequação social estético, o núcleo da identidade do indivíduo vai sendo atingido e deteriorado cada vez mais. A preocupação em ser aceito é tão grande, que todas as outras faces que poderiam ser desenvolvidas e melhoradas são deixadas de lado, desinvestidas literalmente.

As consequências do ideal de corpo perfeito sobre a autoestima e a autoimagem dos indivíduos

Entende-se por autoestima, a auto-aceitação ou auto-rejeição que o ser tem de sua própria imagem. A autoimagem pode ser descrita como a percepção que o indivíduo tem sobre ele mesmo, e sobre os retornos referentes aos seus sentimentos e ações nas relações interpessoais por ele estabelecidas. (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010).

A aparência pessoal está intimamente ligada com a satisfação ou insatisfação da pessoa. Quando existe a satisfação com a aparência, a pessoa se gosta, se aceita, e ela só quer manter a sua auto-estima e auto-imagem, consequentemente a sua qualidade de vida. Quando existe insatisfação, a pessoa busca incansavelmente recursos da estética e nunca está contente com ela mesma, quando deveria tratar o seu interior. Nos dois casos, tanto da satisfação quanto da insatisfação pessoal, a pessoa busca pelos recursos da estética. (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010, p.1)

Diante disso, nota-se a importância de se ter uma boa aparência na sociedade atual, já que além de estar interligada à uma boa auto-imagem e consequente auto-estima, também tem sido um dos fatores facilitadores no estabelecimento de novas relações sociais.Buscando então um corpo ideal e uma imagem satisfatória, muitos indivíduos se submetem a procedimentos cirúrgicos estéticos, à utilização de cosméticos e a prática de exercícios pesados em academias (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010).

É válido ressaltar ainda a relação existe entre a auto-estima e autoconfiança, já que quanto maior for a autoestima da pessoa, maior será também a confiança que ela vai ter ao tomar suas próprias decisões. (FLORIANI, MARCANTE, BRAGGIO, 2010).  Depreende-se então que na contemporaneidade, há uma busca por um corpo mais embelezado, decorrente da supervalorização de determinados padrões de beleza, estabelecidos pela própria sociedade. (SAMPAIO, FERREIRA, 2009).

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Fonte: http://migre.me/vpQ6u

O capitulo “O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais” do livro Corpos Mutantes, apresenta informações sobre a potencialização e a grande expansão do uso da imagem como fenômeno de conquista de vários objetivos, dentre eles os esportes corporais como o boxe, o MMA e esportes fisiculturistas. É evidente que atletas precisam e utilizam do seu corpo como objeto para conquistas de competições e de campeonato, consequentemente eles utilizam de varias técnicas para o aperfeiçoamento da condição física, estética e funcional do corpo. No texto escrito por Claudio Ricardo e Silvana Vilodre “O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficiente corporais” é retratado um pouco da história, bem como o desenrolar desse processo de potencialização corporal.

Há diferença na potencialização do corpo entre os atletas e pessoas amadoras. Os atletas buscam solidificação e resistência corporal, a fim de ter maior capacidade física, por exemplo, de levantar pesos, correr, saltar, entre outras modalidades, eles buscam apresentar maior condição física para executar os esportes com maior eficiência e qualidade. Já as pessoas amadoras buscam a prática de esporte como a musculação, apenas para um fim estético, raramente com exceções objetivando a saúde e o bem-estar. Portanto o desempenho e os ganhos entre as duas características são diferentes.

Dentro dessas performances afirma-se que “ainda que apanhar, bater e resistir, sejam atitudes vinculadas ao aprendizado pessoal do lutador e ao seu repertorio corporal, a preparação de seu corpo passa, também pela apropriação de conhecimentos tecnológicos e do nível de cientificização do seu treino” (NUNES, GOELLNER, 2007). Há portanto, um aprendizado corporal e significativo para a conduta do atleta, tanto dentro do ringue como fora dele. Esta preparação é capaz de mostrar ao atleta a capacidade de conseguir sofrer lesões; maior capacidade de suportar dores recorrentes de lesões devido ao grande esforço nos treinamentos; capacidade de adquirir maior resistência física, corporal e também psicológica; capacidade lhe dar com a pressão do esporte, do treinador, das dores constantes, do campeonato, do seu adversário.

Na construção muscular é apresentado diversas técnicas de aprimoramento no ganho de força e resistência física, objetivando a construção corporal do atleta lhe dando uma “identidade” como é o atleta dentro do esporte, se é forte o bastante para vencer uma possível lutar, a genialidade de utilização de técnicas, golpes, se seu corpo é tão esteticamente perfeito afim de intimidação, que se certa forma ele consiga “ostentar” com sua capacidade física, motora, técnica e corporal de atleta. Afirmam também que o confronto visual dos atletas antes da luta gera e expressam nos atletas atributos como força, concentração, fibra, coragem e destemor, sentimentos que na realidade eles precisam para conseguir derrotar o oponente e vencer a luta.

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Fonte: http://migre.me/vpPLQ

 O consumismo vem sendo uma marca registrada em todo o mundo, onde para ter o corpo desejado é preciso gastar com academias, suplementos, esteróides anabolizantes, personal trainner entre outros. O capítulo “o espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais”, tem como ponto de partida a forma como as pessoas se percebem em meio às outras:

A potencialização do corpo está na forma como percebemos nossas eficiências e deficiências mensuradas na contemporaneidade, através de nossa anatomia e contornos corporais. Julgamos a nós mesmos a partir de um referente corporal cuja  expressão primeira aproxima – se da potência, da jovialidade, da produtividade […] que marca os corpos a partir das performances cada vez mais aproximadas, demarcando sua aparição como um espetáculo a atrair e prender sobre si o olhar do outro. (NUNES, GOELLNER, 2007) 

Observa–se atualmente uma grande espetacularização do corpo, em prol da saúde, beleza ou por uma questão social. A mídia é um dos fatores sociais que vem exercendo grande influência na vida das pessoas, propagando um corpo a ser seguido e a ideia de que “somos o que aparentamos ser”.

Nota-se que na atualidade boa parte da juventude e adultos estão preocupados com a aparência física. Muitos passam a aderir a uma vida de alimentação saudável, frequentam academias e alguns usam o discurso que o faz em prol da saúde, mas na verdade seu objetivo real é o espetáculo do seu corpo. Esta espetacularização está presente em várias instâncias da vida das pessoas, como por exemplo nas redes sociais, como uma forma de propagação de seu desempenho.

Pensar, portanto, o esporte e a cultura física como instância sociais a produzir novas eficiências corporais significa analisar o quanto representações idealizadas de saúde, de beleza estética e de performance estão colaborando para designar, na atualidade, os corpos que não se ajustam a essas eficiências construídas por nossas culturas como sendo deficientes e, por consequência, hierarquicamente inferiorizados ante a expressão de tamanha perfectibilidade(NUNES, GOELLNER, 2007)

Diante de uma análise geral sobre o capítulo, sintetiza-se o seguinte: dois corpos que foram bastantes treinados, entram em uma disputa pelo espetáculo, espetáculo esse experimentado em forma de glória, que é proporcionado pela plateia.

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Fonte: http://migre.me/vpPYU

Os sujeitos fora do padrão de beleza dominante, são tachados como “doentes” mesmo que estejam em ótimas condições de saúde, apenas por terem outros tipos de beleza. A partir daí surgem os preconceitos, os desprezos, a falência da empatia, pelo outro que é diferente do resto. Toda essa compulsão por beleza traz sofrimento e frustração a todos nós. É triste perceber que de fato somos por “dentro” invisíveis, sendo o externo o que temos de mais importante e valorizado pelos outros.

REFERÊNCIAS:

Beleza, identidade e mercado. Psicol. rev. (Belo Horizonte) [online]. 2009, vol.15, n.1, pp. 120-140. ISSN 1677-1168. Acesso em: 08 set. 2016.

DANTAS, Jurema Barros. Um ensaio sobre o culto ao corpo na contemporaneidade. 2011. Disponível em: <http://www.revispsi.uerj.br/v11n3/artigos/pdf/v11n3a10.pdf>. Acesso em: 08 set. 2016.

FLORIANI, Flávia Monique; MARCANTE, Márgara Dayana da Silva; BRAGGIO, Laércio Antônio. Auto estima e auto imagem: A relação com a estética. 2010. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/FlaviaMoniqueFloriani,MárgaraDayanadaSilvaMarcante.pdf>. Acesso em: 08 set. 2016.

NUNES, Cláudia Ricardo Freitas; GOELLNER, Silvana Vilodre. O espetáculo do ringue: O esporte e a potencialização de eficiente corporais. In: SOUZA, Edvaldo. GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpos mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais. Porto Alegre: UFRGS, 2007. p. 55-71.

SANTOS, Verônica Moura; MEZZAROBA, Cristiano. A percepção da imagem corporal: algumas representações de corpo na juventude. 2013. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd182/a-percepcao-da-imagem-corporal-na-juventude.htm>. Acesso em: 08 set. 2016.

Tabu Brasil: Cirurgias Plásticas. Direção: Eduardo Rajabally. Coordenação de Produção: Luana Binta. National Geographic, 2013. 47’35. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7N9wVtONEMY>. Acesso em: 24 mar. 2016.

Fontes da imagem: <http://migre.me/vpP8K>, <http://migre.me/vpP9Q>, <http://migre.me/vpPam>.

 

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