Curso de extensão da UNILA completa 8 anos de formação sobre história e cultura indígena

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Realizado em parceria com o Conselho Indigenista Missionário, objetivo do projeto é capacitar multiplicadores para abordar de maneira abrangente e respeitosa as temáticas indígenas em diversos contextos

Mais de 400 participantes já passaram pelo curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas, ofertado desde 2016 pela UNILA, em parceria com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Em novembro de 2023 foi encerrada a oitava turma do curso, que tem o objetivo de formar multiplicadores qualificados para a abordagem da história e cultura dos povos indígenas e estabelecer novas relações com esses povos a partir do campo de atuação de educadores e profissionais.

Desde 2020, o curso é ofertado na modalidade virtual, o que ampliou ainda mais a sua abrangência. Anualmente, são ofertadas 60 vagas, porém em 2023 foram quase 600 inscritos de todas as regiões do país e com formações acadêmicas diversas.

“Nesses 8 anos, o curso tornou-se um espaço de aprendizado não apenas para acadêmicos, mas para profissionais de diversas áreas, solidificando sua importância no cenário educacional. Participar dessa formação é uma oportunidade de rever conceitos equivocados deixados pelo colonialismo, contribuir para a desconstrução de preconceitos e criar relações respeitosas com as sociedades indígenas”, salientou o coordenador do curso, professor Clovis Brighenti.

O curso surgiu de uma demanda apresentada à UNILA pelo Cimi, que via a necessidade de criar espaços de formação para a implementação qualificada da Lei 11.645/2008, que estabelece a obrigatoriedade do estudo de história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas públicas e privadas do país. Com o tempo, o projeto de extensão acabou chamando a atenção não apenas de educadores, mas também de jornalistas, operadores do direito, psicólogos, professores universitários e estudantes interessados em ampliar abordagens voltadas aos povos originários em suas áreas de atuação. Até 2019, o curso era ofertado presencialmente em Luziânia (GO).

Uma jornada transformadora
Entre os participantes da turma de 2023 do curso, está a cineasta Inês Castilho. “O curso de extensão Cimi/UNILA é um curso de excelência que nos presenteou com um amplo espectro de conhecimento. O maior presente foi nos colocar em contato direto com a voz de cinco mulheres indígenas, com seus corpos-territórios carregados de ancestralidade. Todos choramos diante da beleza que elas nos entregaram do coração, ao contar como escutam a Mãe Terra e resistem à violência há 500 anos”, lembra.

Já a advogada Ana Carolina Magnoni descreve o curso como uma jornada transformadora. “A diversidade de perspectivas e a profundidade das discussões proporcionaram uma compreensão mais ampla das riquezas das culturas indígenas. Sinto-me agora não apenas informada, mas comprometida em contribuir para a preservação dessas culturas e luta por seus direitos”, declarou Ana Carolina, que é advogada popular de Curitiba (PR).

A assistente social e acadêmica de Antropologia paraense Adriana de Souza destacou a qualidade do curso. “O curso deu uma noção introdutória ampla, mas incentiva que a gente se aprofunde. O legado importante foi abrir os olhos, os ouvidos e o coração para ouvir o que essas populações têm a dizer”, contou Adriana, que é de Marabá (PA).

Seleção é sempre no segundo semestre
A próxima seleção do curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas deve ser realizada no segundo semestre de 2024. Os participantes são selecionados por meio de edital público divulgado pela UNILA e pelo Cimi.

A carga horária total do curso de extensão é de 180 horas, distribuídas em 150 horas de aula na modalidade remota e outras 30 horas dedicadas ao trabalho final. Entre os tópicos abordados no curso, estão Educação para a Diversidade; História e Resistência Indígena; Antropologia Indígena; Bem Viver; Terra, Território e Territorialidade; Direitos indígenas e Conjuntura Política Indigenista.

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Povos Indígenas lutam pela Derrubada do Marco Temporal PL 490/21 no STF

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Desde 2016 a votação da PL 490 vem sendo inúmeras vezes adiadas, querendo assim que os Povos Originários se cansem, nós somos conhecidos como um povo de luta e jamais desistimos, essa PL vem pra deixar nossos direitos fragilizados fazendo com que os fazendeiros, garimpeiros, grileiros e madeireiro invadam nossas terras, estamos lutando pelos territórios que ainda não estão demarcadas pelo governo e também as terras já demarcadas que correm sérios riscos de serem invadidas, e permitindo assim a invasão de territórios.

Cerca de 6.000 indígenas esteve em Brasília no mês de Agosto pelo Movimento “Luta Pela Vida” a maior mobilização indígena que já teve nesses últimos anos, e ainda estão acampados cerca de 4.000 indígenas, 150 povos estão para o Movimento “II Marcha das Mulheres”, e também estarão acompanhando o julgamento do Marco Temporal, sabemos o quanto é importante unirmos forças contra o retrocesso, nossa história começou antes de 1500, o contexto histórico se contra diz escritos nos livros de histórias de escolas.

Fonte: encurtador.com.br/GHMY1

Estamos lutando pelo futuro de nossas gerações, lutando pela vida, lutando pela terra, lutando pela sobrevivência dos animais, estamos lutando pela existência mundial, o pulmão do mundo está no Brasil e são as nossas matas, as nossas riquezas naturais, os nossos biomas, a nossa cultura, a nossa ancestralidade, nós indígenas desde o descobrimento de nossas terras, fomos dizimados, massacrados, explorados e quase extintos, somos um povo de resistência e por isso somos existência.

Se caso for aprovado no STF a PL 490, estarão não só aprovando um projeto de lei, mas estarão aprovando a entrada e a legalização destes fazendeiros, madeireiros, grileiros e garimpeiros se apossem e explorem de nossos territórios, por isso é de suma a importância e que a decisão do STF seja favorável aos Povos Originários, nosso futuro está na decisão do poder judiciário, que se faça cumprir a lei a ordem da Constituição Federal.

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O Estudante Indígena e a Universidade Pública

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Para falar do tema, precisamos observar alguns aspectos muito importante, começamos pela universidade pública, quem é, pra quem serve, qual a função da universidade pública para formação dos estudantes, por fim, quem são os estudantes indígenas, de onde veio e porque veio. Para tanto, estudamos alguns autores que falam do ensino público superior no brasil e contamos com a nossa própria experiência de como é o acesso à universidade, de como é a permanência e os motivos das evasões do estudante indígena.

A UNIVERSIDADE PÚBLICA NO BRASIL: sua criação, função e para quem se destina.

Em 1920, pelo Decreto nº 14.343, foi criada a primeira universidade do Brasil, a Universidade do Rio de Janeiro, segundo alguns estudiosos, a razão principal da Universidade teria sido a necessidade diplomática de conceder o título de doutor honoris causas ao rei da Bélgica em visita ao país (SOUZA, p. 51). Com a união da Escola Politécnica, a Escola de Medicina e a Faculdade de Direito, houve a estruturação da universidade, embora as instituições funcionassem de forma isolada, sem integração entre suas áreas. A Universidade do Rio de Janeiro era voltada mais ao ensino do que pesquisa, tendo caráter elitista (OLIVEN, 2002).

Podemos observar que a Universidade nasce para favorecer a um rei, não era a preocupação de dar uma educação superior aos brasileiros. Por isso, a finalidade destas instituições é favorecer a elite como podemos observar até nos dias de hoje. Vemos isto nas Universidades de hoje, onde quem estuda em escolas particulares tem maioria absoluta de aprovação nos vestibulares das Universidades públicas no Brasil.

Um aspecto que vale ser ressaltado em relação a criação da Universidade do Rio de Janeiro foi o destaque dado a sua criação, ganhando notoriedade via Associação Brasileira de Educação (ABE) e Associação Brasileira de Ciência (ABC). Os principais pontos enfatizados por essas entidades foram os conceitos e as funções desempenhadas pelas Universidades brasileiras, sua autonomia e o modelo de Ensino Superior a ser seguido em âmbito nacional (FÁVERO, 2006).

É uma universidade que é de propriedade pública ou recebe fundos públicos significativos por meio de um governo nacional ou subnacional (de estados, municípios etc), em oposição a uma universidade privada. No Brasil, existem algumas universidades públicas financiadas pelo governo federal (Wikipédia, a enciclopédia livre).

Observamos que as universidades públicas se mantem com verbas financeira da união, ou seja, é uma verba extraída dos autos imposto pagos pelo povo brasileiro, desde quem compra ou faz algum tipo de transação financeira, incluindo os consumidores até aos grandes empresários.

A Universidade pública tem a função de incluir toda a sociedade, seja em seu ensino ou em suas iniciativas de extensão e pesquisa. No ensino, é preciso pensar em uma modelo que seja inclusivo, garantindo o direito constitucional pela educação a brasileiros de todas as classes sociais.

Ainda a universidade deve oferecer um retorno imediato para a sociedade, seja convidando-a a ocupar este espaço tão importante, seja desenvolvendo inovação e criando as novas tecnologias que vão garantir do desenvolvimento econômico do país (EDUCAÇÃO. Universidades públicas. O que são, importância e lista de instituições).

Vemos que a universidade pública tem a função de incluir todo e qualquer cidadão e cidadã dentro de sua proposta de ensino superior, pesquisa e extensão, porém, foi preciso que uma Lei fosse aprovada para que de fato houvesse tal inclusão. A Lei 12.711, de 29 de agosto de 2012, diz que todas as universidades e institutos federais reservem 50% de vagas de cada curso para estudantes que concluírem o ensino médio em escolas públicas, é ai que entra o estudante indígenas e quilombola e demais estudantes pobres.

A atividade de ensino, responsável pela formação de profissionais de nível superior, é função exclusiva da universidade e de outras instituições de ensino superior, as denominadas IES. Promover ensino de qualidade afinado com os desafios da sociedade contemporânea é imprescindível (ASSOLINI 2015). A Entendo que estes desafios são diversos inclusive para a formação de seres humanos nos direitos humanos, não tão somente voltado para a competitividade.

Fonte: encurtador.com.br/hkwFO

QUEM SÃO E O QUE BUSCAM OS ESTUDANTE INDÍGENAS

Dentro deste contexto está o estudante indígena, quem vem desde o seu nascimento vivendo em comunidade, tudo que se tem é compartilhado, o que produz é para o bem de todos, onde não há o mais rico e o mais pobre, onde não há competitividade. Vindo de uma sociedade que os costumes são diferentes, culturas diferentes e línguas diferentes pois aprendem falar primeiro a língua materna a verdadeira língua brasileira para depois aprender a falar o português, chega na universidade e se depara com um mundo totalmente diferente do seu, onde o português é técnico e que ele demora um longo tempo para assimilar a nova linguagem e que muitas vezes não é compreendido na comunidade acadêmica e pelos professores.

Como todo e qualquer outro estudante, busca se qualificar em um curso de graduação e seguir em sua vida acadêmica, se profissionalizar, e todos que se formam de uma maneira ou outra ajudam seu povo com o conhecimento técnico e vivencia prática em suas aldeias, quer seja na área da educação, quer seja na área da saúde ou em outras áreas a fins.

Fonte: encurtador.com.br/emKX3

DO ACESSO E DOS PRECONCEITOS AOS ESTUDANTE INDÍGENA

O acesso do estudante indígena na maioria deles é através das cotas, não que ele não tenha a capacidade de competir na cota universal, más pelo direito que lhes dá a Leia 12.711 e também seria o mínimo para reparação da divida histórica que o Brasil tem para com os povos indígenas olhando o contexto geral desde a invasão dos portugueses em 1500. Porém, este acesso não lhes garante a permanência na universidade uma vez que as instituições ainda não têm claro e definido uma política de ações que afirme a garanta sua permanência. O que temos são algumas ações de apoio mitigatória que não sustenta o estudante indígena até o final do seu curso. A bolsa MEC no valor de RS 900,00 não é o suficiente para uma pessoa se manter na cidade.

Além de todas as dificuldades já sofridas por estes estudantes, ainda são discriminados, tem que provar todos os dias para a comunidade acadêmica inclusive para alguns professores que estão ali porque tem capacidade de estudar e se formar. O estudante indígena não é visto na universidade, não pode errar, pois ele é observado pelos estudantes não índios principalmente por ter entrado pelas cotas e por isso são acusados de ter tomado a vaga de alguém. Professores que simplesmente jogam a disciplinas no colo do estudante indígena e diz “se vira”, sendo que o professor está ali para orientar o estudante na hora que ele precisar. Todas essas dificuldades que passam os estudantes indígenas fazem com que muitos deles desistam do seu curso e voltam para suas aldeias, muito não aguentam a pressão que vem de todos os lados dentro da universidade.

É visível o sofrimento para quem fica e enfrenta essas dificuldades e isso é também o motivo dos mais dolorosos e que faz com que muitos ultrapassem o tempo regular de sua formação, fica parecendo que é falta de interesse de estudar e que muitas vezes se ouve esta frase “eles vieram, mas não querem estudar”, e isso acaba abalando o psicológico destes estudantes e acaba prejudicando em seus estudos.

Fonte: encurtador.com.br/ikmtN

Referências:

ASSOLINI, Aline. A universidade e suas funções. Disponível em:. https://www.revide.com.br/blog/elaine-assolini/universidade-e-suas-funcoes. Acesso em 8 de setembro de 2021.

Breve Histórico acerca da criação das universidades no Brasil. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/5/breve-historico-acerca-da-criacao-das-universidades-no-brasil. Acesso em 31 de agosto de 2021.

EDUCAÇÃO. Universidades públicas. O que são, importância e lista de instituições. Disponível em: https://fia.com.br/blog/universidades-publicas/. Acesso em 1 de setembro 2021.

Universidade Pública. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_p%C3%BAblica. Acesso em 31 de agosto de 2021.

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Dificuldades de aprendizagem na Educação Infantil do Povo Akwê-Xerente

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O processo educacional nos anos iniciais de escolarização é o desafio da maioria das crianças, em que muitos encontram dificuldades de aprendizagem nas escolas, no qual as estruturas oferecidas, a tendência é de maior dificuldade. Com isso surgem questões a saber: O que fazer para ajudar crianças com dificuldades de aprendizagem? Como devem ser as infraestruturas das escolas que recebem as crianças com dificuldades de aprendizagem? As diferenças entre as crianças que não apresenta dificuldades e aquelas com dificuldades de aprendizagem?

As dificuldades de aprendizagem nas series iniciais torna-se para as crianças indígenas como desafio a ser enfrentado na escola. Onde a criança indígena tem o seu contato com a realidade totalmente diferente do que antes já vivido, com isso, pode ocorrer da criança indígena enfrentar barreiras com contato direto dentro de uma sala de aula. As dificuldades que podem levar as crianças a terem menos rendimento na escola são constatadas quando elas apresentam o desempenho baixo diante das tarefas exigidas. O processo de ensino e aprendizado envolve toda a sociedade, tanto a rural quanto a urbana.

Diante desse exposto, é importante identificar que dificuldades são estas e como os professores que atuam na educação escolar indígena pode se posicionar a fim de amenizar os impactos sentidos por crianças ao terem contato com novos elementos de ensino até então nunca vistos na cultura tradicional indígena.

Esses desafios encontrados por crianças indígenas, geralmente aparecem quando elas têm o contato direto com outra cultura diferente da sua, esse contato, por sua vez, pode acabar influenciando no desempenho dentro da sala de aula, desencadeando em problemas de aprendizagem.

Fonte: encurtador.com.br/oqs03

Conforme a pesquisa realizada por Melo e Giraldin (2012) as crianças indígenas têm mais de dificuldades de aprendizagem em língua portuguesa, pois estas são alfabetizadas na língua materna, uma criança da sociedade urbana tem mais facilidade por que já aprende desde pequeno a sua língua, já as crianças indígenas não, o primeiro ensinamento que elas recebem, vem dos pais, que são ensinamentos da própria cultura, passado de geração a geração. Durante cinco anos a criança indígena não recebe o conhecimento de fora, elas são livres, esses anos as crianças não têm contato com a escola. Melo e Giraldin (2012) afirmam ainda que as escolas indígenas xerente tende mais na valorização da cultura, da identidade cultural, na conservação da língua e ensinamentos ligados à sua cultura.

Um aspecto peculiar que Melo e Giraldin (2012) enfatiza é o fato das escolas xerente reelaboram constantemente o cotidiano dos moradores, pois os afazeres domésticos, as incursões no cerrado, a confecção de artesanato, o trabalho na roça, são mais privilegiados que os afazeres escolares em determinados períodos do ano.

Corrêa e Sarmento (2015) destacam que a educação assume um papel importantíssimo na vida da criança, sendo um dos maiores desafios de educadores e pais. Porém a mesmas autoras propõem que têm a possibilidade de tornar esta criança um sujeito autônomo, adquirindo sua liberdade moral e intelectual, isto é possível por meio da criatividade o que torna suas experiências significativas de satisfação, de autoria de pensamento e de fala, sendo sujeitos autores das suas próprias produções e personalidades.

Corrêa e Sarmento (2015) dizem que “a criança precisa encontrar significados e o porquê aprender a ler e escrever, sendo o princípio norteador para ocorrer esta aprendizagem” o professor deve auxiliar no encontro com esse sentido, para que o aprendizado não seja apenas algo imposto e uma prática vazia.

Fonte: encurtador.com.br/uBM08

REFERÊNCIAS:

CORRÊA, Juliana Queiroz Matos. SARMENTO, Tatiane Da Silva. Dificuldades de aprendizagem no processo de Alfabetização. Rio Grande do Sul: Revista pós-graduação: desafios contemporâneos v.2, n. 2. 2015.

GIRALDIN, Odair e MELO, Valéria M. C. de. Os Akwe-Xerente e a busca pela domesticação da escola. Campo Grande, MS: Tellus, 2012.

Mini Currículo: MAILSON WAIKAZATE XERENTE, acadêmico de pedagogia na Universidade Federal do Tocantins – UFT.

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Dicotomia linguística dos povos indígenas

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Este documento é um resumo do texto ‘A criança indígena: do falar materno ao falar emprestado’ de Terezinha Maher (2005). Para a autora, o que o branco brasileiro pensa sobre o índio é composto por imaginários equivocados. A Idéia da autora é mostrar a dificuldade da criança indígena com a língua não materna. O texto aborda o extermínio indígena desde a chegada do homem branco por volta do ano 1500, a população indígena foi dizimada em aproximadamente 90% do seu número original estimado.

Um dos equívocos do imaginário mencionado, começa com a transmissão da idéia do Brasil ter sido descoberto, essa informação ainda consta nos livros didáticos, e aos poucos temos que desfazer essa idéia do descobrimento e orientar os pequenos alunos que já haviam habitantes no nosso território, os indígenas. Atualmente no Brasil existem cerca de 220 etnias com uma população estimada em 370 mil pessoas. Dentro dessa divisão das etnias, existe também a divisão pela língua, os conhecidos troncos lingüísticos.

A grande maioria das etnias tem como tronco lingüístico o Tupi Guarani, entre as etnias que usam esse tronco temos os Tamoios, os Guaranis, os Zo´e, Os Kaxinawa pertencem ao tronco lingüístico Pano, Já os Xavante, os Kaigangue e os Xikrin utilizam o tronco lingüístico Jê.

O homem branco não tem noção do número de etnias existentes no território brasileiro, pensamos assim pois na nossa educação escolar, o sistema educacional que é construído a partir de um posicionamento ideológico tem como objetivo desconstruir a diversidade de etnias, fazendo de maneira que passamos a entender que o indígena é único, genérico, tornando-os todos iguais perante o imaginário do homem branco.

Fonte: encurtador.com.br/alBIW

Então o que temos na realidade são 220 maneiras de viver nas etnias indígenas, temos 220 culturas, línguas, crenças, diferentes. Logo não podemos utilizar o conceito de indígena genérico.

A educação entre os indígenas é dividida em duas fases, a educação indígena, que consiste na educação tradicional de cada etnia, no processo de socialização das suas crianças. E a educação escolar indígena, que consiste em conhecer a língua e costumes do homem branco para sobreviver na sociedade branca.

O Processo de aprendizagem da criança indígena é totalmente diferente da criança branca, na cultura indígena a criança aprende com a rotina cotidiana da aldeia, não tem horários definidos nem tarefas definidas como por exemplo, hora de acordar, hora de estudar, hora do balet. Na aldeia a criança aprende de acordo com as atividades realizadas, a caça, o plantio, a pesca, a brincadeira.

O processo de aprendizagem indígena é totalmente diferente do praticado pelo homem branco. No processo indígena é basicamente baseado no empirismo, na observação, na tentativa e erro.

O indígena é descrito de forma dual, as vezes como um inocente silvícola e outras como um ser demonizado, que age somente pelo instinto animal. Essa visão encontramos nos livros didáticos, na literatura e na imprensa.

Fonte: encurtador.com.br/fkEMV

A educação escolar indígena está dividida em duas fases, uma da década de 70, onde o indígena era educado através do processo de assimilação, onde o objetivo era educar o índio para que ele deixe de ser índio, onde ele abriria mão de sua língua, sua crença e seus costumes para se adaptar a vida do homem branco, tecnicamente torná-lo civilizado na visão do homem branco. As crianças eram retiradas das aldeias, internadas em escolas religiosas para serem catequizadas, para aprender a ser gente. A outra fase é a interação com a língua materna, alfabetizar a criança indígena com a língua materna e depois ensinar a língua portuguesa. Logo a língua mãe é utilizada como uma escada para o acesso ao conhecimento acadêmico.

Nos últimos anos a educação escolar indígena apresentou grandes mudanças, formando o jovem indígena com fluência na língua portuguesa e especialista na sua língua materna, sendo a língua mãe ensinada em todo processo educacional. Sendo usado um modelo educacional de enriquecimento cultural e lingüístico. A partir da década de 80 o indígena ganha uma visão, depois de muita pressão dos próprios indígenas, com conquistas na constituição de 1989.

Para o sucesso da escola indígena é necessário que o professor seja um professor indígena, pois a interculturalidade pode tornar-se prejudicial ao desenvolvimento educacional. Outra característica da escola indígena é a multisseriação pois as escolas tem poucos professores e poucos alunos. Segundo a autora o nível de stress na sala de aula indígena é muito menor do que em uma sala de aula convencional. O stress vai ocorrer quando o agente externo cobra junto ao professor indígena os resultados do cumprimento do programa.  O desafio da escola indígena é preparar seu aluno para o contato com o mundo exterior sem perder sua característica origam, sem perder sua cultura e sua crença, e sim se adaptar ao mundo exterior.

Fonte: encurtador.com.br/BGJV7

No mundo existem cerca de 4mil a 6 mil línguas, no Brasil existem pelo menos 180 línguas indígenas, além do português, línguas dos imigrantes e outras específicas como a linguagem de sinais. Mas existe um tipo de massificação da língua existente como uma só, para a maioria das pessoas só existe a língua portuguesa no Brasil. Então qual o motivo de se imaginar existir apenas uma língua no Brasil? Isso acontece porque a fixação da língua falada está diretamente relacionada com a posição social da sua população. Logo os indígenas e imigrantes por estarem em menor número e ter menos expressão social, suas línguas não ganham o destaque merecido. Temos uma influência religiosa para que o monolingüismo se sobressaia, pregando que o homem deve falar uma única língua para se entender. Então vemos que não é de hoje que acontece esse tipo de dominação. Voltando ao assunto indígena, a língua materna deve ser utilizada e não discriminada como vem ocorrendo atualmente.

A língua portuguesa foi apropriada pelos indígenas, tornando-se também uma língua indígena com suas adaptações e corruptelas verbais. Com o respeito aos direitos lingüísticos não apenas a garantia do direito ao uso da língua indígena, mas também o direito de não discriminação do português indígena.  E por final temos uma frase para pensarmos em todo o processo de educação, tanto na escola do homem branco quanto na escola indígena ¨… Por que não me deixam falar do jeito que eu quero?…¨

Fonte: encurtador.com.br/GKLX7

REFERÊNCIA:

MAHER, Terezinha. A criança indígena: do falar materno ao falar emprestado. IN: FARIA, A.L.G. e MELLO, S. (orgs). O mundo da escrita no universo da pequena infância. Campinas: Autores Associados, 2005.p.75-108.

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Os caminhos entre a cultura indígena e a ciência: (En)Cena entrevista Maria Helena Kubasi

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Professora narra sua história e conta sobre os conflitos com intelectuais que não aceitaram a fusão de crenças cristãs e indígenas.

Em visita à Aldeia Xerente Salto localizada no município de Tocantínia – TO, o (En)Cena entrevista a professora Maria Helena Kubasi, graduada em Educação Intercultural pelo Núcleo de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Goiás, e expoente na pesquisa e estudo da história Xerente. Maria Helena realiza pesquisas sobre a ciência indígena e possui várias publicações, entre elas um livro sobre a relação dos Xerente com o Dono da Água, espírito responsável por conceder o uso da água aos indígenas.

Na entrevista a professora narra sua história e conta sobre os conflitos com intelectuais que não aceitaram a fusão de crenças cristãs e indígenas. Maria Helena descreve também as diferenças entre a educação Xerente e a não-indígena, destacando a importância do respeito à cultura.

 

(En)Cena – Como começou seu interesse pelo estudo de História?

Maria Helena- Quando eu era menina, acho que eu tinha uns 8 anos, meu pai e minha mãe moraram comigo em uma fazenda, lá aprendi a falar português. Nessa fazenda, tem uma senhora que falava pra mim “Estudar é bom. Um dia você vai trabalhar você vai ajudar seu povo”. Era uma não-indígena. Aí eu entrei na escola, ela me colocou pra estudar, e lá fui alfabetizada. Desde criança eu queria ser uma enfermeira, igual ela falava pra mim. Depois eu mudei, e fui escolhida para ser professora, mas eu sempre tinha esse pensamento de um dia estudar e trabalhar com o meu povo. Então eu sabia que Waptokwá Zawre (Deus sol), já tinha me escolhido para eu ser essa pessoa. Já veio dentro de mim. E aí, eu pensei, eu vou fazer História, pra estudar a minha cultura e a cultura de não-indígenas. Aprendi a pesquisar, aprendi a amar meu povo. Porque quando eu tinha 25 anos, eu não queria ser índia, eu queria trabalhar, queria falar bem, queria morar na cidade. Igualmente, eu morei muitos anos na cidade, só que agora eu estou aqui, agora tenho outra visão. Amo minha cultura, e procuro amar muito mesmo. Respeitar, não só amar, e ajudar meu povo.

(En)Cena – Como o povo Xerente se sente quando os não-indígenas vêm para a Aldeia?

Maria Helena- O povo Xerente se sente, quando o povo de fora vem, igualmente o Professor (Rogério Marquezan) que pesquisou aqui, se sente muito alegre. Esperam, quando o Cacique anuncia, como agora a pouco anunciou a vinda de vocês, fica todo mundo ansioso para descobrir quem vai ser, quem vai vir, quem são as pessoas que o Professor vai trazer. Porque o Professor, todo mundo já conhece. Mas é muito bom. A comunidade Xerente recebe bem, e não tem essa diferença, “não, esses que chegaram não é akwen (Xerente)”, não falam assim. Porque vêm com uma pessoa que já conviveu aqui.

Maria Helena conta sobre sua carreira acadêmica aos visitantes. 

(En)Cena – Quando você decidiu pelo estudo, houve conflito entre as crenças Xerente e as crenças não-indígenas?

Maria Helena- Teve momentos de conflito com os professores, pois sou evangélica, sou da Batista, e aí sim, tem uns professores que falaram para nós “por que a gente era aquilo?”, que a gente já tinha nossa religião. A gente tem sim a nossa religião, só que ela bate com a evangélica, e eu falava que tudo é igual. Porque o Waptokwá Zawre, na nossa história Deus subiu, igualmente, para os evangélicos na Bíblia está escrito. Falei para ela. “Ah, mas eu não acredito”, daí eu respondi, “Pois se a senhora não acredita, doutora, eu acredito e estou aqui!”. E tem mais, eu procurei com meu pai e minha mãe, principalmente meu pai fala, para respeitar a cultura do outro, a religião. Então pra mim se a professora fala isso, é ela que está falando, mas eu respeito. Então teve sim, inclusive até o pastor Silvino, o Sinval, todos nós éramos evangélicos e estudávamos lá, e aí vários professores falaram para nós, “Por que é evangélico?”. Mas eu achei bom, porque antes quando era catolicismo fazia muita festa, os Akwen acreditavam muito nos santos, que até hoje tem aqui, tem uma ali. Mas quando a evangelização entrou, voltou igual antigamente. Antigamente não tinha festa, só festa de dentro da cultura, mas festa que não é do não-indígena. Festejar santo não tinha. Então, pra mim foi uma coisa que bateu, aí a gente sempre dizia isso. Quando veio um professor que tem uma tese, me falou daquele jeito, eu falei “poxa”. A gente respeita sim, mas bateu, sempre estará andando lado a lado com a nossa cultura. Eles não proíbem a gente de pintar (o corpo), de dançar, de tirar a blusa, nem nada disso. Inclusive eles ensinam o melhor caminho para nós, igual à antigamente. Quem era bom, chegava no céu, quem não era bom tinha um pássaro para comer, ou ia cair na água e ser comido por um peixão, pois tinha muito pecado. Então eu acredito.

Maria Helena canta canções de sua própria autoria aos visitantes.

(En)Cena – Como se dá o relacionamento entre os Clãs dentro da Aldeia?

Maria Helena- Isso é muito importante. Você que pintou (apontando para as pinturas que tínhamos acabado de fazer nos braços, com os símbolos de diferentes clãs), tem que respeitar aquele outro clã que é dessa listrinha. Você respeita e ela te respeita, se ela está falando você não fala. Quando ela acaba de falar, você entra, e assim é a cultura. Nas reuniões, um clã levanta, fala, fala, fala, e o outro não interrompe. Aí acaba de falar, o outro vai e fala, e é assim, é por clã. Mas com respeito também. Às vezes tem uns jovens que não respeitam, mas é muito bonito, o pessoal respeita muito. Não é igual quem convive muito na cidade, até numa sala de aula é diferente. Não é igual os não-indígenas, que quando alguém fala é “aaaaaaa”, aí fala os dois. Não é assim, aqui é diferente (risos). Eu ensinei os meus alunos, e eles aprenderam. Aí um dia a coordenadora chegou lá e falou assim “Por que as crianças estão quietinhas?”, aí eu falei, “Agora é do meu jeito, não briguei, eu ensinei eles a ouvir”. E aí a coordenadora ficou tão surpresa. Lá nem tinha mais barulho. Meu maior desejo era voltar pra aldeia e trabalhar aqui. Aí eu pedi a transferência, vim pra cá, e hoje estou aqui, muito feliz.

(En)Cena – Hoje você tem a oportunidade de ensinar as crianças daqui?

Maria Helena- A tarde eu trabalho com crianças de 4° ano, e à noite com a EJA, 8° e 9° ano. Eu ensino as crianças, falo sobre os clãs, aí eles conhecem os parentes. Digamos se você vê aquela ali (com a pintura diferente), você vê que não é seu parente. Se você ver alguém com mesma pintura, você sabe “essa aí é da mesma partida”. Aí você pode ir cumprimentar, “oi, tudo bem?”, mas de outra partida não, pode ir lá também, mas com respeito. As crianças se conhecem pela pintura. Quando eu estudei, chegou lá um rapaz, eu não sabia que era meu parente, mas quando ele se pintou, eu falei “olha, você é meu parente!”, aí nos conhecemos. Eu posso ir lá ao Brejo Comprido, muito longe, não sei quem são, mas se eu ver: meu parente!

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