O que é o Mental Fitness?

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A vida é uma conjunção de escolhas e consequências de ações, isso é meio que universal em todos os aspectos. Palavras não podem ser retiradas, tudo de bom e tudo de ruim que já aconteceu teve algum ponto de ignição, muitas vezes por interferência humana.

Um exemplo prático é a obesidade, a desregulação alimentar acrescida do sedentarismo impulsionará um indivíduo a adquirir camadas e camadas de gordura extra no seu corpo de modo que no futuro sofrerá fisicamente (mentalmente também) com a forma que lidou com essa situação.

Fonte: Imagem by vectorjuice no Freepik

Trazendo para o campo psicológico, temos os transtornos e doenças psíquicas que tiveram início através de um construto de fatores, resultantes de questões biológicas ou até mesmo reações externas. Assim como a obesidade, a depressão precisa de tratamento, o acompanhamento profissional e as atividades psicoterápicas proporcionaram para o indivíduo uma melhoria no seu quadro depressivo.

Mas o que isso tem a ver com o título do texto? Bem, inicialmente é preciso observar que a palavra fitness, adotada no Brasil para atribuir a um condicionamento físico saudável, traz uma condição de prevenção na prática e cuidado com a saúde física.

Esclarecendo o ponto, uma pessoa que pratica atividade física busca, quase que universalmente, um equilíbrio nas suas condições físicas, de modo a evitar prejuízos com saúde e impulsionando seu bem-estar e longevidade.

Porém o compromisso saudável não é fácil, posto que em alguns casos não é possível perceber uma mudança imediata nos aspectos físicos e sanitários da pessoa, de igual modo, uma pessoa que possui a mente prejudicada por transtornos não diagnosticados muitas vezes não se dá conta do prejuízo que esse lhe causa a longo prazo.

Agora, conectando-se com o texto, essa nova onda comportamental, com origem recente, busca conectar os cuidados prévios da saúde física e mental, por isso o nome Mental Fitness.

Uma curiosidade interessante a ser destacada são as recentes divulgações cientificas sobre os “cérebros” localizados no Intestino e Coração humano, já farei uma conexão com essas informações.

A saúde mental, por um tempo, foi compreendida somente como o zelo nas relações, não sendo observado precipuamente o corpo como um fator para o bem-estar da mente (mas este muitas vezes foi utilizado para associar algum aspecto doente, por exemplo, ansiedade e obesidade ou depressão e anorexia).

Nos mais recentes estudos, foi descoberto que a má alimentação, ou a ingestão de alimentos não saudáveis são prejudiciais para o cérebro, podendo alterar o comportamento cognitivo de alguém. O maior exemplo que pode ser apresentado é o do chocolate que se consumido de forma irregular e demasiada pode se tornar um produto vicioso com efeitos similares – porém diminutos – ao ópio.

Fonte: Imagem by Freepik

Além da dependência ao chocolate outra reação possível é a obesidade e problemas de saúde relacionados ao açúcar, como diabetes. 

É sempre importante lembrar que tudo que ingerimos sempre será a junção de compostos químicos que podem (ou não) alterar nossas capacidades cognitivas de forma momentânea ou duradoura.

Com isto, manter bons hábitos alimentares, em conjunto com a prática de atividades físicas, bem como com o exercício da resiliência individual podem guiar o ser humano a uma vida mais plena de modo a evitar prejuízos à saúde física e mental a curto e longo prazo.

Fonte: Imagem por rawpixel.com no Freepik

Falando sobre hábitos alimentares e resiliência. Recentemente foram disponibilizados estudos que afirmam que o Intestino, órgão responsável por fazer a digestão dos alimentos possui cerca de 500.000.000 (quinhentos milhões) de neurônios, uma quantidade inferior somente ao próprio cérebro que possui bilhões de conexões neurais. Mas por que isso é relevante? Bem, como dito acima, os alimentos influenciam diretamente no comportamento humano e quando bem tratado (bem alimentado) poderá impulsionar o indivíduo a apreciar a vida de forma plena.

Assim como o intestino, o coração foi outro órgão que se descobriu uma quantidade significativa de neurônios, aproximadamente 40.000 (quarenta mil) neurônios estão presentes e participam constantemente do funcionamento do coração. Essas informações servem para compreender que a prática de resiliência com as relações sociais e pessoais podem sim colaborar para o bem-estar psicológico, mantendo sua mente fitness.

Lembrando que é impossível controlar todas as situações que ocorrem, como dizia a frase “como culpar o vento pela desordem feita, se fui eu que deixei a janela aberta”, não somos capazes de premeditar todas as situações negativas que acontecerão conosco, mas podemos nos preparar física e mentalmente para suportá-las de forma a minimizar os prejuízos sofridos.

Por isso surgiu essa ideia de Mental Fitness que busca alcançar o ápice do bem-estar humano.

 

REFERÊNCIAS

VARELLA, Mariana. Neurônio. Portal Drauzio Varella. Disponível em <https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/neuronio/>, acessado em 16 set 2022.

GODI, Dianna. Os efeitos que o consumo de chocolate pode causar nas pessoas. Minuto Psicologia. Disponível em <http://www.minutopsicologia.com.br/postagens/2021/07/07/os-efeitos-que-o-consumo-de-chocolate-pode-causar-nas-pessoas/> acessado em 15 set 2022.

DESCONHECIDO. Por que o intestino é considerado nosso ‘2º cérebro’ e outros 5 fatos surpreendentes sobre o órgão. BBC NEWS Brasil. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/geral-45664504> acessado em 16 set 2022.

DESCONHECIDO. O coração também tem neurônios. Disponível em <https://amenteemaravilhosa.com.br/coracao-tambem-tem-neuronios/>, acesso em 14 set 2022.

DESCONHECIDO. Fitness mental: saiba o que é e conheça alguns exercícios. Disponível em < https://melhorcomsaude.com.br/fitness-mental/>, acesso em 16 set 2022.

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Ambiente de trabalho caótico: oficina de transtornos físicos e mentais

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Com o avançar da sociedade, as mutações presenciadas no setor industrial e de serviços, o crescimento exponencial das demandas em serviços necessários e voluptuários (supérfluos) tem criado um cenário profissional extremamente agitado de competição comercial para entregar o melhor produto e o mais eficiente para o consumidor.

Essa visão de produtividade e comprometimento com público-alvo é algo vem, como dito, se intensificando através dos anos, algumas empresas adotam a postura de aperfeiçoar o serviço desempenhado por seus colaboradores através de novas contratações ou supressões de etapas não essenciais na construção do seu objetivo.

Serviços e produtos que possuem grande demanda são encontrados em todos os seguimentos, por exemplo, automobilístico, aplicativos virtuais, suporte técnico, logística, até mesmo o delivery pode ser observado nesta ótica.

Mas nem tudo são rosas, uma das principais contrapartidas desse grande crescimento e até mesmo pressão dos consumidores em ter o melhor produto, na maior rapidez possível, com o custo-benefício extraordinário faz com que muitos empresários criem um cenário caótico entre seus colaboradores.

Obviamente que um cenário desordenado não é derivado somente da pressão causada pela sociedade em geral, muitas vezes o despreparo do gestor, a falta de uma equipe multidisciplinar que tenha ênfase em psicologia organizacional acaba por não conseguir evitar os atritos e pressões vivenciadas pelos trabalhadores.

As consequências dessa grande pressão, metas profissionais inalcançáveis torna um ambiente crítico que repercute diretamente na vida do indivíduo que exerce aquela atividade essencial para a satisfação direta ou indireta do público.

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Quem não se recorda, por exemplo, da comoção nacional para conscientização sobre os riscos dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT, popularmente conhecida como Lesão por Esforço Repetitivo – LER, que é resultante exatamente da grande “mecanização” do corpo humano na execução de uma atividade profissional. O DORT é apenas um dos riscos que já foram amplamente discutidos na mídia nacional. Contudo, outras situações também atingem a estima dos colaboradores, um ambiente de competitividade e cobrança desregulada cria na psique do indivíduo.

Excesso de cobrança, exaustão extrema, esgotamento físico são características da Síndrome de Burnout, uma condição que tem ganhado grande destaque em razão do grande risco à saúde dos profissionais no mercado de trabalho.

Fonte: Imagem no Freepik

De acordo com o próprio site governamental, a síndrome de Burnout causa depressão, exaustão física e mental, falta de vontade e energia, sentimentos de incompetência, priorização das necessidades de terceiros, alterações de humor, etc.

É uma condição que merece ser tratada com zelo e profissionalismo, vez que sua existência prejudica demasiadamente a vida íntima, pessoal e profissional do seu portador.

Medidas alternativas para construção de um ambiente de trabalho engajado e que entregue excelentes resultados da forma mais célere e eficiente possível já estão sendo estudados. Empresas que incentivam o desenvolvimento pessoal e trabalham de forma digna com a compensação de seus colaboradores já vem demonstrando sinais de melhor qualidade de vida organizacional.

Desta forma, o caos pode ser tratado, desestimulado e até mesmo transformado positivamente para o bem-estar daquele ambiente de trabalho.

REFERÊNCIAS

DESCONHECIDO. LER/DORT são as síndromes que mais acometem trabalhadores brasileiros. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. INFORME ENSP. Disponível em <https://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/52793> acesso em 26 ago 2022.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Síndrome de Burnout. disponível em<https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout> acesso em 26 ago 2022.

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Eu, Pierre Rivière, que Degolei Minha Mãe, Minha Irmã e Meu Irmão

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FOUCAULT, Michel. Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão: Um caso de parricídio do século XIX apresentado por Michel Foucault; tradução de Denize Lezan de Almeida. Rio de Janeiro. Edições Graal. 1977.

O parricida Jean Pierre Rivière tem seu caso publicado originalmente nos Annales d’hygiène publique et de Médecine Légale em 1836 como a junção das peças judiciárias do processo, as perícias médico legais e seu memorial. O jovem “de vinte anos, 5 pés de altura, cabelos e sobrancelhas negros, suíças negras e ralas, testa estreita, nariz médio, boca média, queixo redondo, rosto oval e cheio, tez morena e olhar oblíquo1   que, em 1835, mata sua mãe, seu irmão e sua irmã virou tema de um grupo de pesquisa interessado na história das relações entre psiquiatria e justiça penal.

A obra “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão” é resultado de um trabalho coletivo entre estudantes do Colllège de France, coordenado por Michel Foucault. Esse grupo de dez alunos expõe questionamentos intrigantes e atemporais.

O texto vincula o leitor à contextualização dos fatos, mostrando na apresentação os motivos da publicação, a relevância e repercussão do caso no período histórico e adverte a “singularidade para a época e para a nossa também” (XI, Apresentação). A sequência de homicídios impacta a civilidade  francesa do século XIX, principalmente quando perpetuada por um jovem camponês, considerado ativista cristão, que justifica seus bárbaros atos por uma perspectiva “divina”.

Fomentados pela mídia local, alguns médicos afirmavam a existência da alienação mental hereditária na família do réu, fato que incidiria numa execução com fins de tratamento ao alienado. Os magistrados, por sua vez, tendem ao entendimento de que Pierre seria imputável, logo a urgência de encaminhá-lo a um tribunal do júri. Afinal, como atribuir inimputabilidade já que o indivíduo encontrava-se lúcido no momento dos homicídios e ainda demonstra notável consciência e frieza ao descrever e justificar sua barbárie familiar?

O texto é dividido em dois capítulos. Capítulo primeiro, “O Dossiê”, contendo seis seções: O Crime e a Prisão; A Instrução; O Memorial; Pareceres Médico- Legais; O Processo ; Prisão e Morte, em um total de 180 páginas. Capítulo segundo, “Notas”, é composto por  sete seções, algumas feitas em conjunto: O Animal, o Louco, a Morte; Os Assassinos que se conta; As Circunstâncias Atenuantes; Regicida- Parricida; As Vidas Paralelas de Pierre Rivière;  Os Médicos e os Juízes; As Intermitências da Razão, que completa as 294 páginas. O foco narrativo é em terceira pessoa, sendo um narrador observador, o que justifica a perspicácia da equipe em datar os documentos e organizá-los de forma aparentemente cronológica para que os leitores tomassem ciência conforme os fatos iam acontecendo.

Foucault, coordenador da obra, parte do pressuposto da análise das relações entre a psiquiatria e a justiça penal, daí a justificativa de conter no Dossiê, capítulo I, o processo, o memorial e os pareceres médico-legais. A evolução do direito não permitiria que se aplicasse a norma positivada, apenas, tomando grau de importância imprescindível os laudos médicos que, de formas diferentes, segundo o conhecimento e especialidade de cada um, justificam as atitudes de Pierre como resultado de sua alienação mental. Esse tensionamento entre os discursos alienista e jurista provoca mudanças na percepção da execução do réu. Inicialmente condenado à morte como parricida e fratricida, fora perdoado e convertida a pena em prisão perpétua (p. 180).

O fato de esclarecermos de antemão o desfecho da obra – prisão perpétua de Pierre – não deve desmotivar o leitor a imergir na obra coordenada por Foucault. O estilo da escrita cientifica da época, a eterna luta territorial entre os discursos médico-orgânicos e jurídico sociais tornam a leitura uma aula de história das idéias: “Rivière é originário de uma família onde a alienação mental é hereditária” (L. Vastel); as análises do transtorno familiar que o réu presenciou durante toda sua infância e adolescência, que já haviam sido levados ao judiciário em outras ocasiões (p. 84); a relação de desconforto da parte de seu pai, que várias vezes cita o anseio de suicidar-se  para alcançar o fim da infelicidade por ter como esposa – ainda nas palavras de L. Vastel Caen – uma mulher de gênio obstinado, imperioso, impertinente, que o  fazia mal constantemente, porém não era dona de suas ações. Seu tio, irmão de sua mãe apresenta sinais de loucura durante toda a vida, bem como dois primos e sua mãe, como já mencionado, e ainda tem-se a hereditariedade como um dos efeitos mor na produção da loucura, segundo os laudos-médicos.

Dentre o grande inventário de características assinaladas pela loucura na família do réu, observa-se o horror pelas mulheres, o desprezo pelas atitudes de mãe que maltratava o marido, seu pai, e sua própria mãe, avó de Rivière. Com intuito de livrar seu pai do sofrimento contínuo, inspirado por Deus, como escrito em seu memorial, agindo em seu nome, como expõe em seus depoimentos, decide a morte de sua mãe e com ela a de sua irmã, que sempre tomara partido da mesma. Todavia, para que seu pai gozasse da liberdade plena, era também necessário livrá-lo de seu pequeno irmão que Pierre tanto amava. Dessa forma seu pai chegaria a aplaudir a morte de seu libertador, Rivière, quando a este fosse aplicada a lei.

Enfim, esses são apenas pequenos fragmentos temáticos atravessados pela obra. Para um desdobramento mais detalhado sugerimos a leitura atenta e completa dessa produção fundamental para pessoas sedentas de conhecimento.


1 FOUCAULT, Michel. Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão: Um caso de parricídio do século XIX apresentado por Michel Foucault; tradução de Denize Lezan de Almeida. Rio de Janeiro. Edições Graal. 1977.p 11

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A saúde mental do profissional de saúde

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Um dia viajando, passei pelo aeroporto de Brasília e havia uma atração muito interessante, uma exposição, onde se entrava em uma pequena cabine e com um fone ouviam-se os relatos de profissionais médicos que fizeram um trabalho chamado Médico Sem Fronteiras. Esse é um trabalho em que os profissionais vão até países de extrema pobreza ou que passaram por catástrofes recentes com o intuito de tentar diminuir a dor e o sofrimento da população.

Interessei-me pelos depoimentos das pessoas que puderam de alguma forma, mudar a realidade de um povo com solidariedade, dedicação e muito suor e amor ao próximo. Porém um dos depoimentos eu jamais consegui esquecer, foi à história de um médico de 37 anos, residente em Belo horizonte, que passava por problemas pessoais, estava insatisfeito com seu trabalho, não estava se relacionando bem com a esposa, com os filhos e com os pais. Depois de muitas tentativas com remédios ansiolíticos e nenhum resultado prático ele viu a oportunidade de fazer algo diferente que lhe daria prazer e uma grande satisfação pessoal: inscreveu-se no programa e embarcou para a África, mais precisamente para Windhoek, capital da Namíbia, cidade de 250 mil habitantes.

No início da história ele contou da chegada ao país, da precariedade do transporte, da infra-estrutura, da pobreza e da fome que assolam o país. Chegando ao único hospital público da cidade ele foi apresentado a outro médico que também veio através do programa, um croata que lhe deu boas vindas e o alertou das dificuldades que ele encontraria, pois os dois eram os únicos médicos do único hospital público da capital do país.

Certo dia veio, à emergência, uma criança, no colo de um pai aos prantos, com dificuldade respiratória devido a um trauma; o médico agiu rápido, desobstruindo as vias aéreas e salvando a vida do garoto, que, por coincidência, tinha a mesma idade do seu filho. O pai da criança não cansava de agradecer ao médico, repetia gestos carinhosos e o abraçava insistentemente.

Após esse episódio todos os dias que o médico brasileiro chegava ao hospital, o pai desse menino estava lá, recebendo-lhe com um abraço e falando em voz alta para que todos que estivessem por perto ouvissem que aquele homem era um grande profissional! E sempre ao final dos cumprimentos ele chorava dizendo que ele era um enviado de Deus que lhe concedeu a oportunidade de conviver por mais muitos anos com seu filho.

Ao final do relato o médico disse que simplesmente fez o seu serviço corriqueiro, nada além do trivial, mas que aquilo havia mudado a realidade de uma família.

Ao voltar para o Brasil, ele fez uma reflexão sobre o que acontecia na sua vida antes da viagem em relação à sua saúde mental e em como os profissionais médicos o estavam tratando. Ele disse que o que ele realmente precisava era saber que seu trabalho era valorizado por alguém, que naquela sociedade cercada de correria e de stress era preciso saber tratar cada pessoa como ser humano, que tem sentimentos e que, assim como ele, muitas vezes estava carente e precisava de atenção. Seus problemas não eram tão graves a ponto de precisar de um tratamento a base de medicamentos, afinal ele era bem casado, era um profissional bem sucedido, seus filhos gozavam de boa saúde e conseguia trabalhar naquilo que era seu sonho de infância.

Acontece que existe um processo de medicalização que a cada dia dita o ritmo de vida e o cotidiano das pessoas, tornando-se necessário a opinião médica em qualquer conflito no meio social, fazendo com que cada vez mais os problemas comuns do dia a dia passam a ser resolvidos com um fármaco. Porque tomar remédios ansiolíticos pra tratar um sofrimento que é natural do homem?  Problemas afetivos poderiam ser resolvidos de outra forma, com diálogo franco com a esposa e quem sabe uma viagem com a família pra discutir as relações interpessoais e ter uma reflexão melhor do seu contexto atual de convivência seriam mais úteis do que medicamentos.

Precisaria esse médico ter que passar por esse circuito de remédios para descobrir de fato onde estavam seus problemas e como resolvê-los? Certamente não precisaria, se ele não fosse considerado o único problemático em questão. Dando ênfase à importância do indivíduo em relação ao grupo familiar e social, assim não é apenas o sujeito e sua dimensão de indivíduo que será observado, mas também a família e o grupo social serão agentes das mudanças buscadas.

Dessa forma, o cuidado implicaria posicionar o paciente de certo modo que ele esteja inserido nos conflitos e contradições que o acometem, porém reposicionando-o de tal forma que, ao invés de apenas sofrer os efeitos desses conflitos, ele consiga reconhecê-los e saber que além de deter o sofrimento, ele é um agente da possibilidade de mudanças, mesmo sabendo que mudar vários fatores não depende de sua ação imediata e sim de uma série de etapas a serem cumpridas.

Até os profissionais de saúde, muitas vezes precisam melhorar sua saúde mental para poder exercer com eficiência e plenitude o seu ofício. Movimentos já existem, porém precisam ganhar forca, somos parte dessa mudança! E como a capa da revista da Veja mostrou há uns anos atrás: MENOS PROZAC E MAIS FILOSOFIA!


Nota: o texto é resultado de uma atividade da disciplina de Psiquiatria do curso de Medicina do ITPAC – Porto.

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