Transtorno do Espectro Autista: abordagem histórica e social

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A neurodiversidade que hoje compreendemos de forma mais ampla, ainda que não tão conhecida pela sociedade por completo, por tempos fora taxada como doença mental, homens, mulheres e crianças que não se encaixavam nos padrões de comportamento da sociedade eram enviados a manicômios para viver alheios à sociedade, perdendo seus direitos, cerceando sua liberdade e as forçando a viver sem o mínimo de dignidade, tudo isso alicerçado no discurso médico da época que “subtrai a totalidade subjetiva e histórico-social a uma leitura classificatória do limite dado pelo saber médico […] uma leitura produtora da redução, exclusão e morte social” (CARVALHO, 1995).

Após a luta do movimento antimanicomial, esses homens e mulheres que eram encarcerados com o rótulo de doentes mentais começaram a ter sua dignidade restituída, e passou-se a encontrar novas formas de tratamentos e diagnóstico de transtornos mentais de forma correta, para o melhor tratamento destes indivíduos. Dentre estes encontramos o transtorno do espectro autista que apresenta os seus sintomas já na primeira infância, sendo caracterizado como uma neurodiversidade que pode apresentar diferentes formas de manifestação de sintomas.

Em 1943 foi diagnosticado pela primeira vez em 11 crianças o transtorno do espectro autista, que na época fora denominado pelo Dr. Leo Kanner como um “distúrbio inato do contato afetivo”, ainda que condições idênticas tais como a destes casos.

Para Kanner essas crianças nasciam com um desinteresse pelo contato social, apresentando também resistência a mudança, caracterizou as como portadoras de uma “insistência nas mesmas coisas” pois apresentavam comportamentos de pânico e séria perturbação gerada pela desordem ou mudança de rotina, podendo também apresentar rigidez quanto ao tipo de roupa e comida, comportamentos motores aparentemente sem função específica, conhecido como estereotipias, bem como comportamentos de repetição de fala tardia ou imediata, ou até mesmo a emissão de apenas uma parte da ecolalia com a alteração no restante do conteúdo da fala, a ecolalia mitigada.

Fonte: Autoria de José Nicolas, Crianças em hospital psiquiátrico no Líbano em 1982

Para Kanner, o diagnóstico de autismo se dava por meio de duas grandes características, sendo eles em primeiro lugar o isolamento social, e em segundo os “comportamentos anormais” e a insistência nas mesmas coisas (DO AUTISMO, Federação Portuguesa. Autismo. 2017.).

A medida que os anos foram passando, o nosso conhecimento enquanto sociedade foi se aprofundado acerca dos mais diversos temas, entre eles o conhecimento sobre o TEA, já em 1970 chegou-se ao consenso de que o autismo era caracterizado por déficit no desenvolvimento social de um tipo muito diferente em comparação ao das crianças típicas; déficit na linguagem e em habilidades de comunicação; resistência à mudança, rigidez comportamental atrelada a rotinas, estereotipias; início nos primeiros anos de vida. (DO AUTISMO, Federação Portuguesa. Autismo. 2017)

Durante muito tempo foi acreditou que todos os autistas apresentavam também deficiência intelectual o que na realidade mostrou-se falso, e que o que realmente se apresentava como fator determinante para o desenvolvimento cognitivo desses indivíduos é a adesão precoce a intervenções que estimulem as áreas que apresentem atraso, proporcionando o desenvolvimento esperado para cada marco do desenvolvimento.Por outro lado, a mídia por vezes buscou fortalecer a mentalidade de que todos os indivíduos autistas têm capacidades cognitivas acima do esperado para atividades específicas, como música, desenho, memória, ou até mesmo calcular calendário para eventos do passado ou futuro, como podemos perceber no filme Rain Man. No entanto, este tipo de habilidade é rara entre os indivíduos com TEA.

Atualmente com a evolução das nossas descobertas científicas, e estudos mais aprofundados e conscientização social, é possível perceber que os indivíduos com autismo passam a ter lugar de fala na sociedade, já não há mais a sensação de que é algum tipo de fenômeno que acontece longe de nós, e que estas crianças, homens e mulheres, apenas apresentam uma forma diferente da nosso de estar no mundo, o sentem e respondem a ele de uma forma diferente, a sua neurodiversidade por vezes os fará capaz de ter compreensões mais profundas sobre algumas realidades que mundo enfrenta, como a crise ecológica que vivemos e tão bem interpretada por Greta Thunberg e passa a lutar pelo nosso meio ambiente, buscando a preservação da vida no nosso planeta.

Faz-se necessário compreender mais e acolher estes indivíduos neurodiversos, promover políticas públicas que auxiliem as famílias que não conseguem arcar com o tratamento para gerar dignidade para estes indivíduos, fortalecendo as redes de apoio, preparando as escolas para que possam ter oportunidades como os indivíduos considerados como típicos.

Referências

CARVALHO, Andréa da Luz; AMARANTE, Paulo. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. In: Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 1995. p. 143-143.

DO AUTISMO, Federação Portuguesa. Autismo. 2017.

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Intervenção precoce no TEA: uma estratégia de cuidado

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O transtorno do espectro autista (TEA) teve seu primeiro registro na literatura em 1911, pelo psiquiatra, Eugen Bleuler, em artigo intitulado “Demência precoce e o grupo das esquizofrenias”, onde além das observações voltadas para as características da esquizofrenia, outras relacionadas a um comportamento de introspecção também foram identificadas, que levaram o psiquiatra  “a denominar o quadro como Autismo – que vivem para si mesmos, dentro de um mundo próprio” (ALMEDA;ALBUQUERQUE, 2017, p.2)

O TEA é algo que vem sendo bastante estudado na atualidade, pois são inúmeros os desafios que regem as intervenções, diante da multiplicidade das variações dentro do espectro. As pesquisas estão ampliando o olhar acerca de métodos que podem ser utilizados na prática, por diversos profissionais para alcançar melhores resultados, nos processos de reabilitação de pessoas portadoras do TEA, sendo consensual entre os estudiosos afirmar que “quanto mais cedo for iniciada a intervenção no transtorno do espetro do autismo, mais fácil será evitar a cristalização e agudização dos problemas, bem como possíveis aparecimentos de efeitos secundários” (COSTA, 2014, p.13).

As discussões ocorrem no campo de registrar os resultados de uma intervenção precoce no TEA, quando a mesma acontece, bem como o preparo de profissionais, família e escola no manejo das intervenções. A qualidade de um método, influencia diretamente nos resultados, porém sem o preparo dos envolvidos no processo, esses resultados muito provavelmente estarão comprometidos negativamente (COSTA, 2014).

Fonte: encurtador.com.br/ozPW1

A caracterização do autismo é feita no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2013), onde se apresenta na forma de espectro, que leva em consideração a intensidade da sua apresentação para a sua classificação e assim orientar as intervenções de acordo com o caso apresentado, definindo assim a demanda de suporte necessária (ALMEDA; ALBUQUERQUE, 2017, p.4)

O TEA leve demanda um suporte espontâneo e geralmente apresentam dificuldades na comunicação, interação, e ainda fixação em interesses restritos. Já o classificado no nível moderado tem essas dificuldades acentuadas, promovendo a necessidade de um suporte substancial. Enquanto o nível severo, se coloca numa demanda de suporte intensa e substancial, devido a uma limitação muito maior na comunicação verbal e não verbal, com reações graves a qualquer tipo de mudança, que se manifesta através da automutilação (ALMEDA; ALBUQUERQUE, 2017, p.4).

Almeida e Albuquerque (2017) ainda acrescenta que com a presença de um quadro que necessita de tamanha atenção, devido principalmente a grande dificuldade em se relacionar com as pessoas, que também pode incidir em outras demarcações de comportamento, como a seletividade alimentar, problemas sensoriais e distúrbios de aprendizado, daí a importância de o quanto antes haver a intervenção necessária, de forma a minimizar os danos e progredir na adaptação, através das suas vivências.

Fonte: encurtador.com.br/ciIY8

Segundo Costa (2014, p.17), a intervenção precoce, surge nos anos 60, como uma forma de prestar apoio inicialmente a crianças socialmente desfavorecidas, mas sua definição atualmente consiste na “prestação, por parte de uma equipe multidisciplinar de serviços que são dirigidos à criança e à família, com o objetivo de reduzir ao máximo os efeitos dos fatores de risco, no desenvolvimento da criança”.

A intervenção precoce pode ser prestada em diferentes contextos, porém com a parceria entre os diversos espaços em que a criança está inserida, contribuindo diretamente para a melhoria da qualidade de vida. Um olhar ampliado e integral deve ser lançado, o que requer a presença de diferentes serviços envolvidos nessa prática, como alternativa de um percurso que contemple de fato as reais necessidades, numa “perspectiva sistêmica e ecológica” (COSTA, 2014).

O TEA não tem cura e é um desafio para todos os profissionais envolvidos no processo de reabilitação e deve ser vivenciado a partir da utilização de métodos comprovados e eficazes, sendo o trabalho multidisciplinar uma estratégia que amplia a abrangência da intervenção, possibilitando a interação das terapias e promovendo assim um tratamento diferenciado, observando as dificuldades e potencialidades, levantando assim a necessidade de um preparo no manejo da demanda, por parte de todos os envolvidos  (ALMEDA; ALBUQUERQUE, 2017).

Para Costa (2014, p.22) “a intervenção precoce é fundamental para o desenvolvimento dos comportamentos subsequentes mais complexos e tanto mais eficaz quanto mais cedo for iniciada”, por isso se torna algo relevante a se considerar, nos casos de TEA, em que os problemas no desenvolvimento e risco biológico e/ou ambiental são identificados. Portanto, intervir precocemente pode prevenir ou minimizar os danos, acelerando o desenvolvimento e reduzindo progressivamente a demanda de suporte, impactando também nos gastos com serviço de reabilitação.

Sendo assim, a intervenção precoce, envolvendo diferentes profissionais, para os casos de diagnóstico de TEA, se constitui em uma importante estratégia para prática de um cuidado direcionado, que considera aspectos importantes, logo que os sintomas surgem, promovendo maiores possibilidades na evolução dos processos adaptativos de uma pessoa com esse diagnóstico, melhorando assim sua qualidade de vida.

Fonte: encurtador.com.br/ciIY8

Referências:

ALMEDA, Caroline Martins de; ALBUQUERQUE, Karine. Autismo: Importância da Detecção e Intervenção Precoces. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 02, Vol. 01. pp 488-502, Abril de 2017. ISSN:2448-0959. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/wp-content/uploads/artigo-cientifico/pdf/autismo.pdf. Acesso: 25/03/2021

COSTA, Daniela Cristina Ferreira da. Intervenção Precoce no Transtorno do Espetro do Autismo. Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação João de Deus com vista à obtenção do grau de mestre em Ciências da Educação na Especialidade de Educação Especial: Domínio Cognitivo e Motor. Lisboa, 2014. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/14422/1/DanielaCosta.pdf. Acesso 25/03/2021

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Estratégias de Intervenção de Transtornos do Neurodesenvolvimento

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Os transtornos de neurodesenvolvimento envolvem déficits no cognitivo humano que trazem consequências e mudanças ao longo de toda a vida do indivíduo. Conforme Ramires e colaboradores (2009) existem milhares de crianças diagnosticadas com sintomas psicológicos que afetam o desenvolvimento englobando aspectos da aprendizagem, convivência social, perspectiva emocional, ocasionando ainda transtornos alimentares e dentre outros.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde – OMS (2019), acredita-se que pelo menos 20% das crianças e adolescentes do globo sofrem de algum transtorno mental. Uma das consequências associadas ao transtorno do neurodesenvolvimento é o suicídio e a ansiedade.

Ramires e colaboradores (2009) analisaram os problemas de saúde mental de crianças de 4 a 11 anos e o papel das clínicas-escola, identificando fatores de risco presentes na vida de 40 crianças avaliadas. Por meio de atividades como hora de jogo, testes projetivos, psicométricos e entrevistas com os pais para levantamento de anamnese foram identificados quadros de depressão, de ansiedade e problemas de conduta entre os participantes do estudo.

A partir deste estudo, Ramires e colaboradores (2009) destacaram alguns fatores de risco para a saúde mental das crianças, tais como: biológico; genético como o histórico familiar; anormalidades no sistema nervoso central que podem ser causadas por infecções, desnutrição, lesões, dentre outras doenças; fatores psicossociais ligados a estresse, vida emocional e social; condição de vida de crianças e adolescentes; fatores ambientais; além do nível socioeconômico.

Neste sentido, Thiengo, Cavalcante e Lovisi (2014) elucidam que apesar de grande parte de estudos e pesquisas relacionadas ao transtorno de neurodesenvolvimento serem em populações adultas, com base em estudos existentes, os autores acrescentam que os principais transtornos mentais que acometem crianças e adolescentes é a depressão, transtornos de ansiedade, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), transtorno de conduta, uso de substâncias e também fatores biológicos, ambientais e genéticos.

Fonte: encurtador.com.br/dfD04

A vivência da criança e/ou o adolescente, o local onde reside, a escola que estuda ou mesmo o fato de não poder estudar, a vivência social, o círculo familiar e de amizade interferem diretamente na saúde mental do indivíduo, pois crianças e adolescentes perpassam por um período de formação cognitiva, intelectual e de desenvolvimento físico e emocional como um todo.

Todas as experiências e vivências da criança e do adolescente podem contribuir para o desenvolvimento de problemas mentais e psicossociais, além de ocasionar estresse, decepções, ansiedades etc. Suas vidas devem ser analisadas e avaliadas dentro de todas as perspectivas e âmbitos possíveis a fim de identificar a causa do transtorno e para aplicação de intervenções eficazes.

Para o enfrentamento de doenças mentais, Ramires e colaboradores (2009) apontam a articulação entre a Educação, Saúde e ações sociais que devem reunir e associar estratégias em várias direções em busca de atender as necessidades em âmbito familiar, escolar, individual e comunitária de crianças e adolescentes, com diagnósticos e tratamento que englobem as situações de risco e de visem o suporte à saúde mental.

Como estratégias de intervenção, Barros, Piovesan, Sales (2016) destacam que a neurociência cognitiva é primordial para o tratamento de transtornos de neurodesenvolvimento, com um diagnóstico precoce para a prática de estratégias eficazes nos modelos cognitivos usados no contexto educativo.

A intervenção em casos de transtornos mentais não deve visar tampouco agir somente em uma direção, precisa ser multilateral abordando todos os aspectos e referenciais da vida do indivíduo a fim de verificar o que de fato ocasionou a doença e propor formas de reverter o quadro da doença com ações terapêuticas e reintegração do sujeito socialmente, de modo a favorecer suas potencialidades, para que assim, o indivíduo melhore sua qualidade de vida.

Fonte: encurtador.com.br/evyES

Referências:

DO NASCIMENTO BARROS, Sandy Nara; DE FÁTIMA PIOVESAN, Angelica; SALES, Tamara Regina Reis. Relações entre transtornos do neurodesenvolvimento, neurociência cognitiva e educação. Encontro Internacional de Formação de Professores e Fórum Permanente de Inovação Educacional, v. 9, n. 1, 2016.

RAMIRES, Vera Regina Röhnelt et al. Fatores de risco e problemas de saúde mental de crianças. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 61, n. 2, p. 1-14, 2009.

THIENGO, Daianna Lima; CAVALCANTE, Maria Tavares; LOVISI, Giovanni Marcos. Prevalência de transtornos mentais entre crianças e adolescentes e fatores associados: uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 63, n. 4, p. 360-372, 2014.

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A importância da identificação e intervenção precoce no TEA

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Quando se fala em Transtorno do Espetro do Autismo (TEA), estamos falando de um transtorno do desenvolvimento que é definido por prejuízos precoces no social e na comunicação, como também comportamentos e preferências restritas e estereotipadas. Ou seja, o TEA pode ser caracterizado como um constante de variações na comunicação social (DUARTE, 2016; DSM-V, 2013).

Existem algumas características que são apontadas ao autismo como: déficits na comunicação como também na interação social; dificuldades na instauração de conversas normais, no qual envolve questões verbais ou não verbais e manifestação de interesse social, emoção e afeto; assim como dificuldade no estabelecimento de relacionamentos, preferências e atividades; insistências nas mesmas coisas; movimentos estereotipados (MONTEIRO et al.,2020).

 Esse transtorno vem sendo estudado há algum tempo, porém é ainda um distúrbio em que se encontram inúmeras questões sem respostas por ser um campo complexo, abrangente e com uma múltipla variação dentro do espectro (COSTA, 2014).

Sabe-se pouco sobre a etiologia e a patogenia do TEA, no entanto é dividido dentro do DSM-V (2013), o paciente é classificado de acordo com a sua intensidade, podendo ser leve, moderado ou severo. Convém lembrar que atualmente, o diagnóstico tem sido baseado com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V), renovado em 2013, até o momento presente não existem exames laboratoriais e próprios para identificar a doença (MONTEIRO et al.,2020).

Fonte: encurtador.com.br/gAFJK

 

Vale ressaltar que o autismo atinge uma em cada 370 crianças ou 0,3% isto é, encontram-se aproximadamente 40 mil crianças e adolescentes com TEA somente no Estado de São Paulo, de acordo com o único estudo de prevalência brasileiro (DUARTE, 2016)

A manifestação do TEA pode apresentar nos primeiros meses de vida como pode se apresentar logo no período inicial de desenvolvimento ao que se parece normal seguido por regressão do desenvolvimento (autismo regressivo) o que ocorre por volta de 30% dos casos diagnosticados. No entanto, entende-se que os primeiros anos de vida têm um papel fundamental e funciona como determinantes no desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos seres humanos, e com isso, a necessidade de salientar o papel crucial do processo interativo criança-meio (COSTA,2014).

Sendo assim, o processo de intervir precocemente em crianças é de extrema importância, pois, é estar atento aos variados fatores que podem propiciar alterações no desenvolvimento, prestando atenção aos sinais, os anseios e apelos levantados pelos pais (SNIP, 2013).

Nos dias atuais, a intervenção precoce é entendida como um complemento de serviços e apoios, que podem ser proporcionadas em diferentes meios e que tem relação com base numa ligação de colaboração com a família, tendo como objetivo a promoção do desenvolvimento das crianças, que tenham dificuldades e incapacidades, atraso de desenvolvimento (COSTA,2014).

Tendo em vista que, o objetivo principal da intervenção precoce é reduzir os causadores que podem vir a dificultar o progresso/desenvolvimento da criança como também da família, com isso, a intervenção antecipada se torna eficaz.

Fonte: encurtador.com.br/pyAX4

Referências:

American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders. DSM-5. Washington (USA): American Psychiatric Association; 2013.

COSTA, Daniela Cristina Ferreira da. Intervenção precoce no transtorno do espectro do autismo. 2014. Tese de Doutorado.

DUARTE, Cíntia Perez et al. Diagnóstico e intervenção precoce no transtorno do espectro do autismo: Relato de um caso. Caminha, VL, Huguenin, J., Assis, LM & Alves, PP (Org.), p. 45-56, 2016.

MONTEIRO, Manuela Albernaz et al. Transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática sobre intervenções nutricionais. Revista Paulista de Pediatria, v. 38, 2020.

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Neurodiversidade e autismo: aspectos da normalidade humana

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A neurodiversidade é um conceito que surgiu recentemente em 1996 em um livro escrito pela socióloga Judy Singer em Sydney na Austrália, sendo uma concepção bem abrangente sobre a formação cerebral e neurológica humana, que sugere uma perspectiva na qual as peculiaridades dos sujeitos autistas são variações humanas normais. Por meio dela é possível envolver uma gama de espectros que alteram o comportamento, sensações, comunicação, sociabilidade, dentre outros mais, das pessoas com o transtorno e como elas são afetadas em diferentes graus. Trazendo assim, uma perspectiva de tolerância das diferenças (CARDIERI, 2018).

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma síndrome neuropsiquiátrica que decorre em déficits de sociabilidade, comportamento e comunicação que são detectados ainda nos primeiros anos de vida da criança. Quanto mais precoce o diagnóstico, mais eficiente o tratamento e melhor a qualidade de vida do indivíduo. Acredita-se que o TEA esteja associado a fatores genéticos e neurobiológicos (GOMES et al, 2015).

Pelo viés de identidade, Foucault (2013) defende que, com base na neurodiversidade, existem as pessoas neurotípicas (molde o qual todos deveriam pertencer) e neuroatípicas (autistas), sendo que estes deveriam buscar cura e tratamento, sendo vistos como deficientes e possíveis de exclusão do convívio social. Com base nisto, pode-se afirmar que as famílias de crianças com TEA sofrem para incluir seu filho (a) no ambiente social, uma vez que, a criança já possui fatores decorrentes do transtorno que a diferencia dos “padrões de normalidade” e juntamente com a perspectiva social dificulta este convívio.

Compreender do que se trata o TEA e atuar para que a criança se sinta incluída no contexto social e familiar é um grande desafio para familiares e profissionais da equipe multiprofissional que acompanha o tratamento. Neste contexto, a neurodiversidade busca a dignidade e equidade para os autistas, uma vez que, todas as pessoas possuem concepções psíquicas distintas. Sendo isto, o que ocorre com pessoas autistas, elas possuem experiências, concepções, emoções, sensações e conhecimento individuais, elas têm uma constituição psíquica particular, isto é, “sua própria forma de ver o mundo”, assim como todas as pessoas “neurotípicas” (HENRIQUES; CARVALHO, 2018, p. 99).

As diferenças neurológicas são apontadas como diferenças naturais no genoma humano o que leva a compreensão de diversos significados na percepção da realidade dos sujeitos de síndromes e transtornos associados ao neurodesenvolvimento. O que temos de partilhar na sociedade é justamente as diferenças e não as semelhanças entre os indivíduos, pois o comportamento humano é evidenciado pelas experiências e vivências ao longo da vida (BENEDETTO, 2020).

Fonte: encurtador.com.br/fwNQ4

Assim, o autismo deveria ser visto como aspecto de normalidade humana e não o inverso. Para a neurodiversidade, respeitar e compreender as “deficiências” de cada criança autista é uma forma de enfrentar as dificuldades promovendo uma forma digna de cuidado e modelos educativos que buscam melhorar a assistência prestada.

 Para Henriques e Carvalho (2018, p. 101), a sociedade precisa estruturar um acompanhamento psicológico e psicanalítico para crianças autistas com base na “escuta das diferenças” que significa que modelos subjetivos permitem compreender melhor a necessidade de cada sujeito e assim propor a melhor forma de acompanhamento/tratamento, isto associado ao diagnóstico precoce, às classificações sintomatológicas e a trajetória do indivíduo.

Os atendimentos clínicos a sujeitos com autismo e suas famílias é de certa forma generalizado, um erro que traz dificuldades de se lidar com o transtorno e obter um diagnóstico específico.  É necessária uma ampliação de estudos e pesquisas que contribuam para a mudança no modo de aprender e lidar com o indivíduo com autismo tanto para inserção social como para vida familiar (CARDIERI, 2018).

Pois a vida familiar de indivíduos com autismo seja de sintomas, com menos ou maior severidade, em muito contribui para a formação de sujeitos que são capazes de conviver em harmonia socialmente e de se sentir parte de determinado núcleo social, bem como intervenções precoces, fortalecimento familiar e um acompanhamento profissional busca melhorar a qualidade de vida dos indivíduos. Embora, a cultura retrate o TEA como um transtorno que faz do indivíduo um ser “fora do padrão normal”, a neurodiversidade está aí para provar o contrário, que somos pessoas dotadas de características físicas e psíquicas únicas e nem por isso estaremos fora de um padrão cultural/social.

Fonte: encurtador.com.br/dkvFT

Referências

CARDIERI, Mariana Prates. Estudos culturais, neurodiversidade e psicanálise: um lugar para o autismo. 2018. Tese de Doutorado. Mestrado em Estudos Culturais Contemporâneas.

BENEDETTO, Mayne Souza. Autismo sem ismo: a neurodiversidade e a experiência interior por uma etnografia não normativa. 2020. Tese de Doutorado. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

FERREIRA, Nelcirema da Silva Pureza et al. Qualidade de vida dos familiares de pessoas com Transtorno do Espectro Autista. 2018.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I. Rio de janeiro: Graal, 2013.

GOMES, Paulyane TM et al. Autismo no Brasil, desafios familiares e estratégias de superação: revisão sistemática. Jornal de pediatria, v. 91, n. 2, p. 111-121, 2015.

HENRIQUES, Bruna; CARVALHO, D.’Alincourt. Autismo e neurodiversidade: inclusão das diferenças. ANAIS VII CONINTER, p. 95. 2018.

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Autismo, respeito e compreensão

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No dia 02 de abril é comemorado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Durante todo o abril azul, é dado destaque para que o preconceito e discriminação pela falta de conhecimento, diminuam.

Criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data também nos faz refletir sobre o que os autistas e seus familiares mais precisam: compreensão e respeito. É fundamental que mais pessoas entendam que há uma grande complexidade envolvendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e que nenhum indivíduo é afetado da mesma forma.

O TEA é o transtorno do neurodesenvolvimento cujas características podem ser observadas ainda na primeira infância por meio da consulta a um especialista e de diagnóstico precoce. O autismo é uma condição que atualmente é entendida também como uma síndrome comportamental de nível complexo, além disso, o autismo combina fatores genéticos e ambientais.

Fonte: encurtador.com.br/ayCI7

Geralmente, os autistas apresentam problemas na interação, na comunicação e no comportamento. Por exemplo, na interação social comprometida, o relacionamento com pessoas do mesmo contexto familiar ou etário é aquém do esperado. Pode haver falta de reciprocidade emocional, pouco uso de meios não verbais para comunicação. Podem apresentar também comunicação deficitária, com ausência de linguagem verbal (falada), fala extremamente rebuscada para idade, ecolalias, pronúncia sem a cadência que as pessoas geralmente utilizam (sem alteração de tom) entre outros.

Além disso, há comportamentos marcados por estereotipias, como interesses não usuais em intensidade ou foco, movimentos motores repetitivos, rotinas invariavelmente rígidas e não funcionais, preocupação com partes de objetos, etc.

No entanto, esses fatores variam de caso a caso, ou seja, nenhum autista é igual ao outro. O autismo é muito variado, podendo apresentar intensidades severas em alguns pontos e leves em outros. Por isso, o TEA deve ser muito bem avaliado, por meio de escalas diagnósticas específicas e uma bateria de avaliações cuidadosas. Isso é necessário, pois somente dessa forma é possível saber a intensidade e as áreas que devem ser melhor trabalhadas.

Fonte: Arquivo Pessoal

Por todos esses motivos, é essencial que profissionais das áreas da saúde e da educação possam buscar mais conhecimento e compreender melhor tudo o que envolve o transtorno para tentar, de alguma forma, amenizar as dificuldades provocadas pelo TEA. Assim, conseguiremos tratar essa condição de maneira mais adequada e responsável.

(*) Dr. Clay Brites é pediatra, neurologista infantil, autor de livros sobre autismo e transtornos de aprendizagem, além de ser um dos fundadores do Instituto NeuroSaber

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