A rápida decomposição da rosa: relacionamentos abusivos

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Os relacionamentos atuais (inclusive o meu) estão, em grande escala, baseados na posse e este sentimento de posse, pode ser o motivo da ´´morte“ de muitos relacionamentos. Este trabalho tem como ideia principal, fazer uma analogia da rápida decomposição da rosa comparando com os relacionamentos possessivos. Minha inspiração foi um rico ensinamento de  Osho: Se você ama uma flor, não a colha. Por que se você colhê-la, ela morre e deixa de ser o que você ama. Então se você ama a flor, deixe-a estar. O amor não está na posse. O amor está na apreciação.

Fotografei a rosa por 14 dias, aos quais vou relatar adiante.

Analogia: Eu sou a sádica (dominadora/sedutora) e a rosa a masoquista (dominada/seduzida)

1° Dia

Cheguei a floricultura e vi uma encantadora rosa, era linda e cheirosa, me apaixonei e a tomei para mim. Ao chegar em casa, a primeira coisa que fiz foi colocá-la em uma garrafa com água fresca. Foi fotografada pela 1ª vez as 17 horas. A textura da pétala era macia e aveludada, extraia de mim o deseja de abraçá-la e cheirá-la por horas, pois seu cheiro era fresquinho e delicioso. Sua cor me encantava os olhos, era um vermelho vivo e vibrante. Sua estrutura era ereta, estava lá confiante de “cabeça erguida“. Havia também 2 (duas) folhas verdinhas e apesar de ser uma rosa aberta, seu botão estava estreito e justinho, acompanhado por um talo longo e verde.

2° Dia

A textura da pétala continuava macia e aveludada, com cor viva e vibrante. Ah, seu cheiro continuava fresco e gostoso. Aquele cheiro me satisfazia, continuava com o desejo de passar o dia a cheirando. Continuava lá, firme e ereta, com 2 folhas verdes e um talo longo e verdinho. Apesar de seu botão ter aberto um pouco, mesmo assim fui gentil e troquei sua água. A levei para dois cômodos da casa.

3° Dia

Continuava macia e aveludada, me agrava o toque. Seu vermelho continuava vivo e vibrante. O cheiro fresquinho e gostoso. Estava em posição ereta. Continha ainda suas 2 (duas) folhas e um talo verdinho. Me agradava muito, como recompensa lhe troquei a água. Deixei-a na varanda tomando ar fresco.

4° Dia

Apesar das pontas das pétalas estarem um pouco secas, o botão um pouco mais aberto e o cheiro não tão fresco, ela continuava me agradando, pois suas pétalas estavam macias e aveludadas, sua cor era um vermelho vivo e vibrante e seu aroma ainda estava gostoso. Sem falar que continuava com 2 (duas) folhas, ereta e com talo verdinho. Transitei com ela por 3 (três) cômodos da casa.

5° Dia

Acordei irritada com ela, pois sua textura não era mais tão macia como antes. Sem falar que sua cor estava saindo do vermelho e indo para o vinho. Seu cheiro não estava tão agradável, começou a feder. Sua estrutura tendia para o lado, não estava mais ereta como antes. Suas duas folhas estavam com uma aparência seca, com textura dura e de cor verde amarelado, no entanto seu talo continuava verde. Diante de tanta decepção a insultei e ameacei, pois ela não estava me agradando como antes. Não lhe troquei a água, pois não merecia.

6° Dia

Ao olhar pra ela, fiquei extremamente irritada. As pétalas estavam com as pontas secas e duras, o inicio das pétalas estavam vermelhas, mas suas pontas tendiam para a cor preta. Seu cheiro fedia a morte, sua estrutura ao invés de tender para o lado, agora tende para baixo. 1 (uma) folha já caiu, permanecendo apenas 1 (uma), e ainda por cima pendurada por um talo seco. O talo da rosa estava com 2 cores, verde na ponta e próximo ao botão estava amarelado. O botão estava bem aberto. Mesmo diante desta decepção fui muito gentil ao trocar sua água. No entanto ela precisava de uma lição para aprende a me respeitar. Eu a puni, deixei 24h dentro de um quarto fechado e escuro, na qual ela ficou próxima a parede que batia sol.

7° Dia

A ingrata estava morta. Mesmo depois de tudo que fiz por ela, não fiquei triste, fiquei com ódio. Sua textura estava seca, indo para o duro. Sua cor estava mesclada entre roxo, amarelo e preto. Ela simplesmente fedia a morte. Sua estrutura estava virada para baixo. Já sem folhas, o talo saía do verde, indo para o preto e sua espessura perto do botão estava cada vez mais fina. Para recompensar sua morte, a deixei no ar-condicionado.

8° Dia

A textura estava seca e dura. A cor amarelo queimado mesclado com vinho e preto. O cheiro era de folha seca. Sua estrutura estava totalmente para baixo. O talo se encontrava preto e fino, mas a parte que estava coberta por água estava hidratada e se encontrava com cor verde escuro. Como forma de demonstração de me afeto por ela, eu quis agradá-la, troquei sua água, molhei suas pétalas e a levei para tomar ar fresco na varanda.

9° Dia

A rosa estava como no dia anterior, textura seca e dura, com amarelo queimado mesclado entre vinho e preto. Cheiro de folha seca. Inclinada para baixo, cada vez mais seca e preta, apenas o meio do talo permanecia verde escuro. Eu a insultei, como pode tanta ingratidão?! Mesmo assim ainda a levei para tomar ar fresco na varanda.

10° Dia

A rosa estava igual a dia anterior. Meus insultos não adiantavam. Parece que ela se acostumou. Adaptou-se rápido. Ela precisa de mim, eu via isso. Novamente eu a insultei.

11° Dia

A única mudança mais visível foi em relação ao talo, a cor do meio, que estava verde escuro, agora estava passando para a cor preta. Eu não lhe dei muita atenção, fiquei distante.

12º Dia

Continuava como no dia anterior e cada vez mais estava dependente de mim. Eu a insultei.

13° Dia

Enfim seu talo ficou totalmente preto. Coitada, totalmente dependente dos meus generosos cuidados.

14° Dia

Continuava como no dia anterior. Tirei-lhe da água. Eu tinha total domínio sobre ela.

Relacionamento Abusivo

Em entrevista ao Repórter Unesp, a psicóloga Raquel Silva Barreto, declarou que uma “Relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal-estar. ” E no meu relato com a rosa esta relação é bem nítida. Eu vi a rosa extremamente linda e a tomei para mim, comecei a controla-la de modo sutil, onde eu punia e reforçava aos poucos, lhe causei sofrimento e morte (do eu), até ter domínio total sobre ela.

Eu me encontrei na posição de Dominador-sedutor pois eu detinha poder/posse sobre a rosa, e meu objetivo era ser a coisa mais importante para ela. Como eu a tirei de seu lugar de origem, ela dependia de mim para ser molhado, tomar ar fresco etc. No momento em que ela não me agradava, eu a punia, mas ao mesmo tempo eu a compensava, o que fez com que ela ficasse fortemente ligada e dependente. Para isso, muitas vezes a inferiorizei, até que ela ficou totalmente curvada, sem vida e dominada, vendo em mim as qualidades que ela não possuía.

Experiência pessoal

Fazer este trabalho foi muito significativo, pois já vivi um relacionamento em que sempre tive um sentimento muito grande de posse. Quando eu comprei a rosa ela estava maravilhosa. Fiquei encantada, e com o passar dos dias, a ver morrendo me deixou bem triste. Quando eu a puni do 6° dia, não esperava que ela estaria morta no 7° dia, mas ela estava morta e quando a vi chorei muito. Fiquei totalmente desolada e angustiada. Refleti muito sobre o relacionamento que tive e percebi o quanto eu fiz mal ao meu namorado em todas as vezes que eu o privei de ser ele mesmo, tentado transforma-lo em alguém com qualidade e características que somente eu gostaria que ele tivesse.

Depois de punir a rosa, a deixei no quarto com o ar-condicionado ligado, a molhei, troquei sua água, a levei para diferentes cômodos da casa, mas nada adiantou, nada lhe trouxe a vida de volta. Tive domínio e superioridade diante da rosa, no entanto a rosa não era mais a mesma, estava sem vida e sem personalidade própria.

Este trabalho me ajudou e enxergar a beleza e riqueza das diferenças dentro de um relacionamento. Hoje não penso em ter um namorado que viva apenas por e para mim, mas o quero para o mundo, e que a escolha seja dele de estar e permanecer comigo. Fazer o contrário, do que fiz com a rosa, em meus relacionamentos, fez com que eu potencializasse as qualidades dos parceiros que tive e que tenho. Diante disto, a reciprocidade, o amor e o respeito se tonou evidente em minhas relações, sendo saudáveis e gostosas de se permanecer.

Referências:

Repórter Unesp. Psicóloga explica relacionamentos abusivos: o que é e como lidar com essa situação. Acessado em<

http://reporterunesp.jor.br/2015/08/20/psicologa-explica-relacionamentos-abusivos-o-que-e-e-como-lidar-com-essa-situacao/ > no dia 22/03/08/19

ZIMERMAN, David. Manual de Técnica Psicanalítica. Editora: Artmed,  2003

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As formas patológicas de amar

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Recente edição do Psicologia em Debate foi embasada no livro de Zimerman, “Manual de Técnica Psicanalítica”, mas especifico no capitulo sobre o vínculo tantalizante. Este estaria baseado em dois tipos de personagens: um dominador-sedutor e um dominado-seduzido. Com relação ao dominador-sedutor, o autor traz que ele é incapaz de estabelecer uma união estável por alegar não conseguir gostar de ninguém.

Apresenta também atitudes inconstantes em relação ao compromisso amoroso, como por exemplo, ele não se separa da pessoa, mas também não estabelece uma relação fixa/séria. Enquanto o dominado-seduzido irá aceitar ficar nessa relação incerta, aceita o papel de ficar na reserva/excluída. Não consegue ter posições definidas e assim fica em um dilema: o lado que deseja fugir daquele “romance” e o lado que está intimamente em conluio/negociação – inconsciente – com o dominador.

dominador, dominante, sedutor, seduzido
Fonte: http://zip.net/bhtJtH

 

Em uma relação nessa configuração, observar-se-ão quatro tipos de vínculos, de acordo com o autor. O primeiro é o de Domínio, onde o individuo se apropria do outro e desconsidera as suas questões internas, não aceita a liberdade do outro, pega para si os desejos do outro, abolindo suas diferenças e sua autonomia (esquecendo-se de quem se é). O segundo é o de Apoderamento, em que o dominador acredita ter poder e posse TOTAL em relação ao corpo/mente/espirito do outro, porque dessa forma, ter poder sobre o outro é a melhor forma de consegui-lo para si.

Além de que, para uma pessoa que apresenta tal tipo de comportamento, é uma forma de estar seguro contra o desamparo, para que o dominado nunca pense em abandoná-lo, visto que toda essa vivacidade e atitude “firme” do dominador é uma forma de esconder seu completo vazio interior. Tanto ele, quando o dominado, apresentam esse vazio – vazios diferentes -, e acabam por buscar no outro o que lhe falta e vice-versa.

“Ninguém jamais te amará tanto quanto eu.”
Fonte: http://zip.net/bftJhs

 

O terceiro vínculo é o de Sedução, o dominador, aqui, busca despertar um deslumbramento no seduzido seja de ordem física, intelectual, retórica e/ou econômica. Promete ao outro uma vida completa, e só ele (sedutor) será capaz de lhe proporcionar tal completude. E o por fim, o vínculo tantalizante, que seu conceito está baseado no Mito de Tântalo, onde o dominador busca, nessa configuração de relacionamento abusivo, castigar o dominado (sofrimento eterno) – seja de forma física, ameaças, corte na comunicação. Nesse tipo de vínculo, o dominador tanto dá carinho, proteção e elogios, quanto também impunha rígidas condições.

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Relacionamentos Abusivos: uma forma patológica de amar

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Recentemente, pôde-se acompanhar através das mídias e redes sociais, a polêmica envolvendo o casal Marcos e Emilly, no reality show Big Brother Brasil, edição 2017. O BBB 17, transmitiu na edição deste ano um relacionamento abusivo. Emilly era alvo de constantes ataques psicológicos, e ameaças à sua integridade física, por parte de Marcos, que se mostrava extremamente agressivo e opressor. O Brother chegou a apontar o dedo e encurralar a jovem contra a parede algumas vezes, deixando-a em posição de subordinação e humilhação. Como resultado, Marcos acabou sendo expulso do reality, na noite desta segunda-feira.

Há bastante semelhança entre a questão dos relacionamentos abusivos, e a forma patológica de amar, trazida por Davi E. Zimerman. A psicóloga Raquel Silva Barreto, em entrevista ao Repórter Unesp, disse que uma “Relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal-estar. ”

Fonte: http://zip.net/bwtG3z

Zimerman, psicanalista norte americano, traz em seu livro Manual de Técnica Psicanalítica, em específico no capítulo intitulado Uma forma patológica de amar: O vínculo tantalizante, uma temática de grande relevância, no que se refere aos vínculos constituídos em forma de relacionamentos amorosos. Ao caracterizar-se os participantes desse vínculo amoroso, identifica-se dois personagens, um é o Dominador-sedutor, e o outro é o Dominado-seduzido. Na maioria das vezes, o homem assume o primeiro papel, enquanto a mulher assume o segundo. No entanto, também existem casos em que os papéis se invertem.

Zimerman, confere uma série de características pertinentes a esses dois personagens. Características essas que conotam uma forma patológica de amar, uma vez que percebe-se os sofrimentos decorrentes de tal configuração amorosa. O indivíduo que se encontra na posição de Dominador-sedutor é aquele que detém o poder/posse sobre o outro, das mais variadas maneiras, objetivando ser a “coisa” mais importante para seu parceiro, instituindo uma dependência, provocando assim a sensação de que o outro não consegue viver sem ele. Já o sujeito que ocupa o lugar de Dominado-seduzido é o inferiorizado da relação, sempre se comportando de forma submissa, encontrando-se na maior parte do tempo rendido, curvado e suplantado, ao seu dono Dominador.

Fonte: http://zip.net/bntHxf

Nota-se que há uma complementação de um com o outro, visto que o Dominador encontra no Dominado aquilo que ele precisa, e vice-versa, o que de acordo com Zimerman torna a separação tão complicado e sofredora para ambos. O autor divide o Vínculo amoroso tantalizante em quatro partes, sendo elas: Domínio, Apoderamento, Sedução, e Tantalizante. É importante destacar que as quatro partes existem e se concretizam concomitantemente nesse tipo de relacionamento.

O Domínio acontece quando o Dominado “Exerce uma apropriação, quase indébita, através de uma desapropriação dos bens afetivos e de uma violência a liberdade do outro” (ZIMERMAN, 2003, p. 335 ). O Sedutor possui a necessidade de exercer poder sobre o Seduzido, e para isso ele usa de variados recursos que possam torná-lo grande e poderoso. A dominação pode ser de caráter intelectual, moral, econômico, político, religioso, afetivo (ZIMERMAN, 2003).

O Dominador não permite que o outro tenha autonomia e escolhas próprias e diferentes das suas, já que isso seria considerado uma perda do controle que ele exerce sobre o Dominado. Vale ressaltar que o Sedutor também usa de marcações no corpo do outro, percebidas em forma de chupões e arranhões, como forma de determinar seu poder/controle sobre seu parceiro. Quando o Seduzido curva-se a esse poder e controle, consequentemente sente-se subjugado e minimizado.

Fonte: http://zip.net/bftHsY

O Apoderamento é descrito pelo autor como sendo um “Poder e posse total em relação ao corpo, mente e espírito do outro” (ZIMERMAN, 2003, p. 335 ). De acordo com David E. Zimerman, o Dominador vê nessa atitude de posse, o único meio para conseguir o respeito e amor do outro, uma vez que na realidade ele sente medo de se encontrar desamparado em algum momento.

A Sedução consiste em uma das técnicas mais intensas usadas pelo Dominador-sedutor, com o objetivo de despertar no Seduzido uma espécie de fascinação e encantamento, fazendo com que o Dominado veja o Dominador como o “objeto” mais almejado e incrível que alguém poderia ter. Promete-se, “ (…) uma completude paradisíaca, que em pouco tempo se revelará como não mais do que ilusória e pelo contrário, se concretizará, como um emaranhado círculo vicioso de sucessivas decepções e renovadas ilusões (…)” (ZIMERMAN, 2003, p. 336 ).

A última parte que caracteriza esse vínculo adoecido, chamada de Tantalizante, pode ser explicada no seguinte excerto, “ Aquele que tantaliza, isto é, que espicaça ou atormenta com alguma coisa que, apresentada à vista, excite o desejo de possuí-la, frustrando-se este desejo continuamente por se manter o objeto fora de alcance, à maneira do suplício de tântalo. ” (ZIMERMAN, 2003, p. 337). É necessário explicitar aqui, que a escolha desse termo provém do Mito Grego de Tântalo, no qual Tântalo, por ter roubado o manjar dos deuses, foi castigado por eles, sendo acorrentado imerso nas águas de  um lago, sem conseguir se alimentar e beber, uma vez que às águas do lago trazem a comida, no entanto Tântalo nunca consegue alcança-la, consistindo-se num sofrimento eterno.

Fonte: http://zip.net/bjtHtk

A relação análoga entre o mito e a forma patológica de amar, é vista quando há esse constante “dar e tirar” por parte do Dominador, que sempre se coloca em posição de impedimento em assumir um relacionamento estável, acontecendo assim periódicos términos e reaproximações, provocando um constante sofrimento, comparado ao mito de Tântalo que nunca consegue obter o que deseja. Contudo, David E. Zimerman, traz ainda em seu livro que para haver uma dissolução dessa relação adoecida e desses papéis adoecidos, é de suma importância que ambos os personagens, passem por tratamento psicológico, indicado por ele, como preferencialmente de cunho psicanalítico.

REFERÊNCIAS:

ZIMERMAN, David. Manual de Técnica Psicanalítica. Editora: Artmed,  2003

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