Envelhecer com saúde: saiba o segredo para uma vida ativa e feliz

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A fase terceira idade pode ser repleta de realizações e bem-estar e, para isso, é essencial que sejam adotados hábitos e cuidados que promovam a saúde física, mental e emocional. Com o aumento da expectativa de vida para 76,4 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o  olhar para as necessidades dessa parcela da população também mudou, dando ênfase para os cuidados e precauções que merecem ser tomados para uma boa qualidade de vida dos idosos. Jaqueline Fátima de Souza, franqueada de Londrina (PR) da Padrão Enfermagem, empresa de agenciamento de profissionais na área da saúde, listou algumas dicas de como promover essa melhora.

Saúde mental e as relações sociais: manter o cérebro ativo é fundamental para prevenção de doenças como Alzheimer e depressão. “Atividades como leitura e grupos de convivência são ótimas opções. Além de trabalhar a cognição, proporcionam momentos de descontração e alegria, fundamentais para os idosos que, com o isolamento, tendem a sentir-se sós e depressivos”, destaca a especialista.

Estímulo e companhia: Outra maneira de evitar a solidão e receber auxílio necessário é optar por cuidadores. “Mais do que prestar assistência, existe um papel crucial dos profissionais no aspecto emocional.  Além de auxiliar nos cuidados diários, o cuidador é uma ponte para que o idoso tenha uma vida mais ativa e feliz. O profissional promove independência e bem-estar, além dgarantir o convívio com a família e a saúde mental do paciente, visto que a sua companhia é essencial”, completa.

Exercícios físicos: Praticar atividades regularmente é uma boa maneira de manter-se saudável na terceira idade. “O primeiro passo para a escolha correta da atividade física é uma avaliação, que deve ser feita por um especialista preparado para identificar condições clínicas que podem interferir na segurança e desempenho desse idoso, como complicações cardiovasculares, por exemplo. A partir daí é interessante optar por exercícios que os agrade e se encaixe em suas limitações e condições físicas. Entre os idosos os mais comuns são caminhadas, musculação, dança, pilates e hidroginástica”, detalha. 

Hidratação e alimentação balanceada: A associação de alimentos saudáveis com a ingestão correta de água ao longo do dia ajuda a prevenir doenças e manter a energia necessária para o bom funcionamento do organismo. “Recomenda-se o consumo de proteínas magras, frutas e legumes e ingestão regular de água. Criar esses hábitos é importante para que o idoso proteja seu sistema imunológico e mantenha-se saudável”, afirma.

Sobre a Padrão Enfermagem

Fundada em 2006, é uma rede de franquias com mais de 40 unidades no Brasil, especializada no agenciamento de profissionais da saúde para uma série de serviços primordiais aos pacientes, tais como: Acompanhamento hospitalar, Serviços de enfermagem, Cuidador de idosos e Cuidador infantil. Todos os profissionais agenciados pela Padrão Enfermagem estão preparados e habilitados para atender com segurança e qualidade a clientes em ambiente domiciliar, hospitalar e empresarial, com suporte 24h. Os sócios da rede, Rafael Schinoff e Roberta Bellumat, são autores do livro O Dever de Cuidar. A obra é um guia para apoiar famílias e inspirar quem deseja empreender no segmento

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Relações com Idosos na Pré Modernidade no Contexto Psicanalítico

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Bruna Montenegro do Nascimento – CRP:06/211264

No contexto psicanalítico, as relações com os idosos na pré-modernidade podem ser interpretadas à luz das dinâmicas inconscientes, das estruturas sociais e dos significados culturais associados à velhice. A psicanálise, iniciada por Freud, propõe que as interações humanas são profundamente influenciadas por processos inconscientes, como o desejo, a repressão e a transferência, e esses conceitos ajudam a iluminar como os idosos eram percebidos e tratados na pré-modernidade.

Na pré-modernidade, os idosos ocupavam um papel central como guardiões da tradição e líderes espirituais e morais. Do ponto de vista psicanalítico, podemos entender os idosos como figuras de autoridade simbólica, comparáveis à figura paterna freudiana, que exerce influência sobre o desenvolvimento psíquico dos indivíduos e a estruturação do Superego. O Superego, que é o representante das normas sociais e das regras internalizadas, estaria, em grande parte, moldado pela presença dessas figuras anciãs, que representavam a ordem e a continuidade cultural. Os idosos, com sua experiência e sabedoria, também eram vistos como depositários da “lei” e da moralidade, sendo responsáveis por manter a coesão familiar e social. Dentro das famílias, o idoso patriarca ou matriarca poderia ser visto como o “grande outro”, uma figura respeitada, à qual os mais jovens transferiam a autoridade e expectativas, em um processo de transferência inconsciente, como descrito por Freud. Essa transferência de respeito e poder simbolizava a perpetuação das normas e valores que regiam a vida social.

Fonte: Freepik

Outro conceito psicanalítico relevante é o inconsciente coletivo, proposto por Carl Jung. Na pré-modernidade, os idosos eram frequentemente associados à sabedoria ancestral e ao arquétipo do “Velho Sábio”, uma figura que aparece em mitos e contos de todas as culturas. Este arquétipo representa o conhecimento profundo, a orientação espiritual e a ligação com o transcendente. Na psique coletiva, os idosos encarnavam esse arquétipo, sendo reverenciados como figuras que transmitiam um conhecimento além do meramente racional, conectando o presente com o passado e com as forças simbólicas do inconsciente. Através desse arquétipo, os idosos tinham um papel de mediadores entre as gerações, ajudando os mais jovens a integrar as experiências do passado e a lidar com os dilemas existenciais e psicológicos da vida. O respeito a esses anciãos era, em parte, uma forma de reconhecer o poder do inconsciente e da tradição coletiva.

No contexto das famílias extensas da pré-modernidade, os idosos não eram apenas fontes de sabedoria, mas também espelhos da fragilidade humana e da finitude. Freud postulava que o medo da morte está profundamente enraizado no inconsciente, sendo muitas vezes reprimido ou deslocado. Na convivência diária com os idosos, a sociedade da pré-modernidade podia projetar neles o temor da mortalidade, mas também sublimar esse medo através do respeito e da veneração. As famílias se organizavam de forma a manter os idosos integrados e valorizados, o que, segundo a psicanálise, pode ser visto como uma maneira de atenuar a angústia existencial que a presença da velhice suscita. Ao honrar e cuidar dos idosos, as sociedades pré-modernas evitavam, de certo modo, o confronto direto com o declínio físico e a morte, mantendo uma relação de negação ou atenuação do medo da finitude, ao mesmo tempo em que reconheciam o ciclo de vida e morte como parte integrante da existência.

Fonte: Freepik

Freud também falou sobre o processo de “desinvestimento” libidinal, que ocorre ao longo da vida. À medida que a velhice avança, há uma tendência natural de redirecionar ou reduzir o investimento energético em atividades externas e relações. Na pré-modernidade, o papel social dos idosos refletia, em parte, essa transição, com os mais velhos sendo afastados dos trabalhos físicos e da produção econômica, mas assumindo novas formas de importância simbólica e emocional dentro da comunidade.

Esses papéis mais contemplativos, ligados à transmissão de valores, à sabedoria e ao conselho, correspondiam ao que, psicanaliticamente, pode ser visto como uma sublimação do desejo de atividade e produção. Em vez de serem marginalizados, os idosos canalizavam sua energia psíquica para funções que transcendiam a produção material, participando da vida coletiva de forma simbólica e emocional.

Com o advento da modernidade, as mudanças econômicas e sociais alteraram significativamente o lugar dos idosos na sociedade. Segundo a teoria psicanalítica, essas mudanças podem ter desencadeado crises de identidade e um sentimento de desvalorização nos idosos. A transição para sociedades industriais, centradas no trabalho e na produtividade, reduziu o valor simbólico dos idosos, deslocando o investimento libidinal coletivo para os jovens e para o progresso. A modernidade trouxe consigo uma ruptura com a tradição e, consequentemente, com o papel dos idosos como guardiões dessa tradição. A psicanálise pode interpretar essa transição como um momento de descontinuidade no processo de transferência de valores, levando à alienação dos idosos e ao rompimento das redes familiares intergeracionais que, na pré-modernidade, os integravam de maneira plena.

Fonte: Freepik

No contexto psicanalítico, as relações com os idosos na pré-modernidade podem ser vistas como um reflexo das dinâmicas inconscientes de transferência, repressão e sublimação. Os idosos desempenhavam papéis centrais como figuras de autoridade moral e espiritual, funcionando como intermediários entre as gerações e representando o inconsciente coletivo e a sabedoria ancestral. Além disso, sua integração na vida familiar e comunitária ajudava a aliviar o medo da morte e a proporcionar uma estrutura simbólica para lidar com a finitude. Com a chegada da modernidade, essas relações foram transformadas, levando a uma marginalização crescente dos idosos, à medida que a produtividade e a juventude passaram a ser mais valorizadas.

 

Referências:

Freud, Sigmund. “O Mal-Estar na Civilização”. 1930

Freud, Sigmund. “Totem e Tabu”. 1913

Jung, Carl G. “O Homem e Seus Símbolos”. 1964.

Erikson, Erik H. “Infância e Sociedade”. 1950

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Passa amanhã

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66 anos, já estou velha, cadê a sabedoria?

Isso realmente me incomoda, pois me dou conta de que das duas coisas, não conquistei nada ainda; sim, porque a velhice não é uma conquista, a despeito da “nobreza” que se possa emanar disso, é apenas uma (con)sequência da vida; e a sabedoria, por mais que eu abra e feche os olhos, por mais que eu me belisque, não sinto em mim os eflúvios da danada.

Aliás, até por não ser uma sábia (ainda), preciso pesquisar um modelo ideal para mim. Hoje é bem mais fácil, com o advento da tecnologia, posso em segundos, estar ao lado do velho pescador que apenas do soprar do vento sabe o custo benefício de se colocar a jangada na água. Ou estar entre os monges tibetanos para conhecer a retumbância do silêncio, em horas incontáveis de concentração.

Resolvi seguir os passos de alguém a quem me serve de modelo, pela simplicidade e verdade que carrega em seus ensaios; Este modelo é Michel de Montaigne (1533-1592), pois bem, ele afirma que “É necessário conhecer a ti mesmo”, Reitera ainda que “É preciso que cada um construa uma sabedoria à sua própria medida. Cada um só pode ser sábio de sua própria sabedoria”.

Sobre sua primeira fala me parece uma tarefa que conseguiria fazer.  Sem querer fazer apologia a cerca dos meus saberes, penso que ao longo do tempo acumulei alguns poucos conhecimentos, mas seria o caminho certo e o suficiente?

“Sobre os saberes Montaigne escreve: “[c] proclamai a nosso povo, sobre um passante: ‘Oh, que homem sábio!’ e sobre outro: ‘Oh, que homem bom!’ […] Seria preciso perguntar quem sabe melhor, e não quem sabe mais.” (MONTAIGNE, 2002, p. 203).

Fonte: Imagem de Nato Pereira por Pixabay

É uma baita reflexão para mim e para quem está nesta busca em saber o quanto e como quer ser sábio. Eu sei, melhor, ou sei mais? Confesso que está questão é inacabada em meu pensar. Um dos grandes problemas que enfrentei foi me debruçar na compreensão desta construção da sábia que quero ser, como poderia eu, separar-me de mim e me ver dentro da sabedoria que doravante ousaria perseguir.

Adentrando mais no mundo deste notável homem, busco através dele salientar o quanto de sabedoria preciso, e se realmente preciso. É certo que alguma preciso, mas para me tornar sábia, daqueles de renome, tal qual o meu modelo, o que seria necessário?

Minhas indagações chegaram ao modelo de sábio para Montaigne. Sim, ele também o tinha, um sábio senhor de alcunha Sêneca um importante escritor e filósofo do Império Romano. Pois bem, conforme ele a  sabedoria carece de alma plena, e sobre isto ele afirma que,

“A alma do sábio é semelhante à do mundo supralunar: uma perpétua serenidade. Aqui tens mais um motivo para desejares a sabedoria: alcançar um estado a que nunca falta a alegria. Uma alegria assim só pode vir da consciência das próprias virtudes: apenas o homem forte, o homem justo, o homem moderado podem ter alegrias” (SÊNECA, 2009, Carta 59, p. 215).

Achei de extrema relevância, porém um tanto quanto profundo para uma iniciante. Porém ainda me acho inacabada em tanta virtude.

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Quero  ser uma sábia contente, satisfeita, feliz, mesmo sem os atributos que Sêneca propõe e também,  não que eu não veja isso no modelo de sábio que citei acima,  mas já que me ocorreu escolher, vou me preparar bem.

Escolha. Aí que tá, sinto que lá na frente isso pode ser um complicador do quadro final; isso para a sábia que quero para mim.

Veja bem, na música, por exemplo, não me machuca ouvir uma música erudita, mas e o sambinha, será que embaça a estirpe?

O jejum… Ih meu, e o xtudo, o escaldado com dois ovos, o mocotó, o pão com salame? É, sinto que aí vai dar problema.

A festa com os amigos, as madrugadas, isso tem que ser negociado.

O futebol, o desfraldar das bandeiras, o grito de gol, nada disso?

Sei que não é sábio criticar tudo, mas é muito importante botar as cartas na mesa; que tipo de sabedoria me compraz?

Algum lampejo de sabedoria eu já tenho adquirido, por exemplo, nos vários momentos em que me sentei nas escadarias da praça, em aruanã, e vi a majestosa descida do rio Araguaia, acompanhado de arabescos avermelhados do sol se pondo; aprendi que beleza é unguento para a alma.

Aprendi que o mais gigantesco dos gestos é o perdão; talvez por isso, tantos sentem dificuldades em praticá-lo. Inclusive eu mesma.

Por outro lado, todo meu conhecimento (deveras pouco) de aritmética, matemática, física, não me permite calcular a intensidade de dor, no suspiro de uma mãe velando um filho.

Pronto, feito meu esqueleto de sábia, posso sentir que ainda estou muito presa aos velhos costumes (graças a deus!). De antemão já peço desculpas a Montaigne e Sêneca, os ensinamentos foram de grande valia, com certeza me servirão para o meu modelo; mas meu pão com salame, meu samba e, sobretudo meu futebol, no momento em que meu porco (Palmeiras) é tão soberano, trazem a resposta que preciso caso seja perguntado: “quer ser sábia hoje?”, ao que placidamente responderei:

Passa amanhã!

Referências

MELO, Wanderson Alves. (2009). A visão de Montaigne sobre o homem no mundo. Disponível em: https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=100. Acesso em 26/08/2022

THEOBALDO, M.C. Sêneca, Montaigne e a utilidade dos saberes. In: PINTO, F.M., and BENEVENUTO, F., comps. Filosofia, política e cosmologia: ensaios sobre o renascimento [online]. São Bernardo do Campo, SP: Editora UFABC, 2017, pp. 199-225. ISBN: 978-85-68576-93-9. https://doi.org/10.7476/9788568576939.0011.Acesso em 26/08/2022.

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Sexualidade na velhice: velhos fazem sexo?

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A pergunta base do título poderia ser simples responder. Do ponto vista físico/fisiológico não há nada que impeça uma pessoa, homem ou mulher, a prática de sexo/sexualidade na fase da velhice.

Contudo, em nossa sociedade, sexo/sexualidade são cercados de tabus e preconceitos. Na fase da velhice o assunto é ainda menos explorado. Assim, quanto pensamos a sexualidade nesta fase da vida temos a tendência a nega-la vendo indivíduos velhos como seres assexuados, como algo que não é natural, afinal, “sexo é para jovens” como uma ideia corrente no imaginário popular, mesmo para a população afetada. Pensar que nossos avôs e avós podem ter vida sexual nos causa grande estranhamento e surpresa, afinal, já são velhos.

Os tabus e preconceitos que envolvem o sexo em nossa sociedade estão muito relacionados a religiosidade que credita ao sexo apenas a reprodução, assim, nesta fase da vida onde não há mais a capacidade reprodutiva, mulheres após a menopausa não possuem mais capacidade de engravidar e homens tem sua fertilidade diminuída, a sexualidade perde o sentido seguindo esta linha de pensamento. Tabus em relação ao próprio corpo, afinal não são mais viris e rígidos, flacidez, menopausa, dificuldades de ereção ou manutenção da ereção, maior tempo para lubrificação vaginal, também são considerados um problema para esta parte da população.

Contudo, é preciso lembrar que sexualidade não envolve apenas relação sexual pênis/vagina, mas que a expressão da sexualidade pode ser vastamente explorada, no entanto, esses próprios tabus e vergonhas, acima mencionados, impendem que as pessoas nesta fase da vida procurem outros modos de sentir prazer já que o prazer pelo prazer é considerado pecado pela maioria das religiões cristãs. Deste modo, temos no imaginário popular que os velhos são seres assexuados, sem libido e/ou vontade de praticar sexo ou qualquer expressão de sexualidade.

Assim, respondendo à questão levantada no título do texto: velhos podem e devem praticar sexo e explorar sua sexualidade da forma que melhor lhes satisfazer. Mas para isso o debate deve ser aberto, sincero e sem preconceitos. Não podemos negar a esta população algo que faz parte da vida. O envelhecimento da população é algo perceptível e nesta fase da vida muitos direitos são negados e tolhidos, sendo entendido como mais uma violência simbólica, aquela violência sutil e não percebida tanto por quem a pratica quanto por quem está sofrendo.

Para finalizar, ressaltamos o que diz a Organização Mundial de Saúde – OMS, sobre sexualidade: “A Organização Mundial de Saúde considera a sexualidade como um aspecto fundamental na qualidade de vida de qualquer ser humano. Essa dimensão é fundamental em tudo o que somos, sentimos e fazemos. A OMS considera ainda a saúde sexual como uma condição necessária para o bem-estar físico, psíquico e sociocultural”. Observemos que este texto inclui “qualquer ser humano” sendo assim, a população de idade mais avançada também está incluída não sendo justo negar-lhes a possibilidade da busca do prazer e bem-estar que as diversas expressões de práticas sexuais são capazes de proporcionar.

Referências:

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Sexual and Reproductive Health. WHO, 2006. Disponível em: https://www-who-int.translate.goog/teams/sexual-and-reproductive-health-and-research/key-areas-of-work/sexual-health/defining-sexual-health?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc . Acesso em: 17/03/2022.

UCHÔA, Yasmim da Silva. Et. Al. A Sexualidade sob o Olhar da Pessoa Idosa. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2016; 19(6): 939-949. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/7dtmjLMf3c4bHR8bgcQDFXg/abstract/?lang=pt.  Acesso em: 18/03/2022.

VIEIRA, Kay Francis Leal. Et. Al. A Sexualidade Na Velhice: Representações Sociais De Idosos Frequentadores de Um Grupo de Convivência. Psicologia: Ciência e Profissão jan/mar. 2016, Vol.36 Nº 1, 196-209. doi: 101590/1982-3703002392013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/dtF8qQ6skTwWk4jK5ySG7Gq/abstract/?lang=pt. Acesso em: 18/03/2022.

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Infantilização do Idoso e os Impactos em sua autonomia

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O processo de envelhecimento é algo inerente a qualquer ser vivo. Todos e todas iremos envelhecer e o modo que idosos são tratados em sociedade é algo que muda conforme a cultura. Em nossa sociedade ocidental o velho e a velha são considerados cidadãos de menor valor. A violência contra a população idosa é praticada de várias formas. Entende-se violência como qualquer ato que gere danos físicos ou mentais e podem ser praticadas de forma ativa ou passiva.

Dentre as violências físicas, as mais conhecidas e, embora sejam condenadas socialmente, ainda são muito presentes no dia-a-dia, podem ser entendidas como as omissões de cuidados, violência física e sexual como também a patrimonial. Mas existe também um tipo de violência praticada contra essa população que não é percebida, em muitas ocasiões é até mesmo fomentada e incentivada, confundida com o excesso de cuidados, mas que são entendidas como violências simbólicas.

Uma das formas de violência simbólica contra a população idosa é a negação de sua autonomia e esta pode ser percebida de várias formas, uma delas é a maneira infantilizada como esta população é tratada sendo caracterizada pelos exageros de mimos e excesso de diminuitivos no processo de comunicação.

Imagine as familiares da atriz Fernanda Montenegro dizendo: “cada minha gatinha?? vamos gravar a novelinha?!” Ou do ator Anthony Hopkins: “E esse mocinho?? Vamos lá ganhar um oscarzinho?” Pode parecer carinhoso e cuidadoso, mas se referir aos pais e aos avós como crianças: “agora virou meu/minha filhinho/a”, “vamos tomar bainho” é uma forma sutil de violência simbólica que mina a autonomia destes cidadãos e cidadãs. Negar-lhes o direito de ir e vir com a premissa de cuidados não proporciona à essa população a autonomia que lhes é de direito.

Diante do exposto, entendemos que esta é uma forma sutil e dissimulada de violência simbólica contra a população idosa mascarada de cuidado, mas que na verdade nega à essa população parte de sua autonomia uma vez que não se trata de “crianças crescidas” e sim de adultos que possuem plena capacidade cognitiva, mesmo que algumas situações as limitações próprias da idade os impeçam ou limitem a executar algumas funções.

Entendemos que estes comportamentos são práticas comuns em nossa sociedade e não exercida de forma premeditada ou com má intensão e a desconstrução desses padrões é algo que não será de imediato, mas que o debate aberto e sincero é fundamental para a promoção de uma velhice saudável e autônoma, com os devidos cuidados necessários à essa fase da vida. Estamos nos referindo a pessoas que envelheceram. Apenas.

Referencias:

SERRA, J. do N. Violência Simbólica contra os Idosos: Forma Sigilosa e Sutil de Constrangimento. R. Pol. Públ. São Luís, v.14, n.1, p. 95-102, jan./jun. 2010. ISSN 2178-2865. Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/357.

SANTOS, A. A. e S. Et. Al. Atenção no Cuidado ao Idoso: Infantilização e Desrespeito à Autonomia na Assistência de Enfermagem. Rev Pesq Saúde, 17(3): 179-183, set-dez, 2016.

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Resistência, coragem e amor

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Particularmente em relação ao idoso percebo maior gravidade (dos desafios de saúde mental na pandemia), pois nem todos tem o privilégio de ter uma família que cuida e proporciona conforto nesse momento, em que os idosos obrigatoriamente ficam reclusos e mesmo assim, muitos são alvo fácil do vírus, pois nem todos têm a preocupação em mantê-los em segurança”.

O Portal (En)Cena entrevista a diretora de Recursos Humanos do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, estudante de psicologia do Ceulp/Ulbra, Osmarina Rodrigues Andrade, para entender sua perspectiva acerca dos desafios que o Brasil da pandemia impõem à  mulher idosa, profissional e líder de equipe, esposa, mãe e cuidadora da irmã super idosa de 88 anos.

Em sua fala, Osmarina Rodrigues Andrade indica a interconexão entre os saberes e os desafios dos vários papéis exercidos por enquanto mulher, profissional, idosa e cuidadora durante a pandemia. Segundo ela, as tarefas se completam e se apoiam pois “ser mulher é resistir com coragem e sobretudo amor”.  Em seguida, a entrevistada aponta sua visão de idosa e cuidadora de idosos, acerca dos efeitos da pandemia na saúde mental das pessoas nessa faixa etária e indica a importância da presença da família e da garantia de condições para que mesmo recluso, durante a pandemia, a pessoa idosa se mantenha ativa. Como Diretora de Recursos Humanos responsável por cerca de 500 servidores públicos, Osmaria Rodrigues entende ser possível e necessário pensar em produtividade, mesmo ante a calamidade, contudo aponta a importância de que sejam criados indicadores assertivos para a apuração dos resultados dos profissionais, além de adaptar a pesquisa de clima organizacional para a nova realidade e colher subsídios para o desenvolvimento de programas que mantenham a qualidade de vida dos servidores e empregados.

(En)Cena – Considerando o seu lugar de fala, mulher, mãe, avó, profissional que assume cargo de chefia de equipe e trabalha em tempo integral, cuidadora, idosa e ainda estudante de psicologia: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Osmarina Rodrigues – É interessante essa pergunta porque neste momento passa um filme na minha cabeça de todas essas vivência e experiências em diferentes papéis, mas que estão em confluência o tempo todo, porque não há como dividir.

Agora sou apenas mãe ou agora sou apenas profissional e por aí vai. Uma experiência serve de âncora para outra, não sei se posso dizer assim, mas, é assim que sinto. O fato de ser mãe e avó muitas vezes traz compreensão e ternura em momentos em que outros papéis estão em evidência, no ambiente de trabalho por exemplo, onde lido principalmente com questões relacionadas à vida de outros profissionais. A idade é um marcador do tempo que se refere a nossa primeira casa, o nosso corpo, que na minha crença abriga o ser imortal, o espírito. Então ser idosa para mim é compreender que o meu corpo precisa de cuidados constantes nesse processo natural de envelhecimento. Processo que só percebo e sempre levo um susto, quando me vejo no espelho.  Por isso continuo a estudar, trabalhar, cantar e muitas outras coisas para vencer as minhas dificuldades que também são muitas. A psicologia me possibilita compreender melhor o ser humano em toda a sua grandeza e complexidade, me permitindo enxergar que somos únicos, embora com semelhanças. Isso me faz a cada dia respeitar mais o outro em suas diferenças. Então para mim ser mulher no Brasil em tempos de pandemia é cuidar de si mesma e dos que estão sob sua responsabilidade é também, ter o direito de decidir o que fazer, o que expressar, é enfim não se submeter à violência, seja ela de que natureza for, nem tampouco ao preconceito que infelizmente ainda permanece. A pandemia da COVID 19 impôs uma reclusão física obrigando a convivência de pessoas por longos períodos e aflorando divergências que antes eram amenizadas nas conversas no ambiente de trabalho, nos happy our entre colegas, nos templos religiosos…e talvez por isso, a voz soou mais alta para evidenciar as dores de quem vive a margem e sem voz. Ser mulher é resistir com coragem e sobretudo amor.

Fonte: encurtador.com.br/qBOT9

(En)Cena – Como pessoa idosa e como cuidadora de idosos, como você percebe os efeitos da pandemia na saúde mental dos idosos?

Osmarina Rodrigues – É inegável os efeitos da pandemia na saúde mental de qualquer pessoa em qualquer faixa etária.  Os pediatras por exemplo, aconselham aos pais redobrarem a atenção com as crianças neste período tão difícil da nossa vida.        Particularmente em relação ao idoso percebo maior gravidade, pois nem todos tem o privilégio de ter uma família que cuida e proporciona conforto nesse momento, em que os idosos obrigatoriamente ficam reclusos e mesmo assim, muitos são alvo fácil do vírus, pois nem todos têm a preocupação em mantê-los em segurança.  É preciso que seja proporcionado ao idoso condições para que mesmo recluso realize atividades que o mantenha ativo: leitura, atividade física, trabalhos manuais, ouvir música etc. Também, a atenção destinada ao idoso é primordial. Uma boa conversa, paciência e carinho, fazem toda a diferença.

Fonte: encurtador.com.br/xKQS0

(En)Cena – Como Diretora de Recursos Humanos do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins você tem acompanhado de perto o desenvolvimento do trabalho de mais de 500 servidores, muitos deles mulheres e cuidadoras, durante a pandemia.  Diante da sua experiência, como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres interfere na rotina de casa e do trabalho?

Osmarina Rodrigues – A pandemia deixou tudo revirado em nossas vidas. Trouxe medo, insegurança, perdas.  A frase que mais ouço e repito é: quando tudo isto vai passar? Essa incerteza afeta a todos nós. Mas tenho percebido um movimento de aproximação nessa distância física, por parte de nós servidores. Uma necessidade de acolhimento bem maior. Recebo ligações constantes, por diversos motivos, dos servidores e sinto na maioria das vezes uma amorosidade na fala das pessoas. Externamos com mais facilidade nossos medos, nossas dificuldades e isto nos ajuda a nos mantermos bem mentalmente. Na Instituição existe um empenho para que cuidemos da nossa saúde mental que se manifesta nos novos projetos que serão implementados.

Fonte: encurtador.com.br/ckDST

(En)Cena – Na sua opinião, quais os desafios mais importantes da mulher trabalhadora durante a pandemia? E como os departamentos de gestão de pessoas das empresas e das instituições públicas podem colaborar para minimizar as dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras?

Osmarina Rodrigues – O maior desafio na minha opinião é compreender esse processo de mudança na pandemia. Não sabemos até quando vai perdurar. Estamos passando por ondas, variantes, cepas diferentes. São termos que escutamos a todo instante e que nos mostram que ainda não é o momento de relaxar os cuidados. Penso que uma decisão muito importante já foi tomada. A maioria das pessoas, cuja profissão se encaixa na modalidade home office estão trabalhando de casa. Existe uma flexibilidade maior para o desenvolvimento do trabalho. Mas, vejo como grande necessidade compreender os limites para o trabalho remoto. Não fazia parte da nossa realidade e talvez por isso, tenhamos dificuldade de estabelecer limites. Uma preocupação é adaptar a pesquisa de clima organizacional para essa nova realidade e colher subsídios para que desenvolvamos programas que mantenham a qualidade de vida dos servidores.

Fonte: encurtador.com.br/jwMR1

(En)Cena – É possível falar em mensuração da produtividade dos trabalhadores, durante a pandemia? Como fazer isso?

Osmarina Rodrigues – Considero não só possível como necessário. Aliás é uma exigência para a implantação do trabalho remoto. Sabe-se que o um dos critérios para o trabalho remoto é o aumento da produtividade em mais ou menos 30%, e que os processos destinados aos servidores em trabalho remoto, sejam também os mais complexos.  O que é necessário é que se estabeleça as métricas adequadas para medir o desempenho, considerando quais resultados a Instituição propõem alcançar, tendo preocupação com a saúde física e mental dos servidores e consequentemente com a qualidade de vida de todos nós.

(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Osmarina Rodrigues – Acredito que precisamos nos manter abertas para compreender as mudanças e acreditar sempre no ser humano. Penso na poesia de Cora Coralina que me inspira sempre.

“Penso no que faço com fé, faço o que devo fazer com amor.

Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.

Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar,

Ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri no caminho incerto da vida,

Que o mais importante é o decidir.” Cora Coralina

Fonte: encurtador.com.br/dnqxG
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Puella Aeterna: consequências da fixação feminina na eterna juventude

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Ao longo da história e dos mitos que a humanidade traz consigo, muito se foi dito acerca da eternidade, da beleza e da juventude do ser humano, que em tantas histórias e contos se referenciou nos deuses, comumente representados como figuras eternas e que na psicologia analítica são vistos como arquétipos.

Os arquétipos são figuras que remetem a um conteúdo específico, uma forma, como por exemplo, o arquétipo materno representado por a grande deusa, a virgem, a esposa, a vó e também pode ser atribuída à lua e a terra, dentre tantas outras representações que são formadas no inconsciente (JUNG, 2002).

O arquétipo do Puer Aeternus se construiu em várias culturas através dos mitos, tanto orientais como ocidentais, sendo associado à beleza, juventude e eternidade, retratado em diversos deuses; sua maior associação é com o arquétipo do deus menino, sendo comumente atribuído aos deuses gregos Dionísio e Eros, seu significado é descrito como “juventude eterna” enquanto que na psicologia analítica pode ser também atribuído ao jovem que tem algum complexo materno incomum (VON FRANZ, 1992).

Portanto o indivíduo que se vê tomado pelo arquétipo do Puer Aeternus é retratado da seguinte maneira:

Em geral, o homem que se identifica com o arquétipo do puer aeternus permanece durante muito tempo como adolescente, isto é, todas aquelas características que são normais em um jovem de dezessete ou dezoito anos continuam na vida adulta, juntamente com uma grande dependência da mãe, na maioria dos casos (VON FRANZ, 1992, p. 3-4).

Na clínica junguiana, muito se trabalha com os aspectos arquetípicos nos quais encontram-se no inconsciente coletivo e podem levar aos complexos a partir das experiências pessoais que são atribuídas ao inconsciente individual, sendo melhor explicados por Jung (2002, p. 53) da seguinte forma:

O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode distinguir-se de um inconsciente pessoal pelo fato de que não deve sua existência à experiência pessoal, não sendo, portanto, uma aquisição pessoal. Enquanto o inconsciente pessoal é constituído essencialmente de conteúdos que já foram conscientes e no entanto desapareceram da consciência por terem sido esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do inconsciente coletivo nunca estiveram na consciência e, portanto, não foram adquiridos individualmente, mas devem sua existência apenas à hereditariedade.

A partir da breve explicação, falaremos então acerca de um caso clínico relacionado ao Puer Aeternus, porém, aqui postularemos como a Puella Aeterna, ou a eterna menina, que é o aspecto feminino do Puer com algumas características que podem se diferenciar, sendo geralmente caracterizada como uma mulher que ainda vive com aspectos infantis, geralmente por consequência de pais passivos e em sua maioria por mães controladoras. Sendo assim Leonard (1998, p. 64) conclui:

[…] a eterna menina em geral adquire sua identidade a partir das projeções feitas pelos outros sobre ela, entre as quais: a mulher fatal, a boa filha, a esposa e anfitriã encantadora, a princesa maravilhosa, a musa inspiradora, e até mesmo a heroína trágica. Em lugar de assumir a força e o poder do potencial que lhe é inerente, e as responsabilidades que o acompanham, a eterna menina permanece frágil. Como uma boneca, permite aos outros fazerem de sua vida o que bem quiserem.

Fonte: encurtador.com.br/jlmW9

A partir de tal conceito, podemos seguir ao caso clínico que envolve uma paciente jovem de 18 anos na qual chamaremos de Hebe (nome fictício), que ao chegar no consultório se mostrou muito receptiva e falou acerca de seu acompanhamento clínico anterior, da sua vida familiar, um pouco da sua história, dos seus sentimentos e vivências, foi conversado com ela acerca da abordagem que seria utilizada na terapia (Psicologia Analítica), e questionamentos acerca de inclinações para artes e hobbies que a mesma poderia ter. A paciente relatou gostar de filmes “clichês” e também antigos. Outro aspecto relevante retratado foi acerca do gosto por desenhar, onde ela revelou gostar bastante, mas que não o fazia há algum tempo por receber críticas negativas da mãe acerca de alguns dos seus desenhos, que inclusive foram jogados fora por Hebe.

Podemos observar aqui um aspecto muito comum da Puella, onde a paciente demonstra reminiscências da infância tendo suas decisões tomadas a partir de influências dadas pela mãe, que notavelmente exerce um controle exacerbado sob a vida de Hebe, como citado por ela em um exemplo acerca de sua vontade de fazer uma faculdade fora, mas que não seguiu adiante com a ideia após sua mãe reforçar que ela não daria conta por ser uma pessoa de “mente frágil” para lidar com uma vida longe.

Hebe confirma verbalmente o que sua mãe disse a respeito dela, fala que se sente uma pessoa frágil emocionalmente e que sempre está sendo afetada por algo, portanto quando ocorre um evento que lhe afete negativamente ela costuma ir para um canto e ficar sozinha, ela relatou ser uma pessoa que não demonstra seus problemas, que geralmente se sente culpada em incomodar os outros e sente culpa até mesmo por problemas que são inevitáveis, como por exemplo uma doença recente que sua mãe passou, no qual Hebe disse de alguma forma sentir-se culpada por toda aquela situação. Acerca disso Leonard (1997, p. 81) nos traz que:

Um elemento comum a todos os padrões pueris é o apego a uma inocência ou uma culpa absolutizada que são os dois lados de uma moeda capaz de alimentar a dependência de outrem que reforce ou condene os atos. Existe em todos a relutância de responsabilizar-se pela própria existência, a ausência de tomada de decisões e discriminações; é o outro que se incube disso.

A paciente relata ter tido fortes crises de ansiedade e as situações nas quais teve, como por exemplo quando foi visitar sua mãe que estava internada e durante a crise que teve ela se viu tomada por um pânico que a deixou paralisada tendo inclusive que ser atendida por enfermeiras que estavam no local. Nesse momento ela diz ter tido muito medo de que sua mãe viesse a falecer. Esse aspecto muito nos fala acerca do medo terrível de separação da paciente com sua mãe, onde há visivelmente uma ausência de ruptura e o medo de encarar o mundo, sendo esse último aspecto relacionado à introversão.

Hebe diz que sua timidez é tamanha, que ela não costuma fazer amigos por dizer que não gosta de sair, tendo como explicação o fato de que todos que querem ser seus amigos sempre chamam para ir a festas e ela prefere não fazer amizades a ter que recusar os convites. Von Franz (1990, p.11) nos fala que:

No caso da atitude introvertida […] a pessoa tem a impressão de que um objeto opressor quer constantemente afetá-la, objeto do qual ela deve afastar-se de maneira contínua. Tudo se abate sobre a pessoa, que é constantemente oprimida por impressões, embora não perceba que secretamente está tomando energia psíquica do objeto e passando-a a ele através da sua extroversão inconsciente.

Fonte: encurtador.com.br/bemV8

A paciente relata que não costuma conversar muito com os irmãos, pois são pessoas que levam tudo na brincadeira, também não conversa muito com seus pais, porquê sua mãe é muito fechada e o seu pai, devido ao histórico do divórcio também não é muito amável. Segundo a paciente sua mãe passou a tratá-la de forma diferente após a separação dos pais, que as coisas ficaram diferentes, pois ela sente muita falta da época em que os pais moravam juntos.

O Pai de Hebe mora em outro estado, e por vezes abandonou a família sem dizer quaisquer coisa, isso, nas palavras da paciente, deixou-a insegura, e contou que certa vez o pai propôs que sua mãe, ela e os irmãos fossem morar com ele, ele deu o dinheiro para irem, porém, ao chegar lá ficaram cerca de dois meses e o pai os abandonara novamente em uma casa pequena sem dar quaisquer satisfações, deixando-os inclusive sem dinheiro algum até mesmo para voltar, e que apenas conseguiram voltar após contato com a família na cidade que moravam.

Essa história nos remete em partes ao que Leonard (1997) discorre acerca do padrão da Puella da “menina de vidro”, fazendo uma análise da peça “Zoológico de Vidro” de Tennessee Willians (1945) onde se observa a protagonista Laura, marcada por uma relação de um pai ausente que se mostra como uma garota de extrema timidez, com uma mãe que faz suas projeções nela tomando partido por suas decisões:

Para Laura, não existia relação com o masculino, não havia nenhuma influência ativa e consciente do pai, nenhum relacionamento com o mundo exterior […] Desprovida de projeções masculinas e de uma relação com o masculino, Laura cria seu próprio mundo, uma vida de fantasia que compensa seu isolamento em relação ao mundo exterior. (LEONARD, 1997, p.70)

Durante o atendimento com Hebe, ao mencionar que provavelmente falaríamos de sonhos, perguntei se ela costumava sonhar, e se recordar dos sonhos, ela mencionou que sim, logo após questionei se ela tinha algum sonho específico, logo ela me contou de um sonho que já se repetiu algumas vezes segundo ela, no qual ela se via em um apartamento que era somente dela, dado por sua mãe, com tudo para ela. Infelizmente não foi possível uma análise mais aprofundada do sonho, pois Hebe não pôde mais comparecer à terapia.

Portanto, após os relatos da paciente, podemos encontrar uma evidência no sonho de que o apartamento é a casa dela, representa seu ego. E apesar de ser algo próprio dela, quem deu foi sua mãe, isso pode nos revelar acerca da dependência materna por parte de Hebe, que demonstra fixação em uma fase anterior do desenvolvimento, na qual podemos novamente relacionar com a Puella.

Há também um constante medo inconsciente de encarar o mundo, uma necessidade de mudar a imagem amedrontadora que a paciente tem da mãe. Hebe demonstra uma recusa de buscar desenvolvimento de auto apoio para se tornar uma pessoa apta à vida adulta, é preciso dar-se conta de que esse trabalho não pode ser realizado por sua mãe, mas sim por ela mesma e para tanto a figura do terapeuta atua juntamente nesse processo.

Sendo assim para a transformação desse padrão de Puella, é interessante que o terapeuta convide à paciente, em primeiro passo, a tomar consciência de que está fora de contato com o self, ao reconhecer e sentir a existência da mais dimensões no próprio íntimo, um poder maior que a força dos impulsos do ego, onde ainda não se tem um vínculo, que pode ser revelado nos sonhos, essa conscientização gera sofrimento e então o segundo passo refere-se à aceitação desse sofrimento, tendo por fim o último passo, perceber que, apesar da nossa fraqueza há uma força interior que acessa esse poder superior, é uma aceitação do poder do self mas que parte das escolhas da própria paciente (LEONARD, 1998).

Vale ressaltar que na clínica Junguiana, o terapeuta irá atuar como aquele que estará ali para andar junto durante esse processo, vivenciar junto com o paciente e dar o suporte buscado na terapia para que o indivíduo possa lidar com as adversidades por si só, ou seja, até que o paciente possa caminhar sozinho. O analista por sua vez deve estar em constante aprimoramento, se possível, realizar também seu próprio processo terapêutico. Acerca disso Jung (1998, p. 6) discorre que “aquilo que não está claro para nós, porque não queremos reconhecer em nós mesmos, nos leva a impedir que se torne consciente no paciente, naturalmente em detrimento do mesmo.”

Podemos reafirmar então, que os arquétipos regem nossas vidas, mesmo que não tenhamos a consciência de sua existência, ainda assim, fazem parte do inconsciente coletivo, de uma forma ou outra, entram em contato com nosso inconsciente pessoal e acabam por interagir com os complexos pessoais. A terapia sob a luz da psicologia analítica nos ajuda a entender como funcionam os movimentos de nossa psique, nossa alma, e nos convida a nos compreender melhor e a trazer os aspectos inconscientes à consciência, com o intuito de auxiliar no processo de individuação e na busca do self que é pessoal à cada indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/jwABQ

REFERÊNCIAS

LEONARD, Linda Schierse. Mulher Ferida, a. 3ª edição. São Paulo: Summus, 1997.

JUNG, Carl Gustav. A Prática da Psicoterapia. 6ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 2ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

VON FRANZ, Marie-Louise; HILLMAN, James. A tipologia de Jung. São Paulo: Cultrix, 1990.

VON FRANZ, Marie-Louise. Puer aeternus: a luta do adulto contra o paraíso da infância. Paulinas, 1992.

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