Saúde organiza Seminário Estadual de Aleitamento Materno

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Tema do encontro on-line será “Amamentação como Responsabilidade Coletiva”

A fim de promover o debate sobre a relevância do aleitamento materno, a Secretaria de Estado da Saúde (SES), por meio da Superintendência de Políticas de Atenção à Saúde/ Diretoria de Atenção Primária, irá realizar o Seminário Estadual de Aleitamento Materno. O evento “on-line” será transmitido na manhã desta terça-feira, 31, às 08h30.

O seminário tem como público-alvo os profissionais de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), mas também estará aberto à população em geral. Para ter acesso a capacitação basta acessar o link e inserir o ID: 898 5677 1665 e a senha: 634385.

A gerente de Áreas Estratégias para os Cuidados Primários da SES, Thaís Sales Carvalho Oliveira, explica que “o evento é realizado anualmente em comemoração ao mês “Agosto Dourado”, simbolizando a luta pelo incentivo à amamentação e a cor dourada está associada ao padrão ouro de qualidade do leite materno”. A servidora complementa que “este ano o Seminário traz como tema central “Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos”, o que confere um momento oportuno para expandir essa discussão aos demais parceiros, entidades civis e a população em geral, e, consequentemente, proporcionar o apoio e fortalecimento desta causa”, conclui.

Imagem 1: Tema do encontro on-line será Amamentação como Responsabilidade Coletiva. Divulgação saúde

Programação

O Seminário on-line contará com três palestras, todas mediadas pela gerente, Thaís Sales Carvalho Oliveira. A primeira palestra será ministrada pela Enfermeira Obstetra e Professora do curso de enfermagem da Universidade Federal do Tocantins (UFT) Christine Rainer Gusman, com o tema “Amamentação: forças contrárias e estratégias no compartilhamento das responsabilidades”. A segunda será feita pela Engenheira de Alimentos e Gerente de Apoio ao Sistema de Vigilância Sanitária, Crislane Maria da Silva Bastos, e o tema será “Importância da NBCAL como ferramenta de proteção à amamentação”.

A última palestra será ministrada pelo Coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH) e Secretário do Programa Ibero americano de BLH, Dr. João Aprígio Guerra de Almeida, e terá como tema “rBLH: 36 anos de proteção ao aleitamento materno no Brasil”.

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Projeto cria exame de saúde mental a integrantes da segurança pública estadual

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Entrou na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) da Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto) na manhã dessa terça-feira, 27, projeto de lei do deputado Leo Barbosa (Solidariedade) que cria exames anuais de saúde mental para os integrantes da Segurança Pública do Estado, formados em suas corporações e setores dirigentes afins.

O projeto propõe que integrantes das forças policiais e bombeiros, por intermédio de suas próprias instituições, sejam examinados em relação à saúde mental, sendo providenciado o imediato apoio, quando necessário, de forma proativa.

Justificativa

A propositura visa ao acompanhamento e à conscientização sobre a importância da saúde mental dos integrantes da Segurança Pública. Segundo o autor, o comentário ouvido dentro de quartéis é que “nossa tropa está doente”.

“Esse comentário ecoa há anos nos corredores dos batalhões da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, e o mesmo se aplica às outras instituições da Segurança Pública do Estado”, afirmou Leo Barbosa.

Noutra matéria, também em análise na CCJ, o deputado propõe a obrigatoriedade de assegurar a publicação, nos sítios oficiais, as listas de pacientes que aguardam por consultas, exames, intervenções cirúrgicas e vacinação contra a Covid-19, nos estabelecimentos da rede pública de saúde do Estado do Tocantins.

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Cidadania: um caminho subjetivo e solitário?

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Em um país onde a democracia se molda a ferro e fogo, é possível (e necessário) refletir sobre a proposta de cidadania que se achega a cada sujeito da nação. Uma cidadania percebida pelo viés do direito, mas, sobretudo, sobre o escombro do dever. Escombro este construído desde a colonização, e que a cada explosão, seja política, moral, econômica ou social, soterra um pouco mais o chamado cidadão que navega por mares agitados.

Este mesmo cidadão, metaforicamente soterrado, tem a grande oportunidade de se perceber enquanto tal, pois em meio ao caos, compreendido aqui a partir das contribuições da meteorologia (Teoria do Caos), ou seja, a criação de um novo padrão, em meio à desorganização, pode reinventar condutas pessoais que geram ações coletivas, tendo a reflexão como meio imprescindível para a sobrevivência.

De fato o que é proposto? Quem sabe, uma (re)ação a tudo que está imposto, e que fere a dignidade do cidadão, que tira a oportunidade de um bem-estar social, que lesa todo e qualquer direito previsto na Carta Magna, e que, diga-se, é legitimamente constituída. Não há anacronismo na Constituição Brasileira, há negligência, omissão, ignorância proposital. E o cidadão lembrado no início desta reflexão? Distante, bem distante dos direitos.

Fonte: goo.gl/KLYmkN

Por tantas quedas, que nunca terão fim, é que se torna possível levantar os olhos para o horizonte, percebendo novas formas de posicionamento social. Em meio a toda “transparência” da imundície, um grande ensinamento advém do cenário político partidário do país, a possibilidade de pequenas mudanças cotidianas que em um longo prazo, permitirão um novo paradigma cidadão. A percepção de que, o que está posto, não é suficientemente bom para ser aceito. A compreensão cidadã construída não foi suficientemente capaz de discernir que honestidade nunca será um acordo, um conchave, mas uma busca constante por mudança.

Uma proposta concreta para tal mudança é, sem dúvida, e sem medo de chavões, a EDUCAÇÃO, aquela que se converge entre as dimensões família e escola. O sistema falido a que são impostos educadores e educandos gerou um ciclo de ineficiências, que resultam em mentes imersas na letargia. Pensamento duro? Necessário para que realmente a escola se proponha ao seu papel, que não é o de resolver as mazelas sociais existentes, mas de dar subsídios para que o cidadão se perceba enquanto agente de mudança. E se, mestre e aprendiz, não se propõem à parceria de viver a realidade e transformá-la, em vão, dividem o mesmo espaço educativo.

Fonte: goo.gl/jN2CJU

A Cidadania, nesta perspectiva do perceber-se, não pode calcar-se somente em subjetividades pessoais e solitárias, pois a cada circunstância, se está bom para o indivíduo, esquece-se da coletividade. Trocando em miúdos, se o mais importante continuar sendo a vantagem de cada um, como propor um presente e um futuro menos desigual?

Se você estiver se perguntando como? Não pense que, aqui, lhe será privado o direito de pensar por si só, mas comece pensando sobre o que tem feito de bom ao redor. Sobre como tem empregado direitos e deveres para o bem comum. Sobre qual a concepção tem construído sobre a escola para seus filhos e seus pares. Sobre quais são, verdadeiramente, seus requisitos para a escolha dos representantes políticos do seu bairro, cidade, Estado, Nação. Sobre qual é, de fato, sua atuação enquanto cidadão. Não sendo uma caminhada solitária, começa sempre pelo EU que vive com o OUTRO.

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Do lixo ao lucro: uma solução hospitalar – (En)Cena entrevista Renata Bandeira

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Um dos grandes desafios da sociedade industrial é a produção de lixo. Em uma modernidade que busca praticidade, os descartáveis se tornaram sinônimo de facilidade, aumentando a problemática do acúmulo. Poucas pessoas refletem na amplitude desse problema e muito menos em sua responsabilidade socioambiental. A máxima de que, do ponto de vista do planeta não existe o lado de fora deixa clara a urgência de desenvolvermos tecnologias que deem conta de um volume difícil de processar, e que representa risco para a saúde humana e do planeta.

Foi a partir dessa problemática dentro dos hospitais públicos, que a enfermeira Renata Bandeira, em seu projeto de doutoramento, desenvolveu uma tecnologia inovadora e tão simples que custou encontrar apoio, mas que aos poucos se mostrou eficaz e eficiente. Os resultados alcançados mostraram que é possível não apenas a redução no desperdício e a minimização de impactos ambientais, mas também a geração de lucro a partir do lixo hospitalar.

(En)Cena – Renata, eu gostaria que você começasse relatando um pouco sobre o seu trabalho no doutorado. De que se trata, exatamente?

Renata Bandeira – Trata-se de um projeto que tem como objetivo implantar o correto gerenciamento de resíduos em serviços de saúde. Algo que se torna complexo, principalmente nas unidades hospitalares, já que a variedade de tipos diferentes de resíduos é grande. Uma parte destes resíduos é considerada altamente infectante, e o manejo inadequado traz prejuízos à saúde pública, alto custo para SUS e, principalmente agressão ao meio ambiente. Então o projeto procurou implementar processos eficientes que facilitassem a coleta e a destinação adequada para cada tipo de resíduo de forma a evitar desperdício e ainda, gerar renda para o hospital.

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(En)Cena – Por que você escolheu esse tema?

Renata Bandeira – Foi por observar o caos que acomete os hospitais públicos, fiquei pensando em como poderia contribuir para melhorar a situação em relação ao lixo hospitalar, que como eu já disse gera inúmeras consequências negativas, inclusive em termos econômicos. O lixo hospitalar tem um custo alto para os cofres públicos, dinheiro que poderia ser revertido em outros benefícios para a saúde. O que a gente percebe dentro dos hospitais é que, muitas vezes um papel com o qual se enxuga as mãos ou mesmo restos de marmitas dos pacientes é misturado com agulhas e seringas no mesmo coletor de lixo. Isso tudo é descartado como lixo infectante, sendo que nem tudo ali diz respeito a esse tipo de resíduo. E você sabe que o infectante exige cuidados especiais para eliminação o que o torna mais caro, ou seja, muitas vezes o Estado paga o mesmo custo de um infectante num lixo normal. Isso sempre me incomodou muito e fiquei pensando em como poderia ajudar, eu senti a necessidade de contribuir de forma efetiva para minimizar esse problema nos hospitais públicos da capital e também de todo o Estado de Tocantins, daí nasceu a ideia.

(En)Cena – Quanto tempo levou para implantação do projeto e quais dificuldades você encontrou, houve muita resistência?

Renata Bandeira – A implantação aconteceu concomitantemente com o desenvolver do meu curso de doutoramento, em torno de cinco anos, com algumas dificuldades no decorrer, já que foi necessária pesquisa aprofundada para desenvolver algo com baixo custo (devido as dificuldades financeiras que assolam os serviços públicos) e que realmente alcançasse um resultado significativo e, também, sem colocar em riscos os funcionários que trabalham com o manejo dos resíduos. Outra questão importante, que deve ser consideradas, é que algo novo sempre causa resistência da gestão no início, mas, conforme as coisas foram acontecendo obtivemos grande contribuição da equipe.  Hoje já conseguiríamos desenvolver algo parecido em alguns meses em qualquer tipo de serviço de saúde, mas no início, ninguém tinha um parâmetro para dizer que daria tão certo e que compensaria.

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(En)Cena – Que resultados foram atingidos e o que eles representam para a sociedade?

Renata Bandeira – Reduzimos em torno de 57% dos resíduos produzidos no Hospital Infantil Público de Palmas, esse percentual equivale a uma média próxima a 200 kg por dia. Inclusive uma parte seria de resíduos infectantes que tem altíssimo custo para o SUS. Para se ter uma ideia, o Estado paga 4.08 centavos por kg de lixo infectante para a empresa que recolhe esse tipo de resíduo. Para reduzir esses custos implantamos um projeto inovador de reciclagem e fizemos parcerias com empresas que trabalham nesse segmento como cooperativas de catadores, logística reversa e empresas que compram o material. É importante ressaltar que dentro dos hospitais funciona uma cozinha industrial que serve grande quantidade de refeições para pacientes, acompanhantes e funcionários e que até mesmo os orgânicos advindos deste setor estão sendo reaproveitados para alimentação de porcos e consequentemente o hospital recebe um valor por cada um desses materiais (metal, plástico, papelão, papel, orgânico), destinamos corretamente também pilhas e baterias e, inclusive, nos tornamos um ponto de coleta de diversos tipos de resíduos. Ou seja, aquilo que era um problema de alto custo passou a gerar lucro para a instituição, além dos benefícios com a geração de empregos (nas cooperativas), redução de sacos plásticos, redução de resíduos comuns que a prefeitura coleta, o que reduz custos com combustível e desgaste do carro, além de aumentar a vida útil dos aterros sanitários.

(En)Cena – A que você atribui as conquistas do projeto?

Renata Bandeira – O envolvimento e empenho da equipe de trabalho da instituição, e as parcerias com as empresas.

(En)Cena – Que estratégias você considera terem sido essenciais para conseguir envolver as pessoas no processo e fazê-las acreditar nos resultados?

Renata Bandeira – Com certeza envolvê-los na problemática, já que todas as pessoas que circulam no hospital produzem lixo, e mostrar pouco a pouco que era possível modificar nossos hábitos com organização e inovação.  Utilizei uma frase que gosto muito no processo de capacitação:  “Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda!” (Mário Sergio Cortella). E acredito que juntos entendemos que poderíamos sim mudar a realidade com criatividade.

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(En)Cena – Qual a dificuldade de desenvolver um trabalho em equipe e que demanda tanto voluntariado?

Renata Bandeira – Não vejo dificuldade em desenvolver trabalho em equipe quando conseguimos motivá-los, isso gera um processo ao ponto de cada indivíduo se sentir importante no processo de mudança. E foi isto que ocorreu.

(En)Cena – Você poderia relacionar os benefícios do seu projeto para a saúde mental dos pacientes e funcionários do Hospital Infantil?

Renata Bandeira – Com certeza. Um processo de trabalho como este renova nos funcionários a motivação, tão importante no decorrer da vida profissional, principalmente no serviço público. E também o prazer de trabalhar em equipe, um colaborando com o processo de aprendizagem e crescimento do outro dentro dos grupos e setores, certamente desenvolve prazer no ambiente de trabalho e consequentemente melhora a qualidade de vida e saúde mental dos colaboradores.

(En)Cena – Renata, hoje seu projeto está indo para o Hospital Geral de Palmas. Quais as suas perspectivas com a implantação dessa tecnologia de reciclagem no HGP?

Renata Bandeira – Temos as mesmas perspectivas e metas que alcançamos no Hospital Infantil. Reduzir em torno de 50% dos resíduos nos próximos anos.

(En)Cena – Você acredita que isso pode se estender a outros hospitais ou empresas pelo Brasil ou pelo mundo? O que seria necessário para que isso acontecesse?

Renata Bandeira – Sim. Já iniciamos em outras unidades do Estado e acreditamos que o modelo implantado serve de exemplo pra todo o país. O que é necessário para isto, primeiramente preocupação com a quantidade de lixo que produzimos, e com a destinação final destes. Além de políticas públicas que trabalhem de forma mais efetiva ligando saúde e meio ambiente.

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(En)Cena – O projeto parece ser bem simples, além de eficiente e eficaz contra os desperdícios, o que você considera como sendo um risco para a eficácia do projeto e que deve ser observado por quem quiser implantar essa mesma tecnologia?

Renata Bandeira – A constante capacitação dos funcionários, já que a rotatividade é grande nas unidades e para que uma mudança efetiva ocorra demanda tempo e educação permanente. É importante ressaltar que os funcionários em sua maioria não têm hábitos de separação adequada no lixo em suas casas, que deveria ser o processo correto, de casa para o trabalho, estamos fazendo o caminho inverso, do trabalho para as casas, desta forma também funcionamos como ponto de coleta para estas famílias, o que facilita o processo já que se torna um hábito de vida e não uma obrigação imposta pela instituição.

(En)Cena – Eu queria que você falasse um pouco sobre a saúde pública no Brasil. Como a insegurança em relação à saúde interfere no bem estar psicológico da sociedade?

Renata Bandeira – A insegurança relacionada a algo tão importante como a saúde com certeza tem reflexos no bem estar psicológico das pessoas, principalmente para aqueles que necessitam continuamente do Sistema Único de Saúde (SUS), como é o caso dos pacientes portadores de doenças crônicas, ou seja, estas pessoas não têm que se preocupar somente com a evolução de uma patologia, mas também se terão condições de tratá-la. E se esse tratamento será de qualidade. Certamente esta questão perpassa a cabeça dos brasileiros, ocasionando estresse, ansiedade e medo, consequentemente dificultando e prolongando seu tratamento.

(En)Cena – Para finalizar, em sua experiência como enfermeira, no interior do Brasil, você pôde observar muitos casos de fácil resolução, mas que pelo desconhecimento dos meios e recursos, acabavam se agravando. Que características você considera essencial para um profissional de saúde que lida com a população de baixa renda e pouca escolaridade?

Renata Bandeira – Conhecimento, criatividade e boa comunicação.

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Henry David Thoreau – Somos realmente livres?

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Tomai a resolução de não mais servirdes e sereis livres. Não vos peço que o empurreis ou o derrubeis, mas somente que não o apoieis: não tardareis a ver como, qual colosso descomunal, a que se tire a base, cairá por terra e se quebrará. – Étienne de La Boétie, em “Discurso da servidão voluntária”.

Fonte: http://www.comshalom.org/portal/wp-content/uploads/2015/10/14/vitoria/liberdade1.jpg

Em 1845, um jovem de 27 anos de idade, insatisfeito com o modelo de sociedade e o modo como as pessoas viviam subordinadamente ao Estado, decide morar no meio da floresta, em um terreno que pertencia a Ralph Waldo Emerson. Segundo ele, queria “viver deliberadamente”, se “defrontar apenas com os fatos essenciais da existência, em vez de descobrir, à hora da morte, que não tinha vivido”. Em seu período na floresta, ele queria “expulsar o que não fosse vida”. Este jovem era Henry David Thoreau, um homem autêntico, inconformado e cético com as regras e padrões que lhe eram impostos, trazendo à tona questões que até hoje intrigam, perturbam e influenciam a mente e ações de uma gama de pessoas. Estas questões são acerca da liberdade versus tirania. Em sua estadia na floresta, Thoreau buscou um modo de vida mais livre, onde a simplicidade é vigente, criticando o modelo capitalista, escravagista e bélico da época, opondo-se ao Estado.

Quando pensamos no conceito de liberdade ficamos a mercê das influências externas que implicam na conquista de ser livre, somos remetidos à ideia do autoritarismo, domínio, poder, opressão e usurpação da lei. Sobre a égide deste contexto, Étienne de La Boétie, em seu livro Discurso sobre a servidão voluntária traz o questionamento: Por que abrimos mão da nossa capacidade de decisão?

Ele mesmo responde esta questão, dando uma “pista perigosa para nós”, como diz Leandro Karnal (Unicamp), em palestra sobre o medo, liberdade e a alma humana, ao dizer que “a servidão pode ser uma zona mais confortável que a liberdade”. Ser livre significa também fazer escolhas, o que denota grande angústia e responsabilidade, cujos – muitos – indivíduos não desejam assumir. Quanto a isso, Leandro Karnal usa metaforicamente o exemplo do filme Cinquenta tons de cinza, onde ele diz que “aquilo que me prende também me seduz”, enfatizando essa questão de atribuirmos sempre ao outro a responsabilidade de nossas escolhas.

E é por este grupo de pessoas com medo da liberdade, com medo da escolha e com medo da responsabilidade que é formada a tirania. Não que estas pessoas sejam os tiranos, mas elas dão as bases que os tiranos necessitam, pois estes não existiriam se não houvesse quem os aceitassem e apoiassem.  “O fogo do poder só arde por que há quem jogue lenha na fogueira” (Étienne de La Boétie).

Fonte:http://pantokrator.org.br/po/wp-content/uploads/2013/04/marionetes.jpg

Étienne de La Boétie divide a posse do poder em três categorias: pela eleição, pela violência ou pela sucessão. O que nos importa neste momento é o poder de sucessão, em que Étienne compara as pessoas alienadas e que abriram mão de sua liberdade à cavalos acostumados ao arreio. Karnal, partindo desta visão, compara a sociedade atual a potros, que já nasceram acostumados ao arreio. Ou seja, a maioria de nós está dando continuidade a uma servidão voluntária iniciada por nossos antecessores sem nem mesmo questionar tal imposição.

Para Henry David Thoreau, em seu livro Desobediência Civil, aqueles que se submetem a pagar impostos ao governo sem ao menos se questionarem a importância disso, não sabem qual é o seu papel dentro da sociedade, ao passo que a liberdade para essas pessoas está atrelada ao conforto de possuírem casas, roupas e acolhimentos providos pelo próprio Estado e modelo capitalista. Thoreau rebate expondo que o homem deve reivindicar a sua liberdade em relação ao Estado, não permitindo que um mande em milhões.

Ao fazermos uma contextualização acerca da liberdade, lançamos a pergunta: Estamos exercendo a nossa liberdade tal como Thoreau, La Boétie e tantos outros pensadores do século XIX sonhavam? Uma época onde as pessoas são livres para expressar suas opiniões, questionar os legisladores e suas leis, seria uma época de plena liberdade? Em resposta a esses questionamentos, Leandro Karnal diz que estamos agora nos deixando aprisionar pelas mídias sociais, referindo-se a elas como “coleiras eletrônicas destinadas aos humanos”. Não podemos ser quem queremos ser, sentir o que queremos sentir, já que estamos incansavelmente pregando falsas felicidades nas redes sociais, implicando assim numa utopia de liberdade.

Karnal usa outra metáfora com aspecto cinematográfico, desta vez sobre os zumbis, descrevendo que, assim como na maioria das cenas em que eles aparecem em shoppings, somos nós em busca de sempre adquirir cada vez mais coisas materiais. Ou seja, assim como os zumbis andam seguindo sua “manada”, somos nós seguindo a moda ou o que a grande massa nos impõe como certo. As pessoas se sentem sujeito ao escolher. Porém, esta escolha está voltada para o celular de última geração, para a roupa que está sendo mais usada, para os tênis da moda. Nenhuma escolha que envolva subjetividade e autenticidade, então, ao contrário do que pensam ser (sujeito), tornam-se, na verdade, objetos.

Fonte: http://scienceblogs.com.br/haeck/files/2014/01/zumbisnoshopping.jpg

Karnal em sua palestra cita a frase de Étienne de La Boétie, “parem de reclamar do Estado como tirano e pensem na sua liberdade diante desse Estado”. Ou seja, é preciso que saibamos a nossa posição e direitos diante de tudo o que nos governa, tendo em mente que há condições em que não se torna possível escolher fazer ou não, simplesmente se é obrigado a obedecer. Porém, deixar que essas regras e normas mudem o próprio modo de ser, a sua subjetividade, isso é de inteira escolha de cada um. É preciso pensar na nossa liberdade como resultado do extermínio da nossa servidão voluntária. É fazer com que Thoreau se revire no túmulo ao constatar que mudamos a forma de ser como ele afirma em seu livro Desobediência Civil: “A massa de homens serve assim ao Estado, não realmente como homens, mas com os corpos transformados em máquinas”. Não deixar que o legislador nos manipule a fazer o que não concordamos, pois, como Thoreau mesmo disse: “A única obrigação que tenho o direito de assumir é a de fazer em qualquer tempo o que julgo ser correto”.

 

Referências

THOREAU, Henry David. A desobediência civil.  Porto Alegre: L&PM, 1997.

ETIENNE DE LA BOÉTIE. Discurso da Servidão Voluntária. Editora Brasiliense. São Paulo, 1982.

Saber filosófico, Karnal. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GGeWvC-iKyc. Acesso em: 06 mar. 2016

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