A fenomenologia-existencial presente no livro “A insustentável leveza do Ser”

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O livro intitulado como “A insustentável leveza do Ser” escrito pelo tcheco Millan Kundera foi produzido em um contexto da Guerra Fria e publicado no ano de 1984. Ficou mundialmente conhecido, tornando-se um clássico na literatura. É um romance que se passa por dois casais principais e que por meio deles, temas relevantes da existência humana são levantados, como a liberdade de nossas escolhas, assim como a consequência delas. Por se desenvolver em um cenário político crítico, o romance é recheado de cenas nas quais ocorre a descrição de sentimentos de forma sensível assim como a dualidade que permeia do início ao final da obra, que é a leveza versus o peso da existência humana.

Ao decorrer da leitura do romance, é possível perceber fortes conceitos existencialistas, incluindo ideias preconizadas por Nietsche, como a crença ao nada e de que a vida não passa da própria existência em si mesmo, e finda-se em si mesmo. Além disso, é perceptível um viés muito forte ao pensamento fenomenológico, no qual as experiências humanas são o que importa nos personagens e por meio delas, carregam o peso de como é ser humano.  Com isso, a dualidade entre a leveza e peso das nossas escolham colocam o leitor equiparado aos personagens, o que os humaniza e ocorre a identificação, na qual nos leva a reflexão de nossa existência e de nossas escolhas.

O livro demonstra uma percepção bastante crua da realidade, que se relaciona em grande sintonia com o contexto sócio-político da época, que foi em um cenário de desesperança e de solidão. É importante ressaltar que mesmo que o autor traga temas considerados “pesados” da existência humana, como morte, solidão, tristeza, há também o conceito de leveza trabalhado na obra, que muitas vezes são demonstrados como desejos bastante comuns do ser humano, como o sexo e traição.

Fonte: encurtador.com.br/pxEKR

Os quatro personagens são apresentados de forma autêntica e muitas vezes simplista, mas não necessariamente menos complexa nas relações e experiências humanas. Este detalhe ganha muita importância na obra por se assemelhar aos leitores, que perpassam inevitavelmente por angustias e frustrações da existência de ser humano, assim como os personagens que ora estão questionando-se de suas escolhas e ora gozando do prazer delas.

A fenomenologia existencial fica escancarada em várias partes do livro quando os personagens se interrogam e entram em profundo questionamento sobre suas experiências no passado e de como elas determinaram a maneira como agem e como se expressam com os outros em suas relações. Tereza, por exemplo, demonstra ser a personagem mais reclusa e introspectiva no livro, que é justificado pela relação abusiva e tóxica com sua mãe narcisista. Além disso, é possível observar que esta mesma personagem levanta questionamentos enigmáticos e que muitas vezes obriga o leitor a repetir a mesma passagem várias vezes para compreender enfim o que se passa na personagem.

A leitura do livro é um tanto exaustiva mas muito necessária e prazerosa de se realizar. Desperta no leitor uma angústia inerente a existência de qualquer ser humano por esboçar, com muita maestria a dualidade entre o peso e a leveza disso. Também demonstra como as relações, experiências e as nossas escolhas como seres humanos estão inter-relacionadas. Contudo, o que mais é atrativo na leitura, são os temas existencialistas e fenomenológicos trabalhados de forma prática e ilustrativa por meio das escolhas e do passado dos personagens.

Assim, na Psicologia, temas como esses podem ser comumente trabalhados em um contexto clínico, pois a insustentável leveza do ser faz com que nós, seres humanos, nos questionemos de nossas escolhas corriqueiramente. Por conta disso, acompanha-se a angústia fatídica de que somos responsáveis por nossas escolhas mas, ao mesmo tempo, somos os únicos que podemos fazê-las, o que pode ser considerado como a liberdade.

FICHA TÉCNICA

Título: A Insustentável Leveza do Ser

Autor: Millan Kundera

Editora: Companhia das Letras

Páginas: 344

Tradução: Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca

Ano: 2017

REFERÊNCIAS

PIERRY, L. G. O Mito do Eterno Retorno em “A Insustentável Leveza do Ser”. Disponível em: https://medium.com/revista-subjetiva/o-mito-do-eterno-retorno-em-a-insustent%C3%A1vel-leveza-do-ser.

SCHNEIDER, D. R. O método biográfico em Sartre: contribuições do existencialismo para a psicologia. Estud. pesqui. psicol. v.8 n.2 Rio de Janeiro ago. 2008

KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser / Milan Kundera; tradução Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. — 1a ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

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O Homem é condenado a ser livre: sob ótica sartreana

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Seguindo uma ótica Sartreana, pautando-se numa visão existencialista propriamente dita, Deus de fato não possui existência no plano real, mas no imaginário de cada ser e, portanto, individual. Ainda assim, o homem com todas as suas crenças e perspectivas afirma a presença de Deus como forma de explicar as circunstâncias do mundo em que ele se insere.

Pensar em um mundo sem a presença Deste, é perceber, interpretar o homem enquanto responsável pelos fatos e situações que o perpassam, o que é, de fato, doído, angustiante e desesperador, isto equivale a dizer que, então, o homem é o dono dos acontecimentos prazerosos e não-prazerosos que acontecem a ele, já que és sujeito de escolha.

Este é um ponto crucial e paradoxal dos escritos de Jean-Paul Sartre. Se Deus não existe, o homem deve a partir de si mesmo criar, construir sua própria razão de existir e ser/estar no mundo, pois o ser nasce nada, e precisa procurar estratégias para se consolidar e tornar alguém, não há parâmetros exatos para tais questões, ela por si mesma não detém de sentido.

Fonte: encurtador.com.br/gvwzR

E nessa ótica, o sentido é incerto, duvidoso. Mas para que esta busca de sentido seja de fato concretizado, idealizado é necessário ter a plena liberdade, no sentido de ter a possibilidade de fazer/ realizar tudo aquilo que não está determinado, e isso significa, por vezes, ir além do dito moral, ético que está permeado no social, seguindo e sendo de alguma os seus próprios juízos.

O homem deve dialogar com a vida, e procurar singularmente o sentido para esta, fazer-se enquanto tal, e isto não quer dizer que o encontrará, o sentido é incerto, mas que na realidade é uma construção em vão, a vista que ela em si mesmo não tem sentido.

As consequências desencadeantes pela intensa busca de sentido existencial  pode resultar em uma série de questões psicológicas, emocionais e físicas. O ser humano deve procurar e/ou criar a razão pela qual existe, pode não encontrá-la, não construí-la e não vivê-la, e sequencialmente, cair na obscuridade do não-sentido, já que não existem garantias. Consequencialmente, ter de lidar com a incerteza do sentido.

Fonte: encurtador.com.br/epY04

E nisso, podem se deparar com vivências, experiências que estão se tornando corriqueiras na atualmente, a saber,  a dor de existir, o vazio, a angústia – a náusea e por último, a morte. De tudo isso emerge o sentimento de impotência perante a vida humana.

Nesta busca de sentido para sua existência, o sujeito  tem a total liberdade para construir a si mesmo, definindo-se por si mesmo quem ele é, já que de início não há possibilidade de definir o homem, pois a existência precede a essência, em última instância o homem nasce despossuído de tudo, projeta-se e passa a se moldar, fazendo suas próprias escolhas, e em consequência disso,  ter de se confrontar com a possibilidade de negar a um Deus, já que a liberdade somente existe se não há a interferência de um ser supremo para dar apoio, mostrar caminhos, ou para ser usado como desculpas para determinados comportamentos.

Contudo, o resultado disso tudo pode ser a angústia existencial/ vazio existencial de perceber-se enquanto responsável pelo que te acontece, se vendo não mais com a possibilidade de culpabilizar o ambiente externo, ou mesmo não sentir que ela é de sua responsabilidade.

Fonte: encurtador.com.br/jpSX8

Para Jean-Paul Sartre a liberdade é palavra tem demasia correlação com o termo responsabilidade. A primeira aparece em Sartre de uma maneira a soar estranheza, mas logo faz emergir-se da segunda, o que minimiza controvérsias. A verdade é que o homem é dono de si e escolhe como agir frente a diversas circunstâncias que perpassam a vida humana diante das possibilidades que são apresentadas, em busca de seu sentido, pois para tal é preciso de liberdade,  mas logo tem se reparar com os resultados consequentes destes comportamentos, ou seja, a liberdade é custosa. O homem é livre para escolher como agir em determinadas circunstâncias, mas também deverá arcar com as consequências sociais interpeladas pelo seu agir diante de si e dos outros.

Referência:

SARTRE, J.P. O existencialismo é um humanismo.1946

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Sartre, angústia existencial e mecânica quântica no filme “+1”

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Como você reagiria, voltando ao passado, ao se defrontar com um clone de você mesmo que tem todas suas memórias, porém dentro de um delay de 15 minutos?

E se você tivesse a chance de voltar no tempo e corrigir um erro terrível, embora soubesse estar moralmente errado porque o resultado anterior era o que teria de realmente acontecer? Voltando ao passado, como reagiria ao se defrontar com seu próprio clone que tem todas suas memórias, porém limitadas por um delay de 15 minutos? Essas são algumas questões morais levantadas pelo filme “+1” (aka “Plus One, 2013), do diretor grego Dennis Iliadis. Não é propriamente um filme sobre “viagem no tempo”, mas a proposta de transformar uma festa universitária numa espécie de “Caixa de Schrödinger” (experimento imaginário de mecânica quântica do físico austríaco) no qual os mesmos eventos duplicados ocupam o mesmo espaço, porém com um delay a partir de 15 minutos progressivamente diminuindo. Tudo em decorrência de um misterioso fenômeno elétrico-astronômico. É mais um filme sobre o mito da “segunda chance”, mas dessa vez revelando que essa recorrência no cinema é o sintoma do atual espírito de época – a crescente angústia existencial humana, tal como descreveu o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre. Filme sugerido pelo nosso leitor Fábio Hofnik. 

Esse humilde blogueiro sabe que, em alguma postagem nesses quase dez anos de Cinegnose, foi usado esse provérbio. Mas vou repetir: passamos metade da vida cometendo erros. E a outra metade, tentando consertá-los.

E se o leitor tivesse a oportunidade de ter uma segunda chance para corrigi-los in loco, sem ter que gastar o tempo restante da vida correndo atrás de uma solução? E se você tivesse a chance de voltar no tempo e corrigir um erro terrível, embora soubesse estar moralmente errado e que o resultado anterior fosse o que teria de acontecer?

Como você reagiria, voltando ao passado, ao se defrontar com um clone de você mesmo que tem todas suas memórias, porém dentro de um delay de 15 minutos?

Essas são as questões das quais partem o argumento do filme do diretor grego Dennis Iliadis +1 (aka Plus One, 2013). O tema da “segunda chance” é recorrente na cinematografia recente: Efeito Borboleta (2004), Perdido Entre Dois Mundos (2007), Sr. Ninguém (2009), Another Earth (2011), Coherence (2013), The Discovery (2017) entre inúmeros filmes recentes.

Fonte: encurtador.com.br/gHSW0

À primeira vista, nos primeiros minutos da narrativa, +1 parece algum tipo de “college movie” dentro do espírito da franquia American Pie: jovens universitários com hormônios explodindo, embebedando-se em festas, em busca da primeira transa – e com os personagens arquetípicos como a garota e o garoto popular, a nerd solitária e autoindulgente, os sociopatas, os competitivos e assim por diante.  

Com o passar dos minutos, principalmente após o acidente espaço-temporal que transformará aquela festa mundana num evento sobrenatural, +1 parece se transformar num mix de American Pie com viagem quântica no tempo. Mas com o transcorrer da estranha festa, Dennis Illadis começa a acrescentar algo mais: o tom cada vez mais sombrio e dilemas morais. Embora, a solução seja a mais otimista, dentre os filmes recentes sobre o tema “segunda chance”.

+1 nos mostra uma espécie de viagem quântica no tempo. Não mais uma viagem no tempo convencional. Mas uma situação que se assemelharia à experiência imaginária do físico austríaco Schrödinger do gato preso no interior de uma caixa que revela o paradoxo quântico do animal estar ao mesmo tempo morto e vivo.

Uma viagem muito mais através do espaço do que no tempo, já que passado e presente ocupariam o mesmo tecido espacial – doppelgangers se encontrando numa mesma festa, em um delay de 15 minutos.

O Filme

David (Rhys Wakefield) é um jovem que parece ter parado no tempo: não mais estuda e apenas fica à espera do próximo verão e suas festas universitárias. Sua namorada é a estudante Jill (Ashley Hinshaw) que começa a achar que seu relacionamento com David está muito devagar e a ele faltam perspectivas futuras.

Todas essas emoções explodem numa tarde quando David confunde-se e se aproxima de Melanie (Nathalie Hall) nos corredores da universidade, pensando ser ela sua namorada Jill. Melanie vira-se e beija David, que não faz muita questão de afastá-la para dirimir a confusão. Jill assiste a tudo com o coração partido, aumentando o grau da tensão do casal. 

Fonte: encurtador.com.br/egMT2

Jill decide acabar com tudo. Com seu romance em queda livre e desesperado, David e seu amigo Teddy (Logan Miller) decidem ir numa grande festa na casa do garoto rico local que promete muito bebida, música e sexo. David sabe que lá poderá encontrar Jill e tentar corrigir o seu erro. Mas ele não contava encontrá-la acompanhada de uma cara mais velho…

Paralelo a tudo isso, começa um estranho fenômeno elétrico desencadeado pela queda de um meteoro em um quintal próximo. Durante a festa David, Teddy e sua amiga tímida e insegura Alison (Suzanne Dengel) experimentam ondas de alucinações desorientadoras. 

Quando todos os convidados foram para fora para continuar a festa no jardim do casarão, ocorre um estranho blackout. Ao retornar a luz, David Teddy e Alison percebem que há estranhamente duas festas simultâneas: dentro e fora da casa. E o que é mais assustador: dentro da casa estão duplicatas de todos que estão dançando e bebendo freneticamente nos jardins. 

Fonte: encurtador.com.br/iFRU5

Mas não apenas isso: as duplicatas parecem repetir as mesmas situações ocorridas há 15 minutos. Porém, o estranho fenômeno espaço-temporal parece revelar sua natureza quântica de uma “caixa de Schrödinger”: a cada nova queda de energia e retorno, os clones avançam mais alguns minutos no tempo. 

Parece que a qualquer momento, as duas festas irão se sobrepor para criar aquilo que na mecânica quântica chama-se “decoerência”: o que aconteceria então? Isso apavora Teddy e Alison, que tentarão alertar os festeiros. Enquanto David tentará a oportunidade para refazer uma tentativa fracassada de desculpas. Quem sabe, ele possa ser bem-sucedido, dessa vez com a clone de Jill…

Segunda Chance” e a angústia existencial

O que torna interessante +1 é que o fenômeno elétrico-astronômico nunca é explicado: não há especialistas, astrônomos ou sequer um monitor de TV mostrando um telejornal com alguém sendo entrevistado e dando alguma explicação plausível. 

Tudo o que sabemos é nada mais do que aquilo que os personagens deduzem. Não há nenhuma informação reconfortante que auxilie as ações dos protagonistas – eles fazem tudo por impulso, resultando em uma série de dilemas morais: se David conseguir reconciliar-se com a clone de Jill, poderá matar a sua versão original do presente? O que farão todos na festa para evitar a sobreposição? Matar suas duplicatas? Isso não seria suicídio?

Fonte: encurtador.com.br/ftGH9

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Título Original: +1 (Aka Plus One) 
Direção: Dennis Iliadis
Elenco:  Rhys Wakefield, Logan Miller, Ashley Hinshaw, Nathalie Hall 
País: França/Bélgica
Ano: 2013
Gênero: Ficção Científica 

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A incrível história de Adaline: um olhar fenomenológico existencial

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Adaline Bowman torna-se imortal, aos 29 anos de idade, após um acidente de carro combinado à uma descarga elétrica causada por um raio. Para muitos a imortalidade é vista como uma benção, porém para Adaline, ela é apenas um infortúnio. Devido a sua nova forma de vida, ela abdica-se de relacionamentos afetivos profundos, para que não sofra ainda mais e nem faça outras pessoas sofrerem também.

Apesar de tal privação, Adaline não deixa de aproveitar sua existência de outras maneiras. Percebe-se que ela passa a olhar a vida com mais valorização, com o objetivo de fazer dela a mais produtiva possível, já que será eterna. Dentre a sua gama de aprendizados, estão a capacidade de falar vários idiomas, ter lido livros a perder de vista, ter trabalhado nas mais variadas áreas de atuação, ter viajado para diversos lugares no mundo e ter visto culturas nascendo e desaparecendo.

Ao assistir a performance de Adaline, passa-se a experimentar um olhar mais poético do fenômeno da existência. Tal fenômeno vai muito além do que os humanos têm costumado perceber no dia-a-dia. O olhar diferenciado da protagonista é permeado de grande angústia na maior parte do tempo, porém isso não lhe impede de ressignificar cada momento da sua existência eterna.

Fonte: encurtador.com.br/eAKL1

Para Novaes de Sá e Barreto “Há na angústia um sentimento de estranheza, retirando o homem da aparente segurança e da experiência de bem-estar proveniente do nivelamento de seu ser a partir daquilo com que se ocupa no mundo ( 2011, pág. 5).” Esse sentimento de estranheza incentiva o indivíduo a se mover à favor dos seus desejos e ambições terrenos.

Adaline é uma personagem que provoca  reflexão no mais profundo quesito da vida, que são “as escolhas feitas dia após dia na existência de cada ser humano”. Existem vários momentos no filme que exemplificam claramente a importância que ela dá a cada decisão e um deles é retratado na cena em que sua filha lhe faz uma ligação telefônica. Para muitas pessoas uma ligação de alguém querido pode ser um evento simples, no entanto, para nossa protagonista, aquele momento merecia a mais atenciosa resposta possível. Cada palavra trocada, cada evento externo ignorado que pudesse lhe fazer dividir o foco de atenção, era significativo para si mesma e para a demonstração de afeto prestada à filha.

A angústia vivenciada por Bowman perpassa o telespectador em todo o filme, e o questionamento constante é sobre a esperança de que ela consiga envelhecer novamente. Quando o telespectador sente esse desejo e percebe-o, passa a reconsiderar tudo aquilo que já tenha visto, sobre os benefícios de ser imortal. Esse momento é único, e faz com que você passe a olhar para o seu próprio ser no mundo e as relações que estabeleceu com as pessoas a sua volta, assim como as formas de existir definidas por si mesmo.

Ressignificar,  é a palavra que define o filme A incrível história de Adaline Bowman! Para Gáspari e Schwartz (2005) ressignificar a vida, as relações, os laços, os comportamentos, os erros, os acertos, a história construída, é o passo para verdadeiro encontro de si mesmo. É olhar para além de um calendário que se traduz nos dias de vida, e sim, olhar para si como um ser inserido em um espaço-tempo com tantos outros seres e possibilidades, que podem ser exploradas da forma mais linda e autêntica possível!

FICHA TÉCNICA

A incrível história de Adaline Bowman

Título original: The age of Adaline
Direção:
  Lee Toland Krieger
Elenco: 
Blake Lively,Michiel Huisman,Harrison Ford
Ano:
2015
País: EUA
Gênero: RomanceFantasiaDrama

REFERÊNCIAS:

Novaes de Sá e Barreto, Roberto e Carmém Lúcia. A noção fenomenológica de existência e as práticas psicológicas clínicas. Estudos de Psicologia, vol. 28, núm. 3, julio-septiembre, 2011, pp. 389-394 Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas- SP.

GÁSPAR, Jossett Campagna de; SCHWARTZ, Gisele Maria. O Idoso e a Ressignifi cação Emocional do Lazer. Psicologia: Teoria e Pesquisa, São Paulo, v. 21, n. 1, p.69-76, abr. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/ptp/v21n1/a10v21n1.pdf>. Acesso em: 03 dez. 18.

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A abordagem existencialista de Sartre na superação da alienação do sujeito

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O Existencialismo de Sartre e os estudos focados no existencialismo trazem grandes contribuições para a humanidade com melhorias na qualidade de vida do homem. Partindo deste princípio mostraremos um breve contexto histórico de sua vida e uma centralização ao seu entendimento, O existencialismo é um humanismo, elucida de forma clara e sucinta a compreensão do tema proposto.

Gonzaga Godoi Trigo (2012), afirma que Sartre destrói o conceito criado no século XVIII sobre a natureza humana onde a essência do homem que precede sua existência; para este filósofo exemplar acontece o contrário: a existência precede a essência, para Sartre o homem sempre será o que tiver projetado ser. As pesquisas sobre a vida e obra deste filósofo nos apresentam os principais pensamentos do autor, dentre eles a liberdade, a responsabilidade, a angústia, a natureza humana, a verdade e a má-fé e sua opção pelo ateísmo.

A existência da subjetividade e sua importância para o desenvolvimento humano harmonicamente condiz com a interação da liberdade e autenticidade de nossos comportamentos. Diante disso e abordando a temática sobre a superação da alienação do indivíduo, as intervenções psicológicas atuam promovendo saúde e prevenindo doenças psicopatológicas seguidas da terapia existencialista sartreana. O que proporciona confiança aos pacientes, familiares, educadores e profissionais psicólogos. Num contexto geral, Trigo (2012, p. 74,88), considera o Existencialismo Sartreano uma temática significativa dimensionada muito além de textos acadêmicos, mas vastamente em literaturas, romances, filmes, contos ou peças. Suas influências direta ou indiretamente produziram obras fundamentadas nesta corrente filosófica.

Fonte: https://goo.gl/57hi8Q

O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo […] o homem será apenas o que ele projetou ser (SARTRE, 1970, p. 3). Em Existencialismo um enfoque cultural (Trigo,2012), nos é apresentada uma breve descrição deste filósofo contemporâneo Jean Paul Sartre (1905-1980), nascido na França, homem livre e polêmico identifica sua defesa na separação total do Existencialismo de conceitos idealistas, considerados para Sartre como nossas evasões, fugas ou abandono para um alívio à busca do perturbador processo do existir.

Ao longo de sua trajetória intelectual foram muitas as críticas que perseguiram o filósofo e por muito tempo, no entanto assim a sua defesa sobre O existencialismo é um humanismo (Sartre, 1945), na conferência realizada na cidade de Paris possibilita Sartre definir o humanismo como base estrutural e de abordagem predominante sobre o se Existencialismo contrapondo e reprimindo inúmeras críticas marxistas e cristãs sobre a trajetória desta sua conduta.

Dois principais grupos lideraram suas perseguições, os marxistas (comunistas) e os cristãos. Os marxistas presumiam o Existencialismo responsável a instigar as pessoas de permanecerem no imobilismo do desespero, o acusando de uma filosofia contemplativa voltada a um tipo de pensamento da burguesia evidenciando a vergonha humana. Os religiosos cristãos a acusação estava pautada em que o Existencialismo de Sartre, negava a realidade e seriedade aos entendimentos humanos e a sua falta de essência espiritual extinguia os mandamentos de Deus; se os seus valores contemplariam apenas a pura gratuidade, onde cada um poderia então fazer o que bem entender, isto impossibilitaria a partir de um ponto de vista pessoal a condenar os pontos de vistas de outros seres baseados nos princípios morais da igreja católica.

Contrapondo e ponderando estas acusações, Sartre (2014, p.33) evidencia que o existencialismo não poderia ser considerado uma filosofia do quietismo, o existencialismo sartreano define o homem pela ação. Esta reflexão apresenta um homem que se faz com uma ação “engajada” e primordial na construção da sua personalidade, tornando o indivíduo o próprio condutor da sua ação “isolada”, ao designar o que vai escolher para a formação do seu ser, do seu eu. Na concepção de Sartre o Existencialismo tratava-se de uma doutrina que tornava a vida humana possível fundamentada na verdade e ação existindo no entanto uma subjetividade humana em construção, o que de fato originava dois tipos de existencialismos: O Cristão e o Ateu. Considerava o Ateu um existencialismo mais coerente e ponderava sobre  a existência de um ponto de concordância entre os existencialismos, a essência. No entanto para o cristão a essência precede a existência e para o ateu a existência precede a essência sendo necessário partir de uma subjetividade.

Assim se manifesta um comparativo de Deus, sendo este o artífice do homem e o homem o construtor da sua essência, do seu querer, do seu eu perante as suas realizações. Para Sartre então seria impossível existir a essência antes da existência, se assim o fosse, ocorreria uma oposição total ao conceito da subjetividade. Sendo assim, o existencialismo ateu defendido por Sartre como o mais correto, declara que Deus não existe e que a natureza humana não existia também pois não teria um Deus para concebê-la, pelo fato de que a existência viria antes da construção do ser. O que existiria seria a ideia de destino, um plano para o que devo ser. Esta ideia pressupõe que sejamos determinados a ser algo definido em nosso destino, e para a filosofia existencialista isto não existe, nascemos o nada e o que viramos a ser depende de nossa existência.

Não há destino, não há Deus, não há uma natureza que me imponha como devo ser, como devo agir, não existe uma ética pronta previamente colocada a qual devemos simplesmente seguir. Primeiramente é necessário o ser existir para depois ser definido por algum conceito, de modo que o homem se descubra. Pois ao nascer nada, a nossa frente se coloca uma diversidade, uma multiplicidade de coisas, de valores e formas que podemos ser. Segundo Sartre, o primeiro esforço do existencialismo, é colocar o homem no domínio do que ele atribui a total responsabilidade de sua existência. Assim, afirma que o homem não é responsável por si, ele também é responsável por todos os homens.

Estes sentimentos e estas emoções até então envolvidas nesta literatura cogitam nossos pensamentos e trazem questionamentos para a nossa vivência, poderíamos indagar situações como: vivemos nossa vida? Vivemos a vida como escolha ou vivemos o que outros escolheram? Se vivo motivado por escolhas alheias então não pratico minha liberdade, não estou vivendo! Sou um covarde, pois “o homem nada mais é do que uma série de empreendimentos, que ele é a soma, a organização, o conjunto das relações que constituem esses empreendimentos” (SARTRE, 1970, p. 9).

Partindo do seu princípio, Sartre não acredita em uma receita para a vida, quando copia-se um modelo, o indivíduo não torna-se si mesmo, mas sim um ser influenciado e moldado por outras pessoas, renuncia sua liberdade e assume um papel pronto na sociedade, um comportamento definido pelo que se chama de má-fé. O que é possível nessa relação é usar de inspirações para criar-se a si mesmo. Em sua análise de ‘‘subjetivismo’’ Sartre encontra dois significados: A escolha do sujeito individual por si próprio; e ser impossível o homem impor limites a subjetividade humana. Entretanto ao focalizar o princípio de sua existência, onde todos querem existir ao mesmo tempo a responsabilidade é bem maior que poderia supor, porque ela abarca a humanidade inteira.

Ao analisar o principal sintoma deste posicionamento o existencialismo define um homem livre, liberto, condenado a liberdade. Um ser humano que é lançado ao mundo e desde então responsável por tudo que ele fizer a partir disso. Perante esta conduta se configura o sentimento de desespero. O desespero está envolvido na sua consciência, e quando o indivíduo se der conta que ele não é apenas o que ele escolheu ser, mas também condutor de seus valores, significados, suas metas e suas visões de mundo na qual escolhe a si e também a humanidade inteira, não consegue escapar da sua total responsabilidade, profundamente envolvida pelos sentimentos de angustias e desamparo, seria como se a humanidade inteira fossem os olhos fixos a cada homem com suas opções regradas.

O indivíduo é um sujeito questionador, e ao ter em mente sobre o que seria melhor para si, para o homem que nasce nada e vai se construindo ao longo da vida, encontra um ser atormentado pela responsabilidade e angústia. Ao defender a liberdade e a autenticidade de cada ser humano como essenciais que ao invés de consumir éticas pré definidas e defende seus próprios valores existe uma clareza que se permite ao indivíduo usar inspirações para criar-se a si mesmo.  Evidentemente podemos concordar, gostar nos apropriar de um valor já existente, “mas” isto cabe a nós.

O desespero, desamparo, o medo faz com que todos sofram essa angustia. E ao tentar disfarçar, livrar-se desta angústia o homem age de má fé, isto é, se identifica com uma forma pronta de comportamento e copia esta forma. Nesta situação surge um sujeito que se desculpa ou mente, isto demonstra que ele não está em paz com sua consciência, pois não está sendo o agente da construção de sua vida. Má fé implica um valor universal na qual se atribui a mentira porque mesmo disfarçando, a angustia aparece. Má fé é a renúncia a própria liberdade assumindo um papel pronto na sociedade ou atribuindo suas escolhas a fatores externos, é voluntariamente renunciar a sua liberdade de auto construção e assumir um papel pronto na sociedade e em outra situação muitas vezes você abandona seu eu e ainda culpa os valores externos.

No existencialismo sartreano esta angústia é confrontada com a verdade.

“Não é possível existir outra verdade, como ponto de partida, do que essa: penso logo existo, é a verdade absoluta da consciência que aprende a si mesma. Toda teoria que assume o homem fora desse momento em que ele apreende a si mesmo, é antes de qualquer coisa, uma teoria que suprime a verdade, pois fora deste cogito cartesiano todos os objetos são apenas prováveis, e uma doutrina de probabilidades, que não é elevada a uma verdade afunda no nada, para definir o provável é preciso possuir o verdadeiro. Portanto, para que exista uma verdade qualquer, é preciso uma verdade absoluta; e esta é simples e fácil de atingir, ela está ao alcance de todo mundo; e consiste em aprender-se sem intermediários.” (SARTRE, 2014, p. 33,34)

Tendo assim a verdade como uma das bases, representando o substrato motivador da teoria existencialista, pelo fato de não se aglutinar “a um conjunto de belas teorias” que apresentassem esperanças mas sem um fundamento real. Evidencia a esta  verdade dita como absoluta porque parte do princípio que a consciência aprende a si mesma e fora do cogito cartesiano, todos os objetos serão apenas prováveis.

Na discussão da conferência de Paris, diante a uma pergunta relacionada ao seu trabalho publicado no Action sobre o desespero e desamparo encontra-se uma ressonância muito mais forte em um texto existencialista, onde esta filosofia se fundamenta quando vivenciada para ser verdadeira e sincera. Para Sartre, sua “filosofia desce as praças públicas”, esta metáfora por ele dita é direcionada ao comportamento do próprio Marx que vulgariza seu pensamento. Nesta mesma discussão ao final da conferência de Paris, levanta a questão onde o fato do indivíduo humano viver no mundo, depende de certas verdades adquiridas, e acrescenta questionando de onde vem a certeza da verdade absoluta, na ocasião considerada por ele, inexistente. Outro ponto reforçado é sobre a natureza humana, que dentro da existência de um indivíduo, cada época se desenvolve seguindo leis da dialética, mas depende da época e não da natureza humana.

Levando em consideração a relevância sobre a abordagem existencialista de Sartre, linhas teóricas no campo da psicologia clínica investigam sobre alguns fenômenos psicológicos encontrados no existencialismo, ao colocar o objetivo de ser da pessoa em suas próprias mãos, esta postura torna o sujeito responsável de sua própria vida e sua história. (RIBEIRO, SHNEIDER,2006.)

“A tarefa da ciência psicológica deve ser, portanto, investigar as condições de possibilidades de certos fenômenos de ordem psicológica ocorrerem, considerando-os em suas essências específicas, suas variáveis constitutivas, seus significados (Sartre, 1939). Sendo assim, a psicologia clínica, cujo objeto é a personalidade e a psicopatologia do paciente, para ser científica, em sua teoria, em seu método e em seus procedimentos, deve investigar quais as condições de possibilidade para um sujeito chegar a ser quem ele é, ou seja, como chegou a constituir-se determinada personalidade, sustentada em um projeto de ser específico, esclarecendo como foi que se complicou psicologicamente. Deverá, assim, poder especificar, em sua história, os contextos antropológicos (cultural, material) e sociológicos (rede de relações e de mediações de ser) que forneceram as condições de sua personalização e psicopatologização’’ (RIBEIRO, SHNEIDER,2006, p.8)

A postura da psicologia clínica diante desta investigação, traz uma constatação interessante de Pretto e Langaro (2012, pag. 1029) ao utilizar este recurso na construção da subjetividade em uma criança. Trata-se de um estudo de caso sobre a história de Pedro, 7 anos de idade, que é levado a uma clínica psicológica pela sua mãe justificando ele ser um menino agressivo, volúvel e de humor instável. Mãe e filho participam atentamente das sessões e tem papel fundamental na intervenção existencialista o qual ofereceu bases para os reflexos sobre a criança e a mãe e o desdobramento para a constituição dos sujeitos.

Fonte: https://goo.gl/AFudo7

No processo de desenvolvimento do artigo analisado, Pretto e Langaro (2012) em base ao depoimento da mãe descrevem que ela sentia angústias em determinadas situações quando encontrava dificuldades em dizer não aos seus filhos por medo de frustra-los e ao mesmo tempo tentava controlar suas ações e as reações, como uma forma de induzi-los a agirem de forma dentro das suas escolhas e com isto futuramente não sofreria tanta angústia.

“Relacionados a responsabilidade que os indivíduos têm com relação aos seus projetos e também com os projetos de ser dos demais. Ambos puderam, então, compreender que escolher para si implica escolher também para o outro, e, além disso, para o contexto social mais amplo, tendo em vista que os sujeitos são sempre seres em relação e que constituem sua personalidade a partir da subjetivação da exterioridade criada também a partir da objetivação que fazem de sua subjetividade, em um processo dialético de construção individual e social.”  (PRETTO, LANGARO, 2012, p.1036)

Verificado que quando a criança refletiu criticamente sobre si mesma, fez mais do que assumir o que lhe foi imposto, superando-se para se situar em um determinado horizonte. Nesta situação é perceptível o efeito do Existencialismo. Pretto e Langaro (2012), estabelecem a superação da alienação daquela criança à partir das histórias e das relações estabelecidas com a exterioridade, e não apenas ver ali um indivíduo que buscaria na psicoterapia a resposta para suprir suas dificuldades, suas lamentações. Esta observação permitiu aderir a diversidade dos fenômenos ao qual foram trabalhados na terapia considerando que o homem será um eterno vir a ser numa projeção para o futuro.

Consideração Finais

O existencialismo de Sartre e as reflexões filosóficas de sua obra, O Existencialismo é um humanismo, apresenta um sincronismo com nosso desenvolvimento, ao afirmar que o ser humano não é nada no seu início, mas se torna algo com sua vivência e com o que escolhe para si mesmo. O homem tem total retenção da responsabilidade de sua existência, mas não apenas para o ser, único, e sim pela humanidade, ou seja, por todos os homens. Para o homem não existe natureza determinada e sim uma construção do ser, não existe algo pré-estabelecido e o fato de sermos humanos nos concebe sentir e vivenciar emoções dentro de uma responsabilidade consciente que diretamente esta imunizada, assegurada pela verdade.

As discussões e críticas sobre a conduta sartreana projetam as mais variadas perspectivas do desenvolvimento humano e define a existência da sua subjetividade. As intervenções psicológicas embasadas no existencialismo de Sartre, atingiram a superação do sujeito resgatando o mesmo da sua alienação com aspectos de grande relevância sobre a formação, desenvolvimento, definição e entendimento da personalidade humana.

REFERÊNCIAS

GONZAGA GODOI TRIGO, Luiz.  Existencialismo: um enfoque cultural: O existencialismo sartreano. In: GODOI TRIGO, Luiz Gonzaga. Existencialismo: um enfoque cultural. Curitiba: Inter Saberes, 2012.cap. 2, p. 52-91.

PRETTO, Zuleica; LANGARO, Fabíola. Pais e Filhos em Psicoterapia: O atendimento clínico com uma criança. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=282025530019>. Acesso em: 25 fev. 2017.

RIBEIRO SCHNEIDER, Daniela. Novas perspectivas para a psicologia clínica a partir das contribuições de J. P. Sartre. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/5764>. Acesso em: 27 fev. 2017.

SARTRE, Jean Paul. O Existencialismo é um humanismo. 4ª.ed. Petrópolis: Vozes, 2014. 62 p.

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A Chegada: a linguagem e os limites do mundo

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Com oito indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado (Eric Heisserer), Melhor Diretor (Denis Villeneuve), Melhor Fotografia (Bradford Young), Melhor Mixagem de Som (Bernard Gariépy Strobl e Claude La Haye), Melhor Edição de Som (Sylvain Bellemare), Melhor Design de Produção (Patrice Vermette ‘design de produção’ e Paul Hotte ‘decoração de set’) e Melhor Edição (Joe Walker).

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Exibido no final de 2016 em todo o Brasil, o filme A Chegada, do prestigiado diretor canadense Denis Villeneuve, é baseado no livro The Story of Your Life, de Ted Chiang, e conta a estória da Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista que é convidada por militares para descobrir as intenções de um grupo de alienígenas que chega simultaneamente a estratégicos pontos da Terra, e pairam literalmente sobre nossas cabeças. “Conforme aprende a se comunicar com os aliens, ela começa a experienciar flashbacks que se tornam a chave para desvendar o propósito da visita”, escreve o site Omelete, especializado em cinema.

O enredo se dá pela lógica da combinação de um luto pessoal (o da Dra. Louise) com o intrigante processo de aproximação com uma civilização completamente estranha e mais avançada que a nossa. Neste contexto, não basta se utilizar de um aparato tecnológico de ponta para tentar mediar este contato e entender uma nova língua. É preciso recorrer à linguística para, então, ter um vislumbre de comunicação e um entendimento da linguagem em seu sentido mais lato.

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Fica clara a influência – direta ou indireta – do pensamento do austríaco naturalizado britânico Ludwig Wittgenstein sobre a narrativa, tendo em vista que os limites da linguagem, expressas primorosamente no longa, também significam os limites do mundo. Portanto, mais que um processo comunicativo ou de comportamento, a linguagem seria intrinsecamente ligada à consciência e, entendida como uma forma lógica possibilita que as ambiguidades das proposições sejam extintas.

No caso do filme, a Dra. Louise tinha como desafio entender as reais intenções da chegada dos alienígenas. Vieram em missão de paz, ou queriam explorar os humanos? Esta dúvida só poderia ser debelada se se compreendesse a linguagem dos visitantes, num processo não apenas de reconhecer o fato em si (a chegada dos alienígenas ou os códigos da fala, a língua), mas a totalidade que está por trás de tal visita. Desta forma, o filme apresenta mais que um contato alienígena, ele remete a um alargamento de consciência a partir da mediação/decifração pela linguagem.

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Também sobre esta temática, Quine diz que, no contato com outras formas de linguagem, somos perpassados pela “indeterminação da tradução”, fonte de instabilidade e incômodo, como fica claro no filme. Isso ocorre porque, para o autor, as palavras não tem significado próprio, mas estariam inteiramente ligadas a nossos padrões de comportamento. Além disso, aprende-se a linguagem como uma dinâmica social viva, e ao nos depararmos com um grupo de falantes cujos códigos linguísticos são radicalmente diferentes, surge uma barreira a ser transposta, sob pena de não se entender a visão de mundo destes falantes, e de não ampliarmos a nossa própria visão de mundo, a partir deste contato.

Comte-Sponville (2011, p. 352) diz que

A linguagem não fala, não pensa, não quer dizer nada, e não é uma língua; é por isso que podemos falar e pensar. A linguagem é apenas uma abstração: somente as falas, mas traduzidas em atos, são reais, e elas se atualizam apenas numa língua particular. Assim, a linguagem é mais ou menos para as línguas e para as falas o que a vida é para as espécies e para os indivíduos: sua soma.

Por fim, não por menos a Dra. Louise teve de encarar este desafio em uma fase da vida fortemente perpassada pelo luto. O filme, em parte, expressa as ideias cognitivistas de Gordon Bower, para quem os estados emocionais determinam a ênfase dada aos padrões de pensamento. Dra. Louise estava triste, com medo e confusa, estados que perpassavam as dinâmicas gerais de toda a humanidade, a partir do contato alienígena. Assim, o filme é um exemplo perfeito, para além de mentalismos, da associação entre estados de humor e os fatos externos, emoções e informações concretas.

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A Chegada é, antes mesmo de uma ficção científica rebuscada, uma obra de pegada existencialista, é um vislumbre de panaceia futurista em que a língua, e depois a linguagem, além das emoções e das mudanças vertiginosas porque passa o mundo, se bem decifrados, podem conter a chave para mudanças verdadeiramente substanciais, individualmente e coletivamente falando.

REFERÊNCIAS:

COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. São Paulo: WMF, 2011;

O Livro da Filosofia (Vários autores) / [tradução Douglas Kim]. – São Paulo: Globo, 2011;

O Livro da Psicologia (Vários autores). São Paulo: Globo, 2013;

Resumo de A Chegada. Disponível em < https://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/a-chegada-amy-adams-conversa-com-aliens-no-primeiro-trailer-completo-do-filme/ >; acesso em 19/02/2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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A CHEGADA

Diretor: Denis Villeneuve
Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Michael Stuhlbarg, Forest Whitaker
País: EUA
Ano: 2016
Classificação: 13

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Um Sonho de Liberdade: ser livre como sentido de vida

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Quem tem porquê viver pode suportar quase qualquer como.
Nietzsche

Fonte: http://migre.me/vFtak

Foi em meio aos horrores da Segunda Guerra Mundial, a partir da experiência em campos de concentração, que Viktor Emil Frankl, um judeu, faz emergir a Logoterapia, também chamada como psicologia do sentido, ou a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia. Tal teoria fundamenta-se nos pressupostos humanístico-existenciais. A logoterapia é permeada pelo existencialismo cristão de Soren Aabye Kierkegaard (1813 -1855). Para este a existência precede a essência, esta afirmação salienta que o sujeito é um ser único e mestre dos seus atos e, por conseguinte, do seu destino. Este postulado é o cerne da angústia existencial, ou seja, ao se dar conta que o “Eu” é o próprio legislador da sua vida e ação, transportam o sujeito a um vazio de sentido (ALMEIDA, 2007).

Frankl visava compreender o ser humano em sua totalidade, o qual necessita de liberdade e é constituído pela capacidade de suportar o sofrimento, mesmo quando a vida parece não ter significado (RODRIGUES e BARROS, 2009). Como ressalta Moreira e Holanda (2010), a logoterapia concebe uma visão humana que se difere das demais concepções psicológicas de seu tempo, na medida em que propõe a compreensão da existência mediante fenômenos especificamente do ser humano e a identificação de sua dimensão noética ou espiritual.

Para Frankl (1984) a busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida, “esse sentido é exclusivo e específico, uma vez que precisa e pode ser cumprida somente por aquela determinada pessoa. Somente então esse sentido assume uma importância que satisfará sua própria vontade de sentido” (p.87). Esta busca de sentindo é individual e intransferível, e o sentido da vida é mutável, cada individuo deve buscar algo o satisfaça e o objeto de satisfação modifica-se conforme a perspectiva do sujeito e sua existência.

Um Sonho de Liberdade

Fonte: http://migre.me/vFtbo

O longa metragem “Um Sonho de Liberdade” (The Shawshank Redemption, 1995), escrito e dirigido por Frank Darabont, usa como base a novela de Stephan King e narra a história de Andy Dusfresne (Tim Robbins). Nas primeiras cenas do filme o personagem descobre que está sendo traído pela esposa, esta e o amante são assassinados e Andy é condenado por duplo homicídio, crime o qual não cometeu.

Posteriormente, o personagem é encaminhado para a Penitenciária Estadual Shawshank para cumprir prisão perpétua. Já na entrada do presídio é possível vê a institucionalização do personagem, pois ao entrar, o sujeito perde sua identidade, isso fica visível no uniforme que lhe é dado, cuja função é de homogeneizar. Na prisão o indivíduo recebe um estigma, e a disciplina que lhe é aplicada tem a função de torná-lo dócil.

Como afirma Foucault (1999):

o corpo humano entra em numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também igualmente uma “mecânica de poder”, está nascendo; ela define como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas de rapidez e eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim, corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis” (FOUCAULT, 1999. p. 110).

Fonte: http://migre.me/vFtcg

A partir disso, pode-se observar que uma vez institucionalizado e “docilizado”, o sujeito pode em algum momento, se acomodar com sua condição diante do sofrimento, encontra conforto neste sentimento e dá significado a sua dor. Afinal a vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar significado na dor, e se de algum modo, a vida tem sentido, há propósito na dor e na morte (FRANKL, 1984). Dentro do universo cinematográfico do longa o sofrimento está dissociado do desejo de vida, torna-se sentido da mesma, o sujeito resigna-se e confortavelmente acomoda-se a realidade que o circunda.

Isso ocorre com Brooks, um idoso que se encontra preso há cinquenta anos na prisão de Shawshank; ao ser liberto, não consegue se desvincular do ambiente penitenciário e se adaptar à sociedade, pois, o cenário datado antes de sua prisão era mais estático e quando foi liberto, havia se modificado, tornando-se mais dinâmico. O mundo da prisão era estável, diferente do ambiente que se apresentava a ele naquele momento “a liberdade de agora era fictícia, pois permanecia preso as regra estabelecida aos detentos. Havia, portanto, assimilado a identidade dos prisioneiros” (MOTTA, 2011, p.1). Assim, o personagem idoso comete suicídio, pois prefere isso a encarar o desafio de se adaptar a uma nova vida, não conseguindo ressignificar e encontrar sentido de vida neste novo momento que iria experienciar.

O filme retrata o cerne dos conflitos do ser humano no contexto penitenciário. Além de todo o sofrimento ocasionado pela privação de liberdade, Andy ainda sofre violência sexual de outros presos, sendo que chega até a se tornar passivo diante dessa situação, uma vez que as reclamações e pedidos de ajuda não são ouvidos. Mesmo diante do supracitado, o protagonista demonstra uma civilidade, uma serenidade no agir divergindo dos comportamentos dos demais, como cita Red, personagem o qual nos narra a história.

Fonte: http://migre.me/vFtcM

Na prisão têm se todos os reflexos do contexto cultural de forma mais acentuada, assim, nota-se aspectos de uma sociedade individualista ainda mais forte no presídio uma vez que, não se pode confiar nas pessoas, pois, ocorre uma luta pela sobrevivência. Embora isso seja parte do cotidiano desses sujeitos, Andy consegue estabelecer relações de amizade, como ocorre com Red. O espirito de comunidade também se apresenta no filme, pois, os encarcerados, buscam estratégias de sobrevivência, seja por troca de favores ou contrabandos de alguns objetos feitos por Red para tentar amenizar a vida na cadeia.

Andy consegue desenvolver até mesmo o altruísmo, o que na vida lá fora talvez não fosse possível visto que, o personagem conta em algum momento que sua mulher se queixava que não conseguia compreendê-lo, interpretá-lo, sempre introspectivo. Porém, quando privado de liberdade, começa a repensar o sentido de sua vida e de suas práticas, desse modo, o personagem utiliza-se de sua experiência como bancário para facilitar sua vida e de seus companheiros.

Em relação a isso, temos uma cena emocionante na qual Red consegue que ele e seus companheiros trabalhem na área externa do presidio, na impermeabilização do telhado.  O protagonista auxilia um guarda com seu imposto de renda, como recompensa solicita cerveja para seus companheiros, ao contemplar esse momento, os personagens sente como se tivesse retomado sua vida antes da prisão. Sem dúvidas, o personagem consegue manter sua motivação para sair daquele lugar, no caos, ele consegue redescobrir o sentido da vida, desenvolve estratégias e se utiliza de toda sua história e potencial criativo para conquistar a tão sonhada liberdade.

Fonte: http://migre.me/vFtd1

Aproximação entre Viktor Frankl e Andy

Paiva (2009) aponta que a linguagem cinematográfica, em sua expressão, permite uma interação entre obra, autor e público, de modo que é possível alcançar uma abrangência intertextual, e ainda, a capacidade de olhar e interpretar o mundo sobre várias perspectivas. Assim, é possível recriar a vida, fato que se aproxima da filosofia, pois, o cinema revela as contradições da existência humana, mostrando seus conflitos e denunciando suas realidades.

A partir disso, percebe-se que o filme Um Sonho de Liberdade faz intertextualidade com a história do criador da logoterapia, Viktor Frankl, uma vez que assim como Frankl vivenciou os terrores de um campo de concentração nazista, o personagem do longa metragem passa por momentos angustiantes e é privado de liberdade por um crime que não cometeu.

Motta (2012) observa que a fotografia do filme nos mostra através das cores, uma alusão à Idade Medieval, período no qual os seres humanos viviam em conflito existencial, pairando entre o teocentrismo e o antropocentrismo; enquanto o primeiro estava ligado ao cristianismo, sendo que as pessoas pautavam-se nas leis bíblicas para controlar e docilizar os outros, o antropocentrismo configurava o desejo do ser humano se reafirmar, criar uma identidade e se fazer respeitar pelos outros.

Fonte: http://migre.me/vFtdA

Nesse sentido, a história do criador da Logoterapia nos mostra esses paradoxos de existir e afirma que não há sentido apenas na beleza e gozo da vida, mas que também é possível encontrá-lo mediante experiências devastadoras, pois, mesmo que essas reservam apenas uma possibilidade de configurar a existência, a atitude a qual a pessoa se coloca em face à restrição forçada de fora sobre seu ser, pode produzir o sentido da vida (FRANKL, 1984, p. 63).

Como ressalta o autor:

Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá. Afinal de contas o sofrimento faz parte da vida, de alguma forma, do mesmo modo que o destino e a morte. Aflição e morte fazem parte da existência como um todo. (FRANKL, 1984, p. 63).

Nota-se que ambos passam por momentos de profunda reflexão e busca do sentido da vida, sendo este a principal força motivadora do ser humano. Para tal, é imprescindível a vontade de sentido, nada é mais insubstituível – mesmo em circunstancias adversas, do que vivenciar o insight, isto é, compreender que sua vida tem sentido (PEREIRA, 2007).

Frankl (1984), quando retrata esses momentos de imersão em si mesmo, elucida que a tendência para a intimização percebida por ele em alguns prisioneiros, possibilita a mais viva percepção da arte ou da natureza uma vez que a intensidade desta experiência faz esquecer por completo o mundo que o cerca e todo o horror da situação.

Vemos então, que mesmo diante de uma tragédia, o ser humano pode re-significar sua existência através de um ajuste criativo. Ser saudável existencialmente não implica necessariamente em não experimentar sofrimento ou viver em um estado de constante tranquilidade; o que consiste em equilíbrio existencial é a coragem de assumir riscos e situações novas, ou seja, a capacidade de desenvolver estratégias para vivenciá-las da melhor forma possível (FORGHIERI, 1996).

Fonte: http://migre.me/vFtej

Forghieri (1996) ressalta que a coexistência de opostos é que nos dá o verdadeiro significado de cada um dos extremos que acreditamos ser contrastantes em nossa vida cotidiana, porém, esses polos constituem uma totalidade, assim, “se consigo sentir-me verdadeiramente alegre é porque já me tenho sentido profundamente triste; se consigo sentir plenamente a ternura de uma convivência amorosa é porque já conheço a angústia de minha solidão” (FORGHIERI, 1996, p. 103).

Assim, Frankl e Andy conseguem mesmo privado de liberdade, desenvolver estratégias para sobreviver naquele local. O primeiro, por ser médico, utilizava-se dos seus saberes para ajudar os enfermos, enquanto que o segundo teve experiências como bancárias e utiliza-se disso a seu favor para conseguir recursos para amenizar a vida na prisão, como por exemplo, a reforma da biblioteca.

O fluxo do existir e dos acontecimentos, vão modificando o sentido de existir, pois, o ser humano é mutável. O existir está repleto de incertezas, mesmo quando o sujeito tenta se apoiar em experiências do passado, pois, o presente é também abertura para o futuro e este é incerto (FORGHIERI, 1996).

Vale ressaltar, que ambos elaboram planos de fuga, o que afirma mais uma vez a tendência auto realizante do ser humano, ou seja, o desejo de sempre melhorar e ir além, pois está intrínseco ao sujeito a vontade de expansão, a busca pelo sentido da vida. Frankl tinha no amor pela esposa – a qual também estava presa em outro campo de concentração, a motivação para se manter vivo, e Andy, por sua vez, mesmo não tendo mais laços afetivos, consegue encontrar em si mesmo o sentido de viver.

Frankl, além de sobreviver ao horror dos campos de concentração, contribuir como logoterapeuta na busca de sentido das pessoas ao seu redor durante o cárcere, ainda deu sentido ao seu sofrimento e dor ao elaborar a sua teoria, negando o pessimismo e dizendo sim à vida, em todos os seus aspectos.

Um simbolismo muito forte presente no longa metragem, diz respeito à fuga do personagem , pois, no início, o interlocutor acredita que Andy é culpado, este passou por um túnel impuro e imundo- o que também é retratado pelas cores frias da fotografia do filme, e saiu do outro lado, puro e limpo para recomeçar uma nova vida (MOTTA, 2012).

Fonte: http://migre.me/vFteW

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, J. M. “Existência e Arte”- Revista Eletrônica do Grupo PET – Ciências Humanas, Estética e Artes da Universidade Federal de São João Del-Rei – Ano III – Número III – janeiro a dezembro de 2007. Disponível em: <http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/existenciaearte/Edicoes/3_Edicao/Jorge%20Miranda%20de%20Almeida%20FILOSOFIA%20ok.pdf>. Acesso em: 28 de abril de 2016.

FRANKL, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Porto Alegre, 1984.

FOUCAULT. M. Vigiar e Punir, Nascimento da Prisão. Ed. Vozes. Petrópolis, 1999.

FORGHIERI, Y. C. Saúde e adoecimento existencial: o paradoxo do equilíbrio psicológico. Revista Temas em Psicologia, vol.4 no.1 Ribeirão Preto, 1996.

MOTTA, C. M. M. Um Sonho de Liberdade – Análise Semântica. 2012. Disponível em:<http://leiturasinterdisciplinares.blogspot.com.br/2011/12/analise-do-filme-um-sonho-de-liberdade.html>. Aceso em: 28 de abril de 2016.

PEREIRA, I. S. A vontade de sentido na obra de Viktor Frankl. Psicologia, USP, Brasil, v. 18, n. 1, p. 125-136, 2007. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/pusp/v18n1/v18n1a07.pdf>. Acesso em: 8 de abril de 2016.

RODRIGUES, L. A. ; BARROS, L. A. Sobre o fundador da logoterapia Viktor Emil Frankl e sua contribuição à psicologia.  Revista Estudo, v. 36, n. 1/2, p. 11-31s, , Goiânia, 2009. Disponível em: <http://espiritualidadesentido.yolasite.com/resources/sobre%20o%20fundador%20da%20logoterapia.pdf>. Acesso em: 28 de abril de 2016.

PAIVA, C. M. S. C. Cinema e Filosofia: Uma Interlocução Possível – A ética, a cultura organizacional e a estética da violência nos filmes Clube da Luta e Tropa de Elite.  São Paulo, 2009. Disponível em: <http://portal.anhembi.br/wpcontent/uploads/dissertacoes/comunicacao/2009/dissertacao_celinamariasilvacastropaiva.pdf>. Acesso em: 05 de maio de 2016.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

UM SONHO DE LIBERDADE

Diretor: Frank Darabont
Elenco: Tim Robbins, Morgan Freeman, Bob Gunton, Clancy Brown;
País: EUA
Ano: 1995
Classificação: 16

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Sonhos na Gestalt Terapia

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Fonte: http://hypescience.com/wp-content/uploads/2016/02/sonhos-4.jpg

A Gestalt-terapia é um modo de exercer psicoterapia através de uma maneira cientifica dinâmica e artística. Idealizada nos anos 50 por Fritz S. Perls. Busca dar ao individuo meios precisos para seu desenvolvimento e compreender a forma como o homem inter-relaciona-se com o mundo.

Nessa vertente, Perls considera que a Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterápica que procura ver o homem como um todo. Fazendo com que o individuo empregue suas emoções, sentimentos e sensações, além das funções cognitivas (PERLS, 1997).

De acordo com Loffredo (1994, p.74)

Nesta filosofia está a concepção de homem, das relações humanas e , dela oriunda, da relação terapeuta é cliente que fundamentam a Gestalt-terapia, proporcionando uma estrutura de conjunto, formando um Gestalt, pois um leque só é montado através do ponto comum que une os segmentos.

E continua,

A Gestalt-Terapia é uma modalidade de psicoterapia existencial, enquanto uma forma característica de reflexão sobre a existência humana. Tem em comum, com as outras da mesma linhagem, a concepção do homem com o ser-no-mundo, como ser-em-relação, numa dialética na qual cria e é criado nesta relação, num vir-a-ser, que nunca se completa, um movimento continuo alimentado por um conjunto de potencialidades, sempre em aberto, que caracteriza o eterno projeto que é o existir humano (1994, p.74).

Portanto, essa abordagem se apresenta como uma maneira de vivenciar o aqui- e-agora e Perls considera necessário focalizar no que está perto, no presente. O que vivenciam no presente serão visíveis elementos do que possa lidar com o novo. Para a Gestalt terapia, o individuo está em processo de desenvolvimento e crescimento do potencial humano, que só será ampliado através da integração.  É vista como a terapia do contato, onde considera que o individuo se encontra em iteração o tempo todo com o meio que está inserido. Havendo êxito da forma de viver, evitando adoecimento existencial.  É importante enfatizar que só ocorrera  mudanças, quando o indivíduo se torna consciente das suas escolhas,  para possíveis mudanças , alcançando seu equilíbrio, e tornando suas escolhas reais e necessárias a partir do contato.

Gestalt-Terapia, embora formalmente apresentada como um tipo de psicoterapia, é baseada em princípios que são considerados como uma forma saudável de vida. Em outras palavras, é primeiro uma filosofia de vida, uma forma de ser, e com base nisto, há maneiras de aplicar este conhecimento de forma que outras pessoas possam beneficiar-se dele. Gestalt-Terapia é a organização prática da filosofia da Gestalt. Felizmente o gestalt-terapeuta é antes identificado por quem ele é como pessoa, do que pelo que é ou faz. (Perls, op.cit, p. 14).

Conheça três livros essenciais para a gestalt-terapia

Fonte: http://www.valordoconhecimento.com.br/blog/conheca-tres-livros-essenciais-para-a-gestalt-terapia/

 Sonhos na psicologia

As abordagens da psicologia veem os sonhos de maneiras diferentes, cada uma interpreta e utiliza de forma diversa na psicoterapia. As principais abordagens que teorizam sobre eles são a psicanálise, a psicologia analítica, a gestalt, o behaviorismo e a cognitiva.

De acordo com Zimermam (2008), Freud foi o primeiro cientista a dar dimensão científica ao entendimento dos sonhos. Aires (2011) afirma que a psicanálise vê o sonho como um texto a ser decifrado e utiliza-se da ideia de que esses conteúdos envolvem signos e significações complexas que podem ser reveladas com a técnica analítica. Para Freud (1900), os sonhos possuem um sentido e são realizações de desejos, além de ser uma forma de acesso ao inconsciente.

Na psicanálise contemporânea, se considera que os sonhos podem significar uma realização de desejo, todavia, isso não é o principal, pois para os analistas o surgimento de sonhos no paciente em períodos do processo analítico, mostra que a “mente do paciente está, trabalhando”. O analista também preocupa-se em conhecer o que determina um sonho específico, as conexões entre os sonhos sonhados em uma mesma noite, em busca de significações das angústias (ZIMERMAN, 2008). A interpretação permite encontrar o sentido de um sonho percorrendo o caminho que leva do conteúdo manifesto aos pensamentos latentes, pois, o que se interpreta é o relato do sonho. (GARCIA-ROZA, 2009).

11417sonhos

Fonte: http://ritacolatino.blogspot.com.br/2011/04/10-curiosidades-sobre-os-sonhos.html

Na psicologia analítica de Jung (1997, p. 26)  “os sonhos são o mais fecundo e acessível campo de exploração para quem deseje investigar a faculdade de simbolização do homem”. Ele afirma que o sonho possui uma função complementar na constituição psíquica, trata-se de tentar restabelecer a balança psicológica, produzindo um material que reconstitui o equilíbrio psíquico. Ele também acredita que o inconsciente transmite informações através dos sonhos e que para interpretar os sonhos é necessário uma aproximação dele na esfera das mitologias e nas fábulas das florestas primitivas, pois os símbolos oníricos são os mensageiros da parte instintiva da mente humana para a parte racional. O autor ressalta que os símbolos oníricos não podem ser separados da pessoa que sonhou e da mesma forma não existem interpretações definidas para os sonhos, mas é importante saber de algumas generalizações que ajudem a esclarecer alguns materiais dos sonhos. As figuras dos sonhos personificam algum aspecto da nossa personalidade, chamadas por de sombra, anima, animus e Self.   um sonho revela o inconsciente sob a forma de imagem, metáfora e símbolo (VON FRANZ, 1988).

Sobre a atuação na clínica Jung (1997) afirma que  é muito importante saber se as personalidades do paciente e terapeuta são harmônicas, divergentes ou complementares, pois a análise dos sonhos leva a um confronto entre os dois.  Também acredita que assim como os pensamentos conscientes se ocupam do futuro e de suas possibilidades, isso também ocorre com o inconsciente e os sonhos. Isto é possível pois o inconsciente toma suas vontades instintivamente através de formas de pensamento correspondentes, os arquétipos.

De acordo com Von Franz (1997) Jung descobriu que os sonhos dizem respeito à vida de quem sonha e  também são parte de fatores psicológicos. Além disso parecem obedecer a uma determinada configuração ou esquema, o processo de individuação.  Pois ao se estudar os sonhos e sua sequência, pode-se verificar que alguns conteúdos emergem, desaparecem e retornam. Sonhos que repetem figuras, paisagens ou situações, ao serem analisados, observa-se que sofrem mudanças lentas, porém perceptíveis, que podem acelerar se a atitude consciente do sonhador for influenciada pela interpretação dos sonhos e dos conteúdos simbólicos, ou seja, uma ação de tendência reguladora que gera um processo lento e imperceptível de crescimento psíquico.

Fonte: http://guiadicas.net/fotos/2009/12/Significado-e-interpreta%C3%A7%C3%A3o-dos-sonhos.jpg

Dentro da psicologia comportamental não há muitos estudos sobre os sonhos,  porém Skinner levantou algumas questões sobre os sonhos quando escreveu sobre Comportamento Encoberto e Comportamento Verbal.  Os comportamentos encobertos, como o sonhar, o pensar, sentir, não são considerados como eventos mentais ou cognitivos, pois uma das principais tarefas do terapeuta comportamental é levar os clientes a perceberem como seus comportamentos encobertos são um dos elos da contingência tríplice a ser analisada, e como eles se relacionam a outros eventos do mundo interno e externo, possibilitando a modificação de seu comportamento (BACHTOLD, 1999).

Para isso é importante o relato verbal, que, por ser influenciado por questões sociais, acaba evidenciando aspectos públicos e não somente privados do indivíduo. Dessa forma, os terapeutas usam estes relatos para uma intervenção que faz uso da interpretação com objetivo de identificar as variáveis sociais dos relatos e conduta que controlam, uma análise do episódio verbal através de perguntas. Ou seja, sonhar é comporta-se, e seu relato, sob estímulos verbais e ambientais, será utilizado para melhorar o autoconhecimento do cliente, numa interação terapeuta-cliente, uma vez que é um importante fornecedor de dados sobre a história do sujeito e permite a este se conscientizar de seu comportamento e do que o controla (BACHTOLD, 1999).

dream dreaming disney dog bonesFonte: http://giphy.com/gifs/dreaming-disney-dog-CfVkPSj1rSxVe

O modelo cognitivo concebe o sonho como dramatização das crenças do individuo sobre si, sobre o mundo e sobre o futuro, o qual está sujeito às mesmas distorções de quando acordado. Ele está relacionado a sua personalidade, as preocupações conscientes são manifestas no sonho e é uma história que pode ser relatada, ou registrada, e discutida com objetivos. Os sonhos podem também ser utilizados com o propósito de confirmação ou refutação de hipóteses diagnósticas, pois seus temas estão correlacionados com categorias diagnósticas, como por exemplo, depressivos relatam sonhos de derrota e coerção. Ademais a maneira como o cliente lembra detalhes e interpreta as memórias do sonho será peculiar e característico de sua personalidade. O trabalho terapêutico com eles pode ser escolhido como estratégia em momentos em que a terapia parece estar estática, ou quando emoções fortes são vivenciadas neles. Serão explorados na interpretação aspectos como: quando ocorreu o sonho, qual era a cena, o que pensou, o que sentiu e o que fez e os personagens envolvidos também serão explorados caracterizando o acesso, experienciação, modificação e ação sobre os sonhos, através de perguntas (SHINOHARA, 2006).

Sob a visão fenomenológica existencial sartriana o sonho não é percebido como um objeto real, mas como irreal e produto da consciência imaginante, criado pela atitude de negação do mundo, produzindo um mundo análogo ao real como enredo, com espacialidade e temporalidade que lhe são próprias. Assim, o terapeuta pode fazer com que o sonhador se aproxime das experiências que são manifestadas no contato com o material onírico, pois a análise do próprio relato  é uma maneira de observar elementos importantes sobre a vida do sonhador. A função do analista é auxiliar o paciente a regredir em sua história pessoal até chegar ao sentido do seu projeto inicial. Nesta perspectiva, deixar que o sonho se revele tal como é, trazê-lo para o mundo real, permite a descoberta de outros significados presentes na existência do sujeito (MILHORIM, CASARINI, SCORSOLINI-COMIN, 2013).

Fonte: http://vozdapsicologia.blogspot.com.br/2013/08/feliz-dia-do-psicologo.html

De acordo com os autores acima, sob uma ótica Heideggeriana o sonhar é dependente da história de vida do sonhador, é visto também como “uma experiência que depende da continuidade histórica da vida humana, se constituindo como um acontecimento pertencente à própria experiência” (p. 89). O significado e interpretação do sonho estão relacionados  ao conteúdo manifesto e o modo como o sonhador se relaciona com isso demonstrará toda a condição existencial deste, sendo necessário para isso, investigar sua vida interior e exterior.

De acordo com Santana (2005), outra teoria que pode auxiliar na interpretação dos sonhos, porém não trata sobre o tema é a Teoria da Subjetividade de González Rey, em que o sonho pode ser visto como expressão da emoção e da produção de sentidos constituídos pela nossa personalidade, que é um sistema dinâmico, em permanente construção relacionada aos contextos sociais e culturais. Dessa forma,

a) o sonho é uma expressão da emoção, b) os sonhos são produzidos a partir dos nossos sentidos, c) a única pessoa capaz de perceber e que pode significar os elementos, e o significado ao sonho é o próprio sonhador; d) o mesmo sonho e o mesmo símbolo sempre terão, em pessoas diferentes, sentidos e significados diferentes; e) as interpretações dos sonhos estão sempre em seguidas transformações e construções, nunca tendo uma compreensão definitiva; e f) cada compreensão do sonho só terá aquele significado para o sonhador naquele momento e configuração de sentido e cultural (SANTANA, 2005, p. 14).

Dessa forma, existem várias formas de interpretar os sonhos de acordo com a abordagem utilizada, mas todas possuem o objetivo de melhor compreender o sujeito de forma que é mais uma técnica utilizada em psicoterapia na busca do conhecimento do sujeito.

Gestalt e Sonhos

Fonte:http://hridayaterapia.com/notas/wp-content/uploads/2015/03/suenyo.jpg

No trabalho com os sonhos a pessoa é instruída a recontar o sonho como se ele estivesse acontecendo no presente, ou seja, aqui e agora, este simples artifício de linguagem utilizado pela gestalt terapia coloca a pessoa em contato com o seus conteúdos de uma forma mais energizada para o desenvolvimento do processo. O trabalho com os sonhos consiste r em perceber, com os sentidos, as emoções, o impacto subjetivo das imagens eventualmente encenadas, permitindo experienciar o sonho no aqui e agora (SANTANA, 2014).

Por tratar-se de algo no qual é a criação mais espontânea da pessoa, pois surge sem intenção ou ao menos desejo, ele simplesmente permeia nossos pensamentos, sendo composto pelo sonhador de parte em partes vivencia, experiência, uma junção da memória e realidade, Deve ser entendido como temático em vez de simbólico. A compreensão do conteúdo e dos temas dos sonhos oferece oportunidade para o cliente entender suas cognições e questionar os pensamentos, podendo ter, como resultado, uma mudança afetiva (FILHO, 2002).

Perls (1974, apud FILHO 2002, p. 35) qualifica a gestalt terapia como uma abordagem existencial, dado que não se limita a lidar com sintomas e estruturas de caráter; ocupa-se, em lugar disto, com a existência total da pessoa cujos fenômenos são claramente indícios em sonhos.

A concentração visa o reconhecimento com as possibilidades de identificação com os componentes do sonho onde a pessoa amplia sua percepção a respeito de seu senso de diversidade e descobre algo sobre si mesma.

Fonte: http://www.apsicanalise.com/images/SONHOS.jpg

Os sonhos abraçam muito de nossa existência portanto PERLS desenvolveu algumas formas de trabalho com as mesma,estas permitem a ampliação do senso de diversidade ,ampliando a experiência do eu .a escolha da forma de trabalho depende só do eu . A escolha da forma de trabalho depende do cliente ele deve ser ativo nesse processo  especifico e da habilidade de psicoterapeuta.Só se pode trabalhar o que já foi disponibilizado pelo cliente, quando o cliente já desenvolveu awareness (conscientização) de suas coisas no setting terapêutico e sempre a nível sensorial ou de percepção e nunca de ação. Assim, de acordo com Santana (2014, p. 97), sobre a Gestalt Terapia e os sonhos,

são formas de experimentos básicos em GT encenação, dramatização, trabalhos para casa ou outras atividades que promovam a autoconsciência do indivíduo. Na utilização do sonho como experimento, o cliente/paciente poderá falar sobre este, identificando elementos em termos de importância e, isso permitirá que a pessoa assuma a responsabilidade (tomada de responsabilidade individual pela sua própria vida, em vez de culpar os outros) pelos sonhos, aumentando a consciência de seus pensamentos e emoções. O sonho pode ser usado como experimento em GT, a partir do recurso de psicodrama ou monodrama.

A forma de trabalho proposta por PERLS (1997) e a partir da sua visão do sonho como projeção, pontuando que todos os componentes do sonho são representações do sonhador e assim aquele que sonha e auxiliado a representar as partes de seu sonhos de forma ativa no presente, este ponto de partida possibilita na experiência sempre nova e interessante para o psicoterapeuta e cliente.

REFERÊNCIAS

BACHTOLD, L. Os sonhos na Terapia Comportamental. Interação, v. 3, p. 21 a 34, Curitiba, 1999. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/psicologia/article/viewFile/7658/5461>. Acesso em: 13 abril 2016.

FILHO, A. P. Gestalt e Sonhos. São Paulo: Summus, 2002.

GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o inconsciente. 24.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

LOFFREDO, A.M. A cara e o rosto: ensaios sobre Gestalt-terapia. São Paulo: Escuta 1994.

PERLS, Frederick; RALPH Hefferline; GOODMAN Paul. Gestalt-terapia. Summus Editorial. 1997. Disponível em<https://books.google.com.br/books?id=b9pCM5xaJ6IC&dq=gestalt+terapia+na+psicologia&lr=&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s >.  Acesso em : 23/04/2016

MILHORIM, T. K.; CASARINI, K. A.; SCORSOLINI-COMIN, F. Os sonhos nas diferentes abordagens psicológicas: apontamentos para a prática psicoterápica. Rev. SPAGESP, Ribeirão Preto , v. 14, n. 1, p. 79-95, 2013 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702013000100009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 08 maio 2016.

PERLS e orgs. Isto é Gestalt. Summus: São Paulo, 1977.

SANTANA, Henrique Dantas de. A compreensão do sonho no processo terapêutico. 2005. 36 f. TCC (Graduação) – Curso de Psicologia, Uniceub – Centro Universitário de Brasília, Brasilia, 2005. Disponível em: <http://www.repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/3043/2/20010815.pdf>. Acesso em: 08 maio 2016.

SANTANA, Djeane da Silva; YANO, Luciane Patrícia. Experimentos em gestalt-terapia: os sonhos como recurso integrativo. Rev. NUFEN, Belém , v. 6, n. 2, p. 91-101, 2014 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912014000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 12 maio 2016.

SHINOHARA, H. O trabalho com sonhos na terapia cognitiva. Rev. bras.ter. cogn.,  Rio de Janeiro ,  v. 2, n. 2, p. 85-90, 2006 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872006000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  08  maio  2016.

VON FRANZ, M. L. O processo de individuação. In: JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997

___. O caminho dos sonhos. São Paulo, Editora Cultrix, 1988.

ZIMERMAN, D. E. Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre : Artmed, 2008.

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A teoria de Kierkegaard sobre o Existencialismo

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Fonte: http://i.telegraph.co.uk/multimedia/archive/02553/kirk_2553405c.jpg

O existencialismo consiste em um conjunto de teorias que são caracterizadas em centrar sua análise na existência, entendida esta não como fato de ser, mas como realidade individual (BARSA, 2005, vol. 6, p. 165). Kierkegaard (imagem acima) foi um autor influente no pensamento do século XX e é difícil enquadra-lo em uma corrente teórica ou religiosa por ser um pensador de múltiplas faces, é um pensador agostiniano que tem muito a contribuir para a compreensão contemporânea da fé e da relação que existe entre a fé e a razão. Foi conhecido como percursor do existencialismo, nos leva a refletir sobre as problemáticas levantadas sobre fé e razão (BARSA, 2005, vol. 8, p. 404).

O EXISTENCIALISMO DE KIERKEGAARD

Sören Aabye Kierkegaard (1813 -1855) foi o primeiro autor a escrever sobre o existencialismo, que foca, principalmente, sobre o aparente sentido da vida (ou a falta dele), sobre a busca de sair do tédio existencial e sobre as escolhas livres. Já que o homem precisa da liberdade para definir sua própria natureza. A infância de Kierkegaard é marcada pela figura paterna e sua influência sobre ele para se conhecer a bíblia, a língua grega e o latin, o que o fez-se decidir pela carreira teológica como forma, também de devoção e celebração divinas. Na Universidade de Copenhague, conheceu a filosofia do alemão Hegel e seu racionalismo na busca do absoluto. Porém, após um estudo profundo sobre as obras do autor, começa a discordar da abordagem que este faz das questões ligadas à fé e o cotidiano, pois a verdade conceitual proposta por Hegel não o convencia por completo já que a pessoa e suas vivências imediatas e intransferíveis estavam afastadas em prol da racionalidade, como exposto por Cobra (2001)

Fonte: http://osamigosdasabedoria.blogspot.com.br/

Segundo Pinheiro (2016), a ascensão do existencialismo dá-se por fatores que, primeiro, afetaram o positivismo de Comte como forma de pensar, neste positivismo apenas o conhecimento científico é válido, ignorando qualquer verdade provinda de algo sobrenatural ou divino. Comte dividia a sociologia em duas áreas, a estática social e a dinâmica social. (VASCONCELOS apud LAGAR et al., 2013, p. 18).

No entender de Comte, a sociedade apresenta duas leis fundamentais: a estática social e a dinâmica social. De acordo com a lei da estática social, o desenvolvimento só pode ocorrer se a sociedade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão. Uma vez organizada, porém ela pode dar saltos qualitativos, e nisso consiste a dinâmica social. Essas duas leis são resumidas no lema ‘ordem e progresso’”.

Essa ordem de Comte foi questionada com o início da primeira guerra mundial no começo do século 20, que “mostrou a vacuidade de todos os sistemas filosóficos para dar conta de uma compreensão sobre a complexidade da problemática humana” (PINHEIRO, 2016). A queda do positivismo, com o fracasso das grandes ideias humanitárias; e o ambiente de insegurança e pessimismo ideológico gerado pela técnica e pela ciência dão origem a uma angústia vital.

“Esta filosofia apresentou aos vivos e sobreviventes as interrogações que lhes eram pertinentes e próprias: qual é o sentido da existência? Da morte? Da dor? Da liberdade? Do desespero? Da angústia?” (PINHEIRO, 2016).

A Existência vem antes da essência, ou seja, não existe uma essência humana que determine o homem, mas ele constitui a sua essência na sua existência. Com essa essência provinda das experiências, o homem é capaz de realizar novas escolhas, tornando-se assim um homem livre.

Kierkgaard cria que se a condição de existência humana era essa, então o ser humano vive em uma constante angústia, tendo que escolher o próximo caminho a todo o momento e, consequentemente, refletindo sobre si, sobre seus feitos e sobre as próximas ações o tempo todo, como representa uma de suas frases, ilustrada abaixo.

Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-pbCOl4-zys0/VQxGM9JmAGI/AAAAAAAAO68/4taErJ-oSrw/s1600/00000000.jpg

Segundo Celeti (2016), outra característica é o desespero, aquilo que nos torna quem somos pode ser perdido e nos deixar em desespero. Toda a existência humana está assim, visto que o homem precisa de coisas externa (as quais não controla) para se sentir quem ele é.

Somos livres para escolher, mas isso nos traz angústia e, eventualmente, o desespero do medo de perder tudo. Estamos desamparados, não temos muletas, desculpas ou quem ficar culpando por nossas escolhas.

“O existencialismo é o conjunto de ideias que coloca no ser humano a responsabilidade por se construir e por seus atos. Não há desculpas ou justificativas para nossas ações, o que somos ou o que fazemos não é produto da nossa história, da nossa criação, do destino ou da divindade. Estamos sozinhos lançados no mundo, para nos inventar, pois não há nada anterior à nossa existência para definir o que somos” (CELETI, 2016).

Fonte: https://resenhasdefilosofia.files.wordpress.com/2013/03/kierkegaard.jpg?w=660

No livro “O Conceito de Angústia”, Kierkegaard aborda uma questão ética polêmica, ao indagar se um julgamento moral pode ser suspenso em virtude de um poder maior. Ele exemplifica com o episódio em que Abraão recebe de Deus a ordem de matar Isaac. Assim ele vê o sacrifício de Abraão e Isaac: obediência a um dever, no caso a obediência a uma ordem de Deus que é a essência de tudo que é ético, mas que exigia dele um ato não ético. Kierkegaard buscava justificar-se por haver rompido seu noivado, o que ele considerava um ato não ético, porém o fez por um motivo que considerava eticamente superior, sua dedicação a Deus. Dos três modos de vida que ele considerava possíveis, o modo de vida estético, o modo de vida ético e o modo de vida religioso, este último era superior aos demais. “Esses estágios são ‘determinantes existenciais’ do caráter humano, uma instância que se oferece ao indivíduo, ao longo de sua existência, para o encontro de sua verdade mais própria” (SECCO, 2004. p. 928).

Modos: No caminho da vida há várias direções, embora se coloquem em três categorias de escolha. Assim é que distingue três tipos de vida a escolher, três escolhas fundamentais do homem: a estética, a ética e a religiosa que não são três concepções teóricas do mundo, mas sim, três maneiras de viver. Inicialmente Kierkegaard apresenta apenas dois modos de vida, ou estágios, se tomados como etapas transientes. Segundo Reale (1945, p. 180 apud BORGES, 2016) “Kierkegaard procurou estabelecer os três estágios, desde a vida estética que é a do puro gozo, a vida ética, que é a subordinação ao dever e do triunfo da vontade até a vida religiosa, que é a autêntica, a dolorosa experiência do divino que se põe perante nós oculto e longínquo”.

Borges (2016) afirmava que quem está sob o modo de vida estético vive no instante e não conhece outro fim da vida senão aproveitar o instante que passa. Infiel, quer sempre provar novidades, foge permanentemente ao tédio, recusa engajar-se, são os Don Juans ou o intelectual cético e diletante.

No modo de vida ético o homem encarna as regras universais do dever. Trabalhador consciente, marido e pai devotado, leva tudo a sério, é pouco flexível, prisioneiro de ideias acabadas, e se crê cidadão exemplar.

No modo de vida religioso o homem não está submetido a regras gerais, mas é um indivíduo diante de Deus. Sua relação com Deus não se traduz em conceitos e regras gerais, mas em inspiração fora do universo da razão. Abraão está pronto para sacrificar seu filho Isaac porque Deus o ordena, mas esta ordem não é justificada por nenhuma finalidade ética.

Um existencialista é um sujeito que coloca o foco em sua existência pessoal, preza acima de todas as coisas o livre arbítrio e a autonomia do indivíduo.

Kierkegaard nos ensina a ousar, a não ter medo de ir contra a corrente. A verdade segundo ele está sempre junto com a minoria, com ele também aprendemos o valor de tomar riscos na vida.

REFERÊNCIAS

PINHEIRO, Rita Josélia de Capela. O Homem, a Angústia e sua Existência. Disponível em http://www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/rita.htm. Acesso em 15 de mar de 2016.

FERRARI, Marcio. Augusto Comte, o homem que quis dar ordem ao mundo. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/auguste-comte-423321.shtml?page=3#. Acessado em: 15 de mar de 2016.

COBRA, Rubem Queiroz. Época, vida e pensamentos de Søren Aabye Kierkegaard. 2001. Disponível em: <http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-kierkegaard.html>. Acesso em: 25 abr. 2016.

Grande Enciclopédia Barsa. 3. ed. São Paulo: Barsa Planeta Internacional, 2005. 18 p. 18 v.

SECCO, Frederico Schwerin. O conhecimento essencial segundo Kierkegaard. v, 14 n. 5. Goiânia: Fragmentos de Cultura. maio 2004. pp. 925-941.

CELETI, Felipe Rangel. Existencialismo e a Condição de Existência Humana. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/existencialismo.htm>. Acesso em: 25 abr. 2016.

BORGES, Renato. Estético, ético e religioso, segundo Kierkegaard. Disponível em: <http://www.professorrenato.com/index.php/filosofia/textos/113-ilson-oliveira-e-andre-roberto-cremonezi>. Acesso em: 25 abr. 2016.

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