A saúde mental masculina ainda é um tabu para muitos homens, por não aceitarem que é preciso cuidar da mente. Para eles, falar sobre saúde nas emocional é sinônimo de fraqueza, o que é malvisto ainda para muitos. Esse comportamento pode ser explicado pela masculinidade tóxica, a qual afeta o bem-estar do homem contemporâneo, além do machismo, um dos fatores responsáveis pela violência contra a mulher, no Brasil. “A masculinidade tóxica gera inúmeros impactos negativos” (PAULA E ROCHA, 2019).
Silva (2006) aponta que para o homem atribuiu-se características, como a liderança, racionalidade, força física, destreza, coragem, competitividade, pouca afetividade, virilidade. Enquanto a mulher deveria ser cuidadora, recatada, frágil, flexível, delicada e emocional (Silva, 2006). Nesse sentindo, configura-se a mulher como o aposto do homem, em que para o último é destinado o espaço público, enquanto ao primeiro, ambientes privados. Nesse dualismo, que os homens se tornaram os provedores dos lares, incapazes de demonstrarem suas emoções, pelo fato de ser a figura que abastece toda família.
Esta análise contribui para o fortalecimento da masculinidade tóxica, explicada por Paula e Rocha (2019) “O homem sempre recebeu estímulos para conter as suas emoções e, por vezes, expressar emoções negativas, e poucos foram os momentos em que as emoções positivas fizeram parte de sua educação sobre como ser homem”. Paula e Rocha (2019). Atualmente a masculinidade com traços de toxidade tem sido pauta de diversos debates entre diversos grupos de mulheres, até porque o machismo está entre as causas do aumento da violência doméstica contra a mulher.
Conforme Ministério da Saúde, a taxa de suicídio entre os homens é mais alta em relação as mulheres. Isso acontece, justamente pela negligência com a saúde mental. A resistência em buscar ajuda é também explicada pelo machismo, em que o homem não pode chorar e falar sobre seus sentimentos, porque criou-se uma cultura em que homem não chora. De acordo com o órgão, por não cuidarem de suas emoções, muitos homens desenvolvem ansiedade e depressão, e buscam na bebida e no consumo de drogas uma válvula de escape para suas dores.
Fonte: Freepick
Segundo o Instituto Britânico de Saúde Mental Mind (2020), uma pesquisa detectou que 6% dos homens disseram sofrer com problemas mentais no ambiente de trabalho, e por isso sofreram discriminação, sendo 2% demitidos. Ou seja, discutir abertamente sobre transtornos mentais, ainda é um desafio para a sociedade que precisa amadurecer sobre esse assunto, o qual é visto com bastante preconceito e desconfiança. Por isso, muitas pessoas oferecem barreira para abordar a saúde mental, em especial, o masculino, como já foi mencionado.
De acordo com o psiquiatra Coelho (2020) “a maioria dos homens tem vergonha de falar sobre seu sofrimento mental, seja por tristeza, ansiedade, insônia, irritabilidade, falta de prazer, desânimo etc. Consequentemente, deixam de ter uma vida feliz, saudável e com melhor qualidade” (Coelho, 2020). Por isso, o médico alerta que ao observar alguns dos sintomas, é preciso procurar um profissional especializado da saúde. Ou seja, é preciso por fim a essa cultura do homem durão e insensível, é preciso desconstruir conceitos enraizados na sociedade, em que o homem precisa dar conta de tudo. O ser humano é frágil, e inclui a figura masculina também.
O advento de novas tecnologias mudou a concepção de tempo para a sociedade. As reuniões de trabalho podem ser feitas simultaneamente, aos quatros cantos do mundo, e para conhecer alguém não é preciso sair de casa, basta somente instalar um aplicativo de relacionamentos no celular. As conversas em frente à porta de casa foram transferidas para os grupos de WhatsApp, assim é o mundo pós-moderno, em que tudo é muito rápido e pouco duradouro. Esta percepção sobre os relacionamentos é explicada pelo sociólogo Zygmunt Bauman (2007), o qual observa que a sociedade vive em um tempo líquido, em que nada dura. Ou seja, tudo é passageiro. Uma crítica a superficialidade das relações que vão embora como água no ralo.
Conforme Bauman (2009), o que importa é a velocidade e não a duração dos fatos, ou seja, dos relacionamentos. Ainda aponta que a valorização do indivíduo em detrimento do coletivo também é característica dessa sociedade líquida que vive em constante autocrítica, autoexame e autocensura. (Bauman, 2009). Para o sociólogo, as mudanças comportamentais seguem as renovações tecnológicas, ou seja, uma transformação constante. Isto é, uma sociedade que precisa viver o instantâneo, sem a necessidade de criar uma base sólida, pois o que importa não é a construção em si, mas o auge do momento, mesmo que seja segundos.
Nessa linha de pensamento, Oliveira (2015) destaca que “as condições tecnológicas e modernas de vida fazem com que os indivíduos se deparem com uma grande variedade de escolhas ou experimentos”. Situação que interfere no dia a dia da humanidade, desde sua forma de comer, vestir e agir (Oliveira, 2015). Ou seja, a expressão de vida de uma pessoa tem sido determinada pela tecnologia que influencia sua forma de lidar com os outros, bem como a expansão ao acesso digital, que a cada dia tem alcançado também a terceira idade (Oliveira, 2015)
Para Martinez (1998) os relacionamentos atuais podem fazer surgir um vazio o qual não será preenchido, pois na ética do prazer imediato e rápido não existe lugar para grandes investimentos amorosos o que pode frustrar o sujeito. Martinez (1998). Sobre esse pensamento, Jablonski (2001) admite que as variáveis sociais exerçam impacto nas relações de conjugalidade, como a modernização, a urbanização da sociedade, a diminuição dos membros que compõem uma família. A valorização do individualismo, o aumento da expectativa de vida, a valorização cultural do amor são outros posicionamentos que explicam a fragilidade dos relacionamentos. Jablonski (2001)
Fonte: Freepick
Lipovetsky (2004) afirma que apesar das relações atuais serem frágeis, os ideais de relacionamento estável, duradouro não foram descartados pela sociedade. Ou seja, as pessoas desejam ter relações amorosas sólidas, em detrimento do relacionamento líquido exposto por Bauman, mas admite que existe uma ausência de referência normativa sobre relacionamentos fortalecidos, o que pode ser traduzido pela mídia, que diariamente traz o divórcio de celebridades estampadas na capa das revistas eletrônicas. Nesse sentido, o telespectador, leitor são bombardeadas com esse tipo de informação, cotidianamente.
A fragilidade do ser humano pode ser explicada pela sua falta de entidade em diversos momentos de sua trajetória, bem como a influência dos noticiários, em especial, o que é exposto na internet. Bauman (2004) ao expor uma sociedade líquida, temporária, sem nenhuma solidez, expõe a problemática dos relacionamentos superficiais, em que as pessoas desejam viver o lado bom, em detrimento ao momento ruim, por isso tudo é líquido como água do rio, que sempre está indo para algum lugar. Não há um tempo para criar raízes e aprofundar os sentimentos, por isso a sociedade vive em constante insatisfação. Tudo é líquido, mas todos querem o sólido, mas não querem pagar o preço.
Fonte: Freepick
Referência
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro, 2001. Jorge Zahar.
BAUMAN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro, 2009. Jorge Zahar.
JABLONSKI, Bernardo. Atitudes frente à crise do casamento (2008)
LYPOVESTSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.
MARTINEZ, Marlene Castro Waideman. Sexualidade – família – AIDS. Na família e no espaço escolar contemporâneo. São Paulo: Arte e ciência, 1998.
OLIVEIRA, Diego.A terceira idade e os relacionamentos líquidos nas redes sociais(2015).
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Divisão sexual do trabalho: desigualdade e desvalorização da mulher
A divisão sexual do trabalho ocorre devido a divisão do trabalho social relacionado a questões de gênero. Desde a Antiguidade, o homem era responsável pela caça, enquanto a mulher conhecida como única responsável pela reprodução era encarregada pelo cuidado e zelo dos filhos. Porém com o passar do tempo e a revolução industrial, a mulher passa a lutar pelo seu espaço no meio social e trabalhar nas fábricas, a força já não era um requisito principal para a prática do trabalho fora do âmbito familiar (KERGOAT, 2000).
Nos dias atuais, embora as mulheres estejam cada vez mais conquistando seus direitos e lutando pela diminuição da desigualdade entre homens e mulheres, o que se percebe é que o papel da mulher continua relacionado ao cuidado do lar, e dos filhos. Apesar de terem a possibilidade de ocuparem lugares como a construção civil e exercerem profissões ditas como “profissões para homens”, ainda recebem salários menores que os homens.
Essa situação se intensifica quando falamos sobre as mulheres negras. As mulheres negras sofrem ainda com o preconceito por sua cor de pele, e na maioria das vezes são relacionadas à profissão de empregada doméstica. Levando em conta as estatísticas que apontam o baixo nível de escolaridade, acabam por terem ainda mais dificuldade em conseguir cargos melhores, ganhando menos ainda nas suas funções que as mulheres brancas (LIMA; CARVALHO, 2016).
Fonte: encurtador.com.br/jvyAC
Existem profissões em que as mulheres possuem uma maior facilidade em dominar a liderança nas contratações, porém, até neste ponto é nítido o estereótipo criado em volta da mulher. Geralmente são profissões voltadas ao cuidado, ou semelhantes às atividades domésticas, como por exemplo, professoras ligadas ao cuidados e educação de crianças, enfermeiras ligadas ao zelo, demonstram discursos colocando a mulher como direcionada para essas profissões ditas femininas devido a fragilidade, delicadeza e feminilidade (SILVIA; MENDES, 2015).
Dessa forma, a pirâmide de rendimentos no qual no topo dela está o homem branco seguido de homens negros, depois de mulheres brancas e por fim de mulheres negras ainda continua em manutenção de forma bem evidente, atual e cruel. Com isso, negras ganham menos, mesmo com vários anos de estudos ou o ramo no qual exerce sua profissão, pois está sobreposto a duas condições: a de ser mulher e a de ser negra (raça e gênero).
Com o contexto atual, a luta das mulheres seja através do feminismo ou na vivência do trabalho a cada dia que passa nas atitudes de questionar desigualdades ou buscar melhorias, procura cada vez mais, mais conquistas para as mulheres, buscando dessa forma diminuir a desigualdade entre homens e mulheres. Tentando dar à mulher a oportunidade de ocupar seu espaço de forma justa, sem ocupar os lugares dos homens, mas sim o seu próprio lugar.
REFERÊNCIAS
KERGOAT, D. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. Trabalho e cidadania ativa para as mulheres: desafios para as políticas públicas. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, p. 55-63, 2003. Disponível em:<https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/05634.pdf#page=55>. Acesso em 08 julho de 2021.
LIMA, R. M.; CARVALHO, E. C. Destinos traçados? Gênero, raça e precarização e resistência entre merendeiras do Rio de Janeiro. Revista da ABET, v. 15, n. 1, p. 114-126, 2016. Disponível em:<https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/abet/article/view/31263> Acesso em 15 julho de 2021.
SILVA, M.C.; MENDES, O.M. As marcas do machismo no cotidiano escolar. Caderno Espaço Feminino, v. 28, n. 1, 2015. Disponível em:<http://www.seer.ufu.br/index.php/neguem/article/view/31723>. Acesso em 23 maio de 2021.
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O Homem é condenado a ser livre: sob ótica sartreana
Seguindo uma ótica Sartreana, pautando-se numa visão existencialista propriamente dita, Deus de fato não possui existência no plano real, mas no imaginário de cada ser e, portanto, individual. Ainda assim, o homem com todas as suas crenças e perspectivas afirma a presença de Deus como forma de explicar as circunstâncias do mundo em que ele se insere.
Pensar em um mundo sem a presença Deste, é perceber, interpretar o homem enquanto responsável pelos fatos e situações que o perpassam, o que é, de fato, doído, angustiante e desesperador, isto equivale a dizer que, então, o homem é o dono dos acontecimentos prazerosos e não-prazerosos que acontecem a ele, já que és sujeito de escolha.
Este é um ponto crucial e paradoxal dos escritos de Jean-Paul Sartre. Se Deus não existe, o homem deve a partir de si mesmo criar, construir sua própria razão de existir e ser/estar no mundo, pois o ser nasce nada, e precisa procurar estratégias para se consolidar e tornar alguém, não há parâmetros exatos para tais questões, ela por si mesma não detém de sentido.
Fonte: encurtador.com.br/gvwzR
E nessa ótica, o sentido é incerto, duvidoso. Mas para que esta busca de sentido seja de fato concretizado, idealizado é necessário ter a plena liberdade, no sentido de ter a possibilidade de fazer/ realizar tudo aquilo que não está determinado, e isso significa, por vezes, ir além do dito moral, ético que está permeado no social, seguindo e sendo de alguma os seus próprios juízos.
O homem deve dialogar com a vida, e procurar singularmente o sentido para esta, fazer-se enquanto tal, e isto não quer dizer que o encontrará, o sentido é incerto, mas que na realidade é uma construção em vão, a vista que ela em si mesmo não tem sentido.
As consequências desencadeantes pela intensa busca de sentido existencial pode resultar em uma série de questões psicológicas, emocionais e físicas. O ser humano deve procurar e/ou criar a razão pela qual existe, pode não encontrá-la, não construí-la e não vivê-la, e sequencialmente, cair na obscuridade do não-sentido, já que não existem garantias. Consequencialmente, ter de lidar com a incerteza do sentido.
Fonte: encurtador.com.br/epY04
E nisso, podem se deparar com vivências, experiências que estão se tornando corriqueiras na atualmente, a saber, a dor de existir, o vazio, a angústia – a náusea e por último, a morte. De tudo isso emerge o sentimento de impotência perante a vida humana.
Nesta busca de sentido para sua existência, o sujeito tem a total liberdade para construir a si mesmo, definindo-se por si mesmo quem ele é, já que de início não há possibilidade de definir o homem, pois a existência precede a essência, em última instância o homem nasce despossuído de tudo, projeta-se e passa a se moldar, fazendo suas próprias escolhas, e em consequência disso, ter de se confrontar com a possibilidade de negar a um Deus, já que a liberdade somente existe se não há a interferência de um ser supremo para dar apoio, mostrar caminhos, ou para ser usado como desculpas para determinados comportamentos.
Contudo, o resultado disso tudo pode ser a angústia existencial/ vazio existencial de perceber-se enquanto responsável pelo que te acontece, se vendo não mais com a possibilidade de culpabilizar o ambiente externo, ou mesmo não sentir que ela é de sua responsabilidade.
Fonte: encurtador.com.br/jpSX8
Para Jean-Paul Sartre a liberdade é palavra tem demasia correlação com o termo responsabilidade. A primeira aparece em Sartre de uma maneira a soar estranheza, mas logo faz emergir-se da segunda, o que minimiza controvérsias. A verdade é que o homem é dono de si e escolhe como agir frente a diversas circunstâncias que perpassam a vida humana diante das possibilidades que são apresentadas, em busca de seu sentido, pois para tal é preciso de liberdade, mas logo tem se reparar com os resultados consequentes destes comportamentos, ou seja, a liberdade é custosa. O homem é livre para escolher como agir em determinadas circunstâncias, mas também deverá arcar com as consequências sociais interpeladas pelo seu agir diante de si e dos outros.
Referência:
SARTRE, J.P. O existencialismo é um humanismo.1946
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Em reverência a Stan Lee, criador do meu herói favorito
Eu adoro os super-heróis, especialmente os atormentados, os que têm dúvidas sobre os próprios poderes, os humanos o suficiente para nunca estarem totalmente certos se tais poderes são uma benção ou uma maldição.
Ultimamente têm se produzido muitos filmes protagonizados pelos clássicos heróis dos quadrinhos. Gosto particularmente, daqueles que vão além dos efeitos especiais e da eterna e manjada luta do bem contra o mal e se dedicam a nos revelar a mente atormentada do protagonista, suas fragilidades e, sobretudo, o ônus imposto pelos poderes que receberam, quase sempre, sem o direito de escolha.
Fonte: https://bit.ly/2OMglpC
De todos os heróis atormentados Hulk é o meu preferido. Uma pena os últimos filmes deste herói terem explorado mais seus músculos que sua mente atribulada, quase esquizóide. Prefiro o Hulk da década de 80, estrela do seriado Incrível Hulk, de muito sucesso na época. No seriado, Dr. Bruce Banner é um médico cientista que, depois de uma superexposição aos raios gama experimenta uma transformação intensa no corpo – acompanhada de força, resistência e vigor sobre-humanos – sempre que fica com raiva. Raiva essa que nosso herói sempre tenta, mas, nunca consegue controlar. Sendo assim, os atos heróicos do monstro verde, que sempre surge após um acesso de ira, sempre são vistos por Dr. Banner como um erro, um fracasso na tentativa de controlar-se. Fracasso que ele tenta resolver se mudando de uma cidade para outra sempre que Hulk se revela, numa tentativa, também fracassada, de fugir de si mesmo. No final de todo episódio da série, repetia-se a cena de Banner pedindo carona na estrada em direção incerta, cena embalada por uma musiquinha melancólica, aliás, inesquecível.
O que torna Hulk tão especial, a meu ver, é que, diferentemente dos demais heróis, a natureza de seus poderes é involuntária, ou seja, Banner tem muito pouco ou nenhum controle sobre eles. Hulk é para Banner um outro, um estranho. Neste caso, Banner não goza do poder que lhe foi dado, ao contrário, é o poder de Hulk que goza dele, do seu corpo e da sua vida. Nada mais humano que isso, não?
Fonte: https://bit.ly/2TbMj1D
É dito que somos animais racionais, o que supostamente nos possibilitaria ter o controle sobre nossos instintos, paixões e emoções, mas a verdade é que, a todo momento, somos tomados, atropelados por um outro que nossa razão é incapaz de controlar. O tal monstro verde invariavelmente rouba a cena e aí falamos ou fazemos o que não queríamos, poderíamos ou deveríamos falar ou fazer. Mas existe uma pergunta que Banner certamente se faz e que torna seu tormento ainda mais especial e interessante: sua verdade está em Hulk ou no Dr. Banner? Será ele é um Hulk reprimido por Banner ou um Banner atormentado por Hulk? Essa também é uma dúvida que sempre nos atormenta. Quando falamos ou fazemos algo que não queríamos, onde está o nosso eu? No que estava controlado pela razão ou no que conseguiu escapar dela?
O que me provocou a escrever este texto foi o filme – Os Vingadores – lançado nas últimas semanas*, e que eu gostei muito, aliás. Gostei, em especial, pelo Hulk do filme, porque ficou psicologicamente mais parecido com aquele do seriado da década de 80. Dr. Banner, antes de ser convidado para compor o grupo dos Vingadores, encontra-se recluso na Índia, exercendo caridosamente a medicina, evitando assim os estresses que trazem Hulk para a superfície. Fica claro no filme que Banner só aceita se unir aos Vingadores porque lhe garantem que o interesse deles é por seu conhecimento a respeito dos raios gama, ou seja, Hulk não será necessário. Neste momento fica evidente: é Banner negando Hulk.
Fonte: https://bit.ly/2K1jkcL
Mas a maior sacada do filme começa numa conversa entre Tony (o Homem de Ferro) e Dr. Banner, na qual este último, ao tratar de sua condição, se refere ao Hulk como “o outro cara”. Tony, por sua vez, ao perceber o incômodo que Hulk é para Banner, relata a este sua própria experiência de também possuir um estranho em seu corpo, no seu caso, o pequeno dispositivo eletrônico que carrega no peito e que mantém seu coração batendo. O que Tony quer mostrar a Banner é que o mesmo estranho responsável por lhe tornar uma aberração, também é o que lhe possibilitou estar vivo. O médico então conclui: – Você está dizendo que Hulk foi o quem me salvou de sucumbir aos raios gama? Tony não responde… Nem é necessário.
O filme segue e, mais tarde, como era previsível, Hulk irrompe no corpo de Dr. Banner depois que este fica perigosamente preso sob uma viga. E após dar vazão a toda a sua ira, destruindo tudo por onde passa, Hulk se retira para longe, a fim de se acalmar e permitir, então, que Banner retorne. Durante sua ausência, o filme segue e chega ao seu clímax: a aguardada luta do bem contra o mal. E é quando os demais Vingadores já se ocupam desta batalha que Banner aparece entre eles, numa motocicleta. Ao vê-lo chegar em sua frágil forma humana, o Homem de Ferro sabiamente recomenda: – Acho bom você começar a ficar com raiva. E a resposta de Banner é genial, e a meu ver, vale por todo o filme. Ele diz: – Vou te contar meu segredo, (e diz isso enquanto vai se transformando no temível monstro verde e parte com sua fúria para socar o inimigo que avança sobre todos), eu sinto raiva o tempo todo. A cena é genial, porque esta frase é iniciada por Banner e finalizada por Hulk. É possível enxergar nela nosso herói atravessando seu fantasma, se apropriando de sua raiva, aquela que vinha tentando de toda maneira negar e esconder. Vemos Banner convocando e assumindo Hulk, e Hulk raciocinando e falando como Banner. Ali não se trata mais de Banner ou Hulk, mas de uma síntese que inclui Banner e Hulk.
Fonte: https://bit.ly/2PV67Yj
Freud, com seu conceito de inconsciente, nos fez compreender que, ao contrário do que tendemos a crer, o eu não é o senhor em sua própria casa. Lacan, em sua releitura de Freud, também vai tratar desta divisão do sujeito afirmando que o sujeito pensa onde não está e está onde não pensa, nos fazendo concluir que o sujeito, na verdade, está nos dois lugares. Partindo dessa premissa da psicanálise poderíamos então concluir que a verdade do meu herói preferido está em Banner e em Hulk, ou seja, ambos são importantes e necessários. A força de Banner está na ira incontrolável de Hulk e a razão de Hulk provavelmente está na inteligência racional de Banner.
Possivelmente amamos os heróis porque nos identificamos com eles. Também recebemos nossos poderes, não tão extraordinários, é bem verdade, mas igualmente perturbadores. Poderes que, às vezes, nos parecem ser nosso maior defeito, mas ao mesmo tempo os responsáveis por nossos maiores êxitos e vitórias. E como fazer se nossa mais potente força é também, nossa pior maldição? O Hulk dos Vingadores nos dá a dica.
Ela amou de um jeito inestimável, foi leal ao que sentia.
Ela não foi leal às palavras que deveriam ser gritadas ao invés de escritas.
Ela foi o que queria ser, se preocupou, ajudou dentro do seu limite, mas calou.
Mas ela não sabia que sua forma de amar era imprecisa para alguém que não valia tanto a pena todo o seu esforço.
Ela percebeu tarde demais, que nem sempre roupas, perfumes, sandálias, lingeries, jóias e bons restaurantes era uma forma de amar, na verdade era apenas luxúria de mostrar para ela, que ela era o que ele queria a maneira dele.
Um rosto, um corpo e prazer ela foi, apenas isso e nada mais entre tantas outras moças que ele cortejava e fazia com que elas se sentissem abrilhantadas.
As palavras ditas da boca daquele homem era tão leviana quanto o seu caráter.
Enquanto ela achava que ele o engrandecia, a amava, na verdade ele a deixava mais pequena do que ela realmente era.
Não era jóia nem nada, nem brilhante, era uma pedra falsa que o ele chamava de amor. Não tinha luz própria e não brilhava, na verdade ele era quem a ofuscava.
Era tipo as luminárias de Natal, que brilha em uma determinada época do ano e se apaga um mês depois, e isso durou 7 anos.
Foram 2520 dias em que ela teve que sustentar-se ao abraço e o colo, ao amor que ela sentia, daquele que ela tanto confiava e como as mentiras demoraram a aparecer, com muito custo a verdade que sempre aparece, apareceu!
Imagino, ela que calou a voz por tanto tempo, ignorando tudo a sua a frente, até o que ela poderia ver e quando viu doeu, chorou, se despedaçou.
Quantas coisas deixou de falar, ocultou, oprimiu por achar que daquela forma ela o teria para sempre.
Mal sabia que para sempre era pouco tempo e com custo, mesmo que tantas vezes tentando tornar tão pequenos os detalhes, eles por si são os mais importantes e grandes demais para serem ignorados.
Ele era tão negligente ao que achava que escondia, e ela tão ignorante ao que estava bem na cara. E por fim o homem que se achava príncipe, mostrou que realmente era sapo e ela que achava que encontrara o amor de sua vida percebeu que tudo o que ele dava era somente uma mentira, uma mentira daquelas que doem mais do que a verdade.
Ela hoje está vivendo a sua dor, difícil de suportar, muitas vezes mentindo pra si mesma, achando que está muito bem. Silenciando o grito desesperador que guarda dentro de si. Esse grito que não aguenta mais ficar tão preso, não suporta mais ser acalentado. O grito que insiste em vencer aquela moça que acha que os dias bons são todos os dias.
Mas moça, olha bem, você não tem culpa por ser digna no seu sentimento, não tem culpa de não ser o que ele queria, não tem culpa de ser quem você é. E ser você é a melhor coisa que você poderia ser. Inesquecível e inestimável, você é a sua versão de mulher na vida. Você não precisa ser abrilhantada por ninguém, você já é a luz grandiosa e só falta você ver.
Ele é que era muito pequeno pra você!
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A família como instituição de controle e disparador do comportamento suicida
O suicídio pode ser conceituado como uma morte resultante de um ato voluntário da vítima para si. Emile Durkheim faz desse fenômeno seu objeto de estudo em sua renomada obra “O Suicídio” (2000), livro que serve de base para esse ensaio acadêmico, e chega a conclusão de que, apesar de aparentar ser um ato privado, as causas do suicídio podem ser encontradas em fatores sociais.
Ao estudar as relações entre indivíduo e sociedade, Durkheim percebe que deve existir certo equilíbrio nas relações entre ambos. Quando os limites são atendidos, ou seja, quando o indivíduo possui um nível de integração com os seus grupos, essa relação se torna benéfica a ele, servindo até como um potencial controlador do comportamento suicida. Mas quando seus níveis de integração social saem do eixo, se tornando muito altos ou muito baixos, essa relação leva para o aumento de taxas de suicídios.
Para ele, toda sociedade oferece em seus elementos constituintes um contingente de suicídios que não age isoladamente, mas sobre grupos sociais. Porém, aquilo que oferece imunidade aos indivíduos, também pode servir de disparador do comportamento suicida, isso dependerá das relações indivíduo-sociedade e dos diferentes contextos sociais nos quais essas mortes voluntárias emergem.
Fonte: encurtador.com.br/dguQ0
Observando que a instituição familiar é uma das maiores e mais importantes constituintes da estrutura social, e levando em consideração a alta imunidade dos casados em relação ao suicídio em comparação aos solteiros, esse ensaio acadêmico propõe um enfoque na família e seus níveis de influência sobre o indivíduo enquanto desempenha o papel de instituição de controle do comportamento suicida, e também considerando as situações na qual ela faz o caminho inverso, sendo produtora do fenômeno.
Faz parte do senso comum a ideia de que pessoas casadas vivem uma vida mais difícil que as pessoas solteiras, pois um grande número de responsabilidades e privações que acompanham o casamento e a vida familiar atinge somente os primeiros e não os segundos. Seguindo essa lógica, a vida conjugal e familiar deveria favorecer a disposição do indivíduo.
No entanto, Durkheim desfaz esse ponto de vista em sua obra O Suicídio, através de uma detalhada comparação entre as taxas de suicídios de pessoas solteiras e casadas. Por meio dos dados expostos, torna-se claro que os casados não só se matam menos que os solteiros como obtém uma grande vantagem em relação a estes, ou seja, o matrimônio diminui consideravelmente o perigo de suicídio. E é esse curioso dado que irá direcionar o seguinte ensaio acadêmico. Além de discutir as causas dessa imunidade obtida pelos indivíduos casados, queremos saber em que situações ela também se faz perder dentro da vida conjugal e familiar.
Uma observação mais profunda da conjugalidade nos leva a perceber que existem dois diferentes elementos que compõem o meio doméstico: o cônjuge e os filhos. Conforme Durkheim (2000, p. 224-225): “Uma deriva de um contrato e de afinidades eletivas, a outra de um fenômeno natural, a consaguinidade”. Vendo que ambas têm diferentes naturezas, pode-se afirmar que elas também podem produzir diferentes efeitos e, por esta razão, Durkheim separa dois grupos: os casais com filhos e os casais sem filhos. Esse ato foi realizado justamente para medir a influência do casamento sobre o suicídio e descobrir de onde surge a imunidade observada no primeiro dado apresentado: se a pequena disposição ao suicídio é resultado apenas da relação conjugal, ou se ela está ligada a algum outro fator que a vida doméstica traz consigo.
Fonte: encurtador.com.br/jsuBG
Antes de expor as informações obtidas com a análise, é necessário explicar o significado da expressão coeficiente de preservação que irá aparecer com frequência no decorrer desse ensaio. Trata-se de um termo que indica quantas vezes um determinado grupo se mata menos que outro. Ou seja, quanto maior for o número do coeficiente, maior é a vantagem do grupo, pois seu número de suicídios em relação ao outro é muito menor.
A análise confirmou que o coeficiente de preservação dos homens casados sem filhos era maior do que os solteiros da mesma idade, porém o coeficiente chegava a dobrar quando se tratava dos homens casados com filhos. Outra informação importante obtida é a de que os homens viúvos com filhos apresentam uma imunidade maior ao suicídio que os homens casados sem filhos. É claro que a tendência ao suicídio aumenta após a morte do cônjuge, pois, independente da intensidade, instala-se uma crise no sujeito. Mas quando a morte do cônjuge não tem fortes repercussões nesses números, como notou na pesquisa, é correto afirmar que o matrimônio em si, apesar de ter uma influência positiva sobre os homens casados, não é quem contém a tendência ao suicídio.
Mas é no sexo feminino que a pouca eficácia do casamento se torna evidente quando não há a presença dos filhos. Na França, as mulheres casadas sem filhos se matam mais que a metade das mulheres solteiras de mesma idade. A mulher é, na maioria das culturas, desprivilegiada no casamento e o matrimônio pode até agravar sua tendência ao suicídio, mas é um fato que será discutido posteriormente. O que nos interessa agora é que os casamentos com presença de filhos amenizam esse mau efeito do casamento para as mulheres.
Fonte: encurtador.com.br/dfk37
Percebe-se então que a imunidade dos indivíduos casados em relação aos solteiros se deve não à sociedade conjugal e sim à sociedade familiar, pois a presença de filhos no casamento aumenta o coeficiente de preservação consideravelmente. No entanto, vale lembrar que o matrimônio também tem sua influência sobre a imunidade dos indivíduos casados, porém ela é muito restrita ao sexo, mostrando-se mais influente no sexo masculino, já que as mulheres sofrem um agravamento nas taxas de suicídio quando não têm filhos.
Os cônjuges detêm desse privilégio não por desempenharem o papel de marido e mulher, e sim de pais e mães. Por isso a morte de um cônjuge aumenta a tendência do outro ao suicídio, pois a ausência de um resulta numa crise no meio familiar que se torna difícil adaptação. Ou seja, a sociedade doméstica é um potente preservativo contra o suicídio. E essa preservação é mais completa quanto mais densa é a família, e quando se fala de densidade não se refere somente ao grande número de filhos, mas também da participação regular deles na vida familiar. Esse fato contradiz completamente com o que foi dito inicialmente, pois a propensão ao suicídio diminui à medida que estes encargos na vida doméstica aumentam.
Uma família fortemente integrada possui uma energia particular difícil de dissipar, pois todas as consciências individuais que compõem a família experimentam os sentimentos coletivos, sentimentos esses que repercutem um sobre os outros. É por essa razão que a intensidade dessa energia torna-se mais forte quando número de consciências que estão compartilhando e reforçando os sentimentos, lembranças, experiências, tradições dentro desse grupo.
Fonte: encurtador.com.br/rzKRW
Essa imunidade relacionada a uma forte integração que compreende a sociedade doméstica não é exclusiva dela, mas também compreende outros grupos sociais como a religião e a política. O indivíduo fortemente integrado, seja na família ou em outras esferas, está menos propenso ao suicídio, pois uma sociedade fortemente integrada mantém os indivíduos sob sua dependência. Ou seja, quando o indivíduo está engajado e a serviço de tais grupos sociais, o “eu” pessoal não está acima do “eu” coletivo, portanto não colocam os seus fins acima dos fins comuns. É isso o que justifica a pequena tendência dos casados com filhos ao suicídio. A sociedade familiar tem poder sobre o indivíduo e não os permite dispor de seus interesses privados, pois a morte interrompe os deverem que esse indivíduo tem com ela.
Numa sociedade coerente e viva, há entre todos e cada um entre cada um e entre cada um e todos uma troca contínua de ideias e de sentimentos e como que uma assistência moral mútua, que faz com que o indivíduo, em vez de ficar reduzido as suas próprias forças, participe da energia coletiva e nela venha recompor a sua quando esta chega ao fim (DURKHEIM, 2000, p. 259).
Para que a vida seja suportável, o indivíduo precisa se ligar a algo, ele deve possuir alguma razão que lhe prenda a vida e veja valor nela. O homem não é capaz de viver por si só, pois a essência da vida é muito frustrante. O ser humano é limitado no espaço e tempo e não importa todos os nossos esforços em vida, no fim nada irá nos restar. Portanto, se não tivermos um objetivo fora de nós, resta ao homem somente si mesmo, o que não é suficiente para camuflar toda essa angústia e o apavoro que dessa inevitável anulação, e assim, o homem fica sem forças para agir.
Existem funções que só interessam ao indivíduo: as funções orgânicas; e as realizando, o homem se torna capaz de bastar a si mesmo. É o que ocorre durante a infância e velhice. Mas ao entrar na vida adulta e na civilização que a compõe, uma infinidade de necessidades que não dizem respeito a manutenção da vida física o inundam. Essas necessidades, sentimentos e ideias implantadas em nós (religião, moral, ética, política, etc), foram criadas pela própria sociedade e são a ela que se referem. Ou melhor, Durkheim diz que “são a própria sociedade encarnada e individualizada em cada um de nós” (2000, p. 263). E é por isso que para termos apego a vida, é necessário termos apego à sociedade.
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À medida que os grupos sociais se desintegram ou perdem força sobre o indivíduo, ele se vê inclinado ao suicídio, pois o homem é físico e social. Quando o segundo se enfraquece, tudo o que há de social em nós também se perde. Se a única vida que o homem coletivo conhece se perdeu, e a única fundada no real (orgânica) não responde mais as nossas expectativas, o homem não encontra mais razões para viver. O tipo de suicídio que resulta dessa desintegração, onde o eu individual é preponderante ao eu social, é chamado de suicídio egoísta, justamente porque há uma individualização desmedida onde o sujeito não se vê mais dependente do social e estando dependente apenas de si mesmo, as regras de conduta que valem para ele são apenas aquelas que o interessam.
É parte da nossa constituição moral, dentro da sociedade na qual estamos inseridos, um objetivo que nos ultrapasse e determine o valor da existência. A família é uma das principais instituições que realizam esse papel com êxito, tornando-se uma instituição de controle do comportamento suicida. No entanto, em algumas situações, ela pode se tornar a disparadora desse comportamento.
Nos casamentos precoces (dos 15 aos 20 anos) há um enorme agravamento no coeficiente de preservação do número de suicídio, principalmente nos homens que, na França, chegam a se matar 473% que as mulheres. O número de suicídios começa a cair após os 20 anos, onde tanto os homens quanto as mulheres se beneficiam de um coeficiente de preservação, que cresce até os 40 anos, com relação aos solteiros. Pode-se perceber que o matrimônio serve como um disparador do comportamento suicida quando ele ocorre muito cedo, sendo muito mais prejudicial aos homens do que as mulheres.
Em outros casos, ou melhor, na maioria deles, a mulher é o sexo prejudicado no casamento. Ao comparar a participação de cada sexo nos suicídios das dois estados civis (solteiros e casados), percebeu-se que a imunidade entre os sexos é desigual: as mulheres casadas se matam mais na categoria de suicídio dos casados do que as mulheres solteiras na categoria de suicídios de solteiros. Isso não significa que a mulher casada está mais exposta ao suicídio que a solteira, e sim que a mulher se beneficia muito menos com o casamento do que o homem. Também como já foi apontado nessa discussão, a sociedade conjugal é prejudicial para a mulher quando há a ausência de filhos enquanto o homem, mesmo sem filhos, possui um coeficiente de preservação considerável. Ou seja, a vida familiar é a responsável pela minimização dos efeitos do matrimônio para a mulher.
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Quando se fala em divórcios, sabe-se que os indivíduos não só se matam consideravelmente mais do que os casados, como também mais que os viúvos. Trata-se de um dado curioso, pois geralmente o divórcio é algo desejado. Ao analisar esses números, Durkheim percebe que o coeficiente de preservação das mulheres casadas aumentam à medida que os divórcios são mais frequentes. Já nas sociedades em que o divórcio é pouco praticado, as mulheres tendem a ser menos preservadas que o seu marido. O inverso acontece com o homem, ele é menos preservado à medida que o número de divórcios crescem.
Essas novas informações se relacionam com a já exposta: o casamento é benéfico ao homem, tão benéfico que quando ele o perde, sua propensão ao suicídio aumenta; enquanto a situação da mulher melhora à medida que o suicídio é praticado. Assim, entende-se que, o sexo masculino é o responsável por essa alta taxa de suicídio dos divorciados. Essa não é uma verdade absoluta em todas as sociedades, mas é uma realidade que se repete em muitas delas. Esses efeitos tão opostos do casamento sobre o sexo se dá porque seus interesses dentro desse regime são antagônicos.
A sociedade moderna é marcada por uma desorganização; há um estado de falta de objetivos e regras que se faz perder a identidade. Esse fenômeno é entendido por anomia. Para controlar os efeitos negativos da anomia na sociedade, instituiu-se diversas medidas que pudessem amenizá-las e conter os indivíduos, pois a ausência de limites gera uma perseguição interminável que nunca será satisfeita, consequentemente levando ao caos e muitas vezes ao suicídio. O casamento, principalmente o monogâmico, é uma das instituições que possuem essa função. Ele regula a vida passional do indivíduo, obrigando-o a se ligar a uma única pessoa e fechar seu horizonte. E como diz Durkheim (2000, p. 346), é disso que o homem tira vantagem:
É essa determinação que constitui o estado de equilíbrio moral de que o homem casado se beneficia. Por não poder, sem faltar seu dever, buscar outras satisfações além das que lhe são assim permitidas, ele limita a elas seus desejos. A disciplina salutar à qual é submetido faz com que deva encontrar felicidade em sua condição e, por isso mesmo, fornece-lhe os meios para isso.
O homem por culturalmente possuir uma liberdade maior, precisa ser regulado, pois definindo os seus prazeres, o homem irá garanti-los estabelecendo o equilíbrio mental que ele necessita. O que não acontece na vida do homem solteiro, onde a anomia assume um caráter sexual. Por não ter um regime que o regule, a vida de solteiro é repleta de frustrações porque, por não ter limites, o homem quer tudo e por isso, nada o satisfaz. “Quando não somos detidos por nada, não podemos deter a nós mesmos” (2000, p. 346).
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E da mesma maneira que o homem não se dá definitivamente a ninguém, nada a ele pertence também, condenando-o a um futuro instável e incerto. Disso resulta um estado de perturbação e insatisfação que aumenta as probabilidades de suicídio. E é isso o que ocorre no divórcio. A regulamentação estabelecida no casamento se enfraquece e os limites que eram colocados aos seus desejos já não são tão rígidos, podendo facilmente se deslocarem. A estabilidade e tranquilidade que o homem casado experenciava dá espaço para uma inquietude por não conseguir se ater ao que tem.
Contudo, enquanto o homem possui uma intensa liberdade que deve ser contida para o seu próprio bem, a mulher precisa de liberdade. A mulher sempre esteve presa a moldes sociais que até hoje influenciam muito na nossa cultura, mesmo que aos poucos sejam quebrados pelo movimento feminista. As necessidades sexuais da mulher têm um caráter menos mental em comparação aos homens, pois não se permitia que isso se desenvolvesse nelas. Portanto, a mulher não precisa de um meio de regulamentação como o casamento, pois ela já o faz há muitos séculos por imposições sociais.
Não só a mulher sofre com essa limitação de horizontes trazida pelo matrimônio, o homem também se vê numa condição complicada. Mas enquanto o segundo ainda é capaz de obter privilégios com o rigor desse regime, a primeira só sai perdendo. Além do casamento não ser útil para conter seus desejos que já são naturalmente limitados pela sociedade machista, o casamento tira dela a esperança de um futuro diferente e que realmente almeja, pois historicamente as mulheres sempre estiveram mais inclinadas ao casamento, como uma obrigação. Por essa razão o matrimônio é muitas vezes intolerável para a mulher, pois é um encargo muito pesado e sem vantagem; e assim, qualquer coisa, como a presença de filhos, vem a suavizar essa desvantagem que explica sua propensão maior a suicídio quando a única coisa que ela tem é o casamento.
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Em determinado momento da vida, o homem também é afetado da mesma maneira que a mulher pelo casamento, mesmo que por outras razões. Isso ocorre com os homens jovens, e é por isso que o número de suicídio de homens casados entre 15 a 20 anos é tão alto como dito anteriormente. Eles não são capazes de se submeter aos limites impostos pelo casamento, pois suas paixões são muito intensas e ele não as consegue controlar. Os efeitos positivos do casamento só se vem sentir mais tarde, quando a idade tranquiliza o homem e a disciplina passa a se fazer necessária. Mas mesmo com esse contraponto, é ao homem que a instituição do casamento favorece, pois ele que necessita de coerção, tem o que precisa; e ela que precisa de liberdade, se vê mais presa.
A liberdade à qual o homem renunciou só podia ser para ele uma fonte de tormentos. A mulher não tinha as mesmas razões para abandoná-la e, sob esse aspecto, podemos dizer que, submetendo-se à mesma regra, foi ela que fez o sacrifício (DURKHEIM, 2000, p. 353).
De modo geral, é assim que o matrimônio pode se tornar um disparador do comportamento suicida para a mulher, enquanto serve como uma instituição de controle para o homem. Por essa razão, o divórcio a protege a mulher do suicídio que recorre mais facilmente a ele, enquanto inclina homens à morte voluntária.
Considerações Finais
A imunidade que os indivíduos casados desfrutam em relação aos solteiros se deve, em sua maior parte, não ao matrimônio e sim à vida doméstica que surge dela. Os coeficientes de preservação aumentam consideravelmente quando há a presença de filhos no casamento e a imunidade se torna maior quanto mais densa for a família. Uma família fortemente integrada, onde as consciências individuais que a compõem estão reforçando seus laços, serve como uma instituição de controle do comportamento suicida. E quanto mais membros ativos existirem na vida doméstica para alimentar essa energia particular, mais benéfica essa instituição se torna. Quando há um elevado, mas ainda estável, nível de comprometimento dentro do seio familiar, eliminar a própria vida não se torna uma opção porque o “eu” social é mais forte que o “eu” individual, tamanha é a importância que a família tem para esse sujeito.
Entretanto, o suicídio varia inversamente a integração desse ser dentro nos grupos. Assim, quando a instituição familiar se desintegra e/ou perde sua força, o indivíduo se isola da vida social e os fins sociais não possuem mais importância que os fins próprios. Desta maneira, essa estrutura pode agir como disparador do comportamento suicida. Por si só, o casamento tem seus benefícios, contudo, ele só atende a um dos sexos, sendo o sexo masculino o beneficiado na maioria das vezes. É correto afirmar que o ser humano precisa de algo que o regule em todas as esferas, e no âmbito afetivo quem faz esse papel é o casamento.
O homem precisa do matrimônio, pois enquanto solteiro, seus desejos são ilimitados e insaciáveis e assim, as normas regem a sociedade não correspondem os seus objetivos de vida. Uma vez que o indivíduo não se identifica com essas normas sociais, o suicídio passa a ser uma alternativa. Por isso, ao limitar seus horizontes, o homem passa a ter apenas um objeto de desejo, e ao limitar a esse objeto seus desejos e ele proporciona a si meios de satisfazê-los. Por essa razão o casamento, ao fazer essa regulação social, serve como um dispositivo de controle.
Fonte: encurtador.com.br/bdFHL
Enquanto isso, o casamento atua como um disparador do comportamento suicida às mulheres. Ao contrário dos homens, por toda a história, a elas foi imposto que deveriam regular seus desejos, e assim elas os fazem naturalmente, sem a necessidade de uma instituição com esse papel. Por isso, quando elas se casam, a liberdade da qual elas necessitavam e da qual os homens sempre desfrutaram, se perde. Se vendo ainda mais presa e sem esperanças de um futuro que atenda suas necessidades, a mulher se torna mais propensa ao suicídio.
Diante dessas informações, podemos pintar um cenário desvantajoso para as famílias contemporâneas quando falamos sobre suicídio. À medida que os anos passam, o número de filhos por casal diminuem, filhos esses que saem da casa dos pais com muito mais facilidade; pais superocupados com uma rotina repleta de afazeres e obrigações e que, por consequência, não dão a devida atenção para o cenário familiar e filhos desamparados dentro de seus próprios lares. Tudo é mais “eu” e menos “nós”. Todos esses fatores que moldam a família pós-moderna, favorecem a sua desintegração e a fraqueza dos laços internos que, como pudemos ver nesse ensaio, favorece a propensão ao suicídio.
Já para as mulheres, o cenário é vantajoso. A grande força que o movimento feminista ganhou nas últimas décadas garantiu às mulheres um espaço muito maior do que elas detinham e uma liberdade até então nunca experienciada. Tendo em vista que é isso o que a mulher necessita, talvez a sua perspectiva do casamento se altere com o passar dos anos, e a realidade apresentada aqui mude.
REFERÊNCIAS:
DURKHEIM, Émile.O Suicídio:Estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda., 2000. 513 p. Tradução de: Monica Stahel.
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Civilização Brasileira lança nova edição de “O aberto”, do filósofo italiano Giorgio Agamben
Um dos principais livros de um dos grandes filósofos da atualidade, “O aberto” volta às livrarias em maio, em edição revista e com nova capa, pela Civilização Brasileira. Na obra, Giorgio Agamben examina as distinções feitas entre homem e animal em diferentes correntes do pensamento ocidental. Para isso, ele parte de textos de várias épocas: de antigos gregos, cristãos e judaicos até pensadores do século XX como Martin Heidegger e Walter Benjamin.
Referência para estudantes de diferentes áreas do saber, do direito à filosofia, passando por sociologia e psicologia, Agamben também usa essa interdisciplinaridade em suas investigações em “O aberto”. O autor analisa as implicações que a distinção entre homem e animal tiveram em disciplinas díspares, como filosofia, antropologia, medicina e política.
A nova edição de “O aberto” é parte do projeto de atualização da coleção “Sujeito e história”, organizada por Joel Birman, que estabelece um diálogo entre a psicanálise e as demais ciências humanas. A Civilização Brasileira já lançou, desde 2015, novas versões de “Manifesto pela psicanálise”, de Erik Porge, Franck Chaumon, Guy Lérès, Michel Plon, Pierre Bruno e Sophie Aouill; “Problemas de gênero”, de Judith Butler; além de “Gramáticas do erotismo” e “Arquivos do mal-estar e da resistência”, do próprio Birman.
Giorgio Agamben nasceu em Roma, em 1942. É um dos principais filósofos da atualidade. É autor de extensa obra, com interseções entre literatura, poesia, ontologia e filosofia política.
O ABERTO – O HOMEM E O ANIMAL (L’aperto – L’uomo e l’animale) GIORGIO AGAMBEN Páginas: 160 Preço: R$ 39,90 Tradução: Pedro Barbosa Mendes Editora: Civilização Brasileira | Grupo Editorial Record
Nota: Relato de Experiência elaborado como parte das atividades da disciplina de Antropologia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, sob supervisão do prof. Sonielson Sousa.
Recente Psicologia em Debate discorreu sobre Sexualidade trans e identidade de gênero, a partir de pesquisa realizada pela acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra Fernanda Bonfim. O transgênero é o indivíduo que não se identifica com seu sexo biológico. A identidade seria, neste caso, de como essa pessoa se vê, se sente, se percebe e é percebida.
Os transgêneros podem ser homossexuais ou heterossexuais. São considerados homossexuais quando se relacionam com o mesmo gênero de sua escolha de identidade (quando uma pessoa é biologicamente mulher, mas sua identidade de gênero é homem e este se relaciona com um homem). E são transgêneros heterossexuais quando se relacionam com o sexo oposto a sua identidade de escolha (quando uma pessoa biologicamente é mulher, com identidade de gênero sendo de homem e se relaciona com uma mulher). É possível observar a manifestação da transgeneridade bem cedo na vida de um sujeito, através das escolhas que essa pessoa faz por suas roupas, seus interesses e desejos por temas e objetos que seriam “comuns” ao sexo biológico oposto ao seu.
Fonte: http://zip.net/bbtKMx
A cirurgia para adaptar o corpo é realizada depois que um diagnóstico é fechado por vários profissionais, que incluem psiquiatras, psicólogos, entre outros. No Brasil, o Sistema Único de Saúde, pela portaria Nº 457, autoriza que a partir dos 18 anos de idade a pessoa pode dar início ao tratamento para adequação de sexo, que dura dois anos, até que o diagnóstico seja concluído. Porém a cirurgia só pode ser realizada a partir dos 21 anos de idade (BRASIL, 2008). Até o ano de 1985 a homossexualidade era considerada um transtorno mental pelo Conselho Federal de Medicina, e no final dos anos 80 vários organizações iniciam um amplo processo de despatologização desta orientação, que passa a ser considerada dentro da diversidade humana.
Sampaio e Coelho (2013) ao citar Harper e Scneider (2003), afirmam ser este grupo marginalizado pela discriminação, violência sofrida principalmente em seu convívio familiar e social em algum momento, geralmente na adolescência, ao qual a pessoa se encontra em maior fragilidade, o que pode dificultar o acesso a educação, melhores vagas de emprego e moradia. A estimativa de vida para os transsexuais é de no máximo 35 anos de idade, pelas violências acometidas a eles, sendo que 20% dos crimes são cometidos contra jovens com menos de 18 anos. Somente 10% dos crimes viram processo e 31% das vítimas são alvejadas com arma de fogo.
Fonte: http://zip.net/bqtLSC
Algumas ponderações podem ser observadas a partir da palestra, sobretudo ao ter feito a analogia de “ser cristão e por isso preconceituoso”, “gays perseguidos por pessoas cristãs”. Como se, no fritar dos ovos, a culpa fosse de Cristo. Das duas uma, ou há ensinos errôneos sobre o que o Evangelho realmente ensina sobre ser cristão, ou ouvintes relapsos que dão sua própria interpretação. E, ainda, a soma dessas duas ações que criam generalizações de fontes interpretativas erradas. Se Jesus Cristo fosse preconceituoso, ele não teria estado no meio de todos os tipos de sujeitos – os marginalizados da época.
Em nenhum momento Jesus desprezou, julgou, condenou ou incitou algum tipo de violência a quem quer que seja. Aliás, Ele acolhia, recebia e era recebido por pessoas que também eram desprezadas ou criticadas. Jesus confrontou “os seus”, os escribas e fariseus, como diz o texto em Jo1:11, “Veio para o que era seu e os seus não o receberam.” Se Jesus se apresentasse na contemporaneidade, é com estas pessoas que ele estaria.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cirurgias de Mudança de Sexo são Realizadas pelo SUS desde 2008.Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/03/cirurgias-de-mudanca-de-sexo-sao-realizadas-pelo-sus-desde-2008>. Acesso em: 05 jun. 2017.
SAMPAIO, Liliana Lopes Pedral; COELHO, Maria AThereza Ávila Dantas. A TRANSEXUALIDADE NA ATUALIDADE: DISCURSO CIENTÍFICO, POLÍTICO E HISTÓRIAS DE VIDA. Ufba,Bahia, v. 1, n. 1, p.1-12, 13 jun. 2013.