O impacto da audição na qualidade de vida

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Em 3 de março, é celebrado o Dia Mundial da Audição. O que deveria ser apenas um ato de conscientização, tem se tornado um importante alerta para a humanidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 466 milhões de pessoas sofrem de perda auditiva no mundo. A entidade afirmou ainda que, até 2050, o número pode aumentar para 900 milhões.

As razões mais comuns vão desde problemas genéticos a alta exposição aos ruídos, como também uso de medicamentos ototóxicos que possuem excesso de antibióticos e diuréticos, além de infecção por vírus e bactérias.

No entanto, os maiores vilões da audição podem estar em nossas mochilas, bolsas, pendurados em nossas orelhas ou em cima de nossas mesas: os fones de ouvido e aparelhos com som muito alto. Sabemos que há músicas que despertam diferentes sentimentos, alguns nos relembram paixões, outras ajudam a lidar com frustrações ou nos animam diante de desafios. Então, a pessoa se empolga e coloca o som lá nas alturas. O resultado é a perda de audição de maneira gradual.

Os primeiros sinais da doença aparecem quando a pessoa começa a solicitar repetições da fala, quando ela mesma começa a falar mais alto, esquece o que foi dito, irrita-se com alguns tipos de sons e, em alguns casos, passa a ouvir um zumbido frequente.

Fonte: encurtador.com.br/cktOT

Outro detalhe importante que pode ajudar é a identificação precoce, o que evita danos maiores. Vale lembrar que quem processa qualquer tipo de som é o nosso cérebro. Portanto, quando aumenta o tempo de privação de som, ele perde habilidades importantes de compreensão de fala, sendo mais difícil o tratamento. Além do mais, o adiamento do uso do aparelho auditivo pode ocasionar no maior agravamento da doença. Nesses casos de tratamento tardio, a tecnologia pode não ser suficiente.

Aqueles que estão mais expostos aos ruídos, no trabalho ou no trânsito, por exemplo, possuem riscos grandes de perder a audição ou parte dela. Caso esteja associada à genética, o risco é ainda maior. Para esses casos, o indicado é o uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) para auxiliar e prevenir. Eles são capazes de diminuir o impacto de sons altos dentro do sistema auditivo.

No geral, o necessário é diminuir a exposição ao ruído e melhorar a alimentação. Hábitos saudáveis não auxiliam só a emagrecer, mas influenciam também em nosso corpo como um todo. Por exemplo, estudos mostram que a ingestão de zinco e magnésio podem colaborar com a prevenção para perda induzida pelo ruído. 

Outra sugestão é promover realmente um descanso auditivo.  Tente diminuir a exposição ao ruído. Caso o seu dia a dia o force a estar em lugares barulhentos, no seu momento de folga, diminua o volume do som. Ouça mais músicas de relaxamento.

Vale ressaltar que quando nossa capacidade auditiva diminui, sentimos a perda de algo importante em nossas vidas. Isso nos impede de nos comunicar e trocar experiências com outros. Há pacientes que se isolam, sofrem com pensamentos de autoestima baixa e podem enfrentar quadros de depressão. Fica claro que ouvir bem é um fator impactante na qualidade de vida, que deve ser escolha número um no ranking de prioridades de qualquer um.

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Sem medo de usar aparelho auditivo

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Antigamente, os aparelhos auditivos eram grandes e até incômodos. Mas muita coisa mudou com o avanço da tecnologia. Apesar disso, há ainda quem sente vergonha de usar ou acredita que só servem para idosos. Infelizmente, esse pensamento tira das pessoas o prazer de voltar a ouvir bem.

Atualmente, os aparelhos estão bem menores, mais discretos, com conectividade direta e processadores de sons confortáveis que facilitam o processo de adaptação. O setor se aperfeiçoou tanto que os aparelhos auditivos são chamados agora de tecnologia auditiva por conta de toda a sofisticação que engloba o sistema.

Há quem se admire com tanta evolução do mercado, como os equipamentos com Bluetooth, um sistema extremamente inteligente que capta, classifica e categoriza os sons, devolvendo ao paciente mais conforto. Além disso, há aplicativos que facilitam a adaptação conforme o ambiente e alguns até já se conectam na internet.

A não utilização de baterias convencionais ou pilhas trouxe mais comodidade e menos peso. Hoje, o carregamento é via lítio, deixando os aparelhos bem mais leves e com fácil manuseio. Antes, eles cobriam grande parte da orelha e eram bastante perceptíveis aos outros. Agora, usa-se olivas, que é tipo uma borrachinha descartável mais confortável, inclusive. Por conta do tamanho melhor, é mais fácil de colocar dentro da orelha, tornando-o quase imperceptível. 

Fonte: encurtador.com.br/eDFW8

Há diferenças entre os aparelhos. Variam de acordo com o grau e o tipo de perda auditiva, coordenação motora e até preferências. É possível escolher se quer o aparelho dentro ou fora da orelha e se deseja com tecnologia simples ou mais avançada. Lembrando que quanto maior a tecnologia, melhor será o processamento do som.

Vale ressaltar que quando a pessoa perde sua capacidade auditiva é prejudicada de diversas formas. Não consegue acompanhar as conversas de amigos e parentes. Alguns correm risco de acidente na rua, por não escutar os sinais de alerta das pessoas ou das buzinas dos carros. Há ainda aqueles que começam a ter quedas mais frequentes. É preciso deixar de lado medo e até preconceito.

Por exemplo, um paciente disse que quando ia à praia, o som do mar parecia como um chuveiro ligado ou uma descarga intermitente. Quando foi para a mesma praia com o aparelho, ele conseguiu ouvir de verdade o som do mar. Esse caso nos mostra que voltar a ouvir bem é ter mais qualidade de vida e ter de volta o prazer de compreender e sentir o mundo a sua volta.

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Perda auditiva prejudica o cérebro e pode causar demência

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A perda de audição dificulta a vida das pessoas. Além da baixa capacidade de prestar atenção no que outros estão dizendo, a falta de estímulo no cérebro pode ocasionar outros problemas, como ansiedade, depressão e até mesmo provocar demência, é o que alerta a fonoaudióloga e Audiologista Cintia Fadini.

A especialista explica que a dificuldade de ouvir bem gera diversos problemas físicos, como, por exemplo, acidentes de trânsito e quedas frequentes. “Isso acontece por não conseguir perceber o som das buzinas dos automóveis e até os alertas das pessoas na rua”.

Além disso, a perda auditiva pode provocar danos psicológicos. Ela diz que muitos ficam frustrados e com vontade de se isolar por não conseguir se comunicar com os outros. “Esse receio de sair de casa faz com que a pessoa se afaste de amigos e parentes, o que gera um quadro de ansiedade e depressão”.  

Dra. Cintia comenta também que, além dessas sequelas, a falta de estímulos em áreas específicas do cérebro pode levar a chance de adquirir algo mais grave: a demência: “É a lei da natureza: se eu não uso, eu acabo perdendo. Esse risco é maior ainda após os 30 anos de vida”.

Fonte: encurtador.com.br/crxST

– Um dia sem ouvir já é suficiente para acabar desencadeando dificuldades em atenção e memória, por exemplo – adverte.  

Fadini ressalta que o cérebro precisa ser estimulado frequentemente para que ele não perca funções cognitivas. Segundo ela, a via auditiva tem a capacidade de mantê-lo ativo constantemente.

– Oferecemos ao cérebro estímulos auditivos quando conversamos e interagimos com alguém. É como se estivéssemos exercitando-o, assim como um músculo, quando falamos e ouvimos – reforça.

Sintomas

Segundo a fonoaudióloga, geralmente, os sintomas começam com leves dificuldades de entender quando uma conversa acontece em um nível mais baixo ou quando a pessoa se incomoda com ruídos e ouve zumbidos leves. A níveis moderados, o som da televisão começa a incomodar e o pedido por repetições de fala são frequentes.  “O problema se torna mais severo e profundo quando se faz necessário gritar para entender uma fala e o zumbido se torna insuportável”.

– É importante acompanhar a saúde auditiva com exames de rotina e consultas ao fonoaudiólogo, além de oferecer ao cérebro estímulos auditivos, conversas e interações para manter o cérebro ativo. Caso se constate a perda auditiva, o indicado é iniciar imediatamente o processo de reabilitação – conclui. 

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Terapeuta da fala no universo do autismo infantil

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Nota: O (En)Cena manteve o texto em sua escrita orginal no português de Portugal.

“Trabalhar com pessoas “deficientes”, em especial com crianças, pode parecer deprimente para alguns e despertar sentimentos de pena em outros. No entanto, quando se sonha com um mundo melhor para elas, o que premeia o trabalho não são sentimentos de depressão ou pena, mas sim a certeza de que é possível construir algo maior e mais digno para essas pessoas.” (Blascovi – Assis, 1997, pp.14)

Sou Fonoaudióloga (Terapeuta da Fala é a designação em Portugal) há cinco anos e cada vez mais estou certa que escolhi a profissão que me completa, pois o prazer de, todos os dias, ir rumo a mais um dia de trabalho para poder ajudar e fazer por estas pessoas “diferentes” algo mais, não tem tamanho. A evolução é mínima, cada passo a dar é trabalhoso, mas nada nos enche mais a alma quando juntos conseguimos que esse passo seja dado.

Trabalho com crianças que são detentoras das mais diversas patologias, mas hoje vou apenas abordar uma delas, o autismo.

O Autismo é uma perturbação severa do desenvolvimento onde se encontram afectadas diversas áreas tais como a interacção e comunicação social, a linguagem, a cognição, o desenvolvimento sensório-motor. É também caracterizada por interesses, actividades e comportamentos estereotipados.

A minha intervenção se centra na área da Linguagem, Comunicação, Interacção Social e Cognição. Embora todas as minhas crianças tenham um pouco de cada uma das características citadas, mais do que autistas, elas são pessoas com personalidades diferentes, com gostos e interesses diferentes e é necessário, primeiro do que tudo, tentarmos chegar até elas, criar relação, para que nos deixem entrar no seu mundo. Depois dessa conquista de “confiança”, a intervenção se torna mais fácil.

Cerca de metade das minhas crianças não conseguiu, ainda, desenvolver a fala. O seu défice cognitivo é severo e, assim, a intervenção no que concerne à Linguagem e Comunicação é muito primária. Por exemplo, é trabalhado o contacto ocular, tão difícil para estas crianças, pois sentem o seu mundo invadido quando olham nos olhos (não se costuma dizer que os olhos são as janelas da alma?), a “noção de dar” quando lhes pedimos alguma coisa, o fazer pedidos e comunicar as suas necessidades básicas com gestos e também a autonomia na higiene, alimentação, no vestir e despir, para que consigam, cada vez mais, atingir uma maior funcionalidade e independência no seu dia-a-dia.

Embora uma grande percentagem das crianças autistas nunca consiga desenvolver a fala, outras nos surpreendem mesmo que seja muito tardiamente. Felizmente tive o prazer de partilhar desta grande alegria com um menino meu que, há uns meses atrás, começou a dizer as primeiras palavras. O Francisco (nome fictício) tem dez anos e, durante cinco anos, desde que estou com ele, sempre tentei ao máximo que ele desenvolvesse a fala e a frustração me invadia quando percebia que esse caminho era tão complicado. Cinco anos depois, oiço ele dizer as primeiras palavras e não há nada no Mundo que consiga superar tamanha alegria. O exemplo dele, como de tantos outros meninos que tenho, me ensinam que nunca se deve desistir porque nunca é tarde demais. Cada criança tem o seu ritmo e nós, profissionais, temos que ter a “paciência” de saber esperar com eles e por eles.

Nos casos em que há desenvolvimento da linguagem, normalmente esta é repetitiva, apresentando ecolalia (repetição de palavras ou frases que pode acontecer de forma imediata, em que repetem o que você fala ou de forma tardia quando repetem informações ouvidas anteriormente utilizando-as num contexto desadequado). O vocabulário é reduzido e, normalmente, muito vago e com erros de articulação. Crianças autistas têm dificuldades em compreender as regras do sistema linguístico e em utilizar a fala de forma funcional para comunicar e interagir com os outros. Têm, por exemplo, dificuldades em perceber e fazer perguntas, fazer pedidos, em entender a ironia, o que é abstracto.

Tratar a ecolalia é bastante difícil. Vou dar um exemplo de um dos meus meninos. O Afonso (nome fictício) começou a ser acompanhado por mim há quatro anos atrás e tudo o que ele fazia era repetir o que as pessoas diziam. Tinha uma ecolalia imediata muito severa. Tudo o que eu perguntava, falava com ele, automaticamente ele repetia. Ele desenvolveu a fala sim…mas uma fala sem qualquer funcionalidade. Ele não conseguia fazer pedidos, perguntas, manter um diálogo, uma conversa espontânea. Apenas sabia repetir. Começamos devagar, através de um caderninho de imagens que eu fiz para ele. Nesse caderno tinha imagens organizadas por áreas como, por exemplo, imagens do quotidiano dele, alimentação, imagens para fazer pedidos como pedir para ir ao wc, pedir para jogar computador etc. Inicialmente, apenas queria que ele aprendesse a dizer Sim/Não de forma espontânea quando lhe era feita uma pergunta. E, a partir daí, fui sempre aumentando o grau de dificuldade. O Afonso começou a utilizar as imagens para comunicar. Quando queria algo, pegava no caderno e mostrava para a pessoa apontando a imagem e dizendo o nome. Depois passamos para a construção de frases, também com imagens, e ele começou a conseguir produzir frases simples e, assim, sucessivamente. Aos poucos fui tirando essa “muleta” que era o caderno e hoje em dia o Afonso já consegue comunicar perfeitamente, manter uma conversa, sem repetir o que o outro diz. A ajuda dos nossos colegas de equipa, das famílias, dos professores, de todas as pessoas que fazem parte da vida da criança, é muito importante, pois esse trabalho, como todos os outros, tem que ser feito diariamente e em todos os contextos para que tenha sucesso.

Durante a Faculdade, ensinaram-me técnicas para trabalhar a Linguagem, Comunicação, Fala e Cognição com as crianças autistas. Ensinaram-me estratégias e a desenvolver actividades e jogos que as ajudem a ultrapassar as dificuldades que apresentam. Mas, na faculdade, ninguém me ensinou a relacionar-me com elas. Ninguém me ensinou a conseguir abrir uma janela que me deixasse entrar no mundo que elas tanto desejam deixar longe de todos. Ninguém me ensinou a lidar com a frustração quando não consigo que elas evoluam e a tentar descobrir novos caminhos para que o façam. E, não menos importante, ninguém me ensinou a sonhar com elas para juntos alcançarmos cada vez mais. Porque tudo isto não se ensina, sente-se…e sem isto tudo, as técnicas e estratégias são em vão.

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