A experiência de construir um memorial fotográfico

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Me chamo Sara Denise, tenho 24 anos, sou acadêmica de psicologia no CEULP/ULBRA e moro em Palmas-TO. Por meio dessa escrita venho apresentar a vocês a experiência que tive em produzir um memorial fotográfico, situação essa que me permitiu viajar no tempo e desfrutar de múltiplos sentimentos.

Recebi a proposta como intenção de me deixar sentir sobre o que a fotografia é capaz de expressar no íntimo do ser. A aposta foi válida pois na construção dessa experiência pude perceber o quanto as imagens em sua íntegra falam por si só. O propósito para iniciar essa construção foi se basear em três fases da vida: infância, adolescência e juventude (atual). Diante do contexto ao qual me foi pedido, decidi inserir na construção desse memorial a contextualização entre fotografia e psicologia, assim o nomeando.

Com as fotos pude contar um pouco de minha trajetória (aqui estão apenas um pequeno número delas). Podendo dizer/perceber o quanto minha infância foi ótima, era super arteira, pois sempre tinha tempo livre para brincar. Meus pais sempre me deixaram livre para aproveitar minha meninice, por ser filha única de minha mãe, ela sempre teve um cuidado abundante em relação a tudo que eu fazia, acabava que isso me aborrecia as vezes, entretanto, era uma criança equilibrada e feliz. Cresci com estímulo à leitura, oportunidade de vivenciar a escrita e rodeada por pessoas.

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

Da creche, escola e colegial sempre extrovertida, rodeada de amigos e resolvida. Enquanto criança, amava me emperiquitar, na adolescência queria sempre seguir tendência, mais em um quesito não pestanejava, a escolha da profissão, essa sim, comigo já estava.

O tempo passou… E por si só me mostrou que a vida é uma verdadeira caixinha de surpresas, onde confiança, respeito e reciprocidade não se consegue com todos.

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

(Por isso, optei pelas fotos sozinha).

Meus pais sempre priorizaram meus estudos e, por isso, de forma alguma impediram minha escolha na graduação. Depois de uma vida estudando em escola pública, em um primeiro momento devido às circunstâncias da época, cursei por um período a faculdade de Serviço Social, e entre na Psicologia pouco tempo depois, no CEULP/ULBRA, realizando assim, finalmente, esse sonho.

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

Aquisição de algumas responsabilidades e experiências inesperadas, me levaram a uma maior frequência de tomadas de decisão e quanto mais o tempo passava, mais introvertida eu ficava. Foi aí que comecei a me tornar celetista, e querer saber ainda mais sobre os processos mentais, enxergando de forma nítida a necessidade de as pessoas compreenderem a relação mente e corpo.

Ao entrar na faculdade, o processo de adaptação me fez sentir um pouco de dificuldade, a grade aberta não me permitiu criar o mesmo vínculo que eu tinha com os amigos da época de escola. O tempo se tornou mais corrido e com o passar dos anos pude perceber o grau de dificuldade aumentando.

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

Em 2016, após 4 anos e 10 meses entre namoro e noivado, casei. Meu esposo sempre tem me dado apoio moral para continuar o curso, sendo meus estudos uma das adequações que temos até hoje. Com o casamento as questões ministeriais na igreja aumentaram, existindo a necessidade de nos dedicarmos também nessa obra.

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

Além de filha única, estudante, esposa e cristã, tenho mais uma responsabilidade, a de gerir um comércio, eu e meu esposo trabalhamos em um ramo especifico, confesso não achar simples essas conciliações com a vida acadêmica, mas há 5 anos venho encarando as peculiaridades que cada área me demanda.

Em busca de não viver de forma tão monótona, procuro me reinventar às vezes: um novo hobby, um novo visual, cursos que ensinam novas habilidades, etc. Na corrida da vida, meu maior desejo tem sido tornar o sonho de ser psicóloga em realidade; por isso me esforço, muitas vezes reconhecendo chegar no meu limite, mas desistir, jamais!

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

Ao chegar a fase adulta, compreendi a importância de valorizar momentos. Férias se tornaram necessárias, diferente de quando era imatura e não dava o devido valor. Não vendo a hora de alcançar minhas férias depois da tão esperada conclusão de curso, com a fé de ter em mãos o aguardado diploma, que depois de tantas lutas, falta pouco para alcançá-lo.

O experimento da construção de um memorial com fotos teve grande significado para mim, aposto que se você arriscar fazer um, também sentirá. Pude notar o quão evidente foi meu processo de amadurecimento, e olha que falta muita evolução (risos). Contudo, não me restou dúvidas que a fotografia possibilita uma visão mais ampliada de uma interpretação por um viés psicológico, podendo ser terapêutica. A representação visual e a representação mental ocorrem juntas, permitindo partir de um objeto material (foto) para um objeto imaterial (mente).

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora
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Amanda Leite estreia Exposição Fotográfica Existências Mínimas

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Docente da UFT tem longa trajetória com criação de fotografias que mesclam realidade/ficção e desassossegam o olhar do espectador. 

No dia 14 de junho de 2019, às 19h, a profa. Dra. Amanda Leite, da UFT, irá inaugurar a Exposição Fotográfica Existências Mínimas na Galeria do Sesc/TO, em Palmas. A exposição estará aberta ao público até o dia 29 de julho e será possível também agendar visitas mediadas pelo e-mail ou pelo telefone: (63)3212-9922. A visitação é gratuita!

A exposição faz parte da pesquisa que Amanda desenvolve sobre “Fotografia contemporânea e Processo Criativo”. Além disso, é um processo decorrente de uma atividade integrante ministrada por Amanda no curso de Pedagogia da UFT, campus Palmas. Na mesma temática, Amanda também ministra disciplina no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade (PPGCom), denominada “Narrativas Contemporâneas: Fotografia e Comunicação”.

Fonte: Divulgação

Na pesquisa de pós-doutoramento de Amanda, realizada na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), abordou estes temas e produziu a série “Existências Mínimas”, que força o espectador a olhar para o seu próprio cotidiano por outras perspectivas e escalas, num jogo criativo que mescla realidade/ficção e desassossega o olhar do sujeito.

A exposição já esteve no mês de abril de 2018, na Galeria da Casa do Lago, na cidade de Campinas/SP e agora estará na Galeria do Sesc, em Palmas. Em setembro deste ano a exposição seguirá para a cidade de João Pessoa e ficará ao longo do mês em exibição na Galeria da Pinacoteca (UFPB).

Fonte: Divulgação

Mais sobre Dra. Amanda Leite

Amanda Leite é doutora e mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisadora e professora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade e no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins (UFT). É coordenadora do Coletivo 50 graus – Grupo de Pesquisa e Prática Fotográfica, colaboradora da Revista Fhox de fotografia, editora na Revista Observatório (UFT/Seção Visualidades). Tem vasta experiência em estudo de textos atuais e experimentação em laboratório de criação fotográfica. Em suas produções, envolve a participação de estudantes de diferentes níveis de ensino, convidados a explorar a fotografia muito além de suas bordas.

Acompanhe novidades no site da artista e também pelo instagram.

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Concurso Público Nacional já tem fotografias premiadas

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O Concurso Público Nacional de Fotografia – Prêmio Fotográfico: Palmas 30 Anos, já tem os vencedores. A comissão julgadora avaliou as fotografias inscritas no Concurso e selecionou as ganhadoras.

A comissão julgadora foi composta por 05 membros titulares, o professor universitário, membro organizador do Fotoinovar Tocantins, o arquiteto e urbanista Andherson Prado. A pesquisadora, professora de pós-graduação, coordenadora do Coletivo 50 graus – Grupo de Pesquisa e Prática Fotográfica na cidade de Palmas/TO, editora na Revista Observatório (Seção Visualidades/UFT), a fotógrafa e pós-doutora, Amanda Leite. O geógrafo, fotógrafo de natureza e contextos sociais que já teve suas fotografias divulgadas em revistas como National Geographic Brasil e em meios de comunicação como BBCBrasil, Clóvis Cruvinel. O professor, especialista em desenho, arquiteto e urbanista Eber Nunes Ferreira. A coordenadora do Portal (En)Cena e do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, a fotógrafa e doutora, Irenides Teixeira.

O presidente do CAU/TO, Silenio Camargo, avaliou positivamente a realização desse primeiro Concurso neste segmento. “Recebemos fotografias excelentes. Acredito que a comissão teve muito trabalho na hora da seleção devido a qualidade dos materiais enviados. É uma honra para o Conselho realizar esse primeiro concurso e, ver como temos profissionais atentos à beleza e a arquitetura da Cidade. São 30 anos que merecem esse olhar atento aos detalhes, e principalmente, valorizando cada espaço dessa belíssima Capital”, reforçou.

Fonte: encurtador.com.br/bejHO

Confira os premiados do Concurso Público Nacional de Fotografia – Prêmio Fotográfico: Palmas 30 Anos

Tema Arquitetura
1º Lugar: Rafael Silva Oliveira
Título: Memorial Coluna Prestes – Foto Interna
2º Lugar: Samia Caroline Cayres Lima
Título: Memorial Coluna Prestes – Foto Noturna
3º Lugar: Helen Lopes de Sousa
Título: Toda ponte precisa de pilastras

Tema Arquitetura Paisagística
1º Lugar: Nielcem Fernandes
Título: Espaço Cultural
2º Lugar: Rafael Silva Oliveira
Título: Memorial Coluna Prestes
3º Lugar: Gustavo Henrique Lima Ferreira
Título: O caminho

Tema Paisagem Urbana
1º Lugar: Nielcem Fernandes
Título: Palmas Capital
2º Lugar: José Djair Casado de Assis Júnior
Título: Dourado sobre a serra
3º Lugar: Nielcem Fernandes
Título: Parque Cesamar

O concurso é uma realização do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Tocantins (CAU/TO) e tem como objetivo homenagear a Cidade e sua arquitetura. Ao final do concurso, os vencedores terão as fotografias apresentadas na 1ª Mostra Fotográfica do CAU/TO, em comemoração aos 30 anos de fundação da capital do Tocantins, além de premiação em dinheiro. As fotografias premiadas se encontram no site do Concurso, no site do Conselho e nas redes socais.

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Sebastião Salgado – Da sombra do preto à luz do branco

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Sebastião Ribeiro Salgado Júnior, economista e fotojornalista, é conhecido e reconhecido por suas impactantes obras fotográficas, em preto e branco, que retratam de maneira ímpar e clara os diferentes temas que dão nome aos seus projetos pessoais e de trabalho, transformados em livros, como “Outras Américas” (1985) que retrata culturas camponesas e indígenas em diversas viagens de 1977 a 1984; “Trabalhadores” (1997) o qual tinha o objetivo de mostrar a veracidade dos trabalhos manuais quase extintos de 26 países aos quais viajou por 6 anos, de 1980 a 1986. Aqui tem-se como mais conhecido como os “formigas”, garimpeiros de ouro da Serra Pelada.

Serra Pelada / Livro: Trabalhadores – Foto: Sebastião Salgado

“Êxodos” (2016) onde testemunha a migração humana durante seis anos em 35 países, milhares e milhares daqueles povos morriam na busca de agarrar a vida e fugir da morte. Aqui, Sebastião afirma ter a certeza de que esses povos foram assassinados; e “Gênesis” (2013) em mais de 32 viagens pelo mundo realizou cliques da natureza em sua mais extrema pureza; entre outras obras.

Sebastião Salgado diante da sua obra “Gênesis” – Foto: Divulgação

Nascido em 1944, na cidade Aimorés, no interior do estado de Minas Gerais é filho único do sexo masculino, entre 7 irmãs. Estudou Economia na Universidade Federal do Espírito Santo (1964-1967), ao contrário do que seu pai queria, mas tal graduação o auxiliou no entender de mercado global, comércio e indústria, o que mais tarde fortaleceu seu trabalho de fotógrafo, desenvolveu sua personalidade aventureira e empática, e o levou a conhecer a África quando ainda trabalhava para a Organização Mundial do Café.

Casou-se no mesmo ano em que se formou na universidade com Lélia Deluiz Wanick, seu grande amor e parceira de vida. Depois de se engajarem no movimento esquerdista contra a ditadura militar, no ano de 1969 viram-se obrigados a emigrarem para Paris, França buscando asilo político. Lá sua esposa ingressou na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts para estudar arquitetura e ele iniciou um doutorado. Para um dos projetos da escola Lélia comprou uma câmera fotográfica, a qual quem realmente se apaixonou por ela foi seu esposo, Sebastião Salgado.

Na fotografia encontrou sua vocação. Decide arriscar e se jogar no caminho do fotojornalismo, em 1973, quando inicia seu trabalho como free-lancer. Nos anos seguintes trabalhou para várias agências da Europa, como a Gama em 1974; a Sygma de 1975 a 1979; Magnum Photos também em 1979 onde trabalhou por 6 anos onde realizou sequências de fotos documentais em diferentes viagens de trabalho que deram origem ao seu primeiro livro fotográfico conhecido como, supracitado, de “Outras Américas” (1985), com projeto gráfico de sua esposa, Lélia Salgado.

Engajado, no mesmo ano, produz sua obra conhecida como “Sahel: O Homem em Pânico” onde filiado a ONG Médicos sem Fronteiras cobriu a seca no Norte da África por 1 ano. Ali se via cada vez mais de perto a morte, relata que a maioria das mortes ocorriam á noite, por conta do frio. Pais limpando os filhos para serem enterrados era uma cena comum, como sentar e assistir ao jornal da televisão. Revoltava saber que o governo tinha a posse dos alimentos e água necessária, mas não autorizava a distribuição dos mesmos.

“Trabalhadores”, obra que reúne fotografias de 1980 a 1986, confirmou sua excepcionalidade como fotógrafo documental de qualidade ouro. Esta é dividida em pequenas histórias que formam seus capítulos contando, mostrando 350 fotos em preto e branco, a crueldade da pesca de atum na Sicília, o espetacular combate a incêndios nos poços de petróleo do Kwait, a obstinação dos garimpeiros de Serra Pelada, de analfabetos a doutores com o sonho de enriquecer, a colheita da cana de açúcar em Cuba e no Brasil, entre outros trabalhos manuais dos 26 países em questão.

Deserto em chamas, foto do livro Trabalhadores publicado em 1997.

Com foco nos excluídos e desfavorecidos, em “Êxodos” e “Retratos de Crianças do Êxodo”, Salgado dedicou-se por 6 anos (1993-1999) a capturar em suas lentes as histórias esmagadoras de fuga da guerra de diferentes povos, retrata os hutus de Ruanda escondidos em selvas remotas, os habitantes das favelas da sufocante (e que sufoca) São Paulo, além dos ocupantes dos barcos da África Subsaariana que tenteavam atravessar o Mar Mediterrâneo e chegar à Europa. Seu trabalho mostra uma sensibilidade e olhar humanista ímpar.

Conhecido como fotografo social, do povo. Sempre se dedicou a retratar o que acontece com as mais diferentes pessoas, tribos e comunidades ao redor do mundo. Aventureiro. Humanista. Sensível. Foi internacionalmente reconhecido e recebeu quase todos os prêmios de fotografia, por seus trabalhos que visam demonstrar e protestar contra a violação da dignidade humana que ocorre em meio as guerras, pobreza e outras injustiças.

Fotos: Sebastião Salgado

Em 1990 Sebastião Salgado e Lélia Wanick herdaram a fazenda dos pais de Salgado. Quando retornaram para o Brasil depararam-se com uma terra devastada e seca, devido aos longos anos de criação de gado e degradação ambiental natural, onde não mais haviam as grandiosas e belas árvores que se lembrava de sua infância. Assim sua esposa teve a fantástica ideia de recriar a floresta que ali havia.

Reflorestaram a antiga fazenda com ajuda de parceiras e recursos captados, assim fundaram o Instituto Terra em abril de 1998, vigente nos dias de hoje, onde reproduz mudas da Mata Atlântica, trabalha com pesquisa científica aplicada, restauração ecossistêmica e outras atividades. Hoje, naquelas terras há uma floresta que abriga a diversidade de fauna e flora da Mata Atlântica.

Do Livro Gênesis – Foto: Sebastião Salgado

Salgado aprendeu amar outras espécies quando resolveu fotografar a natureza intocada, além dos humanos, ideia advinda após o Instituto Terra. Durante oito anos viajou pelo mundo visitando lugares intocados do planeta. Realizou observações meticulosas e respeitosas, em jus a sua personalidade pessoal e fotográfica. “Gênesis” é o nome dado a seu livro lançado em 2013, onde apresenta o material do mundo, da natureza e pureza das mesmas.

Sahara – Foto: Sebastião Salgado

Da sombra do preto à luz do branco as fotografias de estilo documental contam histórias por si só, a imaginação até mesmo de quais cores estavam presentes na tonalidade real leva seus admiradores a profundas viagens através das imagens eternizadas pelas majestosas fotos de Sebastião Salgado, fotojornalista e clamor mundial.

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ROMA: fragmentos de uma infância

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Concorre com 10 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Direção (Alfonso Cuaron), Melhor Atriz (Yalitza Aparicio), Melhor Atriz coadjuvante (Marina de Tavira), Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Filme Estrangeiro (México), Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Design de Produção (Eugenio Caballero, Bárbara Enriquez)

O diretor mexicano Alfonso Cuarón (ganhador do Oscar por Gravidade) apresenta de forma intimista, mas com quadros grandiosos e repletos de detalhes, um olhar sobre suas memórias de infância na Cidade do México, no início da década de 70, em um bairro chamado Roma (que dá título ao filme). Roma é apresentado sob a perspectiva de uma jovem indígena que trabalha como empregada doméstica para uma família branca de classe média. Ela também é a babá dos filhos do casal e essa personagem foi inspirada na babá da vida real de Cuarón, Liboria “Libo” Rodríguez, que desempenhou um papel importante em sua criação e a quem ele dedicou esse filme.

Desde a abertura, que mostra a água sendo jogada em um chão de azulejo e nela surge o reflexo de um céu que parece estar distante demais da sujeira que escorre pelo ralo, é revelado que a água é a metáfora condutora da história. Seja para mostrar a separação aparente das classes sociais, como analisou o cineasta Guillermo Del Toro [1], seja para dar voz finalmente a personagem principal em um dado ponto da história.

Fonte: https://goo.gl/5bddhj

Em todos os sentidos, Roma é o olhar do Cuáron sobre alguns recortes de sua infância, especialmente sobre a babá que, segundo ele, o criou e contou-lhe histórias de sua aldeia e seus costumes, fatos esses que o inspiraram em sua trajetória como cineasta [2]. Mas, não ouvimos essas histórias de Cleo, a babá interpretada por Yalitza Aparicio em seu primeiro filme, nem sabemos como é a sua família, nem temos a verbalização de suas angústias. O que vimos, na realidade, é a representação do seu silêncio ao acompanharmos sua rotina na casa da família. Ela limpa, faz compras, lava roupa, apaga as luzes, abre os portões, cuida do cachorro, coloca as crianças para dormir e, principalmente, escuta as crianças, compartilha dos seus mundos, o que aparentemente não é algo que os pais fazem.

Ao mesmo tempo que a família é grata a ela, o que é mostrado em pequenos gestos, como quando a levam ao médico para que tenha os cuidados necessários em sua inesperada gravidez, ou compartilham alguns momentos de intimidade, também pode ser observado nos detalhes da convivência a aparente irreconciliável separação entre as classes. O lugar que, de fato, Cleo ocupa naquela família transita entre dois extremos, do tipo, salvou as crianças, que ótimo, somos gratos, estamos todos emocionados, agora vai preparar uma vitamina de banana.

Em Roma, as falas estão sempre em segundo plano perante uma fotografia exuberante, apresentada em uma tela panorâmica e em preto e branco. Assim, quando a mãe da família diz a Cleo, em um momento de embriaguez, “estamos sozinhas; não importa o que eles digam, nós mulheres estamos sempre sozinhas”, novamente, temos o silêncio e o espaço como resposta.

Fonte: https://goo.gl/Nr1b8S

Dos quatro filhos do casal, é Pepe (Marco Graf, que talvez seja a representação do Alfonso Cuarón no filme) que tem mais destaque, pois é a criança mais nova e, consequentemente, a que fica mais tempo com Cleo. Com Pepe, Cuáron traz a premissa de que “tudo é cíclico”, conforme analisa o cineasta Guillermo Del Toro [1], por isso que ele sempre fala de sua vida adulta no passado, quando teve diferentes profissões e viveu inúmeras experiências. Um dos momentos mais bonitos no filme ocorre entre os dois, quando Pepe deitado em um ponto do telhado se recusa a levantar, pois está morto (já que o irmão disse que sua missão nas brincadeiras de pistola com água era morrer). Cleo deita-se também, assim quando é questionada por Pepe sobre o que está fazendo, ela diz: “estou morta”. E acrescenta: “Olha só, gostei de estar morta”. Como diz Caleb Crain [2],

Não há muitos filmes capazes de transmitir o prazer de estar no mundo sem qualquer outro objetivo além da apreciação. Assim, talvez, em parte, a gratidão do espectador por ser lembrado deste prazer é o que faz com que os personagens deste filme sejam tão caros.

Voltando a metáfora da água, citada por Del Toro [1], para contar alguns aspectos importantes na vida da personagem principal, tem-se em uma das sequências Cleo e a avó da família em uma loja de móveis, quando assistem assustadas uma manifestação estudantil se transformar em um motim policial. Cuarón não identificou o incidente, mas é conhecido no México como o Massacre de Corpus Christi de 1971. Nesse contexto, aparece em frente a Cleo, com uma arma na mão, o pai do seu filho que, ironicamente, está com uma camisa dos desenhos “Amar é”. Com o susto, a bolsa se rompe, a água jorra e, mais tarde, o bebê nasce morto. Acompanhamos o olhar dela para a criança morta sendo enrolada em uma mortalha branca, não há música, nem palavras, só a imagem e o som ambiente do movimento dos médicos, das enfermeiras e, especialmente, do seu choro sufocado. Vale ressaltar que nenhuma música foi usada no filme, o som vem apenas das ações que acontecem na tela.

Fonte: https://goo.gl/PD5etM

A outra sequência que mostra a força da água e, consequentemente a força de Cleo, é um dos momentos mais impactantes do filme. Há o barulho das ondas, o grito das crianças e o desespero da babá para conseguir resgatá-las, mesmo sem saber nadar. Quando finalmente consegue e volta a areia e toda a família a abraça, ela fala: “Eu não a queria. Eu não a queria. Eu não queria que ela nascesse.” Ali, ela conseguiu trazer à tona a dor e a angústia que a sufocavam, pois em todos os acontecimentos ela estava sempre em segundo plano, como se ela tivesse vindo ao mundo apenas para servir, para tornar a vida dos outros mais fácil.

Fonte: https://goo.gl/YpUHFv

A criança que eu fui não viu a paisagem tal como o adulto em que

se tornou seria tentado a imaginá-la desde a sua altura de homem.

A criança, durante o tempo que o foi, estava simplesmente na

paisagem, fazia parte dela, não a interrogava, […]

(SARAMAGO, 2006, p. 18 [3])

Quando recordo a minha infância, as imagens vêm em recortes sem uma sequência definida, não lembro de acontecimentos mundiais grandiosos vinculados a alguma passagem, mas de pequenas coisas que me marcaram, como a última vez que estive no colo da minha mãe, ou quando eu corria atrás dos barquinhos de papel jogados na lama. Mas é sempre a pessoa adulta recordando, então, como disse Saramago em suas “pequenas memórias”, talvez essas passagens tão importantes para mim sejam um tanto diferenciadas da real experiência. Assim, também, parece-me coerente deduzir que Cuáron retratou a babá que ele imaginava, ou seja, recriada por ele. Então, mesmo que ela ainda esteja viva e que eles mantenham contato, aquelas passagens descritas no filme, vivenciadas por ele quando criança, estão sujeitas a composição criada em sua memória, a partir do seu olhar. Nesse caso, um olhar em preto e branco, detalhadamente orquestrado, ainda que sem música, mas indubitavelmente pessoal. É um filme sobre Cuáron, não sobre Cleo.

FICHA TÉCNICA:

ROMA

Título original: ROMA
Direção: Alfonso Cuarón
Elenco: Yalitza Aparicio, Marina de Tavira, Marco Graf
Países: México, EUA
Ano: 2018
Gênero: Drama

REFERÊNCIAS:

[1] https://twitter.com/RealGDT/status/1084701184110153729

[2] https://www.nybooks.com/daily/2019/01/12/roma-through-Cuaróns-intimate-lens/

[3] SARAMAGO , José. As pequenas memórias. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

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Maior festival de fotografia do País tem como principal tema a inclusão social

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Festival Internacional Brasília Photo Show cria a Cidade da Fotografia e traz mais de 50 atrações para fotógrafos amadores e profissionais

O Festival Internacional Brasília Photo Show – maior evento de fotografia do Brasil – chega a sua quarta edição em 2018 e traz uma grande novidade para o público: a Cidade da Fotografia Brasília Photo Expo, que irá contar com exposições, workshops e palestras com renomados fotógrafos, shows culturais, tour fotográfico e leilão social. Gratuito, o evento será entre os dias 15 a 18 de novembro na Capital Federal e também contará com museu de fotografia, feira de tecnologia de imagem, além da grande festa de premiação. A expectativa para esta edição é de aproximadamente 30 mil pessoas e é necessário se cadastrar no site do evento.

De acordo com Edu Vergara, curador e organizador do evento, a transição do Festival para a criação da Cidade da Fotografia foi devido ao crescimento no número de inscrições para o concurso fotográfico Brasília Photo Show e o interesse crescente do público pelas fotos. “Recebemos este ano cerca de 12 mil imagens, 3 mil a mais que na edição passada. Com o avanço das tecnologias fornecidas pelos aparelhos celulares, drones e tablets, qualquer pessoa é um fotógrafo em potencial. O interesse por esta arte cresceu e o objetivo do Festival é incentivar ainda mais esse segmento”, conta Vergara.

Fonte: encurtador.com.br/djlRV

Inclusão é um dos principais focos desta edição

Durante o Festival, o público poderá conferir cerca de 2000 imagens de mais de 2 mil fotógrafos de todo o País. Com foco na inclusão social, o evento traz exposições de profissionais com deficiência auditiva, física, com Síndrome de Down e visual, como o fotógrafo piauiense João Maia. Aos 43 anos, e há 15 com deficiência após desenvolver uma doença autoimune, João foi o primeiro fotógrafo deficiente visual a registrar uma Paralimpíada e agora irá levar toda sua experiência e superação à Cidade da Fotografia.

Outros importantes nomes da fotografia inclusiva que estarão no Festival são os jovens com síndrome de Down Jéssica Mendes e o Mohamed Dalloul. Mohamed já expôs suas imagens na Heart & Sold, galeria do Reino Unido que representa artistas com síndrome de Down do mundo inteiro. Com o tema “Fotografia Inclusiva”, a paranaense de Maringá Maria Angelita Djapoterama também irá levar ao público a sua experiência a partir de trabalhos realizados com povos indígenas e deficientes.

Fonte: encurtador.com.br/gwEJ9

Além das exposições, o assunto também será abordado em parte das mais de 25 palestras que acontecerão gratuitamente durante o Brasília Photo Show. Um festival para todos

De acordo com o organizador, a Cidade da Fotografia promete ser o maior evento do segmento no País. “Serão quatro dias de muitas atividades, não apenas para quem curte fotografar, mas para quem adora contemplar belas imagens e interagir com fotógrafos. Além disso, o festival dará a oportunidade para que fotógrafos amadores se especializem. A ideia é democratizar a arte da fotografia”, comenta Vergara. E pensando no fotógrafo amador, um dos palestrantes convidados é o técnico em mecatrônica e nanotecnologia Alberto Sousa, que vem com o tema “15 coisas que você nunca deve fazer com seu equipamento fotográfico”.

Além das palestras e exposições, a Cidade da Fotografia ainda irá trazer uma ampla estrutura com brinquedoteca e oficinas fotográficas para as crianças, desfile de moda fotográfico, museu da fotografia e, claro, a grande festa de premiação – momento que será revelado e entregue as estatuetas para as 20 melhores imagens selecionadas no concurso deste ano. Outras novidades deste ano é o Espaço Gourmet, que além de shows com diferentes bandas brasilienses, contará também com a presença do Slow Food Cerrado, Fic Brasile (Federação Italiana de Cozinheiros), entre outros menus preparados por diferentes chefes e ainda artesanato e paisagismo.

Por ser um evento fotográfico, é necessário um cadastramento que poderá ser realizado no site https://brasiliaphotoexpo.com.br/. A Cidade da Fotografia Brasília Photo Expo ocorre entre 15 a 18 de novembro, das 10h às 22h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães de Brasília. A entrada é gratuita e a faixa etária é livre.

Horário de funcionamento:

Festival Internacional de Brasília

Data: 15,16, 17 e 18 de novembro

Horários: Quinta: 12:00 as 22:00

Sexta e sábado: 10:00 às 22:00

Domingo: 10:00 às 21:00

Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Brasília.

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Personagens da Casa de Apoio Vera Lúcia

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A arte de fotografar me cativou. E iniciar nessa arte fotografando os Personagens da Casa de Apoio Vera Lúcia foi muito enriquecedor e significativo. Não somente pelo fato de poder capturar imagens (o que é extraordinário!), mas também pela vivência de cada momento. O nome desta galeria está ligado ao palco de muitas histórias que é a Casa de Apoio Vera Lúcia, por onde muitos personagens passam.

Foto: Dinâmica da sucata

Isso ocorre porque esse espaço é destinado para pacientes e acompanhantes de pacientes que estão em tratamento nos hospitais públicos de Palmas/TO. Ela oferece acolhimento, hospedagem e alimentação para pessoas vindas das cidades do estado do Tocantins e dos estados ao seu redor.

Foto: Criança acolhida na Casa de Apoio Vera Lúcia

Realizei esta intervenção fotográfica aliada à minha atuação na casa, proposta pelas disciplinas Intervenção em Grupos e Fotografia Aplicada à Psicologia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra. Desse modo, não somente fotografei esses personagens, mas pude conhece-los e acompanha-los por alguns dias. As fotos retratam essas pessoas nesse momento de espera e como o apoio, tal como uma intervenção terapêutica, auxiliam significativamente nesse processo.

Foto: Dinâmica das mãos dadas

Para dar início à essa intervenção, fui à Casa de Apoio Vera Lúcia, juntamente com a minha parceira de trabalho, para propor essa ideia para a coordenadora da casa, tal como procurar conhecer a demanda e o público do local. Sendo muito bem recebidas e percebendo a satisfação da coordenadora e das outras funcionárias da casa em receber essa proposta, acordamos o dia e o horário para começarmos o trabalho.

Foto: Dinâmica do balão

Depois de sintetizarmos um cronograma com as atividades a serem realizadas na casa, demos início à intervenção. No primeiro dia, ocorreu um certo reconhecimento do campo, em que a dinâmica proposta tinha o objetivo principal de apresentação de todos. Nesse dia, não foram tiradas fotos. Isso iniciou a partir do segundo dia, seguindo-se até o penúltimo dia.

Foto: Dinâmica papel nas costas

Nessas fotos, procurei mostrar a criança existente dentro de cada pessoa. Acredito que isso ocorreu, pois, percebe-se nas fotos os sorrisos e a alegria espontânea de cada um, quando, por um momento, se permitiram descarregarem-se um pouco das angústias, ansiedades e preocupações provocadas por esse processo de espera e entregarem-se às dinâmicas e tarefas propostas, percebendo-as como brincadeiras ou momentos de entretenimento e distração.

Foto: Dinâmica da sucata

Entretanto, apesar de proporcionar esse momento de distração, tais dinâmicas e tarefas sempre tinham um propósito, qual seja fomentar discussões e reflexões feitas pelos participantes, principalmente no que tange ao convívio entre eles na casa, o acolhimento e importância desta e o momento pelo qual estão passando, que se dá na espera.

Foto: Roda de leitura

A cada encontro, novas pessoas apareciam, pois foi um grupo rotativo. Mesmo assim, foram todos muito produtivos, gerando as discussões e reflexões esperadas. De modo geral, o assunto pendia para a gratidão, uma vez que veem a casa de apoio como uma segunda família, um lugar acolhedor, onde, apesar do sofrimento que cada qual traz consigo, possibilita momentos de alegria, partilha e conhecer novas pessoas.

Foto: Mulheres acolhidas na Casa de Apoio Vera Lúcia

Ao encerrar os encontros, tive a sensação de missão cumprida, principalmente ao receber muitos feedbacks positivos dos envolvidos. E ter a galeria de fotos desses personagens me possibilita, a cada vez que olho para ela, ter o mesmo sentimento empático de quando estava lá, ajudando essas pessoas de alguma forma. Digo com toda a certeza que esse processo, de intervir e fotografar, contribuiu muito para o meu crescimento acadêmico e pessoal.

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As marcas da guerra nas fotografias de Eugene Smith

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William Eugene Smith, americano nascido no Kansas no ano de 1918, começou sua vida de fotógrafo aos 15 anos de idade, quando já tinha publicado suas primeiras fotografias em jornais locais. Sua carreira foi marcada pelo profissionalismo e dedicação à fotografia. Suas imagens que foram realizadas durante a Segunda Guerra Mundial o tornou uma das grandes referências no fotojornalismo. Smith foi correspondente de guerra para a revista Flying entre 1943 e 1944, e depois contribuiu com coberturas para a Life, onde deixou um enorme legado. Smith seguia a máxima do fotojornalista Robert Capa: “se suas fotos não são boas o suficiente, então você não está perto o suficiente”, por isso buscava sempre aproximar-se do assunto fotografado, e assim elas passaram a traduzir todo o terror da guerra. Em 1955, após a cobertura de tantos eventos e marcos importantes, tornou-se membro da agência Magnum.

Fonte: https://goo.gl/5iXe7w

A tradição humanista de Eugene Smith foi tema de ensaios importantes em sua carreira, como em Aldeia Espanhola, mesmo após a sua morte sua maior característica continua sendo disseminada por meio da Eugene Smith Foundation, que desde 1979 concede bolsas para a realização de ensaios que sigam os preceitos sociais do fotógrafo: o humanismo. Com a revista Life, Smith retratou a verdadeira face da guerra e publicou mais de 50 ensaios fotográficos. Muitos se tornaram aulas de narrativas visuais, como Country Doctor, Spanish Village, Nurse Midwife ou Albert Schweitzer na África, e inverteram por completo a tradicional subordinação da fotografia ao texto.

Fonte: https://goo.gl/5iXe7w

O fotojornalista tinha domínio pleno sobre todas as etapas da produção fotográfica. Fazia questão de ser seu próprio laboratarista, e jamais deixou nas mãos de terceiros a arte de transformar seus negativos nas imagens. Das tomadas aéreas iniciais, feitas a partir de voos de reconhecimento, a fotos de bravura e solidariedade militar no campo de batalha, passou a focar no horror da guerra para as populações civis e na fragilidade da condição humana como um todo. Ao final da devastação, Smith havia construído o mais pungente libelo contra a matança entre homens da história do fotojornalismo. Carregou esse fardo moral até o final da vida.

Além disso, a marca física que a guerra lhe deixou não foi menor. Em maio de 1945, com a guerra já nos seus estertores, Smith sofreu ferimentos graves na cabeça e na mão esquerda enquanto fotografava. Submetido a uma série de cirurgias, teve de permanecer hospitalizado durante quase dois anos e temeu jamais poder voltar a empunhar uma câmera.

Fonte: https://goo.gl/5iXe7w

Certo dia da primavera de 1946, ainda afundado numa crise espiritual por ter de conviver com o corpo remendado, a confiança abalada e as lembranças sombrias da guerra, decidiu acompanhar os dois filhos menores num passeio bosque adentro. Pela primeira vez desde que se ferira, levava consigo a máquina fotográfica, e com ela captou a imagem que viria a se tornar a mais popular mundialmente. The Walk to Paradise Garden mostra as duas crianças de costas, caminhando de mãos dadas em direção a uma clareira. “Enquanto as observava”, explicou mais tarde, “tive a nítida percepção de que naquele instante, apesar de todas as guerras e de tudo o que eu vira, eu queria fazer um hino à vida e à vontade de viver”.

“The Walk to Paradise Garden”. Fonte: https://goo.gl/kU27FR

Assim como sustentava que o mundo simplesmente não cabia no formato de uma câmera de 35mm, Smith também sofria com as limitações físicas e temporais das pautas que recebia. Em 1955, já como associado da mítica agência Magnum, recebeu a incumbência de fazer um ensaio sobre a vida urbana em Pittsburgh, cujo cordão umbilical, à época, ainda era a indústria do aço. Deveria ficar três semanas na cidade e produzir 100 fotos. Acabou não arredando pé de lá por um ano inteiro, captou 17 mil imagens, e ainda assim achou que não tinha conseguido completar a tarefa.

Mas foi somente no seu último trabalho – a monumental série sobre os efeitos letais da poluição industrial de mercúrio em Minamata, concluída pouco antes de sua morte – que W. Eugene Smith produziu a única fotografia de que teve orgulho pleno. “Considero Tomoko no seu Banho a melhor fotografia que jamais fiz porque ela diz exatamente o que eu queria dizer”, explicou a seus alunos da Universidade do Arizona. Na busca desse ponto de encontro que o consumiu a vida toda, considerava o restante de sua obra mais ou menos fracassado.

Fonte: https://goo.gl/FXL8AK

Tomoko, muitas vezes associada à Pietà de Michelangelo, talvez seja mesmo a obra mestra de Eugene Smith. A mãe japonesa que acarinha a filha desnuda e severamente deformada enquanto a banha no tradicional tanque em uso na época teve impacto mundial imediato e compreensão universal. Ryoko Uemura concordou em expor a filha Tomoko em cena tão íntima como grito silencioso contra a devastação física e mental da menina, uma entre as milhares de vítimas do horrendo crime ambiental provocado por uma indústria química. Os pais a chamaram de “criança-tesouro” desde o instante em que nascera. A mãe havia se contaminado durante a gravidez ao comer peixe vindo do rio contaminado, só que, ao invés de corroer sua saúde, o veneno passou da placenta para o feto, e este o absorveu por inteiro. Eliminou, assim, a contaminação do organismo materno, que pôde gerar outras seis crianças, todas perfeitamente sadias.

Nessa perspectiva, a existência da foto da “criança-tesouro” em museus, coleções e publicações passadas nunca deixou de ser importante para a família, que jamais se arrependeu da autorização dada a Smith numa gelada tarde de dezembro de 1971, na hora do banho de Tomoko. Sua obra mais evidente foi a mais trabalhosa e frustrante se sua carreira, já consagrado como fotógrafo se extrema qualidade e profissionalismo, Eugene tentara fazer com que algum editor se interessasse pelo livro caótico que carregava debaixo do braço e que era seu testamento pessoal sobre a condição humana somado à sua visão complexa da narrativa fotográfica.

Referência:

A consciência fotográfica de W. Eugene Smith. Disponível em: < http://iphotochannel.com.br/fotopedia/a-consciencia-fotografica-de-w-eugene-smith>. Acesso em 07 de junho de 2017

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O cotidiano nas lentes de Alberto Korda

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Alberto Diaz Guetierrez, mais conhecido como Alberto Korda foi um fotógrafo cubano é conhecido por retratar a simplicidade de uma nação e ter o seu olhar voltado para o aspecto revolucionário através de suas lentes fotográficas. Ele se tornou mundialmente famoso por Guerrillero Heroico, retrato que fez de Che Guevara.

Fonte: https://goo.gl/75D3VG

Assim como muitos fotógrafos, Korda começou sua carreira como fotógrafo de cerimônias de casamentos, aniversários e batismo. Isso serviu de motivação e inspiração para fazê-lo abrir um estúdio de fotografia em Havana em 1954 e começar a desenvolver ainda mais o seu olhar para a fotografia de moda e publicitária.

A vida do fotógrafo e o seu estilo fotográfico mudaram radicalmente quando o mesmo começou a retratar as causas e as conseqüências dos movimentos socioeconômicos e políticos que se passavam por cuba em sua época. Um grande exemplo da sensibilidade de Korda ao retratar as conseqüências que todos esses aspectos e movimentos causavam na época foi a forma como ele enxergou uma criança que vestia roupas surradas e segurava um pedaço de madeira e uma boneca.

A Menina com a Boneca de Madeira, 1958. Foto: Alberto Korda. Fonte: https://goo.gl/75D3VG

A partir desse retrato, Korda conseguiu dar maior visibilidade do seu registro sobre a pobreza, a beleza e a sensibilidade de sua região, rendendo a ele, a partir de 1959, o trabalho como voluntário para o jornal Revolución, onde conseguiu promover uma maior divulgação dos seus trabalhos.

Korda tomou ainda maior notoriedade por retratar o convívio do líder e a sua relação mais humanizada do revolucionário Fidel Castro com a sua população. O fotógrafo teve uma relação muito estreita com Fidel, possibilitando-o registrar de perto todo o cotidiano dessa grande e importante figura com o seu povo e sua nação cubana. Além disso, também é autor de uma das fotografias (feita em 1960) que é tida como a mais reproduzida ao longo da história e foi mundialmente conhecida por retratar o líder Che Guevara. A fotografia ganhou o mundo a partir da morte de Che, em 1967.

El Guerrillero Heroico – versão sem recorte, 1960. Foto: Alberto Korda. Fonte: https://goo.gl/75D3VG
Versão divulgada do El Guerrillero Heroico. Foto: Alberto Korda. Fonte: https://goo.gl/75D3VG

Alberto Korda nasceu em Havana – Cuba no dia 14 de setembro de 1928 e faleceu em Paris na data de 25 de maio de 2001, na França. Alguns de seus trabalhos são intitulados como: Cuba por Korda, Diário de uma Revolución e Che: El álbum.

Referências

Disponível em: http://mundo-e-arte.blogspot.com.br/2015/07/fotografia-alberto-korda.html>. Acesso em 27 de agosto de 2017

Disponível em:  http://resenhanodiva.blogspot.com.br/2011/12/alberto-korda-o-fotografo-da-revolucao.html>. Acesso em 27 de agosto de 2017

Disponível em: http://iphotochannel.com.br/fotopedia/a-fotografia-mais-reproduzida-de-alberto-korda >. Acesso em 27 de agosto de 2017

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