A síndrome de Hulk é uma síndrome atipicamente falada pela comunidade, é marcada por manifestações inesperadas de raiva. Essas manifestações constantemente se configuram em condutas violentas. No contexto médico, o nome certo seria síndrome de Amoque. Via de regra, porém, é familiar pelo nome do popular monstro verde dos cinemas: Hulk.
Hulk foi um personagem antes de tudo dos quadrinhos da Marvel. Foi há pouco tempo que ele surgiu em diversos filmes que foram se adequando para o cinema pelo mundo dos cinemas da Marvel. Um desses filmes está o último grande lançamento da saga ‘Thor’, bem como ‘Os Vingadores’. Hulk é o alterego do amável Dr. Bruce Banner, que se contaminou enquanto fazia algumas experiências com lixo tóxico.
Desde então, surge em Dr. Banner uma segunda personalidade: Hulk. Esse grande monstro aparece repentinamente, é impetuoso e interessa-se por aniquilar tudo que está em sua volta. O Dr. Banner não consegue conter o Hulk, e a mesma coisa pode ser destinada ao Hulk conter o Dr. Banner. Paulatinamente, o Dr. Banner assimila e se relaciona com seu monstro verde.
Fonte: Pixabay
Com base na sua designação nos quadrinhos, conseguimos inserir Hulk nesse cenário no qual sucedem atitudes muito viscerais e desgovernados oriundos do sentimento de raiva ou da ira. Somo capazes de compreender melhor se refletirmos que no momento nosso corpo transita pelo sentimento de raiva, mas nossa mente tenta coibi-lo ou repeli-lo de forma metódica, pode ser que certa altura nós acabemos consumidos pela raiva de forma desmedida.
Conforme peritos na temática, a síndrome de Hulk está associada a coeficientes culturais. Embora a síndrome já tenha sido fundamentada em diversas culturas, existem minúsculas peculiaridades concretas e específicas em cada cultura que não podem ser observadas em pessoas de outras culturas com a mesma patologia. No ocidente, antes da aparição do Hulk como personagem, a síndrome de Hulk já estava documentada. Ela era conhecida pelo seu outro nome que mencionamos acima: a síndrome de Amok. A palavra Amok veio da expressão Malaia “meng-amok”. Esse vocábulo significa, em uma tradução abrangente da expressão para o português que não deem uma palavra direta, “atacar e matar com uma raiva cega”.
Menciona-se que a síndrome de Hulk seja a consequência de muitos conflitos e a origem de muitas hostilidades. As pesquisas, entretanto, indicam que a frequência do diagnóstico é bem inferior que sua ocorrência concreta na comunidade.
Nesse momento da jornada ele enfrenta seu inimigo e conhece seus aliados, que é o sexto passo da jornada do herói, é quando também ocorre a maior identificação com o público.
O filme Vingadores Ultimato está atualmente em uma briga pela maior bilheteria da história, e notícias de Kevin Feige – o grande chefão da Marvel – afirmam que uma outra versão do filme com cenas novas, chegará em breve aos cinemas. No mais, o personagem alvo desta análise é nada menos que Thor, o deus do trovão (apesar que ele solta raios, mas essa piada é velha). Thor, filho de Odin e Frigga, apresenta ser um filho mimado em que seus pais parecem depositar grandes expectativas. É perceptível em seus filmes um amadurecimento como pessoa, mas continuou com comportamentos que mostram uma grande dependência dos pais. (Spoiler abaixo!!!)
A análise em questão é a representação do arquétipo do herói e como Thor passou por toda a jornada. Segundo Dell (2014), a jornada do herói é a tentativa de narrar uma experiência humana, que tem um propósito muito profundo. Assim a primeira parte da jornada do herói é a apresentação do mesmo e de um cenário onde o público venha a se identificar com alguns pontos, mostrando que ele é tão humano quanto qualquer um.
No primeiro momento do filme é mostrado como Thor lidou com o final trágico de Vingadores Guerra Infinita. Hulk e Rocket fazem uma visita a ele, e o cenário é uma casa com pouca iluminação onde ele e uns colegas passavam o dia bebendo e jogando vídeo-game, e quando questionado sobre sua vida ele afirma que estava tudo bem.
Fonte: encurtador.com.br/axCFP
O chamado à aventura seria o convite que Hulk faz para Thor, onde fala sobre uma última chance de consertar as coisas, através de uma volta ao tempo com as Partículas Pym como recurso, e Thor seria peça-chave nesta empreitada. Dessa forma, o coloca em confronto com o que ele estava negando enquanto se escondia vivendo daquela forma, e o fazendo refletir sobre uma correção do seu erro, sobre as vidas que ele pode salvar.
Thor nesse momento no filme não se acha digno de empunhar nem o seu Machado, o Rompe-tormentas, pois acredita que falhou como deus, falhou como amigo e por ter fracassado diante da única chance de ter matado Thanos no filme anterior. Dessa forma ele recusa o chamado, por medo de enfrentar a si mesmo. Mas ao final ele acaba aceitando ir, mesmo que isso não significasse que ele estava pronto para a jornada.
O plano consistia em voltar no tempo em diferentes momentos e “pegar as joias emprestadas” para tentar reverter o estalar de dedos do Thanos. Então, foram divididos em duplas, no qual Thor e Rocket ficaram encarregados da jóia da realidade, e foram enviados para a época em que ela estava no corpo de Jane, em Asgard. Nesse momento o nosso herói não estava engajado, e se separou de Rocket dizendo que ia visitar a adega para beber, mas ele acaba esbarrando com sua mãe, que o reconheceu mesmo ele afirmando ser o Thor daquela época.
Então tiveram uma longa conversa e ele tenta avisá-la sobre sua morte, mas ela o interrompe e fala que ela já sabe o que a aguarda. Toda a conversa entre os dois pode se caracterizar como o encontro com o mentor, que é quando ele recebe algo que dá um empurrão, seja conselhos, um treinamento ou um objeto. E antes de partir ele estende a mão e o Mjolnir, seu antigo martelo que havia sido destruído, atende o chamado mostrando que ele ainda é digno e assim ele resolve seu conflito e o seu papel naquela jornada.
Fonte: encurtador.com.br/eGOSX
Quando todos os heróis retornam ao presente, eles utilizam uma manopla criada por Tony Stark; Hulk se oferece para ser quem vai estalar os dedos, pois a radiação das jóias é a mesma dele. A tentativa se mostra um sucesso, apesar do dano que o braço do Hulk toma, e eles conseguem trazer de volta a metade que havia sido transformada em pó. E nesse momento de distração dos heróis, o Thanos do passado consegue vir para o presente e traz consigo todo o seu exército na tentativa de pegar as jóias e desfazer a reversão do estalar.
Thor nesse momento se vê diante do seu inimigo, e estendendo a mão empunha tanto o Rompe-tormentas quanto o Mjolnir e parece ganhar poderes além do que tinha anteriormente, caracterizando a travessia do primeiro limiar, que pode ser a aquisição de uma nova habilidade ou poder. Ele, juntamente com o Capitão América, luta contra Thanos que mostra suas habilidades sem depender da manopla e que por muito pouco ele não perde.
Fonte: encurtador.com.br/cluGZ
E nesse momento, o mais épico e cogitado do filme, Capitão América empunha o Mjolnir, e dá uma surra em Thanos salvando a vida de Thor. A fala do nosso deus do trovão nesse momento foi: “Eu sempre soube”. Como afirma Campbell (1990), não precisamos correr os riscos da aventura sozinhos. Nesse momento da jornada ele enfrenta seu inimigo e conhece seus aliados, que é o sexto passo da jornada do herói, é quando também ocorre a maior identificação com o público.
Thor fica no chão, pode tomar fôlego… esse momento se caracteriza como a caverna secreta, o instante onde o herói dá uma pequena pausa e que mostra o enfrentamento do seu grande medo, uma nova vitória do vilão. Mas nesse momento chegam os reforços mostrando a magnitude da batalha que estaria por vir e na qual ele se junta.
Chega o momento da provação, quando Thor aprende que precisa ir além e trabalhar em equipe dando tudo de si para que a jóias sejam enviadas para a época correta de cada uma utilizando a van do Homem-formiga. Mas no último momento ela é destruída e na tentativa de evitar que o vilão pegue a manopla nosso herói dá tudo de si em um golpe que atrasa o vilão dando chance para outros o deterem.
Ao final do filme ele nomeia a Valquíria como líder dos asgardianos restantes que estavam na terra, e a sua transformação ou retorno a sua confiança como herói pode ser a sua recompensa. Assim ele parte com os Guardiões da Galáxia como a representação de um caminho de volta onde ele escolhe um objetivo que beneficiaria de forma coletiva, e essa se torna sua ressurreição como deus do trovão.
Dessa forma, o retorno com o elixir que representa que nada será como antes, pode ser representado por essa nova jornada que ele opta por fazer, pois assim ele poderá proteger o universo juntamente com os Guardiões da Galáxia.
FICHA TÉCNICA:
VINGADORES: ULTIMATO
Título original: Avengers: Endgame Direção: Anthony Russo e Joe Russo Elenco: Robert Downey Jr, Chris Evans, Mark Rufalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johasson; País: EUA Ano: 2019 Gênero: Ação, Aventura;
REFERÊNCIAS:
CAMPBELL, Joseph – O poder do Mito, São Paulo: Palas Athena, 1990.
DELL, Christopher. Mitologia: um guia dos mundos imaginários. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2014.
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Em reverência a Stan Lee, criador do meu herói favorito
Eu adoro os super-heróis, especialmente os atormentados, os que têm dúvidas sobre os próprios poderes, os humanos o suficiente para nunca estarem totalmente certos se tais poderes são uma benção ou uma maldição.
Ultimamente têm se produzido muitos filmes protagonizados pelos clássicos heróis dos quadrinhos. Gosto particularmente, daqueles que vão além dos efeitos especiais e da eterna e manjada luta do bem contra o mal e se dedicam a nos revelar a mente atormentada do protagonista, suas fragilidades e, sobretudo, o ônus imposto pelos poderes que receberam, quase sempre, sem o direito de escolha.
Fonte: https://bit.ly/2OMglpC
De todos os heróis atormentados Hulk é o meu preferido. Uma pena os últimos filmes deste herói terem explorado mais seus músculos que sua mente atribulada, quase esquizóide. Prefiro o Hulk da década de 80, estrela do seriado Incrível Hulk, de muito sucesso na época. No seriado, Dr. Bruce Banner é um médico cientista que, depois de uma superexposição aos raios gama experimenta uma transformação intensa no corpo – acompanhada de força, resistência e vigor sobre-humanos – sempre que fica com raiva. Raiva essa que nosso herói sempre tenta, mas, nunca consegue controlar. Sendo assim, os atos heróicos do monstro verde, que sempre surge após um acesso de ira, sempre são vistos por Dr. Banner como um erro, um fracasso na tentativa de controlar-se. Fracasso que ele tenta resolver se mudando de uma cidade para outra sempre que Hulk se revela, numa tentativa, também fracassada, de fugir de si mesmo. No final de todo episódio da série, repetia-se a cena de Banner pedindo carona na estrada em direção incerta, cena embalada por uma musiquinha melancólica, aliás, inesquecível.
O que torna Hulk tão especial, a meu ver, é que, diferentemente dos demais heróis, a natureza de seus poderes é involuntária, ou seja, Banner tem muito pouco ou nenhum controle sobre eles. Hulk é para Banner um outro, um estranho. Neste caso, Banner não goza do poder que lhe foi dado, ao contrário, é o poder de Hulk que goza dele, do seu corpo e da sua vida. Nada mais humano que isso, não?
Fonte: https://bit.ly/2TbMj1D
É dito que somos animais racionais, o que supostamente nos possibilitaria ter o controle sobre nossos instintos, paixões e emoções, mas a verdade é que, a todo momento, somos tomados, atropelados por um outro que nossa razão é incapaz de controlar. O tal monstro verde invariavelmente rouba a cena e aí falamos ou fazemos o que não queríamos, poderíamos ou deveríamos falar ou fazer. Mas existe uma pergunta que Banner certamente se faz e que torna seu tormento ainda mais especial e interessante: sua verdade está em Hulk ou no Dr. Banner? Será ele é um Hulk reprimido por Banner ou um Banner atormentado por Hulk? Essa também é uma dúvida que sempre nos atormenta. Quando falamos ou fazemos algo que não queríamos, onde está o nosso eu? No que estava controlado pela razão ou no que conseguiu escapar dela?
O que me provocou a escrever este texto foi o filme – Os Vingadores – lançado nas últimas semanas*, e que eu gostei muito, aliás. Gostei, em especial, pelo Hulk do filme, porque ficou psicologicamente mais parecido com aquele do seriado da década de 80. Dr. Banner, antes de ser convidado para compor o grupo dos Vingadores, encontra-se recluso na Índia, exercendo caridosamente a medicina, evitando assim os estresses que trazem Hulk para a superfície. Fica claro no filme que Banner só aceita se unir aos Vingadores porque lhe garantem que o interesse deles é por seu conhecimento a respeito dos raios gama, ou seja, Hulk não será necessário. Neste momento fica evidente: é Banner negando Hulk.
Fonte: https://bit.ly/2K1jkcL
Mas a maior sacada do filme começa numa conversa entre Tony (o Homem de Ferro) e Dr. Banner, na qual este último, ao tratar de sua condição, se refere ao Hulk como “o outro cara”. Tony, por sua vez, ao perceber o incômodo que Hulk é para Banner, relata a este sua própria experiência de também possuir um estranho em seu corpo, no seu caso, o pequeno dispositivo eletrônico que carrega no peito e que mantém seu coração batendo. O que Tony quer mostrar a Banner é que o mesmo estranho responsável por lhe tornar uma aberração, também é o que lhe possibilitou estar vivo. O médico então conclui: – Você está dizendo que Hulk foi o quem me salvou de sucumbir aos raios gama? Tony não responde… Nem é necessário.
O filme segue e, mais tarde, como era previsível, Hulk irrompe no corpo de Dr. Banner depois que este fica perigosamente preso sob uma viga. E após dar vazão a toda a sua ira, destruindo tudo por onde passa, Hulk se retira para longe, a fim de se acalmar e permitir, então, que Banner retorne. Durante sua ausência, o filme segue e chega ao seu clímax: a aguardada luta do bem contra o mal. E é quando os demais Vingadores já se ocupam desta batalha que Banner aparece entre eles, numa motocicleta. Ao vê-lo chegar em sua frágil forma humana, o Homem de Ferro sabiamente recomenda: – Acho bom você começar a ficar com raiva. E a resposta de Banner é genial, e a meu ver, vale por todo o filme. Ele diz: – Vou te contar meu segredo, (e diz isso enquanto vai se transformando no temível monstro verde e parte com sua fúria para socar o inimigo que avança sobre todos), eu sinto raiva o tempo todo. A cena é genial, porque esta frase é iniciada por Banner e finalizada por Hulk. É possível enxergar nela nosso herói atravessando seu fantasma, se apropriando de sua raiva, aquela que vinha tentando de toda maneira negar e esconder. Vemos Banner convocando e assumindo Hulk, e Hulk raciocinando e falando como Banner. Ali não se trata mais de Banner ou Hulk, mas de uma síntese que inclui Banner e Hulk.
Fonte: https://bit.ly/2PV67Yj
Freud, com seu conceito de inconsciente, nos fez compreender que, ao contrário do que tendemos a crer, o eu não é o senhor em sua própria casa. Lacan, em sua releitura de Freud, também vai tratar desta divisão do sujeito afirmando que o sujeito pensa onde não está e está onde não pensa, nos fazendo concluir que o sujeito, na verdade, está nos dois lugares. Partindo dessa premissa da psicanálise poderíamos então concluir que a verdade do meu herói preferido está em Banner e em Hulk, ou seja, ambos são importantes e necessários. A força de Banner está na ira incontrolável de Hulk e a razão de Hulk provavelmente está na inteligência racional de Banner.
Possivelmente amamos os heróis porque nos identificamos com eles. Também recebemos nossos poderes, não tão extraordinários, é bem verdade, mas igualmente perturbadores. Poderes que, às vezes, nos parecem ser nosso maior defeito, mas ao mesmo tempo os responsáveis por nossos maiores êxitos e vitórias. E como fazer se nossa mais potente força é também, nossa pior maldição? O Hulk dos Vingadores nos dá a dica.