Imagem corporal e saúde mental

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Como se define a imagem corporal? Como isso afeta a saúde mental atualmente? Segundo o neurologista Paul Schilder, e sua obra intitulada A Imagem do Corpo: as energias construtivas da psique, “a imagem corporal é a figuração do nosso corpo formando em nossa mente, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós”. Essa imagem é tridimensional e tem aspectos psicológicos, sociológicos e fisiológicos.

Uma das partes mais difíceis de viver em sociedade é estar sobre o olhar do outro a todo o momento e graças à tecnologia, estar sob o olhar de milhares de pessoas que têm seus próprios conceitos do que é bonito e o que é saudável, esse modelo a ser seguido é composto de sutis mudanças nas pessoas mais influentes da nossa era, sendo elas pessoas públicas e famosas.

Para Schilder, a imagem corporal não é rígida e é passível de transformação, assim como essa mudança psicológica acontece, a sociedade tende a mudar constantemente o que seria um corpo padronizado e “certo” de se ter. Uma visão além do que é saudável é posta mundo afora para que as pessoas não envolvidas no padrão de vida apresentado se sintam responsáveis sobre seu corpo e façam parte desse movimento.

Fonte: encurtador.com.br/cgjxP

Essa dinâmica pode ser vista atualmente a partir da moda e a volta do estilo dos anos 2000. Isso é percebido na construção de estética, de roupas, de músicas e de corpo que mudaram após a pandemia de COVID-19. Os anos 2000 foram marcados pelo fim de profecias catastróficas e o começo de uma mídia “repaginada” em comparação aos anos anteriores, segundo Laís Campos, redatora da revista Versatille, a sensação de nostalgia de momentos mais felizes é revisitada atualmente quando tendências de moda e de consumo se voltam para símbolos marcantes da época.

Junto com esses símbolos, talvez o mais forte seja o corporal e da extrema magreza, o que afeta intensamente questões psicológicas e a distorção de imagem trazida pelo sentimento de inadequação ao se ver em um mundo que é mais magro que o seu. O risco trazido com esses aspectos é o de distúrbios alimentares e com eles o sofrimento psíquico, comportamentos prejudiciais podem surgir, como o uso de laxantes, jejum e a prática exagerada de exercícios físicos. os distúrbios mais comuns são a Anorexia, que é uma preocupação excessiva com o peso seguida de restrição alimentar, a bulimia é descrita como um episódio de compulsão alimentar seguida de algum tipo de purgação e o Transtorno Dismórfico que se caracteriza pela percepção alterada de si (CUBRELATI, 2014). Para Schilder, “a imagem corporal pode encolher ou se expandir, pode dar partes suas para o mundo externo ou se apoderar de partes dele” e essa tentativa de mudança corporal muitas vezes leva aos distúrbios alimentares.

Fonte: encurtador.com.br/lnHIJ

Como não cair nessa armadilha? O filósofo Michel de Montaigne descreveu em sua obra algo que outros filósofos não tinham pensado até então, muitos acreditavam que a felicidade vinha da racionalidade, já Montaigne pensava o contrário, o motivo dos nossos problemas e infelicidade é justamente a racionalidade e o pensamento. E o primeiro problema vindo do pensamento é que isso atrapalha a relação com o nosso corpo, diferente de outros animais nós podemos sentir tristeza e repulsa pelo próprio corpo.

Montaigne afirma que nesse aspecto os animais são mais evoluídos que os humanos, porque não sentem inadequação corporal ou vergonha dos seus corpos e ações, se relacionando de forma mais natural. A partir disso, ele explica que a comparação com um animal é para nos ajudar a aceitar nossos corpos de forma mais leve e humorada, ele também separa os tipos de inadequação em inadequação física, que é não aceitar sua aparência, seu corpo; Inadequação pelo julgamento, que é se preocupar com o que outras pessoas pensam sobre você e Inadequação intelectual, que seria se sentir menos inteligente ou instruído do que os outros.

 

Fonte: encurtador.com.br/buvAU

A forma que Montaigne pensou para “resolver” esses problemas ou ajudar a autoestima seria não se sentir humilhado por si mesmo, pelo nosso corpo ou pela falta de instrução formal. Uma forma simples de diminuir esse sofrimento seria viajar, física ou mentalmente para aprender e ver as diferenças culturais apresentadas em diferentes lugares. Aquilo que se julga estranho em uma cultura pode ser sagrado em outra, segundo Montaigne, a forma que uma sociedade julga algo como bom ou ruim é baseada no hábito e não na razão, conseguir uma visão mais ampla de comportamento nos torna mais tolerantes.

Fonte: encurtador.com.br/buvAU

Trazendo essa lógica para a distorção de imagem, quando se está acostumado a ver corpos magros na mídia a sociedade julga como errado os corpos que se apresentam de forma diferente. Um exemplo prático seria aumentar o espectro de pessoas vistas suas redes sociais para que ao se olhar no espelho não se sinta tão inadequado, visto que uma parcela pequena e privilegiada da sociedade consegue se manter a par de estéticas corporais e segui-las à risca.

Referências

SCATOLIN, Henrique Guilherme. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. Psicologia Revista, v. 21, n. 1, p. 115-120, 2012.

CUBRELATI, Bianca Sisti et al. Relação entre distorção de imagem corporal e risco de desenvolvimento de transtornos alimentares em adolescentes. Conexões, v. 12, n. 1, p. 1- 15, 2014.

Alain de Botton, Philosophy – a Guide to Happiness (Channel Four, 2000). Na versão brasileira, o DVD se chama Filosofia para o Dia-a-dia. ep, “Montaigne e a autoestima”

CAMPOS, Laís. O reboot do milênio: entenda a volta dos anos 2000. Versatille,14 de julho de 2021

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Bullying e imagem corporal na infância: um relato de experiência

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No último dia 22 de agosto participei de um debate em meio ao CAOS, Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia, sobre o tema Violência. O debate foi um dos grandes eventos e possuía tamanha importância, sendo apresentado pela Psicóloga egressa do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP), Michelle Sales Zukowski. A psicóloga apresentou o seu Trabalho de Conclusão do Curso (TCC), orientada pelo Dr. Pierre Brandão com o seguinte tema: “Bullying e imagem corporal na infância”.

Zukowski apresentou uma breve definição para a palavra Bullying, segundo Tognetta, sendo indisciplina, incivilidade. Complementa com Olweus dizendo: todo comportamento agressivo que se repita e que tenha provocação, é Bullying. Ela expõe que essa prática é dividida em duas partes: Bullying direto e Bullying indireto. O bullying direto é a agressão física, verbal, moral, psicológica e danos materiais. Dentro de sua pesquisa, Zukowski concluiu que essa prática é mais frequente entre meninos. Existe também o bullying indireto, fofocas ou rumores desagradáveis. Está ligado à parte relacional e social. Concluiu que essa prática é mais frequente entre as meninas.

Fonte: https://goo.gl/1tkAvS

No decorrer da apresentação, Zukowski mostrou que os meninos agridem tanto os outros meninos, quanto as meninas, e as meninas agridem apenas as outras meninas. Complementou que a prática do Bullying começa aos 3 anos de idade, estágio pré-operatório segundo Piaget. A falta de compreensão faz com que nessa fase o bullying seja direto, ou seja, agressões físicas, verbais, etc. A violência aumenta conforme o aumento das relações.

Sales mostrou características que as crianças agressoras e vítimas podem apresentar. Os agressores apresentaram problemas de satisfação pessoal, autoestima baixa e problemas com a autoimagem; são influenciados socialmente a anular sua empatia com as vítimas, buscam vítimas vulneráveis, nas quais identificam os seus pontos fracos. Já as vítimas experimentam sensação de extrema angústia ao ir para a escola; podendo levar ao comportamento autolesivo e tentativas de suicídio, ansiedade e insegurança. A egressa foi a fundo, dando dicas para identificação de crianças agressoras e vítimas. As agressoras apresentam ganho de objetos e falam muito de si. Já com as vítimas acontece o oposto, há perda de objetos e marcas no corpo.

Zukowski fala sobre a Imagem Corporal, e afirma que desde bebê começamos a percepção da nossa própria imagem corporal. Baseado em Schilder (1980), diz que o processo da nossa própria imagem é figurativo, como exemplo: identificação de gorduras onde não há. Para a interação fisiológica ela cita três aspectos: os Aspectos Neurais, os Aspectos Emocionais e os Fatores Sociais. Por fim, Michelle citou que usou metodologia de natureza quantitativa em seu estudo e apresentou em números os resultados de sua pesquisa desenvolvida em uma escola de rede privada de Palmas.

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Imagem Corporal é tema de doutorado: (En)Cena entrevista o Dr. Pierre Brandão

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Em entrevista ao EnCena, Pierre Brandão fala dos desafios superados e conquistas alcançadas durante o doutoramento

Há poucos dias o professor do Ceulp/Ulbra Pierre Brandão entrou para o seleto grupo de profissionais com doutorado no país. Pierre defendeu a tese “Validade e confiabilidade de um sistema digital de avaliação da imagem corporal para escolares de 10 a 12 anos”, sob a orientação da professora Dra. Carmen Silvia Grubert Campbell, pela Universidade Católica de Brasília (UCB-DF), e engrossa a equipe de professores/pesquisadores do Ceulp/Ulbra.

Na banca, estiveram presentes os professores doutores Irenides Teixeira (Ceulp/Ulbra), Thiago dos Santos Rosa (UNB), Gislane Ferreira de Melo (UCB), Guilherme Borges Pereira (UCB) e Elaine Cristina Vieira (UCB). Em entrevista ao EnCena, Pierre Brandão fala dos desafios superados e conquistas alcançadas durante o doutoramento, além de discorrer sobre a influência da Psicologia em sua tese, e os benefícios que a mesma irá proporcionar para a comunidade.

EnCena – Recentemente você conquistou o seu doutoramento com a tese “Validade e confiabilidade de um sistema digital de avaliação da imagem corporal para escolares de 10 a 12 anos”. Qual o maior desafio enfrentado nesta trajetória?

Pierre Brandão – Acredito que o maior desafio tenha sido o de envolver áreas que não tem tradição em cooperação, como a Computação e a Educação Física. O mesmo não acontece com a Psicologia e a Educação Física, onde já se tem um histórico de cooperação. Articular um intercâmbio entre as três áreas foi, talvez, o mais difícil neste processo. Apesar dos recentes avanços neste sentido e dos inúmeros aplicativos e ferramentas que estão sendo construídos e disponibilizados, ainda há certa resistência por parte da comunidade acadêmica e científica, especialmente quando esta cooperação foge ao tradicional e solicita um trânsito menos ortodoxo entre as áreas.

EnCena – Percebe-se que há a interdisciplinaridade entre aspectos da Educação Física e da Tecnologia, por exemplo. Mas, por se tratar de corporeidade, você lançou mão da Psicologia?

Pierre Brandão – Sim, com certeza, a psicologia é parte fundamental do meu trabalho, pois a corporeidade, em especial a imagem corporal, é fruto de uma relação dinâmica entre aspectos biológicos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais. Pensar em corporeidade ou imagem corporal sem considerar todos estes aspectos envolvidos é ineficiente, por isto a necessidade de romper com a forma tradicional de pesquisa e trabalho, articulando parcerias e uma interdisciplinaridade vivenciada de maneira efetiva, com diálogo e compartilhamento de informações.

EnCena – Quais as linhas gerais a que você chegou, a partir de sua pesquisa?

Pierre Brandão – A pesquisa possibilitou o entendimento de que a forma digital de avaliação da imagem corporal, além de dinâmica, lúdica e rápida, foi ligeiramente superior quanto a estabilidade dos resultados em ambos os instrumentos estudados, ou seja, além de fornecer o resultado imediatamente após a aplicação do teste, estes resultados foram mais confiáveis e com menor erro em relação ao método tradicional. Isso possibilita uma maior praticidade para os profissionais, além de permitir que o próprio teste seja instrumento de intervenção para reconstrução da imagem corporal e para o diálogo educativo sobre estas questões.

Foto: arquivo pessoal.

EnCena – Por que, dentre tantos temas, você optou por este? O que te motivou? E quais as contribuições que sua pesquisa vai deixar para a comunidade?

Pierre Brandão – Na verdade, esta não foi a minha proposta inicial. Nos primeiros dois anos do doutorado eu pesquisei os impactos de sessões de videogame ativo sobre a imunidade de crianças com câncer. Então surgiu a necessidade de mudar de pesquisa, o que foi uma grande oportunidade, apesar do carinho pelo tema anterior. A corporeidade sempre foi um objeto de grande curiosidade e interesse para mim, meu mestrado envolveu ‘teatro, corpo e imaginário’, e sempre fui muito atraído por estas questões, em especial pela forma como as pessoas constroem sua noção de corpo, beleza e identidade. Foi uma decisão muito acertada, pois o estudo deixa como contribuição para a comunidade a disponibilização gratuita das versões digitais de ambos os instrumentos de avaliação da imagem corporal, um perceptual e outro atitudinal, com manuais e tutoriais, já para o ano que vem. Estes recursos poderão ser utilizados por escolas de todo o país e por todos os profissionais que trabalham e/ou estudam esta área.

EnCena – Em que pé se encontram os estudos relacionados à percepção e também satisfação das pessoas em relação a seus próprios corpos?

Pierre Brandão – Embora os estudos sobre corporeidade e imagem corporal tinham origem no início dos anos de 1900, aqui no Brasil esta questão só recebeu destaque nos últimos 30 anos. Ainda temos muitos e grandes desafios, pois muitos estudos ainda utilizam instrumentos sem validação para a população brasileira, o que compromete a confiabilidade dos resultados encontrados. Além disto, crianças e adolescentes tem sido um público pouco estudado e gestões de gênero tem sido pouco abordada ou mesmo ignorada, especialmente na construção de instrumentos de avaliação. Por fim, enfrenta-se a barreira de implementar uma interdisciplinaridade efetiva, que é fundamental para estes tipos de estudos, e da notória predileção dos pesquisadores por estudos sobre satisfação corporal em detrimento da percepção. Mas é necessário compreender que a satisfação está diretamente e indissociavelmente ligada a percepção corporal, que tem sido negligenciada.

EnCena – Quais os seus próximos desafios?

Pierre Brandão –No momento estou empenhado em fortalecer as atividades do ‘grupo de estudos e pesquisas em tecnologia, saúde e qualidade de vida (GEPETS)’ e a atuação interdisciplinar deste. Especificamente sobre as ferramentas e estudos sobre corporeidade, além de pequenos ajustes nas ferramentas já construídas, o maior desafio será a criação de um novo instrumento, com uma tecnologia mais acessível e que inclua de maneira natural e efetiva as questões de gênero, da identidade à expressão, e que possa ser utilizado não apenas com crianças e adolescentes, mas também com adultos e idosos.

Foto: arquivo pessoal.
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CAOS: Bullying e Imagem corporal na infância é tema de apresentação

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Dos 30 alunos, de 9 a 13 anos, 66,7% relatam estar envolvidos em práticas de bullying

O Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – Caos, trouxe nesta quarta, 23/08, a discussão sobre “Bullying e Imagem Coporal na infância”, tema apresentado no Psicologia em Debate, pela psicóloga Michelle Sales Zukowiski, resultado de seu Trabalho de Conclusão de Curso.

A partir da construção do seu referencial teórico, Zukowiski afirma que o bullying é um fenômeno de longa data, um comportamento agressivo, recorrente e de relações interpessoais de poder. Portanto, sempre possui o agressor e a vítima, e em alguns casos também abarca observadores. Desse modo, pode ser considerado um assédio moral.

O bullying pode ser direto ou indireto. O primeiro é comum entre meninos e caracteriza-se por agressão física; danos materiais; agressão verbal.  Enquanto que o segundo é relacional ou social, isto é, tem como peculiaridade a exclusão social e fofocas ou rumores desagradáveis; sendo comumente exercido pelas meninas. Assim, paralelo ao objetivo do trabalho, Michele apontou como a construção dos papeis sociais também afeta qual de tipo de violência, no caso bullying, que cada gênero tende a fazer.

Fonte: https://goo.gl/vRdHn6

Enquanto isso, a imagem corporal é a representação do corpo na mente de forma figurativa (SHILDER, 1980). E se forma a partir da interação da fisiologia, contendo aspectos neurais, emocionais e fatores sociais (BARROS, 2005). Nessa conjuntura, com base na conceitualização dos temas já se torna explícita a correlação entre eles.

A pesquisa teve como objetivo relacionar bullying e imagem corporal em 30 crianças de 9 a 13 anos, isto é, na fase da pré-adolescência, de uma escola particular da capital tocantinense. No que tange a metodologia, foram utilizados cinco instrumentos: questionário para estudo da violência entre pares; Escala de autoestima de Rosemberg; Image Make Procedure – IMP; Escala de silhuetas; e os dados antropométricos, estes fornecidos pela equipe de educação física.

Na análise dos dados o resultado encontrado foi de que 67% dos alunos da pesquisa estavam envolvidos de alguma forma com bullying. Nisso, elaborou-se uma tabela de teor comparativo contendo os resultados dos instrumentos utilizados pela pesquisadora e o que cada um avalia. Por conseguinte, evidenciou-se que os resultados de 100% a mais e 50% a menos que o esperado no percentual de gordura corporal são condizentes com o referencial teórico levantado, no qual a vítima torna-se vítima por possui uma característica inegável.

Fonte: https://goo.gl/1myufW

Nesse contexto, foi proposta uma intervenção nesse ambiente escolar como a capacitação dos professores para identificar e lidar com o fenômeno, conscientização dessas estudantes e acompanhamento psicológico com os envolvidos em bullying. Devido a troca do orientador pedagógico, do ambiente escolar pesquisado, essa intervenção ainda está em trâmite para ser realizada. Além disso, no momento aberto às perguntas, os congressistas levantaram a importância de proporcionar um feedback aos pais, sugestão concordada pela psicóloga.

Destarte, conclui-se que o bullying é um fenômeno biopsicossocial que está relacionado amplamente relacionado com a imagem corporal, como a autoestima e a aparência. Em vista disso, tal pesquisa pode ser considerada de grande relevância social, pois além de auxiliar na identificação dessa relação entre os dois temas onde há escassez de publicação sobre, também é um incentivo à pesquisa quantitativa para os acadêmicos do curso de psicologia.

Psicologia em Debate:

Psicologia em Debate é um espaço permanente para apresentação de trabalho de pesquisa e extensão, TCC, entre outros, dos acadêmicos ou egressos do Curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, dando oportunidade de divulgação das atividades desenvolvidas no curso. Entre os objetivos do projeto está a instrumentalização dos alunos e o estímulo para que mais acadêmicos se envolvam em atividades científicas.

O evento acontece desde fevereiro de 2016 sempre às quartas-feiras, na sala 203, prédio da Psicologia, bloco 2. A atividade é aberta ao público, gratuita, e vale horas complementares.

Por que Caos?

A subversão de conceitos aparentemente fechados é uma das marcas das mentes mais invejáveis de todos os tempos. E pensar de forma subversiva é também quebrar com a linearidade das considerações pré-concebidas. Assim, resignificar e despir as “verdades” são a tônica de toda a produção científica, de toda a produção de saberes. Caso contrário, não se estaria produzindo ciência, mas, antes, dogmas.

A palavra CAOS, neste contexto, ganha especial sentido, já que remete à possibilidade do princípio da impermanência e da criatividade. A Física diz que é do princípio do CAOS que surge parte dos fenômenos imprevisíveis, cuja beleza se materializa na vida que se desnuda a todo instante.

É neste sentido que, também, para a Psicologia, o CAOS possibilita pensar sobre uma maneira de enxergar o Ser para além de rótulos ou de concepções a priori. Este microcosmo humano que é objeto de escrutínio do profissional de Psicologia guarda uma gama de imprevisibilidade e de originalidade que representam a própria riqueza da existência. Afinal, pelo CAOS podem-se iniciar intensos processos de mudanças, autossuperações e singularidades. É pelo princípio do imprevisível e do radicalmente distinto que se vislumbra a beleza da diferença. Estas são, em súmula, as bandeiras da Psicologia, área da ciência calcada essencialmente no Humanismo, que busca elevar a condição humana em toda a sua excentricidade, sem amarras, sem julgamentos. Esse é o princípio do CAOS, o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia do Ceulp/Ulbra.

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CAOS: Bullying na infância é tema do Psicologia em Debate

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Pesquisa realizada em escola particular de Palmas aponta que 66,7% dos alunos de 9 a 13 anos relatam estar envolvidos em práticas de Bullying. Debate propõe fomentar interesse sobre o assunto.

Bullying e imagem corporal na infância,será o tema da 30ª edição do “Psicologia em Debate” apresentado pela Psicóloga Michelle Sales Zukowski no dia 23 de agosto, durante do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS), que acontecerá de 21 a 25 de agosto, no Ceulp/Ulbra.

Segundo Michelle, que é egressa do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, o objetivo do debate é provocar interesse quanto ao tema, que ainda possui uma carência de pesquisas a respeito, de modo que se compreenda os “impactos que o Bullying pode ter na vida do ser humano”, pondera.

A Psicóloga pretende apresentar o resultado de sua pesquisa realizada em uma escola privada da capital, que analisou os impactos do Bullying a partir de aspectos como percepção de imagem corporal, percentual de gordura, satisfação corporal e autoestima das crianças.

Em 2016 o IBGE divulgou os resultados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), na qual foi possível constatar que 46,6% dos alunos já sofreram algum tipo de bullying na escola. Outro apontamento foi que 7,4% declararam que são humilhados com frequência. Aparência do corpo foi um dos principais motivos das agressões (15,6%), seguida pela aparência do rosto (10,9%).

Por que Caos?

A subversão de conceitos aparentemente fechados é uma das marcas das mentes mais invejáveis de todos os tempos. E pensar de forma subversiva é também quebrar com a linearidade das considerações pré-concebidas. Assim, ressignificar e despir as “verdades” são a tônica de toda a produção científica, de toda a produção de saberes. Caso contrário, não se estaria produzindo ciência, mas, antes, dogmas.

A palavra CAOS, neste contexto, ganha especial sentido, já que remete à possibilidade do princípio da impermanência e da criatividade. A Física diz que é do princípio do CAOS que surge parte dos fenômenos imprevisíveis, cuja beleza se materializa na vida que se desnuda a todo instante.

É neste sentido que, também, para a Psicologia, o CAOS possibilita pensar sobre uma maneira de enxergar o Ser para além de rótulos ou de concepções a priori. Este microcosmo humano que é objeto de escrutínio do profissional de Psicologia guarda uma gama de imprevisibilidade e de originalidade que representam a própria riqueza da existência. Afinal, pelo CAOS pode-se iniciar intensos processos de mudanças, auto superações e singularidades. É pelo princípio do imprevisível e do radicalmente distinto que se vislumbra a beleza da diferença. Estas são, em súmula, as bandeiras da Psicologia, área da ciência calcada essencialmente no Humanismo, que busca elevar a condição humana em toda a sua excentricidade, sem amarras, sem julgamentos. Esse é o princípio do CAOS, o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia do Ceulp/Ulbra.

Serviço:

O que: Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS
Quando: 21 a 25 de agosto de 2017
Onde: Auditório Central do Ceulp/Ulbra
Realização: Curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra

Apoio: Conselho Regional de Psicologia – CRP-23, Prefeitura de Palmas, Jornal O Girassol, Psicotestes, GM Turismo, Coordenação de Extensão do Ceulp/Ulbra, Coordenação de Pesquisa do Ceulp/Ulbra.

Mais informações:

Coordenação de Psicologia: Irenides Teixeira (63) 99994.3446
Assessoria do Ceulp/Ulbra: 3219 8029/ 3219 8100

Inscrições: http://ulbra-to.br/caos/

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Galveston: a vida após o diagnóstico do câncer

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Galveston foi o primeiro romance de Nic Pizzolatto publicado pela editora Intrínseca em 2015. A história gira em torno de um matador de aluguel com câncer terminal e nas implicações em sua vida após o diagnóstico e no encontro com uma garota no local em que foi enviado para morrer.

Roy Cady recebe a notícia sobre seus pulmões de forma paralisante; mal termina de ouvir o médico e se retira do consultório. Este é um momento de reavaliação de sua vida, mas só o que consegue pensar no momento é nos seus relacionamentos fracassados e em vista disso fumar um cigarro ali mesmo, afinal de contas, não tinha mais nada a perder. Seu chefe, Stan, o envia para uma missão e orienta ele e o seu colega a não levarem armas. Stan namora Carmen, que já havia se relacionado com Roy e com seu parceiro, isto é, Roy encara a situação como um problema pessoal de Stan.

Roy é um homem escrupuloso, mas preso à situações do passado pelas quais teve de abrir mão de pessoas importantes em sua vida. Um pai morto, mãe suicida, vida num orfanato. Tais lembranças o permeiam constantemente, como um lembrete da pessoa que é e porque faz o que faz. Parado fora do escritório, Roy ruminava sobre tais questões e começa a orientar seus pensamentos de forma diferente daqueles que tinha antes de saber da doença. Segundo Helman (2003), citado por Silva (2005, p. 141), temos que:

(…) a revelação do diagnóstico de câncer gera reformulações e mudanças nesta nova fase de sua vida. Essas mudanças (…) são tentativas de enfrentar as novas circunstâncias e de tentar se adaptar a elas. Nestas mudanças, os pressupostos básicos das pessoas sobre o seu mundo são quebrados mediante a interferência do diagnóstico de câncer, assim deixam de contar com um mundo certo e se redirecionam dentro desta nova perspectiva de vida. (grifo nosso)

Em vista da mudança de alguns hábitos para uma vida mais saudável após o diagnóstico da doença, Roy toma o caminho oposto e começa a abusar do álcool e do cigarro. Não tem família nem amigos que forneçam apoio nesse momento e isso o leva à um estado de resignação. Por outro lado, mesmo negando a vida, ele passa a olhar o outro de forma diferente.

É sob a imagem desse “outro” que Rocky surge: enviado para missão, Roy e seu parceiro são surpreendidos numa emboscada onde matadores altamente treinados o aguardam, e naquela cena, como um plano de fundo, uma garota no canto da sala assiste tudo, Rocky. Mesmo sabendo que iria morrer pela doença, Roy utiliza de todas as suas forças e experiência para sair vivo e todos aqueles que o queriam morto, morreram. Roy não sabe muito bem o que fazer com aquela garota, mas sabe que não pode deixá-la ali; ela vira seu rosto. E então, sem estabelecer um plano concreto, eles vão para fora da cidade, percorrendo no caminho bares soturnos e discretos, em direção à Galveston.

Rocky é uma prostituta de 18 anos que estava naquela casa fornecendo serviços quando foi surpreendida. Seu histórico de vida é perturbador e ela vive na constante insegurança sobre se Roy a abandonará, ainda mais naquele momento, em que tirou sua irmã mais nova da casa de seu padrasto sórdido. Do outro lado, Roy pondera se ficará com as meninas, tentando lidar com o dualismo de se sentir atraído por Rocky e pela vontade de ir embora.

Algumas mudanças se configuram na vida de um paciente oncológico, uma delas é a mudança corporal. Sob esse aspecto, temos que, “o câncer produz a modificação da imagem e ameaça a identidade corporal e  a  própria  existência  do  indivíduo.” (SILVA, 2005, p. 137). Roy começa a emagrecer, seu cabelo começa a cair. Para muitos, o cabelo é um sinal de virilidade, e nos homens os efeitos são mais específicos no que tange ao medo de serem estigmatizados (GRAY et al,. 2000; HELMAN, 2003). A respeito disso, Roy refletia: “Confrontei meu rosto. Meu reflexo sempre fora o que eu sabia que seria e nunca exatamente o que eu esperava, mas desta vez foi brutal (…) parecia que meu verdadeiro rosto sempre permanecera oculto, que havia dentro de mim outro rosto, com características mais puras e elegantes (…)” (p. 91, com modificações).

“Você está aqui porque isto aqui é um lugar. Cães ficam ofegantes nas ruas. A cerveja não continua gelada por muito tempo. A última música nova que você gostou saiu há muito, muito tempo, e o rádio nunca mais a tocou.” (p.93).

Roy tem de lidar com sua imagem que se modifica continuamente, ainda mais por não recorrer ao tratamento e por abusar de substâncias químicas. Nesse aspecto, parece se desenvolver uma clareza sobre a efemeridade da vida. Ele vai para Galveston no entendimento de que precisa eliminar todos os seus rastros e de alguma forma dar um rumo à vida daquelas meninas, mas sente o peso de estar fora da vida que vivia, de não ter laços com alguém e da ironia de ainda estar vivo.

Inicialmente, ele evita conversar com Rocky sobre sua doença e lhe persegue a sensação de falta de algo, “alguma coisa difícil de definir, mas notável pela sua ausência” (p.99). É possível que esse sentimento seja dado pela falta de vínculos afetivos, tão importantes nesse momento para o processo de enfrentamento da doença. Quando finalmente ele conta sobre sua vida à Rocky, sente que traiu a si mesmo, isto é, estava tão habituado a não compartilhar suas experiências pessoais com outra pessoa que quando o faz sente tamanho estranhamento.

Com o tempo, a sua aparente resignação toma outra forma. É descoberto no estar vivo e poder fazer os outros bem um prazer que desconhecia. A percepção sobre sua personalidade agora lhe parece uma mentira que sustentara por anos, mas que não tinha mais motivos para manter.

“O que acontece de fato é que o passado coagula como uma catarata ou uma casca, uma casca de lembranças sobre seus olhos. E, um dia, a luz a atravessa” (p. 228).

O livro é intercalado entre presente e futuro, geralmente pela visão de Roy, numa escrita em primeira pessoa. A respeito da percepção de outros leitores sobre o ar carregado e sombrio da história, experimentei a sensação de liberdade e contentamento naquelas descrições sobre os campos de algodão que Roy tinha de ir todas as manhãs, sobre o céu negro, as trilhas pantanosas, as lutas, a vida e a morte. A escrita de Nic Pizzolatto é poética, envolvente, muito bem estruturada e detalhista, de tal forma que nos inserimos completamente nos traumas e vivências dos personagens. Por fim, uma obra apurada e um tanto perturbadora.

FICHA TÉCNICA:

GALVESTON

Título Original: Galveston
Autor: Nic Pizzolatto
Tradução: Alexandre Raposo
Editora: Intrínseca
Páginas: 240
Ano: 2015

REFERÊNCIAS:

GRAY, R. E. et al. To tell or not to tell: patterns of disclosure among men with prostate cancer. Psycho-Oncology, Chichester, v. 9, n. 4, p. 273-282, aug. 2000.

SILVA, V. C. E. O impacto da revelação do diagnóstico de câncer na percepção dos pacientes. 2005. 218 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005. Acesso em: 10 de fev. 2017. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-11052005-112949/pt-br.php>.

 

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