A fixação de Logos e Eros e suas consequências na contemporaneidade

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Matheus Vale Campagnac

 

Carl Gustav Jung foi um psiquiatra suíço que fez uma grande contribuição para a ciência da psicologia com os construtos de sua teoria. Sua maior conquista fora a descoberta da existência de uma instância psíquica mais profunda que o inconsciente proposto por Sigmund Freud, o inconsciente coletivo. Para Jung, o inconsciente coletivo é todo o conteúdo herdado filogeneticamente e que é culturalmente passado de geração em geração.

Retoma ainda, elencando conteúdos presentes dentro do inconsciente coletivo que são denominados de arquétipos, padrões mentais instintivos que representam toda a multiplicidade de ações humanas já reproduzidas anteriormente à vida daquele indivíduo. Jung complementa que os arquétipos são representados por imagens que se materializam em conteúdos oníricos, fantasias e também por meio de um mergulho dentro dessa instância psíquica mais profunda.

Existe um arquétipo para diferentes ações humanas inconscientes, e esta multiplicidade é fruto de tudo que já fora reproduzido inexoravelmente em todas as gerações e eras anteriores ao surgimento do indivíduo contemporâneo. Nesse sentido, arquétipos são metáforas que representam sentimentos, ações e imagens específicas. Jung reafirma que como existem milhares de arquétipos, eles precisam ser pesquisados, analisados e descobertos por estudiosos focados no tema. Contudo, ele contribuiu com a descoberta de arquétipos perceptíveis na sociedade de maneira geral, e que embasam os conteúdos de sua teoria.

Inicialmente Jung descobre a existência de arquétipos básicos à natureza humana, tais como a Persona, Anima, Animus, a Sombra, o Ego, o Self, Logos e Eros, dentre outros. A Descoberta de Jung sobre os arquétipos de Logos e Eros, iluminou uma perspectiva revolucionária e na contemporaneidade gera reflexões incríveis sobre como o conceito do que socialmente é definido como papel de gênero, é incongruente e incorreto.

Foto: PixaBay

Atualmente é perceptível a ideia de que a mulher e o homem possuem papéis pré-definidos e que precisam seguir cegamente as regras propostas pela sociedade e caso as contrariem, são rejeitados pela mesma e vítimas de constantes preconceitos e embates. Essa perspectiva redutiva, determinista e autoritária pregada a séculos é errônea e gera consequências desastrosas na atualidade. A contribuição de Jung enfrenta completamente essas perspectivas e explica sobre as consequências caso a sociedade permaneça nessa centralização dos papeis delimitados para cada gênero.

            Os arquétipos de Logos e Eros representam esquemas presentes em todos os seres humanos, todos os indivíduos possuem essa dualidade dentro de si. O arquétipo de Eros é uma metáfora relacionada a um padrão comportamental afetivo e emocional, já o arquétipo de Logos é voltado para um comportamento mais reflexivo, analítico e lógico. Na sociedade contemporânea, compreende-se que existe uma criação voltada a perspectiva de papéis de gênero e fixação de ambos os arquétipos em determinados gêneros.

Na mulher, observa-se que desde os primórdios da civilização ocidental, e até a contemporaneidade, são estimuladas em sua criação a seguirem cegamente esses papeis afetivos, nutritivos, emocionais e pouco focados em sua parte mais lógica, analítica. Isso não significa que o arquétipo de Logos não esteja presente, contudo, está inconsciente e é pouco estimulado, essa falta de atenção voltada a uma parte da psique, também gera sofrimento. Em contrapartida, homens são estimulados a serem pouco emocionais, afetivos e mais lógicos, racionais, frios.

            Esse delineamento enraizado de papéis gera sofrimento para ambas as partes, pois a psique precisa manter um equilíbrio entre todas as suas funções psíquicas, arquétipos e complexos. A falsa sensação da existência de papéis de gênero é milenar e desde sua elucidação leva indivíduos a negarem partes importantes de si, o que influenciou e corrobora para desastres, guerras, preconceitos.

            Portanto, compreende-se que o objetivo primordial para que ocorra uma mudança de cenário, seria conscientizar os indivíduos desses padrões inconscientes sociais que o impedem de exercer a si mesmo, com clareza e sinceridade, promovendo assim uma sociedade mais livre e forte para lidar com seus conflitos psíquicos internos. Nesse sentido, a maior conquista seria fazer com que a sociedade se ilumine nessa perspectiva da não existência de papéis, e que no final todos podem exercer qualquer tipo de ação, independente de gênero e cor.

 

 

 

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Chico Xavier e a Data limite: O que a psicologia diz sobre as profecias?

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A capacidade de profetizar é algo que chama atenção desde os povos antigos até os mais modernos; existem diversos fatores psicológicos que influenciam o fenômeno, de forma inconsciente.

Em 1971 Chico Xavier, em uma entrevista para o programa Pinga Fogo da TV Tupi, afirmou que o dia 20 de julho de 2019 seria uma data limite para a humanidade passar por uma grande mudança. Segundo ele, quando o homem pisou na lua em 20 de julho de 1969, algumas entidades do mundo espiritual se reuniram e deram um prazo de 50 anos para a humanidade, e caso ela não se destruísse em uma terceira guerra mundial, alcançaria uma nova era.

Dessa forma, essa nova era segundo Pozati (um dos autores do livro Data limite – Segundo Chico Xavier) se trata de um processo de transição planetária que nos convoca a uma conexão com novas energias para que possamos descobrir nosso papel nesse mundo. O autor defende a teoria apontando para outras que se cumpriram, como encontrar água na lua.

Assim, esse assunto tem sido comentado na internet nos últimos dias, fazendo com que muitas pessoas começassem a relatar algum tipo de sensação física ou experiência sensorial. A notícia de que seres extraterrestres estariam agora autorizados a vir para Terra e fazer um contato direto, uma recomendação de não ficar acordado na madrugada do último dia 20 e uma comoção de muitos que acreditam fielmente nesse evento, ficaram evidente nas redes sociais, principalmente no Twitter.

Segundo Alvarenga (1996-2006), em seu livro O segredo das profecias, este fenômeno está além da lógica, indo para uma dimensão simbólica que ganha contornos arquetípicos – imagens primordiais – e estão contidos no inconsciente coletivo. Neste sentido, o temor do homem diante do desconhecido faz com que ele busque por alguma previsão que possa amenizar essa angústia. Na Psicologia Analítica, o desconhecido é o que não está na linha do consciente. Então ao se aprofundar no mar de informações guardadas no inconsciente, o ser humano paulatinamente diminui o medo e passa a viver de modo mais autêntico. O medo dos fenômenos naturais – como contato com eventuais civilizações extraterrestres – ocorre predominantemente em estruturas psicológicas ainda em estado de participação mística (estado de indiferenciação entre o eu e o outro, com ressalvas sobre os fenômenos naturais).

Fonte: encurtador.com.br/bvwW6

Jung, após estudar o livro I Ching, escreveu juntamente com o físico Wolfgang Pauli, o livro Sincronicidade: Princípio de Conexão A-Causal, onde procuraram explicar as coincidências em geral, como também os motivos pelos quais o livro I Ching poderia funcionar. De modo geral, sincronicidade foi um conceito desenvolvido pelo autor para se referir a quando uma construção/percepção interna de um indivíduo está de acordo com o fenômeno externo natural que se revela.

Então a capacidade de profetizar é algo que chama atenção desde os povos antigos até os mais modernos, mas que existem também diversos fatores psicológicos que influenciam este processo de forma inconsciente. Os relatos das experiências de usuários na internet é a prova de que existe uma identificação não apenas da pessoa com a profecia, mas também entre as pessoas que acabam por compartilhar sentimentos e sensações parecidas. Em relação aos estados alterados de consciência que Chico Xavier experimentava, a Psicologia Transpessoal vem estudando e contribuindo para uma compreensão maior.

Stanislav Grof (1978), um dos principais autores da Psicologia Transpessoal, fala sobre como esse fenômeno ocorre. Existe um rompimento e expansão da nossa mente sobre os limites do espaço-tempo onde é possível perceber fenômenos que vão além dos conhecidos, podendo vir de vidas passadas, sendo capaz de ocorrer uma identificação ou fusão com outro indivíduo, o que o autor chama de união dual. Assim também podendo ocorrer uma fusão coletiva, como por exemplo, com todas as pessoas de determinada religião ou crença, animais, plantas, planeta e todo o universo.

Fonte: encurtador.com.br/mrDM0

Jung (1978) aponta que a ligação com essa imagem de divindade, através da religião ou de profecias, vem de um contato indireto com o Self, que é o princípio que regula a personalidade e que reflete a potencialidade desse indivíduo, e dessa forma proporciona encontros e sonhos que o levam a encontrar um significado para a vida.

A idéia do texto não é dizer que tal fenômeno é de fator apenas psicológico, mas que existe uma contribuição para que isso se reverbere com tamanha proporção. Assim como em várias crenças, as profecias estão presentes, existindo uma relevância das mesmas na construção do coletivo e da subjetividade, podendo nesse sentido promover saúde mental.

REFERÊNCIAS:

ALVARENGA, Luiz Gonzaga de. O segredo das profecias. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/segredoprofecias.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2019.

GROF, Stanislav. Variedades das experiências transpessoais: observações da psicoterapia com LSD. in. WEILL, Pierre (org.) Experiência cósmica e psicose. vol 5 / IV Pequeno tratado de psicologia transpessoal. Rio de Janeiro, Vozes, 1978.

JUNG, C. G. Psicologia e Religião. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1978.

POZATI, Juliano; CASAGRANDE, Rebeca. Data Limite – Segundo Chico Xavier. Citadel, 2015.

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Capitã Marvel em uma interpretação Junguiana

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A “inteligência suprema” age como o Self, que dentro da perspectiva de Carl Gustav Jung é o princípio organizador, que tenta manter o equilíbrio de todos os arquétipos psíquicos.

Capitã Marvel, nossa heroína, chegou aos cinemas quebrando recordes, sendo uma das maiores estreias de um longa-metragem estrelado por uma mulher. Os motivos para tanto sucesso são inúmeros, mas algo que não se pode negar, é o grande link que a história faz as bases teóricas junguianas. O enredo é trabalhado em função de uma condição psíquica da personagem, ao passo que ela vai desvendando os símbolos de sua mente tudo é explicado, e por fim, ela se torna uma das maiores forças do universo. As façanhas de sua subjetividade fazem dela grandes o suficiente (Atenção, alerta de spoiler).

Em primeira mão o mundo em que Danvers se encontra é a Hala, onde é treinada, preparando-se fisicamente e psicologicamente para a guerra marciana que acomete o espaço. As pessoas com quem convive são os Kress, a quem acredita fazer parte. Algo sempre dito a ela em seus treinos, pelo Yon-Rogg, é que seu descontrole emocional e raiva só serviam para seus inimigos. Mas algo que também lhe fazia mal, era não se deixar livre para sentir, isso fazia com que fosse facilmente controlada, o que impactava sua subjetividade. Danvers não se recordava de parte de sua vida, abrindo dessa forma, brechas para ser moldada pelos desejos alheios.

Apesar de sua mente ser controlada/vigiada por um chip da sua equipe que impedia a expansão de seu poder, a feição da “inteligência suprema” que lhe aparecia como um sonho ou devaneio, foi criada como estratégia de controle (com quem conversava mentalmente); os traços da mulher que surgia como expressão superior, a remetiam uma grande admiração, e o fato de não conseguir lembrar-se do motivo pelo qual se sente assim a deixava em estado de confusão.

Um dos importantes diálogos do filme deu-se logo no início, com Yon-Rogg, que afirmou que as vezes é melhor não se lembrar de fatos, pois poderia causar sofrimento, respondendo à pergunta de Danvers que não compreendia o simbolismo de seu inconsciente. Yon exprime a ideia do subconsciente, onde se encontra boa parte das experiências que por vezes foram reprimidas pela dor que causam.

Fonte: encurtador.com.br/eDLP1

Entretanto, esses símbolos emotivos de seu passado e a feição afável da mulher, dita como “inteligência”, chegam como um mensageiro da sua Psique, que tenta trazer à tona informações que devem se tornar conscientes, orientando-a ao que precisa ser resolvido. Porem, a não compreensão causou a Danvers angústia, assim como deslocamento, desta forma, esta fase tem grande importância, para que em dado momento ela experimentasse seu auge. A grande sacada do enredo é que por meio da repressão do “chip” (localizado em sua nuca) eles conseguiam acesso à sua mente, controlando-a, tudo isso para obter vantagens a fim de encontrar um dos tesouros que habitavam em suas memórias ainda adormecidas.

A “inteligência suprema” age como o Self, que dentro da perspectiva de Carl Gustav Jung é o princípio organizador, que tenta manter o equilíbrio de todos os arquétipos psíquicos. Observa-se que a inteligência sempre aparece sobre a água, uma analogia a um condutor universal, a representação do Self está ali também para conduzi-la. A água, a bem da verdade, também é uma representação das emoções na Psicologia Analítica. 

O Yon-rogg pode ser comparado ao Ego, que tenta suprimir memórias de sofrimento, buscando estar sobre o controle de todas as rédeas. A única diferença no filme é que ele não faz essa função em busca de proteção, como o Ego, mas sim procurando os interesses próprios. O controle da representação do ego sobre sua mente, demonstra o desequilíbrio dos arquétipos, enquanto os símbolos de sua real memória, vinda do subconsciente, tentam equilibrar a situação.

As recordações de suas memórias não eram vantajosas para os Kress, apenas o acesso restrito a elas seria positivo, para que obtivessem informações valiosas. Sua mente guardava algo de muito valor a todos os envolvidos na guerra.

Fonte: encurtador.com.br/nMTUZ

Os “inimigos” dos Kress eram os Skrulls, que invadiam planetas. Os detestados durante todo o filme na verdade eram os que mais precisavam de ajuda, e os grandes prejudicados. Antes dos Starforce (esquadrão de elite dos Kress) entrarem para o combate contra a invasão dos Skrulls, perguntaram como era vê-los/combatê-los face a face, responderam que era uma sensação terrível, era o mesmo que ver-se diante de si, sendo sua própria imagem seu inimigo. Isso acontecia, pois, essa linha alienígena tinha o poder de transformar-se em qualquer imagem, inclusive na aparência de seus combatentes.

Numa analogia psicológica, essa situação se refere a Sombra, que segundo Jung é a parte obscura da nossa mente, a parte mais feroz da personalidade, a qual não aceita regras ou juízo de valor. Quando muito reprimida esse arquétipo pode voltar-se contra a própria pessoa, ou seja, sendo o inimigo da sua própria imagem e/ou indivíduo.

Durante a batalha os Skruss acabaram conseguindo levar Danvers para sua nave, e nela utilizaram de uma máquina que dava acesso a sua mente. Estavam à procura das informações da médica Wendy Lawson; entretanto, ainda não se sabia o motivo disso. Conseguiram todas as memórias a nível consciente, porém, com o seu poder conseguiu se desprender da emboscada, e em meio a fuga acabou quebrando parte da nave, e todos tiveram de fugir por conta da pressão do espaço. Danvers escapou pegando uma nave defeituosa, e acabou caindo no planeta C-53 (referente ao planeta terra), que na verdade é sua terra natal, pelo qual foi raptada por Yon há 6 anos atrás, e por causa desse incidente estava mais próxima de se redescobrir.

Durante o tempo, Danvers claramente chamava atenção da polícia, pois além de não se vestir como uma mundana, ela caiu sobre a terra. Quem se aproximou dela foi Nick Fury, um policial a quem se torna amiga e aliada, que a ajudou na descoberta de sua própria identidade. Depois de algum tempo de investigação, eles descobrem que ela foi uma piloto da força aérea americana, que havia morrido em 1989 enquanto testava o motor da nave da Dr. Wendy Lawson, que também morre no incidente. A partir disso, e da correlação de datas, descobre-se que na verdade ela é humana.

Fonte: encurtador.com.br/kqsG5

Danvers e Nick cruzam os EUA para encontrar com a ex-piloto Maria Rambeau, a quem foi grande amiga e confidente, e assim descobre seu real nome que na verdade é Carol Danvers, anteriormente ela só era chamada de ‘Vears’ pelos Kress, pois é o nome que sobrou de seu colar depois que sofreu o acidente aéreo.

Em seguimento, os Skrulls invadem a casa de Maria, mas dessa vez, pedem que ela os ouça. Aceitando o pedido, eles relatam que durante todo esse tempo, só queriam encontrar um lar, pois seu mundo foi destruído, e eles encontravam-se desesperados em busca de ajuda. Além disso, revelam também que na verdade a Dr. Wendy não era humana (seu verdadeiro nome é Mar-Vell); ela era uma alienígena que estava buscando ajudar os Skrulls, por conta disso a Dra. montou um Tesseract (cubo cósmico) que permitiria que naves viajassem na velocidade da luz, acabando dessa forma com a guerra entre Kress e Skrulls, pois eles finalmente conseguiriam encontrar um local para viver.

Danvers descobre como adquiriu seus poderes; depois que Yon-Rogg atira em Mar-Vell, ela não consegue destruir sua criação (o Tesseract), e Danvers o destrói, e acaba absorvendo a energia dele, adquirindo assim os poderes da máquina, e pelo impacto, ela perde sua memória. Ao descobrir seu passado, finalmente entende o que eram os símbolos de sua mente. Por conseguinte, destruiu o “chip” que suprimia seus poderes, e finalmente restaurou o equilíbrio tanto de sua mente quanto do universo.

Assim como nos momentos de crise, e nas supressões psíquicas, a Sombra se volta contra nós mesmos, o Ego admite que não pode ter controle sobre a situação (da mesma maneira que Yon-Rogg quando percebeu a força incombatível de Danvers), e finalmente o Self (referente a Mar-Vell), através dos símbolos inconscientes, consegue restaurar o equilíbrio dos arquétipos. Tudo se restabelece quando ela compreende seu passado, e entende seu Self.

Fonte: encurtador.com.br/nvBLZ

Algo importante a ser lembrado é que no universo MCU (Marvel Cinematic Universe), Capitã Marvel é o vigésimo filme, sendo o primeiro a ter uma protagonista mulher. Durante todas as cenas, diferente da maioria das figuras heroínas, Marvel não aparece com roupas super decotadas ou marcadas, seu corpo ou suas relações amorosas não são “A trama” ou temática principal; na verdade, suas descobertas como indivíduo e o alcance de suas habilidades são surpreendentes, o ponto-chave que permeia o filme.

Seus trejeitos e a forma como se posiciona, demonstram um grande empoderamento, possibilitando a abertura de um novo contexto cinematográfico no mundo das heroínas, que não precisam estar acompanhadas de um homem para serem incríveis, ela por si só é uma grande protagonista, considerada uma das mais poderosas, dentro todos, no universo Marvel. Isso provoca grande representatividade para as meninas e mulheres que assistiram ao filme, que puderam ver uma longa que condiz com a força feminina, não mais precisando se vestirem de um herói masculino para se sentirem fortes e poderosas. Capitã Marvel nos deu essas possibilidades.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

CAPITÃ MARVEL

Título original:  Captain Marvel
Direção:   Anna Boden, Ryan Fleck
Elenco:  Brie Larson,Samuel L. Jackson,Jude Law
País:  EUA
Ano: 2019
Gênero: Ação, Fantasia, Ficção científica

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Estar sozinho é estar verdadeiramente acompanhado?

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“Eu antes tinha querido ser os outros para conhecer o que não era eu. Entendi então que eu já tinha sido os outros e isso era fácil. Minha experiência maior seria ser o outro dos outros: e o outro dos outros era eu”. Clarice Lispector

Primeiramente é importante frisar a diferença entre Solidão e Solitude. A segunda é estar só, desacompanhado, solitário, remetendo a unidade.  Solidão remete a dor e sofrimento, originada da perda de algo. Em termos psicológicos, a solidão é caracterizada por uma dinâmica afetiva ineficiente, em que resulta em sentimentos de incompletude, necessitando da companhia de outro para o preencher o vazio existencial. Segundo Sri Prem Baba, este vazio existencial não pode ser preenchido por outro, ou por objetos, pois só cabe a pessoa a capacidade de preencher verdadeiramente o seu próprio vazio. ´´Nós temos amor dentro de nós, mas acreditamos que precisamos receber esse amor de alguém.“, declara.

A visão de Baba foi construída no ponto de vista sociológico, em que a solidão é vista como resultado da produção social de um homem egoísta, individualista e narcisista. O homem acha ser o centro do universo, buscando controlar a natureza ao seu favor, assim como manipular o próximo para satisfazer necessidades individuais. Para Baba tal manipulação não é suficiente para suprir a solidão. Tamayo e Pinheiro (1984) compartilham da mesma linha de pensamento, já que consideram a solidão com um modo se relacionar se há uma deficiência de valores e comunicação, existindo a possibilidade de estar acompanhado, mas se sentir só.

Fonte: encurtador.com.br/jvyDN

Através da música Wave, Tom Jobim declara sua opinião de que ´´ é impossível ser feliz sozinho“. Seria a opinião de uma pessoa envenenada com a porção da paixão, que responsabiliza o outro pela própria felicidade? Já para o Psicólogo Domingos Sávio, estar sozinho é sentir-se bem sozinho, ou ao menos tentar, é uma forma de viver a vida buscando conhecer e entender a si próprio. O autoconhecimento pode ser útil na delimitação de barreiras, evitando problemas e buscando sentir a felicidade mesmo dentro de um mar turbulento e arrebatador de emoções.

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

– Verso da música Wave

Paul Tillich, sociólogo, foi o criador da palavra solitude. De acordo o sociólogo ´´A linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho´´. Para Schopenchauer, significa liberdade: “Um homem pode ser ele mesmo apenas se está sozinho; e se ele não ama a solitude, ele não vai amar a liberdade; pois é apenas quando ele está sozinho que pode ser verdadeiramente livre”.

Solitude é considerar-se a melhor companhia de si mesmo. Estar sozinho e sentir-se bem, é uma forma de se potencializar, higieniza a mente e possibilita maior facilidade de homeostase. É uma possibilidade de expandir a consciência e conectar-se consigo mesmo e/ou com o universo. De acordo com a perspectiva existencialista, este momento consigo mesmo facilita uma expansão da consciência, aproximando-se do propósito existencial. Para oferecer o que se tem de melhor, é preciso estar bem consigo mesmo. Oferecemos o que estamos cheios. Se estamos transbordando  confusão, raiva e rancor, influenciamos os outros, já que o inconsciente coletivo é constituído por inconscientes individuais.

Fonte: encurtador.com.br/lmtw9

De acordo com as informações anteriores, seria realmente possível estar sozinho? É na solidão que podemos transformar em céu o inferno que existe dentro de nós, ou seria transformar em inferno o céu que habita em nós? Partindo do viés de que o inconsciente individual se funde ao inconsciente coletivo, resultando em um cosmo, sendo parte de nossas constituições, as opiniões e expectativas de outros, estar sozinho é estar em contato direto como o cosmo? É habitar e ser habitado por diversos constructos que talvez nem seja pessoal, mas de outras pessoas, inclusive com o antepassado e/ou até mesmo o futuro? Estar sozinho seria então estar verdadeiramente acompanhado?

Referências

MANSUR, L. Solitude: virando a solidão pelo avesso. Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31062008000100007 > acessado em 22/08/2018.

SOUZA, F. Diferença entre solitude e solidão – Você conhece a diferença? Disponível em < http://www.psicologiamsn.com/2014/08/diferenca-entre-solitude-e-solidao-voce-conhece-diferenca.html > acessado em 22/08/2018.

FONSECA, A. Descubra o que é solitude e como ela pode te ajudar profissionalmente. Disponível em < http://blog.unipe.br/pos-graduacao/descubra-o-que-e-solitude-e-como-ela-pode-te-ajudar-profissionalmente > acessado em 22/08/2018.

Fãs da Psicanálise. Solitude e solidão – Você conhece a diferença? Disponível em < https://www.fasdapsicanalise.com.br/solitude-e-solidao-voce-conhece-diferenca/ > acessado em 22/08/2018.

JOBIM,T. Wave. Disponível em < https://www.letras.mus.br/tom-jobim/49074/ > acessado em 22/08/2018.

BABA, S. Propósito – A coragem de ser quem somos. Editora: Sextante; Edição: 1ª, 2016.

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A mitologia continua reinando na modernidade

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No nosso tempo, as figuras míticas são encontradas facilmente nas imagens e comportamentos trabalhados pela mídia e pelo cinema

Os estudos arqueológicos, antropológicos e filosóficos estão propiciando que a história antiga da humanidade seja conhecida através dos mitos e imagens simbólicas e, também sua conexão com os tempos atuais.

A Escola de Psicologia Analítica de Carl G. Jung foi quem mais contribuiu para aprofundar o conhecimento e validação destes símbolos (mitos).

Os mitos são uma forma de representação de verdades profundas da mente humana, uma explicação de acontecimentos atuais através de fatos primitivos, os quais permanecem presentes, dando sentido ao cotidiano. Eles estão em todo lugar, tal como num ato religioso, na origem e formação de um povo e nos costumes. Ainda, os mitos fazem-nos pensar sobre a nossa origem como também servem de explicação para alguns acontecimentos.

Fonte: encurtador.com.br/elsS1

Na antiguidade cada civilização possui um conjunto desses símbolos formando suas mitologias, como por exemplo, mitologia grega, mitologia romana, mitologia egípcia, mitologia nórdica, mitologia celta. Muitos desses mitos se repetem nas mitologias, com características semelhantes e nomes diferentes. “A mitologia é o sonhar coletivo dos povos”. (Boechat, 1996, p. 23)

Na história das sociedades antigas o mito reinava sem rival, era tido como verdade. O ser humano contemporâneo, mesmo enredado pela ciência e tecnologia, contribui com as tradições mitológicas e as aceita, sem grandes questionamentos, considerando que fazem parte da criação cultural. As figuras míticas se apresentam como heróis e bandidos, monstros primordiais entre outros.

No nosso tempo, as figuras míticas são encontradas facilmente nas imagens e comportamentos trabalhados pela mídia e pelo cinema. Sendo mais perceptível principalmente na sociedade norte-americana, onde as personagens das histórias em quadrinho representam nos desenhos e diálogos heróis mitológicos e/ou folclóricos, a exemplo do Superman.

Fonte: encurtador.com.br/fluS9

OS MITOS E OS SONHOS

Segundo Jung, embora talvez não consigamos perceber, as vidas seguem os mitos. Inconscientemente reagimos a eles os quais se expressam por meio dos sonhos.

“O indivíduo pode ter a impressão de que seus sonhos são espontâneos e sem conexão. Mas o analista, ao fim de um longo período de observação, consegue constatar uma série de imagens oníricas com estrutura significativa. Se o paciente chegar a compreender o sentido de tudo isto poderá, eventualmente, mudar sua atitude para com a vida.” (Henderson; JosephL; O Homem e seus Símbolos; Carl G. Jung, 1977, 6ª edição, Editora Nova Fronteira)

Em sua obra Jung enfatiza a existência de um “inconsciente coletivo”, isto é a parte da psique que retém e transmite a herança psicológica comum da humanidade.

Esta “herança psicológica” nem sempre é compreendida. É aí a necessidade/utilidade do saber do analista/psicólogo, que deve possuir um conhecimento amplo sobre a origem e os sentidos dos símbolos, para conseguir fazer um link entre os mitos arcaicos e os sonhos dos pacientes. O mito do herói é o mais comum entre as mitologias.

Fonte: encurtador.com.br/fiqrx

Através de resultados de estudos antropológicos conseguimos perceber vários mitos da sociedade contemporânea com paralelo com as sociedades antigas. A exemplo do mito do herói que sofre provocações até alcançar sua finalidade heróica.

Os heróis da indústria cinematográfica da atualidade (Thor, Superman, Homem de Ferro, etc.) se assemelham muito aos heróis das antigas mitologias. Nos mitos os heróis passam por todo tipo de provações e intempéries para, ao final, vencer o monstro.

Para o pensamento junguiano essas provações por que passam os heróis são uma representação da sua morte simbólica para depois renascer, permitindo o contato desse herói com suas fraquezas. Assim, lhe é permitido um maior conhecimento de suas fraquezas e forças, levando-o à maturidade necessária para vencer.

Traçando-se um paralelo entre o mito do herói e do ser humano, este também necessita se autoconhecer para conseguir enfrentar suas lutas diárias da melhor maneira. Conclui-se que o conhecimento dos mitos interessa para que se possa melhor compreender o material arquetípico que deve emergir ao longo de uma análise.

Existem aqueles que procuram e buscam uma resposta, e é por esta razão que temos esta variedade de mitos, que nos auxiliam para termos uma melhor compreensão de nós mesmos. O estudo dos mitos e dos símbolos do inconsciente é, para Jung, a chave que acessa um conhecimento profundo do indivíduo, de modo a possibilitar que o analisando possa trilhar seu caminho de autocompreensão e despertar.

REFERÊNCIAS

BOECHAT, W. (org.). Mitos e Arquétipos do Homem Contemporâneo. Petrópolis, Vozes, 1996.

CRUZ, Marcelo Silvério da. Mitos – Suas origens e sua importância para o homem contemporâneo. disponível em https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwiSpf3Cpf3gAhU7GbkGHR5nDWoQFjAAegQIChAC&url=http%3A%2F%2Fwww.ecsbdefesa.com.br%2Ffts%2FMITOS.pdf&usg=AOvVaw340gCldSZmkAcNPIoHyBx5 . acesso em 09/03/2019.

HENDERSON, J.L. In: O homem e seus símbolos/ Carl G. Jung e M. L. von Franz [et al] Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977. Jung, C. G. Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

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A Chegada: os limites da linguagem moderna

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O filme A Chegada (2016), trata da invasão de alienígenas na Terra e da tentativa de descoberta de uma forma de comunicação com eles. Irei tratar nesse texto a simbólica presente na comunicação e no simbolismo do inconsciente representado pelas naves alienígenas.

O filme inicia com a chegada de 12 naves extraterrestres em 12 pontos do planeta. Não sei dizer se foi a intenção do roteiro, mas faço uma alusão à mandala astrológica, com os 12 signos e as 12 casas. A mandala astrológica é um símbolo da totalidade que une os 4 elementos que constituem a formação do planeta e do ser humano, com 3 modalidades, ou seja, com 3 formas da energia psíquica (ou libido) se orientar.

Sobre as naves alienígenas, Carl Jung (1991) aponta que é um assunto tão problemático que não pôde ser definido em sentido algum com a desejável clareza, embora nesse ínterim se tenha acumulado um vasto arsenal de experiência. Por isso levantou que se trata, devido a sua complexidade, de um acontecimento psíquico também.

Fonte: goo.gl/Za6Fm5

Para Jung (1991), o formato circular das naves alienígenas representa a totalidade. Uma vez que a imagem circular é um símbolo da alma e imagem de Deus:

“Eles são manifestações de impressionante totalidade, cuja simples “circularidade” representa propriamente aquele arquétipo que, conforme a experiência, desempenha o papel principal na unificação de opostos, aparentemente incompatíveis, e que por esse mesmo motivo corresponde, da melhor forma, a uma compensação da dissociação mental da nossa época.”

Ele ordena também situações caóticas e coloca o indivíduo novamente na trilha do seu processo de individuação, proporcionando a personalidade uma totalidade e unidade maiores.

Se analisarmos o filme no sentido coletivo, a simbólica da invasão alienígena representa uma mudança e um despertar para questões da alma e do inconsciente. No nível pessoal, a personagem da linguista, a Dra. Louise Banks, passa por uma transformação profunda e o contato com os extraterrestres a faz compreender o significado do inconsciente.
Ela não somente desvenda os sinais enviados pelos extraterrestres, ela compreende o significado mais profundo de sua vida e o fenômeno da precognição.

Fonte: goo.gl/kSqo28

O inconsciente coletivo, para Jung, é uma camada inata e herdada pela humanidade, portanto é universal. Lá estão os modos de comportamento que são iguais em toda parte e para qualquer indivíduo. É a natureza suprapessoal que existe em todo indivíduo.

Jung (2008) aponta a natureza peculiar do inconsciente coletivo, pois há nele uma qualidade não-espacial e atemporal: “A prova empírica deste fato encontra-se nos chamados fenômenos telepáticos que, no entanto, ainda são negados por um ceticismo exagerado, mas que na realidade ocorrem com muito mais frequência do que em geral se acredita.”

A linguagem simbólica dos extraterrestres também representa a natureza do inconsciente, que se comunica conosco por meio de símbolos. Basta observar os produtos do inconsciente como os sonhos, os mitos, os contos de fadas, a alquimia. Todos eles possuem uma linguagem que não é cartesiana, dirigida e ordenada, mas simbólica e com uma força numinosa tremenda.

O ato e a dificuldade em tentar decifrar a linguagem dos extraterrestres, mostra a dificuldade que o homem moderno, acostumado com a linguagem dirigida da consciência, tem em relação ao que é tido como irracional.
A linguagem simbólica é a base alicerce de nossa civilização e o berço de nova vida. É do símbolo e do ritualístico que surge a nova ciência. A química clássica se originou da alquimia, bem como a astronomia se originou da astrologia.

A personagem principal compreende a mensagem, que transmite o sentido do irracional. Aquilo que Jung denomina Sincronicidade, ou seja, a simultaneidade de dois eventos ocorrendo, tanto no inconsciente quanto na realidade é possível de ser compreendido e aceito, e ocorre no filme.

Fonte: goo.gl/9MCYG1

A mensagem representa a essência do inconsciente. Estamos todos conectados pelo inconsciente coletivo e esse não tem tempo e espaço. Os fenômenos sincronísticos, os sonhos premonitórios, a intuição, também fazem parte da dinâmica psíquica humana.

A representação simbólica do Self e da totalidade pelos OVNIS, trazem para a humanidade a união dos opostos, a coniunctio superior (Edinger, 2006). Que é a meta do processo de individuação, a união daquilo que a principio parece impossível de ser integrado.

Vemos no filme, não somente a união do feminino e masculino, mas também do consciente e do inconsciente, da razão e do irracional. A heroína compreende isso e passa a mensagem a humanidade. Porém, há mais um ponto que quero salientar.
Ela, por meio da interpretação da mensagem simbólica dos extraterrestres – uma analogia ao processo da análise junguiana, que busca a interpretação das mensagens do inconsciente – conhece o seu destino, e sabe que, mesmo com o sofrimento inerente ao processo, deve aceita-lo e o aceita.

Conhecer nosso destino e aceitá-lo, vivê-lo da forma mais plena possível, mesmo sabendo que o sofrimento estará lá nos esperando, não tira a beleza do que a vida pode nos proporcionar. Aceitar a alegria, o amor e a tristeza é o maior ato de heroísmo que podemos ter. A união dos opostos consiste em aceitarmos luz e sombra, alegria e dor. Isso é dizer sim a vida!

REFERÊNCIAS:

EDINGER, E.F. Anatomia da psique: O simbolismo alquímico na psicoterapia. São Paulo, Cultrix: 2006.

JUNG, C.G. A Natureza da Psique. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

JUNG, C.G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

JUNG, C.G. Um mito moderno sobre as coisas vistas no céu. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991.

FICHA TÉCNICA
A CHEGADA

Fonte: goo.gl/6xFsYQ

Diretor:  Denis Villeneuve
Elenco:  Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker
Gênero:  Ficção científica
Ano: 2016

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