Como eu gostaria que Zygmunt Bauman estivesse errado

Compartilhe este conteúdo:

Certa feita me deparei com a obra de Bauman falando sobre a modernidade líquida, à primeira vista, dada a inexperiência crítica, achei pretensiosa demais as afirmações propostas pelo renomado autor.

Com o passar dos anos a ficha foi caindo, fui percebendo que Bauman nunca esteve tão certo quanto nos tempos atuais. O forte consumismo oferecido no capitalismo é um constante comparativo e fonte de inspiração para compreendermos a visão moderna da sociedade.

Antigamente, todo e qualquer produto era feito para durar, construções edificadas ainda nos tempos antigos e que duram até hoje são um grande exemplo disso. Assim como na antiguidade as construções visavam a durabilidade e profundidade dos significados, os relacionamentos sociais e amorosos eram feitos visando a durabilidade e consistência.

Fonte: encurtador.com.br/jorCI

Atualmente, no entanto, com a industrialização na produção de produtos, criou-se a cultura da fácil substituição de um objeto com defeito. Os produtos atualmente são feitos já com uma data de validade pré determinada, instigando o consumidor a adquirir o mesmo produto reiteradas vezes ou realizar a troca por um produto melhor.

Fonte: encurtador.com.br/iyzDW

Não muito diferente do que aconteceu no passado, atualmente as relações sociais estão sendo mantidas desta forma: Alguém te magoou? Pra quê perdoar, exclua esta pessoa da sua vida, é mais fácil. A visão consumista nos relacionamentos tem diluído cada vez mais o significado de amizade, amor, compromisso. 

Muitas vezes os indivíduos já começam uma interação social ou mesmo um relacionamento pensando em seu término ou já desejando comparar com o próximo, como um teste de produto, onde poucos buscam se aprofundar no universo do outro, compreender verdadeiramente algo, focando somente no imediatismo.

Infelizmente, o imediatismo tem guiado a sociedade a buscar incessantemente esta satisfação quase que instantânea dos seus desejos. 

Antigamente, para alguém ser colocado no posto de alguém notório, ou até mesmo ser conhecido publicamente demandava grande esforço e empenho, além de anos de trabalho árduo. Ser famoso outrora custava caro. Hoje, no entanto, um simples vídeo pode se tornar viral e mudar sua vida da noite para o dia, como é o caso do jovem da Luva de Pedreiro.

Fonte: encurtador.com.br/kwJPT

Não é de se estranhar, com isto, que a sociedade tenha perdido sua essência, músicas e obras cinematográficas já não são criadas com o intento de impactar a vida das pessoas, mas sim como produtos que podem arrecadar milhões caso sejam produzidas seguindo uma receita mágica que agrade a grande massa.

É por esta e outras razões que, infelizmente, Bauman sempre esteve completo de razão em suas obras.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt; DONSKIS, Leonidas. Cegueira Moral a perda da sensibilidade na modernidade líquida. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Ed. Zahar. 2021. 

Compartilhe este conteúdo:

Vestimenta, comida, saúde mental e os perigos do “fast-food”

Compartilhe este conteúdo:

Passamos a vida apressados! E como a grande parte do que já é tendência, pegamos dos EUA. Estamos na época do fast-food. Ao pé da letra “acelerado, ligeiro”, um adjetivo para instituir qualquer coisa que seja elaborada de maneira frenética e de custo momentâneo. Há o fast food, o fast fashion, o fast friend e até as fast News — sínteses breves e de assimilação acessível.

A sugestão era incluir, na heterogeneidade da nossa vivência, algo agradável e momentâneo, um espaço e uma pausa. O pensamento não é maléfico, a controvérsia é que a comida rápida virou parte do dia-a-dia. Sustentando a premissa de que não existe nada mais duradouro do que o momentâneo, o fast estabeleceu-se. E os contratempos estão diante dos nossos olhos.

O pioneiro dessa dinâmica foi o fast food. Começou de maneira acanhada. Era meramente uma escolha alimentar para no momento em que não temos tempo de nos alimentar direito. Parou de constituir uma prerrogativa eventual, cresceu-se a frequência, transformou um hábito, o hábito converteu-se agora em cultura e nesta ocasião o que fazer. O total de adultos com excesso de peso no Brasil teve um aumento de 67,8% entre 2006 e 2018.

Fonte: encurtador.com.br/dnvwL

O fast food, ou junk food, produziu um dano similar na cultura que o criou, os EUA. As comidas preparadas de maneiras vertiginosas e manuseadas por conveniência, como sanduíches e pizzas, converteram-se em um subsidio cultural que mudou os costumes — e a saúde — dos indivíduos que moram nos EUA.

A consequência é que as pessoas que moram nos EUA detêm a população de obesos maior do mundo. Não é um contrassenso: uma especifica comida de fast food — sanduíche, refrigerante e batatas fritas — contem cerca de 1500 calorias. Nesta ocasião, literalmente é a quantidade de calorias de necessitaríamos consumir em um dia inteiro. E com um agravante: como é carente em nutrientes, não oferta os nutrientes essenciais que o organismo precisa, prontamente, após de duas horas, a fome retorna.

Uma alimentação salutar, que é igual em calorias, a carência por alimentação só virá depois de cinco horas. Se fosse apenas a obesidade já seria estarrecedor, visto que ela é o acesso para inúmeras doenças. Contudo, com mais intensidade. O fast food tem grande quantidade de gorduras más, açúcar, sal e múltiplos condimentos que podem provocar doenças como diabetes, gastrite, hipertensão, colesterol elevado.

Fonte: encurtador.com.br/uzAMV

E o perigo não está limitado às grades de fast-food, esse perigo está também nos supermercados. Os alimentos processados, refinados e enlatados contemporizam os mesmos danos. Não só no Brasil; no fundamento da globalização, o fast food se deslocou dos EUA e desbravou o mundo. A cifra de crianças obesas no Brasil tem estágios crescentes e até países com hábitos alimentares saudáveis, como a França, também já tem sinais da obesidade. E como se não bastasse, atualmente, surgiu mais um artefato para burlar corações e mentes: o hambúrguer gourmet. As hamburguerias contemporâneas já são um feito pelo mundo e vieram para ficar.

Depois da estrutura física, olhe para a sua vestimenta. comenta-se na socialização da moda. A liquidação é grande. Todos festejam e consomem — mais ou menos que toda semana. Para sustentar o capitalismo girando, os estilistas de moda lançam todo dia novos modelos e eles são elaboradas para não durarem, porque na semana seguinte tem mais modelos.

O engenho da indústria têxtil não pode parar. O conceito da fast fashion são vestimentas Semi descartáveis. Após um mês já podem ser descartadas — ou o modelo não está mais na moda ou o tecido já não aguenta mais lavagens. O produto é que a indústria do vestuário é uma das mais competitivas e agressivas do mundo e as suas malevolências não são limitadas ao bolso de quem consome.

Fonte: encurtador.com.br/hvyMZ
Compartilhe este conteúdo:

Tempos modernos: O sequestro da subjetividade

Compartilhe este conteúdo:

As indústrias almejam o controle sobre o corpo do trabalhador, seu intelecto e seu psiquismo.

Tempos Modernos (1936), dirigido e protagonizado por Charlie Chaplin, é um filme de comédia dramática e romântica. O enredo é uma crítica à modernidade e ao capitalismo exercido pelo modelo de industrialização, no qual o operário é absorvido pelo poder do capital e supliciado por suas idéias insurgentes. Enfatiza a vida no contexto industrial, retratando a linha de produção baseado no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho.

No filme, os operários tentam sobreviver se sujeitando a uma forma de produção mecânica que altera suas condições físicas e psicológicas, cujo pano de fundo é maior lucro para as empresas, independentemente das condições de seus trabalhadores.

Fonte: https://bit.ly/2QZkaZn

O sequestro da subjetividade refere-se à perda da capacidade de ser independente, onde o “sequestrador” determina o que a pessoa faz e a forma do trabalho, retirando sua independência. A empresa mostra isso quando apresenta uma linha de produção automatizada, impondo um ritmo de trabalho não natural, um exemplo clássico foi implantando uma “máquina de comer”, que é um modo de controle psicológico, condicionamento e robotização dos funcionários.

Esse contexto de radical mudança na ambiência funcional vai paulatinamente sendo absorvido, de tal modo que passa a ser aceito como prática comum e legítima no comportamento social.

Fonte: encurtador.com.br/ghiS7

Levando-se em conta os efeitos dessa nova arquitetura funcional, fica patente que afeta a subjetividade dos trabalhadores, causando patologias psíquicas e que se tornam cada vez mais frequentes nos ambientes laborais. É comum em tais casos a ocorrência de situações de ansiedade, síndrome do pânico, fobias, esgotamento profissional, somatizações e outras ocorrências, levando o indivíduo a modificar seus padrões de conduta, a fim de adequar-se à nova ordem estabelecida, causando uma doação forçada.

Na atualidade se observa que as clínicas do trabalho instituem um espaço de fala para o sujeito, ao mesmo tempo em que busca intervir de modo à ressignificar experiências, dar novos sentidos e causar uma reflexão. Essa postura propicia ao trabalhador a percepção da oportunidade de repensar seu meio social, a sensação de ser ouvido pelo outro, que se posiciona como escuta qualificada, construindo assim ressignificância da importância do indivíduo em relação a seu processo de saúde e adoecimento.

Fonte: encurtador.com.br/hqEPZ

Tempos modernos é um filme que faz uma crítica em relação á desigualdade entre as classes sociais. O trabalhador mesmo chegando a exaustão continua a produzir ignorando fatores psicológicos e orgânicos, que consequentemente afetam a sua saúde mental, principalmente. Pode ser visto como uma conjectura ao movimento que ficou famoso como Revolução Industrial, cuja idéia central era substituir o homem pela máquina e estabelecendo o conceito de linha de produção automatizada, um exemplo disto foi a indústria automobilística dos Estados Unidos, onde até se criou um conceito chamado de Fordismo, devido o surgimento das fábricas de carros Ford, que se encontrava em ascensão na época de produção desse filme. Ademais, causa a reflexão que o trabalhador era visto naquela época e até mesmo nos dias atuais pela indústria como mero objeto de uso das máquinas em que o objetivo central visa produzir em grande escala, no menor espaço de tempo e com maior lucro.

 

FICHA TÉCNICA DO FILME:

 

MODERN TIMES

Direção: Charles Chaplin

Elenco: Charles Chaplin

Ano: 1936

Países : Estados Unidos

Gênero: Comédia/ Aventura/ Drama

 

Referência

MENDES, Ana Magnólia. Clínica psicodinâmica do trabalho: o sujeito em ação. / Ana Magnólia Mendes, Luciane Kozicz Reis Araujo. / Curitiba: Juruá, 2012.154p.

Compartilhe este conteúdo: