Os possíveis impactos da “tiktokização” da vida

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O termo foi criado depois da fama do aplicativo TikTok, em que transformou a experiência em redes sociais, mudou comportamentos e traz prejuízos para a qualidade de vida. 

Naiane Ribeiro de Oliveira Silva – naianeribeiro@rede.ulbra.br

A presença das redes sociais no dia a dia não é novidade, visto que tudo anda tão rápido, as “trends” mudam em questão de dias e a utilização das redes cresce praticamente de forma exponencial. Os estudos que envolvem esse tema são muitos e criaram um novo conceito, o de “tiktokização”. Esse termo vem do aplicativo de vídeos TikTok que cultivou sua fama durante a pandemia de covid-19. Por conta das restrições e quarentenas, a população se viu isolada fisicamente e emocionalmente, resultando em formas de escape através das redes sociais (ALCOFORADO, 2021). 

O formato em vídeos de 30 ou 60 segundos se popularizou nas plataformas, transformando conteúdo audiovisual em algo ágil, de baixo custo e com alta taxa de engajamento por parte da audiência, tornando-o mais atraente. A forma como a população consome e compra também mudou quase completamente, se os consumidores estão em redes sociais vendo vídeos, onde estão os vendedores? A resposta é clara: nas redes sociais fazendo e divulgando vídeos.

A forma como o capitalismo e o consumismo se adaptaram a essas mudanças é interessante, segundo Issaaf Karhawi, jornalista e doutora em ciências da computação, o ponto mais importante ao pensar nos vídeos curtos seja a atenção. Um recurso constantemente dividido e disputado. Nas palavras de Karhawi, “diante disso, os conteúdos gerados por marcas e influenciadores digitais disputam a nossa atenção, e o uso de vídeos curtos é uma saída para conseguir alcançar os consumidores, os públicos e a audiência”. (ALUTAYBI, 2020). 

Neste sentido, a TikTokização tem sido observada em várias áreas, como música, dança, humor, moda, desafios virais e até mesmo em memes. O sucesso do TikTok gerou uma nova forma de produção e consumo de conteúdo, influenciando outras plataformas e levando à criação de conteúdos mais curtos, visualmente atraentes e adaptados à atenção rápida dos usuários.

Essas novas formas de vender e consumir se expandem para o dia a dia, em  que consumimos muitos conteúdos e muitas informações durante horas, sem parar. De acordo com uma publicação de 2012 da Revista IstoÉ, a Universidade de Chicago chegou a fazer um estudo relacionando vícios comuns ao vício nas redes sociais. “Os pesquisadores concluíram, para espanto geral, que resistir às tentações do Facebook e do Twitter é mais difícil do que dizer não ao álcool e ao cigarro (LÓES, 2012). 

As redes sociais são projetadas para manter nossa atenção por meio de um fluxo constante de informações e estímulos visuais. Os vídeos curtos, em particular, têm a capacidade de nos prender rapidamente com seu conteúdo envolvente e fácil de consumir. No entanto, esse apelo instantâneo pode levar ao uso excessivo citado anteriormente, resultando em consequências negativas para a qualidade de vida e do sono. 

A sensação de “FOMO” (Fear of Missing Out – medo de perder algo) é comum quando estamos constantemente conectados às redes sociais, temendo perder atualizações importantes ou eventos sociais (ALUTAYBI, 2020). Isso pode levar a uma compulsão por verificar constantemente as notificações e os feeds, mesmo antes de dormir, interferindo na capacidade de relaxar e adormecer adequadamente.

Neste sentido, os fatos associados à FOMO se associação com a) Comparação social: Ao ver os destaques da vida de outras pessoas nas mídias sociais, é fácil comparar-se a elas e sentir que está ficando para trás em termos de realizações, diversão ou sucesso. 2) Curadoria da vida: As pessoas tendem a mostrar os melhores momentos e conquistas em suas postagens nas redes sociais, criando uma versão idealizada de suas vidas. Isso pode levar os outros a acreditar que todos estão constantemente se divertindo e vivendo experiências incríveis, o que pode aumentar o sentimento de FOMO. 3) Conectividade constante: As mídias sociais proporcionam uma conexão quase constante com o mundo ao nosso redor, expondo-nos a eventos e atividades em tempo real. Isso pode gerar ansiedade por não querer perder nada ou por sentir que não está aproveitando ao máximo cada momento (ALUTAYBI, 2020)

A luz do celular interfere no sono
Foto de Andrew Guan na Unsplash

A natureza viciante das redes sociais e dos vídeos curtos também pode levar ao prolongamento do tempo de uso antes de dormir. É fácil cair em um ciclo vicioso de rolagem infinita, assistindo a vídeos um atrás do outro, em detrimento de uma rotina de sono adequada. O resultado é uma privação de sono, que tem efeitos prejudiciais na saúde mental, cognição, humor e funcionamento geral do corpo.

Para manter uma boa qualidade de vida e preservar o sono saudável, é essencial estabelecer limites saudáveis no uso das redes sociais e na visualização de vídeos curtos. É importante definir horários específicos para o uso dessas plataformas, especialmente antes de dormir. Desenvolver uma rotina relaxante antes de dormir, desconectando-se das telas e reservando um tempo para atividades tranquilas, como leitura ou meditação, pode ajudar a promover um sono mais reparador. 

Além disso, é essencial buscar um equilíbrio saudável entre o mundo virtual e o mundo real. Priorizar o tempo de qualidade com amigos e familiares, participar de atividades que nos tragam alegria e satisfação pessoal, e dedicar-se a hobbies e interesses individuais podem melhorar significativamente a qualidade de vida e reduzir a dependência das redes sociais.

Em suma, embora as redes sociais e os vídeos curtos possam trazer muitos benefícios, é importante utilizá-los com moderação e consciência. A qualidade de vida e o sono são afetados pelo uso excessivo dessas plataformas, mas estabelecendo limites saudáveis, buscando um equilíbrio e priorizando o bem-estar físico e emocional, podemos encontrar um meio-termo que nos permita aproveitar as vantagens das redes sociais enquanto preservamos nossa saúde e qualidade de vida (OLIVEIRA et al, 2022).

REFERÊNCIAS

ALUTAYBI, Aarif et al. Combating fear of missing out (FOMO) on social media: The fomo-r method. International journal of environmental research and public health, v. 17, n. 17, p. 6128, 2020.

ALCOFORADO, Michel. O fenômeno da ‘tiktokzação’ do trabalho. CBN, 10/09/2021. Para onde vamos? Disponível em <https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/352638/o-fenomeno-da-tiktokzacao-do-trabalho.htm>

OLIVEIRA, A. F. Uso de dispositivos eletrônicos e distúrbios do sono durante a pandemia de Covid-19. Research, Society and Development, v. 11, n. 11, e317111133639, 2022. 

LÓES, João. Viciados em redes sociais. IstoÉ, 04/05/2012. Comportamento. Disponível em <https://istoe.com.br/204040_VICIADOS+EM+REDES+SOCIAIS/> . 

SALLAS, Vanessa. TIKTOKIZAÇÃO: O SUCESSO DOS VÍDEOS CURTOS NO MARKETING DE INFLUÊNCIA. Trama Comunicação, 17/03/2022. Marketing de Influência. Disponível em <https://www.tramaweb.com.br/tiktokizacao-videos-curtos/

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Psicóloga Marlla Katherinne é convidada da mesa redonda do 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica

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O 3º Simpósio de Avalição Psicológica Tocantinense, que ocorrerá do dia 25/05/22, abordará diversos temas relevantes para o mundo acadêmico e profissional, dentre eles está: os Aspectos éticos do processo de avaliação psicológica, que será ministrado pela Psicóloga Marlla Katherinne Jeronimo Rodrigues de Oliveira, CRP: 23/460, egressa do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA.

Fonte: Arquivo Pessoal

Em entrevista concedida ao portal (En)Cena, a palestrante respondeu algumas perguntas sobre o universo da psicologia.

En (Cena) – Há quanto tempo atua no mercado como psicóloga? Quais são suas especialidades e áreas de atuação?

Marlla Katherine – Atuo há mais de 10 anos e as minhas especialidades são em Avaliação Psicológica e em Gestão de Pessoas.

En (Cena) – Qual foi o ponto crucial que te levou a escolher este tema para apresentar no 3º Simpósio de Avaliação Psicológica Tocantinense?

Marlla Katherine – Recebi o convite para falar sobre a Avaliação Psicológica e fiquei muito honrada e feliz com a oportunidade de estar compartilhando meu conhecimento e prática em área tão importante para a Psicologia.

En (Cena) – Esse tema escolhido por você para apresentar no 3º Simpósio de Avalição Psicológica Tocantinense, como ele está presente na sua atividade profissional?

Marlla Katherine – A Avaliação Psicológica faz parte do meu dia-a-dia de trabalho. Estudo, supervisiono e realizo avaliação psicológica diariamente. Entendo a importância do tema ainda na academia pois é uma área que perpassa por todos os contextos da psicologia e demanda conhecimento e ética.

En (Cena) – Qual a importância da ética e da técnica no processo de avaliação psicológica?

Marlla Katherine – A Avaliação psicológica tem um importante papel em toda história da psicologia, ela ocupa um grande espaço e está em diferentes contextos da psicologia. O profissional precisa ter consciência do poder e da influência que exerce sobre a vida do cliente, seja indivíduo, casal, família, grupo, instituição, empresa e comunidade. A Avaliação Psicológica ela não é só para psicologia, é para toda sociedade, o que nos leva a uma responsabilidade ainda maior. Temos uma função social como psicólogo. Outra questão que exige atenção é o reconhecimento dos limites da competência e das técnicas que o profissional tem que ter, a Avaliação Psicológica exige do psicólogo um esforço contínuo ao nível da formação teórica e prática que são cada vez mais especializadas.

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Como você tem se saído como gerente de sua mente?

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A forma de um indivíduo pensar é traduzida em suas diversas ações, em diferentes lugares, seja em casa, no ambiente de trabalho ou apenas em uma fila de supermercado. Já observou que, no último caso, sempre tem uma pessoa estressada que reclama o tempo todo, até chegar ao caixa para efetuar o pagamento. Mas, por que existem comportamentos tão diferentes? O psiquiatra e escritor, Augusto Cury (2015) explica que toda atitude, passa em primeiro lugar pelo campo da mente, e por isso é necessário a gestão de pensamentos.

Atualmente fala-se muito sobre gestão de tempo. No entanto, o que seria a gestão de pensamentos? Cury (2015) declara que o termo consiste na compreensão da formação do pensamento, ou seja, a busca pelo autoconhecimento sobre sua construção. Por isso, segundo o escritor, é imprescindível a produção do pensar positivo, em detrimento ao negativo.  “Critique, cada ideia pessimista e preocupação excessiva e capacite o seu eu” Cury (2015).

A preocupação excessiva vai ao encontro do volume de informação recebida diariamente. Desde cedo, a pessoa acorda e checa o celular para saber se recebeu algum tipo de informação, posteriormente verifica as redes sociais, e por fim liga a televisão. Antes mesmo de sair de casa, ela foi bombardeada por diferentes tipos de informações, que influenciarão na sua forma de pensar, no dia.  Burgos (2014) observa que todo aparato tecnológico deveria ser um meio para se crescer como pessoa, não como um fim em si; ou seja, a excesso de informação influencia na elaboração do pensamento acelerado.

Fonte: Freepik

Como solução Burgos (2014) aponta que a autoanálise, tomar consciência e o monitoramento dos hábitos são algumas das estratégias possíveis no processo de relação mais sadia com a tecnologia. “Creio que o uso moderado das ferramentas que temos à disposição – do smartphone às redes sociais – pode ser certamente mais enriquecedor que a negação total, e o tempo necessário para uma desaceleração pode variar bastante de pessoa pra pessoa” (BURGOS, 2014).

Nessa perspectiva Carr (2014) alerta sobre o mau uso da tecnologia, no dia a dia, como forte influenciador na produção de pensamentos, sem passar pelo autoconhecimento e análise. “Nossa tendência é usar tecnologias para facilitar nossa vida, não para dificultar e, com os computadores em rede, esse desejo por conveniência está tendo uma enorme influência sobre nossas vidas intelectuais, assim como em nas físicas. Acho que existem evidências de que essa tal facilidade pode obstruir nosso aprendizado e nossa memória, e talvez até mesmo nossa disposição para a empatia.” (Carr, 2011).

Carr (2011) explica que a dependência excessiva pelas tecnologias tem prejudicado o ser humano no processo de formação de ideias e do saber. Ou seja, as pessoas estão deixando de serem críticas, produtores de ideias e pensamentos, e estão absorvendo, sem nenhuma análise, o conteúdo exposto na internet.

Fonte: Freepik

Adorno (1971) destaca que a infância tem um papel primordial para a formação do pensamento do indivíduo, bem como acrescenta que a construção do caráter do mesmo acontece quando criança. Compactuando com a ideia de Adorno, que Cury (2015) relata que uma criança de sete anos possui mais informação do que tinha um imperador, na Roma antiga.  Nesse sentido, é preciso regular o tempo de uso das redes sociais, se a forma de pensar de um adulto é influenciada pelo consumo de conteúdo, como enfatizou Carr (2011), imagina uma criança que está em processo de formação do caráter.

A projeção de um adulto crítico, que não deixa se influenciar por tudo que está exposto, no universo da internet, inicia na infância, e como alertou Augusto Cury (2014) uma criança tem mais informação que uma pessoa da antiguidade.  Por isso, é necessário a gestão de tempo, das crianças com as mídias digitais, para futuramente ser uma pessoa que tenha uma gestão de pensamento. Ou seja, somos aquilo que pensamento e permitimos. E para que se tenha pensamentos saudáveis e saber impor limite ao outro sobre as relações interpessoais, começa na infância.

REFERÊNCIAS

Adorno, T W. Emancipação e Educação. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1971.

BURGOS, Pedro M. Conecte-se ao que importa: Um manual para a vida digita saudável. São Paulo: LeYa, 2014.

CARR, Nicholas. A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros. 1ª Ed. Tradução de Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janeiro: Agir, 2011.

Cury, A. Gestão da emoção: Técnicas de coaching emocional para gerenciar a ansiedade. 2015.

Cury, A. Ansiedade: como enfrentar o mal do século: a Síndrome do Pensamento Acelerado: como e porque a humanidade adoeceu coletivamente, das crianças aos adultos.  Primeira edição. Saraiva. 2014.

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Especialistas discutem sobre os apelos excessivos da publicidade infantil

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As crianças, de um modo geral, têm um alto poder de absorção de qualquer tipo de conteúdo. Por exemplo, toda Páscoa, chovem propagandas sobre chocolates entre outros itens. O resultado é o consumo exagerado de doces que só pioram a saúde dos pequenos.

Por meio de diversas técnicas, as marcas conseguem exercer um poder de influência muito grande em cima das crianças para que possam incentivar os pais a comprarem brinquedos e guloseimas. Mas quais são efeitos negativos e como lidar com os desejos causados pela publicidade?

Para a psicóloga Livia Marques, as propagandas abusivas acarretam grandes influências negativas nas crianças. Ela diz que o efeito disso surge de uma forma muito ruim na mente delas, fazendo com que fiquem inflexíveis ao não e a qualquer argumento. “Tanto na TV como na internet, o conteúdo massivo pode causar uma fixação muito grande na mente delas”.

Livia fala que os sinais de que algo está errado com o desejo de ter um brinquedo ou de lanchar é refletido geralmente no comportamento agressivo e inflexível ao pedir aos pais. “Há casos que a criança não aceita de forma alguma o limite que é imposto”.

Fonte: Pixabay

Para Dario Perez, professor acadêmico e especialista em publicidade e marketing, o problema está no fato de que muitas empresas acabam “perdendo a mão” em suas ações publicitárias e comentem alguns excessos. Ele comenta que o público infantil é extremamente sensível a qualquer tipo de técnica de marketing que possa ser utilizado dentro dos parâmetros de um comercial de TV ou na internet, por exemplo.

– As crianças absorvem com muita facilidade todos os tipos de influências direcionadas. Mesmo as campanhas, que não possuem um bom comercial ou técnica apurada de publicidade, conseguem converter a venda, utilizando-se de uma comunicação lúdica e aspiracional, aproveitando personagens para gerar empatia e elevar sua credibilidade – explica.

Dario diz ainda que um dos objetivos da publicidade é gerar, por meio da influência, a sensação de felicidade através do consumo. Dessa forma, as crianças falam para os pais sobre a necessidade de ter tal produto. Eles, por sua vez, acabam satisfazendo o desejo para a alegria dos filhos.

Fonte: encurtador.com.br/adgkQ

Como lidar

A psicóloga Livia diz que a melhor forma de proteger a família é por meio do diálogo. Ela comenta que é importante os pais saberem dizer não, mesmo quando é muito difícil. Por outro lado, é preciso mostrar o porquê do não, talvez pela falta de condições financeiras, se a criança já tem muitos brinquedos e ganhou algum recentemente ou até explicando que determinado lanche ou doce pode fazer mal se comer muito dele.

– A conversa é fundamental. A criança também precisa saber para compreender e respeitar. Os responsáveis precisam entender também que a permissividade não pode ter espaço nessas lacunas – reforça.

Regulamentação

Para o especialista em marketing e publicidade, a regulamentação da publicidade infantil ainda é muito delicada no Brasil. Segundo o profissional, existe um projeto de lei mais rigoroso e voltado para a proteção da criança durante a exposição de alguma marca. Porém, ainda não foi aprovado. “Enquanto isso, observamos alguns efeitos colaterais, como, por exemplo, o alto índice de consumo de alimentos ditos como não saudáveis”.

– Segundo o Ministério da Saúde, uma em cada três crianças no Brasil estão com sobrepeso. Além disso, o segmento de brinquedos para crianças só cresce, segundo os dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). Claramente isso são reflexos do poder persuasão – destaca.

Dario diz que para que as marcas respeitem a ética, é preciso, primeiro, assumir sua responsabilidade no processo de influência das crianças.  Segundo, é fundamental que as empresas sejam claras. Ou seja, elas devem encarar do ponto de vista educacional, mostrando os benefícios e os malefícios desses produtos. “Não quer dizer que é preciso fazer uma campanha socioeducativa. E, sim, ser mais transparente”.

– Por exemplo, pode avisar que a criança não deve beber determinada bebida todo dia, pois pode fazer mal para a saúde. Isso vai mostrar que aquele produto em alto consumo pode gerar efeitos negativos – comenta.

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Suicídio: a linha tênue que separa a vida da morte

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“O silêncio em torno do assunto alimenta a passividade, quando o momento deveria ser de ação. “ (André Trigueiro)

Com o passar dos anos a sociedade foi se tornando cada vez mais vazia e solitária, onde a educação dada às crianças e jovens enfatiza ao máximo o individualismo e a importância de conseguir alcançar um futuro de “sucesso”; como consequência disto, esses acabar por se tornar adultos frustrados, confusos e solitários. Um evento que pode se tornar exemplo, seria o ato de andar em uma rua de São Paulo com milhares de pessoas e, ainda assim sentir solidão, o que pode vir acarretar em doenças psicológicas e nos piores casos, o suicídio.

Essa solidão citada, muitas vezes é “abafada” pelas relações virtuais, onde a vida real passa a ser qualificada mediante a qualidade da vida virtual. Vida esta, que é bem limitada e depende da aprovação de determinados padrões estabelecidos. Refém desses padrões, a vida real pode perder o sentido. Este fato, poderia fazer o indivíduo em um determinado momento, perder também a vontade de viver e decidir por tirar a própria vida? Esse é um questionamento que não é aceito nessas mídias sociais, ao invés disso, o suicídio é um tabu e falar a respeito não é considerado um assunto plausível.

Fonte: encurtador.com.br/isLS4

O livro ‘’Amor & Sobrevivência’’, de Ornish (1998), aponta que é através da construção moral de cada grupo social, que se pode chegar aos fatos que levam a cometer o suicídio, mesmo que este seja algo individual, os índices mudam de acordo com o grupo social e diferentes períodos de tempo, concluindo que o principal fator que afeta o índice é o nível de integração social dos grupos, determinando maior ou menor probabilidade de uma pessoa cometer suicídio.

Uma das maiores problemáticas relacionadas ao suicídio, é que o mesmo ainda é tratado como um tabu, quando deveria ser discutido e priorizado. Nesses últimos meses o jogo da Baleia Azul – onde o adolescente é induzido ao suicídio – se tornou assunto foco nas redes sociais, no entanto enquanto uma minoria se preocupava em discutir de forma séria o assunto, por outro lado, este foi alvo de diversas piadas e “deboches”, por parte da maioria dos internautas. Em contrapartida, a série ‘’13 reasons why’’, demonstra alguns descuidos que a sociedade tem, tratando-se dessa temática. Diante disso, a série conseguiu levantar certa polêmica a respeito do suicídio, ganhando maior interesse dos jovens, porém tão logo foi deixada de lado pela mídia, sendo substituída pela casualidade de diversos outros assuntos, considerados mais “interessantes” pela mesma.

Fonte: encurtador.com.br/pty03

Até que ponto trazer isso na mídia de forma superficial ou manter o silêncio, pode ser prejudicial para os jovens e familiares que enfrentam de frente, problemas com potenciais suicidas? De acordo com André Trigueiro (2015) o silêncio em torno do assunto – um abominável tabu – só agrava a situação. A própria Organização Mundial de Saúde vem defendendo a comunicação aberta e responsável como medida eficaz de prevenção. É sabido que a informação cumpre uma função estratégica na prevenção dos mais variados tipos de males e doenças. E isso também vale para o suicídio.

Ainda segundo André Trigueiro (2015, p. 11) são muitos caminhos que levam ao suicídio. Tragicamente, a sociedade ignora a gravidade da situação e a urgência de algumas medidas que poderiam atenuar esse problema, considerado de saúde pública no Brasil e no mundo.

Os mais vulneráveis a tentar tirar a própria vida são os jovens adolescentes, por estarem passando por um processo de transformação e autoconhecimento, que na maioria dos casos, não acontece de uma forma confortável. Requer-se um maior cuidado quando o assunto é a adolescência, em que o jovem lida com muitas situações estressantes e desafiadoras como: ficar de frente com problemas de autoafirmação; a necessidade de se inserir no mercado de trabalho, que a cada vez mais aumenta a concorrência, com essas novas tecnologias e modelos de negócios; drogas; problemas mentais, que são muitas vezes negligenciados pelas famílias; escolas que priorizam a memorização e repetição dos conteúdos como forma de aprendizado – sem dar a devida importância a inovação e criatividade de seus alunos – entre muitos outros.

Ainda em se tratando de jovens, outro fator que deve ser levado em consideração é que a mídia além de tratar de forma superficial a respeito do suicídio, pode ainda ser motivo/causa que leva muitos jovens a cometê-lo. Inseridos nesse novo meio de comunicação virtual, são constantemente influenciados, deixando-se enganar pela quantidade de seguidores que possuem, desvalorizando relacionamentos e amizades no mundo real. Compartilham constantemente imagens, mensagens e fotos, em troca da aprovação da sociedade virtual, mesmo que essa aprovação seja oposta ao que o próprio jovem acredita ser melhor para ele ou não. Em um determinado momento, a consequência disso, é a perda do sentido, das relações, da verdade, do self, da sua vida real. Então quando o indivíduo se encontra “cheio de curtidas” e vazio de tudo, entra em conflito.

Fonte: encurtador.com.br/rAFN2

Há também os casos em que a mídia esmaga a pessoa, por não se encaixar dentro de seus próprios padrões de aprovação e, o jovem ao perceber ou acompanhar a “vida perfeita” de muitas pessoas, passa a duvidar do sentido de sua própria vida. O indivíduo se vê vazio de curtidas e vazio de tudo. Para eles, a vida real só tem qualidade, se obtiver aprovação da sociedade virtual. Gerando também conflito. Não se sabe até que ponto essa resolução pode prejudicar o crescimento físico e emocional de um jovem. Quantas gerações estarão sendo formadas cada vez mais isoladas? Como isso vai afetar a vida desses jovens quando forem adultos? Até que ponto esse contexto gera ou intensifica crises existenciais? Qual a proporção da influência disso no autoextermínio de crianças e jovens?

Trigueiro (2015, p.63) diz que “nós nos sentimos infelizes, solitários, ou culpados por não nos percebermos plenamente integrados ao ‘bônus’ da modernidade. Quando isso acontece, é comum perguntarmos: sou eu que preciso de ajuda ou o mundo se tornou mesmo um lugar estranho, sem graça? ” Diante desse levantamento, pode-se perceber o poder que a mídia possui e, o quanto poderia ser útil de forma positiva, tratando-se do suicídio.

Para Trigueiro (2015, p. 41,42):

O suicídio é um tabu, um assunto invisível, ausente sobre o qual preferimos não falar. Nem os números oficiais parecem ter forma suficiente para modificar esse quadro. Apesar da gravidade da situação e dos incalculáveis transtornos causados pelo elevado número de casos, o suicídio está fora do radar dos governos e da sociedade. Não é sequer lembrado como questão relevante na área da saúde pública pelas mídias. Sem informação, a sociedade não o reconhece como um problema, não mobiliza esforços e nem consagra tempo e energia para tentar reduzi-lo. É preciso quebrar esse círculo vicioso. Não será possível reverter as estatísticas de suicídio no Brasil e no mundo sem informação. Na área da saúde, prevenção se faz com informação. O que vale para a dengue, aids, hanseníase, câncer de mama, hipertensão, tabagismo, doenças cardiovasculares, e tantas outras morbidades vale também para o suicídio. Não é fácil quebrar esse estigma e há muito trabalho pela frente para tentar romper a muralha do silêncio.

Falando diretamente do Brasil, ele aparece abaixo da média de suicídio, porém, a situação ainda precisa dos devidos cuidados. Segundo André Trigueiro (2015, p. 27):

 O relatório revela que, considerando apenas os dados oficiais do Ministério da Saúde, entre 2000 e 2012, a taxa de crescimento dos suicídios em todo o país (33,6%) é superior a do crescimento da população no mesmo período (11,1%) e ultrapassa também o aumento dos homicídios (2,1%) e dos mortos em acidentes de trânsito (24,5%). São números preocupantes, e em alguns estados brasileiros os números se assemelham aos países que ocupam o primeiro lugar no ranking mundial. Apesar de todos esses números, o suicídio ainda está fora da discussão nos governos, da sociedade, e na mídia pouco se fala, e quando o tema é abordado, é de uma forma superficial, preconceituoso, irrelevante e dogmático, sem a devida informação a população acaba por não reconhecer como um problema, e nem procura formas de preveni-lo, a mesma atenção e esforço que se dá quando se fala de aids, drogas, câncer de mama, deve ser dado na mesma proporção quando se coloca em pauta o suicídio, e o silêncio em torno do assunto só aumenta a probabilidade desses casos ocorrerem. 

A mídia precisa perceber sua influência e a importância de sua responsabilidade sobre o suicídio, muitas vezes a forma como o aborda, nas poucas vezes em que o faz, pode atingir de forma negativa pessoas em estado de vulnerabilidade.

Fonte: encurtador.com.br/oMNR4

Ainda segundo Trigueiro (2015, p.42, 43):

Os estudiosos dizem que há uma maneira certa de falar sobre suicídio. Construiu-se ao longo do tempo a certeza – e há farto material de pesquisa sobre isso – de qualquer abordagem menos cuidadosa do assunto na literatura, no cinema, no jornalismo ou em qualquer outro meio de comunicação (e até mesmo nas relações interpessoais), poderá precipitar a ocorrência de novos casos em pessoas vulneráveis que estejam passando por um momento psíquica, emocional ou existencialmente.

Trigueiro (2015) afirma que os precedentes viriam de longe. No campo da literatura, a descrição do suicídio dos personagens principais de Romeu e Julieta (1597) – de William Shakespeare – teria desencadeado situações semelhantes. Na história moderna, a notícia da morte de Marilyn Monroe, reportada na época como suicídio – apesar de nunca ter sido comprovado – poderia ter causado o aumento da taxa de autoextermínio em 12% no mês de agosto de 1962, com 303 casos acima da média histórica para o período, nos USA. “Dá-se a esse fenômeno o nome de mimetismo, ou ‘efeito Werther’, processo que serve de inspiração para a repetição do ato, que atinge principalmente adolescentes e jovens” (TRIGUEIRO, 2015, p.43).

Durkheim (2000, p.143) diz que se, com efeito, a imitação é, como se disse, uma fonte original e particularmente fecunda de fenômenos sociais, é principalmente quanto ao suicídio que ela deve dar provas de seu poder, pois não há outro fato sobre o qual ela tenha maior domínio.

Fonte: encurtador.com.br/rxI03

Contudo, é evidente que a forma com que a mídia se coloca diante do suicídio, influencia na sua probabilidade e proporção de ocorrência. Trigueiro (2015, p.44) afirma que na maioria absoluta dos veículos de comunicação, prevalece o entendimento de que as notícias sobre suicídio podem precipitar a ocorrência de novos casos. Na prática é como se não houvesse suicídios no Brasil e no mundo. De todos os casos de saúde pública no Brasil, o suicídio é certamente aquele que menos espaço ocupa nas mídias (televisão, rádio, jornal, revista, sites, redes sociais etc.). Em nome da prudência elimina-se o assunto do noticiário. Será essa a melhor estratégia? Para os suicidologistas, a resposta é definitivamente ‘não’.

Segundo os suicidologistas, não se trata de censurar o suicídio nas artes, mídia ou jornalismo, pelo contrário, é muito necessário abordar o assunto, porém com ética, esclarecimento, cuidado e responsabilidade. Propiciando debates e reflexões a respeito. Trigueiro (2015, p. 46) defende que “noticiar acerca do suicídio de uma forma apropriada, cuidadosa e potencialmente útil pelas mídias esclarecidas, poderá prevenir trágicas perdas de vida por suicídio”. Falar a respeito do suicídio pode salvar vidas. Percebe-se que em todo caso, a linha tênue que separa a vida da morte, pode ter a mesma medida da barreira que separa o suicídio e o silêncio que se faz a respeito.

 

REFERÊNCIAS:

DURKHEIM, Émile, 2000. O Suicídio. 1º edição.  Martins Fontes Editora Ltda, 2000.

TRIGUEIRO, André, 2015. Viver é a melhor opção. 2º edição. Editora Espírita Correio Fraterno, 2015.

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