Para alguns, a vida é sentida como castigo divino

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Somos imersos em nossas próprias incapacidades e temos que lidar com a própria impotência de não saber de tudo.

O executivo da área de telecomunicações Nabor Coutinho de Oliveira Júnior, 43 anos, é o principal suspeito de assassinar a mulher e os dois filhos antes de ter cometido suicídio. O crime ocorreu numa manhã de segunda-feira, em um condomínio de classe média alta na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.

O prédio do Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na Zona Oeste de São Paulo, foi cenário para mais um ato de suicídio. O caso aconteceu também numa segunda, quando um pai se jogou do décimo sétimo andar com o filho nos braços. O edifício, inclusive, já totaliza desde 2007, 7 casos de suicídio.

Um dos motivos mais comuns a consumar o suicídio é proveniente de depressão, situação na qual a pessoa vai perdendo sua própria identidade, descuidando de si próprio. A pessoa fica engessada a pensamentos negativos até permanecer apática e melancólica em relação a si, às pessoas e à vida. O segundo maior motivo de suicídio é a esquizofrenia e a terceira o uso de substâncias tóxicas, conforme dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Fonte: encurtador.com.br/hIOW6

Taxas

A própria entidade conduziu um estudo e elaborou uma lista dos dez países com as maiores taxas de suicídio. Encabeçando a lista temos a Guiana. O país com o maior número de suicídios do mundo é nosso vizinho, fazendo divisa com Roraima e Pará. A Guiana – 44 casos para cada 100 mil habitantes – sofre com problemas de saúde pública, pobreza rural e abuso de álcool, e é por isso que vários de seus cidadãos tiram suas próprias vidas. São citados ainda a Lituânia, em quinto lugar, com 28 casos, e é o país com o maior número de suicídios na Europa, e as Coreias, a do Norte em segundo lugar, com 38 casos, e a do Sul, em terceiro lugar, com 29 casos.

O suicídio se divide em algumas categorias, como o suicídio consumado, ou seja, o ato concretizado. Caso não aconteça, o suicídio é frustrado. Porque por alguma causa a intenção não foi sustentada pelo indivíduo. A intenção de suicídio é um dano autoinfligido e com o intuito de morrer ou causar fortes lesões. Este comportamento aproxima-se da concepção dos gestos suicidas que são comportamentos também destrutivos e permeados de significados inconscientes.

Ainda a estas categorias temos o suicídio coletivo, grupo de pessoas que, geralmente, induzidas por um líder, são conduzidas a concretizar o ato. Caso que ilustra isso aconteceu nos Estados Unidos em 18 de Novembro de 1978, quando Jim Jones, líder de uma seita religiosa promoveu um suicídio coletivo de 918 pessoas, sendo 270 crianças, através da ingestão de veneno.

Fonte: encurtador.com.br/kqyR5

Freud

O psicanalista Sigmund Freud, em uma de suas teorias, descreve a pulsão, uma pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Embora não seja instinto, a pulsão é uma energia que transita entre o psiquismo e o aspecto somático, força propulsora da personalidade. Existe uma dualidade entre as pulsões, Eros (vida) e Tânatos (morte).

Uma pulsão de vida é construtiva e faz com que a pessoa consiga enaltecer características próprias e ao prazer de si mesmo. Já na pulsão de morte acontece a redução completa das tensões, ou seja, são pulsões autodestrutivas e conduzem a pessoa a um estado anorgânico. Manifestam-se de maneira agressiva e autodestrutiva. No suicídio poderíamos dizer que as pulsões de morte predominam sobre as pulsões de vida.

Somos imersos em nossas próprias incapacidades e temos que lidar com a própria impotência de não saber de tudo. Na vida as respostas não são imediatas, ora buscamos, ora construímos. As perguntas e questionamentos sobre si, o mundo, as pessoas e o sentido da vida se multiplicam e, ao indivíduo, resta administrar estas indagações e dar sentido a ideias e concepções obscuras.

Fonte: encurtador.com.br/eDFV7

Morte

A morte desperta curiosidade e até certo fascínio, tanto quanto viver e todos os prazeres atribuídos a esta vida. Mas assim como se escolhe viver, igualmente a morte é uma escolha. A existência é sentida como um castigo divino.

O suicídio é um assunto que não é explorado na sociedade e tampouco na mídia, que deveria ter um papel importante para a compreensão deste fenômeno de massa. O que permeia o suicídio como a depressão, angústia, receios, melhor qualidade de vida não dá ibope. As futilidades, frivolidades e banalizações são mais lucrativas. Um desafio para psicólogos, médicos e psiquiatras que devem se antecipar e prevenir situações de risco e perigo, bem como a sociedade precisa olhar com mais atenção às manifestações, impasses e conflitos da alma.

 

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CAOS: Falar sobre suicídio é uma das poucas formas de prevení-lo

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No dia 22 de agosto de 2017, ocorreu na sala 409A, do Ceulp/Ulbra o mini curso Prevenção ao Suicídio e Automutilação, ministrado pela psicóloga clínica e da saúde comunitária do NASF Krahô, Thaydja Rhalline L. Campos e pelo psicólogo, coordenador do Observatório de Violência e do NUPAV, André Felipe Lopes S. A. Araújo. A primeira abordou a conceituação de suicídio e automutilação, alguns sinais e fatores de risco e algumas formas de prevenção. O segundo apresentou alguns dados estatísticos no Brasil.


Inicialmente, Thaydja diz que “o psicólogo não dá conta do suicídio sozinho. É um trabalho em rede”, enfatizando a necessidade em se acionar uma rede de apoio para cuidar de quem está com ideação suicida, que é uma pessoa que “não quer acabar com a vida, mas com o sofrimento”, segundo Thaydja. Essa rede de apoio engloba os diversos profissionais da saúde e também a família, da qual o paciente irá escolher alguém de confiança para ser um ponto de acesso a ele. Em casos de conflitos familiares, o psicólogo deve procurar sensibilizar a família e, caso necessário, procurar uma instância maior para a proteção do indivíduo.

Segundo Thaydja, falar sobre suicídio (morte intencional autoinfligida) e automutilação (ato de se machucar intencionalmente, de forma superficial, moderada ou profunda) ainda é um tabu muito grande, mas isso deve ser quebrado, pois “falar sobre suicídio é uma das poucas formas de prevení-lo”, uma vez que a informação leva a transformação e os indivíduos nessa situação podem entender que não estão sozinhos, que há uma solução melhor que tirar a própria vida.

Dinâmica defina em uma palavra o suicídio

Thaydja informa que 90% das pessoas que cometem suicídio apresentam transtornos mentais, mas 98% das pessoas que possuem transtornos mentais não cometem suicídio, ou seja, o T.M. em si não é a causa, mas está presente. Não há causas preestabelecidas para o suicídio, isso depende da história de cada um e de seus vários pontos de fragilidade. A associação entre dois ou mais fatores aumentam o risco (Exemplo: depressão + alcoolismo).

A psicóloga explica que o suicídio se dá em três fases, sendo a primeira a ideação, na qual a pessoa dá avisos sutis, dizendo, por exemplo, que não tem mais sentido em sua vida, que gostaria de morrer, passando a organizar e planejar a forma de se matar. A segunda fase é o intento, onde ocorre a tentativa de tirar a própria vida, podendo falhar ou levar a terceira fase que é o suicídio com êxito.

Alguns sinais e fatores de risco se dão por condições clínicas incapacitantes, como dor crônica, por condições psicológicas, como problemas familiares intensos, por condições sociodemográficas, como estar desempregado e por transtornos mentais. Thaydja enfatiza que o psicólogo precisa estar atento a esses fatores de risco e aos sinais que o indivíduo transmite.

Como formas de prevenção, ela diz que se deve impedir o acesso aos meios para cometer suicídio, como armas, facas, cordas e medicamentos, realizar vigilância 24 horas, não deixando a pessoa sozinha sob hipótese alguma, sempre procurar atendimento nos serviços de saúde e alguém de confiança deve ficar responsável por dar a medicação na dose e horário corretos, deixando inacessível ao indivíduo. Thaydja também apresenta maneiras que não se deve reagir, como ignorar a situação, ficar chocado ou em pânico com os relatos do indivíduo, falar que vai ficar tudo bem sem agir para tal, desafiar a pessoa a cometer suicídio, fazer o problema parecer sem importância, dar falsas garantias, jurar segredo, deixar a pessoa sozinha e compará-la com outras pessoas.

Em seguida, André apresentou dados mostrando que, no Brasil, a própria casa é o cenário mais frequente de suicídios (61%) seguida pelos hospitais (26%). Os principais meios são enforcamento (47%), armas de fogo (19%) e envenenamento (14%). Em 2016, 71,3% das tentativas de suicídio notificadas se deram entre as idades de 15 a 29 anos. O número de óbitos por suicídio no Brasil cresceu 33,5% desde 2008. Do total de óbitos registrados, 1% é decorrente de suicídio.

Eles finalizam o mini curso com a frase: “não é drama, não é para chamar atenção, nem é falta de Deus e muito menos frescura”, deixando claro que é necessário que haja informação e debates sobre o assunto, e que qualquer sinal sobre suicídio deve ser levado a sério.

 

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