#CAOS2018: Game Behavior Park agita o CAOS

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O Game foi coordenado pelos Profs Iran Oliveira e Fabiano Fagundes.

Na noite dessa quarta-feira (23) ocorreu a competição do game Behavior Park, como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2018. 

Profs Mestres Fabiano Fagundes e Iran Oliveira apresentam o game aos congressitas do CAOS.
Foto: Irenides Teixeira

O jogo, conduzido pelos Profs Me. Iran Oliveira e Me. Fabiano Fagundes, busca a aprendizagem de conteúdos sobre Análise do Comportamento, através da interação dos jogadores com perguntas e respostas.

Prof. Me. Iran Oliveira articula as equipes para o game. Foto: Irenides Teixeira

A dinâmica foi realizada através de uma plataforma de jogos de aprendizagem com questões de múltipla escolha sobre os conteúdos de Análise do Comportamento. Os congressistas, divididos em equipes, responderam às perguntas em seus próprios dispositivos, enquanto as questões foram exibidas em uma tela compartilhada para unir a lição. A plataforma cria um “momento de fogueira” incentivando os jogadores a procurarem competir. As questões sobre Análise do Comportamento além de testar o conhecimento dos participantes, proporcionaram um momento divertido de interação. 

                                 

Profs Fabiano e Iran observam atentamente a evolução das equipes na competição / Equipe se organiza para responderem as questões do jogo. Foto: Irenides Teixeira

Para o prof. Me. Iran Johnathan Oliveira, idealizador do projeto, ações como a do quizz são importantes pois “você pode ganhar conhecimento, você se motiva a participar, você se motiva com a resposta dos outros. Quando você tem um ambiente com toda essa interação, aparece a construção do conhecimento e um repertório de aprendizagem maior e melhor”.

A equipe formada por Fernanda Karoline Bonfim, Isaura Rossatto, Gythana Merigui e Lorena Dias comemoram o 1º lugar com os Profs Mestres Fabiano Fagundes e Iran Olivera. Foto: Irenides Teixeira

O grupo ganhador, com o codinome “Lovebehavior”, receberá o prêmio na sexta-feira (25), no encerramento do evento, a partir das 19h, no Auditório Central do Ceulp.

Mais informações sobre o evento podem ser obtidas no site: http://ulbra-to.br/caos/edicoes/2018#programacao

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Versão de Testes: os efeitos da psicoterapia

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Diferente dos outros episódios da série Black Mirror, Versão de Testes não traz apontamentos e reflexões sobre questões sociais carregadas de interferências tecnológicas, pelo menos, não de forma clara. Mas, algo a se notar, é a sua analogia aos efeitos da psicoterapia na vida de um indivíduo. O episódio inicia com Cooper (protagonista) saindo de casa de maneira sorrateira, para que sua mãe não o veja. Logo, percebe-se que o personagem é um aventureiro, acostumado a viajar por diversos lugares do mundo. Chegando ao seu destino, na Inglaterra, conhece Sonja através de um aplicativo de encontros, com quem divide a cama por uma noite e, na manhã seguinte, os seus problemas familiares.

Quando decide voltar para casa, Cooper percebe que não há mais dinheiro em sua conta bancária. Ao procurar Sonja para ajudá-lo, ela lhe indica um aplicativo para procurar empregos. Logo, eles encontram uma vaga na Companhia Saito Gemu, uma empresa de jogos de terror, onde Cooper faria parte da fase de testes de um jogo, antes desse ser lançado. Aqui, inicia-se o tom de mistério do episódio e também as analogias implícitas à psicoterapia. Ao chegar na Cia, Cooper é impelido a firmar um compromisso em forma de contrato com a empresa, representada por Katie, com quem Cooper parece sentir-se a vontade. Nesse contrato, fica explícito que tudo o que ocorrer ali, ficará entre ambos.

Fonte: https://goo.gl/BxDxjZ

É nesse ponto que começa-se a observar o início do processo psicoterapêutico, firmado por um contrato, em que suas ações (do psicoterapeuta) diante do cliente são de grande importância para que o contrato não se restrinja a um conjunto de regras de trabalho (como horários, pagamentos, férias, dentre outras) e se constitua num dos momentos fundamentais da relação terapêutica, caracterizando-se pelo engajamento de seus protagonistas quanto a uma proposta específica, seja de promover mudanças, aliviar sintomas ou proporcionar o crescimento emocional do cliente (WOLBERG, 1967 apud NEUBERN, 2010).

O jogo que Cooper está prestes a testar não possui um mapa a ser seguido ou um objetivo específico a ser alcançado, exceto o de sobreviver aos próprios medos. Isso porque, através de um dispositivo chamado cogumelo que fora colocado em sua nuca, seus dados neurais foram carregados e implantados em um óculos de realidade virtual, pelo qual a mente de Cooper cria imagens e somente ele as vê, como se fossem reais no plano físico.

Fonte: https://goo.gl/XPMyzj

Retomando o contrato psicoterapêutico, há de notar-se que Cooper criou um vínculo com Katie (pode-se dizer que ela representa o papel de psicoterapeuta), uma vez que a primeira imagem que sua mente cria é ela ao seu lado indo para a casa no qual o jogo aconteceria e onde ele ficaria sozinho enfrentando seus medos. Outra criação da mente de Cooper mostra Katie lhe entregando um ponto auricular, pelo qual ambos manteriam a comunicação.

Agora, Cooper está sozinho dentro da casa, onde seus maiores medos começam a assombrá-lo, como aranhas e o valentão da época de escola, Josh Peters. A medida que o tempo vai passando (tudo apenas na mente de Cooper) as situações assustadoras vão se intensificando, como uma aranha gigante com o rosto de Peters, um homem assutador com o rosto de Peters e Sonja aparecendo na casa dizendo-lhe que ele está em perigo e que precisa sair dali, um pouco antes de esfaqueá-lo e se transformar em um monstro.

Isso tudo remete ao processo psicoterapêutico, no qual a pessoa que o procura passa a enfrentar os seus maiores medos e monstros internos, trazendo a tona conteúdos passados, que se misturam aos conteúdos presentes e formam a sua história e complexidade. E, obviamente, esse não é um processo fácil, mas contido de dor e algumas resistências.

Fonte: https://goo.gl/aeCc97

O ponto alto do episódio é quando Cooper quer sair da casa, mas Katie lhe diz que ele precisa primeiro encontrar o ponto de acesso, que fica em um quarto no andar de cima. Chegando à porta desse quarto, Cooper resiste muito em abri-la, temendo que irá ver sua mãe ou seu pai pendurados em uma viga. Quando finalmente a abre e pergunta onde está o ponto de acesso, Katie diz que estava apenas o pressionando para ver até onde ele ia. Esse fato mostra uma postura inadequada do psicoterapeuta, cuja pode provocar alguns danos para a pessoa.

O psicoterapeuta deve adotar uma postura de não julgamento, de empatia e de respeito, procurando validar o que o cliente sente e ajudando-o a integrar as novas possibilidades que se vão apresentando, transmitindo assim a segurança necessária para avançar para a mudança. O papel do terapeuta é ajudar a refletir e desafiar em certos momentos, sempre respeitando o ritmo do cliente e transmitindo-lhe responsabilidade pelas suas escolhas (Portal Psiquilibrios).

Como Katie não respeitou o ritmo de Cooper, esse enfrentou um medo para o qual não estava preparado no momento, que era perder suas lembranças por meio do mal de Alzheimer, assim como seu pai. Sua mente cria a imagem dele saindo da empresa e voltando para casa, onde encontra sua mãe chorando e dizendo que precisa ligar para Cooper para ver se ele está bem, não o reconhecendo.

Fonte: https://goo.gl/2Sh3cY

Assim que ela liga para Cooper, a cena se volta para ele, sentado na cadeira de testes se debatendo, chegando ao óbito por interferência da ligação no celular. Até aqui, além da postura inadequada do psicoterapeuta, há de se observar também a influência da participação (ou no caso, a falta dela) da família no processo psicoterapêutico. Cooper queria fugir dos problemas em casa e da falta de vínculo com a mãe, que não sabia nem onde ele estava no momento.

Em analogia ao processo psicoterapêutico, isso é um problema, pois a família é o lugar onde se forma a estrutura psíquica e onde a experiência se caracteriza, em primeiro lugar, por padrões emocionais. A função de socialização está claramente implícita nesta definição, mas a família não está a ser conceptualizada primordialmente como uma instituição investida na função de socialização. Ela é, em vez disso, a localização social onde a estrutura psíquica é proeminente de um modo decisivo.” (Poster,1979 apud BOARINI 2003).

Fonte: https://goo.gl/ExL7T6

Assim, quando ocorre a interferência da mãe de Cooper no meio do processo psicoterapêutico sem que ela tenha conhecimento desse e também procure por mudanças e autoconhecimento, tudo o que Cooper alcançou se desfaz em meio a esse contato, simbolizado pela sua morte. Com tudo isso, fica a necessidade de se refletir sobre esse processo, sobre os papéis desempenhados, tanto pelo psicoterapeuta, como pelo cliente e sua família, onde todos precisam se comprometer e adotar posturas que beneficiem e tragam mudanças significativas e positivas na vida dos envolvidos.

REFERÊNCIAS

BOARINI, M. L. Refletindo sobre a nova e velha família. Psicologia em Estudo, Maringá, n. esp., p. 1-2, 2003. Disponível em: https://goo.gl/4N4tqF. Acesso em 19 de agosto de 2017.

NEUBERN, M. S. O terapeuta e o contrato terapêutico: em busca de possibilidades. Estud. pesqui. Psicol. vol.10 no.3 Rio de Janeiro dez. 2010. Disponível em: https://goo.gl/trGtY7. Acesso em 19 de agosto de 2017..

PSIQUILIBRIOS. O que é a Psicoterapia? Disponível em: https://goo.gl/TxJP8E. Acesso em 19 de agosto de 2017.

 

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Jogo Baleia Azul: o desafio do suicídio

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A evolução da tecnologia é responsável por diversas mudanças ocorridas nas últimas décadas. Galli (2002, p. 1) afirma que “uma das marcas da globalização é a velocidade com que evolui a tecnologia”, e nesse processo, a internet tem espaço essencial na comunicação e processamento de informações (GALIL, 2002).

Ribeiro, Leite e Sousa (2009, p. 187) defendem que

As tecnologias móveis de comunicação, sobretudo o celular, sofisticam-se e ampliam cada vez mais suas funcionalidades. Em paralelo, desenvolvem-se novas formas de experienciar as diversas situações sociais através destes equipamentos, principalmente entre os adolescentes. Neste caso, o dispositivo funciona como forma de suprir demandas de comunicação cada vez mais imediatas e complexas.

Fonte: http://zip.net/bqtJRd

Apesar de diversos aspectos positivos serem possibilitados por meio da tecnologia, há relatos a respeito de dependência comportamental, indicando que muitas pessoas fazem uso patológico da internet (FORTIM; ARAÚJO, 2013). A troca do mundo real pelo mundo virtual, em busca de apoio e aceitação, principalmente por crianças e adolescentes, tem gerado várias situações que aumentam os fatores de risco e comprometem a segurança.

Em 2016, o mundo presenciou vários suicídios ocorridos durante o jogo da asfixia, ou brincadeira do desmaio (The Choking Game). O jogo é um desafio que utiliza “técnicas de apneia, de estrangulação ou de compressão a fim de obter um breve estado de euforia, podendo conduzir a um desmaio voluntário ou acidental, às vezes letal” (GUILHERI; ANDRONIKOF; YAZIGI, 2017, p. 869). São autoinfligidos, geralmente transmitidos online, como forma de comprovar que a tarefa está de fato sendo realizada, podendo estar ou não vinculados a algum jogo online (League of legends, por exemplo). Há relatos de jogos de desmaio nos EUA datados de 1995.

Fonte: http://zip.net/bgtHSV

No entanto, a brincadeira começou a ganhar notoriedade mundial em 2007, se tornando um problema de saúde pública, principalmente na França. No Brasil, é a partir de 2011 que ocorre aumento considerável dos relatos de asfixia com crianças e adolescentes (GUILHERI; ANDRONIKOF; YAZIGI, 2017). O jogo da asfixia tem como objetivo principal o desafio à capacidade e coragem do jogador, além da busca por um estado de euforia momentânea, que pode ou não levar à morte. O jogo no qual iremos focar nossos esforços tem um caráter mais profundo, baseado num contrato entre o jogador e seu “orientador” e com diferentes níveis de evolução.

O jogo Baleia Azul (Blue Whale) é uma nova modalidade de desafio que apareceu recentemente nos meios de comunicação, portanto não há artigos ou estudos mais aprofundados. As informações que se têm a respeito desse assunto são baseadas apenas em matérias de jornais que relatam mortes de adolescentes, principalmente na Rússia, ou em vídeos explicativos criados por participantes ou ex-participantes do jogo.

Conforme veículos de comunicação online, a maioria baseados no jornal Novaya Gazeta, da Rússia (The Sun Gazeta Online, Dailymail, R7, Blastingnews Brasil, 2017) há relatos de grupos criados em 2013. Mas a primeira suspeita de morte vinculada ao jogo é de 2016. O jogo foi criado na Rússia, e atualmente as investigações apontam que pelo menos 130 jovens do país que eram participantes dos grupos deste jogo tenham se suicidado.

O jogo Baleia Azul acontece em um grupo fechado nas redes sociais, sendo o Facebook (ou VK na Rússia) uma das mais utilizadas. Os grupos normalmente são nomeados de “Jogo Baleia Azul” (Game Blue Whale), “acorde-me às 04:20h”, “casa silenciosa” e “estou no jogo”. Pesquisas rápidas mostram que no Brasil já existem grupos Baleia Azul, com a finalidade de unir jogadores que desejam ser desafiados.

Fonte: http://zip.net/bdtJnD

A pessoa que deseja participar envia uma solicitação, e o “líder” do grupo, chamado de baleia, inicia o contato. A partir do início do contrato, o participante receberá 50 desafios diferentes, que devem ser realizados durante 50 dias, geralmente às 04:20h da manhã. Os primeiros desafios são mais simples e o risco aumenta gradativamente no decorrer dos dias. Os desafios são baseados principalmente em automutilação em diferentes níveis, assistir filmes de terror e ouvir músicas melancólicas, subir em locais altos, como prédios e pontes e conversar com um “baleia” (um dos administradores do grupo).

O 50º desafio é suicidar-se do modo à sua escolha (enforcado, pulando de um prédio, pulando em frente a um trem, utilizando comprimidos ou veneno). Alguns vídeos detalham tarefas mais específicas, tais como não falar sobre o jogo, superar medos pessoais, dizer a data da morte, que deverá acontecer no 50º dia de jogo, e aceitar a morte (The Sun Gazeta Online, dailymail, R7, blastingnews Brasil, 2017).

Fonte: http://zip.net/bctHPc

Além de incentivar a coragem e autonomia do participante, o jogador recebe suporte constante dos “baleias”, que são os administradores do grupo. Os administradores são pessoas mais velhas, que geralmente possuem capacidade de argumentar, persuadir e envolver os participantes. A cada desafio realizado, aumentam os sentimentos de força, coragem, capacidade de automutilação e pertencimento ao grupo. “Esse sentimento de onipotência pessoal e de pertença ao grupo é reforçado quando o jovem partilha vídeos na internet, ganhando notoriedade entre os colegas” (GUILHERI; ANDRONIKOF; YAZIGI, 2017, p. 874). O objetivo principal é que, ao final do jogo, o participante seja capaz de tirar a própria vida. Sair do jogo simboliza falha ou fraqueza. De acordo com os jornais, há também relatos de ameaças à família do jogador, caso ele queira desistir.

Fonte: http://zip.net/bxtJKW

Os participantes são principalmente crianças e adolescentes vulneráveis, que se sentem sozinhos ou isolados. São pessoas que têm ideação suicida ou já fizeram alguma tentativa de suicídio sem sucesso. O jogo Baleia Azul vai gradualmente ensinando ao participante que ele é capaz de sair do sofrimento, proporcionando pequenos prazeres, como a automutilação e a sensação de liberdade ao subir em locais altos. A automutilação ocorre com mais frequência na fase da adolescência, sendo que há “correlação com as frustrações relativas ao universo das descobertas dos adolescentes, envolvendo uso de drogas, intrigas escolares, isolamento social, crises familiares e as primeiras decepções amorosas” (CEDARO; NASCIMENTO, 2013, p. 205).

Fonte: http://zip.net/bstJbt

Ainda de acordo com os autores, a automutilação, apesar de retratar um comportamento auto agressivo, é uma tentativa de sentir-se “vivo”, de lidar com emoções e buscar alívio imediato. O jogador de Baleia Azul se sente apoiado pelos administradores e pelo grupo, e acredita que vai conseguir se libertar de qualquer sofrimento ao final dos 50 (cinquenta) dias de desafio.

Apesar das inúmeras tentativas de denunciar os grupos e impedir a disseminação do “desafio da morte”, o jogo Baleia Azul é mais um artifício utilizado nas redes sociais, entre tantos outros massivamente divulgados pela internet, para identificar crianças e adolescentes vulneráveis, e incentivá-los a colocar-se em risco. Precisamos estar alerta porque ações como essa, que promovem o incentivo ao suicídio e risco a segurança, não podem ser negligenciadas.

Fonte: http://zip.net/brtHTt

Família, escola, comunidade e governo precisam desenvolver uma rede de proteção para crianças e adolescentes, a fim de evitar o aumento de casos de suicídio. As pessoas mais próximas precisam estar atentas “aos sinais físicos, psicológicos e comportamentais a fim de orientá-los adequadamente: realizar sensibilização sobre a periculosidade do ato, levar à consulta médica ou psicológica, agendar reunião com os responsáveis escolares, entre outros” (GUILHERI; ANDRONIKOF; YAZIGI, 2017, p. 875).

Além disso, informação e sensibilização são essenciais nesse processo de fortalecimento e encorajamento de crianças e adolescentes. Guilheri, Andronikof e Yazigi, (2017, p. 875) afirmam que

trabalho de informação e prevenção deve ser realizado em ação conjunta das áreas da saúde e da educação, formando profissionais capacitados para a sensibilização de adultos, pais, professores e corpo médico. Estes, por sua vez, devem agir para sensibilizarem jovens e crianças alertando-os dos reais perigos dos quais nem sempre têm consciência.

Fonte: http://zip.net/bwtHpM

Nesse sentido, Sapienza e Pedromônico (2005, p. 215) acreditam que “agora seja o momento de colocar em prática o que já se sabe sobre a resiliência, a fim de promover condições para que cada vez mais crianças e adolescentes possam se tornar resilientes”. Precisamos aprender a ouvir e entender as crianças e adolescentes, e principalmente, perceber os sinais que indicam isolamento, tristeza, angústia, frustração, ansiedade ou problemas emocionais.

Família, escola, comunidade e governo têm um papel primordial nesse processo. Por serem as crianças e adolescentes os mais atingidos com jogos e brincadeiras virtuais que atentam contra a vida, são eles que devem ser o principal meio de sensibilização, apoiados, é claro, pelos grupos sociais que compõem a rede de apoio. É de extrema importância que as situações e mortes ocorridas não sejam negligenciadas, que estejamos alerta a toda e qualquer situação de risco.

REFERÊNCIAS:

BARNES, Luke. Are your children playing the Blue Whale challenge? Police warn British parents over ‘suicide game behind hundreds of Russian teen deaths’. Dailymail Online. 2017. Disponível em: <http://www.dailymail.co.uk/news/article-4302338/Police-warn-parents-Blue-Whale-suicide-game.html>. Acesso em: 07/04/2017.

BLASTINGNEWS. Conheça o desafio suicida baleia azul que atrai jovens na internet. 2017. Blastingnews Brasil. Disponível em: <http://br.blastingnews.com/mundo/2017/04/conheca-o-desafio-suicida-baleia-azul-que-atrai-muitos-jovens-na-internet-001599997.html>; <http://br.blastingnews.com/mundo/2017/03/adolescentes-cometem-suicidio-ao-participarem-de-jogo-doentio-na-web-001517511.html>. Acesso em: 07/04/2017.

CEDARO, Jóse Juliano. NASCIMENTO, Josiana Paula Gomes do. Dor e Gozo: relatos de mulheres jovens sobre automutilação. P. 203-223 24(2). São Paulo: Psicologia USP, 2013.

EURONEWS. Jogo na internet leva centenas ao suicídio. Euronews Brasil. 2017. Disponível em: <http://pt.euronews.com/2017/03/30/russia-jogo-na-internet-leva-centenas-de-jovens-ao-suicidio>. Acesso em: 07/04/2017.

FORTIM, Ivelise. ARAUJO, Ceres Alvez de. Aspectos psicológicos do uso patológico de internet. Bol. – Acad. Paul. Psicol. vol.33 no.85. São Paulo, 2013.

GALIL, Fernanda Correa Silveira. Linguagem da internet: um meio de comunicação global. UNESP, 2002.

GUILHERI, JulianaANDRONIKOF, AnneYAZIGI, Latife. “Brincadeira do desmaio”: uma nova moda mortal entre crianças e adolescentes. Características psicofisiológicas, comportamentais e epidemiologia dos ‘jogos de asfixia’. Ciênc. saúde coletiva [online]., vol.22, n.3, pp.867-878. ISSN 1413-8123.  http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017223.14532016. Rio de Janeiro, 2017.

MULLIN, Gemma. What is the Blue Whale online suicide game and how many teenage deaths has it been linked to in Russia? “The Sun” Gazeta Online. London, 2017. Disponível em: <https://www.thesun.co.uk/tech/3003805/blue-whale-suicide-game-online-russia-victims/>. Acesso em: 07/04/2017. Acesso em: 07/04/2017.

NASCIMENTO, AD., and HETKOWSKI, TM., orgs. Educação e contemporaneidade: pesquisas científicas e tecnológicas [online]. Salvador: EDUFBA, 2009, 400 p. ISBN 978-85-232-0565-2.

R7. Jogo em rede social russa leva centenas de jovens ao suicídio. R7 Online. 2017. Disponível em: <http://noticias.r7.com/internacional/jogo-em-rede-social-russa-leva-centenas-de-jovens-ao-suicidio-segundo-suspeita-da-policia-31032017>. Acesso em: 07/04/2017.

RIBEIRO, José Carlos; LEITE, Luciana; SOUSA, Samille. Notas sobre aspectos sociais presentes no uso das tecnologias comunicacionais móveis contemporâneas.

SAPIENZA, Graziela. PEDRÔMONICO, Márcia Regina Marcondes. Risco, Proteção E Resiliência no Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. Rev. Psicologia em Estudo, v. 10, n. 2, p. 209-216, mai./ago. Maringá, 2005.

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Psicoterapia Infantil na Abordagem Centrada na Pessoa

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Nos últimos anos, tornou-se frequente nas clínicas de psicologia a busca por atendimentos infantis. Nesse sentido, o presente texto discorrerá sobre os principais aspectos da psicoterapia infantil, embasando-se no referencial teórico da fenomenologia existencial, sobretudo na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), tendo como um dos autores principais Carl Rogers.

A abordagem humanista surge nos Estados Unidos, a partir de uma guerra tortuosa, onde as pessoas saíram desoladas, desnorteadas e fragilizadas. Dessa maneira, criou-se uma teoria que evidenciava os sentidos que os seres humanos atribuíam à sua própria vida, entendendo-os como responsáveis pelos seus atos (BEZERRA; BEZERRA, 2012).

Nessa direção, Rogers afirma tal abordagem e enquanto foco terapêutico preza pelo aqui e o agora, isto é, as experiências advindas no momento terapêutico é que ganham destaque. Assim, esta teoria defende o terapeuta como facilitador do processo, quando se torna participante direto na intervenção. Porém, ressalta que em alguns momentos, deve aparecer como observador “distante”, a fim de obter melhor análise acerca do caso (BEZERRA; BEZERRA, 2012).

Concomitante ao Humanismo tem-se o Existencialismo, que de acordo com a autora Natacha Miguel Monteiro (s/d), é também uma corrente filosófica no qual pressupõe o homem dotado de autonomia e liberdade em suas decisões e totalmente responsável pelas consequências destas (MONTEIRO, s/d).

Portanto, na Psicoterapia Infantil, o psicoterapeuta é um facilitador perante a criança, sendo que este deve ajudar a descobrir suas potencialidades por meio de um ambiente acolhedor, tendo o lúdico como material de apoio, pois a linguagem não-verbal do cliente mirim pode oferecer o conteúdo da realidade que o cerca (MONTEIRO, s/d; LIMA; LIMA, 2015).

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Imagem extraída do site: http://www.zazzle.com.br/pontos_de_interrogacao_relogio_para_parede-256532000288651226

QUAL É A HORA CERTA DE TRAZER A CRIANÇA À PSICOTERAPIA?

Muitas são as dúvidas dos pais com relação ao momento em que deve procurar a psicoterapia para seus filhos. Em 1980, Violet Oaklander, publicou o livro “Descobrindo Crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes” que descrevia suas experiências decorrentes do processo de psicoterapia infantil. Elucidou que não há motivo para que os pais corram para um terapeuta toda vez que aconteça qualquer conflito ou problema, uma vez que eles “precisam aprender a ser, num certo sentido, ‘terapeutas em casa’ (OAKLANDER, 1980, p. 206). Assim, em muitos casos, as intervenções resumem-se a orientar os pais em algumas sessões, a fim de propor um espaço reflexivo para que eles possam resolver a conflitiva dos filhos (OAKLANDER, 1980).

Virginia Axline é outra autora do universo da psicoterapia infantil, na qual foi parceira de Carl Rogers (1902- 1987), fundador da Abordagem Centrada na Pessoa. Ela adotava o método não diretivo na sua prática em atendimento com crianças. Publicou o livro “Ludoterapia” (1972) que discorria “os princípios que considera indispensáveis para os que se propõem a atender crianças e que dizem respeito muito mais à atitude do terapeuta do que a técnicas ou informações teóricas” (MATTAR, 2010, p. 82).

Seu papel não é passivo e sim de alerta, de sensibilidade e de constante apreciação daquilo que a criança diz ou faz. São necessários uma compreensão e um genuíno interesse pela criança, de modo a encorajá-la a compartilhar seu mundo interior. Mantém uma atitude profissional em seu trabalho e não revela as confidências da criança aos pais, professores ou quem quer que seja que pergunte sobre o que ela fez ou disse durante a sua hora de terapia. Esta hora é da criança, e o que faz ou diz é estritamente confidencial (AXLINE, 1972 apud MATTAR, 2010, p. 82).

Sobre a hora certa de trazer a criança à psicoterapia, Oaklander (1980, p. 206) questiona: “Como pode alguém determinar a “hora certa”, ou saber se o problema vai se resolver por si só?” A autora relata que não é algo fácil avaliar o momento adequado para levar uma criança à psicoterapia. Contudo, adianta que na maioria das vezes a criança começa a dar sinais, buscando chamar a atenção de quem está ao redor. Comumente, as escolas são as primeiras a perceber, mas hesitam em pedir ajuda enquanto a situação não se agrava.

Embasando-se na perspectiva de Axline (1972) acerca das atitudes que o psicoterapeuta deve ter junto à criança, Mattar (2010) sublinha que

a hora da terapia pertence à criança, para ser usada como ela quiser. A criança escolhe usar ou não usar o material, o terapeuta não a encoraja nem faz sugestões. O objetivo, segundo Axline, é levar à autossuficiência, independência e capacidade de autodireção. O terapeuta aceita o silêncio, como qualquer outra expressão. A criança, segundo a autora, resiste aos esforços para mudá-la, e, por vezes, o seu silêncio, ou o fato de não brincar podem ser “testes” para o terapeuta, quando a criança está atenta se ele também deseja modificá-la e se, de fato, ela é livre para agir ali como quiser (MATTAR, 2010, p. 82).

Mattar (2010) explana que Axline possui uma concepção não diretiva, fundamentada nos princípios da Psicologia Humanista, que preconiza a importância de espaço reflexivo que possibilite a atualização dos potenciais de crescimento da criança, bem como a sua capacidade libertação e tendência autorrealizadora, auxiliando o indivíduo a ser o próprio autor da sua vida.

Às vezes, a criança entra na terapia acompanhada de vários documentos (relatórios diagnósticos, procedimentos legais, registros escolares, etc.). E, apesar da leitura desses papéis serem interessante para o conhecimento da história do cliente, é importante ter cautela e não se ater às impressões e julgamentos descritos por outras pessoas. É necessário ter uma conduta apriorística ao iniciar com a criança, considerando as suas particularidades e entendendo-a como um indivíduo multifacetado, capaz de muitas formas de ser. Por exemplo, a criança pode demonstrar uma parte de si para o terapeuta que sinta dificuldade de expressar para os pais e/ou professores (OAKLANDER, 1980).

Oaklander relata que existe uma tendência dos pais em esperar muito até buscar o auxílio psicológico e que, na maioria das vezes, busca ajuda em virtude de uma situação muito difícil, quiçá intolerável, seja para os próprios pais e/ou para a criança. Por exemplo, a morte de um ente querido, maus tratos, acidente, etc.(OAKLANDER, 1980). Todavia, nos dias atuais essa prática de levar o filho ao psicoterapeuta tem sido bem mais recorrente talvez uma das primeiras alternativas, tendo em vista que a lógica de mercado, o capitalismo, o “fenômeno tempo”, os discursos midiáticos, a pressão escolar, etc. são catalisadoras dessa prática.

psicoitaim-psicoterapia-infantil
Imagem extraída do site: http://psicoitaim.com.br/tratamentos/psicoterapia-infantil/

RECURSOS PSICOTERAPÊUTICOS NA ACP

 Diferentemente dos adultos que costumam se expressar verbalmente na psicoterapia, as crianças necessitam de recursos mais lúdicos para que consigam transmitir seus reais sentimentos (frustração, medo, tristeza, alegria, etc.). Desse modo, o brincar é considerado o meio mais comum da criança projetar ações que fazem parte do seu ser, logo, acaba tornando-se o instrumento de linguagem e conexão dela com o terapeuta (OAKLANDER, 1980; LIMA; LIMA, 2015).

Oaklander (1980) acrescenta que

o brincar das crianças no consultório do terapeuta é proveitoso para outros propósitos além do processo direto da terapia. Brincar é divertido para a criança e ajuda a promover a afinidade necessária entre o terapeuta e a criança. O medo e resistência iniciais por parte desta muitas vezes é drasticamente reduzido quando ela se defronta com uma sala cheia de brinquedos atraentes (OAKLANDER, 1980, p. 189).

Diante disso, um dos recursos a serem primordialmente pensados é o ambiente. O local onde será realizado o atendimento infantil deve trazer conforto, segurança e liberdade, para tanto, deverá obter espaço, claridade e cuidado com a privacidade (sala acústica). Assim sendo, estes aspectos se mostram relevantes por trazerem à criança condições facilitadoras para que elas expressem quem realmente são no processo terapêutico (BRANCO, 2001).

Nesse ínterim, alguns instrumentos que o terapeuta poderá utilizar no seu local de atendimento lúdico são: papéis (Ex: A4), lápis grafite e colorido, pincéis, jogos, bonecos (as), família de bonecos, carros, testes projetivos, entre outros, os quais, por sinal,deverão abarcar diferentes faixas etárias (BRANCO, 2001; OAKLANDER, 1980).

A título de exemplo, os jogos podem ser preciosas ferramentas para o envolvimento das crianças na terapia, haja vista que suscitam comportamentos referentes às situações diárias, além de servirem como quebra das resistências das crianças e fortalecimento do vínculo/confiança entre a mesma e o terapeuta, e vice-versa. Alguns jogos são tipicamente encontrados em clínicas psicoterápicas infantis, tais como: dama, dominó, jogo da velha, quebra-cabeça, jogo da memória, dentre outros (OAKLANDER, 1980).

Oaklander (1980) destaca que existem muitos instrumentos destinados para este público em situação terapêutica, contudo, eles não podem ser cristalizados e usados para um determinado fim, pois o profissional deve entender que o sujeito é singular e, logo, trará comportamentos peculiares e dignos de uma sessão imprevisível. Portanto, psicoterapia é uma arte e deve-se combinar conhecimento, preparo, experiência, sentido intuitivo e criativo, bem como gostar de criança para trabalhar com elas.

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Imagem extraída do site: http://terapiaocupacionaleparalisiacerebral.blogspot.com.br/

INSERÇÃO DE LIVROS DE HISTÓRIAS NA PSICOTERAPIA INFANTIL

Em sua dissertação de mestrado, Taciane Marques Castelo Branco (2001) aborda os livros de histórias infantis como importante recurso na Psicoterapia centrada na criança. Para tanto, faz uma retrospectiva do surgimento dos livros infantis e os principais objetivos destes. Neste tópico, abordar-se-á a utilidade desses livros e seu benefício atrelado aos conceitos da Abordagem Centrada na Pessoa.

Os livros Infantis foram criados com a pretensão, por parte da Literatura, de ajudar as crianças a se desenvolverem e a se prepararem para as questões presentes e vindouras da vida humana. Portanto, unindo as forças, a Psicologia também pode atuar utilizando desses recursos para cumprir seu papel terapêutico de ajudar no emponderamento e surgimento de resiliências do cliente (BRANCO, 2001).

De acordo com Branco (2001), os livros pertencentes na Literatura Infantil Brasileira são

(…) livros que escolhem como problemática temas de sempre, – como a morte; ou temas mais recentes e não menos dolorosos, – como a separação dos casais e o problema dos filhos divididos; o problema dos tóxicos; as injustiças sociais; o racismo; as crianças abandonadas; a marginalização da mulher; etc. (BRANCO, 2001, p. 57).

É interessante notar que ao final das histórias infantis é possível verificar lições de vida que incentivam posicionamento moral frente às questões trazidas pelo conto. Além disso, essas questões trazidas como problemáticas podem ser as demandas presentes do cliente também. Cabe ao psicoterapeuta, a habilidade de observar se realmente este recurso é válido, e isso é possível a partir das correlações que o cliente faz das histórias com a sua própria vida.

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Imagem extraída do site: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI26334710536,00.html

DESAFIOS, ENTRAVES E ENCERRAMENTO NA PSICOTERAPIA INFANTIL

 Independente do pressuposto teórico e prático seguido pelo psicoterapeuta, muitos são os desafios encontrados por esse profissional em seu fazer clínico, em especial no âmbito infantil. Levando em consideração as especificidades dessa área, Costa e Dias (2005) elucidam que um dos maiores obstáculos presentes na prática da psicoterapia infantil consiste nos entraves e dificuldades em obter o apoio dos pais. Assim, é presente a dificuldade de se estabelecer uma aliança de compromisso e parceria com os responsáveis e os outros membros significativos da rede social do cliente. Segundo os autores, o progresso terapêutico da criança fica, por vezes, estagnado o comprometido por questões particulares dos pais.

Somado a isso, Costa e Dias (2005) enfatizam que, atualmente, há um número relativamente baixo de profissionais que se dediquem a essa área de atuação, bem como ao estudo e pesquisa. Nesse ínterim, ocorre uma dificuldade nas trocas mútuas e nos encaminhamentos entre profissionais que atuam nessa especialidade. Logo, “se existem poucas pessoas trabalhando na prática clínica e, considerando que a teoria é fruto dela, então são também escassas as pesquisas bem como a literatura a respeito da prática infantil nas abordagens estudadas” (COSTA, DIAS, 2005, p. 47).

Quanto ao encerramento da psicoterapia infantil, Oaklander (1980) elucida que, em muitos casos, as crianças não devem permanecer por muito tempo em terapia. Segundo a autora, as crianças não possuem muitas camadas de problemas inacabados ou acumulados como se verifica com os adultos. Assim, notam-se progressos suficientes, entre o terceiro e sexto mês de psicoterapia que permitem o seu encerramento. Acredita-se que toda criança precisa de uma oportunidade para integrar e assimilar com seus próprios mecanismos de maturação e crescimento as mudanças resultantes da psicoterapia.

De acordo com Oaklander (1980), a criança começa a demonstrar indícios para quando chega a hora de encerrar o processo. Desse modo, o comportamento da criança começa a mudar e esse fato é expresso nos relatos dos pais e professores. Outro aspecto sublinhado consiste na possibilidade do cliente se envolver em atividades extras curriculares, como esportes, clubes e a psicoterapia começa a “atrapalhar” o caminho da criança, pois torna-se o tempo em que poderia ser preenchido com outras atividades.

Contudo, a autora destaca que uma melhora no comportamento da criança não pode ser motivo suficiente para encerrar a terapia. Nessa direção, todo o material que é evidenciado durante as sessões deve ser levado em consideração.

Outro aspecto relevante refere-se ao fato de que a criança precisa ser preparada para o encerramento da terapia, pois esta não pode ocorrer de forma abrupta. Embora cada terapeuta ajude o cliente a adquirir o máximo possível de independência e autossustentação, certamente, são estabelecidos vínculos afetivos mútuos, que devem ser bem trabalhados durante o encerramento final.

Oaklander (1980) elucida ainda que, nesses casos, o término da psicoterapia não precisa, necessariamente, apresentar a finalidade explícita do nome. Desse modo, término significa chegar a um lugar de parada, um final neste exato momento e não um adeus definitivo. De acordo com essa autora, algumas crianças precisam ter uma segurança de que poderão retornar ao processo terapêutico caso sintam necessidade (se isto for realmente possível e necessário).

 

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Imagem extraída do site: http://mdemulher.abril.com.br/familia/claudia/devo-levar-meu-filho-ao-terapeuta  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou discorrer acerca do processo psicoterapêutico infantil desde a chegada da criança, a utilização dos recursos facilitadores nos atendimentos, até a forma de finalização da psicoterapia à luz da Abordagem Centrada na Pessoa.

Sobre a forma como a criança chega à terapia, ficou evidente que a maioria das vezes ela não sabe o porquê de um atendimento psicológico e pode ser uma portadora de demandas dos pais e não dela, cabendo ao psicólogo orientar os genitores se esse for o caso.

Concernente aos recursos terapêuticos possíveis, a forma lúdica é considerada a mais apropriada quando se trata de atendimento infantil, uma vez que é por meio do brincar que a criança se comunica e expressa seus sentimentos. Aliado a isso, tem-se a sugestão da leitura de histórias infantis que, dependendo do cliente, pode suscitar identificação da criança com os personagens fictícios e posterior formulação de estratégias para lidar com suas situações conflitantes.

Quanto ao encerramento da psicoterapia, as crianças (maioria delas) não precisam de muito tempo de psicoterapia, afinal não possuem a mesma carga de problemas de um adulto que possui mais tempo de vida. Além disso, tratou-se também a respeito dos entraves dessa área, podendo ser caracterizada pela dificuldade de estabelecer compromisso entre os pais das crianças e o processo terapêutico, bem como a escassez em pesquisas que tratem do assunto.

Sugere-se, portanto, mais pesquisas de técnicas e recursos na psicoterapia infantil, para que dessa forma, seja possível um diálogo entre profissionais e melhoria nos atendimentos.

 

REFERÊNCIAS

BEZERRA, M. E. S; BEZERRA, E. N. Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa.Rev. NUFEN, São Paulo,  v. 4, n. 2, p. 21-36, dez.  2012 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912012000200004&lng=pt&nrm=iso>. acesso em:  20 de Abr.  2016.

BRANCO, T. M. C. Histórias infantis na ludoterapia centrada na criança. 2001. 220 f. Dissertação de Mestrado – Instituto de Psicologia e Fonoaudiologia, PUC – Campinas, Campinas. 2001. Disponível em:http://www.gruposerbh.com.br/textos/dissertacoes_mestrado/dissertacao05.pdf. Acesso em: 21 de Abr. 2016.

COSTA, M. I. M.; DIAS, C. M. S. B. A prática da psicoterapia infantil na visão de terapeutas nas seguintes abordagens: psicodrama, Gestalt terapia e centrada na pessoa. Estudos de Psicologia, Campinas, 2005. p. 43-51. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v22n1/v22n1a05.pdf>. Acesso em 21 de abril de 2016.

LIMA, G. C. LIMA, D. M. A. O brincar como meio facilitador da expressão da criança sob a perspectiva da Gestalt-terapia. Revista IGT na Rede, v. 12, n° 22, 2015. P. 28-52. Disponível em: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0ahUKEwio_4y3qp7MAhUBEpAKHRVHBpgQFggdMAA&url=http%3A%2F%2Fwww.igt.psc.br%2Fojs%2Finclude%2Fgetdoc.php%3Fid%3D2710%26article%3D512%26mode%3Dpdf&usg=AFQjCNE4oPWi_DLDashjhs6KyqcJmrOOdA&cad=rja. Acesso em: 20 de Abr. 2016.

MATTAR, Cristine MonteiroTrês perspectivas em psicoterapia infantil: existencial, não diretiva e Gestalt-terapia. Contextos Clínic, 2010, vol.3, no. 2, p.76-87. ISSN 1983-3482

MONTEIRO, N. M.O ser terapeuta humanista-existencial e sua postura na psicoterapia infantil. In: Ser e existir: centro de estudo da pessoa, [s.p.], [s.d.]. Disponível em: file:///C:/Users/USF/Downloads/SEMIN%C3%81RIO+O(ser)terapeuta_h-e_e_sua_postura_na_psicoterapia_infantil.pdf. Acesso em 12 Abril. 2016.

OAKLANDER, V. O processo de terapia. In: OAKLANDER, V. Descobrindo crianças. São Paulo: Summus, 1980. p. 205-229.

OAKLANDER, V. Ludoterapia. In: OAKLANDER, V. Descobrindo crianças. São Paulo: Summus, 1980. p.183-204.

ROGERS, C. Alcançar o “insight”. In: Psicoterapia e Consulta Psicológica. Martins Fontes, SP, 1997, P. 175-219.

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O Jogo do Exterminador: a jornada do herói e a universalização da empatia

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Lançado recentemente, “Ender’s Game – O Jogo do Exterminador” é um filme de ficção científica, baseado no romance homônimo do americano Orson Scott Card, e protagonizado por Asa Butterfield como Andrew “Ender” Wiggin, além da participação de Hailee Steinfeld, Ben Kingsley, Viola Davis, Abigail Breslin e Harrison Ford, dentre outros.

O livro foi escrito na década de 1980, e impressiona por preveraplicações tecnológicas que, hoje, trinta anos depois, estão no cotidiano das pessoas comuns, como os tablet’s e as tecnologias que identificam (e interagem com) as emoções pelas expressões faciais, só para citar alguns elementos gráficos. A estória se passa em um futuro próximo, em que extraterrestres invadem a Terra em busca de um bem precioso, e depois de uma sangrenta batalha são expulsos.

A partir de então, o coronel Graff e as forças militares da Terra treinam as crianças mais talentosas do planeta, preparando-as para um próximo ataque. Afinal, presume-se, não haveria ninguém melhor que crianças para lidar com a rápida e sempre inovadora corrida tecnológica que se inicia depois do “ataque” alienígena. O tímido e brilhante garoto Ender Wiggin é selecionado para fazer parte da elite, e se torna a peça-chave do enredo.

 

 

Hollywood usa o arquétipo do herói em boa parte de seus filmes, sobretudo àqueles em que a expressão do masculino salta aos olhos, como a pulsão pelo fazer, as tentativas de expansão (territorial, inclusive) e, claro, a sempre presente fórmula de “atacar antes de ser atacado” (defesa de território?). Antes que Joseph Campbell (estudioso da mitologia e dos arquétipos) se revire em seu túmulo, não se pode negar os atributos do masculino também expressos em “Ender’s Game”, como a necessidade de manter a linha evolutiva, além de se prover a segurança necessária a quem dele (do masculino) depende, só para citar alguns pontos presentes no longa.

Enfim, “Ender’s Game” é um filme incrivelmente arquetípico, e mesmo que receba críticas por colocar crianças em situações de extrema tensão, violência e comprometimento, também não deixa de lembrar as práticas de “formação do guerreiro” tão comuns em sociedades antigas (cujas crianças, desde cedo, eram instadas a enfrentar o medo), atitudes essas reverberadas positivamente nas análises do filósofo alemão Nietzsche, e discutidas mais tarde pelos franceses Deleuze e Guattari como uma forma de fortalecimento das jovens gerações.

 

 

“Ender’s Game”, no entanto, vai além ao colocar enfoque na ética e na universalização da empatia (ou no amor desinteressado, na compaixão de que falam os orientais). Esses pontos são importantes na trama, uma vez que o herói, bem ao estilo japonês clássico (na famosa conduta expressa no Bushido), não consegue sentir ódio pelo “adversário”, mas, antes, por conhecê-lo tão bem, passa a amá-lo. Sendo assim, não há alguém que sai do “seio familiar” e que, portanto, percorre toda uma trajetória de treinamento e de “enfrentamento” (não apenas do “inimigo” externo, mas também do interno) para, enfim, retornar ao lar como o herói que oferece um alento a seu povo. Ender Wiggin se debate com a difícil tarefa de ver o outro não como um estranho, mas como alguém que pode ter as mesmas aspirações que as suas (lembremos-nos das características de expansão e domínio do aspecto masculino).

 

 

Ao que parece, o elo entre o percurso de cunho particular (pois Ender Wiggin sai para defender “sua família”, “seu povo”) e o desenrolar da abordagem universal se dá pela personagem de Valentine Wiggin, responsável por despertar no irmão o que há de mais sagrado no aspecto feminino – o acolhimento e o diálogo. Ender tem a possibilidade de ancorar-se no referencial masculino (seu irmão), mas é em Valentine que se inspira, e a transmutação do ordinário ocorre, tornando-se em um “guerreiro” corajoso, mas também  sensível ao panorama/situação como um todo. Por incrível que pareça (e por mais que, para alguns, possa ser algo paradoxal), ao ampliar o afeto pela irmã, Ender Wiggin torna-se menos passional –e amplamente mais amoroso.

 

 

Enfim, trata-se de um filme inspirador que, no fundo, apesar da rigidez a que são submetidas determinadas pessoas em condições especiais (neste caso em particular, as crianças), abre a possibilidade de se escolher um caminho diferente daquele proposto pela visão dominante. E ao fazer esta escolha, se supera o dualismo superficial a que todos estão embebidos. Há, então, uma deliberada escolha pelo caminho que sai dos extremos, um caminho que prima pelo viés mediano e que, portanto, exorta a uma profunda reflexão ética, mesmo que alguns expectadores preferissem um final diferente. Sem romances e sem violência desmedida, a obra põe o interlocutor a pensar sobre sua própria visão de mundo, sua visão do “outro”.

Afinal, na dança da vida, não há mocinhos nem bandidos. Todos parecem ter as mesmas aspirações, já que esta questão deve está longe de ser puro relativismo. É, portanto, um convite à investigação do “aparentemente diferente”, pois ao abrir-se para o outro, como ocorre com Ender, é, em suma, dar espaço para a “regra de ouro” utilitarista de não fazer ao outro o que não quer que faça a si mesmo. Isso só pode ser entendido por quem se coloca em perspectiva, sai do papel de vítima e funde-se no universo do desconhecido. Alguém que já descobriu a ligação que há entre o fenômeno e sua causa, entre tudo e todos.

FICHA TÉCNICA:

O JOGO DO EXTERMINADOR

Título Original: Ender’s Game
Direção: Gavin Hood
Roteiro: Gavin Hood
Elenco: Asa Butterfield, Harrison Ford ,Abigail Breslin, Ben Kingsley, Hailee Steinfeld etc
Ano: 2013

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