LGBTQIA+: Acadêmicos de Psicologia realizam evento sobre “lugar de fala” e reafirmação da vida

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Os acadêmicos de Psicologia da Ulbra Palmas, Eduardo Barros Carneiro, Romário Milhomens da Silva e Waldoyana de Kácia Alves de Queiróz, realizam o manejo de Grupo terapêutico para a comunidade LGBTQIAPN+ de Palmas, sob a supervisão do Prof. Sonielson Luciano de Sousa. A próxima ação dos acadêmicos é a mediação de um evento público no dia 30/09/2023, às 17h no Parque dos Povos Indígenas. O Grupo Terapêutico tem a finalidade de abrir espaços para que a Comunidade LGBTQIAPN+ se reúna e compartilhe suas vivências, garantindo e reafirmando o seu Lugar de Fala.

O Grupo Terapêutico foi criado pensando em atender a população LGBTQIAPN+, para oportunizar aos seus integrantes perceberem melhor o seu momento, seu empoderamento e Lugar de Fala ante a uma perspectiva social capaz de reconhecer e respeitar sua história de vida. A proposta é realizar momentos em que as pessoas possam ser ouvidas e acolhidas da melhor forma possível. Ante a inviabilidade social e desigualdades de acesso pessoal, profissional e até familiar, uma escuta entre iguais, onde o compartilhar promova fortalecimento dessa população incansável, na busca de validação de direitos mínimos.

Assim será esse momento, para acolher, ouvir e compartilhar, fortalecendo assim uma rede de apoio entre os pertencentes a essa Comunidade, valorizando pessoas, informando sobre os seus direitos, valorizando a sua história, mostrando o seu Lugar de Fala e reafirmação da vida.

Os acadêmicos têm realizado ações de divulgação nas redes sociais, em locais de grande fluxo desta população, além de canais oficiais da Universidade. O projeto tem ganhado notoriedade e reconhecimento por parte das pessoas que tem participado e acompanhado as redes sociais.

O grupo terapêutico é um trabalho de extensão do Projeto CRESCER da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA/PALMAS), na disciplina de Intervenção em Grupo. O presente trabalho tem parceria com a Instituição Casa A+ que fica localizada no Plano Diretor Norte da capital.

A casa A+ é uma organização não governamental e que acolhe a população LGBTQIA+ em situações de vulnerabilidades sociais. Buscando promover, fortalecer a saúde e os direitos humanos, sociais, econômicos, culturais e ambientais para a superação do HIV/AIDS. São quatro encontros com a comunidade dando a oportunidade de Lugar de fala, ocasião em que as pessoas LGBTQIA+ compartilham suas vivências com outras pessoas, assim, gerando o fortalecimento e vínculo com o grupo.

A realização do evento conta com a participação dos acadêmicos de Psicologia, Casa A+ e população. O presente trabalho tem o objetivo de ouvir as demandas da comunidade e contribuir nesse processo. Devido diversas demandas da comunidade LGBTQIA+, os acadêmicos estarão atentos e acolhendo a população que ainda sofre com tanta discriminação e violência.

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São Tibira, indígena, homossexual e o primeiro corpo a ser esmagado pela homofobia no Brasil

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 São Tibira, o primeiro caso de homofobia registrado no Brasil

“Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos, meu sangue latino, minh’alma cativa. Rompi tratados, traí os ritos…”  Secos e Molhados – Sangue Latino

Em 2014, o antropólogo Luiz Mott, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), uma ONG que historicamente tem produzido dados sobre a discriminação contra a comunidade LGBTQIAP+ no Brasil, lançou um livro intitulado “São Tibira do Maranhão – 1613-1614, Índio Gay Mártir”. Este livro acendeu a luz para que enxergássemos a figura, até então, desconhecida: Tibira do Maranhão.

Tibira do Maranhão, um indígena pertencente à etnia tupinambá, foi executado em 1614 por causa de sua orientação sexual, especificamente por ser homossexual. A decisão de condenar a morte foi tomada por líderes religiosos católicos que estavam em uma missão no Brasil naquela época. Um desses líderes foi o entomólogo francês Yves d’Évreux (1577-1632), um frade capuchinho que colonizou o Brasil. D’Évreux detalha a execução de Tibira do Maranhão em seu livro intitulado “História das Coisas Mais Memoráveis ​​Acontecidas no Maranhão nos Anos de 1613-1614”.

Desde então, Luiz Mott tem trabalhado incansavelmente para aumentar a visibilidade desse episódio. Ele teve apoio de um líder religioso que vem de uma visão cristã independente, o arcebispo primaz da Santa Igreja Celta do Brasil, que expressou seu reconhecimento pelo martírio e pela santidade de Tibira do Maranhão. Desde que seu livro foi publicado, Mott liderou uma iniciativa para que Tibira do Maranhão fosse reconhecida não apenas como mártir, mas também como uma figura santa, assim iniciando o processo de canonização. Em 2016, as autoridades do Maranhão marcaram esse reconhecimento ao inaugurar uma placa em homenagem a Tibira na Praça Marcílio Dias, localizada em São Luís.

Uma pesquisa realizada com base nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS) evidenciou que a cada hora uma pessoa LGBTQIAP+ é agredida no Brasil. Entre o período de 2015 e 2017 analisou-se esses dados, 24.564 notificações de violências contra pessoas da comunidade foram registradas, o que entende-se que, em média, são mais de 22 notificações por dia, ou seja, quase uma notificação por hora (PUTTI, 2020). São Tibira foi, infelizmente, o primeiro caso de homofobia registrada no Brasil, sendo um indígena morto pelas mãos de um colonizador de forma bruta, por sua etnia já era considerado por eles um ser sem notoriedade e por sua orientação, o mesmo foi condenado à morte.

Falando de identidade sexual é importante falar sobre a cisheteronormatividade, a qual é responsável por tentar ditar qual a identidade sexual e de gênero é a correta, a conformidade à cisheteronormatividade advém de uma visão do mundo cristão monoteísta (ORNELAS, 2021). Com a história do São Tibira vale analisar a colonização das sexualidades, que pode estar relacionada a dispositivos políticos, ideológicos, raciais, econômicos e científicos que estão profundamente entrelaçados (FERNANDES, 2017).

                                                                                  Fonte: Theodor de Bry/Reprodução

Cena descrita por Pietro D’Anguiera em “De Orbe Novo”, com Vasco Nuñez de Balboa assassinando o irmão de um cacique no Panamá e 40 de seus companheiros por estarem vestidos de mulher, em 1513.

Esses mecanismos afetam várias comunidades (rurais, urbanas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, entre outras) por meio da imposição da cisheteronormatividade, que é uma parte integrante da estrutura de poder colonial que molda as normas morais e familiares, bem como a divisão de papéis de gênero no trabalho. Nesse contexto, é crucial entender que a sexualidade desempenha um papel fundamental na compreensão da dinâmica colonial, abrangendo questões que vão além do âmbito estrito do sexo, como casamento, laços familiares, vida doméstica, alianças políticas, habitação e outras mais, não sendo fechado ao sexo, estrito senso (FERNANDES, 2017).

A cisheteronormatividade e a imposição compulsória da heterossexualidade, instaladas durante o período da colonização europeia, estão enraizadas em discursos e práticas religiosas, políticas e civilizacionais que se baseiam em fundamentos científicos, teológicos e socioculturais (FERNANDES, 2017). Esse processo de colonização e imposição de uma cultura dominante afeta diretamente os corpos e as identidades sexuais, planejando estabelecer uma norma moral baseada no modelo de família cristã binária e hegemônica, criando assim dinâmicas de exploração e subordinação como meio de manter o poder e preservar a cultura branca, patriarcal e heterossexual da era moderna/colonial (FERNANDES, 2017)

A colonização sexual afeta diretamente a vida dos povos originários, já que os mesmos eram obrigados a seguir as idealizações colocadas por colonizadores, como forma de apagarem suas identidades. Em uma entrevista para à Rádio CNN, Danilo Tupinikim afirma que “é sempre importante pensar no quanto a colonização afetou os povos indígenas, e com questões de gênero e sexualidade não foi diferente”.

                                                                               Fonte: Yasmin Velloso/Mídia NINJA

Povos indígenas e LGBTQIAP+ enfrentam batalha dupla contra o preconceito

O processo de colonização imposto às comunidades indígenas representou um esforço deliberado de implementação de um ‘projeto de civilização’ que envolve a negação e a destruição de suas visões de mundo e conhecimentos, abrangendo seus costumes linguísticos, hábitos alimentares, práticas educacionais, identidades sexuais, sistemas religiosos e todas as outras formas de convívio comunitário. Esse processo e projeto continuam a ter impactos significativos até os dias atuais. A perspectiva colonizadora, que se estende desde o mito renascentista do ‘bom selvagem’ até a desumanização dos povos originários, está profundamente entrelaçada com a religião cristã e sua ênfase no ‘puritanismo ocidental, que valorizava a virgindade, o celibato, o casamento e outros valores semelhantes (Trevisan, 2018).

A visão dos missionários jesuítas no Brasil foi centrada na percepção de que o corpo ameríndio era visto como refletindo uma natureza corrompida. A atenção primordial dos jesuítas recai sobre o corpo ameríndio, abordando questões como a cauinagem, a luxúria (incluindo a sodomia), a nudez, os rituais antropofágicos e a poligamia, entre outros aspectos. No entanto, para os jesuítas, essa intervenção não se limitava ao corpo físico dos indígenas, mas visava, sobretudo, à transformação da alma por meio do corpo (Fernandes, 2017).

A história de São Tibira do Maranhão, o primeiro caso de homofobia documentado no Brasil, serve como um trágico lembrete das profundas raízes da discriminação contra a comunidade LGBTQIAP+ e não só isso, como a colonização ajudou na dissipação da identidade sexual dos povos originários em nosso país. São Tibira do Maranhão está em processo de tornar-se um mártir para a história do Brasil e, de modo geral, que isso nos sirva como lembrete de que na comunidade LGTQIAP+ não existe apenas uma luta, e que há sujeitos com mais de uma luta que vai para além da homofobia.

REFERÊNCIA

 

FERNANDES, Estevão R. “Existe índio gay?”: a colonização das sexualidades indígenas no Brasil. Curitiba: Editora Prismas, 2017. 245p.

GARCIA, Amanda; VIDICA, Letícia; BRITO, Leticia. Indígenas da comunidade LGBTQ sofrem duplo preconceito. CNN Brasil. 2022. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/indigenas-da-comunidade-lgbtq-sofrem-duplo-preconceito-afirma-ativista/>. Acesso em 13 setem. 2023.

ORNELAS, Gabriel Mattos. Se há LGBTfobia não há agroecologia: coletivos de juventudes LGBTQIAP+ e processos educativos sobre diversidade afetiva, sexual e de gênero. ReDiPE: Revista Diálogos e Perspectivas em Educação, v. 3, n. 2, p. 92-102, 2021. Disponível em: <https://periodicos.unifesspa.edu.br/index.php/ReDiPE/article/view/1693> Acesso em 11 setem. 2023.

PUTTI, Alexandre. Um LGBT é agredido no Brasil a cada hora, revelam dados do SUS. 2020. Disponível em:<https://www.cartacapital.com.br/diversidade/um-lgbt-e-agredido-no-brasil-a-cada-hora-revelam-dados-do-sus/>. Acesso em 11 setem. 2023.

TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à

atualidade. 4ª ed – Rio de Janeiro: Objetiva, 2018.

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Saúde discute com parceiros o processo transexualizador no Tocantins  

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 Reunião aconteceu na sede da SES-TO nesta segunda-feira, 11. O encontro promoveu alinhamento das ações para efetivação dos serviços a serem disponibilizados no SUS tocantinense

Karoliny Santiago/Governo do Tocantins

Em busca de ofertar um atendimento integral e de qualidade a população de travestis e transexuais viventes no Tocantins, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) promoveu na segunda-feira, 11, uma reunião para alinhar ações e serviços a serem disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tocantinense. O evento foi realizado na sede da Pasta e contou com a participação de representantes de áreas técnicas da SES-TO, do Ministério Público do Tocantins, Defensoria Pública do Tocantins, Associação de Travestis e Transexuais do Estado do Tocantins (ATRATO) e Secretarias Municipais de Saúde de Palmas e Araguaína.

Durante a reunião, foi acordada a criação de um grupo especializado para o atendimento a esses pacientes. “Essa reunião foi muito produtiva para os presentes, pois saímos daqui com os encaminhamentos necessários para a definição desse grupo de trabalho que irá construir essa linha de cuidado a esses pacientes, tanto na rede pública municipal, quanto estadual, colocando cada responsabilidade na instituição desta portaria”, disse a diretora de atenção primária da SES-TO, Thalyta Fernandes.

A presidente da ATRATO, Byanca Marchioli, relatou a necessidade que a população trans no Tocantins possui, principalmente nesse apoio na saúde. “Foi muito importante participar de mais essa reunião promovida pela Secretaria de Estado da Saúde, pois demos mais um passo para a implantação do ambulatório transexualizador  existir e ofertar o atendimento necessário”.

                                                                                 Fonte: https://saude.to.gov.br/          

 Encontro promoveu alinhamento sobre as ações e serviços que serão disponibilizados no SUS municipal e estadual

O coordenador do Núcleo de Defesa da Saúde (Nusa), defensor público Freddy Alejandro Solórzano Antunes, comentou sobre o reconhecimento da SES-TO para o atendimento deste procedimento à população de travestis e transexuais viventes no Tocantins. “A Defensoria Pública do Tocantins possui um procedimento preparatório para uma ação civil pública desde 2016 para tentar solucionar essa questão e o Estado tem progredido no sentido de tentar organizar o serviço e formar a linha de cuidado. E nisto, a Defensoria tem acompanhado e espera que se dê um andamento célebre”.

“A reunião foi bastante produtiva, pois demos algumas deliberações em relação a essa demanda da criação da linha de cuidado da população LGBTQIA+, que é uma demanda importante e que vem sendo tensionada há algum tempo, tanto para o Estado quanto para o município. E acredito que agora temos um avanço importante para que seja garantido realmente o direito dos pacientes como todos”, comentou a diretora de alta e média complexidade da Semus de Palmas, Jelda Pinto.

As reuniões sobre o 1° Ambulatório Transexualizador no Tocantins estão sendo coordenadas pela Superintendência de Políticas de Atenção à Saúde (SPAS), com apoio da Superintendência de Unidades Hospitalares Próprias (SUHP) e do Programa de Diversidade na Saúde e municípios. No Tocantins, estima-se, entre homens e mulheres trans, aproximadamente 400 pessoas.

LEGENDAS: ANDRÉ ARAÚJO – GOVERNO DO TOCANTINS

1.            Reunião aconteceu na sede da SES-TO nesta segunda-feira, 11
2.            Encontro promoveu alinhamento sobre as ações e serviços que serão disponibilizados no SUS municipal e estadual

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Debate acerca da vivência LGBTQIAP+ dentro do contexto universitário

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Nas universidades a verdadeira inclusão se concretiza quando se adotam práticas visíveis, como os programas de ações afirmativas, como as cotas. Além disso, essa inclusão depende de uma administração universitária que prioriza a gestão social, o que significa tomar medidas democráticas, igualitárias, participativas, colaborativas e diversas, com decisões que valorizem a solidariedade em vez de focar exclusivamente em aspectos econômicos, conforme Moreira (et al. 2011).

Ainda segundo Moreira, também é crucial promover a inovação social, por meio da criação de projetos que buscam integrar e dar oportunidades aos menos favorecidos. Todos esses elementos se baseiam em um modelo de ação comunicativa e dialógica, em que os envolvidos na ação reconhecem a importância dessas práticas e concordam com sua validade. Embora possa parecer uma utopia, essa abordagem tem o potencial de se tornar realidade com empenho e dedicação.

Em muitos cenários educacionais, ainda não estão adequadamente equipados para abordar as diversas manifestações da sexualidade. Com frequência, os preconceitos e a discriminação são perpetuados nesse contexto, quer de forma velada ou até mesmo de maneira explícita. Isso torna a permanência de indivíduos LGBT um ato genuíno de enfrentamento.

A inclusão deve ser um ato que promova o crescimento humano, organizacional e social por meio de um processo abrangente de compartilhamento de conhecimentos, valores e crenças. Isso implica em integrar as minorias através de práticas que levam em consideração as circunstâncias materiais reais em que vivem, e, ao mesmo tempo, evitar a reprodução dos estigmas e exclusões presentes na sociedade (Magalhães et al., 2017).

E para falar mais sobre a vivência LGBTQIAP+ no contexto universitário, o EnCena convidou Karen Oliveira, lésbica, jornalista e atualmente formada em Psicologia e atuante na área, fazendo uso da teoria Sistêmica e atuante da Terapia Afirmativa, que é para o público LGBTQIAP+ .

Encena: Sabemos que você agora é uma profissional de psicologia. Durante seus estudos, como percebeu a preparação dos futuros psicólogos em relação ao atendimento e apoio às questões específicas enfrentadas pela comunidade LGBT?

 

Karen: Pela minha experiência, no contexto acadêmico faltam debates, inserção de disciplinas focadas na temática e preparação científica. Apesar de sabermos que nas universidades que ofertam cursos de Psicologia há variação de grades curriculares, em geral elas abordam essa temática de forma superficial. Por exemplo, durante toda a minha graduação não foi falado sobre psicoterapia afirmativa, que é focada em pessoas LGBTQIAP+. O meu conhecimento sobre essa vertente foi resultado apenas de estudo próprio. A falta de visibilidade traz consequências negativas tanto para os estudantes, que serão futuros psicólogos, quanto para os que virão a ser seus pacientes. Portanto, ainda falta preparação a nível institucional e capacitação dos acadêmicos quanto a ferramentas, postura e ética no atendimento desse grupo minoritário.

 

Encena: Como mulher lésbica, você sentiu segurança para expressar sua orientação sexual durante os estudos universitários? Poderia compartilhar um pouco sobre sua experiência nesse sentido?

 

Karen: Em alguns momentos sim, mas, como já mencionei, esse debate foi muito raso dentro do ambiente acadêmico durante a minha graduação. Infelizmente, na minha vivência, em algumas situações, faltou acolhimento e não houve muito espaço e/ou visibilidade, causando estresse de minoria e potencialização de mecanismos de defesa.

 

Encena: À medida que você avançou na carreira, atualmente como psicóloga, você sente que a aceitação da diversidade sexual é mais efetiva nos ambientes profissionais do que nos contextos acadêmicos? Por quê?

 

Karen: Acredito que é difícil haver uma aceitação totalmente efetiva, visto que a construção social é heteronormativa e o Brasil é o país que lidera o ranking de mortes pelo crime de LGBTfobia. Há situações de homofobia em todos os espaços. Mas, talvez pela hierarquização institucional existente na universidade, quando existe o título de ser uma profissional, pode ser que haja mais respeito em alguns espaços, além da possibilidade de atendimento ao público LGBTQIAP+. Mas, ainda enquanto profissionais, infelizmente não estamos imunes ao preconceito e às violências.

 

Encena: Em sua opinião, quais são os principais desafios que as universidades ainda enfrentam quando se trata de garantir a inclusão e o respeito aos direitos LGBT?

 

Karen: Acredito que seja necessário as universidades desenvolverem mecanismos de acolhimento, inserção, inclusão, integração, respeito, validação e métodos para a permanência dos estudantes que fazem parte da comunidade. É importante que a temática seja trabalhada com professores, que sejam promovidas palestras, rodas de conversa e projetos que abordem a inclusão. Também há a necessidade da criação de mais disciplinas que falem sobre gênero e sexualidade e que haja, para além do papel, intolerância com os preconceitos que possam ser vivenciados.

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Em pesquisa inédita do IBGE, 7 mil adultos se declararam homossexuais ou bissexuais em 2019 no TO

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Cerca de 7 mil pessoas se declararam homossexuais ou bissexuais, no Tocantins, em 2019, o que correspondia a 0,6% da população adulta, maior de 18 anos. Os dados divulgados nesta quarta-feira, 25, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) – Quesito Orientação Sexual, que investigou pela primeira vez essa característica da população brasileira, em caráter experimental.

Em 2019, havia cerca de 1,1 milhão de pessoas de 18 anos ou mais no estado do Tocantins. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Saúde, desse total, 96,3% se declararam heterossexuais; 0,6% homossexuais ou bissexuais e 3,0% não sabiam sua orientação sexual ou não quiseram responder, correspondendo a um total de 34 mil tocantinenses.

“O número de pessoas que não quiseram responder pode estar relacionado ao receio do entrevistado de se autoidentificar como homossexual ou bissexual e informar para outra pessoa sua orientação sexual”, analisa a coordenadora da pesquisa, Maria Lúcia Vieira.

Na Capital, Palmas, havia aproximadamente 213 mil adultos, em 2019. Conforme a pesquisa, 96,4% (206 mil) se declararam heterossexuais, 1,6% (3 mil) homossexuais ou bissexuais e 1,9% (4 mil) se recusaram a responder ou não sabiam sua orientação sexual.

Fonte: encurtador.com.br/aiqIS

Cenário nacional
No país, 2,9 milhões de pessoas se declararam homossexuais ou bissexuais, o que correspondia a 1,8% da população adulta, maior de 18 anos. No Sudeste o percentual foi de 2,1%, no Norte e no Sul 1,9%, no Centro-Oeste 1,7% e no Nordeste 1,5%. Entre as Unidades da Federação, o percentual chegou a 2,9% no Distrito Federal, 2,8% no Amapá e 2,3% no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Amazonas.

Conforme a pesquisa, 94,8% dos brasileiros adultos se declararam heterossexuais; 1,2% homossexuais; 0,7% bissexuais; 1,1% não sabiam sua orientação sexual; 2,3% não quiseram responder; e 0,1% declararam outra orientação sexual.

Os percentuais obtidos para os estados e as capitais não devem ser comparados, pois não são considerados significativamente diferentes entre si em função do intervalo de confiança dessas estimativas.

Fonte: encurtador.com.br/irtK2

Censo 2022
Perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero não foram incluídas nos questionários do Censo Demográfico 2022, porque a metodologia de captação das informações permite que um morador possa responder por ele e pelos demais residentes do domicílio. “Pelo caráter sensível e privado da informação, as perguntas sobre a orientação sexual de um determinado morador devem ser respondidas por ele mesmo”, explica o diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo.

Cimar destaca que o IBGE entende a importância do tema e está atento à demanda da sociedade por esses dados. Por isso, desenvolveu na PNS, uma das maiores e mais importantes pesquisas de saúde no Brasil, questão específica sobre a orientação sexual. A metodologia da PNS viabiliza o estudo desse tipo de dado.

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Bravura e sobrevivência – (En)Cena entrevista a advogada Flávia Paulo

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“Mesmo antes da pandemia, o Brasil já era o 5º país do mundo no índice de feminicídios [1], há anos figura entre os piores em termos de desigualdade de renda e é considerado o país que mais mata pessoas LGBTQI+ [2]. Após a pandemia esses índices irão demonstrar cenários complicados para nós mulheres”.
Flávia Paulo

Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de Campinas aponta que a população LGBTQI+ se sentem mais vulneráveis ao desemprego e à depressão por causa da pandemia. Segundo dados do Núcleo de Gênero e Diversidade – NUGEN [3], divulgados em 2020, dos dez mil brasileiros entrevistados 44% das lésbicas; 34% dos gays; 47% das pessoas bissexuais e pansexuais; e 42% das transexuais temem sofrer algum problema de saúde mental durante a pandemia do novo coronavírus.

O estudo revela ainda que 21,6% dos LGBTs entrevistados estão desempregados enquanto que o índice total no Brasil é de 12,2%, segundo o IBGE.

Neste contexto, a revista (En)Cena entrevista a advogada, militante ativista do movimento lésbico e usuária ativa das redes sociais Flávia Paulo aponta sua perspectiva sobre os desafios de ser mulher, LGBTQI+, atuar como jurista e ter sucesso profissional no Brasil da pandemia. Destaca, ainda, os impactos positivos de saber a hora de parar, desligar-se do trabalho e manter uma vida pessoal equilibrada para manter saúde mental e reinventar formas de sobrevivência no pós-pandemia.

Flávio Paulo. Foto – Arquivo pessoal

(En)Cena – Considerando o seu lugar de fala, de mulher, advogada, ativista do movimento lésbico e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?

Flávia Paulo – As limitações dentro desse padrão no qual faço parte, são evidentemente sentidas no cotidiano. Para ser mulher neste contexto precisamos encarar de frente e com muita bravura todas as limitações que são impostas a nós. A pandemia gerada pelo novo Corona vírus intensificou todas as crises que já faziam parte das realidades aqui no Brasil. Um dos temas que a covid-19 trouxe à tona para a sociedade brasileira foi a dimensão da divisão sexual do trabalho em relação ao trabalho não-pago realizado no interior das famílias. No cenário brasileiro, a crise sanitária se soma à crise de governança, resultando num pandemônio que produz mais precariedades e violências contra as classes minoritárias. A voz da mulher merece ter além de espaço, força, pois nada adianta os disfarces de oitivas seguidos de engavetamento de suas ideias e pensamentos. As redes sociais estão cada vez mais sendo utilizadas para demonstrar essas realidades. Utilizo as minhas redes sociais para o fim comercial e também para a criação da minha persona, mulher, lésbica, advogada e independente para que com isso eu consiga gerar sentimentos de acolhimento para aquelas que se sentem muitas vezes desestimuladas a serem quem elas querem ser ou se sentem indiferentes e possam ter coragem de assumir uma vida livre ou pelo menos tentar.

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(En)Cena – Como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres interfere em tomadas de decisões acertadas ou equivocadas em termos de direito?

Flávia Paulo – Acredito que seja de forma individual, pois temos mulheres técnicas nas quais nada ou quase nada interfere suas emoções e sentimentos nas tomadas de decisões, como temos também em contrapartida mulheres que se deixam levar por sentimentos e emoções que acabam influenciando em decisões que deveriam ser tomadas apenas por critérios técnicos. Mas entendo, que seja algo mais relacionado à capacidade humana do que a distinção entre gêneros. Conheço homens, advogados, juristas, extremamente emocionais e que se deixam ser influenciados a ponto de tomarem decisões técnicas baseadas em sentimentos. Já recebi decisões judiciais baseadas claramente em sentimentos pois não se enquadram no código de processo civil, no direito material e sim na mais pura opinião pessoal do magistrado.

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(En)Cena – Quais estratégias você indica para que as mulheres mantenham saúde mental no curso de um processo judicial?

Flávia Paulo – O que você faz quando desliga o seu computador é um fator que irá determinar se terá saúde mental ou não. Com o computador aberto, sofrendo as pressões tanto de clientes, como de colegas e magistrados, eu entendo ser muito improvável que a mulher consiga ter saúde mental. Me refiro a máquina (computador) pois estamos em pandemia, e a advocacia hoje acontece de forma virtual, na máquina. E desligar a máquina e tentar ter sua vida pessoal longe dela, eu vejo como primordial para uma saúde equilibrada, caso contrário você será consumida aos poucos. Mas a máquina pode ser estendida a qualquer tipo de objeto ou pessoas que te liguem ao seu trabalho. Ter sua vida pessoal é primordial.

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(En)Cena –  Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Flávia Paulo – Importante destacar que na história, toda crise social atingiu com mais intensidade as mulheres e isso será sentido no mundo pós-pandemia. Isto porque esse impacto é maior nas mulheres e isso está ligado ao machismo estrutural. A sobrecarga e acúmulo de funções, a carga mental invisível. Isso tudo terá uma consequência nos próximos anos que será perceptível. É preciso, ainda, contextualizar que mesmo antes da pandemia, o Brasil já era o 5º país do mundo no índice de feminicídios, há anos figura entre os piores em termos de desigualdade de renda e é considerado o país que mais mata pessoas LGBTQI+. Após a pandemia esses índices irão demonstrar cenários complicados para nós mulheres. Essa polarização de mulheres contra homens, feministas contra não feministas, isso tudo já está muito mais ativado agora no cenário epidêmico e terá graves consequências contra os direitos das mulheres e contra sua própria dignidade, o que será externamente sentido quando a pandemia não for mais o foco e a sociedade entender o que as mulheres tiveram que se submeter durante a pandemia. E como nos ensinou Angela Davis: “Precisamos nos esforçar para erguer-nos enquanto subimos”. E com isso as mulheres mais uma vez terão que reinventar formas de sobrevivência.

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Notas:

[1] Mapa da Violência de 2015, organizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

[2]Observatório de assassinatos trans.  https://exame.com/brasil/pelo-12o-ano-consecutivo-brasil-e-pais-que-mais-mata-transexuais-no-mundo/

[3]https://wp.ufpel.edu.br/nugen/2020/09/02/pesquisa-da-ufmg-e-unicamp-aponta-que-populacao-lgbt-esta-mais-vulneravel-ao-desemprego-e-a-depressao-por-causa-da-pandemia/

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