Livro inédito de Jules Verne é lançado no Brasil pela Editora Aleph

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Fora dos Eixos traz uma história que reflete sobre mudanças climáticas, territorialismo e limites éticos da ciência

Considerado o pai da ficção científica, Jules Verne é certamente um nome que marca a literatura mundial. O escritor francês, que viveu no século XIX, “previu” alguns avanços tecnológicos e outros acontecimentos que marcariam a história da humanidade, como a chegada do homem à lua. Em Fora dos eixos, livro que acaba de ser publicado pela primeira vez no Brasil pela Editora Aleph, Verne combina crítica social, ficção científica e uma fina ironia para abordar temas como a ambição humana, o imperialismo e a confiança cega no progresso técnico. A história gira em torno da fictícia North Polar Practical Association, uma sociedade americana que planeja mover o eixo da Terra. 

Ao longo da narrativa, Verne ironiza a megalomania dos Estados Unidos e dos países europeus que disputam a posse de uma região inóspita como se estivessem em um leilão. O autor satiriza tanto a fé exagerada na ciência quanto os delírios de grandeza que moldaram o século XIX e que, de certa forma, continuam ecoando no século XXI.

Além do enredo provocativo, Fora dos Eixos encanta pela atualidade. Em tempos de debates sobre mudanças climáticas, territorialismo e limites éticos da ciência, o livro convida o leitor a refletir: até onde estamos dispostos a ir em nome da inovação? E quais são as consequências de brincarmos com as engrenagens do planeta?

Com pouco mais de 220 páginas, esta edição especial conta ainda com mais de 30 ilustrações originais assinadas pelo artista francês George Roux e integra um box comemorativo de clássicos do autor.

Capa do Box Jules Verne
Foto: Divulgação

As obras de Jules Verne atravessa gerações e cruza realidade com ficção em diferentes tempos. Neil Armstrong, comandante da Apollo 11, o primeiro homem a chegar à lua, citou o autor ao relembrar da ficção criada por ele. Outras “coincidências” marcam as obras dele, como o valor gasto na missão Apollo 8, que custou mais de 14 bilhões, algo bem próximo dos 12 bilhões de dólares previstos por Verne, entre outros acontecimentos.

O box, que já está disponível na Amazon por R$ 114,37, vem com outras obras em capa dura do autor, como Da Terra à Lua e Ao Redor da Lua, além de brindes exclusivos. Todas traduzidas diretamente do francês por Sofia Soter, mantendo o estilo irreverente do escritor.

Sobre o autor:  Jules Verne nasceu em Nantes, na França, em 1828. Foi para Paris para estudar Direito, mesma profissão do pai, e lá se apaixonou por literatura e teatro. Em 1862, Verne teve o primeiro livro publicado, Cinco semanas em um balão, que rapidamente virou um best-seller. Depois do acontecimento, o francês passou a dedicar-se apenas a literatura e escreveu mais de sessenta livros ao longo de quarenta anos. Entre suas obras mais conhecidas estão Viagem ao centro da Terra (1863), Da Terra à Lua (1865), Vinte mil léguas submarinas (1870) e Volta ao mundo em 80 dias (1873).

O escritor francês Jules Verne
Foto: Félix Nadar/Divulgação

Sobre a Editora Aleph: Completando 40 anos no mercado, a Aleph é uma das poucas editoras brasileiras com foco em cultura pop e ficção científica – seja clássica ou contemporânea. Com sua abordagem inovadora, tornou-se referência nacional e uma das responsáveis pelo retorno do gênero às livrarias e ao grande público. Entre os principais nomes de seu catálogo estão autores clássicos como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, William Gibson, Ursula K. Le Guin e Philip K. Dick, além de contemporâneos como John Scalzi, Brandon Sanderson e Ann Leckie.

Saiba mais em www.editoraaleph.com.br

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Discussões filosóficas entre pacientes da ala psiquiátrica

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Livro do médico e escritor A. A. A. Fernandes explora os limites da lucidez e desafia o pensamento binário em uma ficção inspirada em grandes nomes da filosofia

Os marginalizados pelo sistema são os protagonistas de Errantes do Pensamento – O Segredo de Poggio: Uma rapsódia filosófica. Os loucos, intelectuais incompreendidos, criativos e místicos tornam a obra do escritor A. A. A. Fernandes uma ficção que desafia a lógica binária do pensamento. Libertos das amarras de uma sociedade que tenta a todo custo padronizar seus integrantes, os personagens desconstroem certezas, celebram o delírio e ressaltam o poder do inconformismo no mundo.

No enredo, o neurocirurgião Urbano enfrenta uma crise existencial e é internado na ala psiquiátrica de um hospital. Após se tornar paciente, imerge em uma jornada introspectiva em busca de novos sentidos para a vida e de ressignificar conceitos pré-estabelecidos. Esse percurso filosófico se expande mais quando entra em contato com Poggio, um jovem internado na instituição com histórico espetacular e cujas experiências estão intimamente conectadas às leituras.

Além dos dois, outras figuras colaboram para a formação de um mosaico sobre a psique humana. Amigos de longa data de Urbano, J. e Asmin contrapõem a perspectiva de uma realidade racionalizada: o primeiro é um intelectual junguiano apaixonado pela união da ciência com a análise simbólica, já o segundo é um inteligente artista que se recusa a seguir o conhecimento acadêmico.

Mas, olha, esse mundo é muito divertido mesmo, nossa! não sabemos nada, ou melhor, não percebemos as coisas, tudo está aí, dado, e nós ficamos a nos entreter com nós mesmos, por vezes com a cabeça enfiada em algum texto fatual, alguma notícia fátua, algum dispositivo a nos despertar, a nos fugir a atenção, e perdemos, perdemos a chance… (Errantes do Pensamento – O Segredo de Poggio: Uma rapsódia filosófica, p. 235)

Compromissado com as temáticas da obra, o autor transmite as ideias também na estrutura da narrativa. Com narradores múltiplos, “não confiáveis” e instáveis, a obra alterna em diferentes pontos de vista entre os personagens e recorre a vozes oníricas. Ainda transita entre muitos gêneros, da carta ao poema, do romance ao ensaio, do relato clínico aos fragmentos textuais, com objetivo de retratar um fluxo de pensamento sem linearidade e um tempo não cronológico.

Ao atravessar filósofos como Gadamer, Lucrécio, Epicuro, Montaigne, Aristóteles, Nietzsche e Schelling, além de artistas como Fernanda Montenegro, Fernando Pessoa e Raul Seixas, A. A. A. Fernandes concebe um mundo onde é impossível desvincular a filosofia e a arte da essência da vida. Por meio de personagens múltiplos e reflexões profundas, ele transforma uma ala hospitalar em um protótipo de uma existência possível vinculada à ética e à sensibilidade.

FICHA TÉCNICA

Título: Errantes do Pensamento – O Segredo de Poggio
Subtítulo: Uma rapsódia filosófica
Autor: A. A. A. Fernandes
ISBN: 978-6554285988
Páginas: 534
Preço: R$ 130,59 (físico) | R$ 19,90 (e-book)
Onde comprar: Amazon

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A Passagem do meio: da miséria ao significado na meia-idade

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A passagem do meio ocorre quando a pessoa se vê obrigada a encarar a sua vida como algo maior do que a mera sucessão linear dos anos.

Por que tantas pessoas passam por tantos abalos na meia-idade? Por que consideramos essa fase como crise? Qual o significado dessa experiência? Se você faz parte do grupo que se encontra incomodado com suas questões internas, o livro “A passagem do meio” será uma leitura obrigatória e significativa.

A Passagem do Meio – da miséria ao significado na meia-idade” é uma obra do analista junguiano James Hollis, que explora a experiência da meia-idade como um momento crucial de reflexão e transformação. O autor, formado pelo Instituto Carl Gustav Jung em Zurique e atuando em Filadélfia, apresenta temas profundos de maneira clara e acessível, tornando o livro uma leitura essencial para aqueles que se sentem incomodados com suas questões internas.

Este é um livro muito indicado pelos analistas junguianos aos seus pacientes que vivenciam a famosa crise da meia-idade. O autor descreve a meia-idade como um rito de passagem entre a vida adulta e a velhice, um convite para reexaminar a vida e o significado que atribuímos a ela. Hollis argumenta que essa fase não é apenas uma questão de tempo cronológico, mas sim uma jornada psicológica que nos leva a confrontar questões fundamentais sobre quem somos e para onde estamos indo, além da nossa história e dos papéis que representamos. Essas indagações são comuns em pessoas a partir dos 35 anos, especialmente em um mundo em constante mudança, onde muitos vivem a vida no automático e poucos se aventuram a ingressar na busca por um processo de autoconhecimento e a necessidade de responder a questão central do “quem sou eu”. 

O autor nos convida a refletir sobre como nossa concepção de nós mesmos é moldada por experiências passadas, incluindo traumas da infância, e como essas experiências influenciam nossa personalidade adulta. A crise da meia-idade surge quando há um descompasso entre a nossa antiga concepção de eu e as exigências do nosso verdadeiro ser. Essa crise pode gerar sentimentos de vazio e perda de significado, especialmente quando nos sentimos pressionados a atender às expectativas externas.

Hollis enfatiza que a passagem do meio é uma oportunidade para nos tornarmos indivíduos autênticos, além das influências familiares e culturais. Ele nos encoraja a olhar para dentro, a assumir a responsabilidade por nossas vidas e a buscar um crescimento pessoal que vai além das conquistas materiais. A ideia é refletir que a nossa capacidade de crescimento depende muito mais da responsabilidade pessoal e capacidade de interiorizar-se do que das atitudes dos outros.

Fonte: PRI-2802-ENTRELINHAS – (crédito: Maurenilson Freire)

A passagem do meio representa uma intimação interior para que deixemos a vida provisória, marcada pela primeira experiência de mundo que ocorreu ainda quando éramos crianças e avancemos em direção à verdadeira idade adulta, do falso eu para a autenticidade.

A partir da leitura desse livro, é possível perceber que recebemos muito mais do que a genética da nossa família no nosso desenvolvimento, nas nossas escolhas e vivências. Até mesmo na infância mais privilegiada podem haver situações traumáticas. O autor chama a atenção para a experiência inicial do mundo que poderá ser devastadora e moldar a concepção do eu para sempre. 

Outro chamado dessa fase refere-se à ideia de que estamos aqui para nos tornarmos nós mesmos, esse ser misterioso, porém absolutamente único, cujos valores podem diferir dos outros membros da família, e aí somos convidados a recobrar a própria vida, a vivê-la mais conscientemente, a extrair da desgraça um significado. É nessa crise que a pessoa tem a oportunidade de tornar-se indivíduo, ou seja, alguém para além dos determinismos dos pais e do condicionamento cultural.

O que o livro “A passagem do meio” faz é nos chamar a atenção para a necessidade de nos voltarmos para o nosso mundo interno nessa segunda metade da vida, sem a preocupação de corresponder às expectativas externas, seja dos pais ou da sociedade e, dessa forma, não perder a nossa alma ao longo do caminho. Isso requer deixar de achar culpados pelo nosso destino e assim assumir a total responsabilidade pelo nosso bem estar físico, emocional e espiritual. Mesmo que o mundo a nossa volta continue a exigir de nós esforços e atenção, precisamos nos voltar para dentro de nós, crescer e mudar.

Na meia-idade, a capacidade de nos enganarmos é esgotada. De repente, olhamos no espelho e enxergamos que nosso maior inimigo somos nós mesmos.

A obra destaca ainda a importância de revisitar nossos relacionamentos, tanto amorosos quanto familiares, e permitir que cada um siga seu próprio caminho de individuação. Os casais precisam olhar para si, cada um fazendo uma revisão pessoal, olhando-se como pessoas separadas, para então compreender que para ocorrer a renovação é preciso haver mudanças e cada um precisa enxergar sua individualidade. É possível permanecer juntos e assumir um compromisso de crescimento individual. Ninguém tem o direito de impedir o desenvolvimento do outro, isso seria um crime.

Sobre a relação de pais e filhos, o autor chama a atenção de que precisamos garantir aos nossos filhos a mesma liberdade que queríamos ter recebido dos nossos pais. Os pais devem dar aos filhos o direito de serem diferentes e sem nenhuma obrigação. Eles não estão aqui para tomarem conta de nós. E, às vezes, sentimos que não fomos os pais perfeitos e não conseguimos protegê-los das provações da vida. O desejo de controlar, de fazer com que eles vivam nossa vida incompleta, que sigam nosso sistema de valores, não é amor, é narcisismo e dificulta a jornada deles.

Libertar nossos filhos durante a passagem do meio não é apenas útil para eles, mas também necessário para nós, uma vez que libera energia para nosso próprio desenvolvimento.

No âmbito profissional, o autor diferencia emprego de vocação, sugerindo que, na meia-idade, muitos buscam um significado mais profundo em suas carreiras. Essa busca pode levar a mudanças significativas, onde a realização pessoal se torna mais importante do que a segurança financeira. 

Às vezes, é preciso renunciar a segurança material, por mais assustador que seja, para irmos ao encontro de uma pessoa mais ampla que somos chamados a ser. A alma tem suas necessidades que não são atendidas por contracheques e privilégios.

Em resumo, “A Passagem do Meio” nos guia por um processo de autoconhecimento e reflexão, mostrando que a segunda metade da vida pode ser rica e significativa. O livro nos convida a abraçar essa fase como uma oportunidade de crescimento e transformação, permitindo que nos tornemos a melhor versão de nós mesmos.

 

Ficha Técnica

Titulo: A passagem do meio: da miséria ao significado da meia-idade

Autor: James Hollis

Tradução: Claudia Gerpe Duarte

Editora: Paulus

Ano: 1995

Páginas: 172

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“Saber de Mim: autoconhecimento em escrevivências negras – Pra preto ler -”: um olhar para a saúde mental

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  “Saber de Mim” é um livro de autoconhecimento em escrevivências negras, elaborado por um time de psicólogas, escritoras e pesquisadoras do campo de saúde mental de pessoas negras, Bárbara Borges e Francinai Gomes. Este foi publicado em 2023. O livro traz o desenho de como o racismo estrutural atravessa a subjetividade de pessoas negras e também a reflexão acerca de práticas de bem-viver para a comunidade negra, visando descolonizar corpos, territórios e afetos. Para tanto, é necessário um mergulho profundo nas estruturas que formam a identidade de pessoas negras.

  A obra questiona o lugar da alienação racial, pois alienar o sujeito é um projeto de desconexão do mesmo. Um sujeito que não vê cor não se vê no passado, presente e futuro. Assim, é um sujeito desapropriado de si mesmo em todos os aspectos, ao qual o ideal de ego é negado — função essa que tem o papel de fortalecer a identidade do indivíduo. O ideal de ego operante é o da branquitude, que normatiza, padroniza e afirma categoricamente que todos somos iguais, sem levar em conta as determinantes que singularizam os indivíduos em sujeitos únicos, seja em seus fenótipos, territórios ou cognições. Portanto, esse ideal de ego operante é impossível de ser concretizado por pessoas negras. Assim, faz-se necessário compreender que se vive em territórios que minam qualquer possibilidade de construir uma identidade compatível com corpos negros. Nesse espaço, é essencial ressignificar experiências, refazer signos e simbolizar afetos. Esse não é um processo que é sempre belo, podendo descortinar dores, constrangimentos, medos e findar relações e comportamentos que eram sustentáculos no cotidiano.

O livro desperta a atenção para crenças que temos, de que é necessário reivindicar a dor como tradução do desejo de acolhimento. Indica a visão de que é importante desfazer o engano de que a dor é o único meio para que tenhamos acesso a afetos, pois nos tornamos sujeitos a partir das narrativas que construímos sobre nós e não do sofrimento que vivemos. Sentimos dor porque somos humanos, e não o contrário, assim visualizando a totalidade da vida e retirando a dor da centralidade da nossa existência. Pois a violência racista desloca o prazer do centro do pensamento e institui o sofrimento como premissa da identidade negra. Esse mecanismo produz desesperança e desconexão com o futuro.

Temos sido norteados por violência racista e angústias que têm nos condicionado a viver o ódio, o desprazer e a morte nas relações subjetivas e coletivas. Por sermos um povo marcado pela angústia não cuidada e tragédia não elaborada, somadas à ausência de senso de comunidade, temos dificuldade de seguir em frente. Os binômios que associam a identidade negra a sofrimento, violência e morte precisam ser identificados, questionados e revogados em nossas subjetividades e coletividades. Assim, construímos um futuro fincado no compromisso, confiança, respeito, união, acolhimento e fraternidade entre nós, nos conectando com a nossa própria história e visualizando novas possibilidades a partir das nossas potências. Nesse futuro, tanto individual quanto coletivamente, poderemos construir novas conexões entre nós, a partir de crenças e emoções que permitam experimentar a esperança, coragem e união para visualizarmos o que nos conecta além da dor.

  “Saber de Mim” é um mergulho na complexidade de muitos processos de desenvolvimento, que foram permeados por violências, abandonos e precarização. Uma subjetividade que foi atravessada por todos esses fenômenos, que impossibilitam a complexificação do ser e nos confinam a uma história de dor. É preciso considerar que o movimento de observar e atribuir significado, por meio de símbolos, é aprendido na estrutura relacional e afeta diretamente a produção da nossa subjetividade. Portanto, é preciso um processo de autoconhecimento, para que se identifiquem múltiplos fatores que contribuem para essa construção. Pensar como fomos moldados por eventos e relações, sem negar ou desrespeitar a nossa dor, mas lançar um olhar minucioso sobre nossas práticas, para conectar eventos e reivindicar a existência de um ser humano complexo que é atravessado e atravessa. O processo de tornar-se negro é cheio de si e de particularidades, tudo pode ser observado, desde a forma como nos comunicamos até a expressão do nosso silêncio, fugindo assim de uma ideia simplista e utópica de linearidade.

É uma leitura que nos alerta também sobre a construção de um falso eu, com a necessidade de aceitação, do qual nega-se o contato com quem somos de fato e que produz distorções na busca por alcançarmos um lugar de desejados, que nos é negado. Através desse movimento, passamos a nos enxergar somente através destas distorções. A fragmentação do eu funciona como um conjunto de expressões, associações, desejos, comportamentos e afetos, acionados para forjar o nosso verdadeiro eu, que são convertidos em comportamentos e discursos que supostamente satisfazem o outro e garantem o resultado esperado, esquecendo assim o nosso próprio desejo, focando no desejo do outro, mas nunca no nosso potencial de conquistarmos o outro por quem verdadeiramente somos. Ou seja, um estado de negação que nos impede de construir uma noção verdadeira de um eu fortalecido. 

Quando deixamos de comunicar a verdade sobre nós, criamos, ainda que indiretamente, uma barreira entre nós, o outro e a possibilidade de amar e viver o amor plenamente. A dificuldade de nos reconhecermos enquanto seres que podem acessar sua própria verdade nos coloca em conflitos, nos quais o medo ocupa a centralidade e que nos insere em um processo de assujeitamento, construído por meio da insegurança, que determina a manifestação do verdadeiro eu como falsa. Assim, ainda que o sujeito tente comunicar a verdade sobre seus desejos e sobre si, é atingido por um bombardeio de suposições e crenças, que inviabilizam e silenciam qualquer manifestação desse verdadeiro eu. E, apesar de compartilharmos dores, é no campo do individual que elas se desdobram e provocam novas pulsões. E, para tanto, a comunicação desse sujeito seria uma reivindicação de si, uma expressão de si e da sua própria existência, partindo do lugar de sujeito ativo, um lugar que exige coragem e autoconhecimento. E como fomos marcados por eventos em que a comunicação foi apontada como um elemento causador de conflitos, que provocava e justificava violência, assumimos que o silêncio ao qual nos impomos seria um recurso para evitar estes episódios. O autoconhecimento é a ponte capaz de conectar o espaço entre a marca de suprimir emoções e a comunicação saudável. Saber visualizar o que são os processos sociais e individuais para compreender como eles nos montam e desmontam no tecido social.

Somos convidados a olhar e confrontar nosso despreparo histórico-colonial ao olhar o campo do amor e da comunicação, levando à consciência falsas ideias que caracterizam essa marca, como se ela nos pertencesse naturalmente. Pois amor é ação, e comunicação é aprendizagem. Por isso, devemos demarcar o tempo, resgatando o passado e fazendo novas conexões. Navegar o trauma colonial e as práticas românticas em movimentos literários que não possibilitam uma imagem do corpo negro como existente, que expressam afetos nestes formatos ditados pelo ideal da branquitude. E pensar que os espaços de socialização, como escolas e ruas, são hostis, negam cuidado e acolhimento e ainda direcionam ódio e desprezo aos nossos corpos. Assim, é um corpo privado, desde a infância, de trocar afetos de forma “convencional”, ou seja, as formas socialmente reconhecidas pelo território colonial, que nos fazem sentir como incapazes de amar ou sentir amor.

E, para conseguirmos realizar conexões, precisamos compreender que o autoconhecimento é a ferramenta apropriada para agir de forma a identificar, ressignificar e transformar o que é essencial, descortinando a nossa história e trazendo à tona descobertas e desconhecimentos sobre nós, considerando a nossa pertença racial como elemento modulador da subjetividade. É produzir estratégias de autodeterminação e dignidade para refazer as noções de nós e investir em observações de como se constroem as representações de como somos vistos, é mudar as nossas referências para enxergarmos os potenciais individuais e coletivos, é desalienar nossos corpos para sentirmos e vivê-los, como mediador e produtor de movimento, sensações, ritmos, emoções e interações, em uma apropriação de si, no movimento de conhecer as nossas histórias, vulnerabilidades, forças e desejos, assim rompendo com o medo para construir uma identidade de valorização. Pois o processo de alienação de si é mantido presente por meio da ausência de consciência; engana-se quem pensa que o racismo está apenas no campo social; ele é também uma estrutura de cognição, afetos e comportamentos, a partir de linguagem, signos e significados que orientam os nossos processos psicológicos.

 

Referências

BORGES, Bárbara; GOMES, Francinai. Saber de mim:Autoconhecimento em escrevivências negras. São Paulo: Almedina Brasil, 2023.

 

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A busca de “Drácula” pela modernidade e o amor eterno

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Uma das obras mais importantes da literatura gótica é “Drácula”, publicado em 1897 pelo autor irlandês Bram Stoker, que narra a história de um romance trágico e a busca incessante do vampiro Drácula por poder e vingança. A trama se desenrola em duas localidades, Transilvânia e Londres, sendo a última uma grande potência mundial na época. Drácula é um vampiro estudioso, metódico e estrategista de guerra, que busca deixar de lado a antiga Valáquia e dominar o mundo, começando pelo grande centro econômico que Londres era.

Durante a narrativa, o advogado Jonathan Harker é encarregado de ir até a Transilvânia para convencer o conde a obter terras em Londres, enquanto isso Drácula estudava a língua inglesa por meio de Jonathan, com o objetivo de aprender mais sobre o local em que planeja se estabelecer e dominar.

Por um acaso do destino, o conde se depara com uma foto da noiva de Jonathan, Mina, que possui uma semelhança assustadora com sua falecida amada, morte a qual o levou a loucura e o tornou no temível conde Drácula. Tal acontecimento leva a uma mudança de planos de Drácula, o que aos poucos o advogado Jonathan percebe e teme, mas ainda sem saber sobre a verdadeira natureza do conde.

Com muitas voltas e reviravoltas, o conde consegue chegar a Londres e finalmente ir ao encontro de Mina, que naturalmente não o reconhece, mas que se vê seduzida pelo hipnótico príncipe da noite. Em muitos momentos da narrativa, é natural que os leitores vejam Drácula como um temível vilão que busca poder e dominação, o que apesar de não ser uma mentira, é apenas uma faceta das várias outras do personagem, que “atravessou os oceanos dos tempos” para encontrar novamente sua amada.

É interessante pensar nesta dualidade do Drácula como uma analogia a nossa existência e a realidade atual que enfrentamos, em que desejamos desesperadamente sermos amados e experimentar o amor. À mesma medida que as relações se tornam mais distantes em função da ganância, lucro, poder, e uma exaustiva luta por reconhecimento no mundo capitalista. Seria essa dualidade o que nos levará a ruína de não possuir nada? O que faremos das dores da solidão em meio a conquistas materiais e de poder hierárquico? Como podemos buscar o amor em uma sociedade de lógica competitiva, em que amar é uma fraqueza?

Drácula não conseguiu resgatar o amor que perdeu, talvez por operar dentro de uma lógica de domínio e poder, o que vai de enfrentamento com o amor real. Talvez o conde apenas desejava possuir Mina, sem ao menos considerar os desejos de seu coração.  É irônico que o amor intenso e desesperador que o levou a sua maldição, também se tornaria o amor inalcançável que o destruiu, pois diferentemente do conde, Jonathan Harker amou verdadeiramente Mina, mesmo quando cegada e tomada pelas trevas.

 

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“Mindfulness e Psicoterapia”: autodescoberta, resiliência e equilíbrio psicológico

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A importância da atenção plena no processo terapêutico e no bem-estar psicológico dos indivíduos.

Como usar o mindfulness na clínica

Esse livro, aborda uma temática que está sendo bastante explorada nos dias de hoje, a atenção plena. É fácil perceber que a quantidade de informações hoje, estão tirando a atenção das pessoas sobre as coisas simples, e que essa distração traz inúmeras consequências desastrosas, como ansiedade, estresse entre outros, esse conjunto de autores trazem uma nova forma de enfrentar esses sintomas. Além disso, esse livro leva o leitor a uma nova visão com relação à clínica, pois ele tira um pouco do olhar para o cliente/paciente e volta o mesmo para o próprio terapeuta.

Ansiedade, depressão e estresse estão sendo bastante discutidos hoje, e muitas vezes as pessoas diagnosticadas, estão a procura de medicamentos a fim de sair dessas demandas. Mas… e se tivesse uma outra saída, uma solução menos invasiva? Uma das propostas deste livro se baseia nisso, em enfrentar a ansiedade e estresse com meditações e atenção momento a momento. “O mindfulness é uma habilidade que nos permite ser menos reativos ao que está acontecendo no momento”. (Pág.3)

Focar em sua respiração, no seu ambiente ao redor, e cada vez que seu pensamento insistir em tirar sua atenção, volte a concentrar se em sua respiração, é uma das técnicas do livro  que faz com que o leitor, se concentre no momento presente pois “ o sofrimento parece aumentar à medida que nos distanciamos do momento presente”. (Pág,4). Com isso é preciso segurar esses pensamentos para que eles não vagueiam levando toda a atenção daquele momento.

O livro entre muitas outras coisas relata que a nossa mente fica grande parte do tempo, ou no passado ou no futuro, e quase nada no presente, “ O que a mente está fazendo? A maior parte das vezes ela parece estar fazendo excursões no passado ou no futuro, tentando resolver problemas reais e imaginários”. (Pág.29).

Como já dito, o livro traz formas não muito convencionais de tratar o sofrimento,  e uma dessas formas é colocar na mente e desenvolver a perspectiva de que os pensamentos não são estáticos. Assim o mindfulness é um convite para nos permitirmos que os pensamentos, assim como os sentimentos, fluam. 

“Nenhum estado mental, por mais agradável que seja, pode ser mantido indefinidamente, nem experiências desagradáveis podem ser evitadas. Entretanto,  somos tão condicionados a evitar o desconforto e buscar o prazer que nossas vidas são coloridas por uma sensação de insatisfação, de alguma coisa faltando “(GERMER, p. 21, 2016).

O trecho anterior também desafia a narrativa prevalente de que a felicidade constante é a norma e que o sucesso elimina o sofrimento, ampliando assim a pressão sobre o sofrimento e cultivando um sentimento de culpa naqueles que não conseguem manter uma felicidade ininterrupta.

Uma das ideias discutidas é que “muitos dos nossos sofrimentos decorrem de distorções cognitivas” e que “manter crenças distorcidas centrais contribui para o sofrimento”. Nesse contexto, o terapeuta pode auxiliar o cliente a questionar tais pensamentos, avaliando sua validade. Esse processo revela que “aquilo que antes era considerado ‘realidade’ é, na verdade, uma construção mental, e nossa identificação com essa construção é o que gera o sofrimento

Uma outra proposta do autor é olhar para o psicológico, visando melhorar a sua experiência diante do cliente/paciente, porém essa experiência só poderá melhorar quando o psicólogo olhar para si mesmo,  como diz o próprio livro:

“(…) ‘cuidar dos outros requer cuidar de si’(…) Essa informação faz sentido na medida em que não podemos acolher completamente outro indivíduo imperfeito, quando rejeitamos a nós mesmos por imperfeições semelhantes.”

O livro leva a uma visão de alto compaixão, pois isso leva a melhor compreensão de si mesmo e por consequência a compreensão do outro, abrindo as portas para que, o que o paciente trazer seja recebido de braços abertos, mesmo que aquele assunto possa parecer fora dos padrões, ou não muito aceitáveis pela sociedade, pois o cliente está ali apenas a procura de uma escuta sem julgamentos.

A autocompaixão foca na bondade para si mesmo, poder admitir a sua humanidade e que o psicólogo irá inevitavelmente cometer erros e irá ter sofrimentos também, igual a todas as pessoas, “reconhecer a inevitabilidade do sofrimento pode nos conduzir pelo caminho da libertação emocional.”(Pág.110). 

O livro se mostra bem completo pois ao mesmo tempo em que ele traz essa visão para o psicólogo, ele também leva a pensar na relação terapêutica entre psicólogo e cliente, que se faz muito importante  no processo de melhora do paciente. 

O autor dá ênfase a atenção que é preciso ter durante uma sessão visando que aquele paciente está ali pois está um busca de alguém que possa ouvir suas dores, sem julgamentos, “A atenção genuína dos outros é tão surpreendente rara que até vale a pena pagar por ela na psicoterapia” (Pág. 65).

Juntamente a essa escuta qualificada vem também a compaixão pelo outro “A compaixão pelos outros, surge do insight de que ninguém está isento de sofrer e que todo mundo deseja ser livre de sofrimento”(Pág.69). Esse olhar para a compaixão, faz com que fique mais fácil estabelecer uma boa relação terapêutica, e essa é uma das principais bases para um bom atendimento para com o cliente.

Bem o livro como já dito é bem completo, ele traz várias visões sobre a psicologia e a prática do psicólogo, trazendo também técnicas de meditação, e de atuação clínica, é preciso ter paciência pois ele tem mais de 300 páginas, mas é um conteúdo bastante relevante tanto para um acadêmico quanto para psicólogos já atuantes.

Referência:

GERMER, Christopher K.; SIEGEL, Ronald D.; FULTON, Paul R. Mindfulness e Psicoterapia. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

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“As cinco linguagens da valorização pessoal no ambiente de trabalho”: práticas profissionais de Psicologia

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Elogios, gestos de gentileza, presentes materiais, momentos de qualidade e contato físico são modos de comunicação que expressam valorização pessoal no trabalho

O livro “As cinco linguagens da valorização pessoal no ambiente de trabalho” de Gary Chapman e Paul White (2011) aborda o tema das Práticas Profissionais de Psicologia, com foco na Psicologia Organizacional e no Trabalho. A obra é fundamentada na teoria das “cinco linguagens do amor” de Gary Chapman, presente em seu livro “As Cinco Linguagens do Amor” (2006), adaptando-a para o ambiente corporativo. A premissa principal é que há cinco maneiras distintas de demonstrar apreço e reconhecimento aos funcionários no ambiente de trabalho: elogios, gestos de gentileza, presentes materiais, momentos de qualidade e contato físico.

Essa obra oferece insights valiosos sobre como expressar apreciação e reconhecimento de maneiras significativas para os colegas de trabalho, colaboradores e líderes.

A proposta apresentada no manual é de extrema importância para a atuação profissional em Psicologia, visto que visa incentivar um ambiente laboral saudável e eficiente por meio de uma comunicação eficaz e do reconhecimento e valorização dos funcionários. Adicionalmente, o livro discute a relevância de compreender as preferências individuais de cada colaborador em relação às maneiras de demonstrar reconhecimento, o que é uma prática recorrente na aplicação de métodos de avaliação e análise na área da psicologia.

A primeira forma de demonstrar apreço no ambiente profissional é utilizando palavras que afirmam essa valorização. Isso significa expressar reconhecimento e gratidão por meio de frases e palavras positivas, como “parabéns”, “muito obrigado” e “sua contribuição é essencial para nossa equipe” (CHAPMAN e WHITE, 2011). Essas palavras podem ser comunicadas em pessoa, por telefone ou por meio de mensagens eletrônicas, demonstrando apreço de forma autêntica e específica, evitando elogios genéricos e vazios.

A segunda forma de valorização no local de trabalho é feita por meio de gestos de serviço. Neste tipo de linguagem, a valorização é demonstrada por meio de ações que auxiliam os colaboradores em suas atividades e obrigações. Essas ações podem variar desde tarefas simples, como entregar café ou fazer cópias, até tarefas mais complexas, como ajudar a resolver um problema ou concluir um projeto. Este livro enfatiza a importância de reconhecer e valorizar esses atos de serviço porque demonstram que a organização valoriza o trabalho e os esforços de seus funcionários.

Um dos mais comuns é a conversa de qualidade, ou seja, o diálogo com empatia, no qual duas pessoas compartilham seus pensamentos, sentimentos e desejos em um contexto amigável e sem interrupções (CHAPMAN e WHITE, 2011).

A terceira linguagem de apreciação no ambiente de trabalho é a dos presentes, dando a entender que os aprecia e valoriza através de presentes materiais, como certificados de reconhecimento, prêmios e presentes. O livro destaca a importância de escolher presentes que sejam significativos e relevantes para os colaboradores. Além disso, o livro recomenda que os presentes sejam entregues em momentos especiais, como aniversários, datas comemorativas e realizações importantes.

A quarta linguagem de apreciação no ambiente de trabalho é o tempo de qualidade, cujo a valorização se dá através de atenção e atuação focada em relação aos funcionários, como atividades como almoços, reuniões individuais e atividades de equipe. É importante dedicar tempo e atenção aos colaboradores, pois isso demonstra que a organização valoriza suas contribuições e interesses.

A quinta e última linguagem é o toque físico, que envolve apreciação e valorização através de contato físico, como abraços, tapas nos ombros e apertos de mão, ressaltando sempre o respeito às preferências individuais em relação a esse tipo de contato, pois alguns podem se sentir desconfortáveis com esse tipo de expressão de apreciação (CHAPMAN e WHITE, 2011). Uma dica dada é que o contato físico seja acompanhado por palavras e ações que expressam apreciação e valorização.

O livro “As cinco linguagens da valorização pessoal no ambiente de trabalho” também aborda a importância de criar uma cultura de apreciação e valorização no ambiente de trabalho. Essa cultura pode ser criada através de ações como a criação de programas de reconhecimento e recompensa, a promoção de comunicação aberta e honesta e a criação de um ambiente de trabalho positivo e inclusivo. Outro fator destacado é a ação de treinar os líderes e gestores em técnicas de expressão de apreciação e valorização, pois eles desempenham um papel fundamental na criação de uma cultura de apreciação e valorização no ambiente de trabalho.

O livro também aborda a importância de entender as diferenças individuais em relação às formas de expressão de apreciação. Alguns membros podem preferir uma linguagem de apreciação em particular, enquanto outros podem preferir outras linguagens. O livro recomenda que os líderes e gestores se esforcem para entender as preferências individuais de cada um para expressar apreciação e valorização de acordo com essas preferências. Isso pode ser feito através de conversas individuais, questionários de avaliação e observação que apontam essas preferências.

Nota-se a relevância de expressar apreciação e valorização de forma consistente e regular. A expressão de apreciação e valorização não deve ser uma atividade esporádica ou ocasional, mas sim uma prática regular e consistente, através de programas de reconhecimento e recompensa, reuniões individuais e atividades de equipe, e por meio de comunicação diária e frequente.

A análise das cinco linguagens da valorização pessoal no ambiente de trabalho sob a perspectiva das práticas profissionais de psicologia destaca a importância de reconhecer a individualidade dos funcionários, promover uma comunicação efetiva, cultivar uma cultura organizacional de valorização e apreciação, e promover o bem-estar e o engajamento dos colaboradores. Isso pode contribuir significativamente para o sucesso e o crescimento sustentável das organizações.

Ao integrar esses princípios e práticas no ambiente de trabalho, as organizações podem criar um ambiente que favoreça o crescimento e o desenvolvimento tanto dos colaboradores quanto da própria empresa. Isso não apenas promove o sucesso a curto prazo, mas também contribui para um crescimento sustentável e duradouro ao longo do tempo.

Essas linguagens são fundamentais para promover um ambiente de trabalho saudável, motivador e produtivo, onde os funcionários se sintam valorizados e reconhecidos pelo seu trabalho. O livro oferece insights e orientações práticas sobre como aplicar essas linguagens no contexto empresarial para promover um clima organizacional positivo e fortalecer as relações interpessoais no trabalho.

 

REFERÊNCIAS

CHAPMAN, Gary. As cinco linguagens do amor. São Paulo, Mundo Cristão, 1° edição, 2006. 

CHAPMAN e WHITE, Gary e Paul. As cinco linguagens da valorização pessoal no ambiente de trabalho. São Paulo, Mundo Cristão, 2011.

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A Pedagogia da Circularidade na Psicologia e na Educação

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Tendo como base a obra “Pedagogia da Circularidade Afrocênica: diretrizes metodológicas inspiradas nas ensinagens da tradição do Candomblé Congo-Angola” de Ferreira (2019) abordaremos neste texto sobre a Pedagogia da Circularidade e a sua aplicabilidade.  Para o autor, a concepção de circularidade permeia a experiência humana ao considerarmos o desenvolvimento por meio de ciclos de aprendizagem. Esses ciclos não se fecham em si mesmos; ao contrário, mantêm-se em constante movimento, persistindo mesmo após a morte, sem encontrar um ponto final definitivo. Se traduzindo em algo que está atrás de nós, e não pode ser visto pelos nossos olhos, é facilmente decifrado pelos nossos corpos, os quais detém a faculdade de ver, ouvir, sentir e falar, sem mesmo que eu precise usar os meus órgãos do sentido.

Quando citamos a Pedagogia da Circularidade devemos lembrar que ela tem consigo a inspiração na cultura Bantu e no cotidiano do Unzó ia Kisimbi ria Maza Nzambi. Para eles, a filosofia seguida é a Ubuntu, na qual parte do princípio da horizontalizações das interações sociais, políticas e culturais; acesso universal a essas esferas. Assim, a existência individual torna-se viável apenas ao reconhecermos a diversidade e a presença do outro. No qual se crê que “Tudo está e é movimento. Nada é estável, nem fechado. As conexões gerais são possíveis, desde que horizontalize e permita o acesso de todos”.

Ao pensar na Pedagogia da Circularidade é evidente ter em mente que ela sirva como base para reflexão sobre as práticas de ensino em todos os níveis, abrangendo desde a educação infantil até o ensino superior. Em resumo, a Pedagogia da Circularidade busca estruturar orientações metodológicas que ponderam sobre as ensinagens afrodiaspóricas. Essas, compreendidas aqui como processos de ensino-aprendizagem inspirados em contextos como o terreiro de candomblé, bem como em práticas tradicionais como a capoeira, o Congado, o Samba de Roda, entre outros, se diferenciam das práticas convencionais da educação oficial brasileira. Educação esta que considera o indivíduo como produtor de conhecimento, ativando 229 sua ancestralidade por vezes oprimida pela colonialidade, estimulando-o a integralizar o mundo em todas as suas esferas, costurando.

Desse modo, ele integra o entendimento de alguns pontos no processo de ensino-aprendizagem, estando contido na imagem abaixo:

Conforme exposto, Ferreira (2019) traz que estes cinco caminhos se configuram como fundamentos de ensino que subsidiam a prática de ensino na esfera da Pedagogia da Circularidade, com seu repertório conteudístico atemporal. Em que recuperando os caminhos de aprendizagem na Pedagogia da Circularidade, temos aqui a cognição substanciada através de ciclos que se atravessam e este conjunto reuniu estrutura filosoficamente os fundamentos de ensino colididos nesta pesquisa.

Sendo dessa maneira a Pedagogia da Circularidade, assim como outras abordagens pedagógicas afrodiaspóricas mencionadas aqui, não busca estabelecer um binarismo entre o horizonte eurocêntrico e africano; pelo contrário. De tal modo a cultura negra, posicionada na encruzilhada, permite que seu discurso seja enriquecido por três vozes que contribuem para a formação do discurso afrodiaspórico: a expressão autêntica da pessoa negra em sua essência, a manifestação proveniente de sua ancestralidade e a expressão moldada pela influência do colonizador no processo de construção identitária. Portanto, o discurso jamais pode ser redutivo, pois essa abordagem não está alinhada com a visão de mundo africana, como será explicado mais detalhadamente adiante.

Conforme breve exposição dos diálogos trazidos na obra de Ferreira (2019) acerca da Pedagogia da Circularidade, é notável que a Pedagogia da Circularidade considere como partida para todo e qualquer disparador cognitivo o lugar de origem, o muntu, o ser integralizado com toda a sua história.

Referência:

Ferreira, Tássio. Pedagogia da Circularidade Afrocênica: diretrizes metodológicas inspiradas nas ensinagens da tradição do Candomblé Congo-Angola / Tássio Ferreira. — Salvador, 2019. 271 f. : il.

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Psicologia Social – Travessias e(m) Tessituras

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Desafiando Fronteiras: A Incursão da Psicologia na Mudança Social e a Perspectiva Contínua de Transformação em Diversos Âmbitos

Psicologia Social: Travessias e(m) tessituras é um livro construído por meio da contribuição de diversos profissionais das áreas das Ciências Humanas e Sociais. Faz uma análise de maneira ética, crítica, reflexiva e propositiva de uma variedade de temas que se entrelaçam com a Psicologia Social, além de abrir portas para outras áreas. Os elementos que formam os aspectos fundamentais da Psicologia Social, explorados neste estudo, evidenciam a complexidade, o aspecto histórico, as interconexões, a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade permitida para uma prática ético-política.

Logo na apresentação do livro, a organizadora, Aline Daniele Hoepers, faz um breve resumo dos capítulos que estão por vir, que podem ser descritos da seguinte maneira: no capítulo de abertura, intitulado “Psicologia Social: percursos, percalços e outros rumores”, são delineadas como jornadas determinadas no âmbito da Psicologia Social. Este capítulo destaca a importância crucial de assumir uma postura política, evidenciando a necessidade premente de luta pela transformação de uma realidade social desigual que se (im)posiciona.

No capítulo 2, intitulado “Políticas sociais: breve análise dos direitos sociais pós Constituição Federal de 1988″, destaca-se o contexto histórico e social essencial para uma análise crítica da construção dos direitos sociais e das políticas sociais no Brasil. O capítulo 3 , agência ‘Justiça social e direitos humanos: reflexões sobre o compromisso social da Psicologia’, continua nessa direção, enfatizando a necessidade de esforços contínuos para concretizar os direitos em meio às complexidades sociais. Com outras áreas e setores sociais, buscando uma realidade baseada na promoção dos direitos humanos e na justiça social.

Os capítulos posteriores levantam questionamentos e convidam a repensar abordagens teóricas que têm impacto direto na prática. No capítulo 4, intitulado “Psicologia Imaginal, pensamento decolonial e pedagogia cultural: por um resgate da ancestralidade”, uma abordagem crítica da Psicologia Imaginal é apresentada, destacando diálogos com epistemologias latino-americanas de origem indígena. Este capítulo convida à reflexão sobre a necessidade de uma ciência diversificada, culturalmente sensível e descolonizada.

Seguindo adiante, o capítulo 5, intitulado “Amor e cultura: discutindo a respeito do amor enquanto um produto cultural”, explora a intersecção entre amor e cultura. Destaca elementos presentes na construção sociocultural do amor, focando especialmente nos padrões direcionados às mulheres.

No capítulo 6, intitulado “Psicologia Social e sofrimento ético-político na atualidade: uma revisão bibliográfica”, o foco recai sobre as fontes geradoras de aflições, destacando o conceito de sofrimento ético-político. Este capítulo instiga à ação, convocando-nos a nos posicionar diante das opressões e disparidades sociais que persistem no cenário contemporâneo. Por outro lado, o capítulo 7, intitulado “A massa bolsonarista, uma massa da igreja?” aborda o contexto social e político atual do Brasil sob uma perspectiva distinta, destacando especificamente os traços que compõem o movimento da massa bolsonarista.

No capítulo 8, intitulado “A circularidade entre os polos subjetivos e objetivo: notas sobre a atuação do psicólogo organizacional e do trabalho”, são oferecidas reflexões sobre os desafios e potenciais no exercício profissional da Psicologia Organizacional e do Trabalho, enfatizando especialmente a delicada tarefa de mediar o esforço entre capital e trabalho. Enquanto isso, o capítulo 9, nomeado “Violências sexuais vividas por crianças e adolescentes: a atuação da escola na rede de atendimento e enfrentamento”, explora e problematiza os papéis desempenhados pelas instituições escolares na rede de proteção contra violências sexuais envolvendo crianças e adolescentes.

No capítulo 10, intitulado “O psicólogo no CRAS: refletindo sobre as práticas desenvolvidas junto às famílias vulnerabilizadas”, enfatiza-se a urgência de importância e buscar oportunidades para uma prática ético-política que seja socialmente comprometida com as famílias em situação de vulnerabilidade. Já no capítulo 11, chamado “Incorporar ou não? Quando o CREAS se torna um espaço de violação”, são discutidas experiências profissionais que merecem atenção, especialmente para evitar que uma população já fragilizada, atendida por essas instituições, não seja ainda mais vitimizada.

Os capítulos finais da obra trazem à tona, de maneira crítica e sensível, às experiências vividas durante a formação acadêmica em Psicologia no contexto comunitário. No capítulo 12, intitulado ‘Escuta coração da Chico: um relato de intervenções psicossociais realizadas com adolescentes em contexto comunidade durante a pandemia’, através da partilha de experiências de extensão universitária, destaca-se a importância da escuta ética e política das particularidades, que são moldadas por estruturas opressivas. Por outro lado, o capítulo 13, nomeado “Psicologia das Brechas: uma psicologia a partir de nós” baseado em relatos de experiências de estágio, convida à criação e abertura de espaços para a inovação, encontro e transformação social.

No conjunto dessas discussões e tensões, emerge não apenas a essência do compromisso social da Psicologia, mas também um convite à reflexão e à ação transformadora. As múltiplas abordagens e a diversidade de ângulos presentes nesses campos de atuação e pesquisa não apenas enfatizam, mas também reafirmam a importância do papel transformador e socialmente comprometido desempenhado pela Psicologia.

Este panorama não linear transcende os limites convencionais, convidando-nos não só a explorar e expandir as fronteiras da Psicologia, mas também a desbravar novos territórios e possibilidades. Em meio a desafios e oportunidades, essa obra ressoa como um convite para repensar constantemente os paradigmas estabelecidos, abrindo caminho para a evolução contínua e a inovação no campo da Psicologia. Essa multiplicidade de visões e abordagens não se limita a encerrar discussões, mas sim a abrir um vasto horizonte de possibilidades, convidando-nos a trilhar caminhos que nos conduzam a novas descobertas e avanços significativos na compreensão e na aplicação da Psicologia em nossas sociedades e comunidades.

REFERÊNCIA

HOEPERS, Aline Daniele et. al. PSICOLOGIA SOCIAL: Travessias e(m) tessituras. Editora BAGAI.  2023. Disponível em: <https://editorabagai.com.br/product/psicologia-social-travessias-em-tessituras/> Acesso em 27 de out. 2023.

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