Dia Internacional do Livro Infantil: sua importância e dicas de leituras

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O professor Odair Marques da Silva, diretor de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade Zumbi dos Palmares, fala sobre a relevância da data e sugere leituras para diferentes fases da infância.

O Dia Internacional do Livro Infantil, celebrado em 2 de abril, é um momento especial para refletir sobre o papel da leitura no desenvolvimento das crianças. Desde os primeiros anos de vida, o contato com os livros é essencial para o crescimento cognitivo, emocional e cultural. A leitura pode começar ainda na barriga da mãe, quando a voz dos pais, ao contar histórias, fortalece laços afetivos e estimula a sensibilidade do bebê.

Nos primeiros meses, livros com texturas e cores vibrantes despertam a curiosidade e os sentidos do nenê. Conforme a criança cresce e começa a falar, a leitura se torna uma ferramenta poderosa para ampliar seu vocabulário e sua compreensão do mundo. Dos 3 aos 5 anos, a ludicidade entra em cena: brincadeiras, jogos e histórias ilustradas incentivam a imaginação e a criatividade.

“Quando os pais demonstram amor pela leitura, transmitem um exemplo valioso, que contribui para o equilíbrio físico e psicológico da criança. Além disso, o contato com um repertório cultural diversificado, incluindo músicas e poesias, enriquece sua visão de mundo e incentiva o amor pela diversidade”, afirma o professor Odair Marques da Silva, fundador da Editora Eiros, especializada na publicação de obras infantis e educacionais afro-centradas.

Celebrar o Dia Internacional do Livro Infantil é valorizar a infância — uma fase mágica em que cada história contada é uma semente plantada para um futuro repleto de conhecimento, empatia e respeito à diversidade. Para estimular o hábito da leitura dentro das casas e nas escolas, Odair Marques da Silva selecionou quatro títulos indispensáveis para crianças de diferentes idades.

“A História de Zuri” – Simão de Miranda (Editora Eiros)

Indicado para crianças de 6 a 14 anos

Uma leitura essencial para famílias e educadores que desejam abordar consciência negra, antirracismo e dignidade humana de forma sensível e inspiradora. A protagonista, Zuri, aprende desde pequena a se posicionar contra o racismo e descobre no conhecimento uma poderosa ferramenta para combater injustiças. Com reflexões profundas e um desfecho emocionante, a obra é uma excelente escolha para estimular o senso de justiça e empatia nas crianças.

“Sinto o que Sinto: Um Passeio pelos Sentimentos” – Lázaro Ramos, em parceria com o Mundo Bita (Editora Sextante)

Indicado para crianças a partir de 3 anos

Acompanhe Dan, um menino que, ao longo de um dia, experimenta diversas emoções como raiva, alegria, orgulho e tristeza. A narrativa ensina as crianças a reconhecer e aceitar seus sentimentos, mostrando que todas as emoções são naturais e fazem parte da vida. Com ilustrações vibrantes e linguagem acessível, a obra é uma excelente ferramenta para pais e educadores trabalharem a inteligência emocional desde cedo.

“África: Um Passeio pelo Antigo Continente” – Odair Marques da Silva (Editora Eiros)

Indicado para crianças de 4 a 10 anos

Um convite para crianças e adultos embarcarem em uma jornada pelo continente africano, conhecendo sua riqueza cultural, histórica e geográfica. Com uma abordagem leve e interativa, o livro apresenta os 54 países africanos, destacando sua importância na formação da identidade brasileira e mundial. Uma leitura enriquecedora para ampliar o olhar sobre a diversidade africana e valorizar a ancestralidade na construção das sociedades.

“O Pequeno Príncipe Preto” – Rodrigo França (Editora Nova Fronteira)

Indicado para crianças a partir de 6 anos

Inspirado no clássico O Pequeno Príncipe, este livro traz a história de um príncipe negro que vive em um pequeno planeta com sua árvore Baobá. Em suas viagens por diferentes mundos, ele compartilha mensagens de amor e empatia, destacando a importância da identidade, ancestralidade e representatividade. Originalmente uma peça teatral, a obra foi adaptada para o universo infantil, proporcionando reflexões valiosas sobre autoestima e pertencimento.

Incentivar a leitura na infância é abrir portas para um mundo de descobertas, diversidade e aprendizado. Que este Dia Internacional do Livro Infantil seja celebrado com muitas histórias e novas possibilidades!

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Oportunidade para quem ama ler! Grupo Novos Contemporâneos lança Clube do Livro em Palmas

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Fonte: Coletivo Flácido

Iniciativa cultural tocantinense “Novos Contemporâneos – investindo na formação de jovens artistas” visa formar novos leitores na capital.

Estão abertas as inscrições para o Clube do Livro do projeto cultural palmense Novos Contemporâneos. O grupo que faz parte do Coletivo Flácido está selecionando três leitores(as) que discutirão seis obras da literatura contemporânea brasileira. Os(as) selecionados(as) farão parte do clube Books&Wines, iniciativa independente de jovens leitores na cidade que está na ativa desde 2019.

Os títulos são: “Nihonjin”, de Oscar Nakasato, “Solução de dois Estados”, de Michel Laub, “A cabeça do Santo” de Socorro Acioli, “Morte Sul Peste Oeste”, de André Timm e “Capão Pecado”, de Ferrez.

Para se inscrever, basta morar em Palmas/TO e ter entre 18 e 29 anos. As inscrições                   estão                   acontecendo                   via                                  link https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfrx9Mx1cvnKloE8a36rwHi1IQbp4UJu3a RIFwyiB7wLgihpA/viewform. Além de participar da leitura e das discussões do clube, os selecionados também ganharão os livros citados.

O resultado será divulgado dia 14 de maio no Instagram do Coletivo Flácido (@coletivoflacido) e via e-mail, sendo o primeiro exemplar já entregue no dia 21 de maio.

Sobre o Coletivo Flácido e Casa Flácida:

O coletivo é hoje composto por Filipe Porto, Luísa Sponholz e Thaise Nardim, artistas residentes em Palmas que trabalham em diferentes linguagens. A Casa Flácida é um espaço destinado à produção, fruição, exposição, experimentação, educação e discussão artística, aberta para o público interessado. O espaço já abrigou a residência artística Escala 1:1 – Ações Humanas para espaços monumentais, é usada como ateliê próprio do artista Filipe Porto, além de ser o ponto de encontro do Clube do Livro – Book & Wines.

Este projeto foi contemplado pelo Prêmio Aldir Blanc Tocantins do Governo do Estado do Tocantins, com apoio do Governo Federal – Ministério do Turismo – Secretaria Especial da Cultura, Fundo Nacional de Cultura.

Fonte: Coletivo Flácido

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Em um futuro distante, a guerra e o amor perduram

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Em “Traição”, segundo livro da série Krios, da doutora em Letras Clássicas Márcia Silva, Dora enfrenta uma aventura para resgatar sua mãe e manter a paz no Universo, acompanhada do seu amado extraterrestre Marvil

Dora Dias é apenas uma garota terráquea que sofre por um amor impossível, mas cabe a ela uma grande responsabilidade: a manutenção da paz interplanetária. A aventura está na obra Traição, segundo livro da trilogia Krios, publicada pela Editora Autografia para o público jovem adulto. A autoria é da doutora em Letras Clássicas e professora Márcia Silva. No futuro distante em que se passa a trama, a Terra já não é mais a mesma, o Universo está conectado e a comunicação é a chave para a existência pacífica entre humanos e extraterrestres, mas algo ameaça esse equilíbrio.

No primeiro tomo da série, lançado em 2018 sob o título Interferência, o leitor foi apresentado à personagem principal, Dora, e a sua mãe, Dra. Helen Dias – a cientista responsável por um importante aparelho chamado de “Comunicador”. Também conheceu seu amado extraterrestre Marvil e o pequeno planeta Krios.

Agora, em Traição, Dora e Marvil tem que lidar com as diferenças culturais e biológicas interplanetárias que a impedem de ficar com Marvil.

“Os marvilenses [moradores de Krios] são fisicamente iguais aos terráqueos, exceto pela cor dos olhos de alguns, que podem ser de um mel intenso, como o de Marvil, e até lilases, e pela orelha mais fina. Biologicamente, contudo, nos constituíamos em espécies diferentes, o que tornava impossível a concretização do nosso amor. (…) Aceitamos o que o destino nos preparava. Não adiantava lutar contra ele.” (Traição, pág. 11)

Por meio dos olhos de Dora, personagem narradora, o leitor reflete sobre a ambição do homem pelo domínio e seu egocentrismo. Tudo isso com uma linguagem leve e fluida, com certo humor e uma série de referências à literatura, à filosofia, à cultura clássica e à mitologia grega. Em Traição, Márcia Silva, que leciona Língua e Literatura Latina e Cultura Clássica há 20 anos, também recorre a fontes etnográficas romanas, proporcionando ao texto uma leitura enriquecedora no quesito histórico e antropológico.

“Estariam os deuses me dando uma escolha? Mostrando-me que havia outros caminhos? Ou apenas queriam me confundir? Brincar comigo? Fazer com que sofresse ainda mais? Afastar-me de Marvil? Eu seria uma heroína trágica grega? Lembrei-me dos destinos catastróficos de Fedra, apaixonada pelo enteado; (…) de Helena que provocou a guerra de Troia ao seguir sua paixão por Páris.” (Traição, pág. 32)

A série Krios traz à tona, ainda, assuntos extremamente importantes na época atual, como desigualdade, discriminação, preconceito e preservação da natureza, projetados em um futuro em que, aparentemente, essas questões haviam sido superadas e que a humanidade desfruta de tudo o que precisa. Tudo isso em meio a uma história recheada de aventura, ficção científica e amor. Para a felicidade dos leitores, o terceiro livro da trilogia, Transformação, já está sendo escrito pela autora.

 


Sobre o livro I – Interferência: Em um futuro distante, a Terra muda radicalmente após um longo período de guerras. A unificação proporciona o desenvolvimento de tecnologia suficiente para descobrir vida em outros planetas e viajar até eles, mas o convívio pacífico ente humanos e extraterrestres depende da comunicação. Qualquer interferência é perigosa. Uma série de eventos pode ameaçar a paz. Sua manutenção, agora, depende de uma jovem terráquea que mora em um pequeno planeta. Ela será capaz de desvendar todas as pistas para solucionar os problemas? Poderá confiar em alguém para ajudá-la? Conseguirá aliados entre os terráqueos ou sua vida e seu futuro dependerão de um extraterrestre? Não há tempo para pensar nas respostas. É preciso correr atrás delas.

Sobre o livro II – TraiçãoA vida de Dora não podia estar mais complicada. Pelo menos era o que ela achava. Depois de chegar a Krios, descobriu uma conspiração, teve sua vida ameaçada, sua mãe sequestrada e passou a viver um complicado e impossível caso de amor com Marvil. Tudo o que ela queria, agora, era um resgate bem-sucedido, mas uma descoberta sobre seu passado complica ainda mais as coisas e faz com que ela repense tudo em que acredita. Os novos acontecimentos têm o poder de mudar seu futuro e podem, até mesmo, provocar uma guerra intergaláctica.

Sobre a autora: Márcia Silva é graduada em Letras com doutorado em Letras Clássicas. Leciona Língua e Literatura Latina e Cultura Clássica há vinte anos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Depois de se dedicar ao ensino, à pesquisa, à extensão e à administração, decidiu realizar o desejo de escrever romances. Como amante da Literatura de todas as épocas e para todas as idades, iniciou sua produção literária com o romance de ficção científica Interferência (2018), primeiro livro da série Krios, uma trilogia para jovens leitores, cuja continuação, Traição, foi lançada em 2019. No momento, compartilha sua dedicação à docência de Língua Latina e Cultura Clássica com a tarefa de escrever o último livro da série Krios.

 

FICHA TÉCNICA DO LIVRO I

Título: Interferência
Autora: Márcia Silva
Editora: Autografia
ISBN-10: 8551814362
ISBN-13: 978-8551814369
Páginas: 272

 

FICHA TÉCNICA DO LIVRO II

Título: Traição
Autora: Márcia Silva
Editora: Autografia
ISBN-10: 8551820028
ISBN-13: 978-8551820025
Páginas: 354

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A beleza da simplicidade em Cora Coralina

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Não é difícil se encantar com tanta beleza e simplicidade, até Carlos Drummond de Andrade se rendeu ao talento de Cora

 “Mulher da roça eu o sou, sou semente, sou pedra. Pela minha voz cantam todos os pássaros do mundo”

Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, conhecida como Cora Coralina, publicou o seu primeiro livro ‘Poemas dos becos de Goiás e estórias mais’, em 1965, sendo um compilado de histórias que viveu e sentimentos que sentiu. E quem diria que uma humilde mulher de cabelos brancos aos 75 anos pôde ressignificar sua vida e marcar para sempre o universo literário.

Adepta da linguagem simples e verso livre, devido à crença que o prazer da leitura deve ser disponível a todos (e também por sua baixa escolaridade), Cora Coralina, com extrema sensibilidade ao falar de sua terra Goiás, cotidiano e afazeres, deixou de lado as utopias de um eu lírico irreal que costumava ser o foco dos poemas daquela época. De modo original, ela incentiva a reflexão e revela a alma delicada que iria se tornar uma das maiores poetisas do século XX.

Fonte: https://is.gd/U0IFOV

Mãe dedicada e doceira de mão cheia, começou a vender doces para sustentar os quatro filhos após ficar viúva, achou entre receitas a doçura das palavras. Grande pensadora desde nova, aos 14 anos começou a ter seus textos publicados nos jornais locais e nacionais, aos 20 anos já era considerada a maior escritora do Centro-Oeste. Em 1984 recebeu da Universidade Federal de Goiás o título de Doutora Honoris Causa devido ao seu destaque e importância. Em 1985 recebeu o título de intelectual do ano e o troféu Juca Pato pela União Brasileira de Escritores (UBE).

“Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos. ”

Não é difícil se encantar com tanta beleza e simplicidade, até Carlos Drummond de Andrade se rendeu ao talento de Cora; em suas palavras: “Minha querida amiga Cora Coralina: Seu Vintém de Cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! ( …).”

Fonte: https://is.gd/mxMRNN

Muito mais que ter seu nome registrado no mundo literário, Cora Coralina é referência de coragem e dedicação ao seguir seu sonho independentemente da idade, processo chamado na Psicologia Junguiana como Individuação, onde o ser se dá conta que negligenciou algumas vontades no decorrer da vida e se volta a elas, a fim de aprimorar seu Self.

“Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas”. Além de expressar cultura, a poetisa mostra que a alma da poesia está na vida, na beleza e lutas do dia a dia. Cora faleceu em 1985, foram 95 anos tocando o coração das pessoas em vida. A partir de então, suas palavras fazem essa função.

Fonte: https://is.gd/v11SuJ

Referências

AMABILE, Luís Roberto. O dia em que Drummond descobriu Cora Coralina. Disponível em  http://biblioteca.pucrs.br/curiosidades-literarias/o-dia-em-que-drummond-descobriu-cora-coralina/ . Acesso em 14/03/2019.

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População pode doar livros para remição de pena nas unidades prisionais do TO

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Projeto “Remição pela Leitura” ajuda a reeducar as mentes dos que cumprem pena em Palmas e Araguaína

Começaram as aulas na rede estadual de ensino no Tocantins e é hora de arrumar lugar nas estantes para os livros do novo ano letivo. As famílias de Palmas e Araguaína podem aproveitar essa “faxina literária” para doar os livros usados ao projeto “Remição pela Leitura”, realizado na Casa de Prisão Provisória (CPP) de Palmas e na Unidade de Tratamento Penal Barra da Grota (UTPBG). A cada livro lido, os reeducandos que participam do projeto têm suas penas reduzidas em quatro dias.

Os livros usados no projeto não podem fazer apologia ao crime, ao uso de violência, nem ao consumo de drogas e outras substâncias químicas. Toda obra é analisada por uma comissão especial antes de fazer parte dos acervos das bibliotecas nas duas unidades prisionais. “Aceitamos obras individuais, coleções, livros de autoajuda e até religiosos. Mas, para a remição da pena, são consideradas apenas as obras literárias”, explica a coordenadora de projetos da UTPBG, Suellem Cândido.

Para participar do projeto, o reeducando é avaliado por uma equipe de pedagogas e psicólogas, que analisa aspectos da personalidade, periculosidade, escolaridade e situação familiar. Os selecionados têm 30 dias para ler o livro escolhido. Depois, precisam fazer uma resenha escrita e uma apresentação oral sobre o conteúdo da obra. “Examina-se o domínio do tema, a sequência lógica da apresentação e o uso adequado do tempo para narrativa”, destaca Suellem.

Fonte: Arquivo Pessoal

A coordenadora de projetos da CPP Palmas, Dulcilene Soares, lembra que a leitura desenvolve o senso crítico e permite novas maneiras de aprender a interpretar os fatos do cotidiano. “O hábito da leitura auxilia no aprimoramento intelectual, cultural, moral e profissional. É uma forma de educar e levar conhecimento e experiência para a reconstrução da identidade do indivíduo, além de possibilitar a inclusão social dos reeducandos”, destaca.

O projeto “Remição pela Leitura” é realizado pela Vara de Execuções Penais do Estado do Tocantins em parceria com a Embrasil Serviços, empresa responsável pela cogestão das duas unidades prisionais. Colaboram com o trabalho a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Faculdade de Palmas (Fapal) e Escola de Gestão Penitenciária (Esgepen), ligada a Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju), além do Conselho da Comunidade de Execuções Penais.

Presidente do Conselho e coordenadora do curso de Direito da Fapal, a advogada Maria de Fátima Xavier Ribeiro conta que os títulos mais procurados nas unidades são os de autoajuda. “Augusto Cury é o campeão de leituras, ao lado de Machado de Assis e outros grandes nomes da Literatura Brasileira, como Graciliano Ramos e José de Alencar”, revela.

Fonte: Arquivo Pessoal

 

Doações – As doações de livros para o projeto “Remição pela Leitura” podem ser feitas de segunda a sexta-feira, nos seguintes endereços e horários:

  • Unidade de Tratamento Penal Barra da Grota (UTPBG)

Endereço: Rodovia TO, número 222, km 07 –  Barra da Grota (TO)

Horário: 8h às 18h

  • Fórum de Palmas – Conselho da Comunidade de Execuções Penais

Endereço: Avenida Teotônio Segurado, s/n, Palácio Marquês de São João da Palma

Horário: 8h às 12h

  • Faculdade de Palmas (Fapal) – Coordenação de Cursos

Endereço: Av. 402 Sul, conjunto 2, lotes 7 e 8 – Centro de Palmas

Horário: 8h às 22h

  • Secretaria da Cidadania e Justiça do Tocantins (Seciju)

Endereço: Esplanada das Secretarias, Praça dos Girassóis – Centro de Palmas

Horário: 8h às 18h

 

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Hoje sou Alice: a toca do coelho é bem mais profunda

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“Em ‘Hoje eu sou Alice’ a autora relata a extraordinária jornada de uma mulher com transtorno dissociativo de personalidade, que precisou lutar contra a anorexia, o álcool, mas, mais do que tudo, contra nove personalidades alternativas que emergiram após ficarem adormecidas diante de uma infância pertubadoramente cruel. Sem controle, Alice entregou-se a elas – e sua vida passou a ser um caleidoscópio de acontecimentos e revelações. Emocionante e incrivelmente inspirador, este é o relato cativante sobre uma doença rara e sobre a história de uma mulher que decidiu lutar contra a realidade e a imaginação.” – Larousse do Brasil

Alice Jamieson decide contar todo seu trajeto de vida através dessa autobiografia por nome de ‘’Hoje sou Alice’’, nela ela conta os abusos sofridos tanto físicos quanto psicológicos desde quando tinha seis meses de idade até sua adolescência, cometidos por diversas pessoas: homens, mulheres e até um círculo de pedófilos em que seu pai estava inserido, porém a maioria dos abusos era cometido pelo seu pai. Desencadeando uma série de traumas, ela teve anorexia, desenvolveu TOC e o mais descrito e perceptível durante todo o livro é o desenvolvimento de um distúrbio de múltiplas personalidades (sendo pelo menos nove).

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Fonte: encurtador.com.br/cJMRY

“(…) Ao longo de toda a minha infância, sofri abuso sexual, físico e emocional, e não contei a ninguém. Este livro descreve como na infância desenvolvi mecanismos para lidar com o abuso e como agora, adulta, tenho lutado para levar uma vida normal em meio a períodos de psicose, crises nervosas, vício em drogas e automutilação. Não me desculparei pela linguagem chocante em alguns trechos e pelas verdades indigestas que precisam ser contadas. O abuso infantil é algo inimaginável para os que não foram vítimas dele, ao passo que é o inferno para os que sofrem diariamente com o sentimento da vergonha e à noite são tomados pelo medo de que a porta seja aberta e que o homem – quase sempre é um homem – entre em seu quarto. Na maioria das vezes, o abuso se dá em casa e geralmente envolve parentes próximos – pais, irmãos etc.” – página 13

A autora enriquece o livro de detalhes, dando aquele ‘’soco no estômago’’ de todos os leitores, relatando não só os abusos, mas todas as consequências suportadas durante sua vida adulta, assim marcada por transtornos psicológicos. No decorrer de todo seu crescimento Alice retomava as dolorosas lembranças por pesadelos ou até mesmo flashbacks.

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Fonte: encurtador.com.br/bdhA7

“Eu estava sempre visualizando a imagem de um homem entrando no meu quarto e tirando as minhas roupas no meio da noite, percorrendo meu corpo com suas mãos, afastando meus braços, me tocando em lugares que não deveria. De manhã, enquanto minha visão ainda se adaptava à luz, eu tinha visões fragmentadas, malformadas, que eram tão repugnantes que me faziam correr para o chuveiro a fim de queimá-las debaixo da água quente e eliminá-las do meu cérebro’’. – página 30

Toda a criação das personalidades desenvolveu-se durante sua infância, criadas assim para ser uma válvula de defesa e sobrevivência. Das personalidades que mais perturbavam a escritora eram: JJ, um menino de 10 anos que gostava de brincar com uma arma de plástico e cometer pequenos furtos; Kato, um adolescente suicida e violento, que quando controlava Alice fazia a mesma acordar em hospitais com os braços enfaixados e Shirley, uma menina de 14 anos que gosta de ficar bêbada e cozinhar.

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Fonte: encurtador.com.br/cJMRY

‘’No todo, já tive cerca de cem overdoses e precisei de quinhentos pontos nos braços: chamamos essas marcas de cicatrizes de batalhas. Sobrevivi a essas batalhas, o que uma pessoa religiosa provavelmente chamaria de milagre.’’ – página 283

Tirando o fato de o livro contar uma vida destruída e triste, a autora sempre dá detalhes de como ver e perceber que uma criança está sofrendo ou sofreu abuso, falar sobre a temática dói, porém nos prepara melhor para prevenir que novos casos ocorram, destacando a leitura como muito importante.

A linguagem do texto é clara e tranquila de se ler, fazendo com que os leitores se sintam dentro da história, colocando-se no lugar da autora e percebendo a inocência da mesma. O livro é um relato cruel, causa desconforto e nos faz interromper a leitura diversas vezes.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

Titulo: Hoje eu sou AliceNove Personalidades, Uma Mente Torturada.
Autora: Alice Jamieson
Ano: 2010
Páginas: 336
Editora: Larousse do Brasil

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Pedra no Céu: o encarar de um mundo desconhecido

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Pedra no Céu, publicado em 1950 por Isaac Asimov, configura mais um de seus romances intergalácticos com reflexões pertinentes que ultrapassam as fronteiras de tempo e espaço. Temos aqui preconceito, ganância, intolerância, bondade, ódio e tantos outros sentimentos que permeiam a experiência humana.

O primeiro momento do livro se passa em Chicago, no mundo que conhecemos hoje. O alfaiate Joseph Schwartz passeia por uma ruela, concomitantemente é realizado um experimento num laboratório de pesquisas nucleares na cidade. Por algum incidente não compreendido relacionado à radioatividade no experimento, Schwartz é transportado de um passo para o outro, literalmente, para um mundo desconhecido.

A partir desse momento, somos apresentados a este novo mundo. Nele, Schwartz começa a questionar sua própria sanidade, uma vez que um segundo antes estava a caminho de sua casa. No intuito de procurar e reconhecer algo ou alguém, sai à procura pela vasta floresta até que encontra uma casa. Seu primeiro contato aturdido com aquelas pessoas o deixa devastado: ninguém fala sua língua, todos se vestem de maneira diferente, a própria casa parece ser feita de porcelana.

As pessoas nessa Terra vivem sob a tutela do Império, o qual dita os Costumes que as pessoas devem seguir e para qual todos devem prestar contas. Um dos Costumes é o Sexagésimo. Nele, quando qualquer pessoa completa 60 anos de idade, têm de ser morta, pois é considerado um peso que não pode produzir, devendo dar espaço no mundo aos jovens. A família que recebe Schwartz oculta do Império a existência de um idoso cadeirante em sua casa e, necessitando de um membro a mais para ajudar na produção, se aproveita do surgimento misterioso de Schwartz. Com esse objetivo em mente, eles o levam ao Dr. Shekt na cidade de Chica, capital da Terra, para se submeter ao Sinapsificador, um aparelho que diz poder aumentar as habilidades intelectuais das pessoas. As consequências dessa modificação mudarão o curso da galáxia.

Um dos problemas notáveis na Terra é a superlotação e Asimov se apropria dessa preocupação de forma muito inteligente. Considerando-se que o medo da morte é um dos temas centrais da existência humana, cabe esperar que as pessoas encarassem o Sexagésimo com temor, ansiedade, quem sabe horror. No entanto, a perspectiva é amplamente aceita por todos com certa apatia: entendem que morrer aos 60 anos é extremamente necessário para o mundo.

Isaac Asimov – Fonte: https://goo.gl/qDmqG6

O Império presente neste livro é o mesmo da Trilogia da Fundação do autor e Asimov escreveu e editou seus livros posteriormente para que as linhas temporais e as referências pudessem estar presentes. Fruto de um Império ainda novo, vivendo no ano 827 da Era Galáctica, Bel Arvardan nos é apresentado como um arqueólogo e pesquisador imperial interessado em estudar a Terra e sua radioatividade, pois acredita que toda a humanidade se originara de um único planeta e que a radioatividade presente na superfície da Terra nem sempre estivera ali, mas fora fruto de atividade humana. É interessante a descrença que Asimov promove nas pessoas da Terra: é inconcebível que nós, que vivemos nesse mundo, utilizássemos de armas nucleares para com os nossos. A referência é clara, uma vez que em 1945, cinco anos antes da publicação do livro, os EUA atacam Hiroshima e Nagasaki e deixam milhares de mortos e afetados pela radiação. É de fato inacreditável para as pessoas da Terra que seja possível tamanha abominação contra a raça humana, mas a história nos diz o contrário.

Bel Arvardan, um personagem que vive suas próprias contradições durante o livro, tenta resolver o conflito de preconceito que vê em si mesmo e nos outros. Em Pedra no Céu, as pessoas são classificadas como terráqueos ou forasteiros e lidera um forte sentimento antiterrestrialista por parte desses últimos, pois a Terra agora é um lugar altamente radioativo, ridicularizado e seus descendentes sinônimos de perigo. Um dos objetivos de Arvardan é demonstrar a possibilidade de que, apesar de todo ódio e desdém com que os forasteiros tratam os terráqueos, todos tenham descendido de um único planeta e que as pessoas podem se tratar não por uma relação de medo e ódio, mas de cordialidade.

Ilustração de Isaac Asimov – Fonte: https://goo.gl/kTNooa

O personagem de Arvardan é claramente identificado com o Eterno Andrew Harlan descrito por Asimov no livro O fim da Eternidade, publicado cinco anos mais tarde. Os dois personagens vivem os próprios conflitos na sua personalidade austera, focada no trabalho e buscando a todo custo ignorar os seus sentimentos. Assim como o fracasso de Harlan se deu com o surgimento de Noÿs Lambent, uma não-Eterna, o de Arvardan se dá quando conhece Pola Shekt, uma terráquea, filha do inventor do Sinapsificador. A vida do Dr. Shekt, Pola, Arvardan e Schwartz se interligam de uma maneira surpreendente e cada superação de um obstáculo pessoal, seja de Arvardan a se entregar aquilo que sente, seja de Schwartz a processar o luto pela vida que vivia, converge para que o futuro da humanidade seja salvo.

Vivendo o eminente perigo de um vírus relacionado à radioatividade, Schwartz começa a desenvolver os vetores presentes nas contribuições de Pichón-Rivière sobre os grupos operativos, aqueles centrados na resolução de uma tarefa. Para que a tarefa seja realizada, devem ser elaborados dois medos básicos que surgem no processo de mudança: o medo da perda (quando existe o temor de perda pelo o que já se tem) e o medo do ataque (temor do desconhecido). Enfrentando a incerteza sobre tudo o que viveu e o que haveria de viver, com a esperança de rever sua família e angustiado pela perspectiva de que isso poderia não acontecer, Schwartz lida com o medo do ataque estando frente a situações radicalmente diferentes em sua vida, com pessoas das quais não conhece e em um mundo estranho para ele. Motivado pela tarefa de combater esse vírus, Schwartz passa pelo primeiro vetor de afiliação num processo mais demorado, pois implica o envolvimento do sujeito com a tarefa e com as demais pessoas do grupo. Guiado por tamanha desolação pela perda da família e seu mundo, um forte sentimento de raiva se apodera dele, o que dificulta tal envolvimento. Num processo mais rápido passa para o segundo vetor, chamado pertenência, em que pondera sobre sua participação, chegando então à pertinência e cooperação.

Nesse livro podemos observar aspectos mais cômicos se comparado aos livros posteriores do autor, o que torna a leitura muito agradável, além de reflexiva pelos pontos já citados. É comum nos surpreendermos rindo de algumas situações ou ficarmos apreensivos de tamanha imersão na psiquê dos personagens, fazendo com que repensemos conceitos que aplicamos à nossa vida cotidiana de maneira tão natural, sem nos questionarmos sobre. Uma obra que demonstra mais uma vez o talento de Asimov em nos fazer adentrar num mundo tão diferente e ao mesmo tempo tão próximo de nós.

 

FICHA TÉCNICA

Nome do livro: PEDRA NO CÉU

Editora: Aleph
Gênero:  Romance, Ficção Científica
Autor: Isaac Asimov
Ano de lançamento: 1950
Idioma: Português
Ano: 2016
Páginas: 312

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5 Lições de Psicanálise: um retorno à gênese freudiana

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O presente texto aborda os principais conceitos de teoria desenvolvida por Sigmund Freud no texto “Cinco Lições de Psicanálise”. Ao longo do trabalho buscou-se uma compreensão dos conceitos apresentados pautada nas explicações dadas pelo próprio autor longo de sua obra.

As Cinco Lições de Psicanálise compreendem uma síntese de cinco palestras ministradas por Sigmund Freud (1856 – 1939), em setembro de 1909, durante as comemorações do vigésimo aniversário da Fundação da Clark University, localizada em Worcester, Massachusetts – EUA. Nesse evento, Freud tem o desafio de trazer para uma classe não médica – principal público que vinha aderindo à psicanálise até o momento – os principais conceitos de sua teoria, esta ainda vinha sofrendo fortes críticas pela sociedade tradicionalista de Viena daquele período.

Diante a particularidade da plateia do evento, o autor busca trazer em uma linguagem mais clara e acessível, os principais conceitos da nova abordagem, ilustrando com relatos de casos clínicos o tratamento psicanalítico para os – assim chamados – males do espírito. O texto está dividido em cinco partes que tratam da história e fundação da Psicanálise. Nele Freud descreve seu processo psicanalítico com relatos precisos de casos clínicos, narrando sistematicamente como se deu o desenvolvimento de sua teoria e técnica.

Breve Histórico do Autor

Sigmund Schlomo Freud – ou Sigmund Freud – (1856-1939) foi um médico, especializado em neurologia e criador da teoria psicanalítica.

De origem judaica, era o primogênito da família. Freud sempre demonstrou talento em sua vida escolar/acadêmica, sendo o primeiro aluno da turma durante 7 anos (FREUD, 1925, p.16 apud FADMAN & FRAGER, 1986, p.03).

Prosseguindo seus estudos, interessou-se pela carreira médica e ingressou-se na Universidade de Medicina de Viena 1873. Interessou-se por histologia e publicou artigos sobre anatomia e neurologia (FADMAN & FRAGER, 1986, p.04).

Aos 26 anos Sigmund Freud recebeu seu diploma de medicina e, tendo-se casado 1886, precisou abandonar a carreira teórica em busca de melhores salários, desse modo ele se tornou interno no principal hospital de Viena onde fez o curso de Psiquiatria. Ainda apaixonado pelas explorações científicas, entre 1884 e 1887 Freud realizou pesquisas relevantes sobre a cocaína e seu efeito no Sistema Nervoso Central, mas logo ele mudou essa posição ao constatar os malefícios de suas propriedades viciantes, interrompendo essa pesquisa (FADMAN & FRAGER, 1986, p.04).

Tendo conseguido uma bolsa de estudos em Paris para trabalhar no Hospital Psiquiátrico Saltpêtrière com Charcot (1825 – 1893), Freud ingressou nos estudos sobre histeria com sugestão hipnótica. Ele constatou que o sintoma histérico era uma doença psíquica. Essa aproximação com Charcot e com a histeria foi decisiva para a consolidação da psicanálise. Após a conclusão de seus estudos com em Saltpêtrière, Freud concluiu que

os sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que lhes causaram grande impressão mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto apoiada, consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências num estado de hipnose (catarse) (FREUD, 1914, p.17 apud FADMAN & FRAGER, 1986, p.04).

De volta a Viena, em parceria com seu ex-professor e incentivador Breuer, Freud aprofunda seus estudos sobre a histeria, utilizando-se da hipnose como instrumento terapêutico, a qual ele logo abandona logo em seguida pela sua ineficácia. Em 1896 Freud emprega pela primeira vez o termo “psicanálise” para descrever seu método.

Freud dedica sua vida a desenvolver, ampliar e consolidar sua teoria. Em 1900 ele publica um de seus trabalhos mais revolucionários, a Interpretação de Sonhos. Logo uma serie de médicos interessados pelo seu trabalho formam um circulo em torno de Sigmund Freud e a psicanalise é disseminada, após sua conferencia em 1910 nos Estados Unidos da América (EUA), suas obras são traduzidas para o inglês e sua teoria é disseminada pelo mundo, influenciando principalmente a Medicina, a Psiquiatria e a Psicologia (FADMAN & FRAGER, 1986, p.05).

1ª Lição

Na primeira lição, Freud fala de seu trabalho com o médico Joseph Breuer (1842 – 1925), e confessa ter sido o próprio Breuer o primeiro a utilizar a técnica que, tempos depois, viria a ser chamada de Psicanálise.

O primeiro caso relatado por Freud, diz de uma jovem vienense, 21 anos com um quadro sintomatológico muito particular:

Tinha uma paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito, com anestesia, sintoma que se estendia por vezes aos membros do lado oposto; perturbações dos movimentos oculares e várias alterações da visão; dificuldade em manter a cabeça erguida; tosse nervosa intensa; repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber durante várias semanas, apesar de uma sede martirizante; redução da faculdade de expressão verbal, que chegou a impedi-la de falar ou entender a língua materna; e, finalmente, estados de `absence‘ (ausência), de confusão, de delírio e de alteração total da personalidade […] (FREUD, 1910, p. 8).

Essa configuração de vários sintomas incomuns apresentados ao mesmo tempo, mas sem causa objetiva (comprovada por exames médicos), e com forte apelo emocional, constituía o quadro de histeria.

É importante ressaltar que, como mencionado pelo próprio Freud (1910, p.9), para a medicina daquele período, os quadros de histeria eram descreditados, e/ou enfrentados com descaso pela comunidade médica. Comparado com alguém que apresentava um quadro patológico com causa orgânica comprovada via exame objetivo, o paciente histérico era deixado para segundo plano, “pois não obstante as aparências, o mal daquele é muito menos grave” (idem).

O diferencial do Breuer foi dar a essa jovem em questão à atenção merecida. Freud relata que o médico observou os estados de alteração da personalidade acompanhada de confusão (absence), da jovem e percebeu que ela murmurava algumas palavras que pareciam ter relação com “aquilo que lhe ocupava o pensamentos” (Freud, 1910, p. 9). Breuer anotou tais palavras e induziu sua paciente a um estado hipnótico onde as repetiu, esperando que ela associasse junto a essas, novas ideias.

Em estado de hipnose, a paciente começava a reproduzir para o médico as fantasias de onde haviam sido tiradas aquelas palavras. Observou-se também que as criações psíquicas (devaneios) “tomavam habitualmente como ponto de partida a situação de uma jovem à cabeceira do pai doente” (Freud, 1910, p. 9).

Os estados de absence cessavam após a jovem relatar um grande número de experiências, ela então se sentia “como que aliviada e reconduzida à vida normal” (Freud, 1910, p.09). Breuer e Freud notaram que esse bem-estar só vinha posteriormente à revelação das fantasias.

[…] A própria paciente, que nesse período da moléstia só falava e entendia inglês, deu a esse novo gênero de tratamento o nome de `talking cure’ (cura de conversação) qualificando-o também, por gracejo, de `chimney sweeping’ (limpeza da chaminé) (Freud, 1910, p.09).

O caso sugeria que os sintomas da jovem tinham origem em traumas psíquicos vividos no passado. Tais traumas eram, portanto, resíduos e símbolos mnêmicos resultantes de experiências emocionais anteriores frustradas “[…] e o caráter particular a cada um desses sintomas se explicava pela relação com a cena traumática que o causara” (FREUD, 1910, p.10). Pode-se averiguar, pelos relatos verbais da jovem atendida por Breuer, que seus traumas tinham forte ligação com o evento da morte do seu pai, e seu sentimento de culpa em relação a isso.

A análise do caso levou Freud a concluir que “onde existe um sintoma, existe também uma amnésia, uma lacuna da memória, cujo preenchimento suprime as condições que conduzem à produção do sintoma” (FREUD, 1910, p.14).

Freud e Breuer ainda notaram que, nem sempre, o sintoma histérico era causado por um único evento. Comumente, estes quadros patogênicos eram resultados de cadeias de traumas interligados de forma análoga e repetida. A cura, portanto, se dava pela reprodução dos traumas psíquicos em ordem cronológica inversa, ou seja, do ultimo trauma para o primeiro, até chegar-se ao evento traumático originário do transtorno (idem).

2ª Lição

Freud relata a forte influencia das pesquisas de Charcot sobra à histeria exerceram em seu trabalho e a necessidade que ele teve em abandonar o método da hipnose em seus atendimentos, uma vez que nem todos os seus pacientes era sugestionáveis à hipnose e pelo caráter de não cientificidade da técnica utilizada por Breuer.

Por meio da entrevista clínica de seus pacientes em estado consciente Freud sugere que eles recordassem o máximo de elementos possíveis, a fim de identificar as memórias e associa-las ao trauma originário do sintoma, o que ele chama de método catártico. O que não é tão simples, pois se percebia uma forte resistência do paciente em acessar estes conteúdos traumáticos. Com o passar do tempo, o autor percebeu a existência de uma força maior que faz com que as memórias ligadas ao trauma originário permaneçam no inconsciente, tornando os inacessíveis para seus pacientes, denominada por ele: Repressão (FREUD, 1910, p. 15).

Freud (1909, p. 16), reconhece na repressão o mecanismo patogênico da histeria. Trata-se do aparecimento de um desejo violento e incompatível com o ego do paciente, devido às cobranças morais da sociedade e à sua própria personalidade. Por não ter mecanismos para lidar com a carga afetiva do desejo, a psique desloca a ideia da consciência para o inconsciente, onde ela permanece reprimida/inacessível (idem).

Uma vez que o conteúdo reprimido retorna à consciência, ou seja, após desfeitas as resistências – o que se da por meio da análise psicanalítica – o conflito psíquico se desfaz, dando fim ao sintoma. Freud entende que existem três mecanismos relacionados com fim do sintoma (cura da neurose),

[…] Ou a personalidade do doente se convence de que repelira sem razão o desejo e consente em aceitá-lo total ou parcialmente, ou este mesmo desejo é dirigido para um alvo irrepreensível e mais elevado (o que se chama `sublimação’ do desejo), ou, finalmente, reconhece como justa a repulsa. Nesta última hipótese o mecanismo da repressão, automático por isso mesmo insuficiente, é substituído por um julgamento de condenação com a ajuda das mais altas funções mentais do homem – o controle consciente do desejo é atingido (FREUD, 1910, p. 18).

A função do mecanismo da repressão é, basicamente, evitar o desprazer, de modo a proteger a personalidade psíquica. Ele é regulado pelo Principio do Prazer, ou seja, a tendência inconsciente que todos temos de incentivar o que é prazeroso e evitar o desprazer (FREUD, 1910, p. 15).  Sendo a repressão à força que impede o evento traumático de recobrar a memória, Freud entende que a cura do paciente, só poderia ocorrer após a supressão de todas as resistências ligadas ao trauma originário.

3ª Lição

Freud desenvolve sua teoria a partir do Determinismo Psíquico, pressuposto no qual se acredita que eventos ocorridos na infância (passado) têm relevância no modo como o sujeito atua no presente (FREUD, 1910, p. 19). Sob essa ótica, pode-se crer que existem duas forças antagônicas sobrepondo-se constantemente na psique: uma tentando trazer à consciência o conteúdo reprimido enviado ao inconsciente, outra impedindo a passagem do conteúdo reprimido de volta à consciência (resistência).

Outro pronto relevante é que o conteúdo reprimido ao retornar à consciência sofre deformações por parte da resistência, quanto maior a resistência maior a deformação do conteúdo reprimido. (FREUD, 1910, p. 19). O chiste é um dos vários mecanismos da psique para dar vazão ao potencial energético reprimido. Ele é um substituto do(s) conteúdo(s) inconsciente(s) que sofre(m) deformação por parte da resistência para emergir a consciência – nesse caso – em forma de gracejo/piada/humor, tirando o foco do trauma original, o chiste permite que o conteúdo se torne consciente sem agredir o ego do paciente (idem).

Freud (1910, p. 20), chama esses conteúdos ideacionais interdependentes, catexizados de energia afetiva de “Complexo”. Na clínica psicanalítica, utiliza-se a fala desordenada do paciente, que é estimulado a falar abertamente sobre o assunto de seu interesse, por acreditar que ela (a fala) não destoará daquilo que mais lhe agride, no caso, o conjunto de traumas (complexo) investigado. Por esse método, denominado “Associação Livre” o terapeuta tem acesso ao conteúdo reprimido. Por mais cansativo que pareça esse método de investigação, identificação e eliminação dos complexos por meio da livre associação de palavras, segundo Freud, é ele, seguramente, “o único praticável” (idem).

Dentre as técnicas psicanalíticas para acesso ao inconsciente Sigmund Freud aponta: a associação livre de palavras (citada à cima), a interpretação de sonhos, e o estudo de lapsos ou atos casuais.

A interpretação de sonhos é na realidade a estrada real para o conhecimento do inconsciente, a base mais segura da psicanálise” (FREUD, 1910, p. 21). Os sonhos são a realização de desejos inconscientes. Comumente a análise de sonhos é ridicularizada pelo senso comum, por se apresentarem, na maioria das vezes, de forma confusa e sem nexo. Freud alude para o fato de que nem todos os sonhos são de difícil interpretação. “A criancinha sonha sempre com a realização de desejos que o dia anterior lhe trouxe e que ela não satisfez” (FREUD, 1910, p.22). No adulto não seria tão diferente, contudo ele traz uma bagagem de vida com mais elementos que a criança, mas a compreensão dos seus sonhos é possível mediante uma análise clínica minuciosa.

Todos os sonhos são compostos por elementos conscientes (verbalizados) e inconscientes (não verbalizados). O processo de formação do sonho tem mecanismos muito semelhantes aos do sintoma histérico. “O conteúdo manifesto do sonho é o substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho” (FREUD, 1910, p.22), e sua interpretação assemelha-se com o processo de associação livre do histérico.

Os conteúdos manifestos dos sonhos, elementos simbólicos verbalizados pelo paciente após o sonho, se diferem do conteúdo latentes: elementos simbólicos cujo paciente não tem mais acesso após o sonho, pois se encontram armazenados no inconsciente.  Os conteúdos latentes sofrem deformação pela resistência, para conseguir tornarem-se conteúdos manifestos. Por meio da análise dos elementos simbólicos do conteúdo manifesto no sonho do paciente, pode-se chegar ao conteúdo originário do trauma, que sempre estará relacionado a um desejo não satisfeito (FREUD, 1910, p.22).  É um processo muito semelhante ao da formação do sintoma no histérico. Logo, o psicanalista, ao abdicar a aparente conexão entre os elementos manifestos dos sonhos, buscando evocar no paciente as ideias suprimidas por meio da livre associação, ele conseguirá acessar os elementos latentes do sonho. Ao processo no qual o conteúdo latente do sonho se transforma em conteúdo manifesto Freud deu o nome de “Elaboração Onírica” (idem).

Esse material associativo que o doente rejeita como insignificante, quando em vez de estar sob a influência do médico está sob a da resistência, representa para o psicanalista o minério de onde com simples artifício de interpretação há de extrair o metal precioso(FREUD, 1910, p. 21).

Para Freud (1910, p.23), os pesadelos, contudo, não se contrapõem ao que foi dito até agora, mas eles demostram uma clara relação com a ansiedade para realizar o desejo reprimido. do neurótico. Pode-se concluir que a interpretação de sonhos, quando não a não nos direcionam para o excesso de resistências do paciente, leva-nos ao conhecimento dos seus desejos ocultos e reprimidos, como no caso dos pesadelos.

Baseado no Determinismo Psíquico, Freud conclui que a vida onírica do homem adulto carrega consigo todas as aspirações e peculiaridades de sua vida desde a infância. Pela análise dos sonhos ele chegou à conclusão de que “o inconsciente se serve, especialmente para a representação de complexos sexuais” (FREUD, 1910, p.23).

Outro elemento de peso na análise dos conteúdos inconsciente são os atos falhos. Eventos cotidianos sem importância aparente, mas que para a psicanálise, dado o Determinismo Psíquico, tem forte relevância. Como o esquecimento de coisas que deveriam saber (como nome de pessoas próximas), ou lapsos de linguagem, além de gestos rotineiros (manias) como piscar um olho, roer unha, etc., são elementos fundamentais da clínica psicanalítica por serem de fácil interpretação e terem relação direta com o trauma reprimido. Para o autor, esses atos/impulsos dizem de conteúdos que deveria permanecer reprimidos no inconsciente. Eles são de grande valor, pois “testemunham a existência da repressão e da substituição mesmo na saúde perfeita” (FREUD, 1910, p.24).

A análise de sonhos, atos falhos e associação livre de palavras, juntos fornecem ao psicanalista os elementos – mais do que suficientes – para trazer a tona o material psíquico patogênico originário do sintoma, dando fim ao quadro patológico resultado da “produção dos sintomas de substituição” (FREUD, 1910, p.25).

4ª Lição

Nessa lição Freud alude para o fato de como a teoria psicanalítica relaciona os sintomas mórbidos com a vida erótica do paciente. Para ele, o sintoma tem ligação direta com componentes instintivos eróticos, logo, as “perturbações do erotismo têm a maior importância entre as influências que levam à moléstia, tanto num como noutro sexo” (FREUD, 1910, p. 26).

Na quarta lição Freud aborda a ligação dos sintomas mórbidos com a vida erótica do paciente, contudo, ele alega uma grande dificuldade em se conceber – principalmente para a medicina – que o quadro patológico do paciente tenha relação direta com sua vida sexual. Freud chega a afirmar que sua experiência clínica não lhe deixa dúvidas (1910, p. 26). Certo de sua premissa, ele alega que uma das principais dificuldades do tratamento psicanalítico é o fato de as pessoas terem dificuldade em falar abertamente de sua vida sexual. Comumente eles omitiam detalhes e/ou distorciam informações, o que, segundo ele, diz de uma tendência social, e não exclusiva de seus pacientes. Logo, eles apenas repetiam um modelo que já existe há séculos, uma espécie de pacto coletivo, que nos impede de falar da vida erótica sem restrições (idem).

Contudo, há percalços quanto ao entendimento do sintoma mórbido e a investigação da vida passada do paciente (infância e adolescência) a fim de investigar possíveis eventos causadores do sintoma no presente. Freud alerta para más interpretações de sua teoria. Todavia, o exame psicanalítico pretende não ligar o sintoma a fatos sexuais, mas sim, ao modo como os acontecimentos traumáticos da história de vida do paciente ficam impressos em sua psique.

Ainda nesta lição ele faz uma afirmação ainda hoje criticada pela sociedade: a constatação da sexualidade infantil. Para o autor,

A criança possui, desde o princípio, o instinto e as atividades sexuais. […] Não são difíceis de observar as manifestações da atividade sexual infantil; ao contrário, para deixá-las passar desapercebidas ou incompreendidas é que é preciso certa arte(FREUD, 1910, p. 27).

Freud atribui ao peso da educação e da civilização a resistência da sociedade em não admitir a sexualidade na infância. Para ele o exercício da autoanalise nos permitiria desfazer essas barreiras (FREUD, 1910, p.28). A sexualidade nessa fase da vida, não está diretamente ligada à reprodução, do contrário, diz da estimulação de zonas sensórias do nosso corpo ligadas ao prazer libidinal. O prazer sexual infantil estaria ligado à excitação dessas zonas corpóreas particularmente excitáveis, “além dos órgãos genitais, como sejam os orifícios da boca, ânus e uretra e também a pele e outras superfícies sensoriais” (idem).

Nessa fase do desenvolvimento sexual, o prazer é alcançado no próprio corpo, dai o nome “auto-erotismo”  proposto por Havelock Ellis (1859 – 1939), e do  qual Freud se apropria para se referir a justificar certos comportamentos sexuais da criança. Ele cita como exemplos, a satisfação do desejo de sucção do bebê no ato de chupar/mamar o dedo, a e excitação masturbatória dos órgãos genitais. Acontece ainda na infância a escolha do objeto de desejo sexual, sendo esta outra pessoa, que não a própria criança. Aqui cabem alguns esclarecimentos: por ainda não ter uma representação sexual totalmente definida, esse objeto de desejo da criança pode não ter obedecer a uma representação exclusivamente heterossexual, contudo isso não resultará respectivamente em um adulto homossexual. Constantemente essa escolha objetal tem mais ligação com as considerações relativas ao instinto de conservação (FREUD, 1910, p. 29).

A escolha objetal da criança se da inicialmente entre seus cuidadores, depois entre seus genitores para, por fim, focar-se em um só como receptáculo de seus desejos eróticos. Para Freud o incitamento do desejo vem dos próprios pais e do modo de cuidado com a criança, que tem em origem (inconscientemente), cunho sexual (1910, p. 30). Mais comumente, “O pai em regra tem preferência pela filha, à mãe pelo filho: a criança reage desejando o lugar do pai se é menino, o da mãe se se trata da filha” (idem). Os sentimentos ambivalentes (ternura e hostilidades) nascidos dessa relação formam o Complexo de Édipo. Contudo, a pulsão sexual não permanece nos pais, sendo reprimida no primeiro momento, numa fase posterior do desenvolvimento psicossexual a criança tende a investir sua libido em direção a pessoas desconhecidos (ibidem, 31).

5ª Lição

Na ultima das cinco lições Freud recobra os principais conceitos da psicanálise trabalhados até o momento, inclusive a sexualidade infantil, e a relação do complexo de Édipo com a formação do sintoma nos neuróticos. Logo, os indivíduos adoecem quando são privados de satisfazerem suas necessidades sexuais (libidinais).

Dentre os mecanismos empregados na repressão da pulsão está o intento, por parte do paciente, em fugir da realidade, levando – de modo inconscientemente – sua psique a estágios anteriores do desenvolvimento psíquico, o que Freud chama de Regressão. A Regressão apresenta-se sob dois aspectos distintos: “temporal, porque a libido, na necessidade erótica, volta a fixar-se aos mais remotos estados evolutivos – e formal, porque emprega os meios psíquicos originários e primitivos para manifestação da mesma necessidade” (1910, p.32).

Comumente, durante o tratamento psicanalítico, surge nos neuróticos um sintoma identificado como “Transferência”, isto é: o paciente reproduz no terapeuta uma serie de sentimentos afetuosos, vez ou outra, mesclados de hostilidade, provenientes de fantasias inconscientes (FREUD, 1910, p.33). Trata-se de um fenômeno global, não restrito do setting terapêutico, mas que abrange espontaneamente todas as formas de relações humanas. A análise desse fenômeno torna-se uma ferramenta valiosíssima para o psicanalista no tratamento de seus pacientes, na identificação da origem sintomas reprimidos (idem).

Nesta lição Freud ainda identifica três mecanismos pelos quais ele acredita que o sintoma neurótico pode ser desfeito:

O primeiro se dá pela conscientização do conteúdo reprimido, que acontece durante o tratamento psicanalítico. É comum que o sintoma ao ser conscientizado seja anulado pela ação mental, que substitui a repressão pelo julgamento de condenação efetuado com mecanismos superiores do próprio ego. Outra solução apresentada, considerada por Freud a mais eficaz, seria a Sublimação, mecanismo de defesa do ego, onde a energia proveniente dos desejos libidinais infantis é empregada em atividades de cunho artístico e/ou intelectual, de valor social. A esse respeito Freud afirma que

[…] Exatamente os componentes do instinto sexual se caracterizam por essa faculdade de sublimação, de permutar o fim sexual por outro mais distante e de maior valor social. Ao reforço de energia para nossas funções mentais, por essa maneira obtido, devemos provavelmente as maiores conquistas da civilização. A repressão prematura exclui a sublimação do instinto reprimido; desfeito aquele, está novamente livre o caminho para a sublimação (FREUD, 1910, p.34).

Por ultimo ele aponta a plasticidade, uma característica nata do ser humano: a plasticidade dos instintos sexuais por intermédio da sublimação contínua e cada vez mais intensa das pulsões (idem).

Em última análise

É possível perceber a partir da leitura do texto que a construção da teoria psicanalítica estava intimamente ligada com a vida e as impressões de Sigmund Freud. Suas colocações eram, para a sociedade vienense daquele período, inconcebíveis, mas cheias de significados. É notório que dada à mudança na ordem social atual, e a própria concepção de sexo e sexualidade atual tornam algumas das ideias de Freud ultrapassadas, contudo, essa mudança se deve, em grande parte, pelas contribuições psicanalíticas à ciência e a sociedade. A medicina, a psiquiatria, a psicologia, dentre outras ciências, foram diretamente impactadas pelas ideias Freudianas.

Todavia, a leitura das 5 Lições de Psicanálise, como texto introdutório à teoria de Freud torna-se valida pela leveza da linguagem e cuidado com a qual o autor aborda os principais conceitos psicanalíticos até então empregado, proporcionando ao leitor, principalmente o iniciante, um melhor entendimento de sua obra. Outros autores, inicialmente discípulos de Freud, como Carl Gustav Jung, discutem se a sexualidade tem efetivamente papel central na vida do individuo e na formação do sintoma psicótico, o que levou a vários teóricos a romperem com Freud.

Com efeito, as ideias sobre sexualidade na infância e Complexo de Édipo ainda enfrentam resistências por muitas correntes de pensamento, mas se dúvida alguma, proporcionaram um novo olhar sobre a infância, o cuidado com as crianças e o tratamento clínico de transtornos psíquicos, tal como a histeria, antes tida como tentativa de chamar a atenção, portanto, indigna de real atenção pela medicina, como cita o próprio Freud na primeira lição.

 

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A Era da Loucura: a felicidade como meta quase impossível

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“É preciso reencontrar a coragem e a humildade de Sísifo, que não exige recompensa, mas sabe transformar qualquer atividade em sua própria recompensa.”

Michael Foley

Seria difícil, neste áureo século XXI, encontrar uma única pessoa que não esteja à busca daquele sentimento mais profundo, que traz satisfação e conforto, chamado felicidade. No entanto, com países colocando-a em sua constituição como um direito do cidadão – e que logo o Brasil deve fazer parte -, você não precisará procurar mais por essa, até então, abstrata condição; a FELICIDADE (isso mesmo, agora com letras maiúsculas), com forma e espaço a serem preenchidos, é exigível tal qual uma indenização por perdas e danos. E que seja paga com juros!

É essa transformação de paradigmas e prerrogativas, que o filósofo irlandês Michael Foley discute no livro “A Era da Loucura – Como o mundo moderno tornou a felicidade uma meta (quase) impossível”. Não se engane com o título. Para aqueles que adoram livros de autoajuda, o autor é um crítico ferrenho a este tipo de literatura, onde há variáveis passos a serem seguidos para alcançar os mais absurdos objetivos. “A única receita é que não há receita”, afirma ele.

Os que têm ojeriza à filosofia podem ter uma agradável surpresa. Com uma narrativa leve e cômica, Foley acaba trazendo graça para o que seria trágico e, por muitas vezes, coloca as próprias ações cotidianas em cheque. Buscar o entendimento através das próprias experiências é o melhor meio, segundo o autor, de chegar a um equilíbrio racional do querer e do poder.

Em cada capítulo, uma desconstrução. Foley fornece não só a lógica, mas diversas informações esclarecedoras sobre temas como trabalho, amor e envelhecimento, que tornam o senso comum um emaranhado ridículo de ideias manipuladas e manipuladoras. Em uma entrevista à revista Galileu, Foley desmistifica, por exemplo, a questão da transcendência nas religiões:

“Transcendência é uma perda de si mesmo, uma imersão de si em uma unidade maior – e a sociedade moderna prefere tomar o atalho à transcendência por meio de álcool e drogas. Quanto à espiritualidade, não-crentes não devem permitir que isto seja reivindicado pela religião. Também pode ser uma espiritualidade ateia: essencialmente, um sentimento de admirar o milagre da existência consciente na galeria das maravilhas que é o universo.” 

Para o autor, a fuga de responsabilidades está tornando a sociedade infantil e individualista. Existe uma evasão progressiva das obrigações e uma busca por riqueza inesgotável, situação inversa pelo qual nossos pais e avós passaram. “O novo infantilismo tem contribuído para uma sensação cada vez maior de autovalorização e prerrogativa de direitos, e uma sensação cada vez menor de autoconhecimento e obrigação.”

E autoconhecimento é uma das palavras chaves do livro. Um dos principais objetivos do autor é tornar o leitor consciente do que ocorre à volta. “Se a ignorância é o problema, a solução deve ser o conhecimento. Portanto, percepção é redenção. Compreensão é salvação”. E para não dizer que Foley não cedeu nenhuma receita para encontrar ou perceber essa tal felicidade, ele dá um conselho peculiar: Meditação. “O objetivo da meditação não é a quietude e a indiferença, mas a consciência, a prontidão, a clareza de propósito.”

Receita simples de ouvir, mas difícil de colocar em prática. Mas o próprio Foley rebate com maestria a nossa postergação de melhorarmos nosso ser e o pequeno universo que nos cerca; assim, “tudo o que é excelente é raro e difícil de alcançar”. É… ninguém disse que seria fácil.


FICHA TÉCNICA DO LIVRO

A ERA DA LOUCURA – COMO O MUNDO MODERNO TORNOU
A FELICIDADE UMA META (QUASE) IMPOSSÍVEL

Título original: The age of absurdity – Why modern life makes it hard to be happy
Autor: Michael Foley
Tradução: Eliana Rocha
Editora: Alaúde
Ano: 2011

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