“Eu não sou um homem fácil” – a inversão de papéis de gênero

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Damien (Vincent Elbaz) bate a cabeça e acorda em um mundo invertido onde o gênero masculino é o oprimido. A proposta francesa, inicialmente de comédia pastelão, subitamente nos imerge num mundo inverso onde as mulheres são o “sexo forte”, evidenciando a verdade do avesso. 

“Eu Não Sou um Homem Fácil” (título original: “Je ne suis pas un homme facile”) é um filme francês de comédia lançado em 2018. Dirigido por Eleonore Pourriat, o filme explora questões de gênero e igualdade através de uma premissa única. A história segue Damien (Vincent Elbaz), um mulherengo sexista que, após sofrer um acidente, acorda em um mundo onde os papéis de gênero foram invertidos. Neste mundo, as mulheres ocupam as posições de poder e influência, enquanto os homens são frequentemente objetificados e subjugados. Damien precisa se adaptar a essa nova realidade, enfrentando desafios que as mulheres enfrentam cotidianamente, como o sexismo no trabalho e o assédio sexual.

A sociedade retratada no filme evoca distopias frequentemente encontradas em filmes de ficção científica, sendo criações imaginárias usadas para satirizar e evidenciar aspectos da nossa realidade que uma parte da população talvez nunca tenha identificado – geralmente, aquela que não é oprimida. Em obras como ‘1984’, de George Orwell, é o cidadão comum que ousa vislumbrar além das limitações impostas. Em ‘Fahrenheit 451’, livro de Ray Bradbury adaptado para o cinema por François Truffaut, esse indivíduo tenta acessar algo proibido. Em ‘Jogos Vorazes’, de Suzane Collins,  vemos a espiral de opressão sendo quebrada por uma jovem que provém do estrato mais pobre daquela sociedade. No filme de Pourriat, um homem de nossa sociedade patriarcalista é transportado para uma realidade onde o matriarcado é uma norma estabelecida. Nessa sociedade, são as mulheres que detêm o poder, invertendo completamente os tradicionais papéis de gênero.

É possível observar, então, uma temática profundamente conectada ao sexo e à política, áreas que, segundo o filósofo Michel Foucault, são particularmente afetadas pela dinâmica de exclusão de discursos. Foucault exemplifica esse fenômeno de exclusão no artigo ‘A Ordem do Discurso’ ao discutir o descrédito historicamente atribuído à loucura. Desde a Idade Média, o discurso dos indivíduos considerados loucos é descartado como algo destituído de verdade e relevância. Essa mesma dinâmica de exclusão permeia o discurso feminista, visto que, na ótica machista, as mulheres são rotuladas como psicologicamente instáveis. Isso explica por que as reivindicações do movimento feminista frequentemente são descredibilizadas.

O filme aborda essa questão de forma direta. Em uma cena, por exemplo, Damien, já imerso no mundo invertido, renuncia ao seu cargo como assistente pessoal de Alexandra (Marie-Sophie Ferdane), uma escritora renomada. A resistência dela em aceitar sua demissão é acompanhada de acusações de que ele está se excedendo, atribuindo seu comportamento a uma crise de estresse. Quando ela se vê sem argumentos, recorre à desculpa de que ele está adotando um discurso “masculinista” (equivalente, neste universo, ao feminismo) como forma de justificativa para ignorar sua decisão.

                                                                                                                                  Netflix Brasil/reprodução

Um mulherengo sexista acorda em um mundo onde os papéis de gênero foram invertidos.

O longa possui algumas falhas, como a falta de exploração do fato de que, nessa sociedade “matriarcal”, os homens são livres para expressar emoções, deixando de abordar adequadamente a forma como o machismo prejudica, também, os homens. De acordo com os dados obtidos pela OMS em 2019, homens apresentaram um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio que mulheres, além de figurarem em uma estatística dez vezes maior de morte por crimes violentos. De acordo com os dados, as expectativas sociais em relação aos homens são capazes de aumentar o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, vícios, acidentes de trânsito e homicídios, além de contribuírem para o aumento das taxas de suicídio.

De tal forma que é possível apontar que o enredo dedica muito tempo ao relacionamento entre Damien e Alexandra. É compreensível que esse relacionamento sirva como pano de fundo para explorar a realidade invertida, oferecendo nuances às personalidades dos protagonistas, permitindo-lhes transcender os rótulos limitantes impostos pela sociedade. Porém, no universo criado há tantos pontos que poderiam ter sido mais explorados. A trama provoca temas como a religião em que, os personagens citam a divindade com pronomes femininos e como, historicamente, o matriarcado foi imposto a partir da visão de que as mulheres, por terem o poder de gerar uma vida em ventre, são o sexo mais forte.

Ademais, “Eu não sou um homem fácil” retoma um tema frequentemente debatido pelo feminismo, mas o faz de uma perspectiva única, desafiando até mesmo aqueles que não são militantes do movimento a sair de suas zonas de conforto. Apesar da abordagem muitas vezes leve, ele lança na tela uma realidade desconfortável para o espectador — uma realidade cruel de violência verbal e física que as mulheres passam diariamente.

Em última análise, embora o filme apresente exemplos tangíveis de assédio e padrões estéticos aos quais as mulheres são frequentemente submetidas, é crucial reconhecer que o machismo vai muito além do que é retratado. Estupro, feminicídio, violência doméstica e a negação do direito ao próprio corpo são questões extremamente urgentes que os movimentos feministas expõem e combatem incansavelmente. O que não é retratado tão fielmente no filme.

FICHA TÉCNICA

  • Título Original: Je ne suis pas un homme facile
  • Duração: 98 minutos
  • Ano produção: 2018
  • Estreia: 13 de abril de 2018
  • Distribuidora: Netflix
  • Dirigido por: Éléonore Pourriat
  • Classificação: 14 anos
  • Gênero: Comédia; Romance; Drama;
  • Países de Origem: França

Referências:

COSTA, Juliana. “Eu não sou um homem fácil” traz ironia como arma. Palmas-TO. Disponível em <: https://www.folhape.com.br/cultura/critica-eu-nao-sou-um-homem-facil-traz-ironia-como-arma/68955/  >. Acessado em 27 out. 2023.

VIEIRA. Letícia. Feminismo de “Eu não sou um homem fácil” silencia seus próprios aliados. Palmas-TO. Disponível em <: https://medium.com/@mcarolinasoares_86413/feminismo-de-eu-n%C3%A3o-sou-um-homem-f%C3%A1cil-silencia-seus-pr%C3%B3prios-aliados-88c21c0dac95>. Acessado em 27 out. 2023.

(Sem autor definido) Os efeitos da masculinidade tóxica na saúde do homem. Disponível em <: https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/os-efeitos-da-masculinidade-toxica-na-saude-do-homem/ >

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Divisão sexual do trabalho: desigualdade e desvalorização da mulher

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A divisão sexual do trabalho ocorre devido a divisão do trabalho social relacionado a questões de gênero. Desde a Antiguidade, o homem era responsável pela caça, enquanto a mulher conhecida como única responsável pela reprodução era encarregada pelo cuidado e zelo dos filhos. Porém com o passar do tempo e a revolução industrial, a mulher passa a lutar pelo seu espaço no meio social e trabalhar nas fábricas, a força já não era um requisito principal para a prática do trabalho fora do âmbito familiar (KERGOAT, 2000).

Nos dias atuais, embora as mulheres estejam cada vez mais conquistando seus direitos e lutando pela diminuição da desigualdade entre homens e mulheres, o que se percebe é que o papel da mulher continua relacionado ao cuidado do lar, e dos filhos. Apesar de terem a possibilidade de ocuparem lugares como a construção civil e exercerem profissões ditas como “profissões para homens”, ainda recebem salários menores que os homens.

Essa situação se intensifica quando falamos sobre as mulheres negras. As mulheres negras sofrem ainda com o preconceito por sua cor de pele, e na maioria das vezes são relacionadas à profissão de empregada doméstica. Levando em conta as estatísticas que apontam o baixo nível de escolaridade, acabam por terem ainda mais dificuldade em conseguir cargos melhores, ganhando menos ainda nas suas funções que as mulheres brancas (LIMA; CARVALHO, 2016).

Fonte: encurtador.com.br/jvyAC

Existem profissões em que as mulheres possuem uma maior facilidade em dominar a liderança nas contratações, porém, até neste ponto é nítido o estereótipo criado em volta da mulher. Geralmente são profissões voltadas ao cuidado, ou semelhantes às atividades domésticas, como por exemplo, professoras ligadas ao cuidados e educação de crianças, enfermeiras ligadas ao zelo, demonstram discursos colocando a mulher como direcionada para essas profissões ditas femininas devido a fragilidade, delicadeza e feminilidade (SILVIA; MENDES, 2015).

Dessa forma, a pirâmide de rendimentos no qual no topo dela está o homem branco seguido de homens negros, depois de mulheres brancas e por fim de mulheres negras ainda continua em manutenção de forma bem evidente, atual e cruel. Com isso, negras ganham menos, mesmo com vários anos de estudos ou o ramo no qual exerce sua profissão, pois está sobreposto a duas condições: a de ser mulher e a de ser negra (raça e gênero).

Com o contexto atual, a luta das mulheres seja através do feminismo ou na vivência do trabalho a cada dia que passa nas atitudes de questionar desigualdades ou buscar melhorias, procura cada vez mais, mais conquistas para as mulheres, buscando dessa forma diminuir a desigualdade entre homens e mulheres. Tentando dar à mulher a oportunidade de ocupar seu espaço de forma justa, sem ocupar os lugares dos homens, mas sim o seu próprio lugar.

REFERÊNCIAS

KERGOAT, D. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. Trabalho e cidadania ativa para as mulheres: desafios para as políticas públicas. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, p. 55-63, 2003. Disponível em:<https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/05634.pdf#page=55>. Acesso em 08 julho de 2021.

LIMA, R. M.; CARVALHO, E. C. Destinos traçados? Gênero, raça e precarização e resistência entre merendeiras do Rio de Janeiro. Revista da ABET, v. 15, n. 1, p. 114-126, 2016. Disponível em:<https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/abet/article/view/31263> Acesso em 15 julho de 2021.

SILVA, M.C.; MENDES, O.M. As marcas do machismo no cotidiano escolar. Caderno Espaço Feminino, v. 28, n. 1, 2015. Disponível em:<http://www.seer.ufu.br/index.php/neguem/article/view/31723>. Acesso em 23 maio de 2021.

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O conto da Aia, seria mesmo uma distopia?

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O Conto da Aia, livro escrito em 1985 pela autora canadense Margaret Atwood continua mais atual do que nunca. No livro “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir tem uma frase que define muito a obra de Atwood “[…] Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados” (BEAUVOIR, 1949, p.29).

A obra se passa em um futuro distópico, onde os Estados Unidos sofrem um golpe de Estado, sendo assim proclamada a República de Gilead. Neste novo país as universidades estão extintas, não existe mais jornal, televisão ou biblioteca e as únicas leis existentes são a lei divina, sendo assim um país teocrático, totalitário e patriarcal, pois as mulheres são as primeiras vítimas e os seus direitos são abolidos.

A sociedade de Gilead é composta por castas, onde os homens sempre ocupam os principais poderes, os homens também compõem as atividades laborativas, como, médicos, farmacêuticos, militares etc. Já as mulheres são divididas em categorias, cada qual com uma função já estabelecida pelo Estado.

As esposas são as companheiras dos Comandantes (os comandantes são pessoas do alto escalão do exército) e a função da esposa é sempre fazer a vontade de seus maridos. As Marthas são as responsáveis por manterem a casa sempre organizada e elas são propriedade da família.

Fonte: encurtador.com.br/goC17

São chamadas de Tias, as mulheres responsáveis por disciplinarem as Aias. Depois que uma catástrofe nuclear deixou uma grande parte da população estéril, as poucas mulheres que ainda eram férteis são as aias, elas pertencem ao governo e existem somente para procriar. As aias são entregues as famílias dos comandantes e obrigadas uma vez por mês a terem relações sexuais com eles para engravidar. Após dar à luz, elas amamentam o bebê e logo depois são transferidas para outra família.

O sucesso do livro gerou a série adaptada homônima que acabou de estrear sua quarta temporada. Tanto o livro quanto a série são narrados por June, a Aia da família Waterford. Na série vamos acompanhar toda a mobilização das Marthas e Aias para exporem as atrocidades cometidas no país para o mundo, com o intuído de estabelecer um mundo melhor.

A obra discute sem receio a opressão feminina e como elas não possuem direito sobre seus corpos, também aborda como o discurso fundamentalista religioso é extremamente perigoso. A distopia também suprime resolutamente as pessoas mais poderosas associadas às minorias.

Embora este pareça ser um universo completamente fictício, a verdade é que a obra de Margaret se aproxima de alguma realidade contemporânea em muitos aspectos, visto que é só abrir a página do jornal e encontrar algumas comunidades contemporâneas que vivem sob o apoio da autocracia e da teocracia.

Fonte: encurtador.com.br/wILM9

Referência:

ATWOOD, Margaret. O Conto da Aia. 1.ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2017.

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

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Sofrimento e arte – (En)Cena entrevista a artista Laís Freitas

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“A resposta é que homens amam homens, podem até ser heterossexuais mas pelo prazer sexual. Homens glorificam o mesmo sexo, não consomem conteúdos feitos por mulheres, tem apreço apenas ao que eles próprios fazem”.

O Portal (En)Cena entrevista a artista plástica Laís Freitas, de Palmas-TO, para conhecer o que significa ser mulher no Brasil na pandemia pelo olhar da jovem pintora de 18 anos que utiliza das redes sociais como meio para divulgar e comercializar seu trabalho.

Durante a conversa, Laís explica como é ser jovem, mulher e pretender viver de arte no Brasil, apontando os desafios impostos pelo machismo estrutural. A artista também fala sobre os aspectos de saúde mental na sua obra mais recente, a série de quadros “ilusão”. Para ela, o pintar e a possibilidade de se expor e se expressar têm efeito terapêutico e chama a arte de “salvação” que oportuniza tanto ao artista como ao expectador, acessar e entender sentimentos que nunca haviam sido percebido.

(En)Cena –  Considerando o seu lugar de fala, mulher, jovem, artista  e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Laís Freitas (@aloisam_) – Como jovem artista, vejo que ser mulher nos dias atuais de pandemia é uma constante luta, em todos os aspectos. Ao longo da história conseguimos como feministas muitas conquistas, mas ainda existem muitas pautas a serem tratadas. Com um olhar sensível, observo que o sofrimento da mulher, incluindo o meu, parte de um sentimento de solidão, diante de uma cobrança muito grande que fomos ensinadas desde pequenas, o peso do mundo em nossas costas, que claro, parte de um machismo estruturado da nossa convivência.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –  Ao falar sobre a sua série de quadros “ilusão” no post do Instagram , @aloisam, do dia 25/04/2021  você afirma ter descoberto que o pintar te salva, quando permite contar a sua história. Como você entende a relação entre arte e saúde mental?

Laís Freitas (@aloisam_) –  Como disse na minha postagem, vejo o momento da pintura como uma “quase meditação”, é o momento que mais me sinto conectada comigo mesma, pelo processo ser demorado e estar transcrevendo meus sentimentos em símbolos.

 Nunca fui de me abrir conversando sobre meus problemas, mas sinto que me encontrei na minha pintura. Acho mais fácil escrever sobre o que estou passando e transformar em desenhos, me expresso dessa forma. Às vezes quando falo sobre esse processo com alguém, brinco que se não pintasse eu explodiria, porque desconheço forma mais eficiente de expressão. A arte é salvação, tanto para o artista quanto para o expectador, com ela conseguimos acessar e entender sentimentos que nunca tínhamos percebido, ela é sensível, conta uma história.

(En)Cena –    Como artista jovem em 2021, qual sua perspectiva diante do mercado de trabalho tão modificado e adaptado pela pandemia, com inúmeras possibilidade de interações comerciais online por meio das redes sociais?

Laís Freitas (@aloisam_) –  Com a pandemia, todos tivemos que nos reinventar. Já havia o pensamento de ter uma renda com o mercado online, mas não como eixo principal. Essa adaptação, para mim, abriu meus olhos para outras oportunidades e uma interação com o público muito rápida. A necessidade de criar conteúdo nas redes sociais confesso que me assusta um pouco, percebo que é mais fácil falar com mais pessoas, mas conseguir manter uma visibilidade e crescer em cima disso é mais difícil. Em relação a vendas, uma queda bem grande, a arte querendo ou não, no sistema econômico que vivemos quem compra é quem tem dinheiro, e com a pandemia trabalho está escasso então ninguém tem renda para contribuir no trabalho de um artista.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena – Quais os desafios de ser mulher e querer viver de arte no Brasil?

Laís Freitas (@aloisam_) –   Lembro-me da primeira vez que fui ao MASP, logo quando entrei havia um poster enorme do grupo Guerrilla Girls (de Nova York) com um texto adaptado “as mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo?” e logo embaixo dados afirmando que apenas 6% dos artistas do acervo em exposição eram mulheres (2017).

Como mulheres, não temos visibilidade, ainda mais na arte que temos pouquíssimas referências ao longos dos movimentos. Por exemplo, em 1909 foi lançado o “Manifesto Futurista” de F. T. Marinetti que fundamentou a vanguarda europeia “futurismo”, em que dizia em seu texto ”Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.”. Sabemos que a arte, assim como todas práticas intelectuais, sempre foram afastadas das mulheres mas, porque ainda não temos visibilidade até hoje?

A resposta é que homens amam homens, podem até ser heterossexuais mas pelo prazer sexual. Homens glorificam o mesmo sexo, não consomem conteúdos feitos por mulheres, tem apreço apenas ao que eles próprios fazem. Essa, na minha visão, é a maior dificuldade de ser mulher e querer viver de arte, não temos a representação e a fama que um homem teria fazendo a mesma coisa. Por isso acho tão importante o movimento de mulheres apoiarem umas as outras, pois outros não vão fazer isso por nós.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –   Alguns dos seus quadros trazem imagens de rostos, mãos e órgãos humanos. Num tempo de pandemia em que o corpo e a saúde viraram pauta de constantes sofrimentos físicos e mentais, de que tratam os corações da retratados na sua arte?

Laís Freitas (@aloisam_) –    A arte que faço é completamente minha, todas as faces mesmo que não sejam meu rosto, de alguma forma sou eu, assim como os corações e mãos. Minha última série “ilusão”, foi uma tentativa de me colocar em primeiro lugar, sem ter vergonha de mostrar fragilidade, por isso são todos autorretratos. Antes me escondia por medo de demonstrar sentimentos, tanto que publicava os quadros, mas não conseguia escrever sobre eles para explicar para o público o intuito do quadro.

Com muito esforço de passar por um processo de autodescoberta e aceitação, consegui parar de ter medo de demonstrar sentimentos através dos textos sobre os quadros. No primeiro quadro da minha série, que deu início a todos os outros, explico sobre essa “ilusão” de idealizar o sofrimento e até fugir dele, com medo da solidão. Mas a partir do momento que me permito sentir essa dor e percebo que faz parte do processo, essa solitude não incomoda mais, e até passo a gostar dela.

Para mim, o coração é o símbolo dos sentimentos e desse sofrimento. Demonstro as etapas da minha vida como as sensações que sentia no meu coração. Demonstrei ele pertencente a alguém, livre, sereno e também com fome.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –   Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Laís Freitas (@aloisam_) –   Acredito que com essa pandemia, conseguimos ver ainda mais o que as mulheres passam em casa. As taxas de feminicídio só aumentam, relações abusivas disfarçadas de amor é o que mais têm. Que essa solidão que falei sirva de aprendizado, o sofrimento da cobrança em cima de nós é muito grande.

Revoluções assim, são de extrema importância. Todas entendemos o conceito de feminismo, ainda que tenha muito tabu em cima, devemos nos apoiar, creio que seja a única saída, o movimento de mulheres para mulheres.

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Homem moderno e o Novembro Azul: (En)Cena entrevista Plácido Medrado

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Psicólogo Plácido Medrado aborda a construção social do que é “ser homem”

Durante o mês de novembro é muito comum se falar sobre a campanha “novembro azul”, onde visa a conscientização sobre a saúde masculina. Mas quando se fala em saúde do homem, sabe-se que ainda existe muita resistência sobre o assunto. E por isso, convidamos o psicólogo Plácido para debater sobre o homem moderno e o novembro azul.

Graduado em Psicologia pela Universidade Paulista, campus Brasília-DF. Plácido Lucio Rodrigues Medrado é especialista em Docência do Ensino Superior, servidor público municipal efetivo de Porto Nacional -TO, atuando na Assistência Social.

Membro da Comissão de Psicologia e Direitos Humanos do CRP 23° e membro do Coletivo de Luta Antimanicomial do Tocantins (COLAPA). Possui experiência em docência do ensino técnico e superior. Já facilitou minicurso sobre saúde mental da População LGBT.  É defensor do SUS, SUAS e militante da Luta Antimanicomial. Membro e um dos Organizadores do Grupo de Estudos em Sexualidade e Gênero, 2020.

Afinidades de atuação e pesquisas: LGBTQIA+, Masculinidades, Gênero, Dependência Química e Psicologia Social

En(Cena) – Como você considera a representação do homem moderno? E quais aspectos influenciam sobre a sua masculinidade?

Plácido Medrado – Antes de falar sobre o homem moderno e masculinidades é importante falar sobre a construção social do que é “ser homem”. O ser homem pautado na ideia do patriarcado, da virilidade e da performance ainda é muito presente em nossa cultura cishetenormativa. O que nos leva a pensar não somente nessa concepção, mas em outras possibilidades de “ser homem”. O homem moderno caminha rumo ao autodescobrimento de sua masculinidade, não aquela ideia conservadora (patriarcal, machista, e heterossexual) mas, também, outras concepções. Por exemplo, homens gays, homens bissexuais, homens transexuais expressam sua masculinidade de outras formas. Vejo que os aspectos que influenciam a construção das masculinidades (sim! falamos no plural pelas diversas possibilidades de ser homem) são dentre outras, a história da sociedade e as concepções das religiões.

En(Cena) –  O que te levou a direcionar seus estudos e atuações para a área de assistência social, sexualidade e gênero?

Plácido Medrado – Bom, primeiramente meu lugar de falar é de psicólogo, cisgênero, homossexual, pardo, defensor do SUS e SUAS. Minha atuação no SUAS (Sistema Único de Assistência Social) foi bem por acaso, surgiu a oportunidade, estava recém formado e fui de braços abertos a aprender. Gosto bastante da Assistência Social, pois me possibilita sair um pouco daquele modelo clínico da psicologia (sala fechada – 50 minutos) e me permite conhecer e intervir no sofrimento humano, através do conhecimento da comunidade em um contexto bem complexo, a vulnerabilidade social. Sobre sexualidade e gênero, no momento participo de um grupo de estudos sobre tal tema e sempre tive afinidade com tais temáticas. Vejo a sexualidade e as questões de gênero presente em diversos contextos (saúde, educação, assistência social, academia) mas por ainda ser um tabu, pouco é dialogado sobre isso.

En(Cena) – Plácido, em sua atuação profissional, quais são os maiores embates no desenvolvimento da psicologia de gênero? E o acesso ao conteúdo masculino?

Plácido Medrado – Bem, para falar sobre isso, acho importante dizer que desconheço uma Psicologia de Gênero, o que há é o gênero enquanto área de conhecimento e pesquisas, não somente na ciência psicológica, mas também em diversas áreas e profissões (serviço social, medicina, enfermagem, direito etc). É muito complexo falar de gênero, porque a nossa cultura binária (ou você é homem ou você é mulher) está tão enraizada na nossa sociedade que soa como uma barreira social. Ademais, nota-se ainda o fato de muitas pessoas por suas crenças individuais estarem fechadas para discussão de gênero. O acesso ao conteúdo do masculino, tenho visto fortemente através das redes sociais. Atualmente, devido a pandemia, há grupos de homens online (às vezes somente para homens) com objetivo de repensar nossas masculinidades. Ainda temos campanhas educativas como o “Novembro Azul”, pautando na ideia do autocuidado do homem e prevenção Câncer de Próstata.

En(Cena) – A partir dos seus estudos e experiências, qual relação do machismo sob a sexualidade masculina na atualidade? E quais dificuldade ainda se é enfrentado diante da campanha ‘Novembro azul’?

Plácido Medrado – O machismo na minha opinião é uma construção social, no qual o homem vive naquela cultura do patriarcado, de ser superior a mulher, de ser viril, de ser forte o tempo todo, de não falhar, de não chorar e sempre performar seus aspectos masculinos. Este machismo acaba construindo um homem que menos fala sobre seus sentimentos, menos procura ajuda médica e psicológica e reflete na violência contra mulher e na LGBTfobia. O machismo acaba que gera/gerou um padrão “correto e conservador” de ser homem, a saber: o homem cisgênero e heterossexual. Há diversas dificuldades que ainda estamos vivenciados quando o assunto é “Novembro Azul”, por exemplo o tabu quando o assunto é sexualidade, o estigma que homem não pode ser sensível, o exame de toque retal e ainda o autojulgamento do homem como pessoa invulnerável e que não requer cuidados. Há muito o que ser pesquisado e construído quando o assunto é o autocuidado do homem.

En(Cena) – A população de Palmas tem conhecimento dos recursos e assistência oferecidos em psicologia, saúde e assistência social no município? Campanhas como ‘novembro azul’ são eficazes?

Plácido Medrado – Bem, como hoje em dia estamos vivenciando um era tão tecnológica e digital, tenho visto fortemente a campanha do Novembro Azul nas redes sociais, através de postagens, textos reflexivos e lives. Acredito que a Campanha Novembro Azul é muito importante e válida, porém ainda falta alcançar muitos homens que não acessam os serviços de atenção básica por exemplo. Conforme, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, o homem acessa mais os serviços de atenção especializada (urgência/emergência, CAPS Ad, por exemplo) do que a atenção básica, o que sugere pouca prevenção e apenas a busca no momento da doença.  Tenho percebido que a Psicologia nos serviços de saúde é bem solicitada, o que denota prévio conhecimento da comunidade. Porém quando falamos em termos da política de Assistência Social ainda falta a comunidade entender o que faz o Psicólogo nos equipamentos do SUAS podem realizar, para além daquele modelo tradicional da Psicologia clínica.

Fonte: encurtador.com.br/fkEL9

En(Cena) – Quais meios e como você considera eficaz para que a população possa ter maiores informações a respeito de sexualidade masculina, machismo, novembro azul e outros?

Plácido Medrado – Penso inicialmente, seria a necessidade do diálogo sobre tais temas no contexto familiar, pois estamos vivenciando uma era digital, onde tudo é virtual e o contato presencial firma à margem do seio familiar. Vejo também a necessidade de falar sobre esses assuntos através de rodas de conversas, fóruns, palestras e conferências nos espaços escolares, acadêmicos e na própria comunidade como um todo. Falar dessas temáticas não é uma tarefa fácil, há polêmica, há resistência das pessoas e ainda há muitos tabus.

En(Cena): Quais medos o homem moderno pode enfrentar? Há espaço de fala e enfrentamento dessas questões?

Plácido Medrado – Partindo da ideia que medos são estados afetivos frente a situações que lhe gera perigo. Os medos do homem moderno são permeados pelo machismo que nos rodeia, é ser machista sem notar-se, é ser menos homem por aproximar-se de tudo aquilo que é feminino. É poder expressar sua masculinidade, sem ser visto como homem frágil, sensível e emotivo. É dar conta de tudo (mas será que consegue mesmo sozinho?) Medo de ser homem e sentir atração sexual/romântica por outro homem e sofrer preconceitos e represálias sociais. Medo de ficar só (porque a ideia de prover o sustento da família é muito presente), medo do tal exame de toque retal (ah porque a próstata é um órgão masculino que permite prazer e sentir prazer anal é coisa de homossexual) Enfim são vários medos, cada homem com o seu. Sobre os espaços de fala, há poucos espaços para isso, há necessidade de criação de grupos terapêuticos de homens para falar sobre as questões do “ser homem” nos ambientes de saúde, comunitários e escolar. Visando, principalmente, refletir e descontruir toda essa ideia do machismo que está impregnado na sociedade que caminha para ser mais contemporânea.

En(Cena) – Quais contribuições acadêmicas você considera relevantes para a formação de profissionais capacitados para colaborarem com a luta pela desconstrução do machismo e para o maior diálogo de questões de gênero e masculinidades ?

Plácido Medrado – Bom, acredito que há necessidade de falar sobre as questões de gênero na academia desde o começo, abordando a importância de conhecer as questões sociais envolvidas nessa temática de gênero e masculinidades. Acredito também que seja importante conhecer pesquisas sobre o assunto. Sendo uma boa indicação os estudos que a pesquisadora Valeska Zanello tem trazido para a contemporaneidade. A luta pela desconstrução do machismo é diária. E para trabalharmos nisso precisamos conhecer o assunto e pensar possibilidades de superação de machismo. Possibilidades que vão desde o diálogo no ambiente familiar até as universidades, não se restringindo ao contexto de saúde, mas para a comunidade como um todo.

En(Cena) – Quais barreiras históricas, culturais e políticas influenciam na identidade do homem da atualidade?

Plácido: São diversas e distintas. Vão desde a construção histórico e arcaica da sociedade até a ideia do momento da existência de grupos terapêuticos no Brasil para desconstrução/reconstrução de masculinidades.

En(Cena) – Quais dicas e orientações você considera importantes ressaltar para os acadêmicos de psicologia a fim de contribuírem nesta luta?

Plácido Medrado – Esse espaço para falar sobre masculinidades, machismo e equidade de gênero proposto pelo Encena é muito importante. Considero importante ainda aos estudantes de psicologia, estarem sempre atentos ao adoecimento psíquico do ser humano, observando sob a perspectiva de gênero e sexualidade, pois somos um todo e assim que devemos ser vistos. Ao ignorarmos as questões de gênero estamos caminhando para não entender a total realidade do sujeito. Como Psicólogo sugiro leitura da Política Nacional de Atenção à Saúde Integral do Homem (PNASIH), as excelentes pesquisas e o livro “Saúde Mental, gênero e dispositivos” da Valeska Zanello, além do documentário “O silêncio dos Homens”.

“Agradeço o convite para esta entrevista e também esse espaço de falar. Deixo a reflexão que enquanto pessoas e profissionais da Psicologia precisamos entender nossos julgamentos e atitudes que por vezes são tão machistas frente a algo que acabam potencializando, seja um sofrimento emocional individual ou até mesmo coletivo. Precisamos pensar juntos que a possibilidade de ser e existir enquanto homens, são múltiplas e cada um tem à sua própria masculinidade. Você homem, já descobriu a sua?”

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Por que é comum a mulher levar a culpa pelo fracasso da relação?

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Eu começo este post pedindo desculpa a mim mesma e a todas as mulheres que já julguei e culpei pelo fracasso de uma relação hétero amorosa. Nesta semana a cantora Luísa Sonza e o humorista Whindersson Nunes se separaram. Os 2 fizeram um texto anunciando o término e postaram em suas redes sociais. No mesmo momento um amontoado de pessoas foram até a conta de Luísa responsabiliza-la pelo termino e a acusaram de nunca ter amado o humorista. Da mesma forma, foram na conta do Whindersson, mas desta vez para falar que ele teve foi um livramento. Isto nos mostra que em uma sociedade com práticas machista, a mulher ainda leva a culpa pelo fracasso de uma relação.

Mesmo quando o homem age de má fé e não respeita a parceira com quem está, a mulher é responsabilizada (não estou falando do humorista). Quem nunca ouviu os  seguintes julgamentos: ¨ela não se dedicava tanto ao marido¨; ¨trabalha fora e esqueceu de cuidar da casa¨; ¨ele traiu porque ela não dava a merecida atenção¨; ¨ela se casou só por causa do dinheiro¨; ¨ela era dramática demais¨; ¨também, ninguém aguenta aquela mulher histérica¨; etc. Toda está dinâmica coloca o homem num lugar de vítima e responsabiliza apenas uma parte, sendo que a relação é construída por 2. Ninguém constrói uma relação sozinho.

Numa relação os 2 erram e os acertam. Não existe apenas um culpado. Porém, as mulheres ainda são atreladas a um estereótipo imaginário de maternidade, afeto, carinho, feminilidade, delicadeza, ou seja, a famosa ¨ bela, recatada e do lar¨. Se a mulher desvia deste padrão, é comum ser taxada como rebelde. Como consequência, é comum que a mulher feminista esteja sempre experimentando a solidão e/ou tendo casos curtos, e nem sempre isto é uma escolha. Muitos homens não estão preparados para ir contra algo que lhes favorece e ir para um local que considerado como frágil (para muitos). Desta forma é mais confortável colocar toda a culpa de seu despreparo na mulher feminista que busca independência do patriarcado. E infelizmente ainda me deparo com estereótipos do tipo: mulher para casar e mulher para ficar. Em qual estereótipo você acha que a mulher feminista se encaixa?

No patriarcado o homem é o provedor, e muitos estranham quando uma mulher ganha mais ou não precisa mais ser sustentada pelo homem, obtendo sucesso profissional. Haters julgaram Luísa de usar o humorista apenas para crescer profissionalmente. Estas pessoas não conseguem enxergar que ambos cresceram de forma profissional e pessoal quando estavam juntos. E assim acontece em muitas relações, onde a mulher é taxada como interesseira/aproveitadora, mas a relação amorosa é uma troca, de afeto, de tempo, de cuidado, de experiências e de aprendizados.

Outro ponto que me chamou a atenção foi o fato de internautas procurarem postagens em que Luísa declarava amor eterno, para dilacerar ódio e mensurar o amor da cantora. As pessoas precisam entender que toda separação tem suas dores e que não é nada comum alguém casar já pensando na separação e é natural quando se está tendo uma boa troca amorosa com alguém, desejar esta boa sensação para sempre. Afinal, na vida queremos o que nos faz bem, mas o mundo muda, as relações mudam e nós mudamos juntos. O que nos fez feliz ano passado, este ano pode deixar de fazer sentido e isto não invalida a veracidade do que foi sentido ano passado.

Assim como o amor é construído, a falta de amor também é uma construção. Algumas vezes ambos perdem o interesse, outras vezes acontece de forma unilateral. Assim como quem descobre que não é mais amado, quem deixou de amar também sofre. Quem deixou de amar também perdeu um amor. E se Luísa, Ana, Rosa ou Maria amou e deixou de amar, quem somos nós para mensurar e duvidar do amor de alguém?

Devido este contexto, depois do termino de uma relação, muitas mulheres aprendem a conviver com a culpa. E esta culpa carrega toda uma história que nos acompanha de maneira consciente e inconsciente. É comum ver a representação submissa da mulher em romances, lendas, mitologias, poemas, fatos históricos, filmes e textos bíblicos. Ir contra tudo isto, ter e exigir o poder de escolha se torna um grande peso. No entanto, aos poucos vamos nos fortalecendo. Seja uma mulher que fortalece a outra. Nós não somos as únicas culpadas quando algo dá errado em nossos relacionamentos, cada um tem sua parcela de culpa.

Não se responsabilize e carregue sozinha o peso de uma culpa que não é só sua. Perdoe o outro e se perdoe também!

Obs: Foi realmente triste ver que grande parte das críticas que Luísa recebeu foram feitas por mulheres. Não é só o homem que tem práticas machistas, a mulher também tem. A desconstrução do machismo precisa ser abraçada por ambos os sexos. Todo dia é um novo aprendizado e uma nova tomada de consciência.

Prints feitos no perfil do Instagram de Luísa 

 

Prints feitos no perfil do Instagram de Whindersson

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Os desafios da mulher no ambiente corporativo

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Apesar do dia 8 de março ser lembrado como o Dia Internacional da Mulher, há pouco para se comemorar. Por exemplo, mesmo no século 21 e diante da Economia 4.0, o machismo ainda é forte no ambiente corporativo, tornando o mundo dos negócios ainda um desafio para as mulheres que buscam seu lugar ao sol.

Muitas pesquisas mostram as dificuldades do sexo feminino em diferentes frentes do mercado de trabalho. Estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que as mulheres estão no topo da taxa de desemprego. Além disso, trabalham mais horas que os homens e somente 48% delas possuem trabalhos formais. Os homens são 72%.

Segundo o estudo realizado pelo Instituto Ethos, a quantidade de mulheres ocupando a presidência de alguma companhia ainda é baixo, somente 7%. Já a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aponta que apenas 11% das empresas com capital aberto inscritas possuem mulheres em cargos do conselho de administração.

Esses dados são reflexo da realidade que muitas mulheres enfrentam. Mas para brilhar no ambiente corporativo, é preciso não desanimar. Foi o que fez a Danielle Cohen, Engenheira de Produção, desenvolvedora e Head de tecnologia e cofundadora da startup Pingui.

Fonte: Arquivo Pessoal

Para ela, ainda é difícil algumas pessoas a encararem com profissionalismo como mulher e líder técnica. Danielle conta que, na maioria das vezes, quando vai em alguma reunião, sempre é vista como alguém que atua no setor comercial, comunicação ou no RH. “Tudo, menos da parte técnica”.

– Por exemplo, num hackathon que participei, sendo uma das 50 escolhidas, ouvi comentários do tipo: ‘mas, você? Sério mesmo?’. Não só fui escolhida, como também fui a ganhadora da competição – relembra.

Cohen disse que já passou por momentos, em reuniões de negócios, que quando estão falando de tecnologia, nem é olhada. Às vezes, nem ouvida. “Começo a ganhar mais notoriedade quando falo sobre programação, discuto uma parte mais técnica”.

Para superar o machismo, Danielle conta que gosta sempre de se olhar como igual a todo mundo. Diz que não fica se rebaixando ou achando que os outros são melhores. Em caso de reuniões com pessoas mais velhas, ela tenta falar bastante da parte técnica e mostrar que conhece bem o assunto. “Assim vou ganhando autoridade”.

Fonte: encurtador.com.br/jtyP1

Segundo a profissional, é importante que as mulheres se ajudem, por isso, Danielle tenta fazer a parte dela. Como organizadora do GBG (Google Business Group) junto de outras duas mulheres, ela comenta que tem conseguido levar a tecnologia e a inovação para o universo feminino. “Já houve casos de pessoas me agradecerem pela ajuda e dizer que foi essencial na carreira. Isso é muito gratificante”. 

– As mulheres não devem ter vergonha de mostrar o que sabem fazer, muito menos se diminuir. Em relação ao machismo, a melhor coisa é não levar em consideração frases preconceituosas ou olhares de inferioridade. Sempre mostrem que vocês sabem e conseguem fazer tudo tão bem quanto qualquer um. Aliás, hoje em dia, há muitas coisas que são exclusivas para mulheres. Então, podemos aproveitar essas oportunidades para melhorarmos cada vez mais – ressalta.

Outra pessoa que enfrentou situações difíceis, mas que não se deixou desanimar foi a administradora Amanda Eloi. Para ela, uma das maiores dificuldades não foi realizar o trabalho em si, mas lidar com pessoas preconceituosas e arrogantes.

Atualmente, Amanda é coordenadora adjunta da comissão Especial de Empreendedorismo do Conselho Regional de Administração (CRA-RJ), consultora de Projetos da WAAH!, Fundadora e Coordenadora do Ciclo Empreendedor Universitário.

Fonte: encurtador.com.br/cfoKP

Para Eloi, o preconceito existente em alguns homens são fruto da falta de compreensão de que capacidade não depende de gênero e/ou classe social. Para a profissional, essa forma de pensar vem do fato da sociedade ainda ter uma visão limitada do quanto a mulher pode ser bem-sucedida no mundo dos negócios. “Isso impede que muitas alcancem determinados cargos dentro de suas empresas, por não terem a oportunidade de desenvolver determinadas habilidades”.

Ela conta que, apesar dos problemas, foi vencendo esses obstáculos a partir das experiências que adquiriu no trabalho. “Depois de ganhar autoconfiança, também busquei orientações de amigos e profissionais do mercado para lidar com determinadas situações”.

Para Amanda, a melhor maneira de lidar com o machismo foi acreditar no próprio potencial, continuar desenvolvendo projetos e ajudar pessoas a evoluir profissionalmente. “Dessa forma, fico focada no reflexo do meu trabalho, que envolve alavancar negócios e impactar mais vidas”. 

– Por isso, sempre digo para que as mulheres confiem no seu potencial, busquem mais conhecimento e estejam ao lado de pessoas brilhantes, que, além de acreditar em você, possam valorizá-las como Mulher e Ser Humano – conclui.

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A depressão e o desemprego

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Em todo país, o desemprego atinge 12,6 milhões de pessoas. As filas com pessoas atrás de um novo emprego têm crescido cada dia mais. Quem está desempregado enfrenta não apenas a dificuldade de conseguir se recolocar em um mercado cada vez mais exigente, mas também a dificuldade salarial diante de um cenário tão crítico, visto que a falta de dinheiro traz sérios problemas emocionais para a vida das pessoas.

Um dos problemas emocionais mais comuns que atingem a população que se encontra em situação de desemprego é a depressão. Isso contribui para dificultar ainda mais as chances da pessoa conseguir uma recolocação, visto que esse transtorno pode ocasionar queda da energia, insônia ou hipersonia, o que não ajuda nem um pouco o candidato a chegar nas entrevistas no horário ou mesmo fazer os trâmites necessários no tempo exigido.

Apesar de serem os homens vistos ainda como principais provedores da família na sociedade atual, a depressão atinge as mulheres em maior número, embora o desânimo, a cada oportunidade perdida, seja mais evidente nos homens. Ainda há o fator agravante que são os sintomas depressivos que se intensificam quando o mesmo percebe que não há possibilidades compatíveis com seu perfil no mercado de trabalho.

Fonte: encurtador.com.br/jlFKX

Considerando essa imagem do homem como provedor, não é de se espantar que a autoestima fique extremamente prejudicada, influenciando inclusive sua vida familiar e conjugal, pois, costuma-se atribuir sua virilidade com a capacidade de prover a família. Não que a mulher seja capaz de manter a autoestima intacta em caso de desemprego, especialmente se a renda dela for a principal da casa, porém a habilidade de se lançar no mercado de forma independente, mesmo que por salários não compatíveis com sua qualificação, pode ser um fator que conte a favor nesse processo. Afinal, o empreendedorismo, apesar de não oferecer benefícios tradicionais que o regime CLT oferece, tem sido a saída mais utilizada pelos brasileiros para que consigam pagar suas contas e para diminuir a pressão de arrumar uma vaga no mercado de trabalho, com isso fazendo crescer a indústria de cursos profissionalizantes de curta duração.

Apesar dessas soluções, muitas vezes o desemprego vem quando a pessoa já tem um padrão de vida estabelecido. Nesses casos, solicitar auxílio financeiro de familiares e amigos pode ser necessário, ainda que possa gerar um grande desconforto, mas é aqui que a pessoa que se dispõe a auxiliar pode demonstrar seu apoio, não apenas financeiramente, mas de também de forma emocional, impulsionando a pessoa a não desistir de suas chances e incentivando que o mesmo abrace as oportunidades que surgirem, desta forma fica mais fácil enxergar o lado positivo das coisas e enxergar as oportunidades que outrora poderiam passar despercebidas.

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Machismo: uma Construção Social

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Marina Castañeda Gutman, autora do livro “O machismo invisível” cujo vem a ser resenhado, nasceu no México em 1956, possui diversas formações, incluindo História; Psicologia; Música e Letras pela Universidade de Harvard nos Estados Unidos, com especialização em homossexualidade.

O livro resenhado foi desenvolvido no México, traduzido ao Português e Italiano; possui 295 páginas e 11 capítulos subdivididos em várias temáticas. Tem como finalidade expor acerca do machismo oculto que, por vezes, passa despercebido por todos, engajado nas várias esferas sociais. Buscar explanar sobre as teorias psicológicas que abordam acerca, e às diversas maneiras de manifestações deste fenômeno humano. Além disso, os mais variados âmbitos que expõem, tanto quanto o contexto histórico concernente.

Dessa forma, a autora propõe esclarecer que o machismo não é o um fenômeno reproduzido somente pelos homens, mas também pelas mulheres, portanto, social. O machismo durante todo o percurso da obra é abordado enquanto uma relação de poder, dominação, construção e subordinação de um indivíduo perante aos seus semelhantes, seja nas mais variadas relações interpessoais homem-mulher, mulher-mulher  e homem-homem.

A autora durante todo o percurso do livro tenta problematizar o modo como ainda na contemporaneidade os sujeitos tendem a buscar justificativas cabíveis para comportamentos machistas, tendo ainda como embasamento estudos tal como excêntricos. Contudo, sabe-se que não é por esse ângulo que os fatos fluem, o machismo é algo instituído na sociedade e impregnado aos indivíduos desde o nascimento, primeiro dentro da própria casa, segundo na escola. Portanto, torna-se-ia uma cultura repassada durante gerações, nesse caso, construída pelos mesmos. Por isso, é notório perceber que as pessoas se apossam do machismo utilizando-se de demasiados instrumentos, que, por vezes tornam-se sutis e/ou quase imperceptíveis. Um desses utensílios têm sido beneficiar-se de uma via que muito serve para a criação de vínculos entre sujeito-mundo, sujeito-meio, a linguagem. Por muito ou quase sempre, o homem de maneira não-genérica alude a tentativa de diminuir a mulher a uma fase do ciclo vital regressa a fase atual de sua vivência, a infância, é constante a busca para infantilizar-la. Frequentemente, com sucesso.

Os/as machistas, a todo custo estão a procura de aplausos, atenções e reconhecimentos, mesmo nas mais banais conversações, e às vezes, de modo não-verbal, para enrijecer ainda mais o que está instituído. A sociedade desde muito cedo estipula a masculinidade/paternidade como sinônimo de proteção, o que na realidade não o é, já que em muitos casos há uma paternidade ausente e quase sempre distante. Muito se sabe que a paternidade tem atualmente recebido diferentes significações, não mais privilegiada como nas décadas passadas, já que no momento atual há casos e casos que evidenciam o abandono paterno. Por outro viés, cresce cada vez mais a postura da mulher enquanto aquela que exerce o papel de mãe protetora, nutriz, que contribui com o sustento da casa.

Nesse ângulo, é nítido que tais postulações anteriormente explanadas tem início na vida doméstica, como visto no decorrer do livro, esse contexto emerge fortes contribuições no que diz respeito a consolidação do machismo. Nesse sentido, pode-se evidenciar e concluir que, é em casa que inúmeras e pertinentes perspectivas que visam a dominação feminina por intermédio da virilidade são aprendidas. Mas como se pode romper com tais institucionalizações, já que não há como interferir em todos os lares?

Fonte: http://bit.ly/2mXWFXL

Além disso, essa é uma forma peculiar de propagá-lo e de certa maneira fixá-lo cada vez mais. É dentro de casa que se tem as diversas maneiras de ensinar o machismo, seja oriundo dos pais, mães, babás, avós. Outrossim, colocam o homem em uma escala mais elevada que as mulheres, o que só faz reforçar seu narcisismo e desejo de dominação. Atualmente, as maneiras pelos quais o machismo se apresenta é diferente de outros tempos, a violência mesmo ainda existindo em massa, está sendo substituída por uma forma mais sutil, o poder.

Dessa forma, é perceptível como demasiadamente vários fatos são vistos de maneiras diferentes entre os sexos, até mesmo ligado a aparência, sexualidade dinheiro, posicionamentos corporais, e até questões ligadas aos aspectos emocionais. As mulheres diferentemente dos homens, talvez pela falta do self support acreditam que requerem regozijar um Outro,  não elas mesmas para sentirem-se plenas. Frequentemente seguem um padrão induzido pelo gosto masculino, enquanto eles, seguem o seu próprio desejo. Até mesmo a sexualidade é vista por outro ângulo em conformidade com o gênero, a mulher não pode sentir prazer, gozar e expor suas fantasias sexuais, a vista que é vista como perversa, ou como impura, pecadora. O homem pode expor e ainda de maneira desinibida e por muito, dissimulada seus mais variados desejos sexuais.

Nesse mesmo ângulo, por um lado o homem pode expressar as mais variadas emoções, hostilidades e grosserias, já a mulher se o fizer, é condenada. Ela pode sentir, mas precisa reprimir. Porque disseram, “isso é coisa de homem”. E por qual razão os sentimentos precisam ser divididos em quem pode ou não senti-los, já que são questões totalmente ligadas a natureza humana, e portanto, universais?

Seguindo essa lógica, a autora também assim como nos exemplos acima exteriorizados, expõe o capital financeiro como sendo algo versado como uma das especialidades masculinas, longe de ser entendível pelas mulheres. Os primeiros são vistos como os que entendem e de tudo sabem. As segundas, vistas como sem conhecimentos, incultas, ou inábil para desenvolver habilidades sociais semelhantes às masculinas.

Uma outra vertente ainda não explicitadas, é referente o quão a mulher recebe imposições até mesmo com questões ligadas a profissão, há uma divisão de profissões que devem ser seguidas por homens e uma outra gama, por mulheres. Não somente isso, os altos postos também são assim vistos, cargos de chefia e liderado dentro das cooperativas são sempre limitados aos homens, mesmo havendo uma possível diminuição do quadro, ainda existe.

Fonte: http://bit.ly/2nS47UQ

São questões como estas, embora abordadas aqui de maneira sintética que emergem durante todo o livro de Marina Castaneda, e ela o faz de um modo crítica e coerente, detém de grande facilidade para articular seus pensamentos e ideias, o que deixa o livro em demasia interessante para quem o ler. O referido porta de uma linguagem acessível ao público leigo, pois trata de questões tão cotidianas e de fácil entendimento ao leitor, por isso, não carece de uma leitura prévia para que seja lido. O mesmo oferece uma grande contribuição para uma visão mais pontuada acerca do machismo, no sentido de, entendê-lo enquanto sendo uma questão muito mais cultural do que se possa pensar, não limitando-o enquanto algo disseminado pelo homem, mas sim como algo repassado por todos, por isso, um fenômeno social. É destinado para a população que procura aprofundar na temática e poder identificá-lo em suas diversas ocorrências.

A obra faz surgir diversos questionamentos, tais como os que foram evidenciados no decorrer da resenha. O machismo e sua desconstrução dependem muito mais do coletivo do que se possa pressupor, mas que precisa ainda ser  mais discutido. Deixar de ser invisível e normal aos olhos de muitos, já que a percepção é subjetiva. Ainda assim, traz uma perspectiva enriquecedora pelo fato de expor as diferentes formas de dominação e relações de poderes perante os indivíduos, que são constituídas por eles próprios. Nesse sentido, traz uma grande explanação para consolidar o entendimento das relações instituídas e cristalizadas na sociedade,  que são difíceis de modificações, ou quase impossíveis.

E são por meio dessas institucionalizações sociais, que originam as mais variadas manifestações de desigualdades sociais, estigmas, preconceitos, a vista que é constantemente imposto aos sujeitos o que ele deve ou ser e/ou fazer com sua própria existência. É complicado lidar com o projetivismo contemporâneo, quando os indivíduos querem dominar e destruir o que está presente neles mesmos, ou isso é mais uma manifestação narcísica?

Tudo que é visto como diferente, é dado como anormal, e portanto, passam a serem vistos como algo que precisa de controle. Mas, por quê? Como evidenciado no decorrer do livro pela autora, tudo que existe, hoje, existe porque tiveram espaço para tal, são reflexos de relações, foram constituídas pelas pessoas que habitam a sociedade e são por elas que a ruptura desse paradigma precisa ser desmembrado, a mudança necessita ocorrer primeiro em cada um, através de uma análise pessoal de si mesmo.

Portanto, o livro é bastante recomendável para profissionais e estudantes de diversas áreas, impreterivelmente das ciências sociais, para todos que visem pesquisar e estudar sobre gênero e machismo e as suas nuanças. Os pontos mais marcantes que podem de alguma maneira receber um olhar diferencialmente do leitor diz respeito a  constituição propriamente dita do machismo como um fenômeno histórico, portanto, social.

 

FICHA TÉCNICA

Nome do livro: O machismo invisível
Editora: A Girafa
Autor: Marina Casteñeda
Idioma: Português
Ano: 2006
Páginas: 304

 

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