MANIFESTO JUNGUIANO 17 DE ABRIL DE 2022

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Nós, pesquisadores e analistas inspirados e envolvidos no estudo, pesquisa e prática profissional com base na obra iniciada pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung e levada adiante por várias gerações de autores desde a sua morte em 1961 até os dias de hoje, contestamos a forma convenientemente superficial e tendenciosa com que Christian Dunker, professor titular da USP, associa as ideias de Jung ao Nazismo em vídeo levado ao ar no dia 13 de abril de 2022. Causou estranheza à comunidade junguiana aqui subscrita que, no atual contexto político brasileiro, Dunker tenha utilizado o seu canal no Youtube para requentar uma antiga polêmica relacionada à vida e obra de C.G. Jung, principalmente considerando a forma inexplicável pela qual ele partiu de uma pergunta sobre os desentendimentos teóricos entre Freud e Jung (enviada por um internauta) para associar este último ao Partido Nacional Socialista alemão.

A declaração de que Jung teria se relacionado com o Nazismo por ter sido presidente da Associação Alemã de Psicoterapia em 1933 é equivocada, já que se tratava da Sociedade Médica Geral de Psicoterapia (localizada na Alemanha, porém, internacional), da qual Jung era presidente de honra. A Sociedade Alemã de Psicoterapia, subordinada à SMGP, jamais foi presidida por Jung, como Dunker afirma, o que faz apoiado numa bibliografia sofrível, como o Dicionário de Plon e Roudinesco, desconsiderando autores e pesquisadores importantes do campo junguiano como B.Hannah, H. Ellenberger, S.Shamdasani e E.Taylor. Esta miopia seletiva segue uma estratégia que desqualifica e ataca o autor, sem se dar ao trabalho de discutir a ideia, estratégia que o próprio Dunker chama de “transporte direto da vida para a obra”, que não se prestaria à crítica de Freud, mas da qual o youtuber se vale livremente para questionar Jung.

Reconhecido especialista em Lacan, Dunker tem um público de mais de 300 mil seguidores apenas através do Youtube, o que dá a medida do poder de destruição de um vídeo irresponsavelmente planejado desde o princípio para gerar uma polêmica vazia, o que pode ser visto pela arte da capa e o título sensacionalista usados na divulgação. Os resultados, no entanto, repercutem negativamente sobre o trabalho sério de inúmeros pesquisadores e analistas que se debruçam sobre a obra de Jung e de autores pós-junguianos e que merecem o mesmo respeito dado aos psicanalistas ou a qualquer outra linha de pesquisa psicológica, cujo fim é sempre a compreensão da alma humana e o tratamento de suas dores. Apesar de sua ampla erudição e empenho na discussão teórica que habitualmente faz em relação a outros temas em seu canal, Dunker deixa de lado critérios éticos concernentes a um pesquisador na tentativa de desacreditar a
psicologia analítica através de um expediente tão grosseiro. A escolha de Roudinesco e sobretudo Noll como fontes teóricas foi extremamente descuidada. Este último sabidamente encarava Jung como um adversário pessoal a ser destruído, sendo sua pesquisa
bastante questionável. O mínimo que se deve exigir de um pesquisador como Dunker seria ir diretamente ao texto de Jung citado por Roudinesco, em vez de fazer a crítica da crítica. Como criticar um autor que não se leu? Jung era um homem de sua época e, como todos nós, não está livre de falhas e preconceitos; no entanto, espera-se de um professor universitário o mesmo rigor acadêmico que este certamente deve cobrar dos seus alunos na universidade.

Sabemos que não se constrói conhecimento selecionando apenas autores que corroboram uma tese já tomada por verdadeira. Na ciência, este equívoco é tão conhecido que possui nome próprio: “viés de confirmação”. Há que se debater com honestidade intelectual e considerando perspectivas históricas e conceituais divergentes, como por exemplo, a oposição entre a ideia de uma psique única para todos (Freud) e aquela em que cada povo possui um solo cultural próprio que determina características psicológicas particulares para cada nação (Jung) – esta última, longe de ser um precedente para o racismo, encontra-se apoiada na Antropologia que se ocupa das especificidades culturais.

Vivemos um momento histórico no qual o uso inadequado das redes sociais e o uso ideológico e político das fake news deixaram de ser um problema menor. Todo o poder de repercussão e as implicações éticas do uso das redes não podem passar despercebidos por quem quer que se proponha a ocupar esses espaços. As universidades e os intelectuais que a elas se ligam têm realizado um enorme esforço para combater a onda de obscurantismo que se vale das redes sociais e disparos em massa de mensagens para nivelar por baixo o debate, apelando mais às crenças e medos arraigados do indivíduo do que ao bom senso e julgamento crítico. Seja pela negligência do trabalho da pesquisa das informações e da verificação da legitimidade das fontes, seja pelas intenções questionáveis dos seus autores, lançar afirmações polêmicas sem o devido cuidado teórico da investigação de sua veracidade é imperdoável e enseja intenções não explicitadas.

Quem se debruçou longamente sobre os textos junguianos sabe perfeitamente que o espírito desta linha de pesquisa psicológica é radicalmente contrário a toda forma de unilateralidade, seja ela manifesta através de um sujeito singular, seja em movimentos políticos e sociais como Nazismo, Fascismo, Stalinismo, enfim, os “ismos” que Jung critica com veemência em vários textos de suas obras reunidas, publicadas no Brasil pela Editora Vozes.

Por isso, repudiamos a associação leviana entre Jung e o Nazismo; o mesmo se estende ao uso inconsequente e irresponsável de relatos da vida pessoal de quaisquer autores, feito, por quem quer que seja, como argumento para atacar as ideias nos textos de uma obra. Este procedimento reforça a perspectiva individualista tão apontada na narrativa junguiana como problemática, por tratar-se de uma força que organiza movimentos totalitários e fundamentalistas centrados na dominação e na exclusão das diversidades, diferenças e da conexão inexorável dos sujeitos com o mundo na sua integralidade.

Os pontos equivocados apontados no vídeo merecem ser corrigidos, para que ganhem uma apreciação ética condizente com os esforços de Jung e de todos os que dialogam e trabalham embasados e compromissados com sua obra, inclusive com as revisões e ampliações pós-junguianas. Finalizamos com as palavras do historiador Sonu Shamdasani:

“Ocultista, cientista, profeta, charlatão, filósofo, racista, guru, anti-semita, libertador das mulheres, misógino, apóstata de Freud, gnóstico, pós-moderno, polígamo, curador, poeta, falso artista, psiquiatra e antipsiquiatria – do que C.G. Jung ainda não foi chamado? (…) A rapidez de reação indica que as pessoas reagem à vida e à obra de Jung como se fossem suficientemente conhecidas. Entretanto, a própria proliferação de ‘Jungs’ nos leva a questionar se, de fato, todos estariam falando de uma mesma criatura” (SONU SHAMDASANI, em Jung e a construção da psicologia moderna – 2005, p.15).

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Estamirize-se! (Estamira e Esquizoanálise)

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1, 2 Intervenção no real radar…

Cheiro forte, restos, descuidos, Sol agredindo uma pele envelhecida, inúmeras armadilhas, risos descontidos, brados ao trovão(rá), neologismos, música

Produzir uma torção nos aforismos de uma conjunção de linhas desviantes de forças chamada Estamira Gomes de Sousa.

Desfigurar uma imagem e produzir um duplo completamente dessemelhante, decerto aquém da multiplicidade de cores que circulam esta singular existência

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Retirado de: cadaumtemasua.com.br

Bradando sua inquestionável onisciência, Estamira experimentou jogar mentiras na cara daqueles que produzem silenciamento ao que ultrapassa a curva da razão: espertos-ao-contrário!

Ela não é comum (a não ser o seu formato-carne, sanguíneo, par), ela é Estamira, a visão de cada um!

Ela não “foi”, pois a morte é o começo de tudo! Ela “é” e sempre “será”, pois existe/existirá como força de afirmação esquizopoiética de existências que não se prostram diante dos microfascismos de uma máquina capitalística de produção de trocadilos

Trocadilos como manifestação de toda forma de aprisionamento, subjugação, controle e violência (Trocadilo-homem, trocadilo-religião, trocadilo-ciência)

Sua lúcida loucura agenciou a criação da onipotência de uma mulher que tinha tudo para esgueirar-se numa vida sofrida, calada, negada, anulada

Torceu suas certezas e produziu linhas de fuga que a permitiram suportar uma realidade devastada por diversos trocadilos

Apontou o controle remoto que ordena os corpos, coadunando nas entrelinhas com as palavras de Artaud ao declarar guerra aos órgãos

Povoada por diversos astros positivos, fez-se a beira do mundo, posto que está em todos os lugares, sobretudo no que vai além da borda, o que trans-borda: o além dos além (lugar onde nossa razão nos impede de ir)

Sua fala é eminentemente política, pois seu delírio poético produz desvios nas verdades sobre DEUS, o homem, a Psiquiatria, a loucura, o lixo, sobre você no que concerne a resistência dos biopoderes produzidos em diversas línguas e nos atravessam cotidianamente

Num eloquente agenciamento coletivo de enunciação, de d’enunciação da opressão e violência, do status quo e das verdades absolutas, devolte tratos antes tragados a contragosto!

Estamira sentiu na pele os manicômios, físicos e mentais que atravessam os médicos-deuses, os remédios-dopantes e até a família.

Estamira desafia DEUS para resistir ao revir do seu devir reativo.

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Retirado de: menos1lixo.virgula.uol.com.br

Exclama o potencial microrrevolucionário do devir minoritário, quebrando molaridades e zombando das falas instituídas.

“A doutora passou remédio pra raiva” Risos!

Num transbordo “além dos além“, povoado de forças desconhecidas, vive a atualização das virtualidades reais num imaginário que tem, existe e é!

Delirar para Estamira talvez seja inventar o esquecimento, experimentar o intempestivo presente no Transbordo-do-Fora, o qual nós seres humanos comuns não temos condições, em virtude da nossa insana razão

É preciso experimentar a lúcida loucura de Estamira para subverter a homogeneização do retorno do mesmo, da cela do passado, do fato, feito, fadado ao fim da vida

Estamirizar é diferir, divergir, esfregar nas caras a existência e permanência de um trocadilo que é o próprio microfascismo que está em nós

Estamira não é uma mulher, Estamira é uma força!

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