Estrada tão cumprida e deserta. Dá calafrios ao olhar quanta escuridão existe em volta. Meus pés vão caminhando sentindo a textura áspera do chão. Alguns espinhos, buracos, pedras que me fazem tropeçar. Sinto frio. Sinto dores por todas as partes do meu corpo, estou cansada. Poderia desistir da caminhada e ficar por aqui. Não tenho mais forças para caminhar. Meus pés cheios de calos. Meus músculos cheio de dores.
Uma voz diz que eu continue, respiro fundo e digo a mim mesma que está próximo a chegada. Encontro pelo caminho vários medos que insiste uma luta mesmo vendo que não consigo vencer. Depois vem todas as derrotas da estrada que caminhei zombar da minha insistência. Estou sofrendo nocaute das minha vivências. Peço trégua, mas as gargalhadas não saem dos meus ouvidos e minha alma clama dizendo que não aguenta mais tudo aquilo. Meu corpo responde que também não. Minha mente tem morrido cada dia um pouco mais. Adormeço.
Fonte: https://goo.gl/3fu8eu
Quando acordo enxergo vagamente uma luz, penso ser ela que eu tanto procuro. Começo a correr, pular, gritar de alegria. Olhando para os lado e repetindo ‘Vai valer a pena”. Mesmo com todo cansaço nos ombros, caminho. AGORA é para valer. Novamente vem as armadinhas do túnel e derruba minha esperança no chão. Era apenas uma miragem. Caio em prantos, não consigo acreditar que meus sonhos podem correr tão longe de mim. Tento mentir para mim que existe um momento para tudo, mas não consigo sonhar mais com o meu momento. Tudo uma miragem, tudo uma ilusão.
Parte de mim não quer viver para sempre naquela escuridão, tenho medo da palavra desistir. Tenho medo de me fazer desistir. Mas, não consigo mais ter forças, estou esgotada. Por favor, eu imploro, me ajudem a procurar a Luz do fim do túnel.
Diferente dos outros episódios da série Black Mirror, Versão de Testes não traz apontamentos e reflexões sobre questões sociais carregadas de interferências tecnológicas, pelo menos, não de forma clara. Mas, algo a se notar, é a sua analogia aos efeitos da psicoterapia na vida de um indivíduo. O episódio inicia com Cooper (protagonista) saindo de casa de maneira sorrateira, para que sua mãe não o veja. Logo, percebe-se que o personagem é um aventureiro, acostumado a viajar por diversos lugares do mundo. Chegando ao seu destino, na Inglaterra, conhece Sonja através de um aplicativo de encontros, com quem divide a cama por uma noite e, na manhã seguinte, os seus problemas familiares.
Quando decide voltar para casa, Cooper percebe que não há mais dinheiro em sua conta bancária. Ao procurar Sonja para ajudá-lo, ela lhe indica um aplicativo para procurar empregos. Logo, eles encontram uma vaga na Companhia Saito Gemu, uma empresa de jogos de terror, onde Cooper faria parte da fase de testes de um jogo, antes desse ser lançado. Aqui, inicia-se o tom de mistério do episódio e também as analogias implícitas à psicoterapia. Ao chegar na Cia, Cooper é impelido a firmar um compromisso em forma de contrato com a empresa, representada por Katie, com quem Cooper parece sentir-se a vontade. Nesse contrato, fica explícito que tudo o que ocorrer ali, ficará entre ambos.
Fonte: https://goo.gl/BxDxjZ
É nesse ponto que começa-se a observar o início do processo psicoterapêutico, firmado por um contrato, em que suas ações (do psicoterapeuta) diante do cliente são de grande importância para que o contrato não se restrinja a um conjunto de regras de trabalho (como horários, pagamentos, férias, dentre outras) e se constitua num dos momentos fundamentais da relação terapêutica, caracterizando-se pelo engajamento de seus protagonistas quanto a uma proposta específica, seja de promover mudanças, aliviar sintomas ou proporcionar o crescimento emocional do cliente (WOLBERG, 1967 apud NEUBERN, 2010).
O jogo que Cooper está prestes a testar não possui um mapa a ser seguido ou um objetivo específico a ser alcançado, exceto o de sobreviver aos próprios medos. Isso porque, através de um dispositivo chamado cogumelo que fora colocado em sua nuca, seus dados neurais foram carregados e implantados em um óculos de realidade virtual, pelo qual a mente de Cooper cria imagens e somente ele as vê, como se fossem reais no plano físico.
Fonte: https://goo.gl/XPMyzj
Retomando o contrato psicoterapêutico, há de notar-se que Cooper criou um vínculo com Katie (pode-se dizer que ela representa o papel de psicoterapeuta), uma vez que a primeira imagem que sua mente cria é ela ao seu lado indo para a casa no qual o jogo aconteceria e onde ele ficaria sozinho enfrentando seus medos. Outra criação da mente de Cooper mostra Katie lhe entregando um ponto auricular, pelo qual ambos manteriam a comunicação.
Agora, Cooper está sozinho dentro da casa, onde seus maiores medos começam a assombrá-lo, como aranhas e o valentão da época de escola, Josh Peters. A medida que o tempo vai passando (tudo apenas na mente de Cooper) as situações assustadoras vão se intensificando, como uma aranha gigante com o rosto de Peters, um homem assutador com o rosto de Peters e Sonja aparecendo na casa dizendo-lhe que ele está em perigo e que precisa sair dali, um pouco antes de esfaqueá-lo e se transformar em um monstro.
Isso tudo remete ao processo psicoterapêutico, no qual a pessoa que o procura passa a enfrentar os seus maiores medos e monstros internos, trazendo a tona conteúdos passados, que se misturam aos conteúdos presentes e formam a sua história e complexidade. E, obviamente, esse não é um processo fácil, mas contido de dor e algumas resistências.
Fonte: https://goo.gl/aeCc97
O ponto alto do episódio é quando Cooper quer sair da casa, mas Katie lhe diz que ele precisa primeiro encontrar o ponto de acesso, que fica em um quarto no andar de cima. Chegando à porta desse quarto, Cooper resiste muito em abri-la, temendo que irá ver sua mãe ou seu pai pendurados em uma viga. Quando finalmente a abre e pergunta onde está o ponto de acesso, Katie diz que estava apenas o pressionando para ver até onde ele ia. Esse fato mostra uma postura inadequada do psicoterapeuta, cuja pode provocar alguns danos para a pessoa.
O psicoterapeuta deve adotar uma postura de não julgamento, de empatia e de respeito, procurando validar o que o cliente sente e ajudando-o a integrar as novas possibilidades que se vão apresentando, transmitindo assim a segurança necessária para avançar para a mudança. O papel do terapeuta é ajudar a refletir e desafiar em certos momentos, sempre respeitando o ritmo do cliente e transmitindo-lhe responsabilidade pelas suas escolhas (Portal Psiquilibrios).
Como Katie não respeitou o ritmo de Cooper, esse enfrentou um medo para o qual não estava preparado no momento, que era perder suas lembranças por meio do mal de Alzheimer, assim como seu pai. Sua mente cria a imagem dele saindo da empresa e voltando para casa, onde encontra sua mãe chorando e dizendo que precisa ligar para Cooper para ver se ele está bem, não o reconhecendo.
Fonte: https://goo.gl/2Sh3cY
Assim que ela liga para Cooper, a cena se volta para ele, sentado na cadeira de testes se debatendo, chegando ao óbito por interferência da ligação no celular. Até aqui, além da postura inadequada do psicoterapeuta, há de se observar também a influência da participação (ou no caso, a falta dela) da família no processo psicoterapêutico. Cooper queria fugir dos problemas em casa e da falta de vínculo com a mãe, que não sabia nem onde ele estava no momento.
Em analogia ao processo psicoterapêutico, isso é um problema, pois a família é o lugar onde se forma a estrutura psíquica e onde a experiência se caracteriza, em primeiro lugar, por padrões emocionais. A função de socialização está claramente implícita nesta definição, mas a família não está a ser conceptualizada primordialmente como uma instituição investida na função de socialização. Ela é, em vez disso, a localização social onde a estrutura psíquica é proeminente de um modo decisivo.” (Poster,1979 apud BOARINI 2003).
Fonte: https://goo.gl/ExL7T6
Assim, quando ocorre a interferência da mãe de Cooper no meio do processo psicoterapêutico sem que ela tenha conhecimento desse e também procure por mudanças e autoconhecimento, tudo o que Cooper alcançou se desfaz em meio a esse contato, simbolizado pela sua morte. Com tudo isso, fica a necessidade de se refletir sobre esse processo, sobre os papéis desempenhados, tanto pelo psicoterapeuta, como pelo cliente e sua família, onde todos precisam se comprometer e adotar posturas que beneficiem e tragam mudanças significativas e positivas na vida dos envolvidos.
REFERÊNCIAS
BOARINI, M. L. Refletindo sobre a nova e velha família. Psicologia em Estudo, Maringá, n. esp., p. 1-2, 2003. Disponível em: https://goo.gl/4N4tqF. Acesso em 19 de agosto de 2017.
NEUBERN, M. S. O terapeuta e o contrato terapêutico: em busca de possibilidades. Estud. pesqui. Psicol. vol.10 no.3 Rio de Janeiro dez. 2010. Disponível em: https://goo.gl/trGtY7. Acesso em 19 de agosto de 2017..
PSIQUILIBRIOS. O que é a Psicoterapia? Disponível em: https://goo.gl/TxJP8E. Acesso em 19 de agosto de 2017.
O que é a morte? Para muitos o fim, para outros o apenas o começo. O fato é que ela é inevitável para todos, independentemente da espécie, povos, línguas ou classe social. Ela não se importa, em como, os indivíduos se comportam. Se são bons, ou ruim, se são “puros” ou “impuros”. O “fim” faz parte da regra do jogo, e não há nada que o ser humano possa fazer para detê-la. “Só a morte significa que nada acontecerá daqui por diante, nada acontecerá com você, ou seja: nada que você possa ver, ouvir, tocar, cheirar, usufruir ou lamentar. É por essa razão que a morte tende a permanecer incompreensível para os vivos” (BAUMAN, 2008, p. 44).
O autor considera que o medo da morte é um processo inato ou original de todas as pessoas. A morte é um conteúdo acessível a consciência, e constantemente se faz presente na vida de todos da espécie humana, causando em alguns um medo incontrolável. “[…] o medo que se origina, não da morte batendo a porta, mas de nosso conhecimento de que isso certamente ocorrerá, mais cedo ou mais tarde […] (BAUMAN, 2008, p. 46).
Fonte: http://zip.net/brtMZW
A morte pode ser descrita de forma diferente através do processo cultural e das crenças, pois alguns, tendem a vê-la como apenas uma passagem, no qual somente o corpo físico morre e, a alma é imortal, ou seja, vive para toda a eternidade. “[…] não vão deixar o único mundo que existe para se dissolver e desaparecer no submundo da não existência, apenas se mudarão para outro mundo, onde continuarão existindo […]” (BAUMAN, 2008, p. 46). Para estes o medo pode não existir ou pode ser menor. Para outros o medo do desconhecido a incerteza do que poderá ou não acontecer após a morte.
Segundo Simonetti (2003, p. 14) “A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. No entanto, muitos têm medo, porque desconhecem inteiramente o processo e o que os espera na espiritualidade”. Durante todo o ciclo vital relações são estabelecidas e vínculos são criados. Com a chegada da morte de algum ente querido esses laços físicos são desfeitos, porém podem nunca serem esquecidos, pois quem morre levará consigo “parte” de pessoas e consequentemente deixará também “partes” suas, para outros. Assim os que sobrevivem vão ressignificando ou não suas vidas.
O medo pode provocar diversas reações físicas e psicológicas e também ser descritos de várias maneiras, no entanto o autor o descreve como:
Os medos que disseminam são incuráveis e, na verdade, inextirpáveis: chegaram para ficar-podendo ser suspensos ou esquecidos (reprimidos) por algum tempo, mas não exorcizados. Para esses medos não se encontrou nenhum antídoto nem é provável que se venham a inventar algum. Eles penetram e saturam a vida como um todo, alcançam todos os recantos e frestas do corpo e da mente, e transformam o processo da vida num ininterrupto e infinito jogo de “esconde-esconde” (BAUMAN, 2008, p. 44).
Fonte: http://zip.net/bwtMw8
O MEDO E O MAL
As formulações para o conceito do que seria o “mal” têm sido feitas no decorrer dos tempos. Bauman (2008) pontua as variações do termo, relacionando-o a condutas perversas. No entanto, aponta que não é possível explicá-lo totalmente, tampouco evitá-lo. Considerando algumas catástrofes naturais como manifestações do “mal”, destaca-se seu caráter imprevisível, reforçando sua inevitabilidade e imprevisibilidade. No entanto, questiona-se o mal advindo do humano, em termos de prenúncio e consequências.
O sociólogo polonês enfatiza a análise de Hannah Arendt quanto à banalização do mal. Quanto mais as práticas cotidianas são racionalizadas, maior a tendência de não pensar acerca da natureza das tais. E nesse ponto a opinião de Bauman é ratificada, pois salienta que há condições apropriadas ao surgimento de condutas inclinadas ao mal. Observando-se tais circunstâncias, chega-se a um ponto crucial: em vista da sua inevitabilidade, há que se reconhecer que não apenas a natureza, mas o humano pode dobrar-se ao mal.
Ainda que não se discuta ou se reconheça a maldade como intrínseca ao ser humano (HOBBES, 2008 apud SOUSA, 2013), Bauman relata a possibilidade evidente de que mesmo o mais “normal” incorra em atos perversos. Para Correia (2005, p. 87-88), Pode optar por isso
Na busca por identificar o fundamento da propensão para o mal no homem, Kant se vê diante da dificuldade de ter de conciliar natureza e liberdade. Com efeito, se se compreende o mal como decorrente de algum condicionamento natural, ainda que seja uma fraqueza, necessariamente o homem seria inimputável, pois não poderia ser considerado efetivamente responsável (na medida em que não seria livre) pelas ações que desencadeasse. Kant, por razões óbvias, busca evitar uma tal compreensão, sustentando que a propensão para o mal “é uma tendência deliberativa e, como tal, completamente distinta de um impulso natural ou algo assim”.
Fonte: http://zip.net/bqtNZb
Entende-se, portanto, que o medo constante na contemporaneidade cerca o fato de que ninguém pode receber confiança. Uma vez que a configuração atual é instável, acrescente-se a possibilidade de alguém poder, deliberadamente, inclinar-se ao mal. E a despeito das consequências dramáticas do “mal” da natureza, Bauman enfatiza que o produto do mal humano pode ser tão catastrófico quanto o anterior.
O HORROR DO INADMINISTRÁVEL
Bauman inicia o terceiro capítulo de sua obra referenciando ideias de Jean-Pierre Dupuy, importante filosofo moderno e ao desenrolar deste capítulo, Bauman reforça a ideia de que a humanidade está doente e a beira de um colapso, enfatizando que “A humanidade tem agora todas as armas necessárias para cometer o suicídio coletivo, seja por vontade própria ou falha – para aniquilar a si mesma, levando o resto do planeta à perdição” (BAUMAN, 2008, p. 97-99).
A corrida contra o tempo, disputas de poder, busca por status, longas distâncias e pouco tempo, excesso de trabalho e sobrecarga emocional se debruçam sobre a vida do homem moderno com o rótulo de globalização, sobretudo esse evento e sub-eventos trazidos pela globalização se chocam com os valores morais carregados de maneira intrínseca por cada um, e Bauman de maneira esplendida reforça que: “a civilização deve seu potencial mórbido (ou mesmo suicida) às mesmíssimas qualidades de que extrai sua grandeza e seu glamour: a aversão inata à autolimitação, a transgressividade inerente e o ressentimento e desrespeito em relação a todas as fronteiras e limites” (BAUMAN, 2008, p. 100-101).
Ou seja, de onde os homens extraem sua couraça de poder terreno é também a fonte de seus demônios doentios que afetam e contaminam a humanidade, como uma dialética onde de um lado encontram-se os prazeres e ganhos como dinheiro, conforto, luxo, status, reconhecimento social e poder, em contrapartida temos a fadiga, avareza, ganancia, esgotamento psicológico entre outros fatores e agravantes negativos, como uma dialética grega de apolíneo e dionisíaco.
Fonte: http://zip.net/bftMZz
Para manter a retroalimentação entre as partes, Bauman (2008) traz nesse capítulo o termo detours que significa desvio, ele também aborda o significado deste termo dentro da modernização, que segundo ele tem a ideia de uma satisfação ou recompensa temporária, ou seja, para evitar o esgotamento total ou um impacto extremamente negativo em si mesmo ou no outro, há uma breve e temporária satisfação, acontece um momento de compensação para aquele provável dano, então a partir dessas breves recompensas, a humanidade se compra e se vende para uma recompensa ilusória e breve.
Ao decorrer do capítulo, Bauman (2008) traz impasses que denunciam até que ponto o homem é capaz de se submeter, e traz referencias de obras de outros autores acerca disso, mostrando-nos de forma objetiva e clara como a persuasão e a busca por controle, poder e domínio conduzem a vida da humanidade.
O TERROR GLOBAL
Bauman afirma que com a globalização, surgiram aspectos negativos que resultaram em medos, inseguranças e incertezas na sociedade. A “abertura” da sociedade, expressão de Karl Popper como coloca Bauman (2008 p.126), teve como efeito colateral a “globalização negativa” que demonstra um cenário de irregularidades e anormalidades que se tornam regras. O autor descreve que a globalização é altamente seletiva do comércio e do capital, da vigilância e da informação, da coerção e das armas, do crime e do terrorismo, todos esses desdenham a soberania nacional e desrespeitam quaisquer fronteiras entre os Estados.
O planeta globalizado, comenta Bauman (2008, p.127), ‘habitado por sociedades forçosamente ”abertas” a segurança não pode ser obtida”, o autor acrescenta que consequentemente a “globalização negativa” seria a causa da própria injustiça e as origens dos nossos medos estão relacionadas com a ordem política e a ética. Convivemos com incertezas e com medo em nossos dias.
Fonte: http://zip.net/bhtNbY
Costa (1998) apud Santos (2003) coloca que o medo seria fronteiriço entre sensações e sentimentos: “angústia, mal-estar, desconforto são eventos afetivos que podem ser descritos como sentimentos ou como sensações, dependendo de critérios adicionais como maior ou menor reflexividade, maior ou menor modificação dos estados físicos dos sujeitos etc.”
Conforme coloca Frattari (2008), “ não há a possibilidade sequer de se falar em termos de ‘riscos’, uma vez que estes podem, de acordo com sua definição ser calculados e, assim, minimizados ou evitados”. Bauman (2008,p.129) fala que riscos são importantes desde que continuem calculáveis e passíveis de uma análise de custo-benefício, a preocupação aos planejadores da ação são os que podem afetar os resultados, numa perspectiva relativamente curta de espaço e tempo.
O grande desafio do século atual, segundo Bauman (2008 p.166), é a aproximação do poder e a política de forma global. Com a globalização negativa, o poder e a política se desenvolveram em direções opostas. As ações não podem ser locais e sim globais.
Bauman (2008 p.167) afirma que: “…o medo é um dos aspectos mais representativos nas sociedades abertas atualmente, com isso a insegurança e a incerteza nos tornam frágeis e com um sentimento de impotência”. Esse sentimento de impotência persisti, porque não percebemos estar no controle, seja sozinhos, grupos ou coletivamente dos assuntos que são pertinentes a nós, como da mesma forma em relação ao controle de assuntos do planeta. Bauman acrescenta que é preciso criar ferramentas que ajudem a solucionar os males globais e assim recuperar o controle de nossas forças.
Fonte: http://zip.net/bctMGz
TRAZENDO OS MEDOS À TONA
Segundo autor, em sua busca por saber sobre os medos advindos da modernidade líquida, surgidos da insegurança e consequentemente nutridos por ela, sugere que os países desenvolvidos traz uma expectativa de segurança, de estarem protegidos, nessa parte desenvolvida, os mesmos são considerado o povoado mais seguro, se empregando de meios eficazes de se protegerem, concomitantemente, estão usufruindo de todas as três fachadas em que se agarram os combates em conservação da existência: em oposição a potência da natureza, em oposição ao enfraquecimento inato de nossos corpos e em oposição às ameaças da violência imediatas dos indivíduos.
Contrariando o supracitado, é neste cenário de conforto que o caos se instala, a obsessão por segurança é inevitável, o medo toma conta dessas pessoas, e os torna deslumbrados por tudo que envolve segurança e proteção. (BAUMAN, 2008).
A promessa moderna de evitar ou derrotar uma a uma todas as ameaças à segurança humana foi até certo ponto cumprida – embora não a promessa reconhecidamente exagerada, altamente ambiciosa e com toda probabilidade impossível de cumprir, de acabar com elas de uma vez por todas. O que, no entanto, flagrantemente de se materializar é a expectativa de liberdade em relação aos medos nascidos da insegurança e por esta alimentados (BAUMAN, 2008, p.169).
Fonte: http://zip.net/bmtMVX
O medo por sua vez, traz na sua raiz a insegurança, a sociedade vive no mais completo desespero, uma busca desenfreada por tudo que possa garantir sua segurança, ou seja, o pânico se instalou na contemporaneidade. Cabe ressaltar que os seres humanos não são isentos de suas responsabilidades, a formas egocêntricas e desumana de ser traz consigo uma participação nesse quadro alarmante de medos sucedidos das incertezas. (BAUMAN, 2008).
Podemos dizer que a variedade moderna de insegurança é marcada pelo medo principalmente da maleficência humana e dos malfeitores humanos. Castel atribui à individualização moderna a principal responsabilidade por esse estado de coisas (BAUMAN, 2008, p. 171).
A humanidade está em volta de seus próprios interesses, a individualidade se instala em maior grau na sociedade moderna.
[…] em nossa sociedade, por trás do medo e da violência, há, na verdade, uma profunda insegurança em relação às transformações que a modernidade trouxe em seu bojo: individualismo, competitividade, perda do status social, perda dos referenciais comunitários, instabilidade emocional e material, desencantamento religioso e, em última instância, as consequências da globalização negativa. Nesse sentido, é importante definir e compreender o estágio atual da modernidade e os elementos que dela decorrem, obscurecendo nosso cotidiano e nossas vidas. (DAMIÃO, 2012, p .26).
O medo paralisa, faz crescer nossas defesas, o que é inevitável diante dos acontecimentos inerentes a espécie humana e dos adventos da contemporaneidade, consequentemente os medos vem à tona.
Fonte: http://zip.net/bvtNrz
O PENSAMENTO CONTRA O MEDO
Bauman termina o livro não fazendo um resumo do que foi disposto nos capítulos anteriores, ou mesmo se coloca alheio a situação, retirando sua responsabilidade do processo. Mas se coloca e também os demais produtores de reflexão social, definido por ele como os “intelectuais”. Em prática, o pensamento contra o medo é justamente usar do pensar para combater os medos que assolam a sociedade pós-moderna. Por isso a importância dos pesquisadores e produtores de conhecimento intelectual buscarem formas de idealizar novos modos positivos e esperançosos.
Para tanto é preciso que tomem consciência do poder que possuem. Em toda a história os sábios sempre davam os conselhos, porém não o executavam, sendo assim nunca tiveram o devido conhecimento e reconhecimento que tinham no processo.
Os intelectuais nunca confiaram realmente em seus poderes de transformar o mundo de carne e osso. Precisavam de alguém para empreender a tarefa que, insistiam, deveria ser realizada. Alguém com o poder real de fazer as coisas e assegurar que continuassem sendo feitas (o conhecimento não necessita do poder para mudar o mundo? Da mesma forma que o poder precisa do conhecimento para mudá-lo da maneira certa e com o propósito correto?). (BAUMAN, 2008, p. 210).
Sendo assim deve-se levar em conta a imensa responsabilidade no combate aos medos, assim como preconceitos, mentiras ou injustiças que assolam a vida dos sujeitos e das relações contemporâneas, não se mostrando assim indiferente a tais mazelas sociais afim de redesenhar a “possibilidade de um atalho para um mundo mais adequado à habitação humana que se perdeu de vista e parece mais irreal do que antes” (BAUMAN, 2008, p. 221).
Sendo assim, o que se espera é essa união entre os intelectuais e o povo, de modo a juntos caminharem em um processo terapêutico, e assim ressignificando a “humanidade e seu conjunto”.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. MEDO LÍQUIDO. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2008.
CORREIA, Adriano. O conceito de mal radical. Trans/Form/Ação, Marília, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31732005000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 mai. 2017.
SOUSA.
DAMIÃO, Abraão Pustrelo. Modernidade, Medo e Violência: Reflexões Teóricas e o Caso de Marília/SP. 2012. Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/CienciasSociais/Dissertacoes/DAMIAO_A_P_ME_2013.pdf.> Acesso em: 21 mai. 2017.
FRATTARI, Najla Franco. Insegurança e medo no mundo contemporâneo: uma leitura de Zygmunt Bauman. Sociedade e Cultura, v. 11, n. 2, 2008.
SANTOS, Luciana Oliveira. O Medo Contemporâneo: Abordando Diferentes Dimensões. Psicologia Ciência e Profissão, 2003, 23 (2), 48-55
SIMONETTI, Richard. Quem tem medo da Morte? 3a Edição – Ceac Editora -Bauru-SP Janeiro/2003 <http://bvespirita.com/Quem%20Tem%20Medo%20da%20Morte%20(Richard%20Simonetti).pdf.> Acesso em 20 mai. 2017.
SONIELSON L. Vamos falar da maldade? (En)Cena. Disponível em: <http://encenasaudemental.com/comportamento/insight/vamosfalar-da-maldade/>. Acesso em: 22 mai. 2017.