Conhecendo o trabalho do psicólogo militar: (En)Cena entrevista Janise Mara de Souza

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“Penso que a maior contribuição do serviço de psicologia na
polícia militar é ser uma ponte, um ponto de referência
ao sujeito que ainda adoece vitimado pela sua atividade profissional”
Major Janise Mara de Souza – Psicóloga

A Major Janise Mara de Souza é psicóloga na Polícia Militar do Estado do Tocantins (PMTO) há 15 anos e desenvolve um trabalho de atenção à saúde mental, numa perspectiva institucional, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos militares e seus dependentes.

Na entrevista que ela cedeu ao Portal (En)Cena podemos nos aproximar da realidade prática de um profissional psicólogo militar, suas atribuições e principalmente seus desafios, numa modalidade de trabalho com especificidades que refletem diretamente na sua prática.

(En)Cena – Quando e como foi o seu ingresso na Polícia Militar do Tocantins?

Major Janise Mara de Souza –  Foi por meio do concurso público para oficial psicólogo realizado no ano de 2004. Fui chamada para inclusão no quadro de oficiais da saúde da Polícia Militar do Tocantins para o cargo de tenente psicólogo em julho de 2006.

(En)Cena – Como está estruturado o serviço de psicologia na Polícia Militar do Tocantins?

Major Janise Mara de Souza – O serviço de psicologia está subordinado à Diretoria de Saúde e Promoção Social (DSPS), dentro da estrutura organizacional da PMTO e recentemente foi criada a coordenação técnica estadual de psicologia da DSPS. O serviço de psicologia está distribuído no Estado do Tocantins da seguinte forma: temos dois Majores psicólogos lotados no Centro de Atenção Integral à Saúde do Policial Militar (CAIS PM), ligado ao Quartel do Comando Geral, uma Major psicóloga lotada no 5º Batalhão em Porto Nacional e uma Tenente-Coronel psicóloga do Corpo de Bombeiros Militar cedida para o Centro Integrado de Reabilitação e Readaptação (CIRR). Temos ainda: cinco psicólogos contratados pela Fundação Pró-Tocantins designados para trabalharem em Palmas, Tocantinópolis, Araguatins, Araguaína, Dianópolis e Arraias. Quatro psicólogos civis cedidos pela Secretaria de Saúde do Tocantins que atuam no CAIS PM em Palmas, e por último, ainda temos dois militares, um Subtenente e um Major Capelão, que são também psicólogos e atuam no 4º Batalhão na cidade de Gurupi.

(En)Cena – Quais as principais atribuições de um psicólogo militar e as demandas atendidas?

Major Janise Mara de Souza – O psicólogo militar é responsável pela gestão do serviço de psicologia e por cumprir as demandas relacionadas principalmente a organização, tais como avaliações psicopatológicas para a junta militar central de saúde, avaliação para registro e porte de armas, assistência psicológica aos militares e seus dependentes, bem como implantação e desenvolvimento de programas de promoção em saúde mental e prevenção de adoecimento psíquico. Além disso, é necessária atenção ao regulamento interno da PM TO e cumprir com todas as obrigações militares, tais como convocações e determinações do Comando Geral.

(En)Cena – Quais as maiores dificuldades enfrentadas para o desenvolvimento do trabalho do psicólogo na Polícia Militar do Tocantins?

Major Janise Mara de Souza – O desafio ainda é implantar uma cultura de promoção à saúde mental, de valorização da subjetividade dentro de uma instituição marcadamente hierárquica, com códigos e valores próprios, muitas das vezes contrários aos propósitos da psicologia.

(En)Cena – Quais seriam as maiores contribuições do serviço de psicologia para a Polícia Militar?

Major Janise Mara de Souza – Penso que a maior contribuição do serviço de psicologia na polícia militar é ser uma ponte, um ponto de referência ao sujeito que ainda adoece vitimado pela sua atividade profissional, e também aqueles militares que estão passando por problemas relacionados a outros contextos de sua vida pessoal. Outro ponto importante de contribuição, são as atividades relacionadas à psicoeducação, trabalhando com temas em prol de construir e promover a saúde e a qualidade de vida nessa coletividade que é a PMTO. O serviço de psicologia também é um dispositivo de acesso ao cuidado em saúde mental para os familiares dos militares.

(En)Cena – Que tipos de mudanças ocorreram no contexto de trabalho em razão da pandemia da Covid-19?

Major Janise Mara de Souza – No auge da pandemia os atendimentos psicológicos presenciais foram totalmente suspensos e rapidamente foram implantados os atendimentos online, nas mais diversas plataformas de interação social, sendo resguardado todo o cuidado e atenção aos documentos emitidos pelo Conselho Federal de Psicologia para essa modalidade de atendimento. Posteriormente, foram retomados de forma híbrida os atendimentos psicológicos, ou seja, atualmente temos atendimentos on-line, atendimentos presenciais individuais e de pequenos grupos, com todas as orientações sanitárias em relação ao cuidado para não propagação do coronavírus.

(En)Cena – Como você atualmente avalia os resultados do trabalho desenvolvido pelo serviço de psicologia da Polícia Militar do Tocantins? quais os principais avanços?

Major Janise Mara de Souza – Avalio muito positivamente os resultados alcançados nestes 16 anos de inclusão dos primeiros psicólogos no quadro de oficiais da saúde da PM TO. Somos uma equipe que visa sempre pensar diretrizes que fortaleçam o trabalho da psicologia nesse cenário de atuação, ou seja, o serviço voltado para a instituição de segurança pública. Em todos esses anos, o trabalho do psicólogo tem se delineado com a proposição de assessorias técnicas aos comandos, pesquisas realizadas e projetos desenvolvidos. Temos buscado incessantemente estar interligados com todos os profissionais psicólogos da Polícia Militar do Estado do Tocantins, provendo acesso ao serviço de psicologia para os militares e seus familiares das mais longínquas cidades, e essa inclusive foi nossa mais recente conquista, pois o serviço estava disponível apenas nas cidades de Palmas, Araguaína e Gurupi. Atualmente esse serviço se expandiu para duas cidades no bico do Papagaio, e duas cidades ao sul do estado, Dianópolis e Arraias.

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A militância da “torneira aberta”

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Eu era uma iniciante na militância de esquerda quando escutei algo que não entendi muito bem na ocasião, mas nunca mais esqueci. O tema era política de meio ambiente e preservação da água, e se não estou enganada, foi o então querido deputado petista Paulo Delgado quem disse algo assim: “Toda política pensada para a preservação da água só será eficiente se continuar funcionando mesmo quando eu e você esquecermos nossa torneira aberta”

Eu só fui compreender, de fato, essa bela metáfora algum tempo depois, mas ela mudou imediatamente meu olhar para a política e para a militância, tanto que eu nunca mais a esqueci. Entendi que, no campo da política, a mudança do comportamento das pessoas no um a um pode ser importante, mas ela de nada vale se as questões estruturais não forem tocadas. Entendi que é uma ilusão, e as vezes uma ferramenta ideológica (neoliberal), achar que vou fazer algo pela preservação do Planeta fechando minha torneira ao escovar os dentes, sem tocar na questão das monoculturas de soja, dos grandes produtores de gado e dos madeireiros da Amazônia. Entendi também que brigar com meu vizinho quando ele lava o carro fazendo um discurso ambiental-apocalíptico, só vai me tornar uma chata, arrogante e cheia de superioridade moral. Vou criar uma treta inútil que não vai salvar o Planeta, além de poder provocar o vizinho a odiar todas as causas ambientais e a lavar o carro duas vezes por semana ao invés de uma, só pra baixar a minha bola.

Essa metáfora me fez dimensionar a minha militância, tomar a distância necessária de uma certa situação a fim de entender quando ela se faz realmente necessária e quando ela serve apenas para alimentar meu ego, minha arrogância, me tornar uma chata moralista ou culpabilizar pessoas e comportamentos que não são a causa, mas efeito daquilo que estou combatendo. Me fez entender que a boa militância, a que faz realmente o efeito desejado, tem lugar para acontecer e deve ser dirigida às estruturas e superestruturas, ainda que o efeito dela no um a um possa ser estimulado e celebrado.

Fonte: encurtador.com.br/uCDFT

Vejo, por exemplo, muitas mulheres usando os argumentos do discurso feminista para se impor ou brigar com seus parceiros. Eu não recomendo. É inútil para a causa e péssimo para estreitar a comunicação do casal e amadurecer o relacionamento. Se meu companheiro me diz algo do tipo: “Você não vai sair assim” ou “Eu não quero que você faça tal coisa” eu simplesmente vou dizer “Fodasse, meu amor! Eu te amo, mas você não manda em mim”, e fazer o que eu quero fazer. Não preciso fazer discurso de militância, não preciso citar Simone de Beauvoir, não preciso chamá-lo de macho opressor abusador. Só preciso me posicionar e garantir meu espaço. E isso é mais educativo e fará muito mais pelo feminismo do que qualquer discurso militante que eu faça, além de ser muito melhor para o nosso relacionamento, porque ele logo vai entender que ou me respeita ou cai fora. Se eu preciso do anteparo do discurso feminista para me posicionar diante do homem que eu escolhi como parceiro, meu feminismo já falhou.

Certa vez, eu presenciei uma defensora das causas animais militando pra cima de um morador de rua porque ele, na ausência de uma coleira, amarrou um cachorro com um pedaço de fio. O cachorro, sabendo de que lado ficar, latia em defesa do seu dono, enquanto a mulher, aos berros, acusava o rapaz de maltratar o animal. Desde quando a população de rua é a verdadeira ameaça aos direitos dos animais? Não seria mais eficiente simplesmente comprar uma coleira para o cachorro e dar ao cidadão? Tenho certeza que ele não negaria o presente.

Resumindo, o discurso militante deve se reservar aos debates públicos, às instituições, às arenas de debate democrático e às construções coletivas. Para o caso a caso, para a conversa informal presencial ou nas redes, para os relacionamentos, para a sala de aula ou para a mesa de bar, mais vale a boa e velha conversa, ou até mesmo uma briga sincera. Para os excessos que adoecem, valem a psicoterapia e a psicanálise. Para os excessos que infringem os limites impostos pela sociedade, vale o rigor da lei.

Por fim, toda vez que uma situação me provoca o discurso militante, eu me pergunto se estou fazendo algo que realmente fará diferença para a causa que defendo ou se estou apenas dando lição de moral pra alguém que esqueceu a torneira aberta.

Fonte: encurtador.com.br/xzM34
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Chico Buarque: o militante da MPB

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‘Arte de resistência’ é como Hollanda define sua forma de fazer música.

Chico Buarque de Hollanda é uma das vozes mais importantes da música popular brasileira, sendo um dos responsáveis por criar um arcabouço de canções que trouxeram um grito de liberdade contra o período da ditadura militar brasileira, na década de 60.
Falar de Francisco Buarque traz inspiração e desejo de militância, uma vez que sua vida e seu trabalho como cantor e compositor são usados por ele como um instrumento de luta e exposição da verdadeira voz brasileira.

O período da juventude de Chico foi marcado por grande censura aos meios de comunicação, bem como aos artistas, incluindo atores e músicos. Assim, várias peças teatrais e músicas foram proibidas de serem reproduzidas para os brasileiros, por serem consideradas afrontas ao governo ditatorial da época.

Fonte: encurtador.com.br/jrBLQ

Chico é filho do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim, sendo o 4º de sete irmãos. Nascido no ano de 1944, na cidade do Rio de Janeiro, contou com uma educação em sua maioria católica, o que de acordo com ele lhe proporcionou duas experiências: a de ver de perto as barreiras que o catolicismo colocava para a liberdade de expressão, e a oportunidade de conhecer realidades menos favorecidas no realizar de trabalhos comunitários. Para ele, essa segunda experiência foi parte importante no seu processo de reconhecimento da identidade do povo brasileiro daquela época, o que consequentemente teve forte influência no seu trabalho.

Por ter nascido em berço privilegiado, Chico tinha muito bem a possibilidade de não se importar com a luta de classes. Entretanto, ele se importava, e apesar de viver em uma área urbana rica, estava sempre atento ao crescimento da cidade do Rio de Janeiro que era injusto e desfavorável aos pobres, e era também para essas pessoas que ele cantava.

‘Arte de resistência’ é como Hollanda define sua forma de fazer música. E é possível ver esse modelo artístico em todas as suas letras. “Apesar de você”, música definida por ele próprio como uma canção de protesto, traz “Hoje você é quem manda/ Falou, tá falado/ Não tem discussão, não/ A minha gente hoje anda/ Falando de lado/ E olhando pro chão, viu/” , tal trecho era uma referência ao presidente na época, o general Olímpio Mourão Filho.

Fonte: encurtador.com.br/wQSY1

Para Chico, o processo de compor as músicas sempre foi muito prazeroso, sendo um feito indescritível por tamanho contentamento. A música “Cálice”, composta por ele e Milton Nascimento traz, “Pai, afasta de mim esse cálice/ Pai, afasta de mim esse cálice/ Pai, afasta de mim esse cálice/ De vinho tinto de sangue/”, o termo cálice é uma alusão à palavra “cale-se”, que representava a proibição que os brasileiros estavam sofrendo em não poderem exercer sua liberdade de expressão.

Suas críticas ao governo ditatorial da época eram sutis e inteligentes, o que colaborou para que muitas de suas composições conseguissem passar batidas pelos olhares da repressão do governo e chegassem ao público. No entanto, sua performance astuta foi sendo detectada pelos militares, que passaram a ter ouvidos mais apurados às afrontas construídas pelo artista, proibindo muitas das músicas assim que elas eram lançadas aos brasileiros.

É nítido que a grande musa inspiradora de Hollanda no seu ápice do sucesso foi o período negro do golpe de 64 no Brasil, e como o artista que é, ele fez dessa musa cruel resultar canções que trouxeram alegria e esperança ao povo brasileiro, que se encontrava abatido e preocupado com o que seria feito do país continental.

Fonte: encurtador.com.br/tBIX0

Chico sobreviveu ao período da ditadura, claro que não sem marcas, porque qualquer cidadão que tenha sobrevivido a esse período carrega as marcas sombrias da censura em seu coração. Recentemente Chico lançou o álbum “Caravanas” (2017), que tem um foco e inspiração bastante diferente, já que traz o “amor romântico” como centro, o que é comum entre os artistas da MPB atual.

REFERÊNCIAS:

HOMEM, Wagner. Chico Buarque. Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br/>. Acesso em: 05 jan. 2019.

Certas palavras com Chico Buarque (1980). Direção de Mauricio Berú. Rio de Janeiro: Conselho Nacional Para A Cultura e As Artes, 1980. P&B. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YzZLX8Zprj8>. Acesso em: 05 dez. 2019.

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Cinema pela Verdade exibe dia 28 de abril o filme “Em Busca de Iara”

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Quarta edição da Mostra exibe documentários sobre a ditadura civil-militar no Brasil de março a abril


Em 2015, o Brasil comemora 30 anos de volta à democracia, mas as marcas de 20 anos de ditadura civil-militar não devem ficar esquecidas. Com o objetivo de debater esse período marcante da história do país, a Mostra Cinema pela Verdade exibe gratuitamente quatro documentários sobre o tema em universidades dos 27 estados do país. O festival teve inicio dia 26 de março e segue até o final do mês de abril. A cidade de Palmas dá continuidade à quarta edição do projeto com a exibição do filme “Em Busca de Iara”,de Flávio Frederico. A sessão acontece dia 28 de abril, às 19h, no miniauditório – sala 543 do Centro Universitário Luterano de Palmas. Após as sessões são promovidos debates com acadêmicos, pesquisadores e debatedores convidados. Além desse, os outros três filmes selecionados foram: “Democracia em Preto e Branco”, de Pedro Asbeg, “Osvaldão”, de Vandré Fernandes, Ana Petta, Fábio Bardella e André Lorenz Micheles e “500 – Os bebês roubados pela Ditadura Argentina”, deAlexandre Valenti. Toda a programação é gratuita e aberta ao público.

O pontapé para essa quarta edição aconteceu no início de março, com a capacitação de 27 universitários para atuarem como agentes mobilizadores em cada um dos estados do país. Eles serão os responsáveis por produzir e promover o projeto nas cidades onde estudam. Durante o encontro em um hotel fazenda em Paulo de Frontin, no interior do Rio de Janeiro, os jovens assistiram aos quatro filmes selecionados para o projeto, participaram de debates com os diretores, de palestras com membros da Comissão de Anistia, e de dinâmicas promovidas por pedagogos e professores de teatro. Em Palmas,o agente mobilizador é a estudante de Administração da Universidade Federal do Tocantins, Marina Ponce.

Nas três edições anteriores, a Mostra Cinema pela Verdade atingiu um público de 54.728 pessoas. Foram 12 filmes exibidos em 623 sessões nas 27 unidades federativas. Ao todo, 1.124 debatedores participaram em 605 debates realizados.

Promovido pelo Instituto Cultura em Movimento (ICEM), com patrocínio do BNDES e apoio da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, o Cinema Pela Verdade tem como objetivo fomentar a discussão em torno da Ditadura Civil-Militar, permitindo que toda a sociedade conheça o passado e dele extraia lições para o futuro.

Sobre os Filmes Selecionados:

Democracia em Preto e Branco, de Pedro Asbeg 

Documentário, 10 anos, 90 min., Brasil, 2014.

Sinopse:Durante o ano de 1982 a ditadura militar completava 18 anos. A música popular brasileira sobrevivia de metáforas, devido a grande opressão e censura, e o clube de futebol Corinthians passava por um período interno turbulento. No meio disso, o rock nacional começava a nascer. O filme mostra como a música, o esporte e a política se encontraram para mudar o rumo da história do país.

Em Busca de Iara,de Flávio Frederico

Documentário, 12 anos, 90 min., Brasil, 2013

Sinopse: Através de uma investigação pessoal de sua sobrinha, Mariana Pamplona, o filme resgata a vida da guerrilheira Iara Iavelberg. Uma mulher culta e bela, que deixou para trás uma confortável vida familiar, optando por engajar-se na luta armada contra a ditadura militar. Vivendo na clandestinidade, na esteira de uma rotina de sequestros e ações armadas, tornou-se a companheira do ex-capitão do exército Carlos Lamarca, compartilhando com ele o posto de um dos alvos mais cobiçados da repressão. O filme desmonta a versão oficial do regime, que atribui sua morte, em 1971 a um suicídio.

Osvaldão, de Vandré Fernandes, Ana Petta, Fábio Bardella e André Lorenz Michiles

Documentário, 12 anos, 80 min., Brasil, 2014

Sinopse:A vida de Osvaldo Orlando da Costa, comandante da Guerrilha do Araguaia que virou herói entre o povo local, por conta de sua coragem e generosidade. Muitos até o consideram como um ser mítico. Uma visão não só da lenda ao redor do nome de Osvaldão, mas também de suas aventuras humanas. Vindo de uma família de ex-escravos, uma trajetória onde um jovem campeão carioca de boxe na década de 1950 se transforma em um dos principais guerrilheiros do país.

500 – Os bebês roubados pela Ditadura Argentina, de Alexandre Valenti

Documentário, 14 anos, 100 min., Brasil/Argentina, 2013

Sinopse: Entre 1976 e 1983, a Argentina viveu sombrios anos de ditadura militar. Neste período, famílias inteiras foram despedaçadas pela repressão clandestina empreendida por um estado terrorista que ceifou a vida de cerca de 30 mil argentinos. Dentre as práticas mais aterradoras deste regime estava o sequestro sistemático de bebês e crianças, filhos de presos e desaparecidos políticos, que eram apropriados por seus algozes com espólio de guerra. A partir da iniciativa das Avós da Praça de Maio criou-se o “Banco dos 500”, com amostras de seu próprio sangue, o que possibilitou a descoberta de 114 das 500 crianças sequestradas. Reunidos às suas famílias reais e às suas verdadeiras identidades, os jovens nascidos nas maternidades dos campos da morte, juntamente com as Avós da Praça de Maio confrontam, em 2011, perante o Tribunal de Buenos Aires, os dignitários da mais sangrenta ditadura Argentina, acusados de genocídio e crimes contra a Humanidade: um caso histórico, único e universal. O documentário “500 – Os bebês roubados pela Ditadura Argentina” narra esta incansável luta das avós e seus netos que continua, diariamente, até que o último dos “500” seja encontrado.

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Crônica de uma Ditadura Anunciada: 50 anos do Golpe Militar

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Não. O ano não é 2014. Estamos falando de 50 anos atrás, quando uma sucessão de crises (econômicas, políticas, sociais) acompanhada de uma série de desmandos deu origem ao Golpe Militar do dia 31 de março de 1964 (ainda que alguns digam que a data correta do levante, pelo desdobramento dos acontecimentos, seria o dia 1º de abril, mas que foi registrada de forma adiantada pelos militares para evitar tão infeliz coincidência – que talvez se mostrasse um mau presságio para tão infeliz acontecimento).

Ao contrário do que muitos costumam pensar, os conflitos que direcionaram os militares para o Golpe de 1964 não tiveram início em 1961 com a até hoje inexplicada renúncia de Jânio Quadros à presidência da República.

Para podermos nos localizar no tempo e entender a dinâmica que deu origem ao golpe, devemos retornar a 1955, quando Juscelino Kubitschek foi eleito para suceder o mandato que não fora concluído por Getúlio Vargas. Juscelino teve dificuldade em lançar sua candidatura, pois os militares vetavam-na por acreditar que os comunistas o apoiavam.  Devemos nos lembrar de que estamos no período de Guerra Fria – (EUA vs URSS, capitalismo vs comunismo) e que o medo de uma revolução comunista habitava os países latino-americanos.

Há muito custo Juscelino consegue candidatar-se. Nesta época, votava-se em separado para presidente e vice-presidente e Juscelino (do Partido Social Democrático – PSD) tem como vice João Goulart (do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB), o Jango, que obteve mais votos do que o próprio presidente eleito. Para assegurar a posse dos dois, o então Ministro da Guerra, Gal. Henrique Teixeira Lott, depôs o presidente interino, Carlos Luz (da União Democrática Nacional – UDN) que, suspeitava-se, não daria posse ao novo presidente eleito. Com isso, o Brasil é presidido até 31 de janeiro de 1956, sob estado de sítio, por Nereu Ramos, presidente do Senado Federal, do mesmo partido de JK.

Foi sob esta pressão política que JK cumpriu todo o seu mandato, porém sem maiores sobressaltos, conseguindo implementar algumas realizações como a construção da nova capital federal Brasília, estabelecer um processo de rápida industrialização com foco na indústria automobilística, e propiciar um forte crescimento econômico. Deixou, porém, como herança um aumento na dívida pública interna e na dívida externa, com reflexos em um aumento da inflação.

Juscelino é sucedido, em 1961, por um candidato apoiado pela oposição, Jânio Quadros, que apresentava propostas de combate à corrupção, de modernização na forma da administração pública e no combate a inflação. Mais uma vez o vice-presidente é João Goulart, de chapa de oposição a Jânio. Anticomunista, mas adepto da provocação e da criação de fatos que o mantivessem na mídia, Jânio Quadros condecorou com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul o guerrilheiro Ernesto Che Guevara, um dos principais líderes da revolução que, em 1959, instituiu o regime comunista em Cuba, sob as mãos de Fidel Castro. Grupos militares sentiram-se provocados e a oposição, especialmente Carlos Lacerda, governador do Estado da Guanabara, aproveitou-se deste fato para tensionar o momento político.

Propondo um plano de política externa independente, nem ligada aos EUA nem tampouco a URSS, Jânio Quadros acabou por desagradar aos interesses americanos e a mídia nacional, capitaneada por Roberto Marinho (das Organizações Globo) e Júlio de Mesquita Filho (do jornal O Estado de São Paulo), passa a acusar o seu governo de aproximar-se do comunismo.

Sem suporte no Congresso Nacional, e pressionado pelos ministros militares, Jânio renuncia em 25 de agosto de 1961, informando que toma tal atitude pois “Forças terríveis levantam-se contra mim”.

Seu vice, João Goulart, encontrava-se em missão diplomática na República Popular da China, justamente um país comunista. Por seus vínculos com políticos de esquerda, em especial do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e do Partido Comunista Brasileiro (PSB), alguns setores militares cogitam vetar sua posse como presidente da República a ponto dos três ministros militares divulgarem um manifesto contra a sua posse e que descrevia Jango como um agitador com simpatia pela União Soviética e pela China e que, se assumisse o poder, levaria o país a um período “de agitações sobre agitações, de tumultos e mesmo choques sangrentos nas cidades e nos campos, de subversão armada”.

Ao retornar ao Brasil, Jango teve que aguardar no Uruguai até que o Congresso Nacional e os militares chegassem a um consenso sobre a sua posse. Neste meio tempo, Leonel Brizola, seu cunhado e governador do Rio Grande do Sul, organizou a Campanha da Legalidade para defender a posse de João Goulart.

Em setembro de 1961, por fim,  o Congresso Nacional aprovou o sistema parlamentarista, o que permitiria manter João Goulart na presidência, porém com perda de parte de seu poder que passaria para as mãos de um primeiro-ministro. Assim, em 8 de setembro Jango toma posse como presidente enquanto Tancredo Neves chefia o governo na posição de primeiro-ministro.

Em 1962 o PTB de Jango conseguiu dobrar sua representação na Câmara dos Deputados passando a controlar a segunda maior bancada da casa. Jango também consegue antecipar o plebiscito para decidir entre a permanência do parlamentarismo e o retorno ao presidencialismo. Com uma forte campanha do governo, o presidencialismo é escolhido por 80% dos votantes e seu retorno se dá em janeiro de 1963.

Durante o ano de 1963, além do retorno do presidencialismo, tem-se um grande número de acontecimentos que acabam por abalar a estabilidade política do governo. O Plano Trienal, conjunto de reformas institucionais para atacar os problemas estruturais do país, não mostrou resultados, em grande parte por não ter contado com o apoio dos sindicatos nem dos empresários, e a economia encontrava-se em crise. Acrescente-se ainda o poder da direita que continuou com maioria no Congresso, maioria esta advinda do apoio clandestino fornecido pelos EUA que forneceu milhões de dólares para as campanhas de candidatos que faziam oposição a Jango.

Para piorar, tem-se ainda a revolta dos sargentos da Aeronáutica e da Marinha contra a decisão do Supremo Tribunal Federal de não permitir a eleição de sargentos para o legislativo. A posição de neutralidade do presidente acabou desagradando a grande parte das Forças Armadas que viu nessa atitude um desrespeito à hierarquia militar. Jango hesitava por necessitar do apoio da esquerda para enfrentar os adversários da direita, como Carlos Lacerda, que clamava aos militares que tomasse uma atitude para tirar Jango do poder.

Com todas estas situações a lhe minar as forças, Jango via-se constantemente pressionado pela direita e pela esquerda, ambas demonstrando um profundo desprezo pela democracia que então se mostrava cambaleante. Assim, aceitando uma sugestão dos ministros militares e alegando que a radicalização política ameaçava a segurança do país, Jango propôs então ao Congresso a decretação de estado de sítio. O plano de Jango era utilizar o estado de sítio para intervir em estados como a Guanabara de Carlos Lacerda. O pedido não encontra apoio da maioria dos parlamentares, pois até seus aliados viram nesse decreto a possibilidade de serem atingidos, sendo então retirado pelo presidente três dias depois. O vai e vem da proposta do estado de sítio serviu para fragilizar seu governo ainda mais.

Com a crise econômica batendo a sua porta e com a oposição de militares, o presidente procurou, enfim, mostrar estava no comando da situação e buscou se fortalecer, participando de manifestações e comícios que defendiam suas propostas.

Fundamental para entender os rumos dos acontecimentos foi o comício de 13 de março de 1964, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que reuniu cerca de 150 mil pessoas, incluindo sindicatos, associações de servidores públicos e estudantes.  Conhecido como Comício da Central do Brasil, ou Comício das Reformas, pois ali João Goulart deu uma guinada forte em direção à realização das reformas de base, dentre as quais se encontrava, por exemplo, a proposta de reforma agrária com a desapropriação de terras de particulares. Foi um comício em que, junto com as bandeiras vermelhas do PCB viam-se também faixas pedindo a ampliação do tempo de governo de Jango, o que deu a entender que pairava uma ameaça golpista no ar de parte dos partidários do presidente.

Entre os quinze discursos que precederam Jango, dentre os quais se destacavam a do então presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), José Serra, e do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, ouviam-se pregações contra a política conciliadora do presidente com setores conservadores, em especial vindas de seu cunhado, Leonel Brizola, que colocou o presidente contra a parede: “O nosso presidente que se decida a caminhar conosco e terá o povo ao seu lado; quem tem o povo ao seu lado nada tem a temer”.

O presidente, então, em seu discurso de 54 minutos, anunciou uma série de medidas: defendeu a reforma da Constituição para ampliar o direito de voto a analfabetos e militares de baixa patente, anunciou que tinha assinado um decreto transferindo para o governo o controle de cinco refinarias de petróleo privadas e outro que desapropriava as terras às margens de ferrovias e rodovias federais com indenização paga com títulos da dívida pública, o que ia contra a Constituição, que previa desapropriações mediante indenização prévia em dinheiro.

Jango, em sua mensagem anual ao Congresso, informou que apresentaria uma proposta para apressar as desapropriações de terras, além de projetos de reforma bancária, administrativa, universitária e eleitoral, esta última objetivando dar a analfabetos, sargentos e praças o direito de votar e disputar eleições. Jango buscava ainda obter poderes legislativos para o Executivo para facilitar a aprovação das reformas e a convocação de um plebiscito sobre as reformas de base. Tais ações só fortaleceram em seus opositores a certeza de que Jango caminha em direção a um golpe e em seus apoiadores a ânsia em provocar situações que os levariam a tomar de vez o poder de tal forma que não contassem com a oposição das forças conservadoras do país.

Em resposta ao que foi considerada uma provocação do governo à ordem democrática e uma guinada fortíssima em direção à esquerda, em 19 de março, em São Paulo, foi organizada a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, cujo objetivo era mobilizar a opinião pública contra o governo de Jango e a “ameaça comunista”. Aproximadamente 300 mil pessoas fizeram uma passeata no centro de São Paulo.

A Marcha contou com o apoio de líderes religiosos (alguns do quais, futuramente, viriam a se posicionar de forma brava e corajosa contra a ditadura militar), bem como com o apoio de lideranças políticas como o governador de São Paulo, Adhemar de Barros representado pela esposa, e o governador do estado de Guanabara, Carlos Lacerda (sim, o mesmo que foi estopim da crise que levou ao suicídio de Getúlio Vargas, que encampou o tensionamento político contra o governo de Jânio Quadros, e que fora chamado de energúmeno por Leonel Brizola em seu discurso na Central do Brasil seis dias antes) além de Auro de Moura Andrade, presidente do Senado e do Congresso e que, mais a frente, teria um papel importante na efetivação do golpe.

Em 20 de março de 1964, o general Humberto Castelo Branco, chefe do Estado-Maior do Exército, envia uma circular reservada aos oficiais do Exército, advertindo contra os perigos do comunismo e classificando como ilegal a atuação do Central Geral dos Trabalhadores – CGT e revolucionária, para não dizer golpista, a ideia de uma Constituinte.

Uma semana após, precisamente no dia 28 de março, os marinheiros e fuzileiros navais comemoravam, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, os dois anos da sua associação (que era considerada ilegal) quando o ministro da Marinha, Silvio Mota, mandou prender seus organizadores. Os fuzileiros enviados aderiram aos insubordinados e Jango acabou por demitir Silvio Mota logo depois, assumindo mais uma vez uma postura que provocou a indignação dos oficiais da Marinha.

No dia 30 de março, Jango compareceu a uma festa promovida pela Associação dos Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar, na sede do Automóvel Clube do Brasil, onde se sentou ao lado do líder da rebelião dos marinheiros e fez um discurso incendiário em que atribuiu a responsabilidade por um possível derramamento de sangue aos seus inimigos políticos que estavam em uma poderosa campanha contra o governo: “A crise que se manifesta no país foi provocada pela minoria de privilegiados que vive de olhos voltados para o passado e teme enfrentar o luminoso futuro que se abrirá à democracia pela integração de milhões de patrícios nossos na vida econômica, social e política da Nação, libertando-os da penúria e da ignorância”.

No dia 31 de março o general Olympio Mourão Filho dá início ao golpe durante a madrugada ao encaminhar suas tropas (antes do esperado pelos próprios conspiradores) de Juiz de Fora (MG) até o Palácio das Laranjeiras, no Rio, onde estava o presidente. O comandante do 2º Exército, Amaury Kruel, amigo pessoal de Jango, pede, por telefone, ao presidente que dissolva a CGT e demita ministros de esquerda. Como o presidente recusa ele alia-se aos golpistas.

No dia 1º de abril de 1964, o Forte de Copacabana é tomado pelos militares golpistas que defendem o Palácio da Guanabara, residência do governador Carlos Lacerda. No Recife, o governador Miguel Arraes é preso e, no Rio, a sede da UNE é incendiada. Jango retorna a Brasília de onde é aconselhado a ir para Porto Alegre, onde é recebido por Brizola. Brizola sugeriu um novo movimento de resistência, mas João Goulart não aceitou, para evitar o derramamento de sangue que ele sabia que adviria de uma guerra civil.O Gal. Arthur da Costa e Silva se autonomeou comandante-em-chefe do Exército e assumiu a frente do Comando Supremo da Revolução, que também incluía um representante da Marinha e um da Aeronáutica.

No dia 2 de abril, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, presidente do Congresso Nacional, convocou durante a madrugada uma sessão extraordinária no Congresso e declarou a vacância de João Goulart no cargo de presidente, ignorando a informação passada por Darcy Ribeiro, seu Chefe de Gabinete, de que Jango estava no Brasil. Foi entregue o cargo de chefe da nação novamente ao presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli (ele havia assumido anteriormente a presidência após a renúncia de Jânio Quadros, enquanto Congresso e militares discutiam a posso de Jango). O general Costa e Silva enviou um comunicado aos militares se autonomeando comandante-em-Chefe do Exército.

Jango escondeu-se em São Borja, no Rio Grande do Sul, partindo no dia 4 para o exílio no Uruguai mudando-se mais tarde para a Argentina, onde faleceu em 6 de dezembro de 1976, de ataque cardíaco. A ditadura negou seu enterro com honras de chefe de estado, como já havia feito com JK, que morrera alguns meses antes, em 22 de agosto.

Em 9 de abril Costa e Silva edita o Ato Institucional nº 1 (AI-1). Ele permite a cassação de mandatos e a suspensão de direitos políticos. Na ocasião foram cassados os mandatos de 40 membros do Congresso Nacional, que tiveram seus direitos políticos cassados por dez anos, junto com outras 87 pessoas, dentre as quais o próprio Jango. Também foram transferidos 146 militares para a reserva. Também foram marcadas eleições indiretas em dois dias para Presidência e vice-presidência da República.

Em um Congresso Nacional já esvaziado devido a cassações e prisões, Costa e Silva anuncia, em 15 de abril, o Mal. Humberto de Alencar Castelo Branco como o novo presidente, com mandato definido até dezembro de 1966. Castello Branco havia se juntado ao golpe algumas semanas antes, e por seu grande prestígio despontou como favorito para liderar a formação de um novo governo, especialmente pela garantiria que oferecia de uma rápida devolução do poder aos civis. Políticos golpistas, como o Carlos Lacerda e o governador mineiro e banqueiro Magalhães Pinto, e oposicionistas ao golpe, como Juscelino Kubitschek, votaram em Castello Branco, pois viam nele a possibilidade de retorno às eleições democráticas para presidente em 1965, da qual todos eles tinham grande interesse em participar.

Entretanto, havia uma grande parte da caserna que pedia que fosse adotada uma linha mais dura no poder.   Com a derrota dos candidatos do governo nas eleições estaduais de 1965 Castello Branco viu-se obrigado a editar o Ato Institucional nº 2 (AI-2) que extinguiu os partidos políticos e cancelou as eleições diretas para presidente. A Revolução, como os militares até hoje tentam vender a imagem do Golpe de 64, ficava cada dia mais parecida com a feia ditadura que veio a se tornar.

Mas vamos dar mais uma olhada nos rumos dos acontecimentos:

Não. O ano não é mais 1964.

Agora estamos em 2014 e vemos, 50 anos depois, a história se repetindo em muitos aspectos. Entretanto, não é porque as peças estão dispostas da mesma forma que se deve utilizar a mesma estratégia de jogo. Até porque, como já sabido, da forma como foi anteriormente jogado não dá para dizer que houve vencedores. Se não dá para mudar as peças, que se mudem as estratégias. E para isso a democracia tão duramente reconquistada nos dá o direito de mudarmos os jogadores.

Buscando saber mais?

Livros:

GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada.  2ª Ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. Mais informações disponíveis em  http://arquivosdaditadura.com.br/

GASPARI, Elio. A Ditadura Escancarada. 2ª Ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. Mais informações disponíveis em  http://arquivosdaditadura.com.br/

GASPARI, Elio. A Ditadura Derrotada. 2ª Ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. Mais informações disponíveis em  http://arquivosdaditadura.com.br/

GASPARI, Elio. A Ditadura Encurralada. 2ª Ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. Mais informações disponíveis em  http://arquivosdaditadura.com.br/

CONY, Carlos Heitor. O Ato e o Fato: o som e a fúria das crônicas contra o Golpe de  1964. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Brasil nunca mais. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1985. Mais informações disponíveis em http://bnmdigital.mpf.mp.br/

Filmes:

Jango. Direção de Silvio Tendler, 1984.

O que é isso, companheiro? Direção de Bruno Barreto, 1997.

Pra frente, Brasil. Direção de Roberto Farias, 1982.

Lamarca. Direção de Sérgio Rezende, 1994.

Marighella. Direção de Isa Grinspum Ferraz, 2011.

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Heranças da Ditadura

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Parece dramático, mas pensar que a Ditadura acabou em 1985 é debruçar-se sobre uma ilusão. Os vestígios deixados por este golpe militar são devastadores e abrem caminho por entre as ondas de protestos que acometem o país nessa fase pré Copa do Mundo. O estopim foi o aumento das passagens do transporte público, no entanto, engana-se quem pensa que brasileiro não sabe reivindicar seus direitos. Pelo contrário, o cume das manifestações é a reivindicação por melhoria na saúde, na educação, redução de impostos e contra a corrupção. Levantamo-nos deste status quo de conformismo, estamos nos levantando, estamos protestando e estamos incomodando. Prova disso é a alienação que meios de comunicação em massa tentam a todo vapor introduzir por meio de suas notícias deturpadas e, convenientemente, a favor da reprimenda aos manifestantes, colocando-os no papel de vândalos, destruidores do patrimônio cultural e tantas outras falácias.

Ademais, não sejamos hipócritas. Há quem se contente com essa política de Pão e Circo que vigora no país. Clamam a plenos pulmões pelos seus direitos, fazem “baderna” na cidade, mas nos dias de jogos estão nos estádios fazendo volume e pagando muito mais do que vinte centavos. A eles, lamento o transtorno. O Brasil está vivendo um processo de mudança, há muito já cantado e relatado por grandes nomes na música brasileira, tais como Renato Russo em sua famosa canção Geração Coca-Cola “Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião, somos o futuro da nação”.

Há, ainda, mestres tropicalistas que participaram ativamente do momento crítico da Ditadura e foram perseguidos e censurados devido ao caráter revolucionário de suas composições. O hino para os cidadãos daquela época era Para não dizer que falei das flores, ou Caminhando, de Geraldo Vandré, “Há soldados armados, Amados ou não, Quase todos perdidos, De armas na mão, Nos quartéis lhes ensinam, Uma antiga lição: De morrer pela pátria, E viver sem razão”.

Questiona-se o porquê de tais manifestações, segundo eles “são apenas vinte centavos, a massa trabalhadora a quem faz falta não está questionando”. Neste momento, dezenas de cidades por todo o país estão organizando mais protestos e dentre a grande maioria de manifestantes a classe dominante é a classe média, isso é inquestionável. E o motivo é claro, e está dentro das causas da manifestação: falta educação e instrução. A grande massa trabalhadora desconhece seus direitos, seu acesso é limitado e, portanto, deixa-os à margem da democracia.

Então, eu lhes digo esta causa também é nossa! Não irão nos calar, não irão nos deter. Finalmente foi dada a largada para essa corrida desenfreada rumo à liberdade do povo brasileiro.

Dos filhos deste solo és mãe gentil…

Ó Pátria Amada, Brasil!

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